Você está na página 1de 5

19/10/13 Remexendo o passado: A origem da Igreja Católica Apostólica Romana

A origem da Igreja Católica Apostólica Romana


O INÍCIO DO CATOLICISMO E A CONSOLIDAÇÃO DO PODER PAPAL
por Josimar Tais

“Nenhuma história diz tanto sobre os últimos 2000 anos deste planeta quanto a
da Igreja. Pelos corredores do Vaticano passaram reis, guerras, o melhor da arte e até
alguns santos.” (BOTELHO, 2007, p. 59). Mas como toda essa história começou?

Para a Igreja Católica, a passagem bíblica de Mateus capítulo 16, versículo 18,
revela a escolha do sucessor de Cristo na Terra. Esse representante seria
encarregado de divulgar os ensinamentos que o próprio Cristo havia pregado e teria a
missão de converter os pagãos ao Cristianismo, ou seja, o simples pescador Pedro,
agora incumbido de ser um pescador de almas, se tornara o primeiro papa da então
“fundada” Igreja Católica Apostólica Romana.

O termo “católica” tem uma explicação. Segundo Botelho:

O patriarca de Constantinopla, atual Istambul, considerava-se


tão importante quanto seu colega italiano. E ainda havia
discordâncias em certos aspectos da liturgia romana, como o
celibato e a missa em latim. A rixa explodiu em 1054, quando o
papa Leão 9º e o patriarca Cerulário excomungaram um ao
outro e romperam relações. Os orientais formaram a Igreja
Ortodoxa, enquanto a Igreja Romana se declarou a única,
eterna e católica, - do grego katholikos, “universal”. (BOTELHO,
2007, p. 63).

professor-josimar.blogspot.com.br/2012/07/origem-da-igreja-catolica-apostolica.html 1/5
19/10/13 Remexendo o passado: A origem da Igreja Católica Apostólica Romana

Segundo dados do Almanaque Abril 2007, o Cristianismo conta com 2,135


bilhões de adeptos no mundo, sendo que desse total, 1,1 bilhão são católicos. Dessa
maneira, a religião cristã é a maior do mundo. No entanto, sabe-se que o Cristianismo
ramifica-se em diversas denominações, que são basicamente o Catolicismo,
Ortodoxismo e Protestantismo. Essa divisão do Cristianismo é decorrente do modo
diferenciado que os povos e culturas têm de interpretar as Sagradas Escrituras.
Certamente, criar essas divergências não foi a intenção de Jesus.

Mas afinal, os ensinamentos que Cristo transmitiu para o povo de seu tempo
são dogmas religiosos ou não passam de pensamentos e reflexões filosóficas para que
as pessoas pudessem se autoanalisar e encontrar dentro de si uma alternativa de vida
que fosse mais otimista, serena e altruísta? De que forma pode-se definir este homem
que dividiu a História: líder persuasivo? O messias tão aguardado pelos semitas? Um
grande filósofo? Um fanático religioso? Um oportunista? Ou apenas como um ser
humano que soube enxergar no mundo a plenitude da vida e da natureza e apropriar-se
disso? A resposta é bem relativa à crença de cada um, no entanto, analisando-se
alguns de seus sermões, fica evidente que Cristo sabia fazer bom uso da sua mente e
da oratória, combatendo tudo aquilo que pudesse desvirtuar a paz do ser humano, seja
interna ou externa.

Para os cristãos de modo geral, seu líder, Jesus Cristo, foi a personificação de
Deus na Terra. Especificamente para os católicos, Cristo criou a religião Católica ao
indicar Pedro como seu sucessor. Mas com base em quê os católicos admitem que o
Catolicismo seja a verdadeira religião cristã?

Em 2007, o Vaticano publicou um documento bastante prepotente no qual


afirmou que a Igreja de Roma realmente é, sempre foi e sempre vai ser a única de
Cristo:

Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja e instituiu-a


como grupo visível e comunidade espiritual, que desde a sua
origem e no curso da história sempre existe e existirá. [...] Esta
Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo,
subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e
pelos bispos em comunhão com ele. (VATICANO, 2010).

Diante do exposto, o versículo 18 de Mateus 16 não teria sido talvez,


interpretado de maneira radical em favorecimento de um grupo para justificar uma nova
fé ainda minoritária em meio à outra já consolidada? Conforme Botelho, “o cristianismo
era uma seita de judeus para judeus. [...] A ideia de que Jesus era o tão aguardado
Messias, porém, não pegou entre todos os judeus” (2007, p. 60). Esse fato explica a
dispersão dos apóstolos para outras regiões do mundo até que se chegasse a Roma, o
centro administrativo do então inabalável Império. Embora muitos especialistas

professor-josimar.blogspot.com.br/2012/07/origem-da-igreja-catolica-apostolica.html 2/5
19/10/13 Remexendo o passado: A origem da Igreja Católica Apostólica Romana

contestem, “a tradição católica assegura que Pedro viajou a Roma por volta do ano 42”,
diz Botelho, que complementa:

Os cristãos eram perseguidos por se recusar a adorar os


deuses romanos. O próprio Pedro foi preso e levado ao Circo
de Nero, uma arena usada para corridas de carruagens e
execuções de traidores construída num terreno pantanoso nos
subúrbios de Roma. A região era conhecida
como Vaticanus,provável derivação de Vaticus, antiga aldeia
etrusca que existia lá. Nesse lugar misterioso e algo sinistro,
Pedro foi crucificado e enterrado. (op. cit.).

Pedro, assim como o apóstolo Paulo, foi morto por ser cristão, no entanto, o
Cristianismo não morreu junto com eles, pois muitas pessoas já tinham ouvido a
mensagem de Cristo. Os grandes líderes da Igreja Católica afirmam que a Basílica de
São Pedro, em Roma, foi construída sobre a sepultura do fiel discípulo de Jesus,
porém, há os que contestam. “Havia cemitérios no Vaticano muito antes de Cristo. O
túmulo na basílica talvez nem seja cristão – os romanos pagãos costumavam usar
símbolos de todas as religiões” (Chevitarese apud. BOTELHO, 2007, p. 60).
Chevitarese explica também que duvida da liderança absoluta de Pedro, pois, segundo
ele, o Cristianismo antigo não tinha hierarquia rígida, isso só teria acontecido quando
Constantino se converteu ao Cristianismo. Além do mais, os imperadores passaram a
fazer doações, o que foi enriquecendo a instituição e então se criou o celibato para
impedir que a fortuna fosse dividida entre herdeiros. Chevitarese conta ainda que o
poder logo subiu à cabeça dos bispos romanos que, no fim do século IV adotaram o
título de papa, “pai” em grego, sinal de que se consideravam chefes dos outros. (op.
cit.).

Sabe-se que o papa representa a autoridade máxima dentro do clero e da


doutrina católica, e que abaixo dele existem demais cargos, perfazendo-se assim uma
grossa hierarquia eclesiástica. Quando um papa morre, outro deve ser escolhido para
assumir o seu posto. Quem então ocupou o lugar de Pedro se não existia hierarquia
nos primórdios do cristianismo? Segundo Botelho, Pedro, precavido que era, já havia
escolhido um sucessor, Lino, romano convertido ao cristianismo sobre o qual, diz
Botelho que nada se sabe além do nome. Parece contraditório, mas Pedro já tinha um
sucessor. “E assim a autoridade de Pedro foi transmitida, como continuaria sendo de
geração em geração e de bispo em bispo, até chegar a Bento 16, o 267º herdeiro de
São Pedro – ou 265º, como prefere a Igreja, que riscou de sua lista Estêvão, que
morreu apenas 3 dias após ser eleito, e Cristóvão, que tomou o poder à força”.
(BOTELHO, 2007, p. 60).

professor-josimar.blogspot.com.br/2012/07/origem-da-igreja-catolica-apostolica.html 3/5
19/10/13 Remexendo o passado: A origem da Igreja Católica Apostólica Romana

Papa Bento XVI

No decorrer de sua história, a Igreja Católica foi conquistando autoridade,


respeito, terras e fiéis, tendo seu auge durante a Idade Média. Porém, esse poder todo
é questionável, pois nem sempre ele foi adquirido somente pela expansão da fé, mas
sim através de fraudes. Prova disso é a polêmica que envolveu papas medievais e o
nome do imperador romano Constantino. A polêmica veio à tona no final da Idade Média
e atende pelo título de “Doação de Constantino”. Segundo Botelho (2007, p. 63), “o texto
conta como o imperador foi milagrosamente curado da lepra graças às preces do papa
Silvestre. Em troca, transformou os papas em seus herdeiros legais: ‘a eles deixo a
coroa imperial e o governo de todas as regiões do Ocidente, de agora para sempre”.

Tendo, portanto, como respaldo esse documento, os papas engrandeceram


sua autoridade enquanto chefes religiosos e até mesmo como líderes políticos diante
dos povos bárbaros que invadiram e puseram fim ao Império e sobre os demais
membros já pertencentes a ele.

Embora a Doação de Constantino tenha sido aceita por muitos anos durante a
Idade medieval, o documento na verdade não havia sido elaborado e muito menos
assinado pelo Imperador Constantino. Conforme Botelho explica:

Muitos historiadores acreditam que a fraude foi usada pela


primeira vez em 754 [Constantino havia morrido em 337]. Nesse
ano, Estêvão 2º viajou para encontrar Pepino, rei dos francos.
Estêvão procurava ajuda para transformar Roma e as terras
vizinhas em território da Igreja. Pepino, que havia tomado o
trono à força, tentava legitimar seu poder. (op. cit).

professor-josimar.blogspot.com.br/2012/07/origem-da-igreja-catolica-apostolica.html 4/5
19/10/13 Remexendo o passado: A origem da Igreja Católica Apostólica Romana

“A Doação foi apresentada pessoalmente por Estêvão a Pepino. O rei franco


aceitou o documento como prova de autoridade dos papas”, afirma o historiador
Norman Cantor (apud. Botelho, 2007, p. 63). Depois de ter a coroa consagrada por
Estêvão, Pepino partiu para a Itália. Expulsou os lombardos, que dominavam o país na
época, e converteu um pedaço da Itália central em território independente, da Igreja,
conta Botelho que complementa dizendo que o coração do novo reino era a cidade de
Roma e a área vizinha, que hoje forma o Vaticano. Todos os habitantes dessas regiões
viraram súditos dos papas, passaram a lhes pagar impostos, a ser julgados e
governados por eles. Assim nasceu o Estado Pontifício, que durou até 1870 (op. cit.).

“Contudo, o peso desse documento acabou sendo desmascarado no século


XV, quando o estudioso Lorenzo Valla apresentou uma série de documentos que
comprovaria a falsidade do tempo em que o documento da doação teria sido feita” (A
DOAÇÃO DE CONSTANTINO, 2010). Valla detectou erros linguísticos, históricos e
geográficos que possibilitaram desvendar a fraude da Igreja.

De modo geral, percebe-se que a história da Igreja Católica é fundamentada em


confusões, perseguições, interesses mal intencionados e fraudes. A mais antiga, ou
pelo menos uma das mais antigas organizações do mundo encerrou guerras e trouxe a
paz, mas o inverso também é verdadeiro, o que a torna notável, percebida pelas
polêmicas que causa, conhecida como santa e, paradoxalmente, pecadora Igreja
Católica Apostólica Romana.

professor-josimar.blogspot.com.br/2012/07/origem-da-igreja-catolica-apostolica.html 5/5

Você também pode gostar