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Manual de Formação

Entidade Promotora: Die Apfel

Curso: Técnico(a) Comercial

Formadora: Cíntia Gonçalves

AMBIENTE, SEGURANÇA, HIGIENE E


SAÚDE NO TRABALHO - CONCEITOS
BÁSICOS
Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

Metodologia da Formação e Avaliação


Participação oral, observação direta, trabalhos de grupo, fichas de trabalho individuais,
empenho, motivação, interesse, exercícios escritos, assiduidade, atitudes, exercícios de
verificação e aplicação de conhecimentos, espírito de iniciativa e criatividade,
pontualidade, entre outros.

Carga horária
25 Horas

Recursos materiais e pedagógicos


Quadro branco, computador, projetor, fichas de trabalho

Objetivos do Módulo
• Identificar os principais problemas ambientais.
• Promover a aplicação de boas práticas para o meio ambiente.
• Explicar os conceitos relacionados com a segurança, higiene e saúde no trabalho.
• Reconhecer a importância da segurança, higiene e saúde no trabalho.
• Identificar as obrigações do empregador e do trabalhador de acordo com a
legislação em vigor.
• Identificar os principais riscos presentes no local de trabalho e na atividade
profissional e aplicar as medidas de prevenção e proteção adequadas.
• Reconhecer a sinalização de segurança e saúde
• Explicar a importância dos equipamentos de proteção coletiva e de proteção
individual.

Conteúdos Programáticos
• Ambiente
• Principais problemas ambientais da atualidade Resíduos

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• Produção de resíduos
• Gestão de resíduos
• Entidades gestoras de fluxos específicos de resíduos
• Estratégias de atuação
• Boas práticas para o meio ambiente segurança, higiene e saúde no trabalho
conceitos básicos relacionados com a shst
• Trabalho, saúde, segurança no trabalho, higiene no trabalho, saúde no trabalho,
medicina no trabalho, ergonomia, psicossociologia do trabalho, acidente de
trabalho, doença profissional, perigo, risco profissional, avaliação de riscos e
prevenção
• Enquadramento legislativo nacional da shst
• Obrigações gerais do empregador e do trabalhador
• ACIDENTES DE TRABALHO
• Conceito de acidente de trabalho
• Causas dos acidentes de trabalho
• Consequências dos acidentes de trabalho
• Custos diretos e indiretos dos acidentes de trabalho
• DOENÇAS PROFISSIONAIS
• Conceito
• Principais doenças profissionais
• PRINCIPAIS RISCOS PROFISSIONAIS
• Riscos biológicos
• Agentes biológicos
• Vias de entrada no organismo
• Medidas de prevenção e proteção
• Riscos Físicos (conceito, efeitos sobre a saúde, medidas de prevenção e proteção)
• Ambiente térmico
• Iluminação
• Radiações (ionizantes e não ionizantes)
• Ruído

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• Vibrações
• Riscos químicos
- Produtos químicos perigosos
- Classificação dos agentes químicos quanto à sua forma
- Vias de exposição
- Efeitos na saúde
- Classificação, rotulagem e armazenagem
- Medidas de prevenção e proteção
- Riscos de incêndio ou explosão
- O fogo como reação química
- Fenomenologia da combustão
- Principais fontes de energia de ativação
- Classes de Fogos - Métodos de extinção
- Meios de primeira intervenção - extintores - Classificação dos Extintores - Escolha
do agente extintor
- Riscos elétricos
- Riscos de contacto com a corrente elétrica: contatos diretos e indiretos
- Efeitos da corrente elétrica sobre o corpo humano
- Medidas de prevenção e proteção
- Riscos mecânicos
- Trabalho com máquinas e equipamentos
- Movimentação mecânica de cargas
- Riscos ergonómicos
- Movimentação manual de cargas
- Riscos psicossociais
• SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE
- Conceito
- Tipos de sinalização EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA E DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL
- Principais tipos de proteção coletiva e de proteção individual

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A. AMBIENTE
«O trabalho não pode ser uma lei sem que seja um direito.»
Victor Hugo

1. Boas Práticas Para o Meio Ambiente – Legislação

1.1. Lei de Bases do Ambiente


A Lei nº 11/87, de 7 de abril, da Assembleia da República, define as bases da
política de ambiente em cumprimento do disposto nos artigos 9º e 66º da Constituição
da República.
A Lei de Bases considera como componentes ambientais naturais (art. 6º) o ar, a luz, a
água, o solo vivo e o subsolo, a flora e a fauna. Em ordem a assegurar a defesa da
qualidade apropriada dos componentes ambientais naturais, acima referidos, poderá o
Estado (art. 7º), através do ministério de tutela, proibir ou condicionar o exercício de
actividades e desenvolver ações necessárias à prossecução dos mesmos fins (…).
O art. 13º trata da defesa e valorização do solo como recurso natural apontando para
um condicionamento na utilização de solos de elevada fertilidade para fins não
agrícolas, para a regulamentação de biocidas, pesticidas, herbicidas (etc.) e para um
condicionamento na utilização de solos de elevada fertilidade para fins não agrícolas, e
para um condicionamento em termos de ocupação para fins urbanos ou industriais.
O art. 14º explicita que a exploração do subsolo deverá ter em consideração, entre
outros fatores, os interesses de conservação da Natureza e dos recursos naturais.

Flora (art. 15º): a Lei de Bases do Ambiente prevê a adoção de medidas que visem a
salvaguarda e valorização das formações vegetais espontâneas ou subespontâneas,
do património florestal e dos espaços verdes e periurbanos. Destaque-se o ponto 5
deste artigo: as espécies vegetais ameaçadas de extinção ou os exemplares botânicos
isolados ou em grupo que, pelo seu potencial genético, porte, idade, raridade ou outra
razão, o exijam serão objecto de protecção, a regulamentar em legislação especial.

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Fauna (art. 16º): toda a fauna será protegida através de legislação especial que
promova e salvaguarde a conservação e a exploração das espécies sobre as quais
recaiam interesse científico, económico ou social garantindo o seu potencial genético e
os habitats indispensáveis à sua sobrevivência. O ponto 3 deste artigo aponta para a
adopção de medidas de controlo efectivo, severamente restritivas, quando não
mesmo de proibição, a desenvolver pelos organismos competentes e autoridades
sanitárias de forma a proteger a fauna autóctone e a saúde pública.

Paisagem (art. 18º): em ordem a atingir os objectivos consignados na presente lei, no


que se refere à defesa da paisagem como unidade estética e visual, serão
condicionados pela administração central, regional e local, em termos a regulamentar,
a implantação de construções, infraestruturas viárias, novos aglomerados urbanos.

O Capítulo IV trata dos “instrumentos da política do ambiente” enumerados no art.


27º e dos quais se destacam:
a) a estratégia nacional de conservação da Natureza;
b) o plano nacional;
c) o ordenamento integrado do território a nível regional e municipal,
incluindo a classificação e criação de áreas, sítios ou paisagens
protegidas sujeitos a estatutos especiais de conservação
d) a reserva agrícola nacional e a reserva ecológica nacional.

O art.29º é consagrado a áreas protegidas, lugares, sítios, conjuntos e objetos


Classificados.

Finalmente o Capítulo VII - direitos e deveres dos cidadãos – chama a atenção (art. 40º,
1) que é dever dos cidadãos, em geral, e dos sectores público, privado e cooperativo,
em particular, colaborar na criação de um ambiente sadio e ecologicamente
equilibrado e na melhoria progressiva e acelerada da qualidade de vida para além de
se referir, nos artigos seguintes, à responsabilidade objetiva, aos embargos

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administrativos, aos seguros de responsabilidade civil e ao direito a uma justiça


acessível e pronta.

1.2. Resíduos
O Planeamento e Gestão de Resíduos, englobando todas as tipologias de resíduos e as
diversas origens, constituem o objetivo das políticas neste domínio do Ambiente,
assumindo ainda papel de relevo de caráter transversal pela incidência na Preservação
dos Recursos Naturais, e em outras Estratégias Ambientais. O Decreto-Lei n.º
178/2006 de 5 de setembro - Lei-Quadro dos Resíduos - que criou a Autoridade
Nacional de Resíduos, prevê, no seu enquadramento legislativo, a existência de um
“Mercado de Resíduos”, em que a sua gestão adequada contribui para a preservação
dos recursos naturais, quer ao nível da Prevenção, quer através da Reciclagem e
Valorização, além de outros instrumentos jurídicos específicos, constituindo
simultaneamente o reflexo da importância deste setor, encarado nas suas vertentes,
ambiental e como setor de atividade económica, e dos desafios que se colocam aos
responsáveis pela execução das políticas e a todos os intervenientes na cadeia de
gestão, desde a Administração Pública, passando pelos operadores económicos até
aos cidadãos, em geral, enquanto produtores de resíduos e agentes indispensáveis da
prossecução destas políticas.

1.3. Emissões Gasosas

O Decreto-Lei n.º78/2004, de 3 de abril, estabelece o regime de prevenção e controlo


das emissões de poluentes atmosféricos.
A Portaria n.º 286/93, de 12 de março, regulamenta o DL n.º 78/2004, fixa os valores
limite tanto para a qualidade do ar como para as emissões.
O Decreto-Lei n.º242/2001, de 31 de agosto, estabelece a redução dos efeitos diretos
e indiretos das emissões de compostos orgânicos voláteis para o ambiente, bem como
dos riscos potenciais para a saúde humana e para o ambiente.

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2. Principais Problemas Ambientais da Atualidade

Os problemas ambientais vividos no mundo de hoje são consequência direta da


intervenção humana no planeta e nos ecossistemas, causando desequilíbrios
ambientais no planeta, comprometendo o presente e o futuro. Um dos principais
problemas vividos pela humanidade nos dias de hoje é o Efeito Estufa, que se trata de
um fenómeno decorrente da detenção da energia solar que deveria ser dissipada de
volta para o espaço mas que permanece na atmosfera em função do aumento da
concentração dos chamados gases estufa. Entre os que ocorrem naturalmente estão
vapor de água (H2O), Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N2O) e
o Ozono (O3).

2.1. Água

A disponibilidade de água potável é uma fonte de preocupações mundiais, sendo


considerada por especialistas em meio ambiente como o grande problema do próximo
milénio. As justificações são muitas, entre elas pode-se citar que, do total de água do
mundo apenas 3% é água doce e só 0,03% do total se encontra em superfícies
acessíveis. O consumo de água situa-se como uma das necessidades básicas do ser
humano, crescendo em taxas superiores às suportadas pelo planeta a médio prazo. Em
1940, o consumo mundial era de 1 trilião de litros por ano. Em 1960, já estava em 2
triliões, passando para 4 triliões em 1990. No ano 2000 era de 5 triliões de litros de
água por ano. O limite de 9 triliões de litros, estimado por órgãos internacionais, será
alcançado em 2015. Enquanto a busca aumenta, as disponibilidades diminuem, em
face da contaminação e da poluição causados às suas fontes.

2.2. Perda de Biodiversidade

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A Biodiversidade refere-se à variabilidade dos seres vivos que se encontram no mundo


natural. O conceito abrange a diversidade genética das espécies, a diversidade
genética dentro de uma dada espécie, e também a diversidade dos ecossistemas e
habitats. Contudo, o foco principal do tema biodiversidade incide sobretudo nas
espécies.
A perda de biodiversidade que se registou na década de 70 tornará irreversível a
extinção de uma parte da vida selvagem. A ação levada a cabo pelo Homem desde essa
altura levou a uma redução de 28% entre as espécies marinhas, 29% entre os animais
que vivem em rios e 25% entre os restantes. A principal causa é a ação do Homem
sobre a Natureza, como consequências da poluição, agricultura, expansão urbana,
pesca excessiva e caça.

2.3. Aquecimento Global

O termo aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura média dos oceanos


e do ar perto da superfície da Terra que se tem verificado nas décadas mais recentes e
à possibilidade da sua continuação durante o corrente século.
Se este aumento se deve a causas naturais ou antropogénicas (provocadas pelo
Homem) ainda é objeto de muitos debates entre os cientistas, embora muitos
meteorologistas e climatólogos tenham recentemente afirmado publicamente que
consideram provado que a ação humana realmente está a influenciar a ocorrência do
fenómeno. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
estabelecido pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial em
1988, no seu relatório mais recente diz que grande parte do aquecimento observado
durante os últimos 50 anos deve se muito provavelmente a um aumento do efeito
estufa (provocado por gases lançados para a atmosfera - o Metano, o Óxido de Azoto,
os CFC e Dióxido de Carbono) que influencia a dispersão do calor proveniente dos raios
solares e causado pelo aumento nas concentrações de gases de origem antropogénica
(incluindo, para além do aumento de gases estufa e outras alterações como, por
exemplo, as devidas a um maior uso de águas subterrâneas e de solo para a agricultura

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industrial e a um maior consumo energético e poluição). Estes gases são originários


desde a Revolução Industrial e com uma maior industrialização a nível global.
Existem previsões até 2100, esperando-se que a temperatura aumente entre um e 6
graus Celsius e o nível do mar consequentemente também devido ao derretimento dos
glaciares, mesmo que os níveis de gases de efeito estufa não aumentem.
Já estão em prática alguns planos para o combate ao aquecimento global, sendo o
mais conhecido o Protocolo de Quioto, assinado por inúmeras nações desde 1997.
O protocolo visa o compromisso dos países para a redução de emissões de gases com
efeito estufa e a cooperação entre as nações para essa diminuição.
Aqui ficam algumas das graves consequências do aquecimento global:
- Aumento do nível do mar, com o derretimento dos glaciares e a provável submersão
de cidades ou mesmo países;
- A desertificação no seu sentido literal ou o aparecimento de novos desertos, com o
desequilíbrio de ecossistemas devido ao aumento da temperatura, levando à morte de
várias espécies animais e vegetais (muitos cientistas lembram que o deserto do Saara
foi em tempos uma floresta maior que a Amazónia);
- Devido a uma maior evaporação da água dos oceanos pelo aumento da temperatura,
originará catástrofes como tufões e ciclones;
- Ondas de calor sentidas em lugares que até então eram simplesmente amenas.
Este protocolo incide nas emissões de seis gases com efeito de estufa, tais como, o
dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), os hidrocarbonetos
fluorados (HFC), os hidrocarbonetos perfluorados (PFC) e o hexafluoreto de enxofre
(SF6).

2.4. Desflorestação

Desflorestação ou desflorestamento é o processo de desaparecimento de massas


florestais (bosques), fundamentalmente causada pela atividade humana.
A desflorestação é diretamente causada pela ação do homem sobre a natureza,
principalmente devido a abates realizados pela indústria madeireira, tal como para a
obtenção de solo para cultivos agrícolas.

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Uma consequência da desflorestação é o desaparecimento de absorventes de Dióxido


de Carbono, reduzindo-se a capacidade do meio ambiente em absorver as enormes
quantidades deste causador do efeito estufa, e agravando o problema do aquecimento
global.
Para tentar conter o avanço do aquecimento global, diversos organismos
internacionais propõem o reflorestamento; porém essa medida é apenas parcialmente
aceite pelos ecologistas, pois estes acreditam que a recuperação da área desmatada
não pode apenas levar em conta à eliminação do gás carbónico, mas também a
biodiversidade de toda a região.
O reflorestamento é, no melhor dos casos, um conjunto de árvores situadas segundo
uma separação definida artificialmente, entre as quais surge uma vegetação herbácea
ou arbustiva que não costuma aparecer na floresta natural. No pior dos casos,
plantam-se árvores não nativas e que em certas ocasiões danificam o substrato, como
ocorre em muitas plantações de pinheiro ou eucalipto.

2.5. Desertificação

O conceito de desertificação pode ser definido, de acordo com a "Convenção das


Nações Unidas de Combate à Desertificação", como a degradação da terra nas zonas
áridas, semiáridas e sub-húmidas, resultante de factores diversos, tais como as
variações climáticas e as actividades humanas.
Apesar de ser um problema já muito antigo, só recentemente, nas últimas duas
ou três décadas, a desertificação passou a ser um objeto de preocupação para muitos
governos, devido ao facto de afetar a produção de alimentos e as condições de vida de
milhões de pessoas.
As áreas abrangidas pelo problema da desertificação cobrem cerca de 33% da
superfície terrestre, num total de aproximadamente 51 720 000km2, afetando cerca
de 900 milhões de pessoas, sendo África o continente mais afetado. A estas áreas
podem ainda acrescentar-se as zonas hiperáridas (desertos), que ocupam 9 780
000km2 (16% da superfície terrestre).

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A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) propõe cinco
áreas de ação humana, como potenciadoras do efeito de desertificação:

1. Degradação das populações animais e vegetais (degradação biótica ou perda da


biodiversidade) de vastas áreas de zonas semiáridas devido à caça e extração
de madeira;
2. Degradação do solo, que pode ocorrer por efeito físico (erosão hídrica ou eólica
e compactação causada pelo uso de máquinas pesadas) ou por efeito químico
(salinização ou solidificação);
3. Degradação das condições hidrológicas de superfície devido à perda da
cobertura vegetal;
4. Degradação das condições geohidrológicas (águas subterrâneas) devido a
modificações nas condições de recarga;
5. Degradação da infraestrutura económica e da qualidade de vida.

2.6. Combustíveis Fósseis

Existem três grandes tipos de combustíveis fósseis como o carvão, petróleo e o gás
natural. O processo de formação de combustível fóssil deve-se às plantas, animais e
toda a matéria viva, que quando morrem decompõem-se, sendo precisos dois milhões
de anos até que esta matéria orgânica origine o carvão, posteriormente dando lugar
ao petróleo e ao gás natural.

O nome fóssil surge pelo tempo que demora à sua formação, vários milhões de anos.
Estes recursos que agora se utilizam foram formados há 65 milhões de anos. A
regeneração destes fósseis é mesmo o cerne do problema, pois uma vez esgotados só
existirão novamente passado bastante tempo. A economia global está dependente
destes recursos naturais, daí as variâncias do preço do petróleo, pois prevê-se que
acabe em poucas décadas, o que influência em grande parte a crise financeira que
agora se vive.

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O uso destes recursos teve naturalmente grandes impactos na evolução do Homem,


tanto para o melhor, a nível social, tecnológico, económico mas uma grave
consequência para o meio ambiente. As grandes consequências surgem com o uso
deste tipo de combustíveis, como a contaminação do ar pela sua combustão, sendo
mesmo um problema para a saúde pública.
Gases como o Dióxido de Carbono são considerados poluentes por agirem diretamente
com o efeito de estufa, aumentando assim o aquecimento global, não deixando
dissipar o calor gerado pelos raios solares. Este aumento de temperatura é sentido nos
dias que correm e, provavelmente, trará consequências de dimensões catastróficas se
nada for feito em contrário.

2.7. Smog

O termo smog resulta da junção de duas palavras inglesas: smoke (fumo) e fog
(nevoeiro) e, tal como o nome indica, é o resultado da mistura de um processo
natural(o nevoeiro) com os fumos resultantes da atividade industrial e queima de
combustíveis fósseis. O smog é uma forma de nevoeiro poluidor da atmosfera, já que
as partículas sólidas e líquidas (aerossóis) contidas nos fumos industriais e escapes
funcionam como pontos de condensação atmosféricos, agregando-se as moléculas de
água em torno deles, originando assim um nevoeiro muito denso e particularmente
perigoso devido às propriedades que as partículas, em torno das quais ocorre
condensação, podem apresentar, como uma elevada acidez (por exemplo, ácido
sulfúrico) ou toxicidade (por exemplo, metais pesados).
É perigoso, sobretudo, devido à presença de elementos nocivos nas camadas baixas da
atmosfera, como os óxidos de carbono, óxidos de azoto, hidrocarbonetos, metais
pesados e anidrido sulfuroso - SO2, que facilmente se oxida em SO3, molécula esta que
apresenta uma grande afinidade com a água, dando origem a aerossóis de ácido
sulfúrico (H2SO4), responsáveis por nevoeiros e chuvas ácidas, com consequências
altamente nefastas.
O smog pode assumir diferentes graus de perigosidade sendo, regra geral, sempre
tóxico e prejudicial aos organismos vivos, afetando sobretudo as vias respiratórias e

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olhos (conjuntivites), estando ainda presente o risco de envenenamento, devido a


concentrações elevadas de aerossóis de metais pesados.

2.8. Chuvas Ácidas

Grandes quantidades de ácidos nítrico e sulfúrico são formadas na atmosfera a partir


dos óxidos de nitrogénio e enxofre emitidos pela combustão do carvão, da gasolina e
de outros combustíveis fósseis. Isto acontece principalmente próximo das grandes
cidades e dos grandes complexos industriais, onde os índices de poluição são mais
elevados. A precipitação destas substâncias é denominada chuva ácida desde que o
valor de pH esteja compreendido entre os valores 4,0 e 4,5. Em casos extremos, o pH
pode ser inferior a 2,0. Estes valores contrastam com a chuva normal, cujo pH está
geralmente compreendido entre 5,0 e 5,6, em equilíbrio com o dióxido de carbono
atmosférico.
Os ácidos sulfúrico (H2SO4) e nítrico (HNO3) são potentes fornecedores de iões
hidrogénio que implementam uma acidificação do solo, tornando-o impróprio para a
agricultura. Muitas vezes, os iões hidrogénio adicionados ao solo não são suficientes
para alterar o pH do mesmo mas, após um longo período de tempo, pode dar-se um
significativo efeito de acidificação, especialmente nos solos com deficiente proteção.
A lixiviação também contribui para a acidez dos solos, na medida em que renova os
catiões que podem concorrer com o hidrogénio e o alumínio na formação de
compostos complexos.
As chuvas ácidas são muito prejudiciais aos solos, que se podem tornar improdutivos,
e às florestas, pois atacam fundamentalmente as folhas, acabando as árvores por
morrer. São um fenómeno altamente nocivo, também, para o património construído,
que é muito desgastado, como se pode verificar pelos inúmeros monumentos que a
sua ação corroeu.

2.9. Alterações Climáticas

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As alterações climáticas podem ser encaradas como uma séria ameaça


ambiental, interferindo com os ritmos naturais do planeta Terra. Têm por base
fenómenos naturais, mas são, também, induzidas pela atividade humana como a
exploração excessiva dos recursos naturais.
As alterações climáticas têm impactes negativos nos ecossistemas terrestres, com
consequências diversas, como por exemplo:
- Modificações na fauna e flora;
- Aumento das ondas de calor, com prejuízo da saúde humana, e aumento do consumo
de energia utilizada em sistemas de arrefecimento;
- Diminuição da precipitação, com escassez e diminuição da qualidade dos recursos
hídricos, ou precipitação excessiva, com riscos de cheias;
- Alteração das flutuações climáticas anuais, que interferem com a produção agrícola.

O aquecimento global da Terra constitui um bom exemplo de uma alteração climática


com consequências preocupantes a vários níveis. Pode ser explicado pelo efeito de
estufa, produzido pela libertação de gases, como visto anteriormente, que aumentam
a capacidade de a atmosfera absorver a radiação infravermelha, favorecendo a
retenção de calor.

3. Gestão de Resíduos

A Política de Resíduos assenta em objetivos e estratégias que visam garantir a


preservação dos recursos naturais e a minimização dos impactes negativos sobre a
saúde pública e o ambiente.
Para a prossecução destes objetivos importa incentivar a redução da produção dos
resíduos e a sua reutilização e reciclagem por fileiras. Em grande medida, tal passa pela
promoção da identificação, conceção e adoção de produtos e tecnologias mais limpas
e de materiais recicláveis.

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Para além da prevenção, importa ainda promover e desenvolver sistemas integrados


de recolha, tratamento, valorização e destino final de resíduos por fileira (e.g.: óleos
usados, solventes, têxteis, plásticos e matéria orgânica).
Entende-se por Operações de Gestão de Resíduos, toda e qualquer operação de
recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorização e eliminação de
resíduos, bem como às operações de descontaminação de solos e à monitorização dos
locais de deposição após o encerramento das respetivas instalações. A gestão deve
assegurar que à utilização de um bem sucede uma nova utilização ou que, não sendo
viável a sua reutilização, se procede à sua reciclagem ou, ainda a outros modos de
valorização. A eliminação definitiva de resíduos, principalmente a sua deposição em
aterro, constitui a última opção de gestão, justificando-se apenas quando seja técnica
ou financeiramente inviável a prevenção, a reutilização, a reciclagem ou outras formas
de valorização.
No Artigo 7.º do decreto-Lei n.º 73/2011 de 17 de junho está patente o princípio da
hierarquia dos resíduos:
1 - A política e a legislação em matéria de resíduos devem respeitar a seguinte ordem
de prioridades no que se refere às opções de prevenção e gestão de resíduos:
a) Prevenção e redução;
b) Preparação para a reutilização;
c) Reciclagem;
d) Outros tipos de valorização;
e) Eliminação.

Vantagens da Reutilização
A reutilização pode ser definida como a reintrodução, em utilização análoga e sem
alterações, de substâncias, objetos ou produtos nos circuitos de produção e/ou
consumo, por forma a evitar a produção de resíduos. Existem várias vantagens
associadas à reutilização, tais como:
Ø Poupanças energéticas e de materiais;
Ø Redução das necessidades e custos de eliminação pela diminuição da
quantidade de resíduos a eliminar;

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Ø Poupanças económicas para empresas e consumidores, dado que os produtos


reutilizáveis necessitam de menos substituições;
Ø Novas oportunidades de mercado, por exemplo para produtos “reenchíveis”.

No entanto, a reutilização também apresenta desvantagens, nomeadamente:


ü A necessidade de infraestruturas, incluindo de transporte, para sistemas de
retorno-reenchimento, e em que os custos ambientais podem ultrapassar os
benefícios ambientais derivados da reutilização;
ü Custos e dificuldades práticas da recolha e lavagem dos produtos;
ü Maior utilização de matérias-primas no produto original, dado que este
necessita de ser mais robusto do que os produtos de uso único.

Vantagens da Reciclagem
A Portaria nº 209/2004, de 3 de março, define reciclagem como o reprocessamento de
resíduos em processos de produção, para o fim original ou outros fins.
As principais vantagens associadas à reciclagem são as seguintes:
• - Aumento do tempo de vida e maximização do valor extraído das matérias-
primas;
• - Poupanças energéticas;
• - Conservação dos recursos naturais;
• - Desvio dos resíduos dos aterros ou outras instalações de tratamento mais
poluidoras;
• - Participação ativa dos consumidores, o que implica uma maior consciência
ambiental;
• - Redução da poluição atmosférica e da poluição dos recursos hídricos;
• - Criação de novos negócios e mercados para os produtos reciclados.

Existem igualmente alguns inconvenientes, tais como:


• - Custos de recolha, transporte e reprocessamento;
• - Por vezes, maior custo de materiais reciclados (em relação aos produzidos
com matérias-primas virgens);
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• - Instabilidade dos mercados para materiais reciclados, os quais podem ser


rapidamente distorcidos por alterações na oferta e procura (nacional ou
internacional).

4. Efluentes Líquidos

A grande diversidade das atividades industriais ocasiona durante o processo produtivo,


a geração de efluentes, os quais podem poluir/contaminar o solo e a água, sendo
preciso observar que nem todas as indústrias geram efluentes com poder de impacte
nesses dois ambientes. Num primeiro momento, é possível imaginar serem simples os
procedimentos e atividades de controlo de cada tipo de efluente na indústria. Todavia,
as diferentes composições físicas, químicas e biológicas, as variações de volumes
gerados em relação ao tempo de duração do processo produtivo, a potencialidade de
toxicidade e os diversos pontos de geração na mesma unidade de processamento
recomendam que os efluentes sejam caracterizados, quantificados e tratados e/ou
acondicionados, adequadamente, antes da disposição final no meio ambiente.
As características físicas, químicas e biológicas do efluente industrial são variáveis com
o tipo de indústria, com o período de operação, com a matéria-prima utilizada, com a
reutilização de água, etc. Com isso, o efluente líquido pode ser solúvel ou com sólidos
em suspensão, com ou sem coloração, orgânico ou inorgânico, com temperatura baixa
ou elevada. Entre as determinações mais comuns para caracterizar a massa líquida
estão as determinações físicas (temperatura, cor, sólidos, etc.), as químicas (pH,
alcalinidade, teor de matéria orgânica, metais, etc.) e as biológicas (bactérias,
protozoários, vírus, etc.).
Na implantação e operação de indústrias, é importante considerar que a utilização das
potencialidades advindas dos recursos hídricos (energia, transporte, matéria-prima,
etc.) é um benefício inquestionável e único, mas precisa ser acompanhada do uso
racional da água, sendo por isso fundamentais a redução e o controle do lançamento
de efluentes industriais no meio ambiente, como uma das formas de cooperação e
participação no desenvolvimento sustentável. Cabe ao setor industrial a

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

responsabilidade de minimizar ou evitar que o processo produtivo acarrete em


impactos ambientais.

5. Emissões Gasosas

Desde há muito tempo que a poluição do ar acompanha as atividades humanas, e que


são conhecidas as suas causas e efeitos no planeta.
Acontece que, durante muito tempo este teve capacidade de regenerar a atmosfera e
de repor os níveis de qualidade do ar essencial a todos os seres vivos, mas esta
capacidade começa a diminuir. Com o aumento das emissões provenientes da
indústria, dos meios de transporte (em particular os veículos automóveis cujo número
continua a aumentar) e de outras atividades humanas, que ultrapassam a capacidade
de regeneração da atmosfera, esta vai, por acumulação dos poluentes, ficando cada
vez mais poluída.
A crescente complexidade dos poluentes e dos processos que os originam conduzem a
graves problemas como sejam por exemplo, a diminuição da camada de ozono, o
efeito de estufa e as alterações climáticas.
Na tabela I são apresentados os diferentes poluentes, as suas origens e os principais
efeitos no meio ambiente:

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

Tabela I. Poluentes, origens e efeitos

Habitualmente considera-se que o controlo da poluição atmosférica implica a


utilização de equipamentos de remoção de poluentes, mas existe um conjunto de
outras medidas, como o pré-tratamento ou a substituição de matérias-primas e
combustíveis e a adoção de tecnologias menos poluentes, que podem ser tomadas ao
nível do processo com ganhos significativos para a qualidade do ar.
A utilização de energias alternativas, como a eólica ou a solar, são também medidas
importantes, uma vez que permitem a obtenção de energia através da ação do vento e
da luz solar sem ser necessário recorrer à queima de combustíveis fósseis.
O Decreto-Lei n.º 78/2004, de 3 de Abril, estabelece o regime da prevenção e controlo
das emissões de poluentes para a atmosfera, fixando os princípios, objetivos e
instrumentos apropriados à garantia da proteção do recurso natural ar, bem como as
medidas, procedimentos e obrigações dos operadores das instalações abrangidas. A
Portaria n.º 675/2009 de 23 de junho habilita a que sejam estipulados valores limite de
emissão (VLE) aplicáveis às diferentes fontes de emissão abrangidas.

B. SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO

7. Segurança no Trabalho

A segurança no trabalho integra um conjunto de metodologias adequadas à prevenção


de acidentes de trabalho, tendo como principal campo de ação o reconhecimento e o
controlo dos riscos associados ao local de trabalho e ao processo produtivo (materiais,
equipamentos e modos operatórios).
A segurança é a imunidade à produção de danos de um risco inaceitável; é a condição
de estar protegido de perigo ou perda.

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8. Higiene no Trabalho

Integra um conjunto de metodologias não médicas necessárias à prevenção das


doenças profissionais, tendo como principal campo de ação o controlo dos agentes
físicos, químicos e biológicos presentes nos componentes materiais do trabalho.
Assenta, portanto, fundamentalmente em técnicas e medidas que incidem sobre o
ambiente de trabalho.

8.1. Tipos de Higiene

Higiene Pessoal – Ter o corpo em estado de higiene (lavado), a nível de todos os


órgãos exteriores, boca e dentes em bom estado.

Higiene do Local de Trabalho – Ter bons acessos (secretária, etc.), espaço, arejamento,
visibilidade (luz solar ou artificial adequada), equipamentos em bom estado.

Higiene Industrial – São quatro os ramos de atividade que dão corpo à Higiene
Industrial: a Higiene Teórica, a Higiene Analítica, a Higiene Operativa e a Higiene de
Campo.

Higiene Teórica: Estuda a relação dose/resposta, isto é, a relação contaminante/tempo


de exposição/Homem e estabelece valores-padrão de referência, níveis admissíveis de
concentração ou valores-limite de exposição.

Higiene Analítica: Realiza a identificação qualitativa e quantitativa dos contaminantes


presentes no ambiente. São raros os casos em que o ambiente se apresenta
modificado por um só contaminante. Na maioria dos casos são detetáveis vários
agentes químicos ou biológicos, juntamente com agentes físicos.

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

Higiene Operativa: O ramo da Higiene Operativa encarrega-se de oferecer soluções


para manter as condições de trabalho dentro dos limites da não perigosidade.
Por exemplo:
- Substituição das substâncias ou dos processos por outros menos agressivos;
- Isolamentos do contaminante face ao ambiente dos trabalhadores;
- Captação do contaminante no ponto da sua origem;
- Ventilação geral;
- Confinamento das operações perigosas, para limitar o número de pessoas expostas
ao risco;
- Diminuição dos tempos de exposição (por exemplo, fomentar a rotatividade);
- Proteção individual (esta é a última barreira, uma vez que prevenir é sempre muito
mais eficaz que proteger).

Complementarmente devem realizar-se exames médicos, quer de admissão, quer


periódicos, através dos Serviços Médicos (ou de Medicina do Trabalho) da empresa.
Trabalhadores que apresentem deficiências físicas, fisiológicas ou suscetibilidade
individual acentuada para determinados agentes não devem ser selecionados para
trabalhos que possam causar danos à sua saúde. Os exames periódicos são muito
importantes, não só pela verificação regular do estado de saúde dos trabalhadores,
como também por permitirem, indiretamente, a comprovação da eficácia de outras
medidas de controlo, eventualmente adaptadas. Higiene de Campo: O ramo da
Higiene de Campo recolhe, no ambiente de trabalho, os dados para o estudo do
problema, distribuindo-os, posteriormente, pelos outros ramos da Higiene do
Trabalho. Este ramo é também responsável pela obtenção e tratamento dos
resultados, assim como pela elaboração de conclusões e tomada de medidas
corretivas.

9. Saúde no Trabalho

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

É a abordagem que integra, além da vigilância médica, o controlo dos agentes físicos,
sociais e mentais que possam afetar a saúde dos trabalhadores, representando uma
considerável evolução face às metodologias tradicionais da medicina do trabalho.

10. Enquadramento Legal

O princípio constitucionalmente consagrado no artigo 59º nº1 alínea c) da CRP


segundo o qual todos os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania,
território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, têm direito a
prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde encontra na Lei nº
99/2003, de 27 de agosto, que aprovou o Código do Trabalho, um maior
desenvolvimento, referindo nos artigos 120º e 273º (a enumeração dos deveres é
extensa pelo que se aconselha a sua leitura), como deveres da entidade patronal os
seguintes:
c) Proporcionar boas condições de trabalho, tanto do ponto de vista físico como moral;
e) Promover e vigilância da saúde, bem como a organização e manutenção dos registos
clínicos e outros elementos informativos relativos a cada trabalhador;
g) Prevenir riscos e doenças profissionais, tendo em conta a proteção da segurança e
saúde do trabalhador, devendo indemnizá-lo dos prejuízos resultantes de acidentes de
trabalho;
h) Adotar, no que se refere à higiene, segurança e saúde no trabalho, as medidas que
decorram, para a empresa, estabelecimento ou atividade, da aplicação das prescrições
legais e convencionais vigentes;
i) Fornecer ao trabalhador a informação e a formação adequadas à prevenção de riscos
de acidente e doença (todos do artigo 120º) (…) informar os trabalhadores, assim
como os seus representantes na empresa, estabelecimento ou serviço, sobre os riscos
para a segurança e saúde, bem como as medidas de proteção e de prevenção e a
forma como se aplicam, relativos quer ao posto de trabalho ou função, quer, em geral,
à empresa, estabelecimento ou serviço; (artigo 275º CT) e ainda assegurar aos

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

trabalhadores condições de segurança, higiene e saúde em todos os aspetos


relacionados com o trabalho (do artigo 273º).
Por outro lado, são também impostos aos trabalhadores, nos diplomas supra
identificados, artigo 121º alíneas h) e i) Código do Trabalho, deveres genéricos que os
convidam à obediência à entidade patronal em tudo o que respeite à matéria de
segurança, higiene e saúde no trabalho, nomeadamente cooperar, na empresa,
estabelecimento ou serviço, para a melhoria do sistema de segurança, higiene e saúde
no trabalho e cumprir as prescrições de segurança, higiene e saúde no trabalho
estabelecidas nas disposições legais ou convencionais aplicáveis, bem como as ordens
dadas pelo empregador.

11. Acidentes de Trabalho

Segundo o Decreto-Lei nº 99/2003, de 27 de agosto, é acidente de trabalho o sinistro,


entendido como acontecimento súbito e imprevisto, sofrido pelo trabalhador que se
verifique no local e no tempo de trabalho.
Os acidentes, em geral, são o resultado de uma combinação de fatores, entre os quais
se destacam as falhas humanas e as materiais.
Quanto aos acidentes de trabalho o que se pode dizer é que grande parte deles ocorre
porque os trabalhadores se encontram mal preparados para enfrentar certos riscos.

Para uma maior compreensão, analise-se as seguintes definições:

Lesão corporal é qualquer dano produzido no corpo humano, seja ele leve, como, por
exemplo, um corte no dedo, ou grave, como a perda de um membro.

Perturbação funcional é o prejuízo do funcionamento de qualquer órgão ou sentido.


Por exemplo, a perda da visão, provocada por uma pancada na cabeça, caracteriza
uma perturbação funcional.

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Dano é a lesão corporal, perturbação funcional ou doença que determine redução na


capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte do trabalhador resultante direta ou
indiretamente de acidente de trabalho. Se a lesão corporal, perturbação ou doença for
reconhecida a seguir a um acidente, presume-se consequência deste senão for
reconhecida a seguir a um acidente, compete ao sinistrado ou aos beneficiários legais
provar que foi consequência dele.

11.1. Consequências dos Acidentes de Trabalho

Os acidentes de trabalho não afetam somente a vítima, mas também a família, a


empresa e a sociedade.

A Vítima – que fica incapacitada de forma total ou parcial, temporária ou permanente


para o trabalho;

A Família – que tem seu padrão de vida afetado pela falta dos ganhos normais,
correndo o risco de cair na marginalidade;

As Empresas – com a perda de mão-de-obra, de material, de equipamentos, tempo,


etc, e, consequentemente, elevação dos custos operacionais;

A Sociedade – com o número crescente de inválidos e dependentes da Segurança


Social.

11.2. Classificação dos Acidentes de Trabalho

Já se analisou anteriormente que os acidentes de trabalho podem classificar-se em


diversas incapacidades que estão compreendidas entre ferimentos ligeiros e a morte.
Avalie-se portanto a forma destes mesmos acidentes:
- Queda de pessoas;

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- Queda de objetos;
- Marcha, choque ou pancada por ou contra objetos;
- Exposição ou contacto com temperaturas extremas;
- Exposição ou contacto com corrente elétrica;
- Exposição ou contacto com substâncias nocivas ou radiações.

Segundo o agente material, a classificação dos acidentes de trabalho pode


ser efetuada do seguinte modo:
- Máquinas;
- Meios de transporte e manutenção;
- Fornos, escadas, andaimes, ferramentas, etc;
- Explosivos, gases, poeiras, fragmentos volantes, radiações;
- Entaladela num objeto ou entre objetos;
- Ambientes de trabalho.

A natureza das lesões provocadas por acidentes de trabalho pode ser:


- Fraturas;
- Luxações;
- Entorses e distensões;
- Choque e outros traumatismos internos;
- Amputações;
- Outras feridas;
- Traumatismos superficiais;
- Contusões e esmagamentos;
- Queimaduras.
É importante igualmente lembrar os pontos morfológicos mais suscetíveis de serem
alvo de acidentes de trabalho:
- Cabeça;
- Olhos;
- Pescoço (incluindo garganta e vértebras cervicais);
- Membros superiores;

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- Mãos;
- Tronco;
- Membros inferiores;
- Pés.

11.3. Causas dos Acidentes de Trabalho

São muitas as situações que podem provocar um acidente de trabalho. As mais


comuns são:
- Ascendência e ambiente social;
- Falha humana (imprudência, irritabilidade, etc.);
- Ato inseguro (não utilizar, ou utilizar erradamente, Equipamento de Proteção
Individual, estacionar sob cargas suspensas, usar ferramentas em mau estado, etc.);
- Condição perigosa – proteções ou suportes de máquinas inadequados,
congestionamento dos locais de trabalho, ruído excessivo ou risco de incêndio.

Pode-se igualmente separar as causas dos acidentes em dois fatores:


Fatores materiais ou técnicos
- Má organização do trabalho;
- Deficiente proteção das máquinas;
- Má qualidade dos equipamentos ou ferramentas;
- Falta de Equipamento de Proteção Individual;
- Utilização de produtos perigosos.

Fatores humanos
- Ansiedade e stress;
- Falta de integração do trabalhador no grupo de trabalho;
- Alcoolismo e sonolência.

11.4. Prevenção dos Acidentes de Trabalho

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A consciencialização e a formação dos trabalhadores no local de trabalho são a melhor


forma de prevenir acidentes, a que acresce a aplicação de todas as medidas de
segurança coletiva e individual inerentes à atividade desenvolvida. Os custos dos
acidentes de trabalho, para os trabalhadores acidentados e para as empresas, são
elevadíssimos.
Prevenir, quer na perspetiva do trabalhador quer na do empregador, é a melhor forma
de evitar que os acidentes aconteçam. As ações e medidas destinadas a evitar
acidentes de trabalho estão diretamente dependentes do tipo de atividade exercida,
do ambiente de trabalho e das tecnologias e técnicas utilizadas.
Deve-se sempre:
- Ter muito cuidado e seguir à risca todas as regras de segurança na realização de
atividades mais perigosas;
- Organizar o local de trabalho ou o posto de trabalho, não deixando objetos fora dos
seus lugares ou mal arrumados. Se tudo estiver no seu lugar não se precisa improvisar
perante imprevistos e isso reduz os acidentes;
- Saber quais os riscos e cuidados que se devem ter na atividade que se desenvolve e
quais as formas de proteção para reduzir esses riscos;
- Participar sempre nas ações ou cursos de prevenção de acidentes que a empresa
possa proporcionar;
- Aplicar as medidas e dispositivos de prevenção de acidentes que são facultados,
designadamente o uso de vestuário de proteção adequado, como as proteções
auriculares para o ruído, óculos, capacetes e dispositivos antiqueda, e equipamento de
proteção respiratória, entre outras;
- Não recear sugerir à empresa onde se trabalha a realização de palestras, seminários e
ações de formação sobre prevenção de acidentes.

12. Doença Profissional

Segundo o Decreto-Regulamentar nº 12/80, entende-se por Doença Profissional a


doença provocada pelo trabalho ou estado patológico derivado da acção continuada

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de uma causa que tenha a sua origem no trabalho ou no meio laboral em que o
trabalhador presta os seus serviços e que conste da Lista de Doenças Profissionais
elaborada pela Comissão Nacional de Revisão da Lista de Doenças Profissionais.
Este conceito foi completado no Decreto-Lei nº 248/99, em que são, ainda,
consideradas Doenças Profissionais as lesões, perturbações funcionais ou doenças não
incluídas na referida lista desde que sejam consequência necessária e directa da
actividade exercida pelos trabalhadores e não representem normal desgaste do
organismo.
Um funcionário pode apanhar uma gripe, por contágio com colegas de trabalho. Essa
doença, embora possa ter sido adquirida no ambiente de trabalho, não é considerada
doença profissional, porque não é ocasionada pelos meios de produção.
Contudo, se o trabalhador contrair uma doença ou lesão por contaminação acidental,
no exercício de sua atividade, tem-se aí um caso equiparado a um acidente de
trabalho. Por exemplo, se operador de um banho de decapagem se queima com ácido
ao encher a tina do banho ácido isso é um acidente do trabalho.
Noutro caso, se um trabalhador perder a audição por ficar longo tempo sem proteção
auditiva adequada, submetido ao excesso de ruído, gerado pelo trabalho executado
junto a uma grande prensa, isso caracteriza igualmente uma doença profissional.
Um acidente de trabalho pode levar o trabalhador a se ausentar da empresa apenas
por algumas horas, o que é chamado de acidente sem afastamento. É que ocorre, por
exemplo, quando o acidente resulta num pequeno corte no dedo, e o trabalhador
retorna ao trabalho em seguida.
Outras vezes, um acidente pode deixar o trabalhador impedido de realizar suas
atividades por dias seguidos, ou meses, ou de forma definitiva. Se o trabalhador
acidentado não retornar ao trabalho imediatamente ou até no dia seguinte, tem-se o
chamado acidente com afastamento, que pode resultar na incapacidade temporária,
ou na incapacidade parcial e permanente, ou, ainda, na incapacidade total e
permanente para o trabalho.

A incapacidade temporária é a perda da capacidade para o trabalho por um período


limitado de tempo, após o qual o trabalhador retorna às suas atividades normais.

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A incapacidade parcial e permanente é a diminuição, por toda vida, da capacidade


física total para o trabalho. É o que acontece, por exemplo, quando ocorre a perda de
um dedo ou de uma vista.

A incapacidade total e permanente é a invalidez incurável para o trabalho.


Neste último caso, o trabalhador não reúne condições para trabalhar o que acontece,
por exemplo, se um trabalhador perde as duas vistas num acidente do trabalho. Nos
casos extremos, o acidente resulta na morte do trabalhador.

Tabela 2. Algumas doenças profissionais (Decreto Regulamentar n.º 12/80 de 8 de


maio)

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13. Risco

É muito comum confundirem-se os conceitos de perigo e risco. Antes de se analisar os


riscos profissionais, é pertinente fazer essa destrinça:

Perigo – Fonte ou situação com um potencial de dano, em termos de lesões ou


ferimentos para o corpo humano ou para a saúde, para o património, para o ambiente
do local de trabalho, ou uma combinação destes.

Risco – Combinação da probabilidade e da(s) consequência(s) da ocorrência de um


determinado acontecimento perigoso.

13.1. Tipos de Risco

Os riscos podem ser:

Risco Inerente – característico da substância. Está relacionado com as propriedades


químicas e físicas da mesma.
Risco Efetivo – probabilidade de contacto com a substância. Está diretamente
relacionado com as condições de trabalho. Deve-se tentar fazer com que o risco
efetivo seja zero.
Risco para a Segurança e Saúde no Trabalho – uma combinação da probabilidade da
ocorrência de um fenómeno perigoso com a gravidade das lesões ou danos para a
saúde que tal fenómeno possa causar.
Risco Profissional – possibilidade de que um trabalhador sofra um dano provocado
pelo trabalho que desenvolve. Para quantificar um risco valorizam-se conjuntamente a
probabilidade de ocorrência do dano e a sua gravidade.
Risco Químico – é o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao manipular
produtos químicos que podem causar-lhe danos físicos ou prejudicar-lhe a saúde. Os
danos físicos relacionados à exposição química incluem, desde irritação na pele e

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olhos, passando por queimaduras leves, indo até aqueles de maior severidade,
causado por incêndio ou explosão. Os danos à saúde podem advir de exposição de
curta e/ou longa duração, relacionadas com o contacto de produtos químicos tóxicos
com a pele e olhos, bem como a inalação dos seus vapores, resultando em doenças
respiratórias crónicas, doenças do sistema nervoso, doenças nos rins e fígado, e até
mesmo alguns tipos de cancro.
Risco Biológico – estes tipos de risco relacionam-se com a presença no ambiente de
trabalho de microrganismos como bactérias, vírus, fungos, bacilos, etc., normalmente
presentes em alguns ambientes de trabalho como:
- Hospitais e laboratórios de análises clínicas;
- Recolha de lixo;
- Indústria do couro;
- Tratamento de efluentes líquidos.
Penetrando no organismo do homem por via digestiva, respiratória, olhos e pele, são
responsáveis por algumas doenças profissionais, podendo dar origem a doenças
menos graves como infeções intestinais ou a simples gripe, ou mais graves como a
hepatite, meningite, etc.
Como estes microrganismos se adaptam melhor e se reproduzem mais em ambientes
sujos, as medidas preventivas a tomar terão de ser relacionadas com:
- A rigorosa higiene dos locais de trabalho, do corpo e das roupas;
- Destruição por processos de elevação da temperatura (esterilização) ou uso
de cloro;
- Uso de equipamentos individuais para evitar o contacto direto com os
microrganismos;
- Ventilação permanente e adequada;
- Controlo médico constante;
- Vacinação sempre que possível.
A verificação da presença de agentes biológicos em ambientes de trabalho é feita por
meio de recolha de amostras de ar e de água, que serão analisadas em laboratórios
especializados.

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13.2. Redução de Risco

Os acidentes são evitados com a aplicação de medidas específicas de segurança,


selecionadas por forma a estabelecer maior eficácia na prevenção da segurança. As
prioridades são:

Eliminação do risco: significa torná-lo definitivamente inexistente. Por exemplo: uma


escada com piso escorregadio apresenta um sério risco de acidente. Esse risco poderá
ser eliminado com um piso antiderrapante;

Neutralização do risco: o risco existe, mas está controlado. Esta opção é utilizada na
impossibilidade temporária ou definitiva da eliminação de um risco.
(exemplo: as partes móveis de uma máquina como engrenagens, correias, etc. –
devem ser neutralizadas com forros de proteção, uma vez que essas peças das
máquinas não podem ser simplesmente eliminadas);

Sinalização do risco: é a medida que deve ser tomada quando não for possível eliminar
ou isolar o risco. (exemplo: máquinas em manutenção devem ser sinalizadas com
placas de advertência; locais onde é proibido fumar devem ser devidamente
sinalizados).

Prevenção do risco: É a minimização dos efeitos negativos do trabalho e a criação de


condições de trabalho que além de não prejudicarem física, mental ou socialmente o
trabalhador, permitam o seu desenvolvimento integral.

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14. Riscos Profissionais

14.1. Posto e Local de Trabalho


Os riscos associados com o posto e local de trabalho prendem-se, sobretudo, com a
conceção, projeção e instalação de locais destinados a postos de trabalho, ou seja,
estes riscos estão diretamente relacionados com toda a envolvente necessária para
executar devidamente o trabalho, nomeadamente, condições técnicas e de segurança
das instalações, layout das instalações e disposições dos meios necessários para
executar o trabalho.
A este tipo de riscos estão subjacentes as condições de segurança e conforto nas quais
o trabalhador executa as suas tarefas, bem como a interação que este exerce com as
máquinas ou os equipamentos de trabalho.
Desta forma, os fatores de risco mais vulgarmente relacionados com esta temática
prendem-se com a estabilidade e solidez dos edifícios, com a qualidade das instalações
elétricas, com a qualidade das vias de passagem normais e de emergência, com a
qualidade dos sistemas de deteção e combate a incêndios, com a qualidade da
ventilação e isolamento térmico, com a iluminação, qualidade dos vestiários,
balneários e instalações sanitárias, ou seja, com o ambiente externo ou interno de
toda a organização face ao trabalhador, bem com os meios que este necessita para
executar as suas tarefas.
As lesões mais vulgares que resultam das situações acima mencionadas são:
• Quedas e entorses;
• Queimaduras;
• Eletrocussões;
• Esmagamento por objetos ou pessoas;
• Asfixia e Sufocação;
• Perda de visão;
• Perda de líquidos;
• Doenças variadas provocadas por falta de higiene, etc.

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

As medidas a empreender pelas organizações para a eliminação ou redução do risco,


passam pela:
Manutenção técnica dos locais de trabalho, das instalações e dispositivos, e
eliminação de defeitos que possam prejudicar as condições de segurança dos
trabalhadores;
Limpeza periódica dos locais de trabalho, das instalações e dispositivos de segurança;
Manutenção regular e controlo de funcionamento das instalações e dispositivos de
segurança;
Informação e formação dos trabalhadores e/ou representantes no que
respeita à segurança;
Construção de edifícios que possuam as condições de estabilidade, resistência e
salubridade compatíveis com as características e riscos das atividades a empreender;
Desobstrução das vias normais, de emergência e de circulação;
Ventilação do espaço de trabalho em quantidade suficiente por forma a permitir a
boa execução das tarefas, atendendo ao esforço físico exigido e métodos de trabalho;
Adequação da iluminação ao local de trabalho, por forma a permitir ao trabalhador
executar as suas tarefas de uma forma segura;
Existência de meios de deteção e combate a incêndios adequados às
instalações, ao local de trabalho e às características inerentes à execução do próprio
trabalho (exemplo: utilização de matérias-primas inflamáveis);
Adequação da temperatura e humidade dos locais de trabalho, ao organismo
humano, tendo em conta os métodos de trabalho e o esforço físico dispendido pelo
trabalhador;
Manutenção e limpeza periódica dos balneários e instalações sanitárias, entre outros.

14.2. Equipamentos de Trabalho

Os equipamentos de trabalho (máquinas, ferramentas, equipamentos) têm


automaticamente associados à sua existência riscos para o trabalhador, quer estes
provenham do próprio uso na execução das tarefas, quer decorram do seu transporte,
reparação, transformação, manutenção e conservação, incluindo a limpeza.

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Quando o trabalhador manipula algum tipo de equipamento está sujeito a riscos por
inerência da construção do próprio equipamento, ou seja, quando, por exemplo, um
trabalhador usa uma serra elétrica na execução de uma determinada tarefa, esse
equipamento apresenta algumas características que põem em causa a sua integridade,
visto que o trabalhador pode cortar-se na lâmina ou então sofrer um choque elétrico
provocado pela interatividade homem-máquina.
Desta forma, tem-se como lesões mais frequentemente ligadas à utilização dos
equipamentos:

• Eletrocussão;
• Queimaduras;
• Esmagamento, entalamento e cortes;
• Perda de visão e audição, etc.

Para que estes riscos possam ser eliminados, ou no mínimo reduzidos, a entidade
empregadora deverá assegurar que os equipamentos de trabalho são os adequados e
que estão convenientemente adaptados para a execução do trabalho em condições de
segurança e saúde para os trabalhadores. Do mesmo modo, deve atender, aquando da
escolha dos equipamentos de trabalho, às condições e características específicas do
trabalho e aos riscos existentes para a segurança dos trabalhadores, deve tomar em
consideração os postos de trabalho e a posição dos trabalhadores durante a utilização
dos equipamentos de trabalho, bem como verificar o respeito pelos princípios
ergonómicos.
O empregador deve ainda assegurar a verificação e manutenção adequada dos
equipamentos de trabalho durante o seu período de utilização, providenciar aos
trabalhadores a formação e informação necessária para que estes possam operar com
os equipamentos de trabalho nas devidas condições de segurança e saúde, e
providenciar os equipamentos de proteção coletiva (EPC) e equipamentos de proteção
individual (EPI) necessários para que estes possam auxiliar os trabalhadores na melhor
preservação da sua integridade física, aquando da utilização de equipamentos de
trabalho.

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

Para além das medidas empreendidas pela organização, os próprios equipamentos de


trabalho têm de ter incluído, aquando da sua conceção e posterior utilização,
requisitos mínimos, que permitam aos trabalhadores o seu manuseamento em
condições de segurança. Esses requisitos estão legislados a nível europeu e nacional.

14.3. Eletricidade
Com o desenvolvimento tecnológico e a generalização do uso da energia elétrica em
todos setores de atividade, torna-se cada vez mais necessária uma orientação dirigida
às organizações e aos utilizadores da eletricidade no sentido de se familiarizem com os
riscos associados a essa energia, bem como com os meios técnicos de proteção
existentes.
Os fatores relevantes na determinação da gravidade dos acidentes elétricos cingem-se
à intensidade da corrente, ao tempo de passagem da corrente e à tensão, a maneira
como que estes três fatores interagem entre si vai provocar um maior ou menor
impacto nas consequências que derivam da corrente elétrica para o indivíduo.
Pode-se então definir o risco de contacto com a corrente elétrica como a
probabilidade de circulação de uma corrente elétrica através do corpo humano.

Para que exista possibilidade de circulação de corrente elétrica é necessário que:


• Exista um circuito elétrico;
• O circuito esteja fechado ou possa fechar-se;
• No circuito exista uma diferença de potencial;
• O corpo humano seja condutor ou faça parte do circuito;
• Exista, entre os pontos de entrada e saída da corrente elétrica no corpo humano,
uma diferença de potencial maior que zero;
Existindo estes requisitos e sendo cumpridos, pode-se afirmar que existe risco de
contacto com corrente elétrica e, portanto, risco de acidente elétrico. A passagem da
corrente elétrica através do corpo humano pode determinar numerosas alterações e
lesões temporárias ou permanentes, que atuam sobre as mais diferentes partes do
corpo humano, como sejam, os vasos sanguíneos, o aparelho auditivo, o sistema
nervoso central, o sistema cardiovascular, etc.

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Modulo: Ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho Formadora: Cíntia Gonçalves

Os efeitos mais frequentes e mais importantes que a eletricidade produz no corpo


humano e que contribuem para a definição dos limites de perigosidade são
essencialmente:

• Tetanização – quando o indivíduo não consegue largar o objeto em tensão;


• Paragem respiratória;
• Fibrilação ventricular – perturbação ao nível dos ventrículos, passando as fibras
destes a contraírem-se de forma desordenada;
• Queimaduras.

Em suma, as lesões mais frequentes relacionadas com a corrente elétrica são:


• Queimaduras;
• Lesões cardíacas;
• Lesões cerebrais, etc.

As medidas de prevenção para estas lesões passam, entre outras, pelo:


Uso de equipamentos de proteção individual (que permitam isolamento face aos
riscos elétricos);
Formação e informação dos trabalhadores;
Conceção adequada das instalações elétricas;
Interposição de obstáculos (por forma a prevenir qualquer contacto acidental com as
partes sobre tensão);
Recobrimento das partes sobre tensão por materiais devidamente apropriados para o
efeito;
Emprego de tensão reduzida;
Isolamento dos elementos condutores estranhos à instalação;
Ou por medidas de proteção com corte automático da alimentação.

14.4. Incêndio e Explosão

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O risco de incêndio/explosão está presente em praticamente todos os contextos de


trabalho, desde o manuseamento de equipamentos até à armazenagem de matérias-
primas ou produtos e, como tal, representam um fator de risco relevante em termos
de segurança para o trabalhador.
Para além disso, quando este género de risco ocorre, embora não seja muito
frequente, provoca nos trabalhadores um grande sentimento de insegurança, quer
pela dimensão (que geralmente comporta este género de riscos), quer pelo tipo de
danos que pode provocar nos trabalhadores.
Para se entender melhor esta problemática, é necessário entender alguns conceitos
básicos da química do fogo, nomeadamente com a definição de combustão.
A combustão é uma reação química que ocorre entre uma substância oxidante,
comburente, e uma substância redutora, combustível. Esta reação química tem como
particularidade comum o facto de ser exotérmica (liberta calor). De um modo geral, o
simples facto de se colocar um combustível em contacto com o ar à temperatura
ambiente, não é suficiente para que uma reação de combustão se inicie. Para que tal
possa acontecer torna-se necessário fornecer uma determinada quantidade de
energia, sob a forma de calor, a que se dá o nome de energia de ativação (fonte de
ignição). O modo como a mesma energia é fornecida é o que habitualmente se chama
de causa de incêndio. Quando esta reação química for de tal modo rápida e energética,
a quantidade de calor liberto apreciável, e se verificar a emissão de luz pela ocorrência
da chama, passa-se a designar por fogo.
Assim, e resumindo, para que uma combustão possa ocorrer e provocar um incêndio,
torna-se necessário a presença, simultânea de três elementos: combustível,
comburente e energia de ativação (calor), ou seja, o Triângulo do Fogo1.

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Figura: O Triângulo do Fogo


1 Também existe o Tetraedro do Fogo. Neste é introduzida outra variável: a reação em
cadeia.

As principais lesões serão:


• Queimaduras;
• Asfixiamento;
• Esmagamento por quedas de objetos (provocada maioritariamente por explosões);
• Cortes, etc.

As medidas de prevenção a implementar passam, entre outros, por:


Dar formação e fornecer informação aos trabalhadores de como deverão atuar em
caso de incêndio/explosão;
Efetuar simulacros de incêndio/explosão;
Utilizar meios extintores adequados à atividade da organização (extintores, detetores
de fumo);
Utilizar equipamentos adequados de proteção (coletiva e individual);
Armazenar adequadamente as matérias e materiais, químicos perigosos, explosivos e
tóxicos;
Colocar sinalização de segurança adequada;
Possuir um plano de segurança adequado.

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14.5. Ruído

Quando o Homem se encontra num ambiente de trabalho e não consegue ouvir


perfeitamente a fala das outras pessoas no mesmo recinto, isso é uma primeira
indicação de que o local é demasiado ruidoso.
Os especialistas no assunto definem o ruído como todo o som que causa sensação
desagradável ao homem. O ruído é pois, um agente físico que pode afetar de modo
significativo a qualidade de vida do trabalhador. O nível de pressão acústica mede-se
usando um sonómetro, e a unidade usada como medida é o decibel ou
abreviadamente dB, no entanto, este precisa de um filtro normalizado A, por forma a
medir o ruído no ouvido humano, ou seja, dB(A) (unidade de medição do ruído do
ouvido humano – decibel ponderado A).
Assim sendo, as perdas de audição são derivadas da frequência e intensidade do ruído,
transmitidas através de ondas sonoras (tanto pelo ar como por materiais sólidos).
Quanto maior for a densidade do meio condutor, menor será a velocidade de
propagação do ruído.

Notas:
- Para 8 horas diárias de trabalho, com um ruído na ordem dos 80 dB(A), os EPI já
devem estar disponíveis para o trabalhador;
- Em exposições de 85 dB(A) o uso de EPI já é obrigatório [admite-se um pico de 87
dB(A)];
- O ruído emitido por uma britadeira é equivalente a 100 decibéis;
- O limite máximo de exposição contínua do trabalhador a esse ruído, sem proteção
auditiva, é de 1 hora.
Sem qualquer medida de controlo ou proteção o excesso de intensidade do ruído
acaba por afetar o desempenho do trabalhador na execução da sua atividade laboral,
pois provoca distúrbios ao nível do cérebro e do sistema nervoso. Inclusive, em
condições de exposição prolongada ao ruído por parte do aparelho auditivo, os efeitos
podem resultar na surdez profissional. Uma única exposição a um valor de 140 dB(A)

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provoca a surdez, que é a segunda doença profissional com maior incidência em


Portugal, e uma das grandes causas responsáveis pela incapacidade permanente nos
trabalhadores portugueses.
As sequelas referentes ao ruído têm impactos no trabalhador a todos os níveis, como
sejam dificuldades para se relacionar com os colegas e família, assim como
dificuldades acrescidas em se aperceber da movimentação de veículos ou máquinas,
agravando as condições de risco de acidente físico.
NOTA: Consultar Decreto-Lei n.º 182/2006 de 6 de setembro.

Os ruídos podem-se dividir em:


Ruído uniforme, quando o nível de pressão acústica (técnica relativa ao estudo das
vibrações sonoras, à sua produção, sua propagação e seus efeitos) e os espectros de
frequência (conjunto ou gama de frequências de um som ou ruído) são constantes
durante um certo tempo relativamente longo, como por exemplo o ruído numa fábrica
de fiação;
Ruído intermitente, quando o nível de pressão acústica e o espectro das frequências
variam constantemente, como por exemplo numa oficina de mecânica;
Ruído impulsivo, quando o nível de pressão acústica é muito elevado mas dura pouco
tempo (menos de 1/5 do segundo), como por exemplo um tiro.
As medidas de proteção que se podem tomar por forma a eliminar ou minimizar os
efeitos nocivos de exposição ao ruído, passam por:
v Formação e informação dos trabalhadores;
v Sinalização e limitação de acesso das zonas muito ruidosas;
v Vigilância médica e audiométrica da função auditiva dos trabalhadores
expostos;
v Encapsulamento de máquinas;
v Barreiras acústicas;
v Montagem de elementos absorventes do som;
v Limitação da duração do trabalho em ambientes muito ruidosos;
v Organização da rotatividade de mudanças nos postos de trabalho;
v Utilização de protetores de ouvido, etc.

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