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BIOSSEGURANÇA

PATRICIA AGUIAR DE OLIVEIRA, PhD


Introdução
• A biossegurança compreende um conjunto de ações
destinadas a prevenir, controlar, mitigar ou eliminar
riscos inerentes às atividades que possam interferir
ou comprometer a qualidade de vida, a saúde
humana e o meio ambiente.
• Desta forma, a biossegurança caracteriza-se como
estratégica e essencial para a pesquisa e o
desenvolvimento sustentável sendo de fundamental
importância para avaliar e prevenir os possíveis
efeitos adversos de novas tecnologias à saúde.
Introdução
• No âmbito do Ministério da Saúde (MS), a Biossegurança é
tratada pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS)
que é coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos (SCTIE) e composta pelas
Secretarias de Vigilância em Saúde (SVS) e de Atenção à
Saúde (SAS), pela Assessoria de Assuntos Internacionais
em Saúde (AISA), pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ),
pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A CBS
foi instituída pela Portaria GM/MS nº 1.683, de 28 de agosto
de 2003.
Histórico
• Especialmente nos anos 1960 e 1970, o desenvolvimento
da biossegurança foi estimulado pela ação da indústria,
que, visando normas de segurança do trabalho, começou a
aplicar procedimentos de biossegurança como estratégia
de minimização de riscos.
• Práticas específicas, como atenção ao ambiente de
trabalho e à minimização dos riscos biológicos no ambiente
ocupacional, foram consolidadas nesse período.
Histórico
• De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (WHO, 1993)
a atenção voltava-se para as
“práticas preventivas para o
trabalho em contenção a nível
laboratorial, com agentes
patogênicos para o homem”, o
que alinhava suas políticas de
ação com o desenvolvimento
científico.
Histórico
• Respondendo às demandas
sociais, a OMS estabeleceu
métodos de ação que
objetivaram incorporar a
essa definição os chamados
riscos periféricos presentes
em ambientes laboratoriais
que trabalhavam com
agentes patogênicos para o
homem, como os riscos
químicos, físicos,
radioativos e ergonômicos.
Histórico
• Essas ações foram essenciais para diminuição de
acidentes ocupacionais, que sempre estiveram
relacionados às atividades econômicas, passando a
oferecer uma maior segurança ao trabalhador.
Histórico
• Já nos anos 1990 pôde ser observado um
avanço, e a biossegurança incorporou os
princípios que permeiam o desenvolvimento da
engenharia genética e os organismos
transgênicos.
Histórico
• Assim, essa década veio consolidar o que foi
iniciado já nos anos 1970, quando começou a
discussão sobre os impactos da engenharia
genética na sociedade.
Histórico
• Nesse campo de atuação, foram essenciais as
certificações atualmente alvo do interesse das
organizações, como as normas ISO da série 9000 e
14000 e, recentemente, da OHSAS (Organization
for Health and Safety Assessment Series) série
18000, que têm sido de fundamental importância
para os processos de segurança ocupacional.
Histórico no Brasil
• No Brasil, por iniciativa do então Senador
Dr. Marco Antônio Maciel, um projeto de
Lei de Biossegurança foi submetido à
aprovação do Congresso Nacional em
1989.
• O conhecimento e o interesse por essa
área, no entanto, só foram fortalecidos
com a Convenção sobre a Diversidade
Biológica, aprovada em 1992 durante a
Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, popularmente conhecida
como Eco 92 ou Rio 92.
Histórico no Brasil
• Um maior interesse por normas definidas para o
manuseio e uso de Organismos Geneticamente
Modificados (OGM), mais conhecidos como
organismos transgênicos, partiu de instituições de
pesquisa que desenvolviam atividades de
engenharia genética.
Histórico no Brasil
• Em Maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia (Cenargen), com apoio da
UNIDO/ICGEB organizou o primeiro workshop
internacional sobre organismos transgênicos no
Brasil.
Histórico no Brasil
• Participantes de instituições de pesquisa e
empresas privadas do Brasil e de outros países da
América Latina receberam instruções sobre
aspectos de biossegurança de organismos
transgênicos e debateram o desenvolvimento de
regulamentação deste setor na região.
Histórico no Brasil
• Foi formado um grupo de trabalho que incluía a
Embrapa, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e a
Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia
(ABRABI) para acompanhar as discussões do
Projeto de Lei de Biossegurança no Congresso
Nacional, com o apoio do relator do mesmo na
Câmara dos Deputados, o Deputado Dr. Sérgio
Arouca.
Histórico no Brasil
• O resultado deste trabalho, que também contou com o
apoio de empresas privadas, culminou com a aprovação
da Lei de Biossegurança em Dezembro de 1994, a qual
veio a ser a primeira Lei sancionada pelo então
Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
Lei Nº 8.794 de 06 de Janeiro de 1995. O decreto
regulamentador da Lei, Decreto Nº. 1.974, elaborado por
uma comissão interministerial presidida pelo Ministério
da Ciência e Tecnologia, foi publicado em Dezembro de
1995.
Histórico no Brasil
• A Lei de Biossegurança regula todos os aspectos da
manipulação e uso de OGM no Brasil, incluindo
pesquisa em contenção, experimentação em campo,
transporte, importação, produção, armazenamento e
comercialização.
• Seu escopo limita-se ao uso da engenharia genética,
ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante, para a
troca de material genético entre organismos vivos.
• Outras técnicas biotecnológicas, como fusão celular
e cultura de tecidos, não são incluídas.
Histórico no Brasil
• A biossegurança no Brasil está formatada
legalmente para os processos envolvendo
organismos geneticamente modificados, de acordo
com a Lei de Biossegurança – Nº 8974 de 05 de
Janeiro de 1995, que cita no seu art. 1º:
"Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos
de fiscalização no uso das técnicas de engenharia
genética na construção, cultivo, manipulação, transporte,
comercialização, consumo, liberação e descarte de
organismo geneticamente modificado (OGM), visando a
proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das
plantas, bem como o meio ambiente".
Histórico do Conceito
• A lógica da construção do conceito de
biossegurança, teve seu inicio na década de
70 na reunião de Asilomar na Califórnia, onde
a comunidade científica iniciou a discussão
sobre os impactos da engenharia genética na
sociedade.
• Esta reunião, segundo Goldim (1997), "é um
marco na história da ética aplicada a
pesquisa, pois foi a primeira vez que se
discutiu os aspectos de proteção aos
pesquisadores e demais profissionais
envolvidos nas áreas onde se realiza o projeto
de pesquisa".
• A partir daí o termo biossegurança, vem, ao
longo dos anos, sofrendo alterações.
Histórico do Conceito
• Em seminário realizado no Instituto Pasteur em Paris (INSERM,
1991), observamos a inclusão de temas como ética em pesquisa,
meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA
recombinante, em programas de biossegurança.
Histórico do Conceito
• Outra definição nessa linha diz que "a biossegurança é o conjunto
de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de
riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à
saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a
qualidade dos resultados" (Teixeira & Valle, 1996). Este foco de
atenção retorna ao ambiente ocupacional e amplia-se para a
proteção ambiental e a qualidade. Não é centrado em técnicas de
DNA recombinante.
Histórico do Conceito
• Uma definição centrada no ambiente ocupacional
encontramos em Teixeira & Valle (1996), onde consta no
prefácio "segurança no manejo de produtos e técnicas
biológicas".
Histórico do Conceito
• Uma outra definição, baseada na cultura da engenharia de
segurança e da medicina do trabalho é encontrada em
Costa (1996), onde aparece "conjunto de medidas técnicas,
administrativas, educacionais, médicas e psicológicas,
empregadas para prevenir acidentes em ambientes
biotecnológicos". Está centrada na prevenção de acidentes
em ambientes ocupacionais.
Histórico do Conceito
• Fontes et al. (1998) já apontam para "os procedimentos adotados
para evitar os riscos das atividades da biologia". Embora seja uma
definição vaga, subentende-se que estejam incluídos a biologia
clássica e a biologia do DNA recombinante.
• Estas definições mostram que a biossegurança envolve as
seguintes relações:
➢ Tecnologia ------------- Risco -----Homem
➢ Agente Biológico -----Risco -----Homem
➢ Tecnologia --------------Risco -----Sociedade
➢ Biodiversidade --------Risco -----Economia
• O significado de Bio (do grego
Bios) = Vida e segurança se refere
à qualidade de ser ou estar seguro,
protegido, preservado, livre de
risco ou perigo.
• “Biossegurança” significa {Vida +
Segurança}, ou seja, a vida livre de
perigos.
Conceito
• Segundo Costa, dependendo da abordagem que se faça, a
biossegurança pode ser definida como módulo, processo ou conduta:
como módulo, porque não possui identidade própria, mas sim uma
interdisciplinaridade que se expressa nas matrizes curriculares de seus
cursos e programas (...). Como processo, porque a biossegurança é
uma ação educativa (...). Nesse sentido, podemos entendê-la como um
processo de aquisição de conteúdos e habilidades, com o objetivo de
preservação da saúde do homem e do meio ambiente. Como conduta,
quando a analisamos como um somatório de conhecimentos, hábitos
comportamentos e sentimentos que devem ser incorporados ao
homem, para que este desenvolva, de forma segura, sua atividade
profissional.
Conceito
• As ações de padronização, prevenção e cautela durante
trabalhos na área de saúde podem ser denominadas
biossegurança, área do conhecimento que tem como
objetivo desenvolver ações que possam contribuir para
diminuir riscos inerentes às atividades das diversas áreas
da saúde.
Conceito
• O conceito ainda pode ser
reformulado de forma mais ampla:
a biossegurança constitui-se de ações
voltadas para a prevenção,
minimização ou eliminação de riscos
inerentes às atividades de pesquisa,
produção, ensino, desenvolvimento
tecnológico e prestação de serviços,
visando à saúde do homem, dos
animais, à preservação do meio
ambiente e à qualidade dos resultados.
Conceito
• Portanto, esse campo do conhecimento permeia um amplo
espectro de atividades e instituições, além de estar
relacionado a aspectos históricos, humanos, sociais e a
conceitos de ética, economia, política, meio ambiente e
desenvolvimento.
Conceito
• Essas definições mostram que a
biossegurança envolve as relações
tecnologia/risco/homem, uma vez
que o risco biológico será sempre
resultante de diversos fatores e,
portanto, seu controle depende de
ações em várias áreas, priorizando-
se o desenvolvimento e a
divulgação de informações, além
da adoção de procedimentos
correspondentes às boas práticas
de segurança para profissionais,
pacientes e meio ambiente, de
forma a controlar e minimizar os
riscos operacionais das atividades
de saúde.
Conceito

• Não se pode esquecer, entretanto, que os conceitos científicos são


provisórios, devido à dinamicidade da própria ciência e também que
a biossegurança deve estar preparada para que seus princípios,
bem como a compreensão da temática, ocorra de forma
contextualizada com o próprio desenvolvimento científico e avanço
tecnológico das sociedades humanas.
Conceito
• Especialmente ao serem consideradas as ações que
embasam os princípios de biossegurança, o avanço
científico foi essencial ao desenvolvimento das práticas
necessárias ao controle de riscos ocupacionais, que vêm
evoluindo de forma crescente, acompanhando a
preocupação de segurança do trabalho e voltada ao
trabalhador.
Conceito
• Dessa forma, pode-se considerar
que o fundamento básico da
biossegurança é assegurar a
ampliação do conhecimento
científico, visando o
desenvolvimento de tecnologias e o
avanço dos processos
tecnológicos.
• Esse conjunto de ações deve se
basear nos princípios específicos
das atividades para as quais foram
delineadas, de forma a ter como
foco proteger a saúde humana,
animal e o meio ambiente.
Conceito
• Nesse contexto, o trabalhador merece destaque, uma vez
que o maior objetivo da biossegurança é a minimização de
riscos, que depende diretamente do campo de atuação, o
que o insere em vários contextos, os quais espelham a
diversidade de campos de atuação da biossegurança.
Conclusão

• Nos últimos anos, o conhecimento científico aplicado às


ações de gestão e controle de riscos ocupacionais vem
evoluindo de forma exponencial.
• Por outro lado, o processo normativo, através das normas
ISO da série 9000 e 14000, e recentemente da OHSAS série
18000 (normas certificáveis do British Standard Institut,
referentes a saúde e segurança no trabalho), tem sido de
fundamental importância, já que atuam como verdadeiros
parceiros nos processos de segurança ocupacional.
Conclusão
• Aliado a este cenário, verificamos uma necessidade
sentida de aperfeiçoamento constante dos
profissionais que atuam nessa área, principalmente
a nível dos engenheiros e técnicos de segurança do
trabalho, que já estão sendo solicitados para
exercerem suas atividades, em locais, até
recentemente isentos desses profissionais, como
por exemplo, os ambientes de saúde e da moderna
biotecnologia.
Conclusão
• Isto nos leva a ver a biossegurança como uma ferramenta
fundamental para que esses profissionais exerçam em toda
a plenitude suas atividades, no sentido de que a promoção
da saúde seja alcançada, não e apenas a nível ocupacional,
mas também, a nível planetário.
Conclusão
• Isto, significa que as empresas
devem repensar suas ações de
SST, que na sua grande maioria,
existe, para atender a uma
legislação, que cada vez torna-se
mais rígida, voltando o foco para os
seus processos de trabalho e não
somente para o controle de riscos,
e nesse contexto, a biossegurança
torna-se um elo de suma
importância.
Dever de casa
• O que é biossegurança?
• Quando e onde surgiu a biossegurança?
• Como a biossegurança chegou ao Brasil?
Bibliografia consultada
• COSTA, M. A. F. Biossegurança: da prática à legal. Disponível em:
http://www.safetyguide.com.br/artigos/biosseg.htm. Acesso em: 27/03/2019.
• COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Biossegurança: elo estratégico de SST. Revista CIPA, v. 21, n.
253, p. 253, 2002.
• CTNBIO. Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação. Normas e Leis. Disponível em: http://ctnbio.mcti.gov.br/normas-e-leis. Acesso em
24/03/2019.
• Costa, M.A.F. Biossegurança: segurança química básica para ambientes biotecnológicos e
hospitalares. São Paulo: Ed. Santos, 1996.
• Goldim, J.R. Conferência de Asilomar. 1997.Disponível em:
http://www.ufrgs.br/HCPA/gppg/asilomar.htm. Acesso em: 27/03/2019.
• Fontes, E.; Varella, M.D.; Assad, A.L.D. Biosafety in Brazil and it´s Interface with other Laws.
1998. Disponível em: http://www.bdt.org.br/bdt/oeaproj/biossegurança. Acesso em:
27/03/2019.
• INSERM. Les Risques Biologiques en Laboratoire de Recherche. Paris: Institut Pasteur, 1991.
• Teixeira, P; Valle, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ, 1996.
• Valle, S. Regulamentação da Biossegurança em Biotecnologia. Rio de Janeiro: Gráfica
Auriverde, 1998.
• WHO. Laboratory Biosafety Manual. Geneva: Seconde Edition, 1993.
Obrigada

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