Introdução • A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. • Desta forma, a biossegurança caracteriza-se como estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis efeitos adversos de novas tecnologias à saúde. Introdução • No âmbito do Ministério da Saúde (MS), a Biossegurança é tratada pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) que é coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) e composta pelas Secretarias de Vigilância em Saúde (SVS) e de Atenção à Saúde (SAS), pela Assessoria de Assuntos Internacionais em Saúde (AISA), pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A CBS foi instituída pela Portaria GM/MS nº 1.683, de 28 de agosto de 2003. Histórico • Especialmente nos anos 1960 e 1970, o desenvolvimento da biossegurança foi estimulado pela ação da indústria, que, visando normas de segurança do trabalho, começou a aplicar procedimentos de biossegurança como estratégia de minimização de riscos. • Práticas específicas, como atenção ao ambiente de trabalho e à minimização dos riscos biológicos no ambiente ocupacional, foram consolidadas nesse período. Histórico • De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1993) a atenção voltava-se para as “práticas preventivas para o trabalho em contenção a nível laboratorial, com agentes patogênicos para o homem”, o que alinhava suas políticas de ação com o desenvolvimento científico. Histórico • Respondendo às demandas sociais, a OMS estabeleceu métodos de ação que objetivaram incorporar a essa definição os chamados riscos periféricos presentes em ambientes laboratoriais que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como os riscos químicos, físicos, radioativos e ergonômicos. Histórico • Essas ações foram essenciais para diminuição de acidentes ocupacionais, que sempre estiveram relacionados às atividades econômicas, passando a oferecer uma maior segurança ao trabalhador. Histórico • Já nos anos 1990 pôde ser observado um avanço, e a biossegurança incorporou os princípios que permeiam o desenvolvimento da engenharia genética e os organismos transgênicos. Histórico • Assim, essa década veio consolidar o que foi iniciado já nos anos 1970, quando começou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade. Histórico • Nesse campo de atuação, foram essenciais as certificações atualmente alvo do interesse das organizações, como as normas ISO da série 9000 e 14000 e, recentemente, da OHSAS (Organization for Health and Safety Assessment Series) série 18000, que têm sido de fundamental importância para os processos de segurança ocupacional. Histórico no Brasil • No Brasil, por iniciativa do então Senador Dr. Marco Antônio Maciel, um projeto de Lei de Biossegurança foi submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989. • O conhecimento e o interesse por essa área, no entanto, só foram fortalecidos com a Convenção sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92. Histórico no Brasil • Um maior interesse por normas definidas para o manuseio e uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), mais conhecidos como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa que desenvolviam atividades de engenharia genética. Histórico no Brasil • Em Maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), com apoio da UNIDO/ICGEB organizou o primeiro workshop internacional sobre organismos transgênicos no Brasil. Histórico no Brasil • Participantes de instituições de pesquisa e empresas privadas do Brasil e de outros países da América Latina receberam instruções sobre aspectos de biossegurança de organismos transgênicos e debateram o desenvolvimento de regulamentação deste setor na região. Histórico no Brasil • Foi formado um grupo de trabalho que incluía a Embrapa, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e a Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia (ABRABI) para acompanhar as discussões do Projeto de Lei de Biossegurança no Congresso Nacional, com o apoio do relator do mesmo na Câmara dos Deputados, o Deputado Dr. Sérgio Arouca. Histórico no Brasil • O resultado deste trabalho, que também contou com o apoio de empresas privadas, culminou com a aprovação da Lei de Biossegurança em Dezembro de 1994, a qual veio a ser a primeira Lei sancionada pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, Lei Nº 8.794 de 06 de Janeiro de 1995. O decreto regulamentador da Lei, Decreto Nº. 1.974, elaborado por uma comissão interministerial presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foi publicado em Dezembro de 1995. Histórico no Brasil • A Lei de Biossegurança regula todos os aspectos da manipulação e uso de OGM no Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação, produção, armazenamento e comercialização. • Seu escopo limita-se ao uso da engenharia genética, ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante, para a troca de material genético entre organismos vivos. • Outras técnicas biotecnológicas, como fusão celular e cultura de tecidos, não são incluídas. Histórico no Brasil • A biossegurança no Brasil está formatada legalmente para os processos envolvendo organismos geneticamente modificados, de acordo com a Lei de Biossegurança – Nº 8974 de 05 de Janeiro de 1995, que cita no seu art. 1º: "Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, liberação e descarte de organismo geneticamente modificado (OGM), visando a proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente". Histórico do Conceito • A lógica da construção do conceito de biossegurança, teve seu inicio na década de 70 na reunião de Asilomar na Califórnia, onde a comunidade científica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade. • Esta reunião, segundo Goldim (1997), "é um marco na história da ética aplicada a pesquisa, pois foi a primeira vez que se discutiu os aspectos de proteção aos pesquisadores e demais profissionais envolvidos nas áreas onde se realiza o projeto de pesquisa". • A partir daí o termo biossegurança, vem, ao longo dos anos, sofrendo alterações. Histórico do Conceito • Em seminário realizado no Instituto Pasteur em Paris (INSERM, 1991), observamos a inclusão de temas como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em programas de biossegurança. Histórico do Conceito • Outra definição nessa linha diz que "a biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados" (Teixeira & Valle, 1996). Este foco de atenção retorna ao ambiente ocupacional e amplia-se para a proteção ambiental e a qualidade. Não é centrado em técnicas de DNA recombinante. Histórico do Conceito • Uma definição centrada no ambiente ocupacional encontramos em Teixeira & Valle (1996), onde consta no prefácio "segurança no manejo de produtos e técnicas biológicas". Histórico do Conceito • Uma outra definição, baseada na cultura da engenharia de segurança e da medicina do trabalho é encontrada em Costa (1996), onde aparece "conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos". Está centrada na prevenção de acidentes em ambientes ocupacionais. Histórico do Conceito • Fontes et al. (1998) já apontam para "os procedimentos adotados para evitar os riscos das atividades da biologia". Embora seja uma definição vaga, subentende-se que estejam incluídos a biologia clássica e a biologia do DNA recombinante. • Estas definições mostram que a biossegurança envolve as seguintes relações: ➢ Tecnologia ------------- Risco -----Homem ➢ Agente Biológico -----Risco -----Homem ➢ Tecnologia --------------Risco -----Sociedade ➢ Biodiversidade --------Risco -----Economia • O significado de Bio (do grego Bios) = Vida e segurança se refere à qualidade de ser ou estar seguro, protegido, preservado, livre de risco ou perigo. • “Biossegurança” significa {Vida + Segurança}, ou seja, a vida livre de perigos. Conceito • Segundo Costa, dependendo da abordagem que se faça, a biossegurança pode ser definida como módulo, processo ou conduta: como módulo, porque não possui identidade própria, mas sim uma interdisciplinaridade que se expressa nas matrizes curriculares de seus cursos e programas (...). Como processo, porque a biossegurança é uma ação educativa (...). Nesse sentido, podemos entendê-la como um processo de aquisição de conteúdos e habilidades, com o objetivo de preservação da saúde do homem e do meio ambiente. Como conduta, quando a analisamos como um somatório de conhecimentos, hábitos comportamentos e sentimentos que devem ser incorporados ao homem, para que este desenvolva, de forma segura, sua atividade profissional. Conceito • As ações de padronização, prevenção e cautela durante trabalhos na área de saúde podem ser denominadas biossegurança, área do conhecimento que tem como objetivo desenvolver ações que possam contribuir para diminuir riscos inerentes às atividades das diversas áreas da saúde. Conceito • O conceito ainda pode ser reformulado de forma mais ampla: a biossegurança constitui-se de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados. Conceito • Portanto, esse campo do conhecimento permeia um amplo espectro de atividades e instituições, além de estar relacionado a aspectos históricos, humanos, sociais e a conceitos de ética, economia, política, meio ambiente e desenvolvimento. Conceito • Essas definições mostram que a biossegurança envolve as relações tecnologia/risco/homem, uma vez que o risco biológico será sempre resultante de diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando- se o desenvolvimento e a divulgação de informações, além da adoção de procedimentos correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente, de forma a controlar e minimizar os riscos operacionais das atividades de saúde. Conceito
• Não se pode esquecer, entretanto, que os conceitos científicos são
provisórios, devido à dinamicidade da própria ciência e também que a biossegurança deve estar preparada para que seus princípios, bem como a compreensão da temática, ocorra de forma contextualizada com o próprio desenvolvimento científico e avanço tecnológico das sociedades humanas. Conceito • Especialmente ao serem consideradas as ações que embasam os princípios de biossegurança, o avanço científico foi essencial ao desenvolvimento das práticas necessárias ao controle de riscos ocupacionais, que vêm evoluindo de forma crescente, acompanhando a preocupação de segurança do trabalho e voltada ao trabalhador. Conceito • Dessa forma, pode-se considerar que o fundamento básico da biossegurança é assegurar a ampliação do conhecimento científico, visando o desenvolvimento de tecnologias e o avanço dos processos tecnológicos. • Esse conjunto de ações deve se basear nos princípios específicos das atividades para as quais foram delineadas, de forma a ter como foco proteger a saúde humana, animal e o meio ambiente. Conceito • Nesse contexto, o trabalhador merece destaque, uma vez que o maior objetivo da biossegurança é a minimização de riscos, que depende diretamente do campo de atuação, o que o insere em vários contextos, os quais espelham a diversidade de campos de atuação da biossegurança. Conclusão
• Nos últimos anos, o conhecimento científico aplicado às
ações de gestão e controle de riscos ocupacionais vem evoluindo de forma exponencial. • Por outro lado, o processo normativo, através das normas ISO da série 9000 e 14000, e recentemente da OHSAS série 18000 (normas certificáveis do British Standard Institut, referentes a saúde e segurança no trabalho), tem sido de fundamental importância, já que atuam como verdadeiros parceiros nos processos de segurança ocupacional. Conclusão • Aliado a este cenário, verificamos uma necessidade sentida de aperfeiçoamento constante dos profissionais que atuam nessa área, principalmente a nível dos engenheiros e técnicos de segurança do trabalho, que já estão sendo solicitados para exercerem suas atividades, em locais, até recentemente isentos desses profissionais, como por exemplo, os ambientes de saúde e da moderna biotecnologia. Conclusão • Isto nos leva a ver a biossegurança como uma ferramenta fundamental para que esses profissionais exerçam em toda a plenitude suas atividades, no sentido de que a promoção da saúde seja alcançada, não e apenas a nível ocupacional, mas também, a nível planetário. Conclusão • Isto, significa que as empresas devem repensar suas ações de SST, que na sua grande maioria, existe, para atender a uma legislação, que cada vez torna-se mais rígida, voltando o foco para os seus processos de trabalho e não somente para o controle de riscos, e nesse contexto, a biossegurança torna-se um elo de suma importância. Dever de casa • O que é biossegurança? • Quando e onde surgiu a biossegurança? • Como a biossegurança chegou ao Brasil? Bibliografia consultada • COSTA, M. A. F. Biossegurança: da prática à legal. Disponível em: http://www.safetyguide.com.br/artigos/biosseg.htm. Acesso em: 27/03/2019. • COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Biossegurança: elo estratégico de SST. Revista CIPA, v. 21, n. 253, p. 253, 2002. • CTNBIO. Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Normas e Leis. Disponível em: http://ctnbio.mcti.gov.br/normas-e-leis. Acesso em 24/03/2019. • Costa, M.A.F. Biossegurança: segurança química básica para ambientes biotecnológicos e hospitalares. São Paulo: Ed. Santos, 1996. • Goldim, J.R. Conferência de Asilomar. 1997.Disponível em: http://www.ufrgs.br/HCPA/gppg/asilomar.htm. Acesso em: 27/03/2019. • Fontes, E.; Varella, M.D.; Assad, A.L.D. Biosafety in Brazil and it´s Interface with other Laws. 1998. Disponível em: http://www.bdt.org.br/bdt/oeaproj/biossegurança. Acesso em: 27/03/2019. • INSERM. Les Risques Biologiques en Laboratoire de Recherche. Paris: Institut Pasteur, 1991. • Teixeira, P; Valle, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 1996. • Valle, S. Regulamentação da Biossegurança em Biotecnologia. Rio de Janeiro: Gráfica Auriverde, 1998. • WHO. Laboratory Biosafety Manual. Geneva: Seconde Edition, 1993. Obrigada