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Nutrição e Exercício

Físico
Prof.ª Roseane Leandra da Rosa

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.ª Roseane Leandra da Rosa

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

R788n

Rosa, Roseane Leandra da

Nutrição e exercício físico. / Roseane Leandra da Rosa –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

212 p.; il.

ISBN 978-65-5663-727-3
ISBN Digital 978-65-5663-728-0

1. Esporte. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 610

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Nutrição e Exercício
Físico! Este livro didático tem como propósito auxiliar você no processo de
aprendizagem da ciência da Nutrição na área do esporte, o que envolve
diferentes conceitos e dinamismo.

Este livro servirá como guia para você, futuro nutricionista, saber
como proceder em um atendimento em consultório, clínica e academia
com praticantes de exercício físico e atletas, adquirindo os conhecimentos
necessários para diferenciar as necessidades de macronutrientes e
micronutrientes a essa população, assim como verificar a composição
corporal adequada à pratica esportiva realizada e prescrever desde cardápios
personalizados até suplementos nutricionais.

O livro está dividido em três unidades, cada qual com objetivos,


conteúdos, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações.

Na primeira unidade será abordada uma breve introdução de


nutrição no exercício e no esporte. Revisaremos a história da nutrição na
área esportiva, assim como a importância do planejamento da alimentação
no rendimento dos desportistas. Em seguida, discutiremos a fisiologia do
exercício, como ocorrem as adaptações biológicas no organismo de um
indivíduo em resposta ao treinamento e a importância dessas adaptações
relacionadas ao mecanismo de aproveitamento dos nutrientes, assunto
que nos direciona para o terceiro tema abordado na Unidade 1, os
sistemas de produção de energia, os quais são relacionados à bioquímica
dos macronutrientes, como e em quais momentos cada macronutriente é
utilizado pela célula como fonte energética.

Na segunda unidade, você aprofundará os conhecimentos referen-


tes à avaliação da composição corporal de um atleta, as fórmulas e dobras
mais adequadas, bem como identificará percentuais de gordura corporal
mais adequados para determinadas modalidades esportivas. Posterior-
mente, compreenderá como determinar as necessidades nutricionais dos
desportistas nas diferentes modalidades que denotam diferentes objetivos,
como a resistência e a força. Por fim, ainda na Unidade 2, poderá verificar a
importância de uma correta hidratação durante a prática esportiva e quais
os líquidos mais indicados para repor os micronutrientes perdidos no suor,
assim como os que devem ser consumidos antes, durante e após a prática.

Já na terceira unidade será possível compreender o que são recursos


ergogênicos e suplementos alimentares, identificando dentro da legislação
brasileira e diretrizes internacionais quais são os suplementos mais indicados
para cada modalidade e como se faz o processo de análise de um indivíduo
até a prescrição do suplemento.
Também conhecerá, de maneira breve, a fitoterapia e suas nuances e
possibilidades dentro da área esportiva. Por fim, identificará os inquéritos
alimentares mais adequados à população que pratica exercícios físicos e
como proceder com orientações específicas aos atletas e suas demandas
específicas.

Desejamos uma ótima leitura!

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO................................................................... 1

TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA.............................................. 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 O QUE É UM NUTRICIONISTA ESPORTIVO?............................................................................ 4
2.1 IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NO ESPORTE....................................................................... 7
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 10
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 11

TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO.................................................................................. 15


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 15
2 ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO ..................................................................... 17
2.1 CLASSIFICAÇÕES DO EXERCÍCIO FÍSICO............................................................................ 17
2.2 RESPOSTAS HORMONAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO ............................................................ 20
2.3 INSULINA, GLUCAGON E EXERCÍCIO FÍSICO.................................................................... 22
2.4 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO, CORTISOL E CATECOLAMINAS
NO EXERCÍCIO FÍSICO .............................................................................................................. 23
2.5 TESTOSTERONA E EXERCÍCIO FÍSICO.................................................................................. 25
2.6 INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE AS RESPOSTAS
HORMONAIS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO...................................................................... 26
3 SISTEMA IMUNE E EXERCÍCIO .................................................................................................. 26
4 EXCESSO DE TREINAMENTO (OVERTRAINING)................................................................... 28
5 OVERTRAINING EM ATLETAS DE ENDURANCE E FORÇA................................................. 30
5.1 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃO DO OVERTRAINING........................ 31
6 EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR.............................. 32
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 37

TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA.......................................................... 39


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 39
2 AS CÉLULAS....................................................................................................................................... 39
3 METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES........................................................................... 45
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 47
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 49
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 53

UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES


NUTRICIONAIS NO ESPORTE............................................................................ 57

TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL..................................................................................... 59


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 VARIÁVEIS APLICADAS NA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL................. 59
2.1 DOBRAS CUTÂNEAS.................................................................................................................. 61
2.2 CIRCUNFERÊNCIA OU PERÍMETRO...................................................................................... 64
2.3 BIOIMPEDÂNCIA......................................................................................................................... 66
3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL EM PRATICANTES DE EXERCÍCIO
FÍSICO E ATLETAS............................................................................................................................ 68
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 74
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 75

TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE.............................................. 79


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 79
2 ATENDIMENTO NUTRICIONAL.................................................................................................. 80
3 CÁLCULOS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS ............................................................... 84
4 RECOMENDAÇÃO PARA CONSUMO DE MACRONUTRIENTES..................................... 88
4.1 CARBOIDRATOS........................................................................................................................... 89
4.2 PROTEÍNA..................................................................................................................................... 92
4.3 LIPÍDIOS ........................................................................................................................................ 94
4.4 PLANEJAMENTO ALIMENTAR (ANTES/DURANTE E APÓS AS REFEIÇÕES)............. 95
4.4.1 Estratégias pré-competição................................................................................................. 96
4.4.2 Estratégias durante competição.......................................................................................... 98
4.4.3 Estratégias pós-competição................................................................................................. 98
4.5 MICRONUTRIENTES................................................................................................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 103
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 104

TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE................................................................................ 107


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 107
2 INGESTÃO HÍDRICA..................................................................................................................... 107
2.1 UM POUQUINHO DA HISTÓRIA........................................................................................... 109
2.2 COMPOSIÇÃO DO SUOR......................................................................................................... 110
2.2.1 Taxa de suor......................................................................................................................... 110
3 HIDRATAÇÃO.................................................................................................................................. 112
3.1 EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO..................................................................................... 112
3.2 DESEQUILÍBRIO ENTRE OS ELETRÓLITOS......................................................................... 113
3.3 EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE....................................................................................................... 113
4 ESVAZIAMENTO GÁSTRICO...................................................................................................... 115
4.1 DENSIDADE ENERGÉTICA..................................................................................................... 115
4.2 INTENSIDADE E TIPO DO EXERCÍCIO................................................................................. 115
4.3 TEMPERATURA DAS BEBIDAS E VOLUME INGERIDO................................................... 116
4.4 TIPO DE CARBOIDRATO NOS REPOSITORES HIDROELETROLÍTICOS...................... 116
5 ABSORÇÃO INTESTINAL............................................................................................................ 116
5.1 TIPO E CONCENTRAÇÃO DE CARBOIDRATO.................................................................. 117
6 RECOMENDAÇÕES DE INGESTÃO DE FLUIDOS E ELETRÓLITOS............................... 118
6.1 RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC
Nº 18, DE 27 DE ABRIL DE 2010............................................................................................... 119
6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE HIDRATAÇÃO E TIPO DE EXERCÍCIO................................ 120
6.2.1 Hidratação em esportes de alta intensidade e curta duração...................................... 120
6.2.2 Hidratação em corredores de meia distância................................................................. 120
6.2.3 Hidratação para exercícios de longa distância............................................................... 120
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 124
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 128

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 130

UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE................ 137

TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS.................................................................................. 139


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 139
2 INTRODUÇÃO À SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR ........................................................... 140
3 LEGISLAÇÃO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES.......................................................... 143
3.1 DIRETRIZES E POSICIONAMENTOS..................................................................................... 148
3.1.1 Declaração de Consenso da Associação Internacional
das Federações de Atletismo 2019.................................................................................... 149
3.1.2 Declaração de consenso do Comitê Olímpico Internacional (COI):
suplementos alimentares e atleta de alto desempenho................................................. 149
3.1.3 Autoridade brasileira de controle de dopagem.............................................................. 150
4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES MAIS USADOS E SUA COMPOSIÇÃO...................... 151
4.1 AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA....................................................................... 151
4.2 WHEY PROTEIN.......................................................................................................................... 152
4.3 ARGININA .................................................................................................................................. 152
4.4 ALANINA..................................................................................................................................... 153
4.5 HMB............................................................................................................................................... 153
4.6 CREATINA................................................................................................................................... 154
4.7 CAFEÍNA...................................................................................................................................... 155
4.8 BICARBONATO DE SÓDIO...................................................................................................... 156
5 VITAMINAS E MINERAIS............................................................................................................ 157
6 ESCOLHA DO SUPLEMENTO ALIMENTAR........................................................................... 159
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 163

TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS


E DE RESISTÊNCIA................................................................................................... 165
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 165
2 SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA......................... 167
2.1 SUPLEMENTOS ALIMENTARES EFICAZES E APARENTEMENTE
SEGUROS, COM FORTES EVIDÊNCIAS, DE ACORDO COM A
SOCIEDADE INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA........................................ 167
2.2 SUPLEMENTOS COM EVIDÊNCIA LIMITADA OU MISTA PARA APOIAR
A EFICÁCIA................................................................................................................................. 173
3 EFICÁCIA DO AUXÍLIO ERGOGÊNICO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES
NOS EXERCÍCIOS DE FORÇA..................................................................................................... 176
3.1 SUPLEMENTOS PARA HIPERTROFIA MUSCULAR.......................................................... 178
3.1.1 Fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro............................... 178
3.1.2 Evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia....................................................... 181
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 185
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS
AOS ATLETAS............................................................................................................. 187
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 187
2 FITOTERAPIA NO ESPORTE....................................................................................................... 187
3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA EVITAR DISTÚRBIOS
GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO................................................................ 192
3.1 CAUSAS DOS PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO............ 192
3.2 QUEM TEM MAIOR CHANCE DE APRESENTAR PROBLEMAS
GASTROINTESTINAIS?............................................................................................................. 193
3.3 ESTRATÉGIAS PARA PREVENIR OU MINIMIZAR DISTÚRBIOS
GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO............................................................... 193
3.3.1 Múltiplos transportadores................................................................................................. 194
3.3.2 Bochecho de carboidrato................................................................................................... 194
3.3.3 Recomendações práticas.................................................................................................... 195
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 196
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 198
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 200

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 202
UNIDADE 1 —

NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as nuances que envolvem o exercício físico, desde as


adaptações fisiológicas aos sistemas de produção de energia;

• conhecer as diferentes formas de avaliação da composição corporal dos


praticantes de exercícios físicos e atletas;

• calcular as necessidades nutricionais de acordo com o gasto energético


de cada modalidade realizada, adaptando o planejamento alimentar de
acordo com a individualidade de cada praticante;

• identificar a importância da hidratação e repositores hidroeletrolíticos,


verificando como prescrever antes, durante e após a prática;

• verificar a necessidade de inserção de suplementos alimentares e


fitoterápicos no planejamento alimentar dos atletas, identificando os
protocolos que podem ser utilizados frente à realidade do indivíduo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA

TÓPICO 2 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

TÓPICO 3 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

1
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico! Nesta primeira unidade, nós veremos uma breve


introdução de nutrição no exercício e no esporte. Revisaremos a história da
nutrição na área esportiva, assim como a importância do planejamento da
alimentação no rendimento dos desportistas. Em seguida, discutiremos a
fisiologia do exercício, como ocorrem as adaptações biológicas no organismo de
um indivíduo em resposta ao treinamento e a importância dessas adaptações
relacionadas ao mecanismo de aproveitamento dos nutrientes, assunto que nos
direciona para o terceiro tema abordado nesta unidade, os sistemas de produção
de energia, os quais são relacionados à bioquímica dos macronutrientes, assim,
poderemos compreender os melhores momentos de consumir cada um deles
(carboidrato, proteína, lipídio), para que possam ser bem absorvidos e, com isso,
beneficiar as respostas esperadas no desempenho dos atletas.

Vamos lá? Você sabe quando a nutrição esportiva teve seu “start” no
Brasil?

O grande interesse pela nutrição esportiva ocorreu na Copa do Mundo de


1994, isso mesmo, há pouco menos de 30 anos, quando a então nutricionista da
seleção brasileira de futebol e uma das pioneiras do trabalho nessa área no Brasil,
Patrícia Bertolucci, abandonou a equipe após ter vetado, e não ter tido sua deci-
são respeitada, feijoada durante a estadia do time dos Estados Unidos, situação
noticiada pela mídia da época demonstrou a desvalorização do profissional nutri-
cionista por parte dos atletas, equipe técnica e pelos dirigentes (RANGEL, 2006).

Após muito empenho por parte dos nutricionistas, hoje, não só os atletas,
mas também os esportistas, apresentam grande interesse pela nutrição esportiva.
A consciência da necessidade de uma alimentação balanceada para o desempenho
físico é cada vez maior, assim como a oferta de suplementos e bebidas para
esportistas no mercado não para de crescer (HIRSCHBRUCH, 2003).

Nesse sentido, muitos profissionais vêm estudando e se especializando


nessa área, todavia, quem está na linha de frente orientando os atletas e
esportistas, raramente é responsável pela produção do conhecimento científico,
já que os pesquisadores dificilmente são nutricionistas que atuam na área, sendo,
em geral, pesquisadores vinculados a universidades, os demais profissionais
acabam por trabalhar de forma bastante pulverizada, não sistemática e, muitas
vezes, solitária.
3
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Antes de introduzir a atuação do profissional da nutrição na área espor-


tiva, vamos rever algumas definições importantes. Você já parou para pensar se
existe diferença entre os termos exercício físico e atividade física? Então, eles pos-
suem conceitos diferentes, vejamos a seguir:

A atividade física conceitua-se por qualquer movimento produzido pela


musculatura esquelética que gere um gasto energético maior que o basal. Por
sua vez, o exercício físico, caracteriza-se por qualquer atividade física planejada,
estruturada e repetida, que tem o objetivo de manutenção ou de melhora da
aptidão física (HIRSCHBRUCH, 2016).

Ainda há uma definição específica para esporte, a qual trata de uma


prática corporal que envolve competição regulamentada e que tem base na
superação de competidores ou de resultados já estabelecidos. De acordo com
o tipo das atividades físicas realizadas diariamente, os praticantes podem ser
classificados como fisicamente ativos, insuficientemente ativos ou sedentários.
Seguem conceitos:

• O indivíduo fisicamente ativo é aquele que inclui no seu dia a dia


atividades com gasto energético moderado a intenso e, portanto,
segue as recomendações de intensidade e frequência da pratica de
atividades físicas diárias, seja no lazer, em atividades domésticas,
no trabalho ou na locomoção;
• O indivíduo insuficientemente ativo pratica atividades com gas-
to energético de leve a moderado, não cumprindo as diretrizes
de saúde publicada para os níveis diários recomendados de ati-
vidade física.
• Já o indivíduo sedentário é caracterizado pela ausência de
atividades que elevem de forma significante o gasto energético
basal, com predominância de atividades que sejam realizadas em
repouso (sentado em atividades de lazer, como assistindo à TV ou
usando o computador, ou ainda atividades em repouso no trabalho
ou na escola) (SIMINO, 2018, p. 11).

2 O QUE É UM NUTRICIONISTA ESPORTIVO?


De maneira geral, a rotina do nutricionista que atua na área esportiva
não é diferente das áreas tradicionais da nutrição: atendimento nutricional
individualizado, orientação nutricional a grupos, planejamento de compras,
planejamento de cardápios entre outras demandas.

“Atuar com nutrição e exercício físico pode ser um desafio, especialmente


quando se procuram definições e protocolos. Por ser uma área abrangente, os
estudos já existentes acabam servindo a todas às situações” (HIRSCHBRUCH,
2016, p. 4). Com isso, merece destaque o quesito da diferença entre as alterações
do metabolismo causadas pelo exercício intenso e as alterações metabólicas
induzidas por exercício leve e moderado, fator que já determina uma abordagem
diferente pelo profissional nutricionista.

4
TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA

Além disso, a própria definição de praticantes de exercícios físico, por


vezes, é contraditória entre referências e pouco clara, sendo que a maioria dos
estudos é realizada com atletas, representando um problema, já que esportistas
recreacionais podem acabar seguindo as recomendações dietéticas direcionadas
a atletas (PEREIRA; LAJOLO; HIRSCHBRUCH, 2003).

Dentro disso, cabe caracterizar que os praticantes de exercícios físicos


englobam desde as crianças em idade escolar a adultos de todas as idades, de
competidores de elite a esportistas de final de semana. Apesar de se considerarem
atletas, seus interesses, habilidades e necessidades de treinamento são variados.
Ou seja, nesse grupo não se encaixam os atletas que possuem treinamentos
mais intensos e comprometimento com a modalidade praticada, considerando
que possuem o esporte como profissão, sendo remunerados/premiados. Nesse
interim, destaca-se que a área da nutrição esportiva engloba tanto atletas como não
atletas e a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de
elite (olímpicos ou de competição) não sendo presente muitos na literatura dados
que se referem aos chamados “atletas recreacionais” esportistas, desportistas
ou praticantes de exercício físico, dificultando a atuação do profissional
(HIRSCHBRUCH, 2016).

Seguindo esse conceito, o nutricionista acaba por utilizar das


recomendações que não são específicas aos esportistas, já que nos locais onde
atuam, em sua maioria, atendem a praticantes de exercícios físicos que visam lazer,
melhora da forma física e saúde, sem objetivos competitivos e de desempenho
(HIRSCHBRUCH, 2016). Demonstram com isso, que um dos maiores desafios
acaba se tornando a adaptação das recomendações e os protocolos às modalidades
específicas e à própria intensidade de treinamento do atleta.

Caro acadêmico, nesse interim, surge uma pergunta. Será que a nutrição
está preparada para atuar corretamente no esporte? Para Hirschbruch (2016, p. 5):

O nutricionista que deseja seguir a área esportiva precisa se preparar


para algumas competências técnicas inerentes, que vão além do
conhecimento básico de bioquímica e fisiologia geral e do exercício,
devendo se dedicar às seguintes disciplinas: – avaliação nutricional:
com conhecimentos em antropometria, composição corporal e biótipo
ou somatotipia (somatotipo) ideal para diferentes tipos de esportes,
bem como análise dietética, avaliação bioquímica e sinais clínicos
importantes à conduta alimentar; – educação alimentar e nutricional:
conhecer os mitos da alimentação, as necessidades nutricionais do
esportista, as demandas necessárias em função da carga da prática
físico-esportiva; – nutrição clínica: detectar possíveis riscos de
transtornos alimentares, consequências das interações entre fármacos
e nutrientes e entre nutrientes, conhecer as condutas para distúrbios
alimentares, amenorreia, anemia, osteoporose e gravidez. Conhecer
suplementos alimentares e compostos ergogênicos, bem como políticas
de regularização dos suplementos e critérios específicos. Conhecer
as características pertinentes das diversas modalidades esportivas
(frequência, carga de treinamento, periodização do treinamento em
função do calendário) estratégias de hidratação, estratégias de melhor
recuperação após o exercício.

5
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Grandjean (1993), em um levantamento sobre recomendações dos


profissionais que lidam com nutrição esportiva nos Estados Unidos, descobriu
que apenas 16% trabalham com atletas de competição e 3% com atletas de elite.
Importante, ainda, conhecer métodos de investigação científica, além de revisar e
criticar publicações informativas e/ou científicas.

Ressalta-se, aqui, que a principal função do nutricionista é modificar


o hábito alimentar dos indivíduos para prevenir doenças, manter a saúde e
melhorar o desempenho e o rendimento, isto é, influir positivamente sobre sua
saúde e qualidade de vida, repassando informações dos conceitos científicos de
nutrição e de como colocar em pratica hábitos alimentares saudáveis.

Ainda, segundo Hirschbruch (2016, p. 9), destaca-se que:

O nutricionista esportivo deve conduzir com cuidado e respeito


mudanças de hábitos alimentares. Alimentos devem ser valorizados
por meio de estratégias de educação nutricional: vínculo, motivação,
valorização do positivo, proposta de ajustes individualizada.
Praticidade virou sinônimo de produtos industrializados, shakes,
caixinhas, barrinhas, pacotinhos. Estimular o consumo de alimentos
de baixo valor nutricional e de suplementos como substitutos de
refeição pode ser um erro.

Percebe-se, dessa forma, que a reeducação alimentar permitirá ao indi-


víduo (atleta ou esportista) compreender, dentro de suas condutas alimentares,
qual é a mais adequada para seu objetivo. O profissional nutricionista deve ex-
plicar ao cliente o que será realizado para montagem do planejamento, pois é
o conhecimento da lógica do processo que lhe dá condições para conseguir se
alimentar de maneira saudável.

ATENCAO

É necessário que o nutricionista preste atenção em sua conduta para não


incorrer na prescrição de treinamentos, atividade de competência do educador físico.
Cabendo aos profissionais que atuam no esporte o fortalecimento das áreas de nutrição e
educação física, já que uma dieta adequada e balanceada é um componente essencial de
qualquer programa esportivo ou aptidão física (HIRSCHBRUCH, 2016).

6
TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA

2.1 IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NO ESPORTE


É comum que indivíduos que iniciem a realização de práticas esportivas,
acabem por alterar seu padrão alimentar, passando a ter maior interesse pela
manutenção da saúde, tendendo a consumir menos gordura, mais vegetais e outras
fontes de carboidratos complexos (BUSKIIRK, 1991; HIRSCHBRUCH, 2016).

Também é sabido que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos


benéficos sobre o metabolismo, reduzindo a gordura corporal, aumentando a
massa magra, trazendo modificações positivas no perfil lipídico, assim como,
aumento do metabolismo, controle da pressão arterial e da glicemia e maior
mineralização óssea. Todavia, apesar das condições favoráveis, a qualidade
da alimentação na maioria dos grupos fisicamente ativos não parece ser muito
diferente da dos indivíduos sedentários, apesar da maior ingestão calórica.

Diversos são os estudos, que relatam que a ingestão energética e de


nutrientes dos atletas, é inferior às suas necessidades (JUZWIAK; PASCHOAL;
LOPEZ, 2000). Sendo, aqui, viável destacar a importância da relação entre a
nutrição e a atividade física, já que a capacidade do rendimento físico do organismo
só melhora diante da ingestão equilibrada de todos os nutrientes, sejam eles
carboidratos, gorduras, proteínas, minerais e vitaminas. Ainda mais quando são
períodos de treinamento para competição. A dieta, quando realizada de maneira
inadequada, reduz o desempenho e pode prejudicar a saúde, considerando que
uma ingestão energética inadequada está associada à ingestão marginal de macro
e micronutrientes, principalmente de carboidratos, piridoxina, cálcio, folato,
zinco e magnésio (CUPISTI et al., 2002).

Para o atleta de elite, a nutrição tem um papel vital da superação dos


limites, se apresentando, ainda, como o fator extra para o sucesso quando todos
os outros fatores se equiparam com os “concorrentes”. E claro, os esportistas
também se beneficiam de um planejamento nutricional adequado para o esporte
que praticam (MAUGHAN, 2002).

E
IMPORTANT

A consciência da população na importância da alimentação equilibrada é


crescente, mas, na prática, as melhorias alimentares não têm avançado muito, se tornando
um desafio aos profissionais nutricionistas, que devem usar a educação nutricional para
preencher a lacuna entre as atitudes e os comportamentos das pessoas relacionados
às dietas. Demonstrando que a alimentação saudável pode ser prazerosa e fácil de ser
elaborada (HIRSCHBRUCH, 2016).

7
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Por isso, a determinação de uma recomendação específica para pessoas


fisicamente ativas poderia colaborar com a identificação precoce de padrões
alimentares prejudiciais, podendo prevenir e tratar tais comportamentos
inadequados nessa área, pois, tanto atletas como praticantes de exercícios
físicos, muitas vezes se envolvem em práticas não saudáveis de controle de
peso, particularmente, em esportes que exijam a manutenção de certo peso como
fisiculturismo, dança, corridas de longa distância, mergulho, ginástica, natação,
lutas, remo, hipismo e patinação (OPPLIGER et al., 1993).

É de suma importância que o objetivo dos atletas e desportistas seja a


manutenção de um peso saudável por meio de comportamentos alimentares
e práticas esportivas adequadas, já que um indivíduo bem nutrido tem menos
probabilidade de sofrer lesões ou doenças (HIRSCHBRUCH, 2016).

Outro aspecto relevante está relacionado ao modismo do consumo de


suplementos. Muitos atletas creem que o uso de suplementos proporcionou
vantagens competitiva, desconsiderando todas as variáveis que impactam o
organismo ao usar essas substâncias, que podem ser positivas e/ou negativas. Com
frequência, determinadas substâncias são comercializadas sem base em pesquisa
científica, que determine seus objetivos, seus benefícios potenciais ou possíveis
efeitos colaterais nocivos, sendo alarmante o dado de que alguns suplementos
entram e saem de moda antes que se façam estudos que estabeleçam seus efeitos.

Nutricionistas qualificados podem ajudar atletas e indivíduos ativos:

• Educando sobre os requerimentos de energia para o esporte praticado e


sobre o papel dos alimentos como combustível;
• Enfatizando a importância de uma ingestão energética adequada para a
saúde, para a prevenção de lesões e para o desempenho;
• Desencorajando objetos de peso e composição corporal não realista;
• Avaliando e fazendo acompanhamentos antropométricos no intuito de
estabelecer o peso e a composição corporal adequados para o esporte
praticado;
• Ensinando técnicas adequadas para manter o peso e a composição corporal
sem a necessidade de recorrer a dietas milagrosas ou muito restritivas;
• Avaliando a ingestão alimentar e de suplementos durante o período de
treinamentos, competições e também fora das temporadas. Essa avaliação
deve ser usada como base das propostas nutricionais, que devem conter
recomendações apropriadas de energia de nutrientes para a manutenção
da saúde, do peso e da composição corporal adequados;
• Fornecendo diretrizes específicas para boas escolhas de alimentos e de
líquidos em viagens e refeições fora de casa;
• Avaliando a ingestão hídrica e a perda de peso dos atletas durante o exercício
e fazendo recomendações apropriadas de ingestão de líquidos antes,
durante e depois do treino. Ajudando o atleta a escolher o tipo de bebida
e a quantidade adequada a ser ingerida nessas situações, especialmente se
ele se exercita em ambientes adversos;

8
TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA

• Garantindo a ingestão de energia, proteínas e micronutrientes por meio


de informações nutricionais adequadas, particularmente aos atletas que
requerem considerações nutricionais específicas, como vegetarianos,
crianças e adolescentes;
• Analisando cuidadosamente qualquer suplemento, fitoterápico, ergogênico
ou droga que o atleta queira ingerir. Esses produtos devem ser utilizados
com cautela e somente após a verificação de sua legalidade e da literatura
atual sobre os ingredientes listados no rótulo. Suplementos só devem ser
recomendados depois de uma análise da saúde, da dieta, das necessidades
nutricionais e energéticas e dos suplementos e drogas atualmente utilizados
pelo atleta.

Mais importante do que discutir prescrições alimentares é avaliar


se essas prescrições são razoáveis e se podem ser traduzidas em escolhas
alimentares consistentes. O nutricionista faz o seu melhor quando considera
as pessoas e sua relação com a comida ao invés de ser um árbitro de dietas.
A distância entre saber fazer continuará enquanto o saber não for realista.
Se uma dieta não for realista, ela não trará benefício algum. A prescrição
alimentar precisa ultrapassar as recomendações nutricionais.

A interação com outros profissionais pode colaborar para que nossas


prescrições sejam mais humanizadas.

FONTE: AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE; AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION


(ADA). Dietitians of Canada. Nutrition and athletic performance. Joint position statement.
Med Sci Sports Exerc., [S. l.], v. 32, n. 12, p. 2130-2145, 2000. p. 2130.

9
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Nutricionistas têm o papel fundamental no desenvolvimento de intervenções


e na promoção de pesquisa no campo da nutrição e do esporte.

• A educação nutricional deve ser componente significativo de um programa de


exercícios físicos.

• O sucesso da comunicação e da motivação do comportamento requer


conhecimento do que os atletas sabem de escolhas alimentares, por que fazem
essas escolhas e de como respondem às mensagens nutricionais.

• É essencial educar a população sobre hábitos de exercício e de alimentação, já


que muitas vezes, treinadores, preparadores físicos, professores e até mesmo o
médico e o nutricionista, propagam informações errôneas sobre nutrição.

• Atletas competitivos ou recreacionais precisam de níveis adequados de


“combustível”, líquidos e nutrientes para atingir o desempenho máximo.

• O papel do nutricionista esportivo é aconselhar os atletas acerca das neces-


sidades nutricionais adequadas antes, durante e depois do exercício e para a
manutenção de uma boa saúde, do peso e da composição corporal adequados.

10
AUTOATIVIDADE

1 Após muito empenho por parte dos nutricionistas, hoje, não só os atletas,
mas também os esportistas, apresentam grande interesse pela nutrição
esportiva. A consciência da necessidade de uma alimentação balanceada
para o desempenho físico é cada vez maior, assim como a oferta de
suplementos e bebidas, todavia, é importante que se avalie em qual contexto
o indivíduo se enquadra. Pontue as principais diferenças entre atividade
física, exercício físico e esporte.

2 É sabido que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos


sobre o metabolismo, reduzindo a gordura corporal, aumentando a massa
magra, trazendo modificações positivas no perfil lipídico, assim como,
aumento do metabolismo, controle da pressão arterial e da glicemia e maior
mineralização óssea. Todavia, apesar das condições favoráveis, a qualidade
da alimentação na maioria dos grupos fisicamente ativos não parece ser
muito diferente da dos indivíduos sedentários, apesar da maior ingestão
calórica. Descreva a importância do papel da nutrição/ do nutricionista
para indivíduos fisicamente ativos.

3 Os praticantes de exercícios físicos englobam desde as crianças em idade


escolar a adultos de todas as idades, de competidores de elite a esportistas
de final de semana. Apesar de se considerarem atletas, seus interesses,
habilidades e necessidades de treinamento são variados. Ou seja, nesse
grupo não se encaixam os atletas que possuem treinamentos mais intensos
e comprometimento com a modalidade praticada, considerando que
possuem o esporte como profissão, sendo remunerados/premiados. Nesse
interim, assinale a alternativa correta, considerando o público que a área da
nutrição esportiva engloba:

a) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas,
sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada
aos atletas de elite, não estando presente na literatura dados que se
referem aos esportistas, desportistas ou praticantes de exercício físico,
fato que dificultando a atuação do profissional.
b) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são apenas os atletas, pois a maior
parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de elite.
c) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são os esportistas/não atletas,
todavia a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada
aos atletas de elite, não estando presente na literatura dados que se
referem aos esportistas, desportistas ou praticantes de exercício físico.

11
d) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas,
sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada a
ambos os públicos.
e) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas,
sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada
esportistas, não estando presente na literatura dados que se referem
aos atletas, desportistas ou praticantes de exercício físico, fato que
facilita a atuação do profissional.

4 De acordo com o tipo da atividade física realizada diariamente, os praticantes


podem ser classificados como fisicamente ativos, insuficientemente ativos
ou sedentários. Assinale a alternativa que corresponde à característica dos
indivíduos fisicamente ativos:

a) ( ) O indivíduo fisicamente ativo é aquele que inclui no seu dia a dia


atividades com gasto energético moderado a intenso e, portanto,
segue as recomendações de intensidade e frequência da prática de
atividades físicas diárias, seja no lazer, em atividades domésticas, no
trabalho ou na locomoção.
b) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético
de leve a moderado, não cumprindo as diretrizes de saúde publicada
para os níveis diários recomendados de atividade física.
c) ( ) O indivíduo fisicamente ativo é caracterizado pela ausência de ativi-
dades que elevem, de forma significante, o gasto energético basal, com
predominância de atividades que sejam realizadas em repouso (senta-
do em atividades de lazer, como assistindo à TV ou usando o compu-
tador, ou, ainda, atividades em repouso no trabalho ou na escola).
d) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético
moderado, com predominância de atividades que sejam realizadas
em repouso (sentado em atividades de lazer, como assistindo à TV ou
usando o computador, ou ainda atividades em repouso no trabalho ou
na escola).
e) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético
de leve a moderado, cumprindo as diretrizes de saúde publicada para
os níveis diários recomendados de esporte.

5 Considerando todas as interfaces que circundam a área da nutrição,


principalmente na área da nutrição no esporte, devido ao significante
consumo de suplementos alimentares pelos esportistas. Assinale a
alternativa que corresponde à principal função do nutricionista:

12
a) ( ) A principal função do nutricionista é prescrever suplementos
alimentares, modificando o hábito alimentar dos indivíduos para
inserção desses suplementos e com isso prevenir doenças, manter a
saúde e melhorar o desempenho e o rendimento desses indivíduos.
b) ( ) A principal função do nutricionista é modificar os hábitos alimentares
dos indivíduos para manter a saúde e melhorar o desempenho e o
rendimento através da utilização de suplementos e complementos ali-
mentares, influindo positivamente em sua saúde e qualidade de vida.
c) ( ) A principal função do nutricionista é modificar o hábito alimentar
dos indivíduos para prevenir doenças, manter a saúde e melhorar
o desempenho e o rendimento, isto é, influenciar positivamente em
sua saúde e qualidade de vida, repassando informações sobre os
conceitos científicos de nutrição e como colocar em pratica hábitos
alimentares saudáveis.
d) ( ) A principal função do nutricionista é reeducar os hábitos alimentares
dos indivíduos, com intuito de manter a saúde e melhorar o desempe-
nho e o rendimento, influenciando positivamente em sua saúde e qua-
lidade de vida, repassando informações sobre os conceitos científicos
de nutrição e como colocar em prática hábitos alimentares saudáveis.
Destacando que não é função do nutricionista prevenir doenças.
e) ( ) A principal função do nutricionista é prescrever cardápios com ali-
mentos funcionais e suplementos alimentares, com objetivo de modi-
ficar o hábito alimentar dos indivíduos para prevenir doenças, manter
a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento.

13
14
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico, como estão os estudos até aqui? No presente tópico,


revisaremos os conceitos da fisiologia e suas adaptações normais e patológicas
frente à prática do exercício físico.

A prática de exercícios físicos já vem sendo descrita como benéfica para a


saúde, com cunho científico, desde a década de 1950, assim como a alimentação
como fator de prevenção para diversas doenças. Hoje, sabe-se que os benefícios
da prática regular de exercícios físicos vão além da prevenção e do tratamento
de sobrepeso e doenças cardiovasculares, já que as adaptações biológicas
desencadeadas pelos exercícios físicos garantem uma melhor qualidade de
vida por provocar melhoras em demais aspectos, como: mentais, cognitivos,
fisiológicos, bioquímicos e estruturais (SIMINO, 2018).

Nesse sentido, para que uma atividade física seja desempenhada, é


necessário que ocorra a contração e o relaxamento muscular, e, sendo assim,
seria possível imaginar que, para que a prática de atividades ocorra, basta que
acionemos nossos “sistemas executores”, ou seja, os tecidos que, efetivamente,
participam do processo. Será mesmo?

Não, pois para a prática de exercícios físicos, os mecanismos acionados


são mais completos. Observe a Figura 1.

15
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

FIGURA 1 – EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO

FONTE: <https://bit.ly/3gX07do>. Acesso em: 10 maio 2021.

Destaca-se que esses sistemas fisiológicos agem de forma integrada, em


que, a partir de alterações em um deles, segue uma sequência de respostas para
reestabelecimento da homeostase, conforme demonstra a Figura 1, e que serão
melhor detalhadas nos próximos subtópicos. Todo processo adaptativo precisa
de um estímulo, natural ou artificial, espontâneo ou programado. No caso dos
exercícios físicos, o estímulo é conhecido como carga de treino.

Também vale lembrar que influenciam diretamente nas adaptações aos


exercícios, os nutrientes, sendo que a escolha adequada de alimentos e fluidos,
os ajustes das quantidades a serem ingeridas, a definição do momento mais
apropriado para consumi-los e a seleção de suplementos são as formas que a
nutrição possui de contribuir com o desempenho físico (HIRSCHBRUCH, 2016).

Nesse sentido, torna-se de suma importância o acompanhamento perió-


dico dos resultados da intervenção alimentar, buscando adequar de acordo com
o momento do calendário esportivo das competições. A base para a elaboração
do plano alimentar é direcionada às necessidades de energia e nutrientes para o
exercício físico, conforme a intensidade, duração e frequência, assim como se faz
necessário adequar a composição corporal do atleta de acordo com a modalidade
e a posição, favorecendo as adaptações fisiológicas e metabólicas do organismo.

16
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

2 ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO


O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício
e nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as
alterações do meio interno, preservando a homeostasia. Os efeitos fisiológicos
do exercício físico podem ser divididos em: agudos imediatos, agudos tardios
e crônicos, sendo que os efeitos agudos, podem também ocorrer em associação
direta com a sessão de exercício (TINOCO, 2002). Seguem divisões e suas
características:

• Agudos imediatos: ocorrem nos períodos pré-imediato, e pós-imediato


do exercício físico, caracterizados pelos aumentos de frequência cardíaca,
ventilação e sudorese normalmente associados ao esforço.
• Agudos tardios: ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício,
identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na elevação do
número de receptores de insulina nas membranas das células musculares.
• Crônicos: são adaptações, resultam da exposição regular às sessões de exercício.
Exemplo: hipertrofia muscular e o aumento do consumo máximo de oxigênio.

2.1 CLASSIFICAÇÕES DO EXERCÍCIO FÍSICO


Há diferentes formas de exercício físico, cada uma delas gera diferentes
efeitos agudos ou crônicos, sendo importante sistematizar alguma forma de
classificação. Nesse sentido, quando considerada a via metabólica predominante,
temos os sistemas:

• anaeróbico alático: em casos de exercícios de grande intensidade e curtíssima


duração;
• anaeróbico lático: em casos de grande intensidade e curta duração;
• aeróbico: em situações de baixa ou média intensidade e longa duração.

Além dessa variável, podemos classificar considerando o ritmo, que


pode ser:

• fixo ou constante: não se alterna o ritmo ao longo do tempo;


• variável ou intermitente: alterna-se o ritmo ao longo do tempo do exercício.

Ainda, podemos diferenciar de acordo com a intensidade relativa do


exercício, conforme segue:

• baixa ou leve: exercício com repouso até 30% do VO2 máximo;


• média ou moderada: exercício entre 30% do VO2 máximo e o limiar anaeróbico;
• alta ou pesada: exercício acima do limiar anaeróbico.

Por fim, tem-se também nessa diferenciação a mecânica muscular, que


pode ser:

17
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

• estático: não há movimento e o trabalho mecânico é zero;


• dinâmico: existe movimento e trabalho mecânico positivo ou negativo.

Dessa forma, é importante destacar que os exercícios que envolvem


grandes massas musculares como andar, correr, pedalar ou nadar necessitam
de uma participação relativamente maior da via aeróbica. Já os esforços com
segmentos corporais localizados, tais como a extensão do cotovelo segurando um
peso utiliza maior participação das vias anaeróbicas, sendo que, caso a duração
do exercício ultrapasse dois ou três minutos, será predominante a participação
aeróbica, já se ela durar até dez segundos, predomina a via anaeróbica alática
(TINOCO, 2002).

Nos casos de exercícios de alta intensidade, com duração entre 20 e 90


segundos, é utilizada de maneira mais intensa a via anaeróbica lática, podendo
causar um significativo desequilíbrio acido-básico e a sensação de esgotamento
físico, sendo vistos com maior frequência nos eventos desportivos de natação,
como as provas de 50 e 100 metros e atletismo.

Em relação aos exercícios de intensidade baixa, esses correspondem


a esforços de até 30% do consumo máximo de oxigênio. Nos de intensidade
moderada, os esforços requerem entre 30% do consumo máximo de oxigênio e o
nível correspondente ao limiar anaeróbico. Já nos exercícios de intensidade alta,
a demanda excede o limiar anaeróbico. Portanto, nos exercícios prolongados,
apenas os classificados como de alta intensidade teriam participação anaeróbica
significativa (SIMINO, 2018).

Em casos de esforços de ritmo variável, como o jogo de tênis, ocorrem


grandes variações nas necessidades de ressíntese de ATP, seguindo de periódicas
modificações das variáveis fisiológicas. Essas atividades tendem a usar,
inicialmente, as vias anaeróbicas alática e aeróbica, sem a participação significativa
da via anaeróbica lática. Em séries de exercícios com grupamentos musculares
localizados, como exercícios abdominais, que tendem a reduzir a qualidade na
execução e fadiga quando realizados sem interrupções pode ser proporcionado
um período de um a dois minutos de repouso, quando os exercícios serão
reiniciados com a mesma velocidade, qualidade de execução adequada e relativa
facilidade, pois esse tempo será suficiente para regenerar estoques intracelulares
de ATP e fosfocreatina.

Vamos dar seguimento às demais adaptações fisiológicas frente aos


exercícios físicos e suas determinadas cargas de treino. Os processos adaptativos
desencadeados pelo estímulo dos exercícios físicos podem acontecer de diversas
formas, conforme Figura 2.

18
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

FIGURA 2 – ADAPTAÇÕES FRENTE AO TREINAMENTO FÍSICO

FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd166/adaptacao-biologica-aplicado-ao-treinamento-
fisico-03.jpg>. Acesso em: 10 maio 2021.

Conforme Simino (2018, p. 15), as adaptações fisiológicas seguem


diferentes mecanismos:

De forma genotípica ou fenotípica, ou seja: em nível celular e mole-


cular (genótipo) ou em relação a mudanças visíveis e mais facilmente
mensuráveis (fenótipo). De forma aguda ou crônica: existem adap-
tações que acontecem de forma rápida, apenas para que o exercício
possa ser mantido. Por exemplo: adaptações que levam mais tempo a
acontecer e que são mantidas por longos períodos. Em nível sistêmico:
podem beneficiar processos comportamentais, fisiológicos, bioquími-
cos, neuro motores e estruturais. A pratica de exercícios físicos regular
ou o treino esportivo, no caso dos atletas, proporciona, mediante os
processos adaptativos, o desenvolvimento ou a melhora de algumas
capacidades físicas específicas.

19
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

E
IMPORTANT

Nos esportes de alto rendimento, se torna comum o uso da periodização em


treinos que trabalhem as diferentes capacidades físicas, considerando que cada modalidade
esportiva precisa de determinadas capacidades mais desenvolvidas e bem treinadas. Como
é o caso dos corredores, que precisam treinar e aprimorar cada vez mais a velocidade.

2.2 RESPOSTAS HORMONAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO


Antes de destacarmos as alterações, é válido relembrar o conceito de
hormônio. Os hormônios são substâncias químicas secretadas dentro de fluidos
corporais, em sua maioria por glândulas endócrinas, sendo divididos em dois
tipos, os esteroides e polipeptídicos. Esteroides são produzidos, a partir do
colesterol, pelo córtex adrenal e pelas gônadas e os peptídeos são derivados de
aminoácidos em outras glândulas endócrinas.

Os tecidos alvos da ação hormonal podem ser próximos ou relativamente


afetados em relação à glândula de secreção, podendo sua ação ser em um ou mais
tecidos, como o hormônio insulina, que atua em diversos tecidos, apresentando
potente efeito sobre o metabolismo em situações como o repouso e a prática de
exercício físico (SIMINO, 2018).

O estresse fisiológico induzido pelo exercício físico reflete diretamente à


tentativa em manter as concentrações sanguíneas de determinados metabólitos
próximas aos valores normais de repouso, por exemplo, manter a concentração
sanguínea de glicose (glicemia) entre 90 e 100 mg/dL, uma vez que o exercício
provoca o aumento da captação muscular de glicose a partir do sangue. Nesse
mecanismo, a resposta fisiológica que busca a homeostase da glicemia durante
o exercício se faz regulada por dois sistemas corporais: o sistema nervoso
autônomo (SNA) e os sistema endócrino (hormonal), considerando que, em
relação ao controle do metabolismo durante o exercício, a parte simpática do
SNA é de maior destaque. Os mediadores químicos são liberados tanto pelo SNA
quanto pelo sistema hormonal no intuito de auxiliar a manutenção da glicemia
(HIRSCHBRUCH, 2016).

A redução da glicemia durante os exercícios mais intensos induz uma


resposta contrarreguladora, promovendo o aumento da glicemia e a manutenção
da concentração sanguínea de glicose. O fígado exerce um papel importante no
aumento e na manutenção da glicemia, uma vez que esse tecido sofre influência
neural e hormonal, estimulando produção hepática de glicose.

20
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Nesse ínterim, a glicose e glicogênio representam importantes substratos


energéticos durante o exercício, ao mesmo tempo em que favorecem a utilização
de lipídios como substrato energético na célula muscular (HIRSCHBRUCH, 2016).

NOTA

A glicose é, geralmente, o único substrato utilizado pelo cérebro e por outros


tecidos do Sistema Nervoso Central e, deste modo, é fundamental para a funcionalidade
desses tecidos, fato que reforça a importância da manutenção da glicemia durante o
exercício prolongado, sendo relevante para o fornecimento de combustível ao cérebro
e ao músculo esquelético, o qual utiliza também outros substratos além da glicose.
Diversos hormônios agem especificamente para manter a glicemia e são denominados
contrarregulatórios (glucagon, adrenalina, noradrenalina, cortisol), ou seja, suas ações são
opostas à da insulina (COKER; KJAER, 2005).

O ponto central das adaptações refere-se às repostas hormonais, tanto


agudas quanto crônicas. As respostas agudas são importantes para a regulação da
utilização de substratos energéticos, assim como nas alterações na permeabilidade
ou na atividade enzimática das células (músculo, fígado, tecido adiposo).

Nesse contexto, destaca-se o aumento dos hormônios que aumentam a


taxa de lipólise, glicólise, glicogenólise e gliconeogênese, assim como ocorre a
redução da concentração de hormônios que promovem lipogênese e glicogênese.

TUROS
ESTUDOS FU

Algumas alterações hormonais são positivamente relacionadas à duração


do exercício. Destacamos que o metabolismo energético será melhor discutido no
próximo tópico.

Ainda, verifica-se que o sistema imune é influenciado pelo exercício, con-


dicionado à duração e à intensidade do exercício, sendo que o exercício modera-
do aumenta a imunocompetência, enquanto em treinamento intenso, após um
evento competitivo, ocorre imunossupressão, gerando aumento na incidência
de infecções, principalmente no trato respiratório superior dos atletas (HIRS-
CHBRUCH, 2016).
21
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

A alteração na funcionalidade do sistema imunológico está relacionada à


alteração neuroendócrina derivada da prática do exercício, que gera o aumento
na liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, que, consequentemente,
modula a resposta imune, reduzindo sua efetividade.

Diante do exposto, estratégias nutricionais devem ser utilizadas desde o


período de treinamento, durante o exercício e no período de recuperação pós
exercício. As quais serão baseadas na modulação exercida pelos nutrientes sobre
a resposta hormonal, influenciando o metabolismo de carboidratos, lipídios e
proteínas, ao mesmo tempo em que modula a resposta imune do indivíduo.

2.3 INSULINA, GLUCAGON E EXERCÍCIO FÍSICO


Conforme mencionado anteriormente, durante a realização de exercícios
mais intensos, ocorre uma maior utilização da glicose, fazendo com que a
necessidade de glicose pelo tecido muscular cause, no decorrer do tempo,
uma redução da glicemia, podendo ser compensada pela liberação de glicose,
principalmente a partir do fígado, processo chamado de glicogenólise.

Importante destacarmos que, se a glicemia aumenta durante o exercício


intenso, a insulinemia diminui decorrente da ação da adrenalina, promovendo o
aumento da produção hepática de glicose. Sendo que a redução da insulinemia
durante o exercício é diretamente proporcional à intensidade do esforço físico
(COKER; KJAER, 2005).

O declínio da insulinemia durante o exercício minimiza a captação de


glicose pelos tecidos não ativos, protegendo dessa forma o fornecimento de
glicose para o cérebro e o tecido muscular ativo.

Ainda, cabe ressaltar que, durante o exercício prolongado, a glicemia


e a insulinemia diminuem, favorecendo o aumento da lipólise e, consequen-
temente, da disponibilidade de ácidos graxos livres na circulação sanguínea
(VIRU, 1992).

Por fim, o glucagon é um hormônio secretado pelas células alfa-


pancreáticas e promove o aumento da taxa de glicogenólise promovendo
aumento na concentração de glicose no sangue. Em situações nas quais a
glicemia diminui (exercício prolongado, jejum), a concentração de glucagon
aumenta no intuito de manter a glicemia em valores próximos aos de repouso
(Figura 3).

As concentrações de glucagon aumentam no plasma apenas se a duração


do exercício for mantida por mais de uma hora (HIRSCHBRUCH, 2016).

22
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

FIGURA 3 – EFEITO DO GLUCAGON NA REGULAÇÃO DA GLICOSE

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/gl/uc/glucagon2-0-cke.jpg>. Acesso em: 10


maio. 2021.

2.4 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO, CORTISOL E


CATECOLAMINAS NO EXERCÍCIO FÍSICO
O hormônio do crescimento (GH) é um polipetideo liberado a partir
da hipófise anterior e estimula a síntese proteica, tanto em jovens quanto em
indivíduos mais velhos, e representa um dos principais hormônios lipolíticos.
Atua estimulando a captação tecidual de aminoácidos, síntese proteica e
crescimento de ossos longos. Também, opõe-se à ação da insulina, uma vez que
reduz a utilização de glicose plasmática, aumentando a síntese de glicose no
fígado e elevando a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, buscando
poupar a demanda tecidual por glicose plasmática.

Por sua vez, o cortisol é um membro da família dos hormônios esteroides,


liberados pelo córtex adrenal, denominados glicocorticoides, e quando liberado
mediante estresse físico ou emocional, causa a redução da glicemia e estimula
o hipotálamo a secretar o hormônio liberador de corticotrofina, pela hipófise
anterior do hormônio adenocorticotrófico (ACTH) e, posteriormente, o ACTH
promove no córtex adrenal a liberação do cortisol para a circulação (CHATARD
et al., 2002).

O exercício aeróbico intenso e o vigoroso provocam o aumento da


concentração sérica de cortisol, o qual, por sua vez, irá favorecer a manutenção
da glicemia por meio do estímulo da liberação de aminoácidos a partir do
tecido muscular (proteólise muscular), pela estimulação da gliconeogênese

23
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

hepática e por favorecer a mobilização de ácidos graxos livres do tecido adiposo.


Importante destacarmos que indivíduos treinados apresentam menor aumento
da concentração sérica do cortisol durante o exercício em comparação com
indivíduos não treinados (VIRU; VIRU, 2004).

Já as catecolaminas (adrenalina – noradrenalina – dopamina) sintetizadas


pelas glândulas suprarrenais e pelo sistema nervoso, representam os hormônios
derivados do catecol. Sua liberação via medula adrenal é estimulada pelo sistema
nervoso simpático, promovendo a possibilidade da resposta para “atacar ou
fugir”. Em exercícios prolongados e contínuos, as concentrações plasmáticas
de catecolaminas aumentam com a duração do exercício e com a intensidade.
Também, se torna válido discorrer que o exercício físico com característica
intermitente, como levantamento de peso, de apenas alguns segundos de duração,
também resulta em aumento da concentração plasmática de catecolaminas
(HIRSCHBRUCH, 2016).

E
IMPORTANT

Tem sido demonstrado que o exercício físico é um potente estimulador da


liberação do GH, quando indivíduos treinados ou atletas de resistência apresentam menor
liberação do GH comparado a indivíduos não treinados; mulheres apresentam maior
amplitude e frequência na liberação do GH; indivíduos mais velhos apresentam menor
liberação de GH que indivíduos jovens (± 20 anos); a liberação é mais elevada de acordo
com a intensidade do treinamento; sessões com duração ≥ 30 minutos aumentam
a liberação do GH; exercício de forma intermitente em um mesmo dia aumentaram a
concentração de repouso do GH; período do dia não tem nenhum efeito significativo na
liberação do GH (HIRSCHBRUCH, 2016).

Já no caso de exercícios resistidos, a musculação pode influenciar no


GH das seguintes formas: indivíduos não treinados em geral apresentam
concentração do GH menor que indivíduos treinados ou atletas diante de um
mesmo esforço; homens apresentam maior amplitude e frequência na liberação
do GH que mulheres; indivíduos mais velhos (± 70 anos) ou de meia idade;
(± 40 anos) apresentam menor liberação do GH que indivíduos jovens (± 20
anos); maior liberação do GH em intensidades moderadas (± 60% de 1-RM) se
comparada a sessões de baixa; (≤ 40%) ou elevada intensidade (≥ 80%); sessões
de maior volume (≥ 8 e ≤ 15 repetições por série) resultam em maior liberação do
GH; intervalos mais curtos (± 1 min) entre as séries parecem aumentar a liberação
do GH comparado com intervalos mais longos (± 3 min); maior concentração de
ácido lático pode estimular a liberação do GH (AMARAL NETO, 2020).

24
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

2.5 TESTOSTERONA E EXERCÍCIO FÍSICO


A testosterona é um hormônio esteroide que apresenta consideráveis
efeitos anabólicos sobre o tecido muscular, destacando o aumento da síntese
proteica e a redução no catabolismo proteico dentro da fibra muscular.

Tem sido demonstrado que o exercício físico (intensidade, duração e tipo


de exercício) provoca aumento agudo na concentração sanguínea de testosterona
(BLAZEVICH; GIORGI, 2001).

O treinamento de força também promove aumento da concentração


plasmática de testosterona após o exercício (BLAZEVICH; GIORGI, 2001).

ATENCAO

Destaca-se que diferentes protocolos de treinamento podem induzir diferentes


respostas da testosterona durante e/ou após o exercício.

FIGURA 4 – MECANISMO DE AÇÃO DA TESTOSTERONA

FONTE: <https://bit.ly/2Ug0HuQ>. Acesso em: 10 maio 2021.

25
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

2.6 INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE AS


RESPOSTAS HORMONAIS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO
Em geral, as respostas hormonais (Quadro 1) a um período de exercício
são significativamente atenuadas após o treinamento. A atividade nervosa
simpática, refletida pela concentração de noradrenalina plasmática durante o
exercício, encontra-se diminuída na mesma taxa de absoluta de trabalho após um
período de treinamento, porém permanece constante em relação à mesma taxa
relativa de trabalho.

As concentrações plasmáticas dos hormônios ACTH, cortisol, gluca-


gon e GH também apresentam menores aumentos durante o exercí-
cio submáximo em indivíduos treinados. A concentração plasmática
insulina, de modo geral, diminui durante o exercício intenso, con-
tudo, em indivíduos treinados, essa diminuição da insulinemia é
menor. Esse fato está relacionado, em parte, à diminuição induzida
pelo treinamento sobre a resposta da adrenalina durante o exercício,
uma vez que esse hormônio inibe a secreção pancreática de insulina
(HIRSCHBRUCH, 2016, p. 388).

QUADRO 1 – RESUMO DOS EFEITOS METABÓLICOS DOS HORMÔNIOS

Efeito metabólico Hormônio


Captação da glicose celular Insulina
Síntese de glicogênio Insulina
Síntese de triacilgliceróis Insulina
Diminuição da glicemia Insulina
Glicogenólise hepática Adrenalina, glucagon
Glicogenólise muscular Glucagon
Lipólise Adrenalina
Cortisol, adrenalina, hormônio do
Síntese de proteínas
crescimento
Catabolismo proteico Hormônio do crescimento
Aumento da glicemia – efeito direto Insulina
Aumento da glicemia – efeito indireto Cortisol, adrenalina, glucagon
Aumento da taxa metabólica Adrenalina, noradrenalina e tiroxina

FONTE: Hirschbruch (2016, p. 388)

3 SISTEMA IMUNE E EXERCÍCIO


É de suma importância considerar a influência do exercício sobre o sistema
imunológico, em razão do aumento no número de casos de doenças infecciosas
e queda no desempenho de atletas, principalmente em situações de treinamento
intenso e prolongado.

26
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Nesse sentido, diferentes estudos vêm demonstrando que o exercício


exaustivo pode causar alterações tanto no sistema imune inato quanto
específico, incluindo: redução da atividade de neutrófilos, da concentração de
imunoglobulinas A (IgA), da atividade citolítica de células natural killer (NK) e da
capacidade proliferativa de linfócitos, juntamente ao aumento da concentração
plasmática de citocinas pró e anti-inflamatórias.

A imunomodulação mediada pelo exercício físico está relacionada com


questões multifatoriais, incluindo alterações circulatórias (hemodinâmicas) e
hormonais (liberação de cortisol e catecolaminas). Além de estar ligada a fatores
metabólicos, como a concentração plasmática de glutamina (GLEESON, 2006).

Estudos verificaram que o exercício tem relevante papel na redução da


ocorrência e da gravidade de infecções e doenças relacionadas ao câncer humano.
Todavia, os mecanismos pelos quais o exercício agudo ou o treinamento físico
alteram a resposta imune do indivíduo ainda não tenham sido completamente
compreendidos. O efeito particular dependo do tipo, da intensidade e da
duração do exercício (Figura 5). Dessa forma, sugere-se que exercícios de
intensidade moderada podem melhorar a imunocompetência, enquanto o
exercício intenso e prolongado pode direcionar à situação oposta. Verificou-se
que, após exercício intenso e prolongado, ocorre supressão parcial de parâmetros
da imunocompetência de atletas, caracterizando esse período como uma “janela
aberta” para a invasão de microrganismos.

Quanto aos exercícios moderados, os efeitos imunológicos se apresentam


diante da redução do risco para infecções. Os parâmetros laboratoriais que podem
explicar os benefícios clínicos demonstram aumento de diversos fatores, como
atividade citotóxica de células NK, fagocitose, expressão de moléculas de adesão
e concentração salivar de IgA (BISHOP et al., 1999).

NTE
INTERESSA

A doença mais comum observada em atletas é uma branda infecção viral do


trato respiratório, sendo que, em sua revisão de literatura, verificou-se que a incidência
de infecções do trato respiratório superior (ITRS) acomete somente atletas engajados
em exercícios intensos e prolongados. Todavia, ressalta-se que uma dieta inadequada e
repouso insuficiente são também fatores importantes que colaboram para a ocorrência de
ITRS, como resfriados e gripes (HIRSCHBRUCH, 2016).

27
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

FIGURA 5 – RESUMO DOS EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO DE INTENSIDADE MODERADA E


INTENSA NA RESPOSTA IMUNOLÓGICA

Legenda: MØ – macrófagos, Nφ – neutrófilos.


FONTE: Adaptada de Terra et al. (2014, p. 213)

4 EXCESSO DE TREINAMENTO (OVERTRAINING)


Na maioria dos programas de treinamento ocorre a aplicação do princípio
de sobrecarga progressiva, que corresponde a uma carga de trabalho acima do
nível considerado confortável, com objetivo de maximizar a performance por
meio de adaptações fisiológicas positivas, visando promover adaptações que
evitem lesões e prejuízo do processo de adaptação.

A associação de um programa exaustivo de treinamento somado a um


insuficiente período de recuperação e consequente prejuízo da performance
por longos períodos (diversas semanas ou meses) caracteriza a síndrome de
overtraining. Além disso, outros sinais e sintomas estão presentes, observe o
Quadro 2:

28
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

QUADRO 2 – PRINCIPAIS SINTOMAS DO OVERTRAINING

Fisiológicos/
Imunológicos Psicológicos
performance
↑Suscetibilidade e gravidade
↓Performance Depressão
de ITRS
Período de recuperação ↓Atividade funcional de
Apatia
prolongado neutrófilos
↓Tolerância à sobrecarga Instabilidade
↓Contagem total de linfócitos
de treinamento emocional
Alteração de
↓Força muscular ↓Resposta mitógenos
personalidade
↓Capacidade de trabalho ↑Contagem de eosinófilos no ↓Concentração no
máxima sangue treinamento

Perda de coordenação ↑Infecção bacteriana Medo de competições

Alterações na pressão Significativas variações na


↓Autoestima
sanguínea razão CD4: CD8
↑Frequência da
Bioquímicos
respiração
↓Gordura corporal Balanço nitrogenado negativo

↑Taxa metabólica basal Disfunção hipotalâmica

↓Concentração de glicogênio
Fadiga crônica
muscular
Insônia ↓Conteúdo mineral ósseo
Anorexia nervosa ↓Ferro sérico
Perda de apetite ↓Ferritina sérica

Depleção de minerais (Zn,


Bulimia
Mn, Se, Cu etc.)

Dor de cabeça ↑Concentração de ureia

Náusea ↑Concentração de cortisol

Dores musculares ↓Testosterona livre e total

↓Razão testosterona livre:


cortisol (>30%)

↑Concentração de ácido úrico

↑Concentração de creatina
quinase

FONTE: Adaptado de Fry et al. (1991 apud HIRSCHBRUCH, 2016, p. 389)

29
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Ainda, o overtraining deve ser diferente do termo overreaching, o qual


corresponde a um período curto de dias, sendo esta condição facilmente
recuperada em curto prazo. Corresponde a uma fase planejada durante muitos
programas de treinamento, desde que se acredite que essa intervenção contribua
para subsequentes aumentos de performance (HIRSCHBRUCH, 2016).

5 OVERTRAINING EM ATLETAS DE ENDURANCE E FORÇA


A maioria dos estudos sobre a síndrome de overtraining tem sido realizada
a partir de protocolos com exercícios físicos predominantemente aeróbicos
(endurance). Poucos resultados de estudos longitudinais foram realizados sobre
as respostas fisiológicas frente à redução de performance decorrente do estado
de overtraining em atletas de força. Segundo Fry e Kraemer (1997, p. 398, grifos
nossos):

[...] existem diferenças nas respostas fisiológicas entre o overtraining


decorrente de exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos. Sendo assim,
muito dos sinais e sintomas de overtraining de natureza aeróbica.
Estudos demonstram que atividades de endurance podem originar um
estado de overtraining caracterizado pela regulação parassimpática,
enquanto atividades anaeróbicas podem causar um estado de
overtraining dominado pela regulação simpática.

A síndrome do overtraining apresenta o aumento da intensidade relati-


va ao treinamento de força, o que acarreta respostas fisiológicas diferentes das
observadas frente ao aumento do volume de treinamento de força. Verifica-se,
ainda, que a concentração dos hormônios do crescimento, testosterona total e li-
vre e cortisol não é substancialmente afetada pelo protocolo de exercício de força
de alta intensidade em indivíduos em estado de overtraining (Figura 6). Com o
aumento do volume do treinamento de força, muitas das respostas neuroendó-
crinas são similares àquelas observadas em atletas de endurance com overreaching
ou overtraining, os quais, apresentam excesso de volume de treinamento.

FIGURA 6 – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES OBSERVADAS NA SÍNDROME DE OVERTRAINING EM


ATLETAS DE ENDURANCE

FONTE: Rogero, Mendes e Tirapegui (2005, p. 360)

30
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

A incidência de infecções é mais elevada após uma sessão de exercício


vigoroso, períodos com elevada carga de treinamento e/ou aumento da frequência
de competições, principalmente se associados a outros fatores estressores
(aspectos psicológicos, alimentação inadequada, medicamentos e distúrbios de
ritmos biológicos), do que em outros períodos de treinamento. Também, demais
infecções de menor gravidade acabam por apresentar recidivas em atletas que
retornam ao treinamento, acarretando um ciclo de infecções recorrentes dentro
de períodos curtos (algumas semanas) (HIRSCHBRUCH, 2016).

O parâmetro bioquímico que auxilia na identificação do estado de


overtraining é a determinação da concentração de IgA secretória, a qual é
responsável pela resposta imune humoral da superfície de mucosas, sendo
sua concentração altamente correlacionada com a resistência a determinação
das viroses responsáveis pela ocorrência de ITRS. Mackinnon e Hopper (1994)
verificaram uma redução significativa da concentração de IgA salivar em um
grupo de nadadores de elite com overtraining quando comparados aos demais
atletas da equipe que foram considerados bem treinados.

5.1 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃO


DO OVERTRAINING
Para que a prevenção do overtraining ocorra, deve ser adotado um cuida-
doso controle do estresse promovido pelo treinamento, fato que destaca a impor-
tância de pesquisas científicas descreverem esses fatores estressores, fornecendo
a base para a separação entre a fadiga de treinamento e a fadiga residual asso-
ciada ao overtraining. Nesse sentido, a metodologia dos testes deve ser capaz de
distinguir o aumento de rendimento e o estado de overtraining, possibilitando,
também, o planejamento de períodos de treinamento (McKENZIE, 1999).

Os dados de cada atleta devem ser regularmente monitorados ressaltando


a relevância dos treinadores, que devem estar conscientizados das causas e con-
sequências relacionadas ao estado de overtraining. Ainda, conforme mencionado
anteriormente, a concentração de IgA salivar e glutamina plasmática e a avaliação
do estado de humor, por meio de testes psicológicos, são formas de diagnóstico
de overtraining (McKENZIE, 1999).

Cabe destacar o papel do nutricionista em relação à redução do risco de


overtraining. A orientação nutricional tem um papel relevante no desempenho
esportivo de atletas e indivíduos fisicamente ativos, o que reforça a necessidade
da conscientização destes quanto às necessidades nutricionais (BISHOP et al.,
1999). Três fatores relevantes destacam-se na prevenção do overtraining:

• estrutura do programa de treinamento, que deve permitir


recuperação adequada e prevenção de lesões e fadiga excessiva,
decorrentes de níveis extremos de estresse no treinamento;
• programa de testes científicos que consistem de parâmetros capazes
de detectar o estado de overtraining;

31
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

• testes que permitam distinguir a fadiga normal associada


com treinamento daquela associada com o overtraining. Cabe
ressaltar que testes psicológicos parecem ser mais sensíveis às
alterações no volume de treinamento, os quais podem representar
um instrumento usual na identificação de atletas que estão
desenvolvendo a síndrome do overtraining. Esse fato é relevante,
pois se observa que o aumento do volume de treinamento mais
comumente induz ao estado de overtraining quando comparado
ao da intensidade (HIRSCHBRUCH, 2016, p. 389).

6 EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA FUNÇÃO


CARDIOVASCULAR
Para suprir a demanda metabólica do exercício físico, várias adaptações
fisiológicas são necessárias referentes à função cardiovascular.

No Quadro 3, podem-se observar as principais respostas cardiovasculares


ao exercício físico agudo. Todavia, cabe destacar a importância das variáveis do
exercício executado, como a intensidade, duração e massa muscular envolvida.

QUADRO 3 – EFEITOS AGUDOS DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE A FUNÇÃO CARDIOVASCULAR

FONTE: Brum et al. (2004, p. 22)

Considerando essas variáveis em relação ao tipo de exercício, esses são


caracterizados em dois tipos principais: exercícios dinâmicos com contração
muscular, seguida de movimento articular; e estáticos com contração muscular,
sem movimento articular, os quais resultam em respostas cardiovasculares
distintas (BRUM et al. 2004).

Nos exercícios estáticos ocorre o aumento da frequência cardíaca, com


manutenção ou pequena redução do volume sistólico e pequeno acréscimo do
débito cardíaco. Também, observa-se aumento da resistência vascular periférica,
podendo resultar em elevação exacerbada da pressão arterial.
32
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Adaptações essas que ocorrem porque a contração muscular, mantida


durante a contração isométrica, promove obstrução mecânica do fluxo sanguíneo
muscular, fazendo com que os metabólitos produzidos durante a contração
fiquem estagnados, ativando quimiorreceptores musculares e promovendo o
aumento expressivo da atividade nervosa simpática (BRUM et al. 2004).

FIGURA 7 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR AO EXERCÍCIO


FÍSICO

FONTE: <https://bit.ly/3vLCjOS>. Acesso em: 10 maio 2021.

Nos exercícios dinâmicos, nos quais as contrações são seguidas de movi-


mentos articulares, não existe obstrução mecânica do fluxo sanguíneo. “Também
se observa aumento da atividade nervosa simpática, desencadeado pela ativação
do comando central, mecanorreceptores musculares e por metaborreceptores
musculares” (FORJAZ; TINUCCI, 2000 apud BRUM, 2004. p. 22).

Em resposta ao aumento da atividade simpática, observa-se aumento


da frequência cardíaca, do volume sistólico e do débito cardíaco. Além da
vasodilatação na musculatura que gera redução da resistência vascular periférica,
fazendo com que, “dessa forma, durante os exercícios dinâmicos ocorra aumento
da pressão arterial sistólica e manutenção ou redução da diastólica” (FORJAZ et
al., 1998a apud BRUM, 2004. p. 22).

Importante destacar que essas respostas são tanto maiores quanto maior
for a intensidade do exercício, mas não se alteram com a duração do exercício,
assim como, “quanto maior for a massa muscular exercitada de forma dinâmica,
maior é o aumento da frequência cardíaca, mas menor é o aumento da pressão
arterial” (FORJAZ; TINUCCI, 2000 apud BRUM, 2004. p. 22).

33
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Embora as respostas cardiovasculares aos exercícios dinâmicos e


estáticos sejam bem características, na prática diária, os exercícios
executados apresentam componentes dinâmicos e estáticos, de
modo que a resposta cardiovascular a esses exercícios depende
da contribuição de cada um desses componentes. Nesse sentido,
os exercícios resistidos ou exercícios de musculação (exercícios
localizados contra resistências) possuem papel de destaque, pois
quando executados em altas intensidades, apesar de serem feitos
de forma dinâmica apresentam componente isométrico bastante
elevado, fazendo com que a resposta cardiovascular durante sua
execução assemelhe-se àquela observada com exercícios estáticos,
ou seja, aumento da frequência cardíaca e, principalmente, aumento
exacerbado da pressão arterial, que se amplia à medida que o exercício
vai sendo repetido (BRUM, 2004, p. 22).

ATENCAO

A hipotensão pós-exercício caracteriza-se pela redução da pressão arterial


durante o período de recuperação, o que ocasiona valores pressóricos observados pós-
exercícios inferiores aos medidos antes do exercício. Nesse sentido, para que a hipotensão
pós-exercício tenha importância clínica, é necessário que ela tenha magnitude importante
e perdure mais que 24 horas subsequentes à finalização do exercício. Ainda, um aspecto
importante diz respeito às características do exercício (tipo, intensidade e duração) que
podem promover maior queda pressórica após sua execução, sendo que quanto ao tipo
de exercício, a hipotensão pós-exercício é demonstrada principalmente em resposta aos
exercícios aeróbios (dinâmicos, cíclicos, com intensidade leve a moderada e longa duração)
(BRUM et al., 2020).

ADAPTAÇÕES CARDÍACAS FISIOLÓGICAS INDUZIDAS


PELO EXERCÍCIO FÍSICO EM ATLETAS AMADORES: REVISÃO
NARRATIVA

Laerte de Paiva Viana Filho


João Pedro Costa Apolinário
Júlia Oliveira do Carmo
Laís Breguez
Pascoal Lucas Pereira Figueiredo
Luísa Lobo Sousa
Milena Oliveira Moreira
Wellington de Jesus Ferreira Junior

34
TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

RESUMO

Objetivo: Compilar evidências científicas recentes sobre as adaptações


fisiológicas que ocorrem no coração de atletas amadores. Revisão
bibliográfica: A prática de exercícios físicos proporciona um aumento do
trabalho cardíaco para suprir a demanda metabólica, o que pode provocar
adaptações fisiológicas a depender de vários fatores, como o tipo de exercício
realizado, sendo esse predominantemente de força, resistência ou misto.
Com a popularização da prática de atividades físicas por pessoas que não
dependem do esporte como fonte de renda, os atletas amadores, tornou-
se significativo a análise de registros de adaptações cardíacas fisiológicas
induzidas pelo exercício que podem ocorrer nesses indivíduos. Com isso, foi
possível observar as principais adaptações em praticantes de exercícios de
resistência, que incluem as adaptações morfológicas do coração, no sistema de
condução do impulso elétrico, além de adaptações bioquímicas e funcionais
do sistema cardiovascular. Já as induzidas pelos exercícios de força, incluem
predominantemente as adaptações morfológicas e funcionais, enquanto as
desenvolvidas pela prática de exercícios mistos incluem alterações funcionais,
morfológicas e elétricas. Considerações finais: Percebe-se a necessidade de
um maior monitoramento cardiológico em atletas amadores, tendo em vista o
risco aumentado de complicações cardiovasculares nesses atletas.

FONTE: <https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/3999/2457>. Acesso em:


10 maio 2021.

35
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício, e


nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as
alterações do meio interno, preservando a homeostasia.

• Os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser divididos em: agudos


imediatos, agudos tardios e crônicos, sendo que os efeitos agudos, podem
também ocorrer em associação direta à sessão de exercício.

• Existem diferentes formas de exercício físico, neste sentido, quando


considerada a via metabólica predominante, temos os sistemas: anaeróbico
alático; anaeróbico lático; aeróbico.

• Os hormônios são substâncias químicas secretadas dentro de fluidos corporais,


em sua maioria por glândulas endócrinas, sendo divididos em dois tipos, os
esteroides e polipeptídicos. Esteroides são produzidos, a partir do colesterol,
pelo córtex adrenal e pelas gônadas e os peptídeos são derivados de aminoácidos
em outras glândulas endócrinas.

• Os tecidos alvos da ação hormonal podem ser próximos ou relativamente


afetados em relação à glândula de secreção, podendo sua ação ser em um
ou mais tecidos, como o hormônio insulina, que atua em diversos tecidos,
apresentando potente efeito sobre o metabolismo em situações como o repouso
e a prática de exercício físico.

• A doença mais comum observada em atletas é uma branda infecção viral do


trato respiratório (ITRS), que acomete somente atletas engajados em exercícios
intensos e prolongados.

• Uma dieta inadequada e repouso insuficiente são fatores importantes que


colaboram para a ocorrência de ITRS, como resfriados e gripes.

• A associação de um programa exaustivo de treinamento somado a um


insuficiente período de recuperação e consequente prejuízo da performance
por longos períodos (diversas semanas ou meses) caracteriza a síndrome de
overtraining.

• Para suprir a demanda metabólica do exercício físico, várias adaptações


fisiológicas são necessárias referentes à função cardiovascular, cabendo destacar
a importância das variáveis do exercício executado, como a intensidade,
duração e massa muscular envolvida.

36
AUTOATIVIDADE

1 Os exercícios físicos podem ser classificados como agudos e crônicos,


sendo que ainda se sistematizam em outras formas de classificação quando
considerados: via metabólica predominante, ritmo, intensidade e mecânica
muscular. Nesse sentido, descreva essas variáveis e suas características.

2 O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício e


nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar
as alterações do meio interno, preservando a homeostasia. As adaptações
fisiológicas seguem diferentes mecanismos. Descreva-os

3 O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício


físico e, em ambas as situações, possui mecanismos fisiológicos capazes
de minimizar as alterações do meio interno, preservando a homeostasia.
Nesse sentido, os efeitos fisiológicos do exercício físico são divididos de três
formas: agudos imediatos, agudos tardios e crônicos. Assinale a alternativa
que corresponde às características dos efeitos crônicos:

a) ( ) Ocorrem nos períodos pré-imediato, e pós-imediato do exercício


físico, caracterizados pelos aumentos de frequência cardíaca, venti-
lação e sudorese normalmente associados ao esforço.
b) ( ) Ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício,
identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na
elevação do número de receptores de insulina nas membranas das
células musculares.
c) ( ) São adaptações que resultam de exposição esporádica às sessões de
exercício.
d) ( ) São adaptações que resultam da exposição regular às sessões de
exercício. Exemplo: hipertrofia muscular e o aumento do consumo
máximo de oxigênio.
e) ( ) Ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício,
identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na
elevação do número de receptores de insulina nas membranas das
células musculares. Como é o caso da hipertrofia muscular e aumento
do consumo máximo de oxigênio.

3 Durante a realização de exercícios físicos mais intensos, ocorre uma maior


utilização da glicose, fazendo com que a necessidade de glicose pelo tecido
muscular cause no decorrer do tempo, uma redução da glicemia, podendo
ser compensada pela liberação de glicose, principalmente a partir do fígado,
processo esse chamado de:

37
a) ( ) Gliconeogênese.
b) ( ) Glicólise.
c) ( ) Betaoxidação.
d) ( ) Lipólise.
e) ( ) Glicogenólise.

4 Sou um polipeptídio liberado a partir da hipófise anterior e estimulo a sín-


tese proteica, tanto em jovens quanto em indivíduos mais velhos. Além dis-
so, represento um dos principais hormônios lipolíticos. Atuo estimulando
a captação tecidual de aminoácidos, síntese proteica e crescimento de ossos
longos. Também sou oposto à ação da insulina, uma vez que reduzo a uti-
lização de glicose plasmática, aumentando a síntese de glicose no fígado
e elevando a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, buscando
poupar a demanda tecidual por glicose plasmática. Quem sou eu?

a) ( ) Hormônio do crescimento (GH).


b) ( ) Insulina.
c) ( ) Glucagon.
d) ( ) Adrenalina.
e) ( ) Cortisol.

38
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico, seja bem-vindo ao nosso último tópico da primeira


unidade, esperamos que esteja compreendendo esse mundo magnífico, que é a
resposta do nosso organismo aos estímulos do exercício físico.

Neste tópico, relembraremos alguns conceitos importantes na área da


bioquímica para compreender como os sistemas de produção de energia atuam.

2 AS CÉLULAS
Vamos, então, para nossa estrutura básica, nossas células. As células
possuem mecanismos de conversão de energia, e precisam da existência de
uma substância com capacidade de acumular a energia oriunda das reações
que libertam energia, sendo que essa mesma substância tem capacidade de
ceder essa energia às reações que consomem energia. Substância essa conhe-
cida por ATP, ou adenosinatrifosfato, um composto químico lábil, que existe
em todas as células, sendo uma combinação de adenina, ribose e três radicais
fosfato (Figura 8).

FIGURA 8 – ESTRUTURA QUÍMICA DA ADENOSINA TRIFOSFATO

FONTE: <https://bit.ly/3wQ3tp5>. Acesso em: 10 maio 2021.

39
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Tradicionalmente, o ATP é considerado a “moeda energética” do trabalho


fisiológico, conforme mencionado, provém do alimento, que após consumido, é
digerido, e a energia dele é extraída e conservada na molécula de ATP, que, ao
sofrer a hidrolise (rompimento das ligações dos fosfatos terminais em meio aquo-
so), libera essa energia para que as reações químicas possam acontecer, como é o
caso da contração muscular para a realização de atividades físicas, por exemplo.

O ATP é armazenado na célula em pequena quantidade, assim, para


garantir a continuidade da oferta desse substrato, o organismo tem de equilibrar
as taxas de utilização e síntese com a ação dos sistemas de fornecimento de
energia, quando entra o mecanismo anaeróbio e aeróbio.

Os dois últimos radicais fosfato estão ligados ao restante da molécula por


meio de ligações de alta energia, liberando aproximadamente 11 kcal por mol
de ATP, ao longo o exercício. Demonstrando que grande parte dos mecanismos
celulares que necessitam de energia para funcionar, obtém-na via ATP.

Para que possam compreender de onde vem o ATP, ele é derivado pós-
digestão, quando os produtos finais dos alimentos são transportados até às células
pela corrente sanguínea, oxidados e, assim, liberam a energia que será utilizada
para formar ATP, mantendo um suprimento permanente dessa substância. A
respiração celular transforma a energia química dos alimentos em uma forma
química de armazenamento temporário (ATP).

Nas fibras musculares, essa energia química armazenada transforma-


se em energia mecânica, com o deslize dos miofilamentos durante o ciclo
contrátil, sendo, dessa forma, de suma importância nos exercícios de potência de
intensidade máxima que duram até 30 s, quando o músculo faz uso das fontes de
energia imediatas, designadas por fosfagênios, como adenosinatrifosfato (ATP) e
a fosfocreatina (CP).

A principal função dos sistemas energéticos é formar o ATP, o qual será


utilizado na contração muscular, pois o musculoesquelético não é capaz de utilizar
diretamente a energia originada pela quebra dos grandes compostos energéticos
provenientes da alimentação, como o carboidrato, os ácidos graxos e as proteinas.
Pois, nas pontes transversas de miosina, há um único tipo de enzima, a ATPase,
que hidrolisa ATP, para poderem ser utilizadas na contração muscular.

Todavia, cabe ressaltar que nem toda energia liberada pela hidrólise do
ATP é usada na contração muscular, já que grande parte (cerca de 60 – 70%) é
dissipada como calor, sendo utilizado, em sua maioria, no metabolismo com o
objetivo de manter a temperatura corporal estável e não apenas garantir energia
para a contração muscular.

Nesse sentido, apesar de o ATP representar grande importância nos pro-


cessos de utilização de energia, não é o maior depósito de ligações fosfato de alta
energia na fibra muscular, a CP também possui este tipo de ligações, tendo uma

40
TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

concentração de quatro a cinco vezes maior que a do ATP, sendo possível aumen-
tar as suas concentrações musculares com a suplementação de creatina. As con-
centrações de ATP e CP no musculoesquelético de um indivíduo sedentário são,
respectivamente, de seis e 28 mmol/Kg de músculo (TINOCO, 2002). Essas subs-
tancias representam o sistema ATP-CP (sistema alático) para geração de energia:

Quando a célula possui quantidade extra de ATP, grande parte da sua


energia é utilizada para sintetizar CP, formando um reservatório de
energia. Quando se começa a gastar o ATP na contração muscular,
a energia da CP é rapidamente transferida de volta para o ATP
(ressíntese do ATP) e deste para os sistemas funcionais da célula.
Como a CP possui o maior nível energético proveniente da ligação
fosfato de alta energia, a reação entre a CP e o ATP atinge um estado
de equilíbrio, mais a favor do ATP. Sendo assim, o mínimo gasto de
ATP pela fibra muscular utiliza a energia proveniente da CP para a
síntese imediata de mais ATP. Enquanto existir CP disponível, este
processo mantém a concentração do ATP a um nível quase constante,
fato importante, já que a velocidade de grande parte das reações
no organismo depende dos níveis deste composto. Nas atividades
físicas, a contração muscular depende totalmente da constância das
concentrações intracelulares do ATP, já que esta é a única molécula
capaz de ser utilizada para a produção do deslize dos miofilamentos
contráteis.O ATP se mantém a um nível constante nos primeiros
segundos de uma intensa atividade muscular como o sprint, enquanto
ocorre um declínio das concentrações de CP à medida que este vai se
degradando rapidamente para a ressíntese do ATP gasto. Na exaustão,
os níveis de ATP e CP são muito baixos, tornando-os incapazes de
fornecer energia para assegurar posteriores contrações e relaxamentos
das fibras esqueléticas ativas. Por este motivo, é limitada no tempo
a capacidade de se manter os níveis de ATP ao longo do exercício
de alta intensidade à custa da energia obtida da CP. Vários autores,
afirmam que as reservas de ATP e CP apenas suprem as necessidades
energéticas musculares durante sprints de intensidade máxima até 15s
(TINOCO, 2002, p. 54).

FIGURA 9 – SISTEMA ANAERÓBIO ALÁTICO

FONTE: <https://bit.ly/3cYYBGr>. Acesso em: 10 maio 2021.

41
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Além do sistema ATP-CP, utilizado predominantemente em exercícios de


curtíssima duração, tem-se o sistema da glicólise (Sistema Anaeróbio Láctico).

A glicólise, ou sistema anaeróbio láctico, abrange uma via metabólica


utilizada por todas as células do nosso organismo, de onde se extrai parte da
energia existente na molécula da glicose e se originam duas moléculas de lactato,
sem consumo de oxigênio molecular, fermentação anaeróbica, em que são gerados
dois moles de ATP por cada mol de glicose.

No caso das células que possuem mitocôndrias, a glicólise pode ocorrer


na presença de oxigênio molecular, desde que o piruvato não seja reduzido a lac-
tato. O piruvato, então, entra na mitocôndria sendo oxidado a dióxido de carbono
e água, produzindo aproximadamente 38 moles de ATP para cada mol de glicose
oxidada (TINOCO, 2002).

FIGURA 10 - SISTEMA ANAERÓBIO LÁTICO

FONTE: <https://bit.ly/35EWIdZ>. Acesso em: 10 maio 2021.

O processo da glicólise ocorre em três etapas distintas.

Etapa 1: através da ação da enzima hexocinase, a glicose é fosforilada


e a glicose-6-fosfato (G6P), produzida no citosol. Essa é uma reação
irreversível. Quando o fígado precisa fornecer glicose para outros
tecidos, a G6P sofre a ação da enzima glicose-6-fosfatase, que catalisa a
reação reversa da catalisada pela hexocinase. Em seguida, por meio da
enzima fosfoglicose isomerase, a G6P é transformada no seu isômero
frutose-6-fostato ou F6P, recebendo mais um grupamento fosfato,
sendo transformada no composto frutose-1,6-bisfosfato, outra reação
irreversível, catalisada pela fosfofruto-cinase, uma enzima alostérica.
Etapa 2: a frutose-1,6-bisfosfato dá origem a uma molécula de di-
idroxiacetona fosfato e uma molécula de gliceraldeído-3-fosfato (GAP)
pela ação da aldolase. A di-idroxiacetona fosfato sofre ação da triose
fosfato isomerase e é convertida em gliceraldeído-3-fosfato.

42
TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

Etapa 3: a enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase age sobre o


GAP produzindo o 1,3-bisfosfoglicerato, tendo o NAD (Nicotinamida
adenina di-nucleotídeo) como coenzima. O composto 1,3-bisfosfogli-
cerato possui alto potencial energético permitindo a produção de ATP
na reação seguinte, tendo como catalisadora a enzima fosfoglicerato
cinase. A outra reação que sintetiza ATP transforma fosfoenolpiruvato
em piruvato pela ação da piruvato cinase, sendo uma reação também
irreversível (GLICÓLISE [...], 2021, s.p.).

Resumindo as condições que requerem desse sistema, podem-se citar os


esforços de alta intensidade com duração entre 30 s e 1 min como uma corrida
de 400 m, os quais recorrem a um sistema energético caracterizado por uma
grande produção e acumulação de ácido láctico, por isso, as modalidades que
requerem esse tipo de esforço são habitualmente chamadas de lácticas, já que a
produção de energia no músculo é proveniente do rápido desdobramento dos
hidratos de carbono armazenados como glicogênio, em ácido lático, se tratando
de um processo anaeróbio que ocorre no citosol das fibras esqueléticas, em que
a molécula da glicose é degradada anaerobicamente a ácido pirúrvico ou láctico,
sendo muito ativo no musculoesquelético.

Em atletas de elite, observam-se as maiores concentrações sanguíneas


de lactato, em especialistas de 400-800m, tais atletas procuram aumentar a sua
potência láctica devido a maior produção de energia daí resultante, já que quanto
mais ácido láctico for formado, naturalmente, maior formação de ATP será obtido
por esta via. Dessa forma, a produção do ácido láctico acaba sendo um mal menor
e inevitável ao se recorrer a este sistema energético.

Destaca-se que os músculos dos velocistas particularmente possuem


grande atividade glicolítica, por possuírem um grande percentual de fibras do
tipo II (de contração rápida). Sabe-se que a glicólise é a principal fonte de energia
nas fibras tipo II durante o exercício intenso. Por fim, veremos que:

A produção de ATP através do metabolismo aeróbio (sistema


oxidativo), pela quebra da glicose, o qual divide-se em três etapas:
1ª etapa: glicólise – ocorre no citoplasma, gerando 2 ATPs + 2 piruvato
+ 2 NADH, com oxigênio suficiente. O ácido pirúvico entra na segunda
etapa (Ciclo de Krebs).
2ª etapa: ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico – ocorre na matriz
mitocondrial, onde o ácido pirúvico é convertido em acetil-CoA, o
qual é fracionado, formando 2 ATPs + 8 NADH + 2 FADH2, sendo os
dois últimos direcionados para a última etapa (Cadeia Respiratória).
3ª etapa: cadeia respiratória – ocorre na crista mitocondrial. Os 8
NADH e os 2 FADH2 liberam seus elétrons (H+) ricos em energia,
produzindo 3 ATPs por cada NADH e 2 ATPs por cada FADH2.
Os elétrons liberados originam 30 ATPs provenientes do NADH,
sendo 2 da cadeia respiratória e 8 do ciclo de Krebs (10 NADH
x 3) e somados a 4 ATPs provenientes do FADH2, sendo 2 da cadeia
respiratória x 2, obtém-se 34 ATPs (GLICÓLISE [...], 2021, s.p.).

Assim, a degradação total de uma molécula de glicose, produz 38 ATPs,


sendo duas de glicólise, duas do ciclo de Krebs e 34 da cadeia respiratória. Nes-
se sentido, estudos apontam que esforços contínuos que duram entre 1 e 2 min,
43
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

do ponto de vista energético, são supridos tanto pelos sistemas anaeróbio (fosfa-
gênios e glicólise) e aeróbio, significando que a produção de aproximadamente
metade do ATP ocorre fora da mitocôndria e a outra parte no seu interior. Em
exercícios que duram mais que dois minutos, a produção de ATP é fornecida
maioritariamente pela mitocôndria, por serem esforços conhecidos como oxidati-
vos ou aeróbios (Figura 11 e Quadro 4) (TINOCO, 2002).

FIGURA 11 – SISTEMAS DE ENERGIA E SUA PREDOMINÂNCIA

FONTE: Lamp (2016, p. 13)

QUADRO 4 – RESUMO DOS SISTEMAS GERADORES DE ENERGIA

Característica ATP - CP Ácido Lático Aeróbico

Combustível Fosfato de alta carboidratos,


carboidratos
utilizado energia gorduras e proteínas

Localização Sarcoplasma Sarcoplasma Mitocôndria


Fadiga devido depleção de
depleção de fosfato acúmulo de lactato
à... glicogênio
Capacidade: muito limitada limitada sem limite
Homem 8 - 10 Kcal 12 - 15 Kcal >90.000 Kcal
Mulher 5 - 7 Kcal 8 - 10 Kcal >115.000 Kcal

Força: muito alta


alto/moderada moderada/baixa
16-20 Kcal/min 12-15 Kcal/min
Homem 36-40 Kcal/min
12-15 Kcal/min 9-12 Kcal/min
Mulher 26-30 Kcal/min

Intensidade: muito alta alta/moderada moderada /baixa


% máximo > 95% F. C. M. 85%-95 F. C. M. <85% F. C. M.

44
TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

Tempo para muito curto: curto/médio: médio/longo:


fadiga de 1- 15 seg. de 45 - 90 segs. de 3-5 min.

Atividades:

corrida <100 m 400-800 m >1500 m


natação < 25 m 100-200 m > 400 m
ciclismo <175 m 750-1500 m >3000 m
remo < 50 m 250-500 m >1000 m

FONTE: <http://www.cdof.com.br/nutri2.htm>. Acesso em: 25 mar. 2013.

E
IMPORTANT

Dos grupos de compostos energéticos adquiridos pela alimentação


(carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos), somente os carboidratos podem ser utilizados
para a produção rápida de energia sem recorrer à utilização de oxigênio (glicólise), o que
ocorre durante as atividades de máxima intensidade com duração de 30 segundos a 1
minuto. Importante destacar que a oxidação permite a continuação do catabolismo da
glicose a partir do piruvato, bem como dos ácidos graxos e dos aminoácidos, diferente da
glicólise, que utiliza exclusivamente glicose.

Para finalizar essa abordagem dos sistemas geradores de energia, é


importante destacar que grande parte das atividades diárias é suprida pelo
metabolismo aeróbio, sendo a maior parte do gasto energético muscular
proveniente da oxidação mitocondrial dos ácidos graxos livres (AGL). Embora
a produção energética seja assegurada em 40% pelos carboidratos e em 60%
pelos lipídeos em repouso. O cérebro é o maior consumidor de carboidratos do
organismo, situação em que os AGL asseguram quase totalmente as necessidades
energéticas musculares (HIRSCHBRUCH, 2016).

3 METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES


A síntese e a degradação do glicogênio (glicogênese e glicogenólise)
acontecem em momentos distintos: no período pós-prandial e em repouso, há
a ação da insulina, e podemos utilizar a glicose proveniente dos alimentos para
armazenar em forma glicogênio (hepático e muscular). Por sua vez, em períodos
de jejum, hipoglicemia e de pratica de exercícios físicos, os hormônios glucagon
e/ou epinefrina estão em ação no fígado e no músculo, respectivamente, e
necessitamos mobilizar os estoques de glicogênio para disponibilizar moléculas
de glicose para suprir as necessidades (HIRSCHBRUCH, 2016).

45
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

Durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da molécula de


glicogênio muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou anaeróbia, dependendo
do aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e da intensidade da atividade
realizada, conforme discutido anteriormente.

Nossa musculatura esquelética, não é capaz de estocar glicogênio


suficiente para sustentar exercícios físicos muito longos, assim, ao começarem
a esgotar os estoques de glicogênio muscular, uma outra reserva energética
começa a ser mobilizada durante a pratica de exercícios físicos: os ácidos graxos,
estocados na forma de triacilglicerol no tecido adiposo. A oxidação dos ácidos
graxos (beta-oxidação) ocorre nas mitocôndrias, fazendo com que esses só possam
ser utilizados como fontes de energia em situação aeróbia, ou seja, na presença de
oxigênio (TINOCO, 2002).

Durante a pratica de exercício físico, nosso organismo utiliza de diferentes


formas para captar energia e manter a contração muscular, concomitantemente,
outras funções fisiológicas permanecem acontecendo. Destaca-se também, que
nosso organismo trabalha com “mecanismos de redundância”, ou seja, diferentes
formas de obter resultados semelhantes, para que, caso houver alguma falha no
processo, exista outro sistema compensatório, como ocorre com nossos sistemas
energéticos, onde os ATPs, a fosfocreatina (sistema ATP-CP), os estoques
de glicogênio e triacilglicerol, conseguem realizar alguns desses processos
independentemente da presença de oxigênio.

As reações acontecem de uma forma dinâmica, todavia, como exemplo


ilustrativo, e como uma sequência lógica de eventos, podemos pensar na
contribuição das diferentes fontes energéticas no decorrer dos exercícios físicos
da maneira como está ilustrado no Gráfico 1.

GRÁFICO 1 – VALORES RELATIVOS DA CINÉTICA DE CONSUMO DE GLICOSE E DE ÁCIDOS


GRAXOS PELO MÚSCULO ESQUELÉTICO DURANTE CONTRAÇÕES

FONTE: <https://www.scielo.br/img/revistas/abem/v55n5/a02fig4.jpg>. Acesso em: 10 maio


2021.

46
TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

CONTRAÇÃO MUSCULAR

Portal da Educação

A especialidade do musculoesquelético é a transformação de energia


química em energia mecânica, sendo este órgão desenvolvido para otimizar esta
função usando um conjunto de proteínas relacionadas com o movimento.

O musculoesquelético é formado por células alongadas, multinucleadas


conhecidas por fibras musculares. Nessas fibras existem actina e miosina,
proteínas contráteis que formam os filamentos finos e grossos respectivamente,
dispostos paralelamente nas miofibrilas das fibras. As miofibrilas também
estão arranjadas paralelamente, apresentando um padrão de bandas escuras
e claras dispostas em série, o que dá a característica de estrias às fibras desses
músculos. Esta aparência estriada se deve à birrefringência diferente das
proteínas contrateis.

A banda clara é conhecida por banda-I, devido à isotropia (I) da região da


miofibrila dada pelos filamentos finos, já a banda-A, é assim conhecida por sua
anisotropia(A), formada por filamentos grossos intercalados aos finos. Denomina-
se sarcômero a unidade contrátil, e seus limites laterais são dados pelos discos
Z, formados por alfa-Actinina, onde os filamentos finos, a Tinina e a Nebulina
se prendem. O sarcômero é delimitado por duas linhas Z, separadas por duas
banda-I e uma banda-A.

FIGURA – CONTRAÇÃO MUSCULAR

FONTE: <https://bit.ly/3wNSDjh>. Acesso em: 10 maio 2021.

47
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

O fornecimento direto de energia utilizada na contração muscular é de


responsabilidade do ATP. Na presença de ATP, as Miofibrilas isoladas podem ser
contraídas e durante a contração a banda I diminui de comprimento enquanto a
banda A o mantém. As bandas Z então se aproximam e assim, os sarcômeros se
encurtam.

Quando falta ATP, a miosina e a actina continuam ligadas. Já quando


existe ATP ocorre hidrólise de sua molécula liberando energia que será utilizada
para movimentar a junção miosina/actina. Isso sugere que a contração muscular
ocorra por meio do deslizamento de dois filamentos um sobre o outro, sem alterar
suas estruturas, composição química ou comprimento.

Na contração muscular isotônica o comprimento do sarcômero diminui,


e os filamentos se encontram no centro da banda H, ponto em que se obser-
va tensão máxima e os filamentos não tem como deslizar mais, atingindo uma
situação isométrica. Já com relação à contração isométrica, onde não ocorre a
diminuição do comprimento do músculo, a energia que o ATP libera não pode
ser transformada em trabalho por conta da incapacidade de deslizar mais os fila-
mentos sobre os outros e ocorre produção somente de calor mas de trabalho não.

Assim, podemos definir a contração como a ativação das fibras musculares


com a tendência destas se encurtarem. Ocorre com o aumento do cálcio citosólico,
que dispara diversos eventos moleculares, que causam a interação entre miosina
e actina, fazendo com que essa última, deslize sobre os filamentos, grosso e os
sarcômeros encurtem-se em série.

FONTE: <https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/nutricao/contracao-
muscular/39419>. Acesso em: 10 maio 2021.

48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As células possuem mecanismos de conversão de energia, e precisam da


existência de uma substância que tem capacidade de acumular a energia
oriunda das reações que libertam energia, substância essa conhecida por ATP,
ou adenosina trifosfato, um composto químico lábil, que existe em todas as
células, sendo uma combinação de adenina, ribose e três radicais fosfato.

• O ATP é derivado pós-digestão, quando os produtos finais dos alimentos


são transportados até às células pela corrente sanguínea, oxidados e assim,
liberam energia que será utilizada para formar ATP, mantendo assim um
suprimento permanente dessa substância. A respiração celular transforma
a energia química dos alimentos em uma forma química de armazenamento
temporário (ATP).

• A principal função dos sistemas energéticos é formar o ATP, o qual será


utilizado na contração muscular, pois o musculoesquelético não é capaz de
utilizar diretamente a energia originada pela quebra dos grandes compostos
energéticos provenientes da alimentação, como o carboidrato, os ácidos graxos
e as proteinas.

• A produção de ATP através do metabolismo aeróbio ocorre pela quebra da


glicose, a qual divide-se em três etapas: glicólise; ciclo de Krebs ou ciclo do
ácido cítrico; cadeia respiratória.

• Dos grupos de compostos energéticos adquiridos pela alimentação


(carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos), somente os carboidratos podem
ser utilizados para a produção rápida de energia sem recorrer à utilização de
oxigênio (glicólise).

• A oxidação permite a continuação do catabolismo da glicose a partir do


piruvato, bem como dos ácidos graxos e dos aminoácidos, diferente da glicólise,
que utiliza exclusivamente glicose.

49
UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO

• Durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da molécula de glicogênio


muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou anaeróbia, dependendo do
aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e da intensidade da atividade
realizada, conforme discutido anteriormente.

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50
AUTOATIVIDADE

1 Durante a pratica de exercício físico, nosso organismo utiliza de diferentes


formas para manter a contração muscular, concomitantemente, outras
funções fisiológicas permanecem acontecendo. Destaca-se também, que
nosso organismo trabalha com “mecanismos de redundância”, ou seja,
diferentes formas de obter resultados semelhantes, para que, caso houver
alguma falha no processo, exista outro sistema compensatório, como ocorre
com nossos sistemas. Descreva a principal função dos sistemas energéticos.

2 A síntese e a degradação do glicogênio acontecem em momentos distintos,


no período pós-prandial e em repouso, há a ação da insulina, e podemos
utilizar a glicose proveniente dos alimentos para armazenar em forma
glicogênio. Em períodos de jejum, hipoglicemia e de prática de exercícios
físicos, os hormônios glucagon e/ou epinefrina estão em ação no fígado
e no músculo, respectivamente, e necessitamos mobilizar os estoques
de glicogênio para disponibilizar moléculas de glicose para suprir as
necessidades. Ainda, durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da
molécula de glicogênio muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou
anaeróbia, dependendo do aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e
da intensidade da atividade realizada. Descreva o que ocorre no momento
em que os estoques de glicogênio se esgotam.

3 Quando a célula possui quantidade extra de ATP, grande parte da sua


energia é utilizada para sintetizar CP, formando um reservatório de energia.
Quando se começa a gastar o ATP na contração muscular, a energia da
CP é rapidamente transferida de volta para o ATP (ressíntese do ATP) e
deste para os sistemas funcionais da célula. Como a CP possui o maior
nível energético proveniente da ligação fosfato de alta energia, a reação
entre a CP e o ATP atinge um estado de equilíbrio, mais a favor do ATP.
Sendo assim, o mínimo gasto de ATP pela fibra muscular utiliza a energia
proveniente da CP para a síntese imediata de mais ATP. Nas atividades
físicas, a contração muscular depende totalmente da constância das
concentrações intracelulares do ATP, já que esta é a única molécula capaz
de ser utilizada para a produção do deslize dos miofilamentos contráteis.
Qual é esse sitema de geração de energia e qual o tempo dos exercícios que
utilizam desse mecanismo?

a) ( ) Sistema alático – duração de 1 a 15 segundos.


b) ( ) Sistema alático – duração de 1 a 30 segundos.
c) ( ) Sistema oxidativo – mais que 30 segundos.
d) ( ) Sistema lático – duração de 1 a 15 segundos.
e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta.

51
4 O sistema anaeróbio lático abrange uma via metabólica utilizada por todas
as células do nosso organismo, de onde se extrai parte da energia existente
na molécula da glicose e se originam duas moléculas de lactato, sem
consumo de oxigênio molecular, fermentação anaeróbica, onde são gerados
dois moles de ATP por cada mol de glicose. Qual processo corresponde à
esse sistema?

a) ( ) Proteólise.
b) ( ) Glicólise.
c) ( ) Lipólise.
d) ( ) Fermentação aeróbica.
e) ( ) Glicogenólise.

5 A produção de ATP através do metabolismo aeróbio (sistema oxidativo),


ocorre por meio de três etapas. Assinale a opção CORRETA, considerando
a ordem correta das etapas.

a) ( ) Glicólise; ciclo de krebs e cadeia respiratória.


b) ( ) Cadeia respiratória; ciclo do ácido cítrico e glicólise.
c) ( ) Ciclo de krebs; glicólise e ciclo do ácido cítrico.
d) ( ) Glicogenólise; lipólise e betaoxidação.
e) ( ) Glicólise, ciclo de krebs, fermentação anaeróbica.

52
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55
56
UNIDADE 2 —

COMPOSIÇÃO CORPORAL E
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
NO ESPORTE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer os diferentes procedimentos que podem ser utilizados para


avaliação da composição corporal, bem como os resultados deve ser
interpretado e analisado;

• identificar a importância dos macronutrientes no metabolismo dos


esportistas e atletas;

• verificar os cálculos e diretrizes para recomendação do consumo de


energia e de macronutrientes aos esportistas e atletas;

• descrever os benefícios da hidratação antes, durante e após a prática do


exercício físico, considerando as variáveis de cada modalidade esportiva,
fisiologia do atleta e condições ambientais, compreendendo a importância
da orientação do fluido e eletrólito compatível ao esportista/atleta;

• identificar nos fluidos disponíveis no mercado, quais podem ser utiliza-


dos pelos esportistas/atletas, bem como, qual momento e a quantidade
que deve ser consumido, refletindo sobre o conteúdo energético e de
eletrólitos dessa bebida, conhecida como suplementos hidroeletrolíticos
para atletas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – COMPOSIÇÃO CORPORAL

TÓPICO 2 – NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

TÓPICO 3 – HIDRATAÇÃO NO ESPORTE


57
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

58
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

COMPOSIÇÃO CORPORAL

1 INTRODUÇÃO

Para falarmos de composição corporal, precisamos, inicialmente,


relembrar o que é a antropometria. A palavra antropometria tem sua origem
do grego: anthropo, que significa homem, e metron, medida, ou seja, medidas
físicas de um indivíduo relacionadas a um padrão que reflete o crescimento e
desenvolvimento, compondo a avaliação nutricional (ROSSI, 2005).

Com esses dados, conseguimos estudar a composição corporal humana e


seus diversos constituintes, como a massa corporal total, expressa por percentuais
de gordura e massa magra (COSTA, 2001).

Nesse sentido, o estudo da composição corporal se faz de suma impor-


tância na avaliação de indivíduos saudáveis, doentes, praticantes de exercício
físico e atletas de alto nível, possibilitando o entendimento de processos relacio-
nados com a mortalidade e morbidade, como no caso da obesidade, alterações
no processo de crescimento e desenvolvimento, aptidão física, treinamento e
desempenho esportivos (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015).

2 VARIÁVEIS APLICADAS NA AVALIAÇÃO DA


COMPOSIÇÃO CORPORAL
Segundo Guedes e Guedes (1998), as informações referentes à composição
corporal ganham destaque nos programas de controle da massa corporal que
exigem acompanhamento criterioso quanto ao aconselhamento nutricional
e a prescrição de exercícios físicos. Devem ser considerados os principais
componentes de variações na composição corporal como os ossos, os músculos e
a gordura (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015).

É possível dividir a massa corporal em massas gorda e magra, quando, de


maneira geral, pode-se adotar como média que o tecido adiposo, em indivíduos
saudáveis dos gêneros masculino e feminino, represente aproximadamente 15 e
23% da massa corporal total, respectivamente, e o restante é considerado massa
magra (MM) – 75 a 85%.

59
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Para verificação da composição corporal, tem-se os métodos diretos,


indiretos e duplamente indiretos (Figura 1). Os métodos indiretos também
referenciados como “padrão-ouro” utilizam equipamentos complexos, como
tomografia computadorizada (TC), densitometria óssea (DEXA – dual-energy
X-ray absorptiometry), ultrassonografia, tanque de pesagem hidrostática; todavia,
embora sejam aceitos e válidos, apresentam em comum as seguintes limitações
para estudos de campo: gastam muito tempo para uma única determinação, os
equipamentos são de alto custo ou há necessidade de laboratório de pesquisa,
além disso, precisam de pessoal técnico especializado para os procedimentos e
geralmente exigem alto grau de participação do indivíduo.

FIGURA 1 – METODOLOGIAS DE ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL

FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 160)

Nesse sentido, os métodos duplamente indiretos são considerados


como os de primeira opção, representando facilidade e rapidez na coleta, não
invasibilidade, facilidade de interpretação, pequenas restrições culturais, baixo
grau de colaboração do avaliado, reprodutibilidade, sistemática de análise da
composição corporal e condições pré-avaliatórias simples, entre outras vantagens.
Esse método exige um avaliador treinado e experiente, escolha de equipamento e
de protocolos adequados para obtenção e discussão dos resultados.

Suas técnicas consistem basicamente em realizar as mensurações de


dobras cutâneas, perímetros e diâmetros ósseos, em vários segmentos amostrais.
Esse princípio baseia-se no pressuposto de que, em adultos saudáveis, metade a
1/3 da gordura corporal é subcutânea e apresenta boa relação entre gordura na
área subcutânea e densidade corporal (CYRINO et al., 2003).
60
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

2.1 DOBRAS CUTÂNEAS


A obtenção das dobras cutâneas (DC) é uma das medidas antropométricas
mais comumente utilizada nas estimativas de parâmetros da composição
corporal e, como procedimento de estudo, está alicerçada na observação de que
grande quantidade de gordura corporal total se encontra no tecido subcutâneo.
Dessa maneira, medidas quanto à sua espessura serviriam como indicador da
quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. Normalmente, as
medidas de bíceps e tríceps já são suficientes como medidas preestabelecidas,
porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realização de dobras
cutâneas (GUEDES; GUEDES, 2002).

As dobras mais referenciadas na literatura e que compõem a maioria das


equações antropométricas preditivas para determinação da gordura corporal
são: tríceps, bíceps, subescapular, abdominal, axilar média, peitoral, supra ilíaca,
coxa e panturrilha (COSTA, 2001). As considerações gerais para a realização de
medidas de dobras estão no Quadro 1.

Medir sempre o hemicorpo direito, a menos que haja uma recomendação


específica (lado não dominante), estando o avaliado em uma posição cômoda e
com a musculatura relaxada. Ao medir, é imprescindível a determinação exata
do ponto anatômico, de preferência conforme a padronização, além de seguir
o procedimento técnico adequado, minimizando as diferenças inter e intra-
avaliadores. Segue passo a passo:

Separar o tecido adiposo subcutâneo do tecido muscular e estruturas


mais profundas, por meio dos dedos polegar e indicador da mão esquerda. Des-
tacar a DC colocando o polegar e o dedo indicador, separados por, aproxima-
damente, 8 cm entre si, sobre uma linha perpendicular ao eixo que acompanha
a dobra da pele.

Quanto mais espesso for o tecido subcutâneo, maior deverá ser a


distância entre o polegar e o dedo indicador para destacar a dobra. Ajustar
as extremidades do equipamento cerca de 1 cm do ponto anatômico. Elevar a
dobra cutânea por volta de 1 cm acima do ponto de medida e mantê-la elevada
enquanto faz a medida (Figura 3).

Ao finalizar, soltar a pressão das hastes do compasso lentamente e


aguardar de dois a quatro segundos para fazer a leitura, dependendo do
plicômetro/adipômetro e da habilidade do avaliador. Realizar três medidas de
cada dobra alternadas, tirar a média ou considerar o valor intermediário. Abrir o
compasso lentamente e liberar a DC, evitando “beliscar” o avaliado.

61
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

QUADRO 1 – ORIENTAÇÃO PARA MEDIDAS DAS DOBRAS CUTÂNEAS

62
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 164)

FIGURA 2 – LOCAIS DE PADRONIZAÇÃO PARA MEDIÇÃO DAS DOBRAS CUTÂNEAS

Legenda: A. Tríceps; B. Bíceps; C. Subescapular; D. Abdominal; E. Axilar média; F. Peitoral


feminino; G. Peitoral masculino; H. Suprailíaca; I. Coxa; J. Panturrilha.
FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 163)

Para medir as dobras cutâneas, é utilizado um equipamento específico,


que recebe diversas designações: compasso de dobras cutâneas, espessímetro,
plicômetro ou adipômetro. Esse equipamento tem como aplicação a medição
da espessura do tecido adiposo em determinados pontos da superfície corporal,
conforme descritos anteriormente (Figura 3).

63
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

FIGURA 3 – DIFERENTES PLICÔMETROS ENCONTRADOS NO MERCADO

Legenda: A. Digital Fat Track Pro; B. Lange; C. Body Caliper; D. Sanny clínico; E. Sanny científico;
F. Cescorf clínica; G. Cescorf científico.
FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 169)

2.2 CIRCUNFERÊNCIA OU PERÍMETRO


As medidas são feitas com auxílio de fita métrica flexível, porém
não elástica, com precisão de 1 mm (Quadro 2). Essa fita métrica deve ter, de
preferência, somente uma marcação numérica do lado destinado à leitura e 7
mm de largura. No Quadro 2 estão relacionadas as medidas de circunferências
mais utilizadas na prática nutricional. Para realização das medidas corporais são
considerados os seguintes tópicos:

O plano da fita deve estar adjacente à pele, e suas bordas, perpendiculares


em relação ao eixo do segmento que se quer medir (com exceção da medida do
perímetro da cabeça e do pescoço). Medir o perímetro em sua extensão máxima,
com o zero da fita estando por baixo do valor da leitura. Realizar as mensurações
exercendo leve pressão sobre a pele, evitar apertar excessivamente a fita. Para
manter constante a pressão exercida sobre a pele, é interessante prender um
elástico na extremidade do instrumento; durante a realização da medida, procurar
mantê-lo estendido. Não deixar o dedo entre a fita e a pele e, sempre que possível,
medir sobre a pele nua. Nos casos das mensurações das circunferências de tronco,
cintura e abdome, realizar a leitura na fase final da expiração normal.

Mas em que as medidas de circunferência podem auxiliar-nos? Elas


podem contribuir com os estudos de crescimento em crianças, fornecer índices
de estado nutricional e níveis de gordura (estimativas indiretas), assim como,
facilitar estudos de composição corporal de indivíduos jovens, idosos e crianças
por ser um modo de mensuração antropométrica simples, rápido e mais adequado
a essas populações.
64
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

QUADRO 2 – LOCAIS DE PADRONIZAÇÃO E PROPÓSITO PARA MEDIÇÃO DAS


CIRCUNFERÊNCIAS CORPORAIS

65
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 173)

2.3 BIOIMPEDÂNCIA
Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), a análise de BIA (Bioimpedância
– Figura 4) é um método rápido, não invasivo e relativamente barato de ava-
liação da composição corporal. O método baseia-se na passagem de corrente
elétrica de baixa amplitude (50 a 800 mA) e alta frequência (50 kHz).

FIGURA 4 – DIFERENTES TIPOS DE APARELHOS DE BIOIMPEDÂNCIA

Legenda: A. Biodynamics; B. Tanita


FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 180)

66
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

Com esse método, uma corrente elétrica de baixo nível passa pelo corpo e
a impedância (Z), ou oposição ao fluxo da corrente, é a medida com analisador de
BIA. A água corporal total (ACT) de um indivíduo pode ser estimada pela medida
de impedância, pois os eletrólitos na água corporal são excelentes condutores de
corrente elétrica.

Quando o volume da ACT é grande, a corrente flui mais facilmente pelo


corpo com menor resistência (R). A resistência ao fluxo da corrente será maior
em indivíduos com grande quantidade de gordura corporal, pelo fato de o
tecido adiposo ser um mau condutor de corrente elétrica por sua relativa baixa
concentração de água (ROSSI, 2005).

Como o conteúdo de água da massa livre de gordura (MLG) é relativamente


grande (73% de água), esta pode ser predita por meio das estimativas de ACT. Dessa
maneira, é importante observar que a BIA não mede diretamente a composição
corporal, mas a resistência e a reatância, tendo como finalidade, estimar a água
corporal total e, a partir desta, a massa isenta de gordura, na qual, subtraindo esse
valor da massa corporal, obtém-se o percentual de gordura (ROSSI; CARUSO;
GALANTE, 2015)

Comparando a exatidão relativa do método de BIA ser compatível ao de


DC, a BIA deve ser preferida em algumas situações, as quais serão pontuadas no
Quadro 3:

Não requer alto grau de habilidade do avaliador, em sua maioria, é mais


confortável e não invade tanto a privacidade do indivíduo. Seu uso potencial está
sendo estabelecido para aplicações clínicas, como avaliação de %G, MM, ACT,
entre outras.

QUADRO 3 – FATORES INTERVENIENTES NA APLICAÇÃO DO MÉTODO DE BIOIMPEDÂNCIA

67
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Legenda: BIA = bioimpedância; R = resistência


FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 182)

Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), a principal fonte de erro do


método de BIA é a variabilidade intraindividual na resistência total do corpo,
devido a fatores que alteram o estado de hidratação do indivíduo. Entre 3,1 e
3,9% da variação na resistência podem ser atribuídos às flutuações diárias na
água corporal. O protocolo que deve ser obedecido pelo avaliado para a obtenção
de um teste de BIA mais fidedigno em suas diferentes aplicações é o seguinte:

• Jejum de pelo menos 4 horas.


• Não fazer exercícios antes de 12 horas do teste.
• Urinar pelo menos 30 minutos antes do teste.
• Não consumir álcool antes de 48 horas do teste.
• Não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que
sob prescrição médica).
• Manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito dorsal em repouso
absoluto antes de efetuar o exame.
• Mulheres que percebam que estão retendo água durante estágio de seu ciclo
menstrual não devem realizar o teste (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015).

3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL EM PRATICANTES


DE EXERCÍCIO FÍSICO E ATLETAS
Você deve lembrar que o bom estado nutricional é resultado do equilíbrio
entre a ingestão de alimentos e as necessidades nutricionais. Nesse sentido,
a avaliação do estado nutricional exige a utilização de vários métodos que
analisados em conjunto permitirão traçar o perfil nutricional do atleta. Dentre os
métodos que estudaremos a seguir está a avaliação antropométrica e composição
corporal, sendo ainda importantes os exames bioquímicos e anamnese alimentar.
68
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

Em geral, a população de atletas, adolescentes ou adultos, tem uma boa


porcentagem de massa magra com baixas porcentagens de gordura, isso em com-
paração com os indivíduos não atletas. Na maioria das vezes, a porcentagem de
gordura corporal mínima é de aproximadamente 5 e 12% para homens e mulhe-
res, respectivamente. Todavia, cabe destacar que existem esportes em que não se
requer uma porcentagem de gordura baixa, como no sumô e lançamento de tiro.

O conceito de saúde e composição corporal saudável abrange mais do


que a determinação da porcentagem de tecido adiposo ou da gordura corporal.
O estado de saúde reflete um equilíbrio entre vários fatores, um dos quais está
refletido na composição corporal em função da acumulação de gordura (ROSSI;
CARUSO; GALANTE, 2015).

Ao utilizar das dobras cutâneas para podermos identificar o percentual de


gordura corporal dos esportistas e atletas, devemos realizar cálculos matemáticos,
conforme as fórmulas apresentadas no Quadro 4, as quais terão como resultado
a densidade corporal (DC).

QUADRO 4 – EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DE DENSIDADE CORPORAL (DC) COM BASE EM


ESPESSURAS DE DOBRAS CUTÂNEAS

Legenda: Ʃ= somatório das dobras cutâneas; D ou DC = densidade corporal; %G percentagem


de gordura corporal.
FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998)

69
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Por meio da densidade corporal dos indivíduos avaliados, calcula-se o


percentual de gordura, empregando-se a equação proposta por Siri (1961) ou a de
Lohman (1986), conforme Quadro 5 e Tabela 1, respectivamente.

QUADRO 5 – EQUAÇÃO PARA CÁLCULO DE PORCENTAGEM DE GORDURA (%GC) COM BASE


NA DENSIDADE CORPORAL

Legenda: DC = densidade corporal; %G percentagem de gordura corporal.


FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998)

TABELA 1 – ADEQUAÇÃO DA FÓRMULA DE SIRI – LOHMAN (1986)

Legenda: D = densidade corporal.


FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998)

São várias as fórmulas existentes para estimativa de composição corporal,


todavia a mais indicada no caso de atleta é a de Jackson e Pollock de sete dobras.

E
IMPORTANT

Inicialmente, já destacamos que alguns índices utilizados na população geral


não têm sido considerados os melhores métodos para a avaliação da composição corporal
em atletas e devem ser utilizados com certa precaução, por exemplo, o índice de massa
corporal ou IMC (kg/m2). A razão dessa confusão pode ser porque o IMC não discrimina
a MLG e a MG, já que se utiliza o peso total aferido na balança. Nesse contexto, é típico
de atletas magros, com um elevado desenvolvimento músculo esquelético, apresentarem
valores elevados de IMC (acima de 25 e 30 kg/m2), sendo incorreto concluir que podem
ser classificados como indivíduos com sobrepeso ou com obesidade.

70
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

A classificação de adequação do %G baseia-se nos padrões propostos


por diferentes autores, conforme Quadros 6, 7, 8 e 9 e deve ser utilizada para a
avaliação do risco de doenças relacionadas tanto com a deficiência quanto com o
excesso de gordura e também para o cálculo da massa corporal (ROSSI; CARUSO;
GALANTE, 2015).

QUADRO 6 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA AMBOS OS


GÊNEROS

FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 697)

QUADRO 7 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA O SEXO


MASCULINO, DE ACORDO COM POLLOCK E WILMORE (1993)

FONTE: Adaptado de Pollock e Wilmore (1993)

QUADRO 8 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA O SEXO FEMININO,


DE ACORDO COM POLLOCK E WILMORE (1993)

71
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

FONTE: Adaptado de Pollock e Wilmore (1993)

QUADRO 9 – PADRÃO DE RESULTADO DE AVALIAÇÃO FÍSICA POR IDADE E SEXO

FONTE: Pollock e Wilmore (1993, p. 56)

A gordura é um componente do corpo humano que se acumula no tecido


gordo ou tecido adiposo (TA). Na atualidade, se reconhece que o tecido adiposo,
além de ser uma reserva de lipídeos, é um órgão endócrino que produz uma
variedade de hormônios e citocinas que regulam o metabolismo e influenciam
a composição corporal. A diferenciação entre gordura e TA na linguagem
normalmente é irrelevante, e os termos são usados sem distinção como sinônimos.
Mesmo assim, no campo da composição corporal e do metabolismo, a gordura e o
TA são conceitos diferentes (GUEDES; GUEDES, 1998).
72
TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL

A variabilidade no mesmo indivíduo, pode ser também considerável, ao


longo do tempo, se este passar por sucessivas fases de obesidade e magreza.

O peso corporal pode ser funcionalmente dividido em dois componentes:


massa corporal livre de gordura (MLG), a qual inclui tecido e componentes que
estão funcionalmente envolvidos na produção e condução de força, e a massa
gorda (MG). A influência da MLG e MG é complexa, tendo ambos efeitos negativos
e positivos, dependendo do tipo de atividade física que se deseja realizar. Nesse
contexto, de maneira geral, a gordura corporal tem influência negativa na atuação
esportiva, tanto em nível metabólico quanto mecânico, principalmente nas
atividades em que se requer deslocamento de peso corporal. Para um corredor de
distância, por exemplo, a gordura representa um peso morto que deve mobilizar,
enquanto os componentes da MLG incluem tecidos que produzem e conduzem
força, como os músculos.

Por sua vez, os nadadores, podem ter certa quantidade de gordura que
influenciará de forma positiva sua flutuação na água e uma alta porcentagem
de MLG pode ter efeitos negativos, como menor flutuação, além de aumentar
a demanda energética para o deslocamento do corpo na água (GUEDES;
GUEDES, 1998).

DICAS

Para saber mais sobre métodos de avaliação da composição corporal de


atletas, leia o artigo: Comparação entre métodos de avaliação da composição corporal
em atletas: uma revisão sistemática, disponível em: http://www.rbne.com.br/index.php/
rbne/article/view/1478.

73
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A avaliação da composição corporal se faz de suma importância para conhecer


o padrão de saúde/doença dos indivíduos.

• Para avaliar a composição corporal existem três métodos, os métodos diretos,


indiretos e duplamente indiretos, sendo que os métodos indiretos são
considerados padrão ouro pela assertividade da composição corporal e os
métodos duplamente indiretos são os mais práticos e aplicáveis em clínicas.

• Para aferição das medidas antropométricas é importante o avaliador ser


treinado, para padronização e assertividade do resultado de percentual de
gordura corporal do atleta, considerando a aferição das dobras por três vezes e
a realização da média dessas.

• Além da aferição das dobras cutâneas, os perímetros também são importantes


para acompanhar estado de saúde e crescimento da musculatura, quando este
for o objetivo.

• A bioimpedância é um método rápido, não invasivo e relativamente barato


de avaliação da composição corporal, muitas vezes preferido ao método de
aferição das dobras.

• Há várias fórmulas para calcular a densidade corporal de atletas, sendo que a


mais indicada é a de Jackson e Pollock (1988).

74
AUTOATIVIDADE

1 Em geral, a população de atletas, tem uma boa porcentagem de massa


magra com baixas porcentagens de gordura, isso em comparação com os
indivíduos não atletas. Em relação à composição corporal, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O excesso de gordura corporal melhora o desempenho quando se requer


aceleração do corpo tanto na vertical quanto na horizontal, porque se
soma o peso de uma massa que não está produzindo força.
( ) Em um corredor de distância, a massa gorda representa um peso morto
que deve ser movido, enquanto os componentes da massa livre de
gordura incluem os tecidos que produzem e conduzem a força.
( ) A gordura corporal, no geral, influencia negativamente nas modalidades
esportivas que requerem agilidade, velocidade, resistência, deslocamento
e saltos.
( ) A fórmula de Jackson e Pollock tem como resultado a densidade corporal
do atleta, sendo necessário para avaliar a composição corporal aplicar a
fórmula de Siri.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F, V, V, V.
b) ( ) F, V, F, V.
c) ( ) V, F, V, F.
d) ( ) V, V, V, F.
e) ( ) F, V, V, F.

2 A gordura é um componente do corpo humano que se acumula no


tecido adiposo (TA). Na atualidade, se reconhece que o tecido adiposo,
além de ser uma reserva de lipídeos, é um órgão endócrino que produz
uma variedade de hormônios e citocinas que regulam o metabolismo e
influenciam a composição corporal. Descreva como o peso corporal pode ser
funcionalmente dividido e a influência desses componentes no organismo
de um esportista/atleta.

3 A bioimpedância (BIA) é um método rápido, não invasivo e relativamente


barato de avaliação da composição corporal, que se baseia na passagem
de corrente elétrica de baixa amplitude (50 a 800 mA) e alta frequência (50
kHz). Para avaliação utilizando a BIA, deve ser seguido um protocolo, o
qual consiste em:

75
a) ( ) Fazer jejum de pelo menos 12 horas; não fazer exercícios antes de
24 horas do teste; urinar pelo menos 60 minutos antes do teste; não
consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos
diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição
médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito
dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame.
b) ( ) Fazer jejum de pelo menos 4 horas; não fazer exercícios antes de
12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não
consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos
diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição
médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito
dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame.
c) ( ) Fazer jejum de pelo menos 8 horas; não fazer exercícios antes de
12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não
consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos
diuréticos antes de sete dias do teste.
d) ( ) Fazer jejum de pelo menos 24 horas; não fazer exercícios antes de
12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não
consumir álcool antes de 8 horas do teste; não tomar medicamentos
diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição
médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito
dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame.
e) ( ) Não há critérios a serem seguidos.

4 A avaliação do estado nutricional exige a utilização de vários métodos


que analisados em conjunto permitirão traçar o perfil nutricional do
atleta. Dentre os métodos, estão a avaliação antropométrica e composição
corporal, sendo ainda importantes os exames bioquímicos e anamnese
alimentar. Nesse sentido, qual método de avaliação do estado nutricional
não é indicado para atletas? Justifique.

5 A obtenção das dobras cutâneas (DC) é uma das medidas antropométricas


mais comumente utilizada nas estimativas de parâmetros da composição
corporal e, como procedimento de estudo, está alicerçada na observação
de que grande quantidade de gordura corporal total se encontra no tecido
subcutâneo. Dessa maneira, medidas quanto à sua espessura serviriam
como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do
corpo. Normalmente, apenas duas medidas já são suficientes como medidas
preestabelecidas, quais são elas?

76
a) ( ) Bíceps e subescapular já são suficientes como medidas preestabele-
cidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a
realização de dobras cutâneas.
b) ( ) Panturrilha e coxa já são suficientes como medidas preestabelecidas,
porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realiza-
ção de dobras cutâneas.
c) ( ) Bíceps e tríceps já são suficientes como medidas preestabelecidas,
porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a reali-
zação de dobras cutâneas.
d) ( ) Abdominal e tríceps já são suficientes como medidas preestabeleci-
das, porém já foram relatados mais de 13 locais anatômicos para a
realização de dobras cutâneas.
e) ( ) Bíceps e panturrilha já são suficientes como medidas preestabelecidas,
porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realiza-
ção de dobras cutâneas.

77
78
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

1 INTRODUÇÃO

Olá acadêmico, espero que esteja gostando de se aprofundar no


mundo da nutrição esportiva. Agora, discutiremos a relação das necessidades
nutricionais no esporte. No que diz respeito à disponibilização de energia por
parte dos macronutrientes, veremos, inicialmente, os conceitos e depois faremos
a correlação com os suplementos alimentares. Em relação aos macronutrientes,
é importante relembrar que os carboidratos, além de fazerem parte da
disponibilidade rápida de energia, também são armazenados no músculo
esquelético e no fígado, na forma de glicogênio.

As proteínas são hidrolisadas até aminoácidos e também podem fornecer


energia, porém, de forma mais lenta que o carboidrato, sendo por intermédio
da alanina, aminoácido convertido em glicose no fígado, e a continuação se
armazena na forma de glicogênio hepático e através dos aminoácidos isoleucina,
alanina, leucina e valina, que podem ser convertidos em intermediários
metabólicos, participando do metabolismo energético diretamente na célula
muscular. Quanto ao lipídio, além de ser fonte energética, é estocado no
tecido adiposo na forma de triacilgliceróis que, quando hidrolisados em seus
componentes – glicerol, ácidos graxos –, podem ser utilizados como substratos
durante o exercício (BACURAU, 2009).

Já é bem descrito na literatura que a alimentação está entre os fatores que


mais afetam a qualidade de vida da população. A adequação da dieta é essencial.
Ela deve conter macro e micronutrientes de forma a balancear o gasto energético
e a ingestão calórica diária, atendendo as necessidades biológicas, considerando
que a ausência de um nutriente pode prejudicar a disponibilidade, absorção,
metabolismo e/ou as necessidades dietéticas de outros elementos (MAHAN;
ESCOTT-STUMP, 2011). Nesse contexto, cabe destacar que um desequilíbrio
contínuo no balanço energético resulta em variações na composição corporal,
refletindo diretamente na saúde e no desempenho do atleta, pois ocorrem
perdas de tecido adiposo e massa muscular (músculo esquelético), já que o corpo
utilizará desse recurso como substrato energético em situações de estresse,
precedendo um declínio da força e queda do rendimento físico (BIESEK; ALVES;
GUERRA, 2015).

79
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

NOTA

Massa magra é apenas a massa muscular, por sua vez, a massa livre de gordura
é a soma da massa muscular (massa magra) com o peso ósseo e o peso residual, ou seja,
é tudo, subtraindo-se o peso da gordura essencial.

A nutrição é de suma importância, influenciando diretamente na


intensidade e processo de recuperação para as próximas sessões de treinamento.
Mais uma vez, destaca-se aqui o consumo dos nutrientes em proporções
adequadas e em momentos-chaves, pois otimizarão o processo de recuperação
muscular pós-treino (KRAEMER; FRAGALA; VOLEK, 2008).

2 ATENDIMENTO NUTRICIONAL
O atendimento nutricional visa à promoção da saúde do paciente por
meio da recuperação ou manutenção do estado nutricional, além de alcançar
os objetivos estéticos de composição corporal de cada um. Nessas condições, o
nutricionista necessita ter em mãos o diagnóstico nutricional para que a prescrição
dietética esteja direcionada aos objetivos pretendidos.

E com podemos elaborar um diagnóstico nutricional efetivo?

O diagnóstico nutricional é elaborado mediante as informações obtidas


pela anamnese alimentar e complementada por dados dietéticos, antropométricos,
bioquímicos e de composição corporal. Pois, como já é sabido, a anamnese
disponibiliza dados subjetivos, necessitando ser complementada por dados
objetivos, os quais são fornecidos pelos demais indicadores do estado nutricional
do paciente.

A palavra anamnese origina-se do grego aná (recordar) e mnesis (memória),


portanto, pode ser definida como uma entrevista que possibilita o levantamento
detalhado dos antecedentes fisiológicos, patológicos e socioeconômico-culturais
do paciente/cliente e de seus familiares, com a finalidade de facilitar o diagnóstico,
já que, ao ouvi-lo, o entrevistador pode formular hipóteses sobre as queixas
relatadas. Nesse sentido, para uma anamnese bem-sucedida é necessário um bom
planejamento e os seguintes aspectos devem ser considerados.

Inicialmente deve-se considerar que durante a entrevista, muitas


informações serão registradas. A anamnese dirigida caracteriza-se por formulário
para anotações e roteiro com questões predefinidas (Quadro 10).

80
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

O detalhamento de cada pergunta depende da idade do paciente, de


suas queixas e do estado de saúde física e mental. Importante destacar que,
enquanto o entrevistado estiver falando, é conveniente não digitar ou anotar
nada. É importante olhar diretamente para o paciente, algumas pessoas podem
se sentir desprestigiadas caso não recebam a atenção esperada. Quando não for
possível evitar o registro da informação, convém avisar o entrevistado de que é
necessário fazer algumas anotações do que está sendo relatado (ROSSI; CARUSO;
GALANTE, 2015).

QUADRO 10 – MODELO DE ANAMNESE ALIMENTAR


Nutricionista: CRN:
Data: / /

 Nome:
 Idade: Data de nascimento:
 Sexo:
 Telefone para contato:
 Dependentes: Quantos: Idade:
 Renda familiar estimada:
 Quantas pessoas residem em sua moradia:
 Escolaridade:
 Profissão:

 Motivo da consulta:

 Ingestão alimentar habitual: ( ) houve alterações


( ) não houve alterações
 Há quanto tempo:
 Houve perda ou ganho de peso? Quanto?
 Vícios? Quais? Quanto tempo?
 Disfunções gastrintestinais: ( ) sim ( ) não
 Qual:
 Há quanto tempo: Tratamento:

 Tem gases? Frequência:


 Função intestinal: ( ) normal ( ) constipado
 Quanto tempo:

81
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

 Como são as suas fezes (escala de bistrol)?


 Tem dores de cabeça frequente? Enxaqueca?
 Histórico familiar de doenças crônicas existentes em sua família:
( ) diabetes ( ) HAS ( ) cardiopatias ( ) dislipidemias
( ) câncer ( ) obesidade... Outras? Quais?
 Cirurgias e internações hospitalares:
 Uso de medicamentos frequentes: ( ) sim ( ) não
 Quais?
 Faz uso de plantas medicinais ou fitoterápicos?
 Quais?

Anamnese alimentar detalhada:


Perguntar sobre todas as refeições realizadas no dia (café da manhã, lanches, almoço,
jantar, ceia, pré-treino, pós-treino) e todos os alimentos consumidos relacionando com
os horários de realização dos exercícios e com a intensidade (como ele interpreta a
respiração).

 Tratamento dietético anterior: ( ) sim ( ) não Resultado:


 Profissional que orientou:
 Número de refeições diárias:
 Local das refeições:
 Tempo de cada refeição:
 Quem prepara as refeições:
 Relação com as atividades físicas realizadas:
 Horário de maior concentração alimentar:
 Aversões alimentares: ( ) sim ( ) não
 Alimentos:
 Preferências alimentares:
 Alergia alimentar: ( ) sim ( ) não
 Alimentos:
 Compulsão alimentar: ( ) sim ( ) não
 Alimentos:
 Ingestão de água:
 Consumo de frituras:
 Consumo de doces:
 Consumo de café:

82
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

 Uso de alimentos diet/light:

 Exame Físico:
Cabelo
Olhos
Língua
Mucosas
Unhas
Pele
Perda de gordura subcutânea
Perda muscular
Presença de edema
Presença de ascite

ESTABELECER OBJETIVOS PARA A PRIMEIRA CONSULTA

Avaliação antropométrica

 Peso atual: Peso usual:


 Peso desejado:
 Peso teórico:
 Estatura: IMC:
 CB:
 CMB (cm): CB – 0,314 x PCT =
 PCT:
 PCB: PCSE:
 PCSI: Pabd:
 PAM: PToráxica:
 PCoxa: Ppanturrilha:
 CC: CQ:
 Circunferência da panturrilha:
 % Gordura:
 Retenção de líquido:

 Necessidades energéticas:

 Distribuição das necessidades energéticas no dia:


FONTE: A autora

83
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Evidentemente, cabe ao nutricionista definir a abrangência da anamnese,


considerando a especialidade, os objetivos, as características da população
assistida (faixa etária, nível de instrução, condição econômica etc.), local (hospital,
ambulatório, domicílio etc.), tempo disponível, entre outras.

3 CÁLCULOS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS


Nosso corpo necessita de energia para manter suas várias funções, como
a respiração, circulação, metabolismo, atividade física e síntese proteica, a qual
é fornecida pelos alimentos e bebidas que o indivíduo consome, os quais são
compostos por carboidratos, proteínas, gordura e álcool da dieta.

O balanço energético do indivíduo provém da relação entre a ingestão e


o gasto energético que depende de vários fatores, como idade, gênero, atividade
física e composição corporal.

A necessidade estimada de energia (EER – Estimated Energy Requirement)


é a quantidade média de ingestão de energia suficiente para manter o balanço
energético de indivíduos saudáveis, de acordo com idade, gênero, peso, altura e
nível de atividade física, compatível com uma boa saúde.

Nesse sentido, as DRIs fornecem equações para se calcular a EER de


indivíduos. Essas equações devem ser utilizadas com cautela, pois fornecerão
apenas uma estimativa das necessidades energéticas individuais, já que o valor
de EER é o ponto médio de um intervalo.

Para adultos, as equações de EER foram desenvolvidas tendo-se como


referência indivíduos com índice de massa corporal (IMC) dentro da faixa de
eutrofia (entre 18,5 kg/m2 e 24,99 kg/m2), utilizando metodologia da água
duplamente marcada.

As equações são apresentadas no Quadro 11. Para crianças, mulheres


grávidas e lactantes, os valores de EER suprem as necessidades requeridas para
o crescimento, deposição de tecidos e produção de leite. Além disso, as equações
também levam em consideração o nível de atividade física de cada um, o que
deve ser criteriosamente avaliado no caso de elaboração de cardápio para atletas
(ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015).

84
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

E
IMPORTANT

Como já visto em outras disciplinas, as equações preditivas de necessidade


energética são várias que remontam de 1918, com Harris e Benedict, até os dias de hoje,
com as fórmulas mais atuais da IOM, conforme apresentado a seguir.

Essas equações fornecem apenas uma estimativa das necessidades


energéticas. Vale ressaltar que o melhor indicador da adequação energética é o
peso corporal do indivíduo, isto é, se o peso está adequado, deficiente ou em
excesso, pois ele está fortemente relacionado à ingestão pelo indivíduo.

Cabe destacar que o desvio padrão (DP) da necessidade de energia


estimada para crianças e adolescentes com IMC dentro do intervalo de
normalidade, de acordo com idade, gênero, peso e atividade física, é 58 kcal para
o gênero masculino e 68 kcal para o gênero feminino.

No caso de adultos com IMC dentro do intervalo de normalidade, de


acordo com idade, gênero, peso e atividade física, o DP da necessidade de energia
é 199 kcal para o gênero masculino e 162 kcal para o gênero feminino. O nível de
atividade física (NAF) é expresso segundo categorias de intensidade.

Os coeficientes de atividade, segundo faixa etária e nível de atividade,


são:

• Para meninos e meninas de três a 18 anos:


○ Atividade sedentária para ambos os gêneros: 1
○ Atividade leve para meninos: 1,13; atividade leve para meninas: 1,16
○ Atividade moderada para meninos: 1,26; atividade moderada para meninas:
1,31
○ Atividade intensa para meninos: 1,42; atividade intensa para meninas: 1,56.

• Para homens e mulheres de 19 anos ou mais:


○ Atividade sedentária para ambos os gêneros: 1
○ Atividade leve para homens: 1,11; atividade leve para mulheres: 1,12
○ Atividade moderada para homens: 1,25; atividade moderada para mulheres:
1,27
○ Atividade intensa para homens: 1,48; atividade intensa para mulheres: 1,45.

Para a avaliação e o planejamento de dietas de indivíduos e/ou grupos, a


escolha da DRI a ser utilizada dependerá do propósito ao qual se destina.

85
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

QUADRO 11 – FÓRMULAS PREDITIVAS PARA CÁLCULO DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS

Legenda: EER = necessidade estimada de energia; NAF = nível de atividade física; *EER (kcal/
dia) = gasto energético total + energia de depósito; **EER (kcal/dia) = gasto energético total;
***EER (kcal/dia) = EER de mulheres + energia de depósito para a gestação; ****EER = EER de
mulheres + energia para a produção de leite a perda de peso.
FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 98-99)

Como estamos considerando o público de esportistas e atletas, há um


sistema de classificação de consumo energético conhecido como Compêndio de
Atividades Físicas, no qual as atividades são agrupadas conforme seus objetivos
e intensidade expressa em valores de METs (Múltiplos da Taxa Metabólica de
Repouso), nos quais 1 MET (consumo de O2 em repouso) = 3,5 mL O2/kg peso
corporal/min, oferecendo flexibilidade para se determinar o custo energético.

Esse sistema foi baseado, primeiramente, nos dados publicados


previamente, podendo não refletir com exatidão o custo energético de todas as
atividades. Os valores são médios, não considerando a realização das atividades
com mais ou menos vigor, dependendo da pessoa. Também, os valores de MET de
algumas atividades não foram obtidos por meio de medidas diretas do consumo

86
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

de oxigênio, mas sim do custo energético de atividades com padrões equivalentes


de movimento, ressaltando que as estimativas podem não ser tão precisas com
relação aos valores médios do MET.

O compêndio não considera as diferenças individuais na eficiência


de movimentos, todavia, as variações na descrição das atividades podem ser
diminuídas se as pessoas forem instruídas sobre como classificar corretamente
o gasto energético de suas atividades, tendo uma padronização nas técnicas de
coleta dos dados e entrevistadores treinados (TINOCO, 2002).

Para o cálculo do gasto energético a partir dos METs tem as seguintes


variáveis:

• Multiplicando-se o peso corporal em Kg pelo valor do MET do exercício e pela


duração da atividade.
• Fórmula:

(Kg x MET) x (tempo em minutos/60 min)

• Exemplo: pedalar em uma intensidade equivalente a 6 METs, gasta 6 Kcal.Kg-


.h-1, ou seja, uma pessoa de 70 Kg, pedalando por 30 minutos, irá gastar o
seguinte: (6 METs X 70 Kg) X (30min/60min) = 210 Kcal. Dividindo-se 210 Kcal
pelos 30 minutos de atividade, obtém-se 7 Kcal.min-1

QUADRO 12 – MODELO DO COMPÊNDIO DE ATIVIDADES FÍSICAS

FONTE: Tinoco (2002, p. 55)


87
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

DICAS

No link, a seguir, você tem acesso ao artigo: Apresentação de uma Versão em


Português do Compêndio de Atividades Físicas: uma contribuição aos pesquisadores e
profissionais em Fisiologia do Exercício, que traz em seu anexo o compêndio completo:
https://bit.ly/3zORVEr.

Além do compêndio completo no artigo supracitado, no site Cooperativa do Fitness, o


cálculo é realizado com o preenchimento dos dados do indivíduo, acesse: https://www.
cdof.com.br/nutri1.htm.

4 RECOMENDAÇÃO PARA CONSUMO DE


MACRONUTRIENTES
Destaca-se que, além da ingestão ideal de energia, o consumo de quan-
tidades adequadas de carboidratos, proteínas e lipídios é de suma importância
para os atletas otimizarem seu treinamento e desempenho. Quanto ao carboidra-
to, no que se refere ao desempenho no exercício, é evidente a sua necessidade
antes, durante e após as sessões intensas e de alto volume de treinamento e com-
petição (CERMAK; VAN LOON, 2013).

Nessas condições, já é sabido que atletas envolvidos no treinamento


de volume moderado e alto precisam de maiores quantidades de carboidratos
e proteínas do que as recomendadas pelas DRI em sua dieta para atender às
necessidades de macronutrientes (BURKE et al., 2011).

Nos treinamentos de força, o uso de carboidratos está diretamente


relacionado com processos de hipertrofia muscular associados a outros
macronutrientes, como a proteína (GENTIL et al., 2006). Isso ocorre porque,
durante o treinamento de força, o carboidrato armazenado na forma de glicogênio
no músculo é mais rapidamente acessível, caracterizando o padrão metabólico do
exercício (CHANDLER; BROWN, 2009).

Quando se discute a quantidade de carboidrato a ser consumido, deve-


se ressaltar que o próprio exercício resistido é capaz de modular os estoques de
glicogênio intramuscular, tanto em fibras de contração rápida quanto em fibras
de contração lenta (HARGREAVES, 2000), em que a depleção de glicogênio,
mesmo que parcial, afetaria o desempenho muscular, ocasionando fadiga
(HARGREAVES, 2005).

Além dos carboidratos, os lipídios também representam substrato


energético durante o exercício, sendo que sua utilização é maior durante as
atividades prolongadas e de baixa ou moderada intensidade.
88
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Depois que se esgotam os estoques de glicogênio, até 90% da energia po-


derá ser proveniente das gorduras. De maneira geral, aproximadamente metade
da energia usada pelo corpo em repouso e em atividades leves é proveniente dos
ácidos graxos, os quais são mobilizados (oxidados) para a liberação de energia
quando a oferta de glicose está reduzida. Todavia, as recomendações para espor-
tistas devem ser as mesmas utilizadas para a população sedentária, sendo que
o percentual de lipídios em relação ao valor energético total diário (VET) deve
corresponder a cerca de 20 a 30% (HIRSCHBRUCH, 2014). Veremos agora as re-
comendações de consumo de cada macronutriente.

4.1 CARBOIDRATOS
Os carboidratos constituem cerca de 60% das calorias diárias de um
indivíduo, é especialmente importante para o metabolismo energético, oriundo
principalmente dos vegetais.

São compostos basicamente de um átomo de carbono, dois átomos de


hidrogênio para cada átomo de oxigênio, são caracterizados como monossacarídeos
(um açúcar por molécula), dissacarídeos (com dois açúcares por molécula),
oligossacarídeos (três a nove resíduos de monossacarídeos) e polissacarídeos
(com inúmeros açúcares por moléculas) (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).

Os carboidratos são encontrados de três formas básicas: 1) cereais, vege-


tais, frutas, leguminosas; 2) carboidratos purificados adicionados às preparações;
e 3) carboidratos dissolvidos em certas bebidas. Os cereais, hortaliças, frutas e
leguminosas constituem alimentos fonte de carboidrato e também são ricos em
vitaminas e minerais, além de outros componentes como fitoquímicos e antioxi-
dantes (CARUSO; MENEZES, 2000).

Além de estarem presentes em diferentes fontes alimentares, os


carboidratos são digeridos e absorvidos ao longo do intestino delgado, em ritmos
diferentes, fator esse que interfere diretamente na utilização e no metabolismo,
resultando em diferentes respostas glicêmicas, o que deu origem ao índice
glicêmico que visa classificar os alimentos com base na disponibilização de glicose
sanguínea de um determinado alimento (CARUSO; MENEZES, 2000).

Os carboidratos de alto índice glicêmico exercem uma função importante


para indivíduos fisicamente ativos para disponibilizar rapidamente aporte energé-
tico para o treinamento, poupando os estoques de glicogênio (TIRAPEGUI, 2012).

89
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

NOTA

O Índice Glicêmico (IG) dos alimentos é caracterizado pelo incremento da


área abaixo da curva glicêmica produzido por uma porção de 50 g de carboidrato de um
alimento em relação à mesma porção de alimento considerado padrão, neste caso, a
glicose ou o pão branco (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).

Com isso, destaca-se a direta influência dos carboidratos nas reservas


corporais de glicogênio muscular e hepático, estando diretamente relacionada aos
níveis de elevação de glicose, aumentando a capacidade do treinamento, assim
como o desempenho durante o exercício (MCARDL; KATCH; KATCH, 2011).

De acordo com Santos, Silva e Coelho (2016), uma dieta rica em


carboidratos, feita por praticantes de treinamento de força, poderia melhorar o
rendimento durante os treinos e auxiliaria no processo hipertrófico, sendo que
esses efeitos estariam vinculados ao aumento na secreção de insulina, hormônio
anabólico (LIMA; BARROS, 2007).

De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), estima-se que a ingestão de


carboidratos correspondente de 60 a 70% do aporte calórico diário, atendendo à
demanda de um treinamento esportivo. Para otimizar a recuperação muscular,
recomenda-se que o consumo de carboidratos esteja entre 5 e 8 g/kg de peso/dia.

Nos estudos de Ribeiro e Burini (2002) e Almeida et al. (2010) foi re-
latada a importância da supercompensação de carboidratos como substratos
energéticos para a contração da musculatura esquelética, a qual foi inicialmen-
te reconhecida por pesquisadores escandinavos na década de 1960. Todavia,
apesar de vários estudos abordarem o carboidrato como um substrato eficaz,
fisiculturistas e indivíduos praticantes do treinamento de força não possuem
habitualidade no consumo desse recurso, ao contrário de atletas de endurance
(LIMA; BARROS, 2007).

Com isso, quando se discutem as estratégias nutricionais utilizando mani-


pulações de carboidratos, antes, durante e depois do exercício, sabe-se que pode
ser um método para manter ou até mesmo aumentar os estoques de glicogênio
durante o período de treinamento (SILVA; MAIRANDA; LIBERALI, 2008).

Em termos de necessidade de carboidratos, os atletas envolvidos em


quantidades moderadas de treinamento intenso (por exemplo, 2-3 horas por dia
de exercícios intensos realizados 5-6 vezes por semana) geralmente precisam
consumir uma dieta composta de 5-8 g/kg/dia ou 250-1200 g/dia para manter os
estoques de glicogênio no fígado e nos músculos.

90
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Além disso, atletas envolvidos em treinamento intenso de alto volume


(por exemplo, três a seis horas por dia de treinamento intenso de um a dois
exercícios diários por cinco a seis dias por semana) podem precisar consumir de
8 a 10 g/kg/dia de carboidratos (ou seja, 400-1500 g/dia para atletas de 50-150 kg),
a fim de manter os níveis de glicogênio muscular (BURKE et al., 2011).

Ao considerar as necessidades de carboidratos durante uma sessão de


exercícios, vários fatores devem ser considerados. Segundo Cermak e Van Loon
(2013), atletas submetidos a sessões prolongadas (2-3 horas) de treinamento físico
podem oxidar carboidratos a uma taxa de 1 a 1,1 g por minuto ou cerca de 60 g
por hora, o que direciona para uma sugestão de consumo de 0,7 g de carboidrato/
kg/h durante o exercício, em uma solução de 6 a 8%, conforme o posicionamento
da American Dietetic Association, Dietitians of Canada, and the American College of
Sports Medicin (ACSM) sobre nutrição e rendimento esportivo (RODRIGUEZ;
DIMARCO; LANGLEY, 2009).

Quanto ao tipo de carboidrato, alguns pesquisadores relatam que


combinações de glicose e sacarose ou maltodextrina (proporção de 1 a 1,2) e
frutose (proporção de 0,8 a 1,0) promovem maiores taxas exógenas de oxidação de
carboidratos quando comparadas a situações em que são ingeridas fontes únicas
de carboidratos (CURRELL; JEUKENDRUP, 2008; RODRIGUEZ; DIMARCO;
LANGLEY, 2009).

Oliver et al. (2016) relata que a amilopectina, um carboidrato de alto


peso molecular, pode representar um benefício com uma menor osmolaridade
do amido, permitindo maior consumo (100 g/hora) e, possivelmente, maiores
taxas de oxidação e melhoria de desempenho. Além disso, o status de jejum e a
duração da sessão de exercícios são variáveis a serem consideradas pelos atletas
e treinadores.

Em relação ao consumo de carboidratos durante os treinos mais curtos,


é questionável (ACSM, 2016). Ressalta-se que o consumo diário de quantidades
adequadas de carboidratos é o primeiro e mais importante passo para qualquer
atleta competidor. Todavia, à medida que as durações se prolongam por
duas horas, aumenta a necessidade de fornecer carboidratos, principalmente,
quando se inicia o exercício em um estado de jejum ou recuperação incompleta
(KERKSICK et al., 2018).

Já, após a prática esportiva, várias estratégias alimentares podem ser


consideradas para repor ao máximo a perda de glicogênio muscular e hepático.
Nesse momento, a primeira prioridade deve ser a ingestão de carboidratos, em
seguida, intercalando com a ingestão de proteínas (KERKSICK et al., 2018).

91
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

4.2 PROTEÍNA
A proteína é o macronutriente de maior discussão na área científica.
Inicialmente, a recomendação era de que os atletas não precisariam ingerir mais
do que a RDA para obter proteínas (0,8 a 1,0 g/kg/d para crianças, adolescentes e
adultos), todavia, pesquisas dos últimos 30 anos, indicaram que atletas envolvidos
em treinamentos intensos podem se beneficiar da ingestão de quase o dobro da
RDA de proteína em sua dieta (1,4 -1,8 g/kg/d).

De acordo com Phillips, Chevalier e Leidy, (2016), em um artigo de


revisão, destaca-se que a ingestão insuficiente de proteína, balanço negativo de
nitrogênio, pode levar à perda de massa muscular, lesões, doenças e intolerância
ao treinamento.

Nos casos do objetivo de hipertrofia muscular, sugere-se a ingestão de 1,6


a 1,7 g/kg de peso, sendo necessário que os atletas sejam conscientizados de que o
aumento do consumo proteico na dieta, além dos níveis recomendados, não leva
ao aumento adicional da massa magra (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), é recomendado que o uso


dos suplementos proteicos, como a proteína do soro do leite ou a albumina da
clara do ovo, esteja de acordo com a ingestão proteica total.

Novamente, conforme mencionado anteriormente, o consumo adicional


desses suplementos proteicos acima das necessidades diárias (1,8 g/kg/dia)
não determina ganho de massa muscular adicional, assim como não promove
aumento do desempenho.

ATENCAO

A ingestão proteica, após o exercício físico de hipertrofia, pode favorecer


o aumento de massa muscular se combinado com a ingestão de carboidratos. A dose
recomendada é de 10 g de proteínas e 20 g de carboidratos (2:1 CHO:PTN).

Phillips, Chevalier e Leidy (2016) e Jager et al., (2017) relatam que as evi-
dências atuais indicam que a ingestão ideal de proteínas na faixa de 1,2 a 2,0 g/
kg/dia (60 a 300 g/dia para um atleta de 50 a 150 kg) deve ser considerada, quan-
tidade essa de proteína que seria equivalente à ingestão de três a cinco porções de
frango ou peixe por dia para um atleta de 50 a 150 kg (BANDEGAN et al., 2017).
Ainda, Morton et al. (2018) realizaram uma meta-revisão envolvendo 49 estudos e
concluíram que uma ingestão diária de proteína de 1,62 g/kg/dia pode ser o ideal.
92
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

É importante destacar que as proteínas diferem com base em sua fonte,


perfil de aminoácidos e os métodos de processamento ou isolamento (JAGER et
al., 2017). Essas diferenças influenciam a disponibilidade de aminoácidos e pep-
tídeos, podendo resultar em uma menor absorção e, consequentemente, efeito
fisiológico desse macronutriente (como a α-lactalbumina, ß-lactoglobulina, glico-
macropeptídeos, imunoglobulinas, lactoperoxidases, lactoferrina, entre outras).

A taxa de digestão e/ou absorção e atividade metabólica da proteína


também são pontos importantes a serem verificados. Diferentes tipos de proteínas
(por exemplo, caseína, soro do leite e da soja) são digeridos em taxas diferentes,
o que pode afetar o catabolismo e o anabolismo do corpo inteiro e a estimulação
aguda da síntese de proteínas musculares (BUCCI; UNLU, 2000).

O que nos leva a concluir que devemos nos atentar não apenas para
garantir que o atleta consuma proteína, mas também para que a proteína seja
de alta qualidade, sendo que as melhores fontes alimentares de proteínas de alta
qualidade e com baixo teor de gordura são frango sem pele, peixe, claras de ovos,
cortes muito magros de carne bovina e leite desnatado (caseína e soro de leite)
(YANG et al., 2012).

Todavia, cabe destacarmos as proteínas vegetais em ascensão. Enquanto


a absorção de aminoácidos das proteínas vegetais é geralmente mais lenta, a
leucina da proteína do arroz é absorvida mais rapidamente que o soro de leite
(PURPURA et al., 2014).

Embora existam muitos cenários pelos quais um atleta pode optar por
suplementar sua dieta com proteína, essa prática não é considerada um requisito.
Sugere-se, por razões nutricionais, sociais, emocionais e psicológicas, que se
priorize o consumo das proteínas diárias provenientes de alimentos.

Jager et al. (2007) publicaram uma declaração de posição atualizada da


Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva, resumida da seguinte forma:

• Exercícios resistidos e ingestão de proteínas estimulam a síntese de proteínas


musculares, sendo sinérgico quando o consumo de proteínas ocorrer antes ou
após o exercício resistido.
• Para construir e manter a massa muscular, uma ingestão diária total de proteí-
nas de 1,4 – 2,0 g/kg/d é suficiente para a maioria dos indivíduos em exercício.
• Uma maior ingestão de proteínas (2,3 – 3,1 g/kg de massa livre de gordura/d)
pode ser necessária para maximizar a retenção do peso corporal magro em
indivíduos treinados em resistência em períodos hipocalóricos.
• As doses agudas de proteína devem conter de 700 a 3000 mg de leucina e/
ou um teor relativo mais alto de leucina, além de uma matriz equilibrada de
aminoácidos essenciais (BCAAs).
• Idealmente, as doses de proteína devem ser distribuídas uniformemente, a
cada 3-4 h, ao longo do dia.

93
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

• As proteínas rapidamente digeridas que contêm altas proporções de BCAAs e


leucina adequada são mais eficazes no estímulo à MPS.
• Diferentes tipos e qualidade de proteína podem afetar a biodisponibilidade de
aminoácidos após a suplementação de proteínas; fontes completas de proteínas
fornecem todos os BCAAs necessários, sendo os suplementos alimentares de
proteína mais comuns o soro de leite, caseína, leite e ovo) ou vegetal (como a soja).

4.3 LIPÍDIOS
Dos macronutrientes, os lipídios são os que sofrem menor alteração nas
recomendações para atletas, as quais são semelhantes, ou um pouco maiores, do
que as recomendações para não atletas (aproximadamente 30% de sua ingestão
calórica diária). Dessa forma, dependendo dos objetivos do atleta, a quantidade
de gordura na dieta recomendada para a ingestão diária pode mudar, pois,
dietas com alto teor de gordura parecem manter as concentrações circulantes de
testosterona melhores do que as dietas com baixo teor de gordura (DORGAN
et al., 1996).

Todavia, em situações em que o atleta necessite reduzir sua gordura


corporal, a ingestão de gordura pode variar de 0,5 a 1 g/kg/dia, representando
aproximadamente 20% do total de calorias da dieta.

Dentre as estratégias que auxiliam os atletas a gerenciarem a ingestão de


gordura, está a de ensiná-los quais alimentos contêm lipídios e quais tipos de
lipídios, para que possam fazer melhores escolhas alimentares (LEUTHOLTZ;
KREIDER, 2001).

E
IMPORTANT

As dietas cetogênicas, ricas em gordura, tiveram sua popularidade aumentada


nos últimos anos. Possuem aproximadamente de 70 a 80% de suas calorias diárias compostas
em gordura, com uma quantidade moderada de proteína (20 a 25% de calorias totais ou 2,0
a 2,5 g/kg/dia) e, em grande parte, desprovidas de carboidratos (10-40 g/dia), levando a uma
maior dependência de cetonas como fonte de combustível. Todavia, existem evidências
limitadas e mistas quanto à eficácia geral de uma dieta cetogênica para atletas. Tendo
em vista que as evidências disponíveis são limitadas e mistas, é necessário concluir mais
pesquisas com seres humanos antes que recomendações apropriadas possam ser feitas
para o uso de dietas ricas em gordura para o desempenho atlético (KERKSICK et al., 2018).

94
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

4.4 PLANEJAMENTO ALIMENTAR (ANTES/DURANTE E APÓS


AS REFEIÇÕES)
De forma geral, um modelo de recomendação diária de distribuição de
macronutrientes para o consumo energético total diário de indivíduos atletas se
enquadra no perfil a seguir, conforme Hernandez e Nahas (2009) é:

• Carboidratos (CHO) – 60% a 70% das calorias (ou de 5 g a 10 g/kg/dia).


• Proteínas (PTN) – de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia para indivíduos que pratiquem
esportes de resistência.
• Lipídios (LIP) – 30% das calorias (aproximadamente 1 g/kg/dia).

Todavia, além das diretrizes nutricionais descritas, o tempo e a compo-


sição das refeições consumidas desempenham um importante papel na otimi-
zação do desempenho. Destaca-se que são necessárias quatro horas para que o
carboidrato seja digerido e assimilado nos tecidos musculares e hepáticos como
glicogênio. Devido a isso, as refeições pré-exercício devem ser consumidas cer-
ca de quatro a seis horas antes do exercício (SHERMAN; JACOBS; LEENDERS,
1998), demonstrando que, se um atleta treina à tarde, o café da manhã pode ser
visto como de grande importância para superar os níveis de glicogênio muscular
e hepático.

Além disso, indica-se que a ingestão de um lanche leve de carboidratos e


proteínas de 30 a 60 minutos antes do exercício (por exemplo, 50 g de carboidratos e
5 a 10 g de proteína, 5:1) serve para aumentar a disponibilidade de carboidratos no
final de um intenso exercício. Isso também viabiliza o aumento da disponibilidade
de aminoácidos e reduz o catabolismo de proteínas, minimizando os danos
musculares (SAUNDERS; LUDEN; HERRICK, 2007).

Em períodos em que os atletas estão em restrição energética, para atender


às necessidades diárias, deve-se considerar a ingestão de proteínas de qualidade,
os horários de consumo e a combinação com carboidratos, que são de grande valia
para manter a massa corporal magra, os efeitos do treinamento e o desempenho.

Durante o exercício, quando ele dura mais de uma hora, e/ou quando
a duração se estender para além de 90 minutos, recomenda-se a ingestão de
soluções de glicose/eletrólitos para manter os níveis de glicose no sangue, evitar
a desidratação e reduzir os efeitos imunossupressores do exercício intenso. Essa
estratégia se torna ainda mais importante, quando o atleta estiver com pouco
combustível antes da tarefa do exercício ou for submetido a jejum (SAUNDERS;
LUDEN; HERRICK, 2007).

Logo após os exercícios intensos, deve haver o consumo de carboidratos


e proteínas (por exemplo: 1 g/kg de carboidratos e 0,5 g/kg de proteínas) nos
primeiros 30 minutos após o exercício e nas duas horas seguintes, consumir uma
refeição rica em carboidratos. Pesquisadores têm verificado que essa estratégia
nutricional acelera a ressíntese de glicogênio e promove um perfil hormonal mais

95
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

anabólico, acelerando a recuperação (KRAEMER et al., 1998). Dessa forma, pode-


se observar que o tipo de refeição, a quantidade de carboidratos consumidos e o
horário das refeições são fatores importantes para maximizar o armazenamento
de glicogênio e manter a disponibilidade de carboidratos durante o treinamento.
O ISSN adotou uma posição sobre o tempo de nutrientes em 2008, revisada em
2017 (KERKSICK et al., 2017), pode ser resumida com os seguintes pontos:

• Estoques intramusculares e hepáticos de glicogênio são maximizados pelo


consumo de uma dieta rica em carboidratos contendo de 8 a 12 g/kg/dia.
• Exercícios de alta intensidade (> 70% VO2 Max) com duração maior que 90
minutos é aconselhável consumir de 30 a 60 g de carboidratos/hora, em uma
solução de 6 a 8% de carboidrato, a cada 10 a 15 minutos durante todo o período
de exercícios.
• O planejamento alimentar deve oferecer energia adequada (mínimo de 27 a
30 kcal/kg) e proteína (1,6 a 1,8 g/kg/dia), preferencialmente com ingestão de
proteína com espaçamento uniforme (a cada 3 a 4 h) (0,25 a 0,40 g/kg/dose)
durante o dia.
• Intervenções nutricionais pré e/ou pós-exercício (carboidrato + proteína ou
proteína isoladamente) podem ser estratégias eficazes para apoiar melhorias
na força e na composição corporal.
• A ingestão de proteínas de alta qualidade pós-exercício (imediatamente 2 h
após) estimula aumentos robustos na MPS (KERKSICK et al., 2018).

4.4.1 Estratégias pré-competição


Como já discutido, os carboidratos constituem o principal nutriente
que fornece energia para o treinamento e a recuperação, além de ser o recurso
ergogênico mais estudado na nutrição esportiva por ser substrato energético
para o músculo e o cérebro durante o exercício físico (SIMINO, 2018). Devido
a isso, em muitas modalidades esportivas, a baixa reserva de carboidratos é
considerada um fator de fadiga e redução do desempenho físico, fazendo com
que a estratégia de manipulação de ingestão de carboidratos auxilie no objetivo
de alcançar estoques máximos de glicogênio muscular, retardando, dessa forma
o surgimento da fadiga (SIMINO, 2018).

Resumidamente, a técnica da supercompensação de carboidrato consiste


em fazer treinos intensos, ingerindo, durante três dias, uma dieta hipoglicídica,
seguidos de três dias de treinamento leve acompanhados pela oferta de uma
dieta hiperglicídica. Todavia, a dieta hipoglicídica pode, em alguns momentos,
não ser conveniente ao atleta, sendo pouco palatável, causando alterações
digestivas, irritabilidade, tonturas e cansaço. Fatores esses que fizeram com que
fosse desenvolvida uma técnica menos agressiva, como o sistema dissociado
(KREIDER, 2017).

96
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Segundo Simino (2018), o sistema dissociado foi pensado da seguinte


forma: a intensidade do treinamento é reduzida uma semana antes da competição,
momento em que são consumidos 50% da energia na forma de carboidratos na
dieta, posterior, três dias antes da competição, a atividade passa a ser menos
intensa e a dieta aportando aproximadamente 70% de carboidrato do valor
energético total. Os alimentos devem ser de alto índice glicêmico, aumentando a
sensibilidade à insulina e estimular a síntese de glicogênio muscular e as reservas
no tecido adiposo.

A supercompensação de carboidratos pode ser utilizada, quando


definido em conjunto, entre o profissional de saúde e o atleta. Todavia, é indicado
não utilizar essa estratégia mais de uma vez por mês, devido ao estímulo da
sensibilidade à insulina.

Dessa forma, no momento pré-competição, a alimentação deve garantir


que os estoques de glicogênio estejam no nível máximo. Para as competições que
duram menos de quatro minutos, orienta-se que o atleta tenha um descanso nos
três dias antes e aporte para 7 a 8 g/kg de peso/dia o consumo de carboidratos
(SILVA; MAIRANDA; LIBERALI, 2008). Já, para atividades com mais de 90
minutos de duração, faz-se necessária a realização de exercícios de menor
intensidade na semana anterior e descanso no dia do evento, sendo indicado,
para os três primeiros dias, a ingestão de 5 a 7 g/kg de peso de carboidratos e, nos
últimos três dias, 8 a 10 g/kg de peso de carboidratos (JOHANN et al., 2015), ou
seja, aumentando gradativamente com a proximidade da competição.

De acordo com Silva, Mairanda e Liberali (2008), no dia de provas de


resistência com mais de 90 minutos ou eliminatórias curtas, sugere-se a oferta de
7 a 8 g/kg de peso/dia de carboidrato, já na semana prévia, orienta-se a redução
do treinamento nos três últimos dias e o atleta deve realizar um treino leve,
consumindo de 8 a 10 g/kg/dia.

Conforme mencionado no tópico anterior, a refeição pré-exercício deve


ser composta por alimentos de rápida digestibilidade, com maior proporção de
carboidratos, proporção intermediária de proteínas e baixíssimo consumo de
lipídios (CÓRDOBA, 2017).

Já no dia anterior ao da competição, devem ser oferecidas de seis a oito


refeições ricas em carboidratos de baixo índice glicêmico, evitando alimentos que
provocam flatulência, como os integrais, ricos em fibras e/ou novos alimentos que
não fazem parte do hábito alimentar do atleta. No dia da competição, a refeição
principal deve ser realizada de duas a quatro horas antes do evento e, caso seja
no final da tarde, poderão ser consumidos pequenos lanches (sanduíche de atum/
peito de frango, barras de cereal, iogurte, granola com leite) de três em três horas
(CÓRDOBA, 2017).

97
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

ATENCAO

Nos períodos de descanso ou férias, o atleta deve ter uma dieta que permita
manter o peso corporal e que evite carências nutricionais.

4.4.2 Estratégias durante competição


Nas atividades de resistência com duração de mais 90 minutos e em
esportes com exercícios intermitentes de alta intensidade e curta duração, deve-se
ingerir aproximadamente de 25 a 30 g de carboidratos a cada 30 minutos, buscando
retardar o aparecimento da fadiga. Aqui, pode-se fazer uso dos suplementos
de conveniência, como as bebidas esportivas que fornecem os carboidratos
necessários para o exercício e hidratam simultaneamente (CÓRDOBA, 2017).

Quanto à hidratação, posteriormente discutiremos esse tema de forma


ampliada. De forma resumida, é recomendado que, após de 30 a 60 minutos do
início da atividade, sejam ofertados de 125 a 250 mL de líquidos a cada 15 ou 20
minutos. Em modalidades esportivas que duram mais de 60 minutos, oferecer 1,5
a 3 mL/kg de peso corporal (CÓRDOBA, 2017).

4.4.3 Estratégias pós-competição


No caso do pós-competição, é bem variável, dependendo do momento da
próxima competição. Em situações em que o atleta vai realizar mais de uma prova
em um curto prazo de tempo, as reservas de glicogênio devem ser restabelecidas
rapidamente com alimentos que forneçam carboidratos de alto índice glicêmico,
ingerindo 1 g/kg de peso de carboidrato nas duas horas imediatamente após a
atividade física (CÓRDOBA, 2017).

Recomenda-se a ingestão de 5 a 9 g/proteínas, juntamente com os


carboidratos na refeição pós-exercício, favorecendo ressíntese de glicogênio,
sendo que em alguns casos, é recomendada a ingestão de refeições de consistência
pastosa, além do aumento do consumo de líquidos, com oferta de uma refeição
contendo carboidratos, proteínas e líquidos, acelerando a síntese de glicogênio,
além de reidratar o atleta. Conforme Aoki e Bacurau (2012), a ingestão de lipídeos
deve ser mantida na faixa de 20 a 30% da oferta calórica total da dieta.

No caso da reidratação, no próximo tópico, ela será melhor detalhada.


Para repor o déficit hidroeletrolítico, deve-se oferecer 1,5 L de líquidos/kg de
peso corporal perdido durante o exercício (reposição de 150% da perda de peso

98
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

para manter o estado de hiperidratação) e, após duas horas da competição, é


recomendável aumentar a concentração de carboidratos das bebidas oferecidas
para 15 a 20% e ingerir 100 a 150 mL/minuto (CÓRDOBA, 2017).

E
IMPORTANT

Embora haja uma preconização de que o uso de carboidrato está diretamente


relacionado com os níveis intracelulares de glicogênio e retardo da fadiga muscular, há,
ainda, uma lacuna sobre o consumo adequado de carboidrato frente ao treinamento de
força, já que esse tipo de treinamento é classificado como prioritariamente anaeróbico,
dependendo, em grande parte, da creatina fosfato como geradora de energia, através
do sistema anaeróbico alático, especialmente em exercício de alta intensidade e baixas
repetições (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

4.5 MICRONUTRIENTES
As vitaminas e os minerais são compostos essenciais, ou seja, precisam
ser consumidas via alimentação, já que nosso corpo não as produz. Auxiliam
na regulação de processos metabólicos e neurológicos, síntese de energia e no
impedimento da destruição das células (KERKSICK et al., 2018). As vitaminas são
compostos orgânicos e os minerais são inorgânicos, e possuem funções específicas
estando diretamente ligados ao metabolismo celular e, por isso, relacionados ao
bom rendimento dos atletas durante treinos e competições. Veremos, a seguir, os
micronutrientes que se destacam na área esportiva.

As vitaminas são divididas em hidrossolúveis e lipossolúveis, sendo


que as lipossolúveis incluem as vitaminas A, D, E e K e são armazenadas em
vários tecidos, podendo resultar em toxicidade se consumidas em quantidades
excessivas.

As vitaminas hidrossolúveis consistem em todo o complexo de vitaminas


B e vitamina C, neste caso, como são solúveis em água, a ingestão excessiva é
eliminada na urina, com exceção da vitamina B6, que pode causar danos nos
nervos periféricos quando consumidos em quantidades excessivas e da vitamina
C que pode causar danos renais e desequilíbrios osmóticos.

Destaca-se que, se um atleta é deficiente em uma vitamina, a suplementação


ou modificações na dieta para melhorar o status dessa vitamina podem melhorar
consistentemente a saúde e o desempenho (KERKSICK et al., 2018). 

99
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Os minerais, por sua vez, são elementos inorgânicos essenciais,


necessários para uma série de processos metabólicos. Os minerais servem como
estrutura para os tecidos, componentes importantes de enzimas e hormônios
e reguladores do controle metabólico. Já nas populações atléticas, alguns
minerais são considerados deficientes, enquanto outros são reduzidos devido ao
treinamento e exercício prolongado, como sódio, potássio e magnésio. Sendo que
nessas situações os atletas devem consumir alimentos e líquidos para substituir
essas perdas (THOMAS; ERDMAN; BURKE, 2016).

Dos minerais revisados por Kerksick et al. (2018), vários parecem


contribuir com a saúde e desempenho dos atletas em determinadas situações,
como a suplementação de cálcio em atletas suscetíveis à osteoporose, auxiliando
na manutenção da saúde óssea.

Zourdos, Sanchez-Gonzalez e Mahoney (2015) destacaram a importância


do status de ferro em atletas do sexo feminino, em que esforços recentes apontaram
que a suplementação de ferro em atletas propensos a deficiências de ferro e/ou
anemia pode melhorar a capacidade de exercício.

De acordo com o COI (KERKSICK et al., 2018), os nutrientes que


normalmente são suplementados em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D.
Além disso, também pode ser necessária a suplementação de iodo (para aqueles
que vivem em áreas com baixos níveis de iodo nos alimentos ou que não usam
sal iodado), folato (para mulheres que podem engravidar) e vitamina B12 (para
aquelas que seguem uma dieta vegana ou quase vegana). Essas considerações
não se aplicam especificamente aos atletas.

As contradições na quantidade direcionada aos atletas para o consumo


das vitaminas, conforme Hernandez e Nahas (2009), para os atletas em regime
de treinamento intenso, tem sido sugerido o consumo de vitamina C entre 500
e 1.500 mg/dia, para melhor resposta imunológica e com efeito antioxidante; e
de vitamina E, para aprimorar a ação antioxidante. Todavia, essas afirmações se
baseiam em baixo grau de evidência científica.

Para os minerais, as condições são compatíveis com as pesquisas


direcionadas às vitaminas para os atletas. Nesse ínterim, o zinco, por estar
envolvido no processo respiratório celular, quando, em deficiência nos atletas,
pode gerar anorexia, perda de peso significativa e consequentemente fadiga e
queda no rendimento, fato que leva a sugerir a suplementação alimentar desse
mineral. Todavia, as evidências científicas não justificam o uso sistemático do
zinco em suplementação nutricional, apenas em situações específicas em que o
nutricionista identifique essa necessidade (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

Permanecendo nesse pensamento, atletas do sexo feminino, devido a


dietas de restrição calórica, podem ter sugestão de aporte do cálcio, envolvido na
formação e manutenção óssea, assim como a baixa ingestão de ferro, causando

100
TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

fadiga e anemia, podendo afetar o desempenho atlético e o sistema imunológico,


sendo recomendado ter atenção especial ao consumo de alimentos com ferro de
elevada biodisponibilidade.

De acordo com Medeiros, Paschoal e Sanches (2017), ao avaliar a


magnitude dos efeitos que as vitaminas e os minerais exercem no organismo
humano e a infinidade de reações bioquímicas e fisiológicas que estão envolvidas
no exercício físico, faz-se necessária uma avaliação mais complexa e profunda de
um indivíduo fisicamente ativo, conforme pode ser observado na Figura 5.

FIGURA 5 – MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO EXERCÍCIO PELOS MICRONUTRIENTES SOB A


ÓPTICA DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL

FONTE: Paschoal e Naves (2017, p. 244)

Nesse contexto, quando se fala em suplementação nutricional, de acordo


com Medeiros, Paschoal e Sanches (2017), é de suma importância promover
educação nutricional, uma vez que estes nutrientes compõem uma extensa
cadeia de reações, e seu uso sem orientação pode alterá-las, podendo trazer
consequências negativas para a saúde desses indivíduos, já que nem todos os
nutrientes são excretados de maneira eficiente quando em excesso, podendo ser
armazenados no organismo em quantidade tóxica.

No que se refere às controvérsias sobre a suplementação de micronutrientes


em esportistas e atletas, deve-se avaliar os fatores envolvidos na condução da
pesquisa para que ela seja relevante, considerando, desde a seleção das amostras,

101
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

que pode ser de grande diversidade. Por exemplo, quanto ao grau de prática de
atividade física, à intensidade do exercício, à modalidade, ao tempo de treino,
à idade, ao sexo, à dieta, ao estilo de vida, além de período de treinamento,
grau de estresse, período de sono, fatores emocionais, fatores genéticos ou até a
presença de doenças, ou seja, fatores que constituem o indivíduo e determinam
sua qualidade de vida (MEDEIROS; PASCHOAL; SANCHES, 2017, p. 244).

Analisando ainda fatores que envolvem a eficácia das vitaminas e


minerais estudados, tais como a proporção entre os nutrientes, o
mecanismo compensatório de defesa do organismo, a suplementação
isolada ou conjunta, entre outros, determina a absorção, o transporte,
o armazenamento, a utilização e a excreção de micronutrientes, o que
torna o estabelecimento de consensos sobre as necessidades diárias e
a suplementação cada vez mais difícil. Todos esses fatores evidenciam
que a individualidade bioquímica deve sempre ser considerada na
avaliação nutricional dos indivíduos, pois as evidências encontradas
em estudos científicos foram realizadas em grupos heterogêneos, o
que permite a sua análise sob diferentes óticas. Desse modo, constata-
se a necessidade de constantes avaliações, pesquisas e estudos que
evidenciem essas discussões, trazendo comprovações científicas que
permitam a sua utilização na prática. Ainda, é importante sempre
levar em consideração a fisiologia humana, bem como a bioquímica
de vitaminas e minerais, que já estão bem descritos na literatura,
mostrando a necessidade de tais elementos nas vias metabólicas e
reações químicas que, de maneira complexa, permitem o equilíbrio
do organismo, mantendo-o saudável. Assim, caso sejam aumentadas
as necessidades desse organismo, até então equilibrado, resultado,
por exemplo, da prática de atividade física seja com ou sem fins
competitivos, as necessidades de vitaminas e minerais também
serão aumentadas, a fim de se respeitar sempre a proporção entre
os nutrientes que por sua vez asseguram ao organismo novamente
seu equilíbrio.

102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As necessidades nutricionais dos atletas são maiores que de indivíduos


não atletas.

• O atendimento nutricional direcionado ao atleta segue o padrão do atendi-


mento clínico nutricional, requerendo um bom diagnóstico baseado em uma
anamnese alimentar completa para que as intervenções venham de encontro
ao objetivo do cliente.

• Os cálculos das necessidades nutricionais dos atletas podem seguir as


recomendações das DRIs, seguindo o Fator de Atividade Física compatível
com o atleta ou pelo METs, considerando que as variáveis passíveis de erro no
estabelecimento desses ainda são discutidos pelos pesquisadores.

• As recomendações de macronutrientes para atletas são maiores, devendo,


nessas situações, seguir as diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina
Esportiva.

• De forma geral, um modelo de recomendação diária de distribuição de ma-


cronutrientes para o consumo energético total diário de indivíduos atletas se
enquadra no perfil a seguir, conforme Hernandez e Nahas (2009) é: carboi-
dratos (CHO) – 60% a 70% das calorias (ou de 5 g a 10 g/kg/dia); proteínas
(PTN) – de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia para indivíduos que pratiquem esportes de
resistência; lipídios (LIP) – 30% das Calorias (aproximadamente 1 g/kg/dia).

• A recomendação de consumo de proteína é sempre discutida considerando a


variabilidade dos indivíduos e das modalidades que praticam.

• O índice glicêmico dos alimentos fonte de carboidratos deve ser considerado


na prescrição do planejamento alimentar.

103
AUTOATIVIDADE

1 Uma mulher de 24 anos de idade, com 58 kg de peso corporal e 1,70 m de


altura (IMC 20), ingressou recentemente no time de handebol da sua uni-
versidade. Preocupada com sua alimentação e com seu desempenho físico
nas competições, ela consultou um nutricionista com o objetivo de obter
informações a respeito da relação entre o consumo de nutrientes e a sua
atividade esportiva. Considerando a situação hipotética anterior e a relação
entre alimentação e desempenho físico, avalie as afirmativas a seguir:

I- É recomendável o consumo de alimentos ricos em carboidratos e mode-


rados em proteínas próximo ao horário da atividade física, pois esses ali-
mentos favorecem o depósito do glicogênio hepático e a disponibilidade
de aminoácidos circulantes.
II- A jovem apresenta estado nutricional adequado, segundo o índice de
massa corporal, e, por isso, deve ingerir alimentos ricos em gordura antes
da atividade física, pois a gordura é fonte de energia para esportes de alta
intensidade.
III- O consumo de carboidrato de alto índice glicêmico (30 a 60 g) durante a
atividade física, após uma hora de treino é recomendável por permitir
que a glicose seja enviada para o organismo no momento em que a fadiga
aparece.
IV- A ingestão de proteína durante a atividade física retarda o surgimento da
fadiga, melhorando também o desempenho da esportista pela manutenção
da glicemia durante o exercício.

É CORRETO apenas o que se afirma em:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) I e IV.
d) ( ) II e III.
e) ( ) III e IV.

2 Considerando a utilização dos substratos energéticos durante a prática


esportiva. Leia com atenção as alternativas a seguir e classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Durante o exercício, as células musculares transformam o glicogênio


hepático em glicose, através, principalmente, da ação do glucagon.
( ) As proteínas e os carboidratos são os principais substratos utilizados pelo
organismo como fonte de energia durante a atividade física.

104
( ) A ingestão de carboidratos na dieta antes, durante e depois do exercício
de curta duração pode melhorar e muito o desempenho atlético pela
otimização dos músculos e depósitos de glicogênio hepático, ou através
da manutenção da homeostase da glicose sanguínea.
( ) A refeição pré-competição ideal consiste em alimentos ricos em proteínas
que irão garantir níveis elevados de proteína muscular durante a
competição.
( ) O consumo de carboidratos com alto índice glicêmico constitui um meio
mais efetivo de repor rapidamente o glicogênio depletado após um
exercício intenso.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F, F, F, F, V.
b) ( ) F, V, F, V, V.
c) ( ) V, F, F, F, V.
d) ( ) F, F, F, F, F.
e) ( ) V, V, V, F, F.

3 A recomendação diária de distribuição de macronutrientes para o con-


sumo energético total diário de indivíduos atletas, de maneira geral, se
concentra em qual das quantidades descritas a seguir?

a) ( ) Carboidratos de 8 g a 12 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia;


Lipídios aproximadamente 2 g/kg/dia.
b) ( ) Carboidratos de 3 g a 5 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia;
Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia.
c) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 2,2 g a 2,6 g/kg/dia;
Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia.
d) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 3,6 g/kg/dia;
Lipídios aproximadamente 5 g/kg/dia.
e) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia;
Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia.

4 É sabido que o consumo de carboidratos por atletas, principalmente


de modalidades de resistência, se faz de suma importância para o bom
rendimento e posterior recuperação muscular. Nesse sentido, muitos
nutricionistas usam da estratégia de supercompensação de carboidrato
e/ou sistema dissociado para viabilizar uma maior disponibilidade desse
macronutriente durante as competições. De acordo com o exposto, descreva
como é realizada a supercompensação de carboidratos/sistema dissociado.

105
5 Há muitas controvérsias sobre a suplementação de micronutrientes em
esportistas e atletas, pois deve-se avaliar os fatores relacionados a cada caso
quanto ao grau de prática de atividade física, à intensidade do exercício,
à modalidade, ao tempo de treino, à idade, ao sexo, à dieta e ao estilo de
vida, além de período de treinamento, grau de estresse, período de sono,
fatores emocionais, fatores genéticos ou até a presença de doenças, ou seja,
fatores que constituem o indivíduo e determinam sua qualidade de vida.
Nesse sentido, descreva sobre a importância dessas variáveis na análise da
suplementação de micronutrientes na área esportiva.

106
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, chegamos ao último tópico desta unidade, e iremos
abordar a importância da hidratação no esporte. Reforçaremos algumas
questões fisiológicas que permeiam o termo regulação e, consequentemente, o
mecanismo de hidratação e desidratação de um esportista/atleta, considerando
poder ser a hidratação o fator-chave para o primeiro lugar no momento final de
uma competição.

Além disso, identificaremos os protocolos de hidratação, antes, durante


e após a prática da modalidade esportiva, refletindo sobre qual o tipo de fluido
a ser ofertado em determinado momento, considerando a intensidade, tempo de
esforço e as condições ambientais, principalmente temperatura e umidade do ar.

Ainda, caberá discutir, neste tópico, a legislação brasileira que regula-


menta as bebidas repositoras de eletrólitos, com orientações de quantidades e
tipos de carboidratos que podem estar presentes nessa bebida, bem como, quais
são as quantidades dos minerais. Por fim, é válido relembrarmos as alterações
fisiológicas que acontecem no processo de desidratação, suas consequências e
impactos no desempenho de um praticante de exercício físico.

2 INGESTÃO HÍDRICA
A água corresponde a 60% do peso corporal em um adulto normal,
sendo que um homem de 70 kg possui, em média, 42 L de água. A água compõe
três quartos do peso dos tecidos magros e menos de um quarto do peso da
gordura, desta forma, podemos perceber que a composição corporal interfere na
quantidade de água corporal (WHITNEY; ROLFES, 2013).

A localização da água é dividida em dois reservatórios: intracelular


(dentro das células), que reserva 28 L (40%) e extracelular (toda água externa
às membranas celulares) os outros 14 L (20%), considerando o exemplo anterior
de um homem de 70 kg, sendo que este último compartimento se subdivide
funcionalmente em plasma (5%) e fluido intersticial (15%).

O fluido intersticial recobre diretamente as células extravasculares e


permite a passagem de nutrientes e produtos metabólicos entre o sangue e as
células (GROPPER; SMITH; GROFF, 2011).
107
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

A água possibilita a solubilização e a passagem de uma grande variedade


de nutrientes orgânicos e inorgânicos do sangue para a célula e da célula para o
sangue, além das inúmeras reações metabólicas que ocorrem intracelularmente:

• Mantém a estrutura de moléculas grandes, como as proteínas e o glicogênio.


• Serve como solvente para minerais, vitaminas, aminoácidos, glicose e
muitas outras moléculas pequenas para que possam participar de atividades
metabólicas.
• Age como lubrificante e amortecedor ao redor de articulações e dentro dos
olhos, medula espinhal, e em gestações, do saco amniótico que envolve o feto
no útero.
• Auxilia na regulação da temperatura normal do corpo, pois a evaporação do
suor pela pele elimina o excesso de calor do corpo.
• Mantém o volume de sangue.

Dessa forma, para auxiliar nessas e demais funções, o corpo mantém


o equilíbrio hídrico (ingestão = liberação) (GROPPER; SMITH; GROFF, 2011;
WHITNEY; ROLFES, 2013).

NOTA

O hipotálamo controla atividades como a manutenção do equilíbrio hídrico,


regulação da temperatura corporal e o controle do apetite (WHITNEY; ROLFES, 2013).

Vamos recordar como ocorre o processo da sede?

Quando o equilíbrio hídrico diminui, o sangue começa a se concentrar, a


boca seca e o hipotálamo inicia a sensação de sede. Os receptores de estiramento
no estômago enviam sinais para a ação de beber, bem como os receptores que
monitoram o volume de sangue no coração.

Caso o indivíduo que está com perda de água não a reponha, ocorre a
desidratação, que justamente tem como seus primeiros sintomas a sede, e como
consequência do não consumo hídrico, com rapidez, seguem os demais sintomas
(Tabela 2), podendo resultar em morte (WHITNEY; ROLFES, 2013).

108
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

2.1 UM POUQUINHO DA HISTÓRIA


Para iniciarmos, vamos rever o que a história nos traz sobre a ingestão de
líquidos em competições, para compreendermos um pouco do porquê ainda hoje
há controvérsias em alguns protocolos de reidratação.

Até o século XX, a restrição de líquido durante a atividade física era


associada ao ganho de desempenho durante as competições, sendo, naquele
momento, preconizada a não ingestão de água ou outros líquidos, pensamento
baseado nas observações de que os grandes atletas finalizavam as provas
vitoriosos com temperaturas corporais acima de 40 °C, considerada para eles “a
chave do sucesso”.

Além disso, os atletas e seus preparadores acreditavam que a ingestão de


líquidos e alimentos durantes as provas, poderiam trazer desconfortos gástricos
(TIRAPEGUI, 2012).

Apenas em 1940, os impactos deletérios da desidratação no desempenho


tornaram-se conhecidos, todavia, ainda envoltos de dúvidas e com resistência
por parte de alguns atletas.

Apenas nos últimos 30 anos, os profissionais da saúde vêm destacando


a importância da ingestão de líquidos, antes, durante e após a prática de
exercícios físicos.

Foram os militares os primeiros a reconhecer a importância da reposição


de líquidos no desempenho, pois, durante as batalhas, venciam os que tinham
disponibilidade de água, considerando a batalha dos “seis dias”, em 1967, quando
grande parte deles morreu por desidratação (TIRAPEGUI, 2012).

Atualmente, a hidratação no esporte é um tema bem discutido, reconheci-


do, estudado e que apresenta inúmeros benefícios para o rendimento dos atletas
e praticantes de exercício físico. E é o que discutiremos a seguir, iniciando pela
discussão do balanço hídrico.

O turnover hídrico é bastante variável, dependendo do clima, prática


de exercício físico e sexo do indivíduo. Como exemplo, temos os indivíduos
sedentários que residem em ambientes amenos, onde a perda de água gira em
torno de 2 a 4 L por dia, em contrapartida, os atletas que chegam a perder mais
de 10 L por dia. Essa perda acontece por meio da diurese, sudorese, perspiração,
respiração e fezes (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

109
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

2.2 COMPOSIÇÃO DO SUOR


A composição do suor, líquido secretado pelas glândulas sudoríparas, é
semelhante ao plasma em relação aos íons, como sódio, cloreto, potássio, sendo
os dois primeiros os mais abundantes. Todavia, essa composição pode alterar,
dependendo do indivíduo, da dieta, taxa de sudorese, hidratação e grau de
aclimatação.

O ambiente do treinamento, quando muito quente estiver, mais favo-


recerá uma adaptação ao organismo, no sentido de que o suor se torna hipo-
tônico em relação ao sangue, pois a concentração dos sais no suor é reduzida
em 50%, já que a sudorese está aumentada, viabilizando uma maior eficiência
da termorregulação.

Na Tabela 2, estão descritas as faixas de concentrações normais da


maioria dos eletrólitos encontrados no suor, no plasma e no meio intracelular
(TIRAPEGUI, 2012).

TABELA 2 – CONCENTRAÇÕES DE ELETRÓLITOS NO SUOR, NO PLASMA E NO MEIO


INTRACELULAR

Água intracelular
Eletrólitos Suor (mmol/L) Plasma (mmol/L)
(mmol/L)
Potássio 20 a 80 130 a 155 10
Sódio 4a8 3,2 a 5,5 150
Cloreto 20 a 60 96 a 110 8
Cálcio 0a1 2,1 a 2,9 0
Magnésio < 0,2 0,7 a 1,5 15
Bicarbonato 0 a 35 23 a 28 10
Fosfato 0,1 a 0,2 0,7 a 1,6 65
Sulfato 0,1 a 0,2 0,3 a 0,9 10

FONTE: Tirapegui (2012, p. 120)

Vale destacar que o íon mais representativo no suor é o sódio, sendo


que o potássio pouco se altera no meio extracelular e rapidamente retorna às
concentrações normais após o exercício (TIRAPEGUI, 2002).

2.2.1 Taxa de suor


Essa taxa é expressa em mililitros por hora. Para realizar esse cálculo, de-
ve-se pesar o atleta antes e após a atividade física, obtendo a diferença de peso
corporal na qual deverá ser somada a ingestão de líquidos durante o exercício e
descontada a eliminação de líquido pela diurese (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015).

110
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

Atingindo um resultado em mililitros, deve-se dividi-lo pelo tempo de


atividade, obtendo-se a taxa da sudorese. No Quadro 13 estão descritos os fatores
que podem influenciar na taxa de suor.

QUADRO 13 – FATORES QUE INFLUENCIAM A TAXA DE SUOR

Fatores Subfatores Mecanismo de ação

Mais do que a superfície corporal, o


Glândulas ativadas
Área corporal número do GAS por unidade de área é o
pelo suor (GAS)
maior determinante da taxa de suor.

Em geral, homens têm maiores taxas de


Feminino/
Sexo suor do que as mulheres, porém as mulhe-
Masculino
res possuem mais GAS por área corporal.

Diante de uma condição ambiental


Intensa padrão, quanto maior a intensidade do
exercício, maior será a produção de calor
e taxa de suor.
Tipo de Taxas de suor em atividades intermitentes,
atividade em que a intensidade é variada, são pouco
Continua x descritas na literatura. Taxas de suor
intermitente podem ser baixas, já que as pausas nessas
atividades permitem que a produção
diminua momentaneamente.

Sob uma intensidade constante,


Temperatura
temperaturas altas promovem taxas
maiores de suor.
Condições
ambientais Sob uma intensidade constante, umidade
alta promove taxas maiores de suor. Em
Umidade
mulheres, a umidade contribui para o
recrutamento da GAS.

Indivíduos aclimatados iniciam a sudorese


Aclimatação
em temperaturas menores e podem
exercitar-se por um período mais longo.

Independentemente da aclimatação,
um condicionamento melhor implica
Status físico uma resposta ao suor mais eficiente com
Condicionamento
o aumento da temperatura durante o
exercício e pode contribuir para o aumento
da perda total de suor.

Desidratação reduz a resposta da


Nível de hidratação
capacidade de suor.

FONTE: Tirapegui (2012, p. 122)

111
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

3 HIDRATAÇÃO
O grau de hidratação adequado é mantido em praticantes de exercício
físico que ingerem a quantidade de líquidos adequados antes, durante e após os
exercícios, todavia, esse equilíbrio é difícil de ser mantido devido às limitações na
frequência da ingestão de líquidos, esvaziamento gástrico e absorção intestinal
(TIRAPEGUI, 2012).

Considera-se, de acordo com Hernandez e Nahas (2009), que os fluidos a


serem ingeridos pelos atletas, para facilitar a palatabilidade, devem estar entre 15
e 22 °C e ter sabores leves, pois são melhor aceitos do que apenas água.

Nesse conceito, percebe-se que a água, como única fonte de liquido


durante um exercício físico de longa intensidade, pode surtir efeitos adversos,
pois, à medida que a ingestão de água aumenta, ocorre uma expansão do volume
sanguíneo (diluição plasmática), com consequente diurese, além do desconforto
pelo aumento de líquido na bexiga do atleta. O aumento na excreção líquida
promoverá também, eliminação de sódio (hiponatremia). O diagnóstico da
hiponatremia pode ser realizado quando as concentrações plasmáticas de sódio
são menores que 130 mEq/L, causando apatia, náusea, vômito, consciência
alterada e convulsões, que podem ocasionar alterações neurológicas. Por isso,
ganham destaque os eletrólitos para minimizar a diluição plasmática (BIESEK;
ALVES; GUERRA, 2015).

Qual é o eletrólito que se destaca para essa função? O sódio, íon mais
abundante no plasma e o principal na manutenção da osmolaridade, e prevenção
da hiponatremia, benefício que deu origem às bebidas esportivas, os isotônicos,
assim chamados por conterem principalmente glicose e sódio nas concentrações
plasmáticas, com características de mais rápida absorção e menor diluição.
Atualmente, o termo isotônico foi substituído por repositores hidroeletrolíticos
(TIRAPEGUI, 2012).

É importante ressaltarmos que os repositores hidroeletrolíticos são


diferentes das bebidas chamadas energéticas, já que as energéticas possuem
objetivo de fornecer energia extra para aumentar o rendimento e não
necessariamente repõem os eletrólitos. Os repositores energéticos possuem
concentração maior que 10% de carboidratos, ao passo que os repositores
hidroeletrolíticos apresentam em média 6% de carboidratos e eletrólitos, como
sódio, cloro e potássio (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015).

3.1 EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO


A manutenção dos fluidos corporais é de suma importância para a
sobrevivência das células, pois, caso uma quantidade excessiva de água entre
nelas, podem romper, já no caso de perda excessiva de água, elas entram em
colapso, desta forma, para controlar o fluxo da água, as células controlam o fluxo
dos macrominerais (WHITNEY; ROLFES, 2013).
112
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

Quando o cloreto de sódio (NaCl) é dissolvido na água, ele se dissocia em


íons (átomos que ganharam ou perderam elétrons, possuindo, portanto, carga
elétrica), que podem ser cátions (carga positiva – Na+) e ânions (carga negativa –
Cl-), transportam na água eletricidade de forma corrente, por isso são chamados
de eletrólitos e os fluidos aos quais estão presentes de soluções eletrolíticas, as
quais possuem concentrações de ânions e cátions equilibradas.

Dessa forma, se um ânion entrar no fluido, um cátion deverá acompanhá-


lo, ou outro ânion deverá sair, sempre que íons Na+ saírem da célula outro cátion
entrará, o potássio (K+), por exemplo (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). É
importante ressaltar que os cátions e ânions atraem conjuntos de moléculas de
água em volta deles, possibilitando sua dissolução e possibilitando que o corpo
mova fluidos para os demais compartimentos.

Alguns eletrólitos permanecem na área extracelular (Na+ e Cl-), enquanto


outros têm mais afinidade pela parte intracelular (K+, magnésio, fosfato e sulfato)
e, em toda troca de compartimento, a água acompanha o eletrólito (processo
denominado osmose) (WHITNEY; ROLFES, 2013).

3.2 DESEQUILÍBRIO ENTRE OS ELETRÓLITOS


Apesar do equilíbrio osmótico no organismo ser constante, em algumas
situações ocorre o desequilíbrio, por exemplo: utilização de medicamentos,
vômito e diarreia forte, suor excessivo, queimaduras e ferimentos.

Considerando que o sódio e o cloreto são os íons extracelulares, serão


os primeiros a serem perdidos quando o líquido é eliminado. Em alguns casos,
a reposição do líquido perdido acontece apenas com a água natural e fresca e
alimentos apropriados. Todavia, em alguns momentos, é necessária a reposição
de fluidos e eletrólitos. Profissionais da saúde utilizam, em determinados casos de
diarreia crônica, a terapia de reidratação oral, que contém uma colher de açúcar,
uma pitada de sal e meio litro de água (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).

3.3 EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE


O pH é a unidade de concentração de íons (H+), quanto menor for o pH,
maior é a concentração de íon H+ e mais forte é o ácido. Um pH acima de 7 é
alcalino ou base e são predominantes íons OH- (WHITNEY; ROLFES, 2013). Veja
a escala do pH na Figura 6.

113
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

FIGURA 6 – ESCALA DO PH

FONTE: <https://bit.ly/3vObUQp>. Acesso em: 11 maio 2021.

O corpo precisa manter o pH com variações limitadas para evitar que


tragam riscos à vida. Pequenos desvios podem danificar proteínas, causando
destruição metabólica. Por isso possuímos três sistemas que protegem o corpo
das oscilações no pH, tampões no sangue, respiração nos pulmões e a excreção
nos rins (WHITNEY; ROLFES, 2013).

• Regulação por meio de tampões: o bicarbonato (composto com a formula HCO3


que resulta da dissociação do ácido carbônico, de maior importância na manu-
tenção do equilíbrio ácido base) e o ácido carbônico nos fluidos corporais, assim
como algumas proteínas, protegem nosso organismo de alterações na acidez,
agindo como tampões, neutralizando ácidos e bases, primeira linha de defesa.
• Regulação por meio de pulmões: a respiração é a segunda linha de defesa para
o desequilíbrio ácido-base. O dióxido de carbono, formado durante o metabo-
lismo celular, produzindo ácido carbônico no sangue, que se dissocia formando
íons de hidrogênio e bicarbonato. O equilíbrio entre o ácido carbônico e o bi-
carbonato é essencial para manter o pH no sangue ideal, pois se o ácido carbô-
nico for desenvolvido em excesso, a taxa respiratória acelera-se, aumentando o
dióxido de carbono exalado, diminuindo consequentemente a concentração do
ácido carbônico. Contrariamente, se o bicarbonato aumenta, a taxa respiratória
lentifica e o dióxido de carbono é retido em forma de ácido carbônico.
• Regulação por meio dos rins: ao selecionar quais íons serão preservados e/ou
excretados, os rins ajustam o equilíbrio ácido-base do corpo, por isso, a acidez
da urina oscila, ajustando esse equilíbrio (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).

DICAS

Como a hidratação é uma questão de fundamental importância para a vida, nas


práticas esportivas ela também merece destaque, devido à perda hídrica para equilíbrio da
temperatura corporal. Sugerimos a leitura do artigo: Déficit hídrico pós-treino em judocas
submetidos a diferentes intensidades de treinamento com e sem hidratação, disponível
em: http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article/view/496.

114
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

4 ESVAZIAMENTO GÁSTRICO
Após a ingestão de fluidos o esvaziamento gástrico é considerado o
primeiro fator limitante, para que este, esteja disponível na circulação, pois o
estômago não tem função de absorver os líquidos de forma significativa, a qual
acontecerá no intestino. O esvaziamento gástrico é controlado por diferentes
fatores, são eles: intensidade, tipo do exercício, volume ingerido, densidade
energética, osmolaridade, temperatura e tipo do carboidrato (HERNANDEZ;
NAHAS, 2009).

4.1 DENSIDADE ENERGÉTICA


Quantidades altas de carboidratos podem retardar o esvaziamento
gástrico, reduzindo a quantidade de fluido disponível para absorção intestinal,
demonstrando que há fatores que limitam a absorção intestinal de glicose, ainda
a maior concentração luminal de carboidratos desloca água para o intestino,
contribuindo para aumento no risco de desidratação, além de distúrbios
gastrointestinais.

Em condições ambientais quentes, o recomendado é a oferta de bebidas


que contenham de 4 a 6% de carboidratos, pois nesta concentração não haverá
retardo no esvaziamento gástrico. Todavia, a velocidade com que as bebidas
hidroeletrolíticas serão esvaziadas dependem também do conteúdo energético
total (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

4.2 INTENSIDADE E TIPO DO EXERCÍCIO


Exercícios realizados em intensidades inferiores a 70% VO2máx acarretam
pouco a função do trato digestório, mas em intensidades maiores tanto o
esvaziamento quanto a absorção intestinal podem ser alterados. Dessa forma,
em situações em que os indivíduos têm treinos longos e intensos, o consumo
de grandes volumes de fluidos pode causar desconforto gástrico e prejuízo no
esforço físico.

Quando o exercício é de corrida, há uma incidência maior nos problemas


gastrointestinais, quando comparados à natação e ao ciclismo. A ingestão de
fluidos durante maratonas deve ser pequena, variando ao máximo em 600 mL/h,
aumentando o risco de desidratação nesse grupo de atletas (TIRAPEGUI, 2012).

115
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

4.3 TEMPERATURA DAS BEBIDAS E VOLUME INGERIDO


A temperatura das bebidas deve ser de acordo com a preferência do atleta,
considerando que bebidas geladas podem auxiliar quando o exercício é realizado
em ambientes quentes, bem como bebidas menos geladas em ambientes mais frios.
De forma geral, água em temperatura entre 5 e 15 °C esvaziam mais rapidamente
que soluções mornas.

Quanto ao volume a ser ingerido, é necessário que o atleta, durante os trei-


namentos, verifique a sua tolerância a grandes volumes de líquido no estômago.

Todavia, é comum que os atletas relatem com frequência refluxo


gastroesofágico resultante da ingestão de volumes maiores de líquidos já antes
do início da prova, por isso, não o fazem. Com isso, se torna vantajoso manter
o volume no estômago, tolerável durante o exercício, próximo de 400 a 600 mL
(TIRAPEGUI, 2012).

4.4 TIPO DE CARBOIDRATO NOS REPOSITORES


HIDROELETROLÍTICOS
A ingestão de glicose, quando comparada a sacarose e maltodextrina,
não apresenta diferença em relação ao esvaziamento gástrico. Já, soluções com
frutose, passam mais rápido pelo estômago, mas são absorvidas mais lentamente
no intestino, podendo causar desconforto intestinal.

A osmolaridade torna-se importante em soluções com quantidades


maiores de carboidratos, todavia, nestes casos, a própria densidade energética
será responsável por um esvaziamento gástrico mais lento.

De maneira geral, podemos considerar que volume do conteúdo gástrico,


densidade energética e a osmolaridade da bebida são os fatores mais relevantes
no esvaziamento gástrico, devendo ser considerado, também, que a substituição
de glicose por polímeros de glicose parece aumentar levemente a taxa de oferta
de fluidos e de substratos para o intestino delgado (BIESEK; ALVES; GUERRA,
2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

5 ABSORÇÃO INTESTINAL
A absorção líquida de água aumenta pelo transporte ativo de glicose e
sódio. Como a capacidade de absorção de solutos e água no estômago é reduzida,
a taxa com que são liberados ao intestino influenciara na agilidade de sua absorção
(TIRAPEGUI, 2012; HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

116
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

5.1 TIPO E CONCENTRAÇÃO DE CARBOIDRATO


Importante prestarmos atenção agora, nas diferenças que veremos entre
a sacarose, glicose e frutose. Bebidas que contêm sacarose e glicose viabilizam
maior absorção de água e sódio, por sua vez, bebidas que contêm mais frutose
promovem absorção moderada de água e muito baixa de sódio, com isso, é
importante a união desses diferentes carboidratos, que possuem vias de absorção
diferentes, pois resultam em uma utilização maior desses carboidratos como
fonte de energia, do que quando administrado isoladamente, gerando também,
aumento na absorção de líquidos.

A concentração luminal de glicose de 80 a 200 mmol/L maximiza a taxa


de absorção de fluidos, contudo, quando este está em baixas concentrações na
solução. Concentrações com 6 a 8% de glicose e sacarose parecem promover uma
absorção com a mesma rapidez que a água. Quando a concentração de carboidra-
to for maior que 10%, o fluido é deslocado para o lúmen intestinal, promoven-
do uma desidratação com associação a câimbras abdominais, náuseas e diarreia
(BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). No Quadro 14, cons-
tam as recomendações para conjugação de hidratação e reposição energética.

QUADRO 14 – ESTRATÉGIAS PARA CONJUGAR A HIDRATAÇÃO COM O FORNECIMENTO DE


CARBOIDRATO DURANTE O EXERCÍCIO

Recomendações de carboidratos 30 a 60 g por hora


Recomendações de líquidos 500 a 1000 mL por hora
Glicose, frutose e maltodextrinas
Tipos de carboidratos
misturados
Concentração 6 a 8%

FONTE: Tirapegui (2012, p. 135)

No Quadro 15, são apresentadas concentrações de carboidratos deseja-


das para determinada bebidas.

QUADRO 15 – ELABORAÇÃO DE BEBIDAS

Quantidade de
30 g 40 g 50 g 60 g
carboidrato por hora

Concentração a ser
Quantidade de liquido a ser acrescentado
atingida
6% 500 mL 667 mL 833 mL 1000 mL
7,5% 400 mL 533 mL 667 mL 800 mL
8% 375 mL 500 mL 625 mL 750 mL

FONTE: Tirapegui (2012, p. 135)

117
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

6 RECOMENDAÇÕES DE INGESTÃO DE FLUIDOS


E ELETRÓLITOS
Para garantir que o esportista inicie o exercício bem hidratado,
recomenda-se que ele ingira cerca de 250 a 500 ml de água duas horas antes
do exercício. Já durante o exercício, a recomendação é de início da ingestão
nos primeiros 15 minutos, com contínua hidratação, bebendo a cada 15 a 20
minutos. Em relação ao volume a ser ingerido, varia conforme as taxas de
sudorese, girando entre 500 e 2.000 ml/hora.

Caso a atividade dure mais de uma hora, ou se for intensa, mesmo com
menos de uma hora, deve ser reposto carboidrato na quantidade de 30 a 60 g
por hora e sódio na quantidade de 0,5 a 0,7 g/L (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).
Conforme vimos anteriormente, a bebida deve estar em temperatura entre
5 a 22 °C e apresentar um sabor de acordo com a preferência do indivíduo,
favorecendo a palatabilidade.

Após o exercício, a ingestão é de suma importância, devendo o esportista


continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela
diurese e sudorese. Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos, em média de
50 g de glicose, nas primeiras duas horas após o exercício, para que se promova
a ressíntese do glicogênio muscular e o rápido armazenamento de glicogênio
muscular e hepático (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

E
IMPORTANT

ORIENTAÇÕES PARA PROMOÇÃO DE UMA ADEQUADA REIDRATAÇÃO

O atleta deve acompanhar as mudanças no seu peso corporal antes e após o exercício,
verificando se o consumo de líquidos durante a prática esportiva foi suficiente. A perda de
1 kg equivale a 1 L de fluido perdido, aproximadamente. Considerando a contínua perda
durante o período de recuperação pela urina e suor, é necessário que o atleta ingira uma
quantidade extra, 150% do volume perdido deve ser consumido em um período de duas
a quatro horas, sendo este através de líquidos palatáveis, não podendo ser álcool e cafeína
que estimulam a diurese. Em situações em que o déficit de fluidos foi de moderado a alto,
a reposição de sódio ajudará na retenção do líquido, minimizando as perdas pela urina
(TIRAPEGUI, 2012).

No Quadro 16, seguem orientações para recuperação dos atletas pós


exercício.

118
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

QUADRO 16 – ORIENTAÇÕES PARA O PERÍODO DE RECUPERAÇÃO

Objetivo principal Ressíntese de glicogênio, reposição hídrica e de sódio

- Sódio 30 a 40 mEq.
- Cloreto 30 a 40 mEq.
Composição da solução - Carboidrato 50 g/hora.
- Fluidos 1,5 vezes o peso perdido em água durante o
exercício.
- O processo de reidratação deve ocorrer nos primeiros 20
min pós exercício
- A solução deve possuir uma boa palatabilidade, uma
Justificativa
concentração ideal de carboidrato para repor reservas de
glicogênio e também deve conter sódio para manter volume
extracelular.

FONTE: Tirapegui (2012, p. 150)

6.1 RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 18,


DE 27 DE ABRIL DE 2010
A resolução da ANVISA, de 2010, RDC nº 18, de 27 de abril de 2010,
dispõe sobre alimentos para atletas, e tem o objetivo de estabelecer a classificação,
a designação, os requisitos de composição e de rotulagem dos alimentos para
atletas. Dentre essas classificações, estão os suplementos hidroeletrolíticos para
atletas, os quais devem seguir as seguintes recomendações, conforme artigo 6º
dessa resolução:

Art. 6º Os suplementos hidroeletrolíticos para atletas devem atender


aos seguintes requisitos:
I - a concentração de sódio no produto pronto para consumo
deve estar entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais
inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio;
II - a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser
inferior a 330 mOsm/kg água;
III - os carboidratos podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto
para consumo;
IV - o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme
Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes
essenciais;
V - o produto pode ser adicionado de potássio em até 700 mg/l;
VI - o produto não pode ser adicionado de outros nutrientes e não
nutrientes;
VII - o produto não pode ser adicionado de fibras alimentares.
§1° Quanto ao tipo de carboidratos, referente ao inciso III, este produto
não pode ser adicionado de amidos e poliois.
§2° Com relação ao teor de carboidratos, constante do inciso III, o teor
de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 3% (m/v) do
produto pronto para o consumo (BRASIL, 2010).

119
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE HIDRATAÇÃO E TIPO


DE EXERCÍCIO
Conforme mencionado anteriormente, a manutenção dos fluidos
corporais é de suma importância para a sobrevivência das células, pois, caso uma
quantidade excessiva de água entre nelas, podem romper, já no caso de perda
excessiva de água, elas entram em colapso, desta forma, para controlar o fluxo
da água, as células controlam o fluxo dos macrominerais (WHITNEY; ROLFES,
2013). Nesse sentido, considerando as diferenças que o processo de hidratação
requer nas variadas modalidades esportivas, seguem as orientações:

6.2.1 Hidratação em esportes de alta intensidade


e curta duração
Na modalidade de alta intensidade podemos exemplificar provas
de corrida, ciclismo e de natação de velocidade. Eventos esportivos, nesta
modalidade, dispensam intervenções de hidratação durante a competição, pois,
além do curto período, a absorção intestinal estará diminuída.

Considerando essa afirmação, alguns estudos com intuito de verificar o


estado de hidratação desses atletas têm observado que, mesmo em condições
de hipo-hidratação, com perda de 2 a 3% do peso corporal), não há redução
significativa de força ou potência muscular.

Atletas de sprints têm vantagens com uma composição corporal reduzida,


ficando mais leve para se exercitar. Nesse contexto, para essas modalidades, a
indicação é de iniciar o treinamento em estado desidratado (TIRAPEGUI, 2012).

6.2.2 Hidratação em corredores de meia distância


Nesta modalidade, as distâncias percorridas giram em torno de 800 e
3000 metros, que perduram entre 2 a 9 minutos, quando realizadas por atletas
de elite. Como podemos perceber, a duração dessas competições é pequena, não
requerendo intervenção de hidratação. Vale destacar que as características indi-
viduais e a intensidade do exercício devem ser consideradas, todavia, não há re-
lato científico de diferença significativa de desempenho entre atletas que iniciam
esse tipo de atividade em diferentes estados de hidratação (TIRAPEGUI, 2012).

6.2.3 Hidratação para exercícios de longa distância


Eventos de longa distância são os maiores de 3000 metros, corridas,
caminhadas, ciclismo, natação entre outros, nos quais a taxa de suor e a duração
do exercício são elevadas, resultando em perda de massa corporal que pode

120
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

prejudicar a saúde e desempenho do atleta. Nessas modalidades, as taxas de


suor variam entre 2 a 3 L por hora, avaliando uma atividade de duração superior
a 2 horas.

Quando a desidratação equivale a uma redução de massa corporal maior


que 2%, conforme mencionado anteriormente, pode comprometer o desempenho
físico. A Sociedade Brasileia de Medicina Esportiva (2009) orienta a reposição de
sódio quando a perda hídrica pelo suor for intensa. Como exemplo, podemos
citar um atleta de 70 Kg, que, ao correr por três horas, pode perder 2 L de suor, e
com ele 240 mEq de sódio, equivalente a 10% do sódio presente no meio extrace-
lular, valor suficiente para desencadear a hiponatremia (BIESEK; ALVES; GUER-
RA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014; TIRAPEGUI, 2012).

Os macrominerais são assim chamados porque estão presentes e são


necessários em maiores quantidades que os demais minerais. São substâncias
inorgânicas (que preservam sua identidade química) e tem sua biodisponibilidade
variável, pois os alimentos contêm aglutinadores (fitatos e oxalatos) que combinam
com alguns minerais e os carreiam para fora do organismo.

Também, os minerais interagem entre si, como o sódio e o cálcio, excreta-


dos em conjunto quando o consumo de sódio é excessivo, assim como o fósforo
se liga ao magnésio no TGI. Nesse contexto, reforça-se o cuidado com a utilização
de suplementos (WHITNEY; ROLFES, 2013).

• Sódio: principal cátion do fluido extracelular e importante regulador do


seu volume, assim como auxilia na manutenção do equilíbrio ácido-base,
é necessário aos impulsos nervosos e contração muscular. É um mineral
prontamente absorvido no TGI, e percorre o sangue livremente até chegar
ao rim, onde é filtrado e devolvido a corrente sanguínea nas quantidades
necessários ao organismo. Em geral, o que é absorvido é excretado. Deficiência
e toxicidade: a deficiência pode causar cãibras, apatia mental, perda de apetite,
e o excesso pode desencadear edema e hipertensão aguda. Alimentos fonte:
em geral, alimentos processados concentram a maior parte do sódio consumido
pela população diariamente, 75% do sódio da dieta é proveniente de sal
adicionado no processamento dos alimentos, 15% originam do sal adicionado
no cozimento, no preparo das refeições e apenas 10% derivam do conteúdo
natural dos alimentos (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020).

• Cloreto: é o principal ânion dos fluidos extracelulares, que ocorre com mais
frequência associado ao sódio (cloreto de sódio). Também pode deslocar-
se livremente para o interior da célula e se associai ao potássio. Auxilia na
manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. No estômago, este íon forma o ácido
clorídrico que mantém a acidez do suco gástrico. Deficiência e toxicidade: não
há relatos de deficiência. A única causa conhecida sobre altas concentrações de
cloreto no sangue, é durante a desidratação. Alimentos fonte: sal de cozinha,
molho de soja, quantidades moderadas de carnes, leite e ovos (WHITNEY;
ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020).

121
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

• Potássio: é o principal cátion dentro da célula. Tem papel essencial na


manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e na integridade da célula. Durante
a transmissão de impulsos nervosos e a contração muscular o potássio e
o sódio, brevemente, trocam de posição através da membrana, e a célula
as “manda” novamente para suas posições. Deficiência e toxicidade: sua
deficiência é o desequilíbrio eletrolítico mais comum, devido à perda (diarreia,
vômito, desidratação, medicamentos diuréticos) e não deficiência de consumo,
tendo como sintoma a fraqueza muscular. Não foi estabelecido limite superior
tolerável de ingestão. O excesso poderá acontecer em casos de utilização de
suplementos nutricionais, desencadeando uma parada cardíaca. Alimentos
fonte: alimentos integrais, carnes, leites, frutas, hortaliças, grãos e leguminosas
(WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020).

• Cálcio: é o mineral mais abundante no corpo humano, e se encontra quase


que totalmente (99%) nos ossos, local onde desempenha importantes funções,
integrando a estrutura óssea e com isso mantendo a postura ereta do corpo.
Além disso, a estrutura óssea também é uma reserva do cálcio, de onde este
será retirado caso esteja deficiente da corrente sanguínea. Cabe aqui destacar,
que o 1% de cálcio circulante na corrente sanguínea é vital, pois participa na
forma de íon das contrações musculares, coagulação sanguínea, conforme
vimos quando discutimos a vitamina K, transmissão de impulsos nervoso,
secreção de hormônios e ativação de algumas reações enzimáticas. Ainda,
importante quando falamos do cálcio é o controle que nosso organismo faz
para mantê-lo em homeostase, considerando que envolve um sistema de
hormônios e vitamina D. Nos momentos em que a concentração de cálcio
entrar em desequilíbrio, três órgãos entrarão em ação, intestinos, ossos e
rins, com a participação essencial dos hormônios paratormônio e calcitonina.
Deficiência e toxicidade: um baixo consumo de alimentos fontes de cálcio
na fase de crescimento limita a capacidade de os ossos alcançarem sua massa
óssea ideal, que ocorre por volta dos 20 anos. Como consequência, após os
30/40 anos, quando inicia a perda de massa óssea esses indivíduos têm maior
probabilidade de desenvolver osteoporose. Quanto à toxicidade, seu consumo
excessivo (acima da ingestão máxima tolerável) pode causar constipação, risco
aumentado de cálculos renais e interferência na absorção de outros minerais.
Alimentos fonte: leite e derivados, peixes pequenos com espinha, tofu (queijo
de soja), hortaliças e leguminosas (JACQMAIN et al. 2003; WHITNEY; ROLFES,
2013 apud ROSA, 2020).

• Fósforo: é o segundo mineral mais abundante no corpo, sendo que 85% está
concentrado com o cálcio, na forma de cristais de hidroxiapatita nos ossos
e dentes. Os demais 15% do fósforo são encontrados em todas as células do
corpo, como parte de um sistema tampão principal (ácido fosfórico e seus
sais) e fazendo parte do DNA e RNA e consequentemente do crescimento das
células. Ainda, este mineral auxilia no sistema energético celular, pois muitas
vitaminas e enzimas apenas são ativadas na presença do fósforo, relembrando

122
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

que o próprio ATP utiliza três grupos de fosfatos nas suas atividades. Podemos
também, ressaltar a atividade do fósforo participante da membrana celular de
alguns lipídios, que atua no transporte de outros lipídios no sangue. Deficiência
e toxicidade: a deficiência de magnésio pode desencadear fraqueza muscular
e dores nos ossos e a toxicidade calcificação dos tecidos não esqueléticos (rins),
todavia nenhum efeito adverso foi relatado. Alimentos fonte: leguminosas,
carne (frango, gado, peixe, porco), leite e derivados (MAHAN; ESCOTT-
STUMP, 2011 apud ROSA, 2020).

• Magnésio: ao contrário do cálcio e do fósforo, o magnésio está presente no corpo


humano em pequenas quantidades, apenas aproximadamente 28 g, e mais
da metade dessa quantidade concentra-se nos ossos. Ademais encontramos
magnésio nos músculos, tecidos moles e fluido extracelular (apenas 1%).
O magnésio, bem como o cálcio também é considerado um reservatório na
estrutura óssea para os momentos de redução nos níveis sanguíneos. Como
um componente necessário na catalisação de energia pelo ATP, é de suma
importância na utilização da glicose, na síntese de proteínas, das gorduras e
dos ácidos nucleicos, e nos sistemas de transporte das membranas celulares.
Além disso, também está envolvido nas contrações musculares e coagulação
sanguínea, inibindo com isso as ações do cálcio, regulando a pressão arterial
e funcionamento dos pulmões. Com atuação ainda, relatada no sistema
imunológico. Deficiência e toxicidade: sintomas de deficiência raramente
foram relatados, mas podem surgir em casos de doenças e desordens,
gerando fraqueza, confusão, convulsões, contrações musculares estranhas,
alucinações e dificuldades para engolir. A toxicidade também não é comum,
mas proveniente de fontes não alimentares podem causar diarreia, alcalose e
desidratação. Alimentos fonte: nozes, leguminosas, cereais integrais, vegetais
folhosos verdes, frutos do mar, chocolates e cacau (SABATIER et al. 2002;
WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020).

• Enxofre: o corpo não utiliza o enxofre isolado como nutriente. É um


macromineral que aparece sempre em conjunto com outros minerais essenciais,
como a tiamina, metionina e cisteína. A pele, o cabelo e a unha possuem
algumas das proteínas mais rígidas do corpo, as quais possuem alto teor de
enxofre. Não existe valor de ingestão recomendada para o enxofre, bem como
não há registros de deficiência e toxicidade devido a sua característica de não
estar isolado (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020).

123
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

LEITURA COMPLEMENTAR

DIETARY REFERENCE INTAKES: APLICABILIDADE DAS TABELAS EM


ESTUDOS NUTRICIONAIS

Renata Maria Padovani


Jaime Amaya-Farfán
Fernando Antonio Basile Colugnati
Semíramis Martins Álvares Domene

INTRODUÇÃO

Na análise da qualidade nutricional da alimentação e da programação


de dietas considera-se o atendimento às necessidades de nutrientes e energia,
determinadas de acordo com as características de sexo, estágio de vida, atividade
física e medidas corporais de indivíduos saudáveis. Tanto para a avaliação da dieta
como para sua prescrição, são estabelecidos valores de referência para ingestão de
nutrientes, os quais são periodicamente revisados à luz de novos achados. Assim,
são incorporados novos conhecimentos de eventuais manifestações aos extremos
de exposição, ou seja, sinais carenciais decorrentes de ingestão insuficiente, ou
de toxicidade, que indicam efeitos adversos decorrentes do excesso de consumo.

As Dietary Reference Intakes (DRI) constituem-se na mais recente revisão


dos valores de recomendação de nutrientes e energia adotados pelos Estados
Unidos e Canadá, e vêm sendo publicadas desde 1997, na forma de relatórios
parciais elaborados por comitês de especialistas organizados por uma parceria
entre o Institute of Medicine norte-americano e a agência Health Canada.
Essas publicações substituem as sucessivas versões das Recommended Dietary
Allowances (RDA), cuja décima revisão foi editada em 1989. Além da atualização
de cotas dietéticas recomendadas, esse conjunto de publicações apresenta um
novo sistema de aplicação das quatro categorias de valores de referência para
avaliação e planejamento de consumo, rotulagem e fortificação de alimentos. Os
novos conceitos foram elaborados a partir da incorporação de achados sobre o
aumento dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis,
provocado pela alimentação, além da abordagem clássica dos efeitos de carência.
Estas categorias são:

• Estimated Average Requirement (EAR), este valor de referência corresponde à


mediana da distribuição das necessidades de um nutriente em um grupo de
indivíduos saudáveis do mesmo sexo e estágio de vida; por essa razão, atende
às necessidades de 50% da população.
• Recommended Dietary Allowances (RDA), esta categoria de valores, já empre-
gada nas versões anteriores, deriva do EAR e deve atender às necessidades
de um nutriente para 97% a 98% dos indivíduos saudáveis do mesmo sexo e
estágio de vida.

124
TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE

• Adequate Intake (AI), valor de consumo recomendável, baseado em


levantamentos, determinações ou aproximações de dados experimentais, ou
ainda de estimativas de ingestão de nutrientes para grupo(s) de pessoas sadias e
que, a priori, se consideraria adequado. Nem sempre o conjunto de informações
sobre o nutriente é suficientemente consistente para o estabelecimento de EAR.
Nesses casos, deve-se empregar o valor de AI, projetado como possivelmente
superior ao valor de RDA, mas sobre o qual ainda há considerável incerteza.
Assim, o valor de AI é usado quando os valores de EAR ou de RDA não podem
ser determinados.
• Tolerable Upper Intake Level (UL), há, em alguns casos, a compreensão equivoca-
da de que se um nutriente faz bem em pequena quantidade, uma grande quan-
tidade traria proporcionalmente mais benefícios. De fato, nutrientes podem
ser nocivos em doses que às vezes são apenas pouco superiores aos valores
de recomendação. O UL é definido como o mais alto valor de ingestão diária
prolongada de um nutriente que, aparentemente, não oferece risco de efeito
adverso à saúde em quase todos os indivíduos de um estágio de vida ou sexo.

Entre as novidades desse sistema não estão apenas as quatro categorias


de referência já mencionadas. Com as DRI pode-se aprimorar a avaliação e o
planejamento da alimentação, ao considerar que, para cada uma dessas etapas da
atenção dietética, deve-se aplicar uma ou mais das categorias citadas, de maneiras
distintas. Assim, para indivíduos, EAR e UL são as categorias de referência mais
adequadas para a avaliação de dietas, enquanto RDA ou AI devem ser utilizadas
como metas de ingestão. Valores habituais de consumo abaixo do EAR denotam
grande probabilidade de inadequação, e acima do UL, risco de desenvolvimento
de efeitos adversos. Contudo, se o consumo habitual estiver acima dos valores da
RDA há maior chance de que as necessidades nutricionais, tanto de indivíduos
quanto de populações, estejam atendidas. Quando não há valor de EAR e apenas
o valor de AI se encontra disponível, há maior incerteza para avaliar se um
determinado nutriente é fornecido pela dieta em quantidade adequada. Portanto,
pela simples aplicação das tabelas não é possível chegar a uma conclusão sobre
inadequação, quando os valores de consumo habitual forem menores do que este
valor de referência.

Fontes de erro intraindividuais, devidas à variabilidade do padrão de


consumo, ou interindividuais, decorrentes da distribuição das necessidades na
população, aliadas a um pequeno número de dias de observação, têm grande
impacto sobre a confiabilidade da análise. A adoção de técnicas adequadas de
inquérito dietético, aplicadas duas ou mais vezes, preferencialmente em dias
não consecutivos, contribui para melhorar a acurácia de métodos quantitativos
de consumo. Outros avanços do sistema incluem a proposição do conceito de
‘estágios da vida’, e não mais ‘faixas etárias’; a definição de antioxidante alimentar;
o emprego do conceito de unidades equivalentes para vitamina E e folato, além
da vitamina A.

125
UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE

Adicionalmente, houve a inclusão de um maior número de elementos,


como arsênico, boro, níquel e vanádio. Para estes, entretanto, a insuficiência das
evidências para firmar suas funções sobre a saúde impede, até a presente data, o
estabelecimento de níveis de recomendação. [...]

FONTE: <https://bit.ly/3gVWAfm>. Acesso em: 11 maio 2021.

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• É de suma importância o consumo hídrico antes, durante e após a prática


esportiva, e que a cada momento, os líquidos e as quantidades podem ser
alternados dependendo do tempo de exercício físico e da modalidade.

• Os processos fisiológicos de equilíbrio ácido-base e o esvaziamento gástrico


são influenciados diretamente pela escolha do repositor hidroeletrolítico.

• As quantidades de carboidrato e macrominerais presentes nos repositores


hidroeletrolíticos são regulamentos pela ANVISA.

• Os fluidos a serem ingeridos pelos atletas, para facilitar a palatabilidade,


devem estar entre 15 e 22 °C e ter sabores leves, pois são melhor aceitos que
apenas água.

• O consumo hídrico deve ser regulado, considerando que tanto a desidratação


quanto a hiper-hidratação podem causar efeitos deletérios ao organismo.

CHAMADA

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127
AUTOATIVIDADE

1 A água, como única fonte de liquido durante um exercício físico de longa


intensidade, pode surtir efeitos adversos, pois, à medida que a ingestão
de água aumenta, ocorre uma expansão do volume sanguíneo (diluição
plasmática), com consequente diurese, além do desconforto pelo aumento
de líquido na bexiga do atleta, por isso, os repositores hidroeletrolíticos
são de suma importância em determinadas situações. Em relação aos
repositores hidroeletrolíticos, é CORRETO o que se afirma em:

a) ( ) O uso desses produtos deve ser monitorado pelos próprios praticantes


de atividade física e é mais utilizado antes e após o exercício intenso.
b) ( ) São formulados pela concentração variada de eletrólitos (sódio e
cloreto) associados a concentrações variadas de proteínas e lipídios.
c) ( ) São indicados apenas após uma atividade física muito intensa, ao ar
livre, com sol (por mais de 2 a 3 horas) e com uma sudorese elevada.
d) ( ) Não possui contraindicações.
e) ( ) A alimentação diária não é suficiente para promover a reposição de
eletrólitos em muitas situações.

2 A manutenção dos fluidos corporais é de suma importância para a


sobrevivência das células, pois, caso uma quantidade excessiva de água
entre nelas, podem romper, já no caso de perda excessiva de água, elas
entram em colapso, desta forma, para controlar o fluxo da água, as células
controlam o fluxo dos macrominerais. Qual é o eletrólito que possui
importante função na redução da diluição plasmática, ganhando destaque
nos repositores hidroeletrolíticos?

a) ( ) Potássio.
b) ( ) Cálcio.
c) ( ) Sódio.
d) ( ) Fósforo.
e) ( ) Magnésio.

3 A água possibilita a solubilização e a passagem de uma grande variedade


de nutrientes orgânicos e inorgânicos do sangue para a célula e da célula
para o sangue, além das inúmeras reações metabólicas que ocorrem
intracelularmente. Nesse sentido, considerando a importância da correta
hidratação para saúde e rendimento do atleta, quais são as orientações para
promoção de uma adequada reidratação?

128
4 Os macrominerais são assim chamados porque estão presentes e são
necessários em maiores quantidades que os demais minerais. São
substâncias inorgânicas e tem sua biodisponibilidade variável. Os minerais
interagem entre si, como o sódio e o cálcio, excretados em conjunto quando
o consumo de sódio é excessivo, assim como o fósforo se liga ao magnésio no
TGI. Nesse contexto, reforça-se o cuidado com a utilização de suplementos.
Descreva abaixo a importância do sódio nesse processo, assim como seus
alimentos fontes.

5 A resolução da ANVISA, RDC nº 18, de 27 de abril de 2010, dispõe sobre


alimentos para atletas, e tem o objetivo de estabelecer a classificação, a
designação, os requisitos de composição e de rotulagem dos alimentos para
atletas. Dentre essas classificações, estão os suplementos hidroeletrolíticos
para atletas, os quais devem seguir as seguintes recomendações, conforme
artigo 6º dessa resolução. Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar


entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins
alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto pronto
para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; os carboidratos
podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto para consumo; o
produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme
Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais.
b) ( ) O produto pode ser adicionado de outros nutrientes e não nutrientes,
assim como pode ser adicionado de fibras alimentares.
c) ( ) Com relação ao teor de carboidratos, o teor de frutose, quando
adicionada, não pode ser superior a 8% (m/v) do produto pronto para
o consumo.
d) ( ) Concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar
entre 1150 e 2000 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para
fins alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto
pronto para consumo deve ser inferior a 530 mOsm/kg água; os
carboidratos podem constituir até 12% (m/v) do produto pronto
para consumo; o produto pode ser adicionado de vitaminas e
minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de
nutrientes essenciais.
e) ( ) A concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar
entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins
alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto pronto
para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; com relação ao
teor de carboidratos, o teor de frutose, quando adicionada, não pode
ser superior a 8% (m/v) do produto pronto para o consumo.

129
REFERÊNCIAS
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135
136
UNIDADE 3 —

RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS


E APLICABILIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o panorama geral dos suplementos alimentares, considerando as


legislações existentes no Brasil e os Guidelines Nacionais e Internacionais;

• rever conceitos de fisiologia e bioquímica do exercício para facilitar a


compreensão da real necessidade de suplementação alimentar;

• ampliar o olhar da suplementação alimentar aos praticantes de treinos de


força e exercícios resistidos;

• apontar as novidades referentes à atuação do nutricionista na área da Nu-


trição Esportiva, abordando a fitoterapia e sua aplicabilidade no esporte.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – RECURSOS ERGOGÊNICOS

TÓPICO 2 – RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS


RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

TÓPICO 3 – FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES


ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

137
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

138
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

RECURSOS ERGOGÊNICOS

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico, vamos iniciar o Tópico 1, que está direcionado a abordar


os suplementos alimentares de maneira geral, juntamente com as legislações
e orientações nacionais e internacionais dessa área; para tanto, é importante
fazermos algumas considerações iniciais.

Primeiro, cabe salientar que para que os atletas tenham sucesso em


suas modalidades, dois fatores são relevantes: a genética e o treinamento, pois,
considerando o mundo das competições, onde, em sua maioria, os atletas possuem
habilidades genéticas semelhantes, fazem do treinamento o fator que pode fazer
a diferença no “segundo final”, todavia, por vezes são expostos a treinamentos
também semelhantes. Com isso, a busca dos atletas por possibilidades que
melhorem seu rendimento é contínua, fazendo com que a alimentação e a
suplementação adentrem nesse campo do esporte com bastante “força”.

Antes de darmos sequência no conteúdo, vamos compreender o que é


recurso ergogênico, já que pode ser confundido unicamente com suplementos
alimentares.

NOTA

O que você considera um recurso ergogênico? De acordo com Willians


(1995), a palavra “ergogênico” deriva do grego ergon, trabalho, e gennan, produção, que
significa substâncias ou artifícios que visem à melhora do desempenho, ou seja, podem
ser considerados recursos ergogênicos fatores nutricionais, como os suplementos, fatores
farmacológicos, biomecânicos e mecânicos como roupas mais leves, bicicletas melhores
adaptadas, no caso dos ciclistas, ainda fatores psicológicos e fisiológicos.

139
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Podemos, então, classificar os suplementos alimentares como recursos


ergogênicos? Sim, mas, infelizmente um grande número de suplementos vem
sendo comercializado com diferentes objetivos, e sem respaldo científico,
discutiremos isso na sequência.

É importante, ainda, relembrar o que é um atleta e um esportista, pois as


legislações, por vezes, fazem alegações específicas aos dois:

• Os atletas (profissionais/amadores) praticam modalidades esportivas específi-


cas, estabelecem rotinas fixas e frequência praticamente diária de treinamento,
tendo como finalidade a obtenção de alto desempenho em competições. Nor-
malmente usam dessa prática como fonte de renda.
• Os esportistas, por sua vez, são aqueles indivíduos que praticam exercícios
físicos, sem muita especificidade, podendo ser musculação, ginástica olímpica,
vôlei, tênis, entre outros, com regularidade ou não em cada prática e intensidade
variada, sem caráter profissional.

Agora, vamos em frente e rever alguns conceitos e legislações em torno


dos recursos que envolvem a categoria nutricional, dando enfoque às substâncias
mais utilizadas nos últimos tempos.

2 INTRODUÇÃO À SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR


Quais seriam os objetivos de um atleta e ou esportista ao utilizar um
suplemento alimentar?

Em sua maioria, os atletas usam esses recursos com foco no aumento de


massa muscular e obtenção de energia para os músculos, pois estão envolvidos
com os mecanismos geradores de energia, sendo substrato energético, regulador
de processos metabólicos que geram energia e promovem o crescimento e
desenvolvimento dos tecidos corporais.

O Quadro 1 aborda os métodos/mecanismos pelos quais os ergogênicos,


neste caso, suplementos alimentares, podem melhorar o desempenho (ALVES,
2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

140
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

QUADRO 1 – MÉTODOS PELOS QUAIS OS ERGOGÊNICOS PODEM MELHORAR A


PERFORMANCE MEDIANTE A POTÊNCIA FÍSICA, FORÇA MENTAL E LIMITE MECÂNICO

Métodos

− aumento de tecido muscular;


− intensificação dos processos metabólicos de
liberação de energia;
− aumento da oferta de energia no musculo
Para intensificar a potência
durante atividades de longa duração;
física
− melhora na liberação do substrato energético no
músculo;
− combate ao acúmulo de substâncias que
interferem na ótima produção de energia.

− aumento dos processos psicológicos que


maximizam a produção de energia;
Para intensificar a força mental
− diminuição nos fatores que interferem no ótimo
funcionamento psicológico.

− melhora na eficiência mecânica pela diminuição


Para intensificar os limites da massa corporal, sobretudo a gordura;
mecânicos − melhora da estabilidade pelo aumento da massa
corporal, sobretudo da massa muscular.

FONTE: Adaptado de Williams (1991)

Muito se tem discutido sobre os hábitos alimentares dos esportistas e


atletas, com enfoque aos atletas, pois acabam por ter demandas energéticas e de
nutrientes maiores que os demais praticantes, fazendo com que tenham dúvidas
frequentes sobre o uso ou não de suplementos alimentares, recursos esses que não
requerem obrigatoriedade de prescrição por nutricionista para comercialização,
o que causa algumas confusões de conceitos e consequentemente de utilização.

Destaca-se nesse meio, que muitas vezes os próprios nutricionistas care-


cem de mais estudos e orientações, devendo este, quando atuar na área esporti-
va, conhecer o mercado de suplementos nutricionais, saber avaliar os níveis de
evidencia de recomendação estabelecidos por alguns órgãos, a aplicabilidade e o
custo benefício desse uso por parte do atleta.

Nesse contexto, os suplementos alimentares direcionados para atletas


refletem produtos especialmente formulados para auxiliar no suprimento
das demandas energéticas adicionais à necessidade de rendimento, visando
complementar a alimentação e não a substituir.

Ainda se sabe que a opção pelo uso de suplementos surge por solicitação
do próprio atleta, devido a sua rotina diária, na qual não consegue consumir
apenas com alimentos a demanda energética necessária para repor a energia

141
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

utilizada nos treinos e competições. Todavia, antes da suplementação, o


nutricionista pode verificar a possibilidade de inserção dos alimentos listados a
seguir na rotina do atleta:

• caldo de cana: usado para reposição do glicogênio muscular;


• castanha-do-brasil: usada como fonte de selênio;
• leite fortificado com ferro: reposição do ferro;
• leite em pó: aumentar aporte de cálcio;
• leite: para hidratação e promoção de síntese proteica pós treino;
• leite com achocolatado: recuperação muscular após exercício intenso;
• banana e uvas passas: fonte de energia durante o treino;
• suco de beterraba: fonte de nitrito para melhorar performance de endurance;
• água de coco: repositor de eletrólitos;
• café: melhora no foco (HIRSCHBRUCH, 2014).

Bacurau (2009) relatou que os motivos mais relatados pelos atletas


e esportistas para consumo de suplementos era: necessidade de compensar
uma dieta ou estilo de vida inadequado; e atender a um suposto aumento na
necessidade energética ou de nutrientes gerado pelos treinamentos e para obter
efeitos na performance.

Justificativas que podem ser rebatidas, já que nem sempre uma rotina
inadequada apresenta carências nutricionais, ainda mais quando se trata de um
esportista, por sua vez, a demanda por nutrientes no caso de atletas ainda é bem
contraditória já que faltam pesquisas científicas que direcionem o consumo au-
mentado de micronutrientes e, por fim, estudos científicos nem sempre suportam
o aumento no consumo de determinados nutrientes na melhora da performance.

Nesse pingue-pongue do uso ou não de suplementos alimentares, no dia


a dia da profissão de nutricionista são diferentes os “pontos de vista” em relação
a essa prescrição, por isso vale a pena o aprofundamento nos estudos que surgem
em relação a cada suplemento alimentar. É válido verificar, de forma criteriosa,
a metodologia utilizada, o número e característica do público pesquisado, bem
como os procedimentos realizados e quantidades consumidas, assim como se foi
um estudo realizado como seres humanos ou animais.

Seguem algumas condições em que o uso de suplementos alimentares é


normalmente recomendado:

• dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos em momentos


de treinamentos e competições intensos;
• quando o indivíduo deseja reduzir a necessidade de defecação durante
competições;
• em momentos em que a perda de peso é necessária;
• em casos de dieta de supercompensação de carboidratos e dificuldade na
aquisição dos alimentos (viagens);

142
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

• quando a recuperação rápida é necessária e o indivíduo apresenta anorexia


pós-esforço;
• obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas.

Já se perguntou por que tanta atenção é dada a essa área?

Existem hoje, em todo o mundo, centenas de tipos de suplementos


disponíveis para venda, os quais, conforme alegações, remontam mais de 800
tipos de mecanismos diferentes pelos quais a performance poderia ser melhorada.

Dessa forma, percebe-se que a grande quantidade de produtos novos,


falta de controle sobre as propagandas e o desconhecimento por parte dos
consumidores, assim como pesquisas conduzidas por fabricantes e com dados
contraditórios invalidem o processo de segurança para o comercio de suplementos.

Conforme o Comitê Olímpico Norte-Americano (MAUGHAN et al.,


2018), todas as pesquisas voltadas a suplementos alimentares devem responder
a questionamentos, tais como a relação dos suplementos com a ocorrência de
lesões, a biodisponibilidade do nutriente usado no suplemento, determinação
efetiva do efeito ergogênico e o risco desse suplemento em adolescentes.

Ainda, para finalizar, cabe a discussão sobre a segurança do uso do


suplemento, a qual remonta um fator já apontado anteriormente, a ausência do
controle da produção e comercialização desses produtos.

Nos EUA, após um levantamento da FDA, órgão regulador da


comercialização, os resultados foram alarmantes, já que evidenciaram que mais
da metade dos produtos adquiridos diferiram em 20% ou mais da composição
que estava descrita nos rótulos. Fato que pode ser muito perigoso, pois alguns
elementos diferentes dos descritos nos rótulos podem ser tóxicos ou, por exemplo,
não serem absorvidos ou serem alergênicos ao indivíduo. Um exemplo é um
suplemento proteico ser alterado, possuindo mais carboidrato do que descrito no
rótulo, podendo causar hiperglicemia no indivíduo.

Bem, devido a essa ampla variedade de tipos e, consequentemente, marcas


disponíveis no mercado, é que os suplementos foram agrupados para classificação,
as quais veremos no próximo tópico, no item das legislações brasileiras.

3 LEGISLAÇÃO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES


E então acadêmico, como estão seus estudos até aqui?

Agora daremos continuidade abordando a história das legislações até os


dias atuais.

143
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Em 1998, a Secretaria de Vigilância Sanitária, por meio da portaria SVS/


MS nº 29/1998, aprovou o regulamento referente a alimentos para fins especiais;
os quais incluíram: alimentos especialmente formulados ou processados, com
modificações na quantidade de nutrientes, direcionados a dietas diferenciadas,
atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas
específicas, como é o caso dos alimentos para praticantes de atividade física.

Ainda nessa resolução, seguem as normas de rotulagem geral, nutricional


e específicas do alimento convencional, nas quais deve constar a designação do
alimento, finalidade a que se destina e informação nutricional (BRASIL, 1998a).

Assim como os dizeres exigidos para alimentos em geral e para os


alimentos para fins especiais, nos quais deve constar “a orientação em destaque e
negrito: Crianças, gestantes e idosos, consumir preferencialmente sob orientação
de nutricionista e ou médico” (BRASIL, 1998b, p. 4).

Posterior, tem-se a Portaria SVS/MS nº 222/1998, que aprovou o


regulamento técnico referente a alimentos para “praticantes de atividade física”,
incluindo formulações que contenham aminoácidos oriundos da hidrólise de
proteínas, aminoácidos essenciais, quando utilizados em suplementação para
alcançar alto valor biológico, e aminoácidos de cadeia ramificada, desde que estes
não apresentem ação terapêutica ou tóxica.

Foram incluídos nessa resolução também, os repositores energéticos, de-


finidos como “produtos formulados com nutrientes que permitam o alcance e/ou
manutenção do nível apropriado de energia para atletas” (BRASIL, 1998b, p. 2).

Nestes produtos, são fatores essenciais de composição e qualidade que


“os carboidratos devem constituir 90% dos nutrientes energéticos presentes na
formulação. Opcionalmente, estes podem conter vitaminas e minerais” (BRASIL,
1998b, p. 3).

Quanto ao registro, os alimentos para praticantes de atividade física


passam a ter registro obrigatório, conforme Resolução nº 23/2000 que dispõe sobre
o Manual de Procedimentos Básicos para Registro e Dispensa da Obrigatoriedade
de Registro de Produtos Pertinentes à Área de Alimentos. Em 2010, a Anvisa
aprovou a Resolução nº 18 – regulamento técnico sobre “Alimentos para Atletas” –,
substituindo a Portaria nº 222/1998, que orientava as características de qualidade
que deveriam seguir os “Alimentos para Praticantes de Atividade Física”.

Nesta RDC fica definido que, nos rótulos dos produtos previstos, deve
constar a seguinte frase em destaque e negrito: “Este produto não substitui uma
alimentação equilibrada e seu consumo deve ser orientado por nutricionista
ou médico” (BRASIL, 2010a, p. 7), devendo também constar a designação do
produto; número de registro; prazo de validade correspondente ao produto com
menor prazo e a informação nutricional (Art. 26).

144
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

Destaca-se, também, o que não deve constar nos rótulos, como imagens
que induzam o consumidor à compra, como a exposição de músculos e/ou perda
de peso, assim como expressões que façam referências a hormônios e outras
substâncias farmacológicas e ou do metabolismo; e as expressões: “anabolizantes”,
“hipertrofia muscular”, “massa muscular”, “queima de gorduras”, “fat burners”,
“aumento da capacidade sexual”, “anticatabólico”, “anabólico”, equivalentes ou
similares previstas no Art. 27 (BRASIL, 2010a).

Em relação ao registro desses alimentos para atletas, foi publicada a RDC


nº 27/2010, que inseriu a categoria “alimentos para atletas” na lista dispensada
da obrigatoriedade de registro, junto a outras categorias de alimentos, situação
essa que traz implicações importantes, já que aumenta o risco que tais produtos
podem trazer ao consumidor.

Os produtos alimentícios de alcance da Anvisa são divididos em dois


grupos: alimentos com registro obrigatório prévio à comercialização e alimentos
dispensados da obrigatoriedade de registro, nesta situação, observa-se que os
alimentos para praticantes de atividade física encontravam-se na categoria de
alimentos com registro obrigatório, e, posteriormente, os alimentos para atletas
dispensados de tal obrigatoriedade.

Temos, a seguir, a diferença entre a Resolução de 2010 e a Portaria de 1998.

Em 1998, os “alimentos para praticantes de atividade física” foram


classificados em:

• repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física;


• repositores energéticos para atletas;
• alimentos proteicos para atletas;
• alimentos compensadores para praticantes de atividade física;
• aminoácidos de cadeia ramificada; e
• outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividades
físicas (BRASIL, 1998b, p. 2).

Por sua vez, em 2010, os “alimentos para atletas” foram classificados em:

• suplementos hidroeletrolíticos para atletas;


• suplementos energéticos para atletas;
• suplementos proteicos para atletas;
• suplementos para substituição parcial de refeições de atletas;
• suplemento de creatina para atletas; e
• suplemento de cafeína para atletas (BRASIL, 2010a, p. 2-3).

Verifica-se que a primeira diferença entre ambas é o público ao qual é


direcionado cada suplemento.

Em 1998, havia designações para praticantes de atividade física e não


apenas atletas, como ocorre na Resolução de 2010. Além disso, pode-se observar
que os aminoácidos de cadeia ramificado não foram mais direcionados a este
público, assim como, em 2010, a creatina e a cafeína foram enquadradas nos
alimentos para atletas.
145
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

No Quadro 2, estão dispostos os alimentos para atletas e suas especifica-


ções para comercialização.

QUADRO 2 – ALIMENTOS PARA ATLETAS E SUAS ESPECIFICAÇÕES

Resolução nº 18, de 27 de abril de 2010

− Produtos destinados a auxiliar na hidratação.


− Deverá conter: concentração de sódio (460 a
1150 mg/L), com a utilização de sais inorgânicos
para fins alimentícios como fonte de sódio.
Suplementos hidroeletrolíticos
− Carboidratos: pode constituir até 8%.
para atletas
− Vitaminas e minerais: podem ser adicionados.
− Potássio: pode ser adicionado em até 700 mg/L.
− *Não podem ser adicionados de outros
nutrientes, não nutrientes e fibras alimentares.

− Produtos destinados a complementar as


necessidades energéticas.
− Carboidratos: o produto pronto para consumo
deve conter, no mínimo 75% do valor energético
Suplementos energéticos para total provenientes dos carboidratos, 15 g na
atletas porção.
− Vitaminas e minerais podem ser adicionados.
− Outras disposições: podem conter líquidos,
proteínas, não podem ser adicionados fibras e
não nutrientes.

− Produtos destinados a complementar as


necessidades proteicas.
− Proteínas: o produto pronto para consumo deve
conter, no mínimo, 10 g de proteína na porção,
50% do valor energético total proveniente da
Suplementos proteicos para
proteína.
atletas
− A composição proteica deve apresentar
PDCCAS** acima de 0,9.
− Vitaminas e minerais podem ser adicionados.
− Outras disposições: não podem ser adicionadas
fibras e não nutrientes.

− Produtos destinados a complementar refeições


de atletas em situações nas quais o acesso aos
alimentos seja restrito.
− Carboidratos: devem conter de 50 a 70% do
Suplementos para substituição
valor energético total do produto pronto para
parcial de refeições de atletas
consumo.
− Proteína: a quantidade de proteínas deve
conter de 13 a 20% do valor energético total do
produto, com PDCCAS acima de 0,9.

146
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

− Lipídios: deve corresponder no máximo a


30% do valor energético, sendo que o teor de
gordura saturada não pode ultrapassar 10% do
Suplementos para substituição valor total e a gordura trans 1%.
parcial de refeições de atletas − Vitaminas e minerais podem ser adicionados.
− Outras disposições: o produto deve oferecer no
mínimo 300 Kcal por porção, e ser adicionado
de fibras.

− Produto destinado a complementar os estoques


endógenos de creatina.
− O produto pronto para consumo deve conter de
Suplementos de creatina para 1,5 a 3 g na porção.
atletas − Deve ser usada a creatina monoidratada, com
grau de pureza mínima de 99,9%.
− Carboidratos podem ser adicionados.
− Fibras não podem ser adicionadas.

− Produto destinado a aumentar a resistência


aeróbica em exercícios.
− Deve conter entre 210 e 420 mg na porção.
Suplementos de cafeína para − Apresentação de cafeína, com teor mínimo de
atletas 98,5% de 1,3,7 trimetilxantina, calculada a base
anidra.
− Outras disposições: não podem ser adicionados
outros nutrientes e/ou não nutrientes.

** PDCCAS (Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score): escore aminoacídico


corrigido pela digestibilidade da proteína para determinação de sua qualidade
biológica.

FONTE: Adaptado de Brasil (2010a)

E
IMPORTANT

Ressalta-se que a Anvisa (BRASIL, 2010a) não recomenda o uso de suplementos


para pessoas praticantes de exercício físico para a promoção da saúde, recreação e/ou com
fins estéticos. De acordo com normas internacionais, os recursos ergogênicos devem ser
consumidos e/ou ministrados com a orientação de profissionais competentes e éticos.

147
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Posterior à RDC de 2010, obtivemos a RDC nº 240, de 26 de julho de 2018


(publicada no DOU nº 144, de 27 de julho de 2018), que altera a Resolução – RDC
nº 27, de 6 de agosto de 2010, no que dispõe sobre as categorias de alimentos
e embalagens isentas e com obrigatoriedade de registro sanitário. No Art. 1º
o texto foi alterado para: “Estabelece as categorias de alimentos e embalagens
dispensadas e com obrigatoriedade de registro sanitário” (BRASIL, 2018, p. 1).
(NR); e no art. 2º passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 2º As empresas que
detêm o registro de produtos que, de acordo com esta Resolução, passam a ser
dispensados da obrigatoriedade de registro, podem utilizar rotulagem contendo
o número do registro concedido até a data do vencimento do registro ou até o
final do estoque existente de embalagem deste produto” (BRASIL, 2018, p. 1).
(NR); e nos Art. 4º e Art. 5º passam a vigorar os Anexos I e II com suas alterações.
Na sequência, o Quadro 3 apresenta o Anexo II, em que consta os alimentos e
embalagens com obrigatoriedade de registro sanitário.

QUADRO 3 – ALIMENTOS E EMBALAGENS COM OBRIGATORIEDADE DE REGISTRO SANITÁRIO

FONTE: Brasil (2018, p. 2)

Com isso podemos observar que apesar de haverem alterações não


incidiram sobre os suplementos mais utilizados pelos “atletas”.

3.1 DIRETRIZES E POSICIONAMENTOS


Vários suplementos utilizados por esportistas e atletas não são
mencionados nas RDCs discutidas até aqui. Desta forma, destaca-se que a
qualidade e segurança no ato da prescrição de suplementos, com certeza a RDC
da Anvisa, que é um órgão fiscalizador da nossa federação, traz mais segurança
no ato da prescrição, tanto para auxiliar na escolha do suplemento, bem como na
quantidade a ser prescrita.

Em termos de Brasil, temos também a Sociedade Brasileira de Medicina


Esportiva, que, em 2009, atualizou suas diretrizes e também traz discussões
acerca da suplementação na área esportiva, no documento intitulado Modificações
dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação
ergogênica e potenciais riscos para a saúde, publicado na Revista Brasileira de

148
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

Medicina Esportiva, volume 15, número 3, maio e junho de 2009. Documento


que pode ser considerado por profissionais no momento da prescrição, e o qual
discutiremos nos próximos subtópicos.

Mundialmente, o uso de suplementos alimentares ocorre de forma


descontrolada, por isso explanaremos, em seguida, algumas Diretrizes e
Posicionamentos estabelecidos em outros países, os quais recomendam apenas
alguns suplementos e uso com cautela, considerando sempre as divergências
encontradas nas pesquisas científicas.

3.1.1 Declaração de Consenso da Associação


Internacional das Federações de Atletismo 2019
De acordo com Burke et al. (2019), os alimentos esportivos podem ajudar o
atleta atender as suas necessidades nutricionais em cenários nos quais não é pos-
sível consumir os alimentos necessários a essa demanda, todavia, destacam que a
maioria dos produtos de desempenho carece de evidências para apoiar sua eficácia.

Em termos de orientação, no consenso de 2019, são discutidos cinco


suplementos de desempenho baseados em evidências, sendo eles: cafeína, creatina,
suco de nitrato/beterraba, beta-alanina e bicarbonato, os quais podem contribuir
para ganhos de desempenho, de acordo com cada modalidade esportiva.

Os autores ressalvam os desafios para o estabelecimento de protocolos


que possam direcionar, de forma efetiva, o uso repetido desses suplementos e
bons resultados em competições finais, considerando as alterações de ambiente,
temperatura e estresse gerados simultaneamente, sendo que ainda se tem as
possíveis desvantagens do uso de suplementos, que incluem: despesas, expectativa
falsa e o risco de ingestão de substâncias proibidas pela Lista da Agência Mundial
Antidopagem, que, às vezes, estão presentes como contaminantes ou ingredientes
não declarados.

Por fim, Burke et al. (2019) concluem ser pertinente que os alimentos
esportivos e suplementos nutricionais sejam considerados apenas quando uma
forte base de evidências apoie seu uso como seguro, legal e eficaz e, além disso,
que esses suplementos sejam testados exaustivamente pelo indivíduo antes de se
comprometer a usá-los em um ambiente de competição.

3.1.2 Declaração de consenso do Comitê Olímpico


Internacional (COI): suplementos alimentares e atleta de
alto desempenho
Conforme descreve o COI (MAUGHAN et al., 2018), os produtos descritos
como suplementos têm diferentes alvos de atuação incluindo:

149
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• o gerenciamento de deficiências de micronutrientes;


• o fornecimento de formas convenientes de energia e macronutrientes e;
• o fornecimento de benefícios diretos ao desempenho ou benefícios indiretos,
como o apoio a intensos regimes de treinamento.

Todavia, apesar de o uso apropriado de alguns suplementos poder


beneficiar o atleta, outros podem prejudicar a saúde, o desempenho e / ou o sustento
e a reputação do atleta (se houver uma violação da regra antidoping). Com isso,
recomenda-se que haja uma avaliação nutricional completa para que seja tomada
a melhor decisão sobre o uso de suplementos.

O COI, assim como Burke et al. (2019), alega que apesar de haver diferentes
produtos sendo comercializados apenas alguns, como a cafeína, creatina, agentes
tampão específicos e nitrato, têm boas evidências de benefícios, mas que as
respostas são afetadas pelo cenário de uso e podem variar amplamente entre os
indivíduos devido a fatores que incluem genética, microbioma e dieta habitual.

Da mesma forma, também seguem a orientação de que os suplementos


destinados a melhorar o desempenho devem ser testados exaustivamente em
treinamento ou competição simulada antes de serem utilizados na competição,
sendo que a proteção da saúde do atleta e a conscientização do potencial de dano
devem ser fundamentais; opinião e assistência profissional especializada são
fortemente aconselhadas antes que um atleta embarque no uso de suplementos.

DICAS

Para mais informações a respeito do consenso do Comitê Olímpico


Internacional, acesse: https://bjsm.bmj.com/content/52/7/439.

3.1.3 Autoridade brasileira de controle de dopagem


É importante, ainda, salientar que o Brasil também possui um Comitê
Nacional de Controle de Dopagem com normas rígidas de avaliação e punição de
atletas que usam de substancias ilícitas nas competições.

Conheça a missão, visão, objetivos e princípios desse comitê:

Missão: consolidar a cultura antidopagem em âmbito nacional, por


meio de ações de educação e controle em todas as manifestações
esportivas, buscando o esporte limpo e saudável respeitando as
normas e regramentos nacionais e internacionais. Visão: tornar o
Brasil uma referência mundial na cultura antidopagem, promovendo

150
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

igualdade nas competições e disseminando os valores do jogo limpo.


Objetivos: - Promover e expandir a cultura antidopagem no Brasil; -
Aprimorar processos de gestão e governança da ABCD; e - Fiscalizar e
gerir os procedimentos de controle de dopagem em âmbito nacional.
Princípios: Independência: atuar com isenção e total independência
em relação às organizações esportivas (MISSÃO, 2020, s. p.).

4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES MAIS USADOS E SUA


COMPOSIÇÃO
Neste momento, iremos descrever os suplementos de maior destaque
e utilização na área acadêmica, ressaltando a importância da verificação
individual da necessidade real da prescrição desse recurso. Com isso destaca-se
algumas condições em que o uso de suplementos alimentares é normalmente
recomendado, como:

• dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos em momentos


de treinamentos e competições intensos;
• quando o indivíduo deseja reduzir a necessidade de defecação durante
competições;
• em momentos em que a perda de peso é necessária;
• em casos de dieta de supercompensação de carboidratos e dificuldade na
aquisição dos alimentos (viagens);
• quando a recuperação rápida é necessária e o indivíduo apresenta anorexia
pós-esforço;
• obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas.

4.1 AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA


Os aminoácidos de cadeia ramificada, conhecidos como BCAA (Branched
Chain Amino Acids), compreendem três aminoácidos essenciais – leucina,
isoleucina e valina, presentes em alimentos de origem animal.

São aminoácidos absorvidos por meio do transporte ativo sódio-


dependente, transportados até o fígado, onde podem ser utilizados para síntese
proteica. Depositam-se preferencialmente no músculo esquelético, onde atuam
como importante fonte energética em períodos de estresse metabólico. Podem
promover síntese proteica, evitar catabolismo e servir como substrato para a
gliconeogênese (CARLI et al., 1992).

Os efeitos sugeridos para a suplementação com BCAA são: auxílio na


hipertrofia muscular (CARLI et al., 1992); ação anticatabólica; retardo da fadiga
central (BLOMSTRAND et al., 1997); melhora no desempenho (MADSEN et
al., 1996); poupança nos estoques de glicogênio muscular; aumento nos níveis
plasmáticos de glutamina, após exercícios intensos (BLOMSTRAND; SALTIN,
2001); atenuação do dano muscular (GREYER et al., 2007).

151
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Suas necessidades diárias são:

• Isoleucina – 10 mg/kg/dia.
• Leucina – 14 mg/kg/dia.
• Valina – 10 mg/kg/dia.

4.2 WHEY PROTEIN


Whey protein é o nome comercial da proteína isolada do soro do leite de
vaca, e é um dos mais populares suplementos utilizados por atletas e esportistas. O
leite de vaca é composto aproximadamente por 3,5% de proteína, 2,9% de caseína
e 0,6% de proteínas do soro. As proteínas do soro do leite representam 20% das
proteínas presentes nesse alimento, sendo que as duas principais (70 a 80%) são
alfalactoglobulina e betalactoglobulina (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). A
alfalactoglubulina é o segundo peptídeo presente em quantidades significativas
no soro do leite de vaca, e também está presente no leite humano. É um peptídeo
de rápida e fácil digestão, é precursora da lactose e possui a capacidade de se ligar
positivamente, facilitando a absorção, a minerais como o cálcio e o zinco, além de
apresentar atividade antimicrobiana (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

Além dessas duas proteínas, merece destaque a soroalbumina (10%),


precursora da síntese de glutationa, que possui atividade antioxidante já
comprovada, além de favorecer o transporte dos ácidos graxos. As imunoglobulinas
também possuem suas ações na imunidade passiva e atividade antioxidante.

Em relação às doses recomendadas, ainda não há um consenso quanto à


dose a ser utilizada para estimular a síntese proteica em sua extensão máxima.
As quantidades suplementadas variam de dez a 30 g após a prática do exercício
físico, no tempo máximo de uma hora para estimular o pico de síntese proteica e
as adaptações fisiológicas à prática esportiva.

4.3 ARGININA
A arginina é um aminoácido condicionalmente indispensável, ingerido
na alimentação (aproximadamente 3 a 5 g/dia) e sintetizado por nosso organismo,
primariamente nos rins. Após sua ingestão, uma quantidade de arginina é
metabolizada pelas células intestinais (enterócitos) e pelo fígado. O restante
permanece na circulação, o que faz com que a suplementação oral seja menos
eficiente (McCONELL et al., 2007).

Suas funções biológicas são: detoxificação da amônia; reparo tecidual;


fornecimento de energia como intermediário na síntese de creatinina e CP; e
melhora na atividade do sistema imunológico (pesquisas realizadas em ratos).

152
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

Em relação aos efeitos ergogênicos, ainda pouco se sabe em relação a sua


efetividade no aumento na síntese de óxido nítrico (NO), um gás naturalmente
presente no nosso organismo e que está relacionado com a modulação da resposta
imunológica, auxílio no processo de cicatrização, vasodilatação e angiogênese,
entre outros benefícios (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

É importante verificarmos que os estudos com ratos demonstram


esse efeito. Mas e com seres humanos? McConell et al. (2007) afirmam que,
em determinadas condições patológicas, o consumo de arginina auxilia na
vasodilatação e melhora do fluxo sanguíneo, mas não há consenso do seu efeito
em indivíduos saudáveis. Doses estudadas entre 500 mg a 30 g/dia, por períodos
de três a 80 dias (HENDLER, RORVIK, 2007). Não há relatos de efeitos tóxicos da
arginina (ALVES, 2015).

4.4 ALANINA
A alanina é um aminoácido dispensável precursor da carnosina
(β-alanina-L-histidina), que apresenta várias funções biológicas, dentre elas, o
tamponamento dos íons H+, estando mais concentrada nas fibras musculares tipo
II (CULBERTSON et al., 2010).

Estudos têm demonstrado que a utilização de β-alanina, juntamente ao


treinamento físico, poderia aumentar a síntese de carnosina, a qual auxilia no
tamponamento muscular. O tamponamento muscular favorece a execução de
exercícios intensos, uma vez que a elevação do pH muscular contribui para a
redução da fadiga (KENDRICK et al., 2009).

Hoffman et al. (2012) realizaram seu estudo que durou quatro semanas,
com oito sujeitos experientes na prática do exercício de força (mais de três anos),
que receberam 4,8 g de β-alanina (1,6 g/dia, quatro vezes ao dia) ou placebo.

Após o período de três dias houve a troca de suplementação, de forma


que todos os sujeitos fizeram o uso de β-alanina. Ao final, pode-se perceber que
a suplementação com β-alanina aumentou significativamente a força muscular,
sem promover alterações hormonais (GH, testosterona e cortisol).

4.5 HMB
O β-hidroxi- β-metilbutirato (HMB) é um metabólito do aminoácido
indispensável leucina, um dos três aminoácidos de cadeia ramificada que
discutimos anteriormente. É produzido a partir do cetoiscaproato (KIC), um
metabólito do aminoácido leucina, pela enzima KIC-desidrogenase, produzida
naturalmente pelo corpo humano.

153
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

O mecanismo de ação do HMB como recurso ergogênico ainda é incerto,


e as especulações afirmam que:

• diminui a incidência de lesão ou aceleração de sua recuperação muscular por


reduzir marcadores de lesão;
• aumento da força muscular;
• aumento da massa corporal magra;
• ação imunomoduladora em modelo animal;
• redução da gordura corporal;
• melhora da capacidade aeróbica (ALVES, 2015).

Ransone et al. (2003) avaliaram o impacto da suplementação com HMB


sobre a força muscular e a composição corporal de 35 jogadores de futebol
americano. Os 16 atletas estudados receberam 3 g/dia do suplemento por quatro
semanas e ao final não apresentaram resultados estatisticamente significativos
em relação ao grupo placebo. O que demonstra, considerando o estudo de Nissen
et al. (1996) com indivíduos destreinados, que o HMB não apresenta efeitos
positivos em atletas com rotinas de treino intensos e de força, ou que o tempo de
quatro semanas nesses atletas seria muito reduzido.

DICAS

O Jornal da Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva publicou, em 2013,


sua posição sobre o uso do HMB. Leia o artigo: International Society of Sports Nutrition
Position Stand: beta-hydroxy-beta-methylbutyrate (HMB). Disponível em: https://jissn.
biomedcentral.com/articles/10.1186/1550-2783-10-6.

4.6 CREATINA
O ácido metilguanadinoacético, ou creatina, há alguns anos, tornou-se um
dos recursos ergogênicos nutricionais mais utilizados com o objetivo de melhora
no rendimento físico, pois acredita-se que aumenta a força e a velocidade nos
exercícios de explosão, em que a energia predominantemente utilizada é o ATP-CP.

Três aminoácidos estão envolvidos com a síntese de creatina, a glicina, a


arginina e a metionina. Nos alimentos, a creatina é encontrada em produtos de
origem animal, sendo que em uma dieta com aproximadamente 300 g de carne e
300 mL de leite, o consumo de creatina será de aproximadamente 1 g (BALSOM;
SODERLUND; EKBLOM, 1994).

154
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

As necessidades de creatina giram em torno de 2 g/dia, para repor a


creatina catabolizada, sendo que o que não for consumido na dieta será sintetizado
endogenamente. Para excreção da creatina, ocorre a conversão para creatinina,
formada em grande parte pelo musculo, atingindo a circulação por difusão
simples, é filtrada pelos glomérulos e posteriormente excretada pela urina.

A excreção diária é também de aproximadamente 2 g, variando de acordo


com a massa muscular total do indivíduo (ALVES, 2015).

Os possíveis efeitos ergogênicos da creatina são:

• aumento da massa corporal magra;


• aumento da força;
• recuperação entre esforços repetidos de alta intensidade;
• ação antioxidante.

Quanto ao aumento da massa magra corporal, muitos estudos indicam


que a dose de carga favorece o alcance desse objetivo, porém, tendo em vista de
que cinco dias seria um período curto de tempo, parte desse resultado pode ser
devido à atividade osmótica da creatina, aumentando a quantidade intracelular
de água, gerando a hipertrofia muscular. Além disso, apesar de grande parte
das pesquisas realizadas com a suplementação de creatina terem apresentado
benefícios na força e na potência, inúmeros estudos não conseguiram chegar
nesse resultado (LEDFORD; BRANCH, 1999).

Destaca-se que algumas estratégias de suplementação usam dose de carga


de creatina, correspondente a 20/30 g por dia (creatina monoidratada), sendo
dividida quatro a seis doses de 5 g, as quais, ingeridas de cinco a sete dias, já
favoreceriam o aumento máximo nos estoques de creatina. Após o período da
carga, sugere-se a ingestão de doses reduzidas, 2 a 5 g ao dia. Doses maiores
que 5 g podem provocar náuseas, fraqueza e diarreia (ALVES, 2015). Hultman
et al. (1996) recomendaram como dose de carga 0,3 g/kg/dia durante sete dias,
seguida de 0,03 g/kg/dia como dose de manutenção por 28 dias. Posteriormente,
recomenda-se um intervalo de 90 dias para iniciar nova carga.

4.7 CAFEÍNA
A cafeína (1,3,7 – trimetilxantina) é um alcaloide que se encontra de
forma natural em folhas, frutos e sementes de mais de 60 espécies vegetais, tem
efeito estimulante porque aumenta a ação de catecolaminas e AMP cíclico, o que
leva a um aumento da lipólise no tecido adiposo e no músculo, aumentando a
disponibilidade de ácidos graxos livres e triglicerídeos intramusculares. Pode
promover alterações no sistema nervoso central modificando as percepções do
esforço e da fadiga, aumentando a liberação da adrenalina (BIESEK; ALVES;
GUERRA, 2010). Nesse contexto, é considerada um nutriente não essencial,
cujos efeitos incluem: estimulação do sistema nervoso central, diurese, lipólise e
secreção de ácido gástrico.
155
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Sobre os efeitos ergogênicos descritos na literatura são:

• auxiliar na melhora do desempenho físico, em exercícios intermitentes e de


longa duração;
• aumentar o estado de alerta;
• diminuir a fadiga mental e a percepção de esforço durante o exercício físico;
• melhorar a concentração e a memória;
• aumentar a oxidação lipídica.

A cafeína melhora o desempenho físico de indivíduos treinados por


meio da utilização de doses de 3 a 6 mg/kg/dia, com dose máxima de 9 mg/kg/
dia, já que doses maiores não demonstraram melhora no desempenho esportivo
(ALVES, 2015).

E
IMPORTANT

Em relação aos efeitos adversos, a cafeína pode ser considerada segura para
indivíduos saudáveis. De qualquer forma, o consumo excessivo pode provocar rubor facial,
ansiedade, nervosismo, tremor, insônia e até mesmo arritmias cardíacas e perda de memória.
Também pode aumentar a produção de calor, aumentando a temperatura corporal. Alguns
atletas relatam sentir náuseas e dor de estômago com o consumo de cafeína. Ainda, por
aumentar a diurese, ela poderia favorecer e desidratação, embora pesquisas demonstrem
que a suplementação com cafeína não interfira de forma significativa no estado de
hidratação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2010).

4.8 BICARBONATO DE SÓDIO


Durante o exercício anaeróbico, a rápida formação de energia na forma
de ATP dá lugar a um acúmulo de H+, lactato e perda de potássio (K+). A célula
muscular possui mecanismos para tamponar o acúmulo de íons, esse mecanismo
de tamponamento não é suficiente para impedir a formação de íons hidrogênio
durante o exercício intenso, por esse motivo, deverá ser veiculado de forma
exógena. O aumento do pH sanguíneo retarda a fadiga muscular durante o
exercício anaeróbico prolongado.

Em relação às doses recomendadas – 0,3 g/kg de peso de uma a duas horas


antes do exercício –, o bicarbonato de sódio não possui riscos para a saúde, exceto
possíveis moléstias gastrintestinais (vômitos, diarreia, tontura). É recomendado
ingerir o bicarbonato com água para prevenir a diarreia hiperosmótica.

156
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

5 VITAMINAS E MINERAIS
As vitaminas são divididas em hidrossolúveis e lipossolúveis, sendo
que as lipossolúveis incluem as vitaminas A, D, E e K e são armazenadas em
vários tecidos, podendo resultar em toxicidade se consumido em quantidades
excessivas.

As vitaminas hidrossolúveis consistem em todo o complexo de vitaminas


B e vitamina C, nesse caso, como são solúveis em água, a ingestão excessiva é
eliminada na urina, com exceção da vitamina B6, que pode causar danos nos
nervos periféricos quando consumida em quantidades excessivas, e da vitamina
C, que pode causar danos renais e desequilíbrios osmóticos.

Destaca-se que, se um atleta é deficiente em uma vitamina, a suplementação


ou modificações na dieta para melhorar o status dessa vitamina podem melhorar
consistentemente a saúde e o desempenho (KERKSICK et al., 2018). 

Os minerais, por sua vez, são elementos inorgânicos essenciais, necessários


para uma série de processos metabólicos. Os minerais servem como estrutura
para os tecidos, componentes importantes de enzimas e hormônios e reguladores
do controle metabólico. Já nas populações atléticas, alguns minerais são
considerados deficientes, enquanto outros são reduzidos devido ao treinamento
e exercício prolongado, como sódio, potássio e magnésio. Sendo que nessas
situações os atletas devem consumir alimentos e líquidos para substituir essas
perdas (THOMAS; ERDMAN; BURKE, 2016).

Dos minerais revisados por Kerksick et al. (2018), vários parecem


contribuir com a saúde e desempenho dos atletas em determinadas situações,
como a suplementação de cálcio em atletas suscetíveis à osteoporose, auxiliando
na manutenção da saúde óssea.

Zourdos, Sanchez-Gonzalez e Mahoney (2015), em sua revisão, apontam


a importância do status de ferro em atletas do sexo feminino, em que esforços
recentes destacaram que a suplementação de ferro em atletas propensos a
deficiências de ferro e/ou anemia pode melhorar a capacidade de exercício.

De acordo com o COI (MAUGHAN et al., 2018), os nutrientes que


normalmente são suplementados em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D
(Quadro 4).

Além disso, também pode ser necessária a suplementação de iodo (para


aqueles que vivem em áreas com baixos níveis de iodo nos alimentos ou que
não usam sal iodado), folato (para mulheres que podem engravidar) e vitamina
B12 (para aquelas que seguem uma dieta vegana ou quase vegana). Essas
considerações não se aplicam especificamente aos atletas.

157
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

QUADRO 4 – MICRONUTRIENTES QUE FREQUENTEMENTE REQUEREM SUPLEMENTAÇÃO EM


ATLETAS

Micronutriente Vitamina D

Importante na regulação da transcrição de genes na maioria dos


tecidos, de modo que a insuficiência/deficiência afeta muitos
Visão geral sistemas corporais (HOSSEIN-NEZHAD et al., 2013); muitos atletas
correm risco de insuficiência em vários momentos do ano (LARSON-
MEYER; WILLIS, 2010).

Não há consenso sobre a concentração sérica de 25-hidroxivita-


Diagnóstico e
mina D (o marcador do status da vitamina D) que define defici-
Resultados de
ência, insuficiência, suficiência e UL tolerável; a necessidade de
Insuficiência
suplementar depende da exposição aos UVB e do tipo de pele.

Recomenda-se a suplementação entre 800 UI e 1.000–2.000 UI/


dia para manter o status da população em geral. As diretrizes
de suplementação ainda não foram estabelecidas em atletas. A
Protocolos e
suplementação a curto prazo e em altas doses, que inclui 50.000 UI/
resultados da
semana por 8 a 16 semanas ou 10.000 UI/dia por várias semanas,
suplementação
pode ser apropriada para restaurar o status em atletas com
deficiência. Monitoramento cuidadoso é necessário para evitar
toxicidade (HEANEY, 2008).

Micronutriente Ferro

O status de ferro abaixo do ideal pode resultar da ingestão limi-


tada de ferro, baixa biodisponibilidade e/ou ingestão inadequa-
da de energia ou excesso de ferro devido ao crescimento rápido,
Visão geral
treinamento em grandes altitudes, perda de sangue menstrual,
hemólise de batida de pé ou excesso de perda de suor, urina, ou
fezes (THOMAS et al., 2016).

Várias medidas realizadas simultaneamente fornecem avaliação


Diagnóstico e mais fidedigna e determinam o estágio da deficiência. É recomenda-
Resultados de do que sejam verificados: ferritina sérica, saturação de transferrina,
Insuficiência ferro sérico, receptor de transferrina, protoporfirina de zinco, hemo-
globina, hematócrito, volume corpuscular médio (GIBSON, 2005).

Atletas que não mantêm o status adequado de ferro podem precisar


de ferro suplementar em doses maiores que sua RDA (ou seja,>
18 mg/dia para mulheres e> 8 mg/dia para homens). Atletas com
Protocolos e
deficiência de ferro requerem acompanhamento clínico, que pode
resultados da
incluir suplementação com doses maiores de suplementação
suplementação
oral de ferro, além de ingestão de ferro na dieta (THOMAS et al.,
2016). Inúmeras preparações orais de ferro estão disponíveis e a
maioria é igualmente eficaz (SCHRIER; AUERBACH, 2017).

158
TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS

Micronutriente Cálcio

Evitar laticínios e outros alimentos ricos em cálcio, ingestão restrita


Visão geral de energia e/ou desordem alimentar aumenta o risco de status
abaixo do ideal de cálcio (THOMAS et al., 2016).

Nenhum indicador apropriado do status de cálcio; o exame de


Diagnóstico e
densidade mineral óssea pode ser indicativo de baixa ingestão
Resultados de
crônica de cálcio, sendo importantes outros fatores como status
Insuficiência
subótimo de vitamina D e distúrbios alimentares.

Recomenda-se ingestão de cálcio de 1.500 mg/dia e 1.500 a 2.000


Protocolos e
UI de vitamina D para otimizar a saúde óssea de atletas com bai-
resultados da
xa disponibilidade de energia ou disfunção menstrual (THOMAS
suplementação
et al., 2016).

Abreviações: RDA = dose dietética recomendada; UL = limite superior; UVB =


ultravioleta B.

Nota: a suplementação indiscriminada com qualquer um dos nutrientes acima não é


recomendada. As deficiências devem primeiro ser identificadas por meio de avaliação
nutricional, que inclui ingestão alimentar e o marcador sanguíneo ou urinário
apropriado, se disponível.

FONTE: Larson-Meyer, Woolf e Burke (2018, p. 143)

6 ESCOLHA DO SUPLEMENTO ALIMENTAR


Vários fatores devem ser avaliados ao começar a aconselhar indivíduos
com treinamento físico regular. Primeiramente, é importante uma compreensão
clara dos objetivos do atleta e do tempo que ele tem para alcançá-los; monitorar
a carga do treino e o período de recuperação; uma avaliação da dieta e do pro-
grama de treinamento do indivíduo também deve ser concluída (KERKSICK et
al., 2018).

Para isso, deve-se garantir que o atleta esteja ingerindo uma dieta rica
em nutrientes e equilibrada em energia, que atenda às necessidades diárias
estimadas de energia e que esteja treinando de maneira inteligente. Muitos
atletas ou treinadores se concentram demais na suplementação ou aplicações de
suplementação e negligenciam esses aspectos fundamentais.

Depois disso, sugerimos que eles geralmente recomendem apenas suple-


mentos na categoria I (ou seja, fortes evidências para apoiar a eficácia e aparente-
mente “seguros”).

159
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Se um atleta estiver interessado em experimentar suplementos na


categoria II (ou seja, evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia), o atleta
deve se certificar de que entende que esses suplementos são mais experimentais e
que podem ou não ver o tipo de resultado reivindicado (KERKSICK et al., 2018).

Deve-se atentar para a falta de calorias suficientes e/ou o tipo certo de


macronutrientes pode impedir as adaptações de treinamento de um atleta. Além
disso, manter uma dieta deficiente em energia durante o treinamento pode levar
à perda de massa muscular, força e densidade mineral óssea, além de maior
suscetibilidade a doenças e lesões, distúrbios na função imune, endócrina e
reprodutiva e maior prevalência de overtraining (KERKSICK et al., 2018).  

Atletas de triátlon envolvidos em níveis moderados de treinamento


intenso e/ou treinamento intenso em alto volume podem gastar 600 a 1200 kcal ou
mais por hora durante o exercício. Por esse motivo, suas necessidades calóricas
podem se aproximar de 40 a 70 kcal/kg/dia (2000 a 7000 kcal/dia para um atleta
de 50 a 100 kg) (BARRERO; EROLA; BESCOS, 2014).

Já, para atletas de elite, o gasto de energia durante treinamento poderá


exceder ainda mais esses níveis, como é o caso do exemplo a seguir: o gasto
energético dos ciclistas para competir no Tour de France foi estimado em 12.000
kcal/dia (150 a 200 kcal/kg/dia para um atleta de 60 a 80 kg) (BROUNS et al., 1989).

Nessas situações de alta densidade energética, torna-se difícil para os


atletas consumir a quantidade de alimentos recomendada, até mesmo devido ao
desconforto gastrointestinal. Burke (2001) demonstrou que as necessidades de
carboidratos não são atendidas por grande parte dos atletas. Ainda, tem-se o fator
da supressão do apetite após treinos intensos, falta de rotina devido a horários
de viagens e de treinamentos, o que pode limitar a disponibilidade de alimentos
ou os tipos de alimentos que os atletas estão acostumados a consumir (MELIN et
al., 2016).

Nesse contexto, devido a essas preocupações, o uso de suplementos


alimentares pode fornecer uma maneira conveniente para os atletas completarem
sua dieta, a fim de manter a ingestão de energia durante o treinamento.

160
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A palavra “ergogênico” significa toda e qualquer substância ou artifício que


visem à melhora do desempenho, ou seja, podem ser considerados recursos
ergogênicos fatores nutricionais, como os suplementos, fatores farmacológicos,
biomecânicos e mecânicos como roupas mais leves, bicicletas melhores
adaptadas, no caso dos ciclistas, ainda fatores psicológicos e fisiológicos.

• Muitas vezes, a opção pelo uso de suplementos surge por solicitação do próprio
atleta, devido a sua rotina diária, na qual não consegue consumir apenas
com alimentos a demanda energética necessário para repor o que foi gasto
nos treinos e competições. Sendo importante que, antes da suplementação, o
nutricionista verifique a possibilidade de inserção dos alimentos energéticos
na rotina do atleta.

• As condições em que o uso de suplementos alimentares é normalmente reco-


mendado são: dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos
em momentos de treinamentos e competições intensos; quando o indivíduo
deseja reduzir a necessidade de defecação durante competições; em momentos
em que a perda de peso é necessária; em casos de dieta de supercompensação
de carboidratos e dificuldade na aquisição dos alimentos (viagens); quando é
necessário a recuperação rápida e o indivíduo apresenta anorexia pós-esforço;
e obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas.

• A primeira diferença entre as resoluções de 1998 e de 2010 da Anvisa é o pú-


blico ao qual é direcionado cada suplemento. Em 1998, havia designações para
praticantes de atividade física e não apenas atletas, como ocorre na Resolução
de 2010. Além disso, os aminoácidos de cadeia ramificada não foram mais
direcionados a este público, assim como em 2010, a creatina e a cafeína foram
enquadradas nos alimentos para atletas.

• A Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, em 2009, atualizou suas


diretrizes e trouxe discussões acerca da suplementação na área esportiva,
no documento intitulado Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos
alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde.

161
• De acordo com o COI (2018), os nutrientes que normalmente são suplementados
em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D. Além disso, também pode ser
necessária a suplementação de iodo (para aqueles que vivem em áreas com
baixos níveis de iodo nos alimentos ou que não usam sal iodado), folato (para
mulheres que podem engravidar) e vitamina B12 (para aquelas que seguem
uma dieta vegana ou quase vegana). Essas considerações não se aplicam
especificamente aos atletas.

CHAMADA

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162
AUTOATIVIDADE

1 Em 2010, a Anvisa aprovou a Resolução nº 18 – regulamento técnico sobre


“Alimentos para Atletas” –, substituindo a Portaria nº 222/1998, que orientava
as características de qualidade que deveriam seguir os “Alimentos para
Praticantes de Atividade Física”. Assinale a alternativa que corresponde as
classificações dos alimentos para atletas estabelecida pela Resolução RDC
nº 18, de 27 de abril de 2010, da Anvisa:

a) ( ) Suplementos hidroeletrolíticos para atletas; suplementos energéticos


para atletas; suplementos proteicos para atletas; suplemento de
creatina para atletas; e suplemento de leucina para atletas; suplemento
de cafeína para atletas.
b) ( ) Repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física;
repositores energéticos para atletas; alimentos proteicos para atletas;
alimentos compensadores para praticantes de atividade física;
aminoácidos de cadeia ramificada; e outros alimentos com fins
específicos para praticantes de atividades físicas.
c) ( ) Repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física;
repositores energéticos para atletas; alimentos proteicos para atletas;
alimentos compensadores para praticantes de atividade física;
suplemento de creatina para atletas; e outros alimentos com fins
específicos para praticantes de atividades físicas como HMB.
d) ( ) Suplementos hidroeletrolíticos para atletas; suplementos energéticos
para atletas; suplementos proteicos para atletas; suplementos para
substituição parcial de refeições de atletas; suplemento de creatina
para atletas; e suplemento de cafeína para atletas.

2 Considere os efeitos ergogênicos a seguir: auxiliar na melhora do


desempenho físico em exercícios intermitentes e de longa duração;
aumentar o estado de alerta; diminuir a fadiga mental e a percepção de
esforço durante o exercício físico; e melhorar a concentração e a memória;
e aumentar a oxidação lipídica. Considerando os alimentos para atletas
regulamentados pela RDC nº 18 de abril de 2010, assinale o suplemento
que melhor se encaixa nos efeitos ergogênicos citados:

a) ( ) Creatina;
b) ( ) Whey protein;
c) ( ) Cafeína;
d) ( ) Palatinose.

163
3 Vários são os nutrientes e não nutrientes com potencial antioxidante a
serem inseridos na rotina dos atletas que podem auxiliar na prevenção
de doenças, sendo que, de acordo com as pesquisas, as vitaminas mais
indicadas com efeito antioxidante são:

a) ( ) A, D e K.
b) ( ) D, E e B12.
c) ( ) K; A e biotina.
d) ( ) C, A e E.

4 O uso de HMB (B-Hidroxi B-Metil-butirato) tem sido cogitado como um


agente para aumento de força e massa muscular. Ele é um metabólito de
qual aminoácido?

a) ( ) Isoleucina.
b) ( ) Triptofano.
c) ( ) Valina.
d) ( ) Leucina.

5 Devido à necessidade do cuidado na prescrição de suplementos alimenta-


res e considerando que os mesmos podem fornecer uma maneira conve-
niente para os atletas completarem sua dieta, a fim de manter a ingestão de
energia durante o treinamento, descreva os fatores que devem ser avalia-
dos no momento da consulta nutricional:

164
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS


E DE RESISTÊNCIA

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Como estão os estudos?

Chegamos ao Tópico 2, do Livro Didático de Nutrição e Exercício Físico.


Nele, nós discutiremos os suplementos alimentares para exercícios resistidos
e de resistência, revisando de maneira geral suas adaptações fisiológicas e
necessidades energéticas.

Iniciaremos pelos suplementos mais indicados para os exercícios de


resistência, mas, antes, detalharemos os modos pelos quais os recursos ergogênicos
nutricionais auxiliam no aumento da performance, os quais são:

• Intensificação de potência física: aumento do volume do tecido muscular,


intensificação dos processos metabólicos que geram energia, aumento da
oferta de energia no músculo durante as atividades de longa duração, combate
ao acúmulo de substâncias que interferem na produção de energia.
• Intensificação da força mental: aumento dos processos psicológicos envolvidos
na produção de energia.
• Intensificação de limites mecânicos: melhoria da eficiência mecânica pela
melhoria da estabilidade corporal pelo aumento da massa muscular e redução
da massa adiposa (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014).

Destaca-se que a nutrição esportiva é um campo em constante evolução,


com muitos trabalhos de pesquisa científica sendo publicados constantemen-
te. Segundo Kerksick et al. (2018), somente no ano de 2017, 2082 artigos foram
publicados com a palavra-chave 'nutrição esportiva'. Dessa forma, manter-se
atualizado com a literatura relevante por vezes é muito difícil.

Conforme mencionado no Tópico 1, avaliar o mérito científico de artigos


e anúncios de suplementos alimentares é uma habilidade essencial que todos os
profissionais de nutrição esportiva devem possuir.

De acordo com a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos


suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias, baseadas
na qualidade e quantidade de suporte científico disponível:

165
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• Fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro: suplementos


que possuem uma sólida fundamentação teórica com a maioria das pesquisas
disponíveis em populações relevantes, usando regimes de dosagem
apropriados, demonstrando sua eficácia e segurança.
• Evidências limitadas ou mistas para apoiar a eficácia: os suplementos desta
categoria são caracterizados como tendo uma lógica científica sólida para seu
uso, mas a pesquisa disponível falhou em produzir resultados consistentes
apoiando sua eficácia. Rotineiramente, esses suplementos exigem que mais
pesquisas sejam concluídas antes que os pesquisadores possam começar a
entender seu impacto. É importante ressaltar que esses suplementos não têm
evidências disponíveis para sugerir que eles não têm segurança ou devem ser
vistos como prejudiciais.
• Pouca ou nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou segurança:
os suplementos desta categoria geralmente carecem de uma lógica científica
sólida e a pesquisa disponível mostra consistentemente a falta de eficácia. Como
alternativa, suplementos que podem ser prejudiciais à saúde ou há falta de
segurança também são colocados nesta categoria.

E
IMPORTANT

A Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN) recomenda que os


nutricionistas desta área e os atletas realizem um processo sistemático de avaliação do
mérito científico do valor ergogênico de um suplemento alimentar. Recomenda-se que
seja verificada a lógica teórica por trás do suplemento e se existem dados bem controlados
mostrando que o suplemento é eficaz (KREIDER et al., 2010).

Nos EUA, os fabricantes e distribuidores de suplementos alimentares


devem aderir a vários regulamentos federais antes que um produto possa ser
comercializado, sendo que, antes da comercialização dos produtos, eles devem ter
evidências de segurança de seus suplementos para atender a todos os requisitos
dos regulamentos.

Nos últimos 20 anos, muitas empresas de suplementos empregaram


diretores de pesquisa e desenvolvimento que ajudam a educar o público a respeito
de nutrição e exercícios, fornecem informações de desenvolvimento de produtos
e conduzem pesquisas preliminares sobre produtos.

Isso tem aumentado as oportunidades de emprego para especialistas em


nutrição esportiva, além de oportunidades de financiamento para grupos de
pesquisa sobre exercícios e nutrição (KERKSICK et al., 2018).

166
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Os suplementos alimentares podem conter carboidratos, proteínas, gor-


duras, minerais, vitaminas, enzimas, intermediários metabólicos (por exemplo,
aminoácidos selecionados) ou extratos de plantas/alimentos.

2 SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA EXERCÍCIO


DE RESISTÊNCIA
Nos próximos subtópicos, os suplementos nutricionais citados foram
categorizados em duas das categorias citadas anteriormente:

• categoria I – evidências fortes para apoiar a eficácia; e


• categoria II – evidência aparentemente segura, limitada ou mista para apoiar
a eficácia.

Não trouxemos para discussão aqueles da categoria III – pouca ou


nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou segurança.

2.1SUPLEMENTOS ALIMENTARES EFICAZES E


APARENTEMENTE SEGUROS, COM FORTES
EVIDÊNCIAS, DE ACORDO COM A SOCIEDADE
INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA
Neste primeiro momento, apresentaremos os suplementos com
fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguros, os quais são
caracterizados por possuírem uma sólida fundamentação teórica com a maioria
das pesquisas disponíveis em populações relevantes, usando regimes de dosagem
apropriados, demonstrando sua eficácia e segurança.

• ß-alanina

A ß-alanina é um aminoácido não essencial, que tem potencial ergogênico


com base em seu papel na síntese de carnosina, que, por sua vez, é um dipeptídeo
composto pelos aminoácidos histidina e ß-alanina que ocorrem naturalmente em
grandes quantidades nos músculos esqueléticos.

Nesse conceito, acredita-se que a carnosina seja uma das principais


substâncias tamponadoras musculares disponíveis no músculo esquelético
(KERKSICK et al., 2018).

Harris et al., (2011) demonstraram que a ingestão de 4 a 6 g de ß-alanina


via oral, em doses divididas ao longo do dia, durante um período de 28 dias
(crônico), é eficaz no aumento dos níveis de carnosina.

167
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Conforme a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (KERKSICK


et al., 2018), pesquisas com ß-alanina sugerem melhorias no desempenho do
exercício com efeitos mais pronunciados em atividades que duram de um a
quatro minutos; melhorias na fadiga neuromuscular e benefícios potenciais em
pessoal tático (TREXLER et al., 2015).

Além disso, também foi demonstrado que a ß-alanina pode aumentar


o número de repetições de séries de exercícios, promover o aumento da massa
corporal magra, aumentar o torque de extensão do joelho e aumentar o volume
de treinamento.

Ainda cabe destacarmos que, embora pareça que a suplementação de


ß-alanina possa melhorar o desempenho, outros estudos falharam em demonstrar
um benefício no desempenho esportivo (KERKSICK et al., 2018).

• Bicarbonato de sódio (bicarbonato de sódio)

Durante o exercício de alta intensidade, acumulam-se no músculo e


no sangue o ácido (H+) e o dióxido de carbono (CO2), gerando uma acidez no
organismo que pode causar dor, e o sistema de bicarbonato é o principal meio pelo
qual o corpo se livra da acidez e do CO2 mediante a conversão em bicarbonato
antes da remoção subsequente nos pulmões (KERKSICK et al., 2018).

O consumo de 0,3 g/kg de bicarbonato de 60 a 90 minutos antes do exer-


cício ou 5 g duas vezes por dia durante cinco dias, pois o bicarbonato de sódio
demonstrou ser uma maneira eficaz de reduzir a acidez durante exercícios de alta
intensidade, que tem de um a três minutos de duração (KERKSICK et al., 2018).

Lindh et al. (2008) relataram que o bicarbonato pode melhorar o desempe-


nho da natação no estilo livre de 200 m em nadadores masculinos de elite.

Da mesma forma, estudos relataram a capacidade do bicarbonato para


melhorar os testes de tempo de bicicleta de 3 km (KILDING; OVERTON;
GLEAVE, 2012).

É importante destacar que um efeito indesejável comum em torno da


ingestão de bicarbonato de sódio é o desconforto gastrointestinal. Portanto,
os atletas devem experimentar seu uso antes do desempenho para avaliar a
tolerância (KERKSICK et al., 2018).

• Cafeína

A cafeína é um estimulante de origem natural que também demonstrou


ser uma ajuda ergogênica em exercícios aeróbicos e anaeróbicos, com uma
capacidade documentada de aumentar o gasto de energia e promover a perda de
peso (GOLDSTEIN et al., 2010).

168
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

De acordo com Wiles et al. (2006), que investigaram os efeitos da cafeína


no desempenho de ciclistas treinados, a cafeína melhorava a velocidade, o pico de
potência e a potência média.

Estudos, como de Graham (2001), indicam que a ingestão de cafeína, de


3 a 9 mg/kg, tomada 30 a 90 minutos antes do exercício, pode poupar o uso de
carboidratos e, assim, melhorar a capacidade de exercício de resistência.

Além do potencial impacto ergogênico, em sua revisão, Kerksick et al.


(2018) também relataram que a cafeína melhorou significativamente indicadores
do estado de humor, reduziu as classificações de esforço percebido e diminuiu a
percepção de dor muscular quando em doses agudas de 5 mg/kg/dia de cafeína
antes do exercício resistido máximo.

Doses de cafeína acima de 9 mg/kg podem resultar em níveis urinários de


cafeína que ultrapassam o limiar de doping para muitas organizações esportivas.

Em resumo, evidências científicas publicadas pela Sociedade Internacional


de Nutrição Esportiva (KERKSICK et al., 2018) estão disponíveis para indicar que
a cafeína funciona como uma ajuda ergogênica em várias modalidades esportivas.

Todavia, algumas pesquisas apresentam resultados ambíguos e serão


necessárias mais pesquisas, considerando casos de indivíduos treinados que
normalmente demonstram mais efeitos ergogênicos do que indivíduos não
treinados, e que indivíduos que usam de bebidas com cafeína regularmente,
parecem experimentar menos benefícios ergogênicos da cafeína.

• Carboidratos

Um dos recursos ergogênicos disponíveis para atletas e indivíduos ativos


é o carboidrato.

Conforme já mencionado, o carboidrato deve ser consumido na dieta


rotineiramente, nas horas que antecedem o exercício, durante o exercício e nas
horas após o exercício, podendo garantir que os estoques endógenos de glico-
gênio sejam mantidos e suportem muitos tipos de desempenho do exercício
(BURKE et al., 2011).

Widrick et al. (1993) examinaram sistematicamente todas as quatro combina-


ções possíveis de níveis intramusculares altos e baixos de glicogênio pré-exercício,
com e sem fornecimento de carboidratos antes de uma sessão padrão de exercício
de ciclismo, comprovando que, quando o carboidrato foi fornecido, o desempenho
foi melhorado. Além dos modelos tradicionais de exercícios de resistência.

Ainda, Williams e Rollo (2015) verificam em sua revisão de literatura que


o desempenho de esportes coletivos, tipicamente caracterizados por intensidades
variáveis ​​e períodos intermitentes de grande esforço, tem melhora significativa
com o consumo de carboidrato.
169
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Além da ingestão, Carter (1995) chamaram a atenção para o potencial


impacto do enxágue bucal de carboidratos como estratégia ergogênica. Eles
demonstraram, em sua pesquisa, um aumento no tempo de desempenho durante
o ciclismo, revelando que os receptores no cérebro podem estar ligados à mera
presença de carboidratos na boca.

• Creatina monoidratada

A suplementação de creatina é uma estratégia bem apoiada para aumen-


tar a massa muscular e a força durante o treinamento, todavia, também foi re-
latado que a creatina melhora a capacidade de exercício em outras variáveis,
descritas a seguir (KERKSICK et al., 2018).

Especificamente, de acordo com Kreider et al. (2017), estudos documenta-


ram melhorias com o consumo de creatina, uma proteína presente em diferentes
fontes alimentares, em especial nas carnes, em: sprints únicos e múltiplos; tra-
balho concluído em vários conjuntos de esforços máximos; limiar anaeróbico;
carga de glicogênio e capacidade de trabalho.

Consequentemente, esportes coletivos, atividades individuais ou esportes


que consistem em exercícios intermitentes de alta intensidade, como futebol,
tênis, basquete, entre outros, podem se beneficiar do uso de creatina (KREIDER
et al., 2017).

Chwalbinska-Moneta (2003), em seu estudo, descobriu que a ingestão de


20 g de creatina por cinco dias melhorava a resistência e o desempenho anaeróbico
em remadores de elite.

A creatina pode melhorar as adaptações do treinamento em atletas


de resistência e anaeróbicos, capacidade anaeróbica e permitir que os atletas
concluam maiores volumes de treinamento no limiar anaeróbico ou acima dele
(NELSON et al., 2001).

Não há evidências clínicas de que a suplementação de creatina aumente


a suscetibilidade à desidratação, cãibras musculares ou doenças relacionadas ao
calor (KRIERKSI et al., 2018).

QUADRO 5 – SUPLEMENTOS ALIMENTARES COM BENEFÍCIO PARA O DESEMPENHO DE


ATLETAS BASEADOS EM FORTES EVIDÊNCIAS

Cafeína

3-6 mg/kg de peso na forma de cafeína anidra (isto é, forma


de comprimido ou pó), consumiram ~ 60 minutos antes do
Protocolo de uso exercício (GANIO et al., 2009). Doses mais baixas de cafeína
(<3 mg/kg de peso ± 200 mg), fornecidas antes e durante o
exercício; consumido com uma fonte de CHO (SPRIET, 2014).

170
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Doses maiores de cafeína (≥9 mg/kg BM) não parecem aumentar


o benefício de desempenho (BRUCE et al., 2000) e são mais
propensas a aumentar o risco de efeitos colaterais negativos,
Considerações incluindo náusea, ansiedade, insônia e inquietação. Doses mais
adicionais e baixas de cafeína, variações no tempo de ingestão antes e/ou
possíveis efeitos durante o exercício e a necessidade (ou falta dela) de um período
colaterais de abstinência de cafeína devem ser testadas em treinamento
antes do uso da competição. O consumo de cafeína durante
a atividade deve ser considerado concomitante à ingestão de
CHO para melhorar a eficácia (TALANIAN; SPRIET, 2016).

Creatina

Fase de carregamento: ∼20 g/dia (dividido em quatro doses


diárias iguais), por cinco a sete dias (LANHERS et al., 2017);
Fase de manutenção: 3 a 5 g/dia (dose única) durante o período
de período de suplementação (HULTMAN et al., 1996). Nota :
Protocolo de uso
o consumo simultâneo com uma fonte mista de proteína/
CHO (∼ 50 g de proteína e CHO) pode aumentar a captação
de creatina muscular através da estimulação da insulina
(STEENGE et al., 2000).

Nenhum efeito negativo para a saúde é observado com o


uso a longo prazo (até quatro anos) quando os protocolos de
carregamento apropriados são seguidos (SCHILLING et al.,
Considerações
2001). Um aumento potencial de 1-2 kg de peso corporal após
adicionais e
o carregamento de creatina (principalmente como resultado
possíveis efeitos
da retenção de água; (DEMINICE et al., 2013; POWERS et al.,
colaterais
2003), pode ser prejudicial para o desempenho de resistência ou
em eventos em que a massa corporal deva ser movida contra a
gravidade (por exemplo, salto em altura, salto com vara).

Nitrato

Alimentos com alto teor de nitrato incluem vegetais folhosos


de raiz e verde, incluindo espinafre, salada de rúcula, aipo e
beterraba. Os benefícios agudos de desempenho são geralmente
vistos dentro de duas a três horas após um bolus de NO3 a 5 a 9
mmol (310 a 560 mg) (HOON et al., 2014). Períodos prolongados
Protocolo de uso
de ingestão de NO3 - (> 3 dias) também parecem benéficos para o
desempenho (THOMPSON et al., 2015, 2016) e podem ser uma
estratégia positiva para atletas altamente treinados, em que os
ganhos de desempenho com a suplementação de NO3- parecem
mais difíceis de obter (JONES, 2014).

171
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

As evidências disponíveis sugerem que parece haver poucos


efeitos colaterais ou limitações à suplementação de nitrato. Pode
Considerações
existir o potencial de distúrbios gastrointestinais em atletas
adicionais e
suscetíveis e, portanto, deve ser exaustivamente testado no
possíveis efeitos
treinamento. Parece haver um limite superior para os benefícios
colaterais
do consumo (isto é, nenhum benefício maior de 16,8 mmol
[1.041 mg] vs. 8,4 mmol [521 mg]; (WYLIE et al., 2013 ).

Beta-Alanina

Consumo diário de ~ 65 mg/kg de peso corporal, ingerido por


um regime de dose dividida (ou seja, 0,8-1,6 g a cada 3-4 horas)
Protocolo de uso
durante um período prolongado de suplemento de dez a 12
semanas (SAUNDERS et al., 2016).

A eficácia do suplemento parece mais difícil de ser percebida


Considerações em atletas bem treinados (BELLINGER, 2014). Há uma
adicionais e necessidade de investigação adicional para estabelecer o uso
possíveis efeitos prático em várias situações específicas do esporte (HOBSON
colaterais et al., 2012). Possíveis efeitos colaterais negativos incluem
erupções cutâneas e/ou parestesia transitória.

Bicarbonato de Sódio

Dose aguda única de NaHCO3 de 0,2-0,4 g/kg de peso,


consumida 60-150 minutos antes do exercício (CARR et al.,
2011; SIEGLER et al., 2012). Estratégias alternativas incluem:
doses fracionadas (ou seja, várias doses menores que mesma
Protocolo de uso
ingestão total) tomada durante um período de 30 a 180 minutos
(LAMBERT et al., 1993); carregamento em série com 3 a 4 doses
menores por dia, durante dois a quatro dias consecutivos antes
de um evento (BURKE, 2013).

Distúrbios gastrointestinais bem estabelecidos podem estar


associados a este suplemento. As estratégias para minimizar o
Considerações
distúrbio gastrointestinal incluem: coingestão com uma pequena
adicionais e
refeição rica em carboidratos (± 1,5 g/kg de carboidratos BM)
possíveis efeitos
(CARR et al., 2011); o uso de citrato de sódio como alternativa
colaterais
(REQUENA et al., 2005 ); estratégias de dose dividida ou
empilhamento (BURKE, 2013).

FONTE: Maughan et al. (2018, p. 443)

172
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

2.2 SUPLEMENTOS COM EVIDÊNCIA LIMITADA OU MISTA


PARA APOIAR A EFICÁCIA
Os suplementos alimentares da categoria evidências limitadas ou mistas
para apoiar a eficácia, são caracterizados por possuírem uma lógica científica
para seu uso. Todavia, as pesquisas disponíveis falharam em produzir resultados
consistentes apoiando sua eficácia. Compõem uma classe de suplementos que
exige a realização de mais pesquisas para que os cientistas possam começar a
entender seu impacto. É importante ressaltar que esses suplementos não têm
evidências disponíveis para sugerir que eles não têm segurança ou devem ser
vistos como prejudiciais.

• Aminoácidos essenciais (BCAA)

Aceita-se que a ingestão de pelo menos 2g do aminoácido essencial,


leucina, seja necessária para estimular mecanismos celulares que controlam
a hipertrofia muscular e que a ingestão de 6 a 12 g diária de uma mistura de
aminoácidos essenciais é necessária para maximizar a síntese de proteínas
musculares (KERKSICK et al., 2018). No entanto, atualmente, não está claro se
a adoção dessa estratégia levaria a maiores adaptações de treinamento e/ou se
a suplementação de BCAA seria superior do que ingerir carboidratos e uma
proteína de alto valor biológico após o exercício.

Por esses motivos, Jackman et al. (2017) incentivaram a priorização de fontes


de proteínas intactas na ingestão de aminoácidos de forma livre para promoção
do aumento de massa livre de gordura, mas o impacto dessa recomendação nas
alterações de desempenho permanece indeterminado em esportes de resistência.

• β-hidroxi β-metilbutirato (HMB)

De acordo Kerksick et al. (2018), o HMB parece ter mais efeito no


desempenho quando a intensidade do treinamento é maximizada, embora muitos
dos estudos tenham verificado com resultados variados o potencial ergogênico
da suplementação de HMB em indivíduos fisicamente ativos.

Os estudos recentes de Durkalec-Michalski e Jeszka (2015) confirmaram


trabalhos anteriores, como o de Vukovich (2001) de que o HMB tem um efeito
positivo no aumento da capacidade aeróbica.

O HMB está disponível como cálcio-HMB e como ácido livre. Em


comparação com o HMB de cálcio, o ácido livre de HMB apresenta uma melhor
absorção (aproximadamente 30 min vs. duas a três horas) (FULLER et al., 2011).

Por meio de uma revisão sistemática da literatura, Silva et al. (2017) conclu-
íram que a forma de ácido livre do HMB pode melhorar a força e atenuar os da-
nos musculares quando combinada com o treinamento de resistência pesado, mas
afirmou que são necessárias mais pesquisas para confirmação desses resultados.

173
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• Citrulina

A citrulina (ácido 2-amino-5- (carbamoilamino) pentanóico ou L-carnitina)


é produzida no ciclo da ureia a partir de ornitina e fosfato de carbamoil. É eficien-
temente reciclada em arginina para subsequente produção de óxido nítrico atra-
vés do ciclo de citrulina-óxido nítrico (HAINES; PENDLETON; EICHLER, 2011).

O catabolismo da citrulina possibilita que a maioria do que foi consumido


passe para a circulação sistêmica antes da conversão para arginina, fazendo
com que sua captação não competitiva para o transporte celular faça com que
a suplementação oral de citrulina seja mais eficaz no aumento da arginina e,
consequentemente, ativação da enzima óxido nítrico sintase (NOS), assim como
vários biomarcadores de óxido nítrico (MCKINLEY-BARNARD et al., 2015).

Vários estudos empregaram modelos de exercícios aeróbicos para exami-


nar o impacto da citrulina no desempenho. Glenn et al. (2017) examinaram o im-
pacto de uma dose de 8 g de citrulina durante o treinamento de resistência no
número de repetições realizadas durante seis séries, cada um dos exercícios de
supino e leg press, até falhar a 80% de 1 RM (repetições múltiplas) em mulheres trei-
nadas, tendo como resultado aumento de malato de citrulina, melhorando, de for-
ma significativa, o desempenho durante o exercício resistido de múltiplas séries.

Poré, Cultrufello, Gadomski e Zavorsky (2015) relataram que uma dose


de 6 g de L-citrulina não afetou os indicadores aeróbicos e anaeróbicos do
desempenho do exercício. Dessa forma, não fica claro se esses benefícios podem
ser atribuídos exclusivamente à citrulina, bem como qual o papel que a citrulina
pode desempenhar no desempenho aeróbico e anaeróbico.

• Glicerol

Sugere-se que a ingestão de glicerol com água aumenta a retenção


de líquidos e mantém o estado de hidratação do atleta (GOULET, 2012),
podendo prevenir a desidratação e melhorar as alterações termorregulatórias e
cardiovasculares. Todavia, como nos demais casos dos suplementos enquadrados
nessa classificação II, os resultados são variados sobre a melhora ou não da
capacidade de exercício (KERKSICK et al., 2018).

Consequentemente, como apontado por Goulet (2012), verifica-se ser


necessário concluir mais pesquisas para trabalhar com as nuances que envolvem
a eficácia do potencial do glicerol.

• L-alanil-L-glutamina

Sob o mesmo referencial teórico da glutamina, o interesse em suplementar


com L-alanil-L-glutamina tem aumentado nos últimos anos.

174
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Hoffman e Falvo (2010) relataram, em um grupo de dez homens fisicamente


ativos, que a L-alanil-L-glutamina aumentou o tempo até a exaustão em um
cicloergômetro, mesmo quando exposto a um leve estresse por desidratação.

Após dois anos, o mesmo grupo de pesquisa verificou que a reidratação


com L-alanil-L-glutamina, mesmo em estado de desidratação de 2,3% em uma
luta de basquete levou a uma melhoria no desempenho das habilidades e no
tempo de reação visual quando comparado à água (HOFFMAN et al., 2012).

Mccormack et al. (2015) determinaram que a L-alanil-L-glutamina


melhorou significativamente o desempenho da corrida em esteira quando
comparada à ausência de hidratação. Essa pesquisa indica ainda que a L-alanil-
L-glutamina, em doses que variam de 300 a 1000 mg por 500 mL de fluido, pode
influenciar favoravelmente o status e o desempenho da hidratação, quando
comparado a nenhuma ingestão de líquidos ou apenas água.

• Nitratos

A suplementação de nitrato é conhecida devido a seus efeitos na


vasodilatação, pressão arterial e maior eficiência no trabalho, podendo melhorar
o desempenho esportivo (LARSEN et al., 2007). É consumida de duas a três horas
antes do exercício, com suco de beterraba ou nitrato de sódio, sendo prescrita em
quantidades que variam de 300 a 600 mg (HOON et al., 2013).

Essas dosagens parecem ser bem toleradas quando consumidas, tanto


como suplementares, quanto como fontes suplementares sem alterações signifi-
cativas na hemodinâmica.

A suplementação de ciclistas altamente treinados com nitrato de sódio


(10 mg/kg de massa corporal) reduziu significativamente o pico de VO2 sem
influenciar o tempo até a exaustão ou a potência máxima (BESCOS et al., 2011).
Ainda, Kenjale et al. (2011) identificaram que a suplementação de nitrato, com
doses de aproximadamente 560 mg/dia de nitrato, aumentou significativamente
o fluxo sanguíneo para o músculo em exercício e o tempo de exercício em idosos
com doença arterial periférica, melhorando a função endotelial por meio de
dilatação mediada por fluxo e velocidade do fluxo sanguíneo.

Todavia, como em várias situações aqui citadas, nem todas as pesquisas


observam benefícios de desempenho com a suplementação de nitrato, como
descreveram Wilkerson et al. (2012), quando verificaram que a suplementação
de nitrato (385 mg de nitrato) 2,5 h antes de um treino de 80 km de ciclistas
bem treinados não conseguiu melhorar o desempenho dos atletas. De maneira
geral, coletivamente, esses resultados indicam que a suplementação com nitrato
pode melhorar o desempenho do exercício aeróbico e a saúde cardiovascular
(KERKSICK et al., 2018).

175
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• Quercetina

A quercetina é um flavonoide encontrado em frutas e hortaliças, além de


demais espécies vegetais, sendo conhecida na literatura por apresentar benefícios
à saúde com o seu uso terapêutico. Foi proposta em modelos animais e humanos
para melhorar o desempenho da resistência em atletas.

Em uma meta-análise realizada por Pelletier, Lacerte e Goulet (2013) para


verificar o impacto potencial da suplementação de quercetina na melhora da
resistência, que envolveu sete estudos publicados representando 288 participantes,
foi identificado que, somente em participantes não treinado, a quercetina foi
capaz de aumentar de maneira significativa a resistência dos participantes.

Também, em outra meta-análise realizada em 2011, de Kressler, Millard-


Stafford e Warren (2011), a conclusão foi semelhante, na qual eles indicaram
que a quercetina tem benefícios, mas o tamanho desse efeito é trivial e pequeno,
sendo necessário mais pesquisas com intuito de identificar as situações em que a
quercetina pode afetar o desempenho no exercício.

• Taurina

A taurina é um aminoácido encontrado em abundância no músculo


esquelético humano, derivado do metabolismo da cisteína, desempenha funções
em vários sistemas do organismo (HARRIS et al., 2011). Foi relatado em alguns
estudos que a taurina pode melhorar o desempenho do exercício e a recuperação
de exercícios estressantes (KERKSICK et al., 2018).

Em uma meta-análise realizada em 2018 por Waldron et al. (2018), foi


informado que doses diárias únicas de 6 g, por até duas semanas, melhoraram
significativamente o desempenho do exercício de resistência em vários
participantes. Enquanto mais pesquisas continuam sendo publicadas envolvendo
taurina, o consenso desses resultados continua a ser misto em relação ao potencial
da taurina para melhorar o desempenho físico (KERKSICK et al., 2018).

3 EFICÁCIA DO AUXÍLIO ERGOGÊNICO DOS SUPLEMENTOS


ALIMENTARES NOS EXERCÍCIOS DE FORÇA
Conforme exposto no subtópico anterior, há dados bem controlados
disponíveis, para demonstrar a eficácia do auxílio ergogênico proposto em
populações atléticas ou em pessoas regularmente envolvidas no treinamento
físico com objetivo de hipertrofia muscular.

Ainda, para contribuir na importância de avaliar os artigos, segue uma


série de perguntas a serem respondidas:

176
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

• Os estudos são realizados com pesquisas básicas em animais/populações


clínicas ou foram realizados estudos em atletas/sujeitos treinados?
• Os estudos foram bem controlados? Nos casos de pesquisas para recursos
ergogênicos, o estudo ‘padrão ouro’ é um estudo clínico randomizado, duplo-
cego e controlado por placebo, no qual nem o pesquisador nem o sujeito sabem
qual grupo recebeu o suplemento ou o placebo durante o estudo, sendo que os
sujeitos foram aleatoriamente designados para o grupo placebo ou suplemento.
Ressalta-se que, em muitos casos, as pesquisas de suplementos se baseiam
em estudos mal planejados, como por exemplo: pequenos grupos de sujeitos,
nenhum grupo de controle, testes não confiáveis ​​entre outros.
• Os estudos relatam resultados estatisticamente significativos ou estão sendo
feitas afirmações por meios ou tendências não significativos? A análise
estatística apropriada dos resultados da pesquisa permite uma interpretação
correta dos dados. Embora estudos que relatem tendências estatísticas possam
levar pesquisadores a realizar pesquisas adicionais, estudos que relatam
resultados estatisticamente significativos são mais confiáveis. Além disso,
há situações em que o intervalo de confiança na análise de médias, respostas
individuais de todos os participantes e tamanhos dos efeitos são informações
adicionais que podem permitir uma interpretação mais precisa.
• Os resultados dos estudos citados correspondem às alegações feitas do
suplemento ou retratam com precisão a resposta do suplemento contra um
grupo placebo ou controle apropriado? Não é incomum que as alegações de
marketing exagerem bastante nos resultados encontrados nos estudos atuais,
concentrando-se apenas nos resultados do grupo de suplementos, ao invés
de como o grupo de suplementos mudou em comparação com a mudança de
um grupo de placebo, sendo que uma forma de determinar isso é ler o artigo
inteiro e comparar os resultados observados nos estudos com as afirmações do
marketing disponível.
• Os resultados do estudo foram apresentados em uma reunião científica
respeitável e/ou publicados em uma revista científica revisada por pares? As
pesquisas mais confiáveis normalmente são apresentadas em reuniões
científicas e/ou publicadas em revistas respeitáveis ​​revisadas por pares. Sendo
importante identificar se a revista é de qualidade. Três são as maneiras de
determinar a reputação de uma revista: identificar o editor; “fator de impacto”;
e se a revista é ou não indexada e posteriormente disponível para revisão no
PubMed (KERKSICK et al., 2018).

Muitos periódicos “revisados ​​por pares” pertencem a empresas que fazem


negócios com vários produtos nutricionais, mesmo que estejam disponíveis no
PubMed. Por isso, é recomendado a consulta ao site do editor, buscando verificar
quantos outros periódicos foram publicados. No caso de serem apenas alguns
outros periódicos, isso sugere que o periódico não é respeitável. Também é
possível pesquisar quantos artigos foram publicados pela revista nos últimos seis
a 12 meses e quantos desses artigos são estudos bem conduzidos (KERKSICK et
al., 2018).

177
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• Os resultados da pesquisa foram replicados? Em caso afirmativo, os resul-


tados foram replicados apenas no mesmo laboratório? A melhor maneira de
conhecer um auxílio ergogênico é verificar se os resultados foram replicados
em outros estudos e de preferência por vários grupos de pesquisa distintos.
Além disso, a replicação de resultados por laboratórios diferentes e não afilia-
dos com autores completamente diferentes também reduz o elemento de viés
de publicação e conflitos de interesse (KERKSICK et al., 2018).

Um número notável de estudos a respeito de auxílios ergogênicos é


realizado em colaboração com um ou mais cientistas que possuem interesse
econômico real nos resultados do estudo. Devido a isso, um número crescente de
periódicos exige divulgações de todos os autores de artigos científicos, incluindo
tais divulgações em artigos publicados (KERKSICK et al., 2018).

3.1 SUPLEMENTOS PARA HIPERTROFIA MUSCULAR


Os suplementos listados a seguir foram analisados na literatura científica
com intuito de promover força e acúmulo de músculo esquelético em conjunto
com um programa de treinamento bem projetado.

Destaca-se que ganhos ou perdas nas massas corporais podem afetar


positiva ou negativamente o desempenho atlético de um indivíduo, como, por
exemplo, aumento na massa corporal e na massa magra são adaptações desejadas
para muitos jogadores de futebol americano, podendo melhorar o desempenho
nessas atividades, todavia, reduções na massa corporal podem promover
aumentos no desempenho, como ciclistas, ginastas, que podem precisar reduzir
rapidamente o peso, mantendo a massa muscular, força e potência (KERKSICK
et al., 2018).

3.1.1 Fortes evidências para apoiar a eficácia e


aparentemente seguro
Serão descritos a seguir os suplementos presentes na literatura, com dados
bem controlados, para demonstrar a eficácia do auxílio ergogênico proposto em
populações atléticas ou em pessoas regularmente envolvidas no treinamento
físico com objetivo de hipertrofia muscular.

• Aminoácidos essenciais (EAA)

Kobayashi et al. (2003) indicam que a ingestão de 6 a 12 g dos aminoácidos


essenciais (EAA) na ausência da alimentação, antes e/ou após o exercício
resistido, estimula a síntese de proteínas, sendo esta resposta independente da
fonte de proteína ou tipo de alimento, condição essa que pode aumentar a massa
livre de gordura.

178
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Embora existam vários métodos de avaliação da qualidade de proteínas,


a maioria dessas abordagens se concentra na quantidade de EAAs encontrados
no alimento. Até este ponto, estão disponíveis vários estudos que afirmam que os
EAAs operam como um pré-requisito para estimular as taxas de pico da síntese
de proteínas musculares (PHILLIPS; CHEVALIER; LEIDY, 2016), sendo que
alguns EAAs, individualmente, receberam atenção considerável por seu papel
potencial no impacto da tradução de proteínas e, consequentemente, na síntese
de proteínas musculares, como é o caso dos aminoácidos de cadeia ramificada
(BCAAs) (BLOMSTRAND et al., 2006).

É importante ressaltarmos que, de todo o interesse gerado pelos BCAAs,


a leucina é o aminoácido principal no que se refere às alterações agudas na
tradução de proteínas. O fornecimento de leucina, após a conclusão do exercício
resistido, pode potencializar ainda mais os aumentos na sinalização de mTOR e
na tradução de proteínas, sendo a dose ideia, de acordo com Jager et al. (2017),
entre 1,7 e 3,5 g/dia.

• Bicarbonato de sódio

Tobias et al. (2013) relataram uma melhora significativa na produção de


força na parte superior do corpo em atletas treinados em artes marciais após a
ingestão de bicarbonato de sódio, sendo que observaram uma melhoria sinérgica
na potência e desempenho quando beta-alanina e bicarbonato de sódio foram
utilizados de forma conjunta.

São necessários mais estudos para estabelecer quantidades e benefícios.

• β-hidroxi β-metilbutirato (HMB)

O HMB é um metabólito da leucina, Slater e Jenkins (2000) documentaram


em sua pesquisa, que a suplementação de 1,5 a 3 g/dia de HMB de cálcio durante
o treinamento, pode aumentar a massa muscular e força, principalmente nos
indivíduos não treinados. Além disso, Gallagher et al., (2000) verificaram que 6
g por dia não forneceram ganhos adicionais na massa magra além do que foi
relatado com uma dose de 3 g.

Ainda conforme Vukovich et al. (2001), para otimizar a retenção do HMB,


é recomendável dividir a dose diária de 3 g em três doses iguais de 1 g cada (com
café da manhã, almoço ou pré-exercício, hora de dormir).

Cabe destacar que os efeitos da suplementação de HMB em atletas


treinados são menos claros, já que estudos demonstram ganhos não significativos
na massa muscular (SLATER et al., 2001). De acordo com Kerksick et al. (2018), a
suplementação de HMB pode ser realizada em doses de 1,5 a 3 g por períodos
curtos de três a quatro semanas em populações não treinadas e durações mais
longas (12 semanas) em populações treinadas, podendo levar a melhorias na
composição corporal, redução na gordura e aumento na massa livre de gordura.

179
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

• Cafeína

Pesquisas que envolvem a cafeína ainda não conseguem alcançar resul-


tados padronizados. Trexler et al. (2015) relataram que a cafeína pode melhorar
o desempenho repetido do sprint, mas não impactou a força máxima e as repe-
tições à fadiga usando exercícios tanto na parte superior e inferior do corpo. No
entanto, outros estudos indicaram que a cafeína pode afetar favoravelmente o
desempenho muscular com ganho de força, Goldstein et al. (2010) relataram que
a ingestão de cafeína (6 mg/kg) aumentou significativamente a força do supino
em um grupo de mulheres.

De maneira resumida, os autores relataram melhorias na força e repetições


até a falha usando o supino e outros exercícios.

• Creatina monoidratada

A creatina é o suplemento alimentar mais eficaz disponível para os atletas


com objetivo de aumentar a capacidade de exercício de alta intensidade e a massa
muscular, sendo que, de acordo com Kreider (2010), o aumento da massa corporal
gira em média entre 1 a 2 kg a mais que o grupo controle durante quatro a 12
semanas de treinamento.

Os ganhos em massa muscular parecem ser o resultado de uma capacidade


aprimorada de realizar exercícios de alta intensidade, permitindo que o atleta
treine mais e promovendo maiores adaptações ao treinamento e hipertrofia
muscular (OLSEN et al. 2006).

Quanto à segurança no consumo desse suplemento, vários estudos de


curto e longo prazo, como o de Kim et al. (2011), não relataram efeitos colaterais
aparentes. A posição da ISSN sobre a creatina monoidratada (KREIDER et al., 2017)
resume suas descobertas da seguinte forma: a creatina é o suplemento alimentar
mais eficaz disponível para atletas que buscam aumentar a capacidade de exercício
de alta intensidade e massa corporal magra durante o treinamento; possui vários
benefícios terapêuticos em populações saudáveis ​​e doentes, variando de bebês
a idosos; não há evidências científicas de que o uso de creatina monoidratada
(até 30 g/dia por cinco anos) tenha efeitos prejudiciais em indivíduos saudáveis;
recomenda-se que a suplementação de creatina seja considerada apenas para
atletas mais jovens que estejam envolvidos em treinamento supervisionado
competitivo; possua uma dieta bem equilibrada e que melhore o desempenho;
não exceda as doses recomendadas.

Ressalta-se que a adição de carboidrato a um suplemento de creatina


parece aumentar a captação muscular de creatina, sendo que o método mais
rápido para aumentar os estoques de creatina muscular é o consumo de 0,3 g/
kg/dia de creatina por cinco a sete dias, seguidos por 3 a 5 g/dia para manter os
estoques elevados (KERKSICK et al., 2018).

180
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Após a fase de sobrecarga, a dose de manutenção recomendada é


consideravelmente menor, aproximadamente 2 a 5 g de creatina por dia ou
0,03 g/kg de massa corporal por dia. De acordo com Ribeiro (2010), pesquisas
têm demonstrado um aumento de 10 a 40% na concentração intramuscular de
creatina e PCr com o uso desse protocolo. Após a ingestão de 5 g de creatina, o
nível plasmático aumenta de uma faixa entre 50 e 100 mmol/ℓ para mais de 500
mmol/ℓ, 1 h após o seu consumo.

• Proteína

De acordo com Morton et al. (2018), indivíduos submetidos a treinamentos


intensos com objetivo de promoção do aumento de massa livre de gordura devem
consumir entre 1,4 e 2,0 g/kg/dia de proteína. Já Tang et al. (2009), considerando
o consumo de proteínas por praticantes de exercício físico, realizaram um estudo
que buscou verificar a capacidade de três fontes diferentes de proteína (proteína
isolada e hidrolisada do soro do leite, caseína micelar e proteína isolada da soja)
em estimular mudanças na síntese de proteína muscular em repouso e após a
realização de exercícios resistido. Ao final, observaram que todas as três fontes
de proteínas aumentaram significativamente as taxas de síntese de proteínas
musculares em ambas as situações.

Cermak e Van Loon (2012), através de uma meta-análise que examinou


o impacto da suplementação de proteínas nas mudanças de força e massa livre
de gordura, verificaram que a suplementação demonstrou efeito positivo na
massa livre de gordura e força da parte inferior do corpo em participantes de
todas as idades.

Nesse contexto, embora sejam necessárias mais pesquisas nessa área,


evidências indicam claramente que as necessidades de proteínas dos indivíduos
envolvidos em treinamento intenso são elevadas e, consequentemente, os atletas
que obtêm maiores quantidades de proteína durante o treinamento promovem
maiores alterações na massa livre de gordura, aumento na força e na massa
muscular, sendo importante observar a realidade de cada indivíduo para
indicação das fontes dessas proteínas.

3.1.2 Evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia


Serão descritos a seguir os suplementos presentes na literatura com
dados que permitem uma evidência de efetividade limitada para prescrições
como auxílio ergogênico para populações atléticas ou em pessoas regularmente
envolvidas no treinamento físico.

• Adenosina - 5′-trifosfato (ATP)

O ATP é a principal fonte de energia intracelular e possui extensas funções


extracelulares, como o aumento da permeabilidade e vasodilatação no músculo
esquelético. Arts et al. (2012) demonstraram que o ATP oral não é sistematicamente
181
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

biodisponível, todavia, a suplementação crônica com ATP aumenta a capacidade


de sintetizar ATP dentro dos eritrócitos, minimizando assim as quedas induzidas
pelo exercício nos níveis de ATP.

Ainda, conforme Jager et al. (2017), o ATP pode aumentar o fluxo


sanguíneo para o músculo em exercício, podendo reduzir a fadiga e aumentar a
potência de pico durante sessões posteriores de exercícios repetidos. No entanto,
dado o número limitado de estudos em humanos com ATP sobre o aumento dos
ganhos induzidos pelo exercício na massa muscular, são necessários mais estudos
crônicos de treinamento em seres humanos (KIERKSICK et al. 2018).

• Aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA)

Discute-se, na literatura, o uso da suplementação de BCAA com intuito


de reduzir a degradação de proteínas induzida pelo exercício, possivelmente
promovendo um perfil hormonal anticatabólico (KREIDER et al., 2017). Na
maioria dos casos, assim como para Dreyer et al. (2008), a leucina é reconhecida
como elemento principal na ativação o complexo mTORC1 nas quantidades de 3
a 6 g, resultando na tradução favorável de proteínas.

Teoricamente, a suplementação de BCAA durante treinamento intenso


pode ajudar a minimizar a degradação de proteínas e, assim, levar a maiores
ganhos (ou limitar as perdas de) de massa livre de gordura, mas existem apenas
evidências limitadas para apoiar essa hipótese (KIERKSICK et al., 2018).

Candeloro et al. (1995) verificaram que 30 dias de suplementação de


BCAA (14 g/dia) promoveram aumento significativo na massa muscular (1,3%) e
força de preensão (+ 8,1%) em indivíduos não treinados. Recentemente, Jackman
et al. (2017) examinaram a capacidade de uma dose aguda de aminoácidos de
cadeia ramificada para estimular aumentos na síntese de proteínas musculares,
e obtiveram como resultado que a ingestão aguda de BCAAs promoveu aumen-
to de 22% a mais na síntese de proteínas musculares quando comparada a um
grupo placebo.

Nesse contexto, de acordo com Kierksick et al. (2018), como os resultados


divergentes reduzem a capacidade de fazer determinações claras, os estudos
sugerem um papel mecanicista dos BCAAs, com destaque parar a leucina, mas
ainda há falhas em apoiar consistentemente a necessidade de suplementação
de BCAA.

De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), os BCAAs, por serem potentes


moduladores da captação de triptofano pelo sistema nervoso central, poderiam
aumentar a tolerância ao esforço físico prolongado. Porém, esses dados não têm
justificado seu consumo com finalidade ergogênica. Por isso, recomenda-se que
não seja utilizada a suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada com
finalidade ergogênica.

182
TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA

Nesse mesmo caminho, Hernandez e Nahas (2009) relatam que a


glutamina, aminoácido que age como nutriente para as células de divisão
rápida, como é o caso das imunitárias, tem sido utilizada para aumentar a defesa
imunológica de atletas, contudo, quando a ingestão é oral, o elevado consumo
pelas células intestinais inviabiliza sua disponibilidade para outras regiões do
organismo, tornando, também, inviável a justificativa de sua suplementação oral.

Atualmente, não há evidências científicas suficientes que demonstrem


que a glutamina melhore o funcionamento do sistema imunológico e previna
lesões em atletas que consomem níveis adequados de proteínas, tornando a
suplementação necessária apenas em casos em que a avaliação individual indicar.

“A ornitina e a arginina são aminoácidos que produzem maior secreção


de hormônio de crescimento quando oferecidos através de infusão intravenosa,
sendo, entretanto, seu consumo por via oral ineficaz. Não é recomendada a
suplementação destes aminoácidos” (HERNANDEZ; NAHAS, 2009, p. 8).

183
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível identificar a necessidade de sermos críticos perante as orientações


de suplementos alimentares, considerando os tipos de pesquisas científicas
que os englobam e segurança e qualidade nutricional de cada um.

• Os recursos ergogênicos nutricionais atuam de diferentes formas na melhora da


performance: intensificação de potência física; intensificação da força mental;
intensificação de limites mecânicos.

• Conforme a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos


suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias baseadas
na qualidade e quantidade de suporte científico disponível: fortes evidências
para apoiar a eficácia e aparentemente seguro; evidências limitadas ou mistas
para apoiar a eficácia; pouca ou nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou
segurança;

• Os suplementos alimentares para exercícios resistidos e de resistência foram


expostos de acordo com o grau de evidencia das pesquisas científicas.

184
AUTOATIVIDADE

1 Considerando os métodos pelos quais os ergogênicos podem melhorar a


performance mediante a potência física, força mental e limite mecânico,
relacione as colunas a seguir:

(A) Para intensificar a potência física.


(B) Para intensificar a força mental.
(C) Para intensificar os limites mecânicos.

( ) Aumento dos processos psicológicos que maximizam a produção de


energia.
( ) Melhora na estabilidade pelo aumento da massa corporal, sobretudo da
massa muscular.
( ) Melhora na liberação do substrato energético no músculo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) A; B; C.
b) ( ) B; A; C.
c) ( ) C; A; B.
d) ( ) B; C; A.

2 (ENADE, 2010) Uma jovem de 22 anos de idade, com 58 kg de peso corpo-


ral e 1,70 m de altura, ingressou recentemente no time de handebol da sua
universidade. Preocupada com sua alimentação e com seu desempenho físi-
co nas competições, ela consultou um nutricionista com o objetivo de obter
informações a respeito da relação entre o consumo de carboidratos e lipídios
e a sua atividade esportiva. Considerando a situação hipotética exposta e a
relação entre alimentação e desempenho físico, avalie as afirmativas a seguir:
FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/
645401-inep-2010-enade-nutricao>. Acesso em: 9 jul. 2021.

I- É recomendável o consumo de alimentos ricos em carboidratos e lipídios


próximo ao horário da atividade física, pois esses alimentos favorecem
o depósito do glicogênio hepático, considerado a fonte de glicose para o
exercício.
II- A jovem apresenta estado nutricional adequado, segundo o índice de
massa corporal e, por isso, deve ingerir alimentos ricos em gordura antes
da atividade física, pois a gordura é fonte de energia para esportes de
intensidade leve.

185
III- O consumo de bebidas energéticas com 6% a 8% da solução de carboidra-
tos durante a atividade física é recomendável por permitir que carboidra-
tos sejam enviados para os tecidos no momento em que a fadiga aparece.
IV- A ingestão de carboidratos durante a atividade física não previne a fadiga
muscular, mas retarda o seu surgimento, melhorando também o desem-
penho da esportista pela manutenção da glicemia durante o exercício.

É CORRETO apenas o que se afirma em:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) I e IV.
d) ( ) III e IV.

3 É indispensável ao esportista uma alimentação equilibrada antes, durante e


após a atividade física. Com relação à nutrição e ao exercício no esporte e na
atividade física, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O uso de carboidratos (CHO) complexos e simples deve ocorrer até


trinta minutos antes da atividade física, sendo aconselhável ingerir, para
a reposição de glicose durante a prática esportiva, que contenham teor
entre 10% e 20% de CHO.
( ) Deve-se jejuar por duas horas antes de uma competição esportiva ou um
treinamento intenso para evitar um problema estomacal causado pelo
alimento não digerido.
( ) A refeição pré-competição ideal consiste em alimentos ricos em proteínas
que irão garantir níveis elevados de proteína muscular durante a
competição.
( ) O consumo de carboidratos com um alto índice glicêmico constitui um
meio mais efetivo de repor rapidamente o glicogênio repletado após um
exercício intenso.
( ) A instalação do quadro de anemia em um atleta pode trazer uma seria
de prejuízos ao seu desempenho, entre eles o maior o risco de fadiga
muscular, menor capacidade de trabalho físico e menor resistência.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – F – V – V.
b) ( ) F – F – F – F – V.
c) ( ) V – F – F – F – V.
d) ( ) F – F – V – F – V.

186
4 De acordo com a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos
suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias
baseadas na qualidade e quantidade de suporte científico disponível.
Descreva e caracterize as categorias:

5 Os suplementos alimentares da categoria evidências limitadas, ou mistas


para apoiar a eficácia, são caracterizados por possuírem uma lógica
científica para seu uso. Todavia, as pesquisas disponíveis falharam em
produzir resultados consistentes apoiando sua eficácia. Compõem uma
classe de suplementos que exige a realização de mais pesquisas para que os
cientistas possam começar a entender seu impacto. Nesse sentido, descreva
os apontamentos referentes ao BCAA.

187
188
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES


ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

1 INTRODUÇÃO

A fitoterapia é uma ciência que utiliza espécies vegetais conhecidas por


plantas medicinais, para prevenção e tratamento de diferentes doenças. Desde a
antiguidade, as plantas medicinais são usadas com grande eficácia, existem re-
gistros de uso de plantas com finalidade terapêutica desde o Egito Antigo, sendo
que o primeiro relato de uso medicinal é o Papiro de Ebers e relaciona as plantas
usadas no processo de embalsamento das múmias (HIRSCHBRUCH, 2016).

Atualmente, observa-se que a maioria dos medicamentos tem sua síntese


baseada em princípios ativos isolados em plantas. É possível contar com o
tratamento por meio de plantas e até mesmo como adjuvante de cura de algumas
patologias descartando-se efeitos colaterais e minimizando as agressões a outros
órgãos. Este é o princípio dos alimentos com propriedades funcionais, uma vez
que os princípios ativos são sempre fitoquímicos ou fitocomplexos com atividade
específica e seletiva. São diversas as maneiras descritas para utilizar as plantas
medicinais, sendo as mais usadas os chás, extratos líquidos, temperos, óleos e
extratos secos que podem ser encapsulados ou adicionados a sucos ou qualquer
outra preparação culinária.

É importante ressaltar que cada planta tem uma finalidade específica e


que, apesar de terem algumas propriedades conhecidas a muito tempo, é sempre
bom checar outras características, as quais podem até prejudicar o paciente, uma
vez que os princípios ativos apresentam toxicidade variável. As plantas medici-
nais têm amplo espectro de ação, dependendo sempre da forma e da dosagem uti-
lizada para determinação dos efeitos físicos. As formas mais comuns no Brasil são:
infusões, tinturas, xaropes, óleos, sucos e encapsulados (HIRSCHBRUCH, 2016).

2 FITOTERAPIA NO ESPORTE
Dentre todas as possibilidades de aplicar a fitoterapia no mundo dos
esportes, a primeira aplicação prática recomendada é a respeito do processo
digestório do esportista. Considerando-se que maus hábitos alimentares,
medicamentos, suplementos, estresse físico e/ou mental produzem e armazenam
toxinas no organismo, o princípio para essa indicação é a desintoxicação, sendo
usadas para esse fim as plantas com ação quelante de toxinas metabólitos e/ou
gorduras, além de papel antioxidante e hepatoprotetor (SCHULZ; HANSEL;
TYLER, 2002).
189
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Nesse meio de espécies vegetais desintoxicantes tem-se diferentes


variedades, citaremos, a seguir, algumas delas, iniciando pela salsaparrilha
(Smilax japicanga).

A salsaparrilha é uma planta cujos galhos e/ou raízes (hastes finas e


pequenas) são usados para a confecção do chá. É uma erva rica em saponinas
(similasaponina, sarsaponina), parrilina e sitosterol, entre outras substâncias
biologicamente ativas. Tem ação sudorífica, depurativa, diurética, anti-
inflamatória e antirreumática. Forma complexos lipossolúveis com colesterol,
metais pesados e outras gorduras, facilitando seu processo de excreção urinária.
É bastante utilizada nos tratamentos de gota, também por auxiliar na excreção
de ácido úrico e ureia. Por toda sua ação observa-se significativo aumento
na diurese. Portanto, seu uso é desaconselhado em períodos de competição
(HIRSCHBRUCH, 2016).

Tem-se também o alecrim (Rosmarinus officinalis), que é tônico e diaforético,


ou seja, favorece a transpiração. Um de seus flavonoides é o diosmin, que diminui
a fragilidade capilar e aumenta a irrigação periférica, favorecendo a oxigenação
dos tecidos. Aumenta a secreção biliar, reduz a formação de gases e quela a
gordura. Além de hepatoprotetor, é um potente anti-inflamatório. Além disso,
reduz dores, sendo indicado em caso de contusões e entorses. Recomenda-se
evitar seu uso no período noturno, pois pode alterar o ciclo de sono. Não deve ser
usado por hipertensos e gestantes, pois pode potencialmente aumentar a pressão
diastólica e ser absortivo, respectivamente.

A hortelã (Mentha piperita) também é uma espécie vegetal utilizada para o


fim aqui descrito. Tem um sabor refrescante em razão de sua composição química.
A concentração do óleo aromático mentol varia entre 50 e 90% quando destilado
a frio. Há ainda, em sua composição, mentonas, ésteres e terpenos. Estimula a
secreção de ácido clorídrico, além de aumentar a contratilidade intestinal. Também
é colagoga e antisséptica do trato digestivo, uma vez que o mentol é excretado pela
bile. Pode ser utilizada como estimulante de apetite se consumida isoladamente
de apetite se consumida isoladamente antes da refeição. Outro papel importante
é que a sensação de refrescância provocada pelo mentol incentiva o consumo de
líquidos, diminuindo assim o risco de desidratação em atletas. Pode ser usada
topicamente como recurso para redução das dores advindas de traumas e/ou
contusões, pois a aplicação local de óleo de menta anestesia os tecidos lesionados
de forma superficial (SCHULZ; HANSEL; TYLER, 2002).

Além das plantas usadas para fins desintoxicantes em períodos de


treinamento sem competição, pode ser indicado o uso do mulungu (Erythrina
mulungu Benth), para diferentes objetivos.

O primeiro deles é que essa é uma planta indutora do sono. É clara


a importância do sono como agente reparador em qualquer organismo,
principalmente em atletas, cujo desgaste físico intenso nem sempre é recuperado
em intervalos normais. Destaca-se a indução ao sono em momento próprio que

190
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

favoreça a ação do hormônio de crescimento, favorecendo a ação ergogenica dele.


Essa planta ainda apresenta ação de controle de produção e liberação de cortisol
e gerenciamento de estresse causado pelo descontrole da suprarrenal em atletas
(HIRSCHBRUCH, 2016).

Além disso, há outro importante fator: seus principais alcaloides são a


eritrina e a erisopina e atribui-se a elas o estímulo da regeneração tissular. Por ser
extremamente sedativa, só pode ser usada com segurança no chá da noite, antes
do repouso.

Já a arnica (Arnica montana), que é encontrada em flores, apresenta altos


teores de terpenos. Essas substâncias diminuem a formação exsudato, explicando
parte de seu poder anti-inflamatório. Além disso, é espasmolítica, reduzindo
sensivelmente as dores em geral, principalmente as decorrentes de lesões e/ou
traumas. Sua atividade é potencializada na presença de Hamamelis (SCHULZ;
HANSEL; TYLER, 2002).

Tem-se também as algas, em especial a clorela (Chlorella pyrenoidosa),


bastante utilizada por ser fonte de vários aminoácidos, vitaminas e minerais, com
destaque para a vitamina C, B2, além de fósforo, potássio e cálcio. É importante
na síntese do colágeno. Em sua composição, destaca-se a presença da Chlorella
growth factor (CGF), uma substância biologicamente ativa que, em conjunto com
outras, estimula o trabalho do sistema imunológico. A dose recomendada é de 2
g/dia. Sua ação é maximizada quando associada a suplementação de 60 mg de
ácido ascórbico.

Por sua vez, a castanha da índia (Aesculus hippocastanum) aumenta


a resistência e o tônus das veias e favorecem o retorno sanguíneo e o alho é
recomendado cru como tempero culinário. A alicina presente em sua composição
é amplamente reconhecida como agente bactericida e fungicida. Além dela,
há a quercetina, que também atua positivamente na diminuição de processo
inflamatório. Há ainda uma gama de compostos sulfurados como:

• aliina com ação hipotensora e hipoglicemiante;


• ajoeno (ajocisteína), que atua na prevenção de coágulos e que tem papel anti-
inflamatório, vasodilatador, hipotensor e antibiótico;
• alicina e tiossulfinatos, que são antibióticos, antifúngicos e antivirais;
• alil mercaptano e sulfeto dialil com a ação hipocolesterolemiante;
• s-alil-cisteína e compostos g-glutâmico, que são hipocolesterolemiantes,
antioxidantes e quimioprotetores.

Ainda, os fitoquímicos não sulfurados do alho podem ser:

• adenosina, cuja ação é vasodilatadora, hipotensora e miorrelaxante;


• escorodosa, com ação cardioprotetora;
• fração proteica imunoestimulante;
• saponinas com ação hipotensora e antimicrobiana;

191
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Destaca-se, ainda, o uso do gengibre (Zingiber officinalis), pois sua larga


utilização deve-se a diferentes fatores. É rico em gingerois, especialmente a
zingiberina e o zingiberol.

O gengibre inibe a produção de prostaglandinas, reduzindo as dores.


Estimula a digestão, aumentando a secreção dos sucos gástricos e hepáticos. Tem
importante papel na desobstrução das vias aéreas respiratórias superiores, sendo
ótimo aliado na otimização da capacidade de oxigenação. Além disso, aumenta
o metabolismo basal e a produção de células T do sistema imune. Seu uso
recomendado é diário em chás (rizoma) e em pó adicionado a água de coco, que
atua como veículo carreador dos fitoquímicos para interior da célula (SCHULZ;
HANSEL; TYLER, 2002).

Outra planta medicinal utilizada frequentemente é o Tribulus terrestris,


obtido das frutas dessa planta, que têm como principal princípio ativo a
saponina. É rico também em esteroides, flavonoides, alcaloides, ácidos de óleos
insaturados, cálcio, fósforo, ferro e proteína. A fruta contém resina, tanina,
açúcares, redutores, nitratos, peroxidasse, diastase e traços de um glucosídeo.
A planta contém saponinas e sapogeninas. Grandes quantidades de potássio e
nitrato estão também presentes.

Sua ação é de um fito-hormônio não esteroidal que aumenta a testosterona


e aumenta os níveis do hormônio luteinizante (LH). Estudos comprovam que,
quando administrado em homens saudáveis de 28 a 45 anos, em três doses de
250 mg/dia, ocorre um aumento de 41% dos níveis de testosterona no decorrer
de cinco dias.

Além da elevação da testosterona há um aumento da libido, da frequência e


da força das ereções e recuperação da atividade sexual. Reduz níveis de colesterol
e melhora o humor. Em mulheres, reduz os sintomas da frigidez sexual, aumenta
a libido e reduz os sintomas da menopausa. Quando usado na dosagem correta,
pode aumentar a formação de massa muscular em atletas e esportistas.

A dosagem pode variar de 250 a 750 mg/dia, dependendo da necessidade


individual. Não há estudos que comprovem alguma contraindicação, porém,
por sua ação fito-hormonal, deve ser observada cuidadosamente, por possíveis
interações medicamentosas (HIRSCHBRUCH, 2016).

Além das plantas medicinais, cita-se também o uso da chia, atualmente a


principal fonte de ômega 3, pois é uma semente oleaginosa vinda da planta Salvia
hispanica L., cuja maior produção encontra-se na Bolívia e no México, e vem sendo
cultivada no Brasil.

O consumo de alimentos fontes de ômega 6 tem aumentado, enquanto o


dos de ômega 3 tem reduzido nos últimos tempos, uma escala antes estimada de
1:1 (ômega 6 para ômega 3) atualmente chega de 10 a 25:1.

192
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

Os ácidos graxos poli-insaturados abrangem as famílias ômega 3 6. Os


ácidos graxos de cadeia muito longa, como os ácidos graxos araquidônicos e
docosaexaenoico, desempenham importantes funções no desenvolvimento e
funcionamento do cérebro e da retina. Esse grupo de ácidos graxos não pode ser
obtido pela síntese de novo, mas pode ser sintetizado a parit dos ácidos linoleico
e alfalinolenico presentes na dieta.

A chia, comprovadamente, é um dos alimentos que contribuem para


aumentar a ingestão do ácido alfalinolenico e dos ácidos graxos de cadeia muito
longa. A essencialidade dos ácidos graxos de cadeia muito longa é dependente do
metabolismo do indivíduo, sendo que a razão ômega 3: ômega 6 na dieta exerce
grande influência (HIRSCHBRUCH, 2016).

Destaca-se, ainda, que os componentes lipídicos desempenham


importantes funções na estrutura das membranas celulares e nos processos
metabólicos. Em humanos, os ácidos linoleico e alfa-linolênico, são necessários
para manter sob condições normais as membranas celulares, as funções cerebrais
e a transmissão de impulso nervoso.

Esses ácidos graxos também participam da transferência do oxigênio


atmosférico para o plasma sanguíneo, da síntese da hemoglobina e da divisão
celular, sendo denominados essenciais por não serem sintetizados pelo organismo
a partir dos ácidos graxos provenientes da síntese de novo. O consumo frequente
de 20 g/dia de sementes de chia misturadas a sucos ou vitaminas da manhã, ou
como parte de receitas de sobremesa, garante menor índice de lesões e maior
proteção dos tecidos e células.

Por fim, podemos considerar que a fitoterapia é um complemento valioso


em qualquer condição física, bastando orientação adequada e acompanhamento
constante.

Em casos específicos, como o de atletas, é fundamental a integração


multidisciplinar para que os resultados sejam os esperados. Por sua ação e origem,
é um excelente recurso ante o uso de sintéticos. É importante ressaltar que, nos
dias de competição, nenhum fitoterápico é utilizado, e no dia anterior usam-se
somente plantas medicinais digestivas (BUCCI, 2000).

Em linhas gerais, além de tratar questões individuais, a fitoterapia pode


agregar no acompanhamento de atletas desportistas: ajudar na digestão e no
processo de assimilação adequada de nutrientes, reduzindo o disbiose; redução
de dores, edemas e processos inflamatórios; recuperação de entorses, lesões e
contusões; redução da incidência de infecções e comprometimento do sistema
imunológico decorrente de exercícios intensos; recuperação muscular e o ganho
de massa magra; resistência ao esforço muscular e diminuir a fadiga; melhorar
a qualidade do sono, maximizando o efeito do repouso; favorecer a regeneração
celular e tissular; otimizar o estado físico dos atletas.

193
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Nenhum tratamento fitoterápico, apesar de natural, é isento de riscos. As


interações dos fitoterápicos com suplementos, medicamentos e mesmo com outras
plantas medicinais deve ser conhecida. Além do conhecimento da dosagem, das
interações, dos efeitos colaterais e do tempo de tratamento adequado de cada
planta, o nutricionista deve estar atento à forma de prescrição e à qualidade de
cada planta sugerida (BUCCI, 2000).

3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA EVITAR


DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO
O efeito do exercício no trato gastrointestinal depende principalmente
da intensidade e da duração do exercício. Enquanto exercícios de intensidade
moderada tem efeito protetor, exercícios extenuantes e agudos podem causar
problemas gastrointestinais.

Os sintomas podem piorar o desempenho e, possivelmente, evitar que


alguns atletas vençam uma prova. Há várias causas para o aparecimento desses
problemas durante o exercício, entre eles hábitos errôneos de consumo hídrico e
alimentar, sendo estes indispensáveis de serem testados antes das competições,
além de causas relacionadas ao exercício físico (DE OLIVEIRA; BURINI, 2009).

3.1 CAUSAS DOS PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS


DURANTE O EXERCÍCIO
Existem duas causas principais para o aparecimento dos problemas
gastrointestinais durante o exercício: fatores mecânicos e isquêmicos, os quais se
citam a seguir:

• Problemas mecânicos: ocorrem principalmente durante a corrida e em exercícios


resistidos, decorrentes do balanço dos órgãos e do aumento da pressão intra-
abdominal.
• Fatores isquêmicos: resultantes do desvio de fluxo sanguíneo das vísceras
para os tecidos ativos (músculo, coração, pulmão e cérebro), o que pode
causar isquemia na mucosa intestinal e aumentar a permeabilidade, com
consequências como náusea, vômito, dor abdominal e diarreia. Estes sintomas
ocorrem frequentemente durante competições em ambientes quentes e em
indivíduos desidratados, o que está associado com a redução do esvaziamento
gástrico (JEUKENDRUP; JENTJENS; MOSELEY, 2005).

São vários os sintomas de problemas gastrointestinais durante o exercício


e eles podem ser divididos em sintomas gastrointestinais superiores e inferiores,
acompanhe o Quadro 6:

194
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

QUADRO 6 – PRINCIPAIS PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO

Problemas abdominais superiores Problemas abdominais inferiores

Refluxo/queimação Dores intestinais

Arroto Dores laterais

Distensão abdominal Flatulência

Dores estomacais Vontade de defecar

Vômitos Diarreia

Náusea Sangramento intestinal

FONTE: Hirschbruch (2016, p. 399)

3.2 QUEM TEM MAIOR CHANCE DE APRESENTAR


PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS?
Os problemas gastrointestinais durante o exercício estão associados em
maior propensão a fatores genéticos. Além disso, mulheres têm maiores chances
de desenvolver esses problemas, principalmente durante a menstruação. Esses
distúrbios também são mais observados em atletas jovens, provavelmente por
causa de o exercício ser realizado em maior intensidade; além disso, atletas mais
velhos apresentam maior experiência de treinamento e estratégias de alimentação,
o que seria um fator protetor. Sabe-se que o indivíduo treinado apresenta
menos problemas gastrointestinais durante o exercício, quando comparado com
iniciantes (CASEY; MISTRY; MACKINIGHT, 2005).

3.3 ESTRATÉGIAS PARA PREVENIR OU MINIMIZAR


DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO
Durante a competição, a concentração ideal de consumo de carboidratos
na bebida é em torno de 5 a 8% e os atletas devem consumir entre 60 e 70 g/h. A
limitação da absorção de glicose é de 1 a 1,1 g/min e, quando grandes quantidades
são ingeridas, a absorção é o principal fator limitante, aumentando os problemas
gastrointestinais.

A concentração de carboidratos na bebida esportiva é importante para a


velocidade de absorção e o consequente esvaziamento gástrico.

Os efeitos de diferentes concentrações de carboidrato (0, 3, 6 e 9%) foram


testados em homens saudáveis em relação à distribuição do liquido ingerido e
à consequente velocidade de absorção da bebida. Conclui-se que bebidas com
concentrações de até 6% apresentam distribuição do líquido semelhante à agua.
195
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

Adicionalmente, bebidas com 3% de carboidratos mostraram maior distribuição


do líquido, inclusive quando comparadas com a água, portanto, para evitar
distúrbio durante o exercício, bebidas com um único tipo de carboidrato (glicose)
devem ser consumidas em diluição de aproximadamente 6% na quantidade de 1
g/min de carboidrato (CASEY; MISTRY; MACKINIGHT, 2005).

3.3.1 Múltiplos transportadores


O consumo de carboidratos de múltiplo transporte (glicose + frutose)
aumenta a absorção intestinal de carboidrato e do liquido ingerido, o que
ocorre por esses dois carboidratos serem absorvidos por transportes intestinais
independentes. A glicose é absorvida pelo transportador de glicose sódio-
dependente (SGLT1) enquanto a frutose é absorvida por meio do GLUT-5.

Comparando o consumo de 90 g/h de carboidrato de duas bebidas com


8,6% de diluição, uma contendo apenas glicose e a outra glicose + frutose (2:1),
foi observado que o consumo da bebida com carboidratos de múltiplo transporte
acelerou o esvaziamento gástrico e a distribuição do liquido.

O consumo da bebida com glicose e frutose pode ser recomendado


na quantidade de 1,5 g/min até 1,8 g/min. Essa solução pode ser elaborada
na proporção de 1,2 g/min de glicose ou maltodextrina + 0,6 g/min de frutose
(proporção 2:1). Portanto, o consumo de carboidrato de múltiplo transporte é uma
ótima estratégia para reduzir os problemas gastrointestinais durante o exercício,
mesmo que haja o consumo de grandes quantidades de carboidrato. Isso ocorre
principalmente por aumentar a absorção e diminuir o carboidrato residual no
intestino. Além disso, essa estratégia pode aumentar a oxidação do carboidrato
consumido e melhorar o desempenho (HIRSCHBRUCH, 2016).

3.3.2 Bochecho de carboidrato


Uma estratégia para prevenir os distúrbios gastrointestinais durante
o exercício é não utilizar o trato digestório durante a atividade física. Sabe-se
que o consumo de carboidrato aumenta o desempenho, mas há evidências que
mostram que não há necessidade de ingerir grandes quantidades da substancia
em exercícios com duração de até 60 minutos.

Nesse sentido, o bochecho com bebidas com carboidratos parece ser


uma boa estratégia para aumentar o desempenho se utilizar o trato digestório.
A melhora do desempenho com o bochecho de carboidrato ocorre porque
existem alguns receptores na mucosa oral que ativam algumas regiões cerebrais
relacionadas com a sensação de recompensa. Portanto, em exercício de curta
duração, poder-se-ia sugerir a realização do bochecho de carboidrato em vez do
consumo, principalmente naqueles atletas que apresentam histórico de distúrbios
(CASEY; MISTRY; MACKINIGHT, 2005).

196
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

3.3.3 Recomendações práticas


Recomenda-se que na ocorrência de distúrbios gastrointestinais, inicial-
mente, é muito importante testar o alimento e a bebida durante o treinamento
antes de realizar as intervenções na competição, devendo atentar as seguintes
situações: hidratação correta antes e durante o exercício é essencial para prevenir
a desidratação e reduzir os problemas gastrointestinais; evitar alimentos ricos
em fibra nos dias precedentes à corrida; evitar alimentos gordurosos nos dias
anteriores e imediatamente antes da corrida; alimentos sólidos devem ser con-
sumidos até três horas antes da corrida; ter cautela com a utilização de alguns
medicamentos, como a aspirina, paracetamol entre outros; evitar os alimentos
ricos em frutose (principalmente bebidas que contenham exclusivamente frutose)
como doces, biscoitos e etc.; utilizar frutose em conjunto com a glicose, na pro-
porção correta; e o bochecho de carboidrato pode ser recomendado para evitar
problemas gastrointestinais em exercícios com duração menor que 60 minutos.

E
IMPORTANT

Evidências recentes têm mostrado que o treinamento do intestino com


elevadas quantidades de carboidrato durante o período de treinamento pode diminuir os
problemas gastrointestinais durante as competições. Em casos de indivíduos com histórico
de problemas gastrointestinais, o consumo de carboidratos em gel ou líquidos é mais
indicado do que o de barras (HIRSCHBRUCH, 2016).

197
UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

FITOTERAPIA NA NUTRIÇÃO ESPORTIVA – POSSIBILIDADES DE


ATUAÇÃO E PRESCRIÇÃO

José Aroldo Filho

As plantas medicinais estão sendo cada vez mais prescritas por


profissionais de saúde, dentre os profissionais habilitados, os nutricionistas vêm
ganhando cabe vez mais espaço, uma vez que a união entre Nutrição e Fitoterapia
pode contribuir para uma real consciência sobre alimentação saudável e o uso
de alternativas naturais para a prevenção e o tratamento de diversas doenças.
Segundo a Dra. Daniela Fagioli, diretora da ASBRAN, em virtude dos avanços
científicos e aprimoramento da formação dos profissionais, observou-se a
necessidade da regulamentação da prescrição por parte dos nutricionistas, desde
que utilizem o fitoterápico como complemento.

Outro ponto ressaltado pela Dra. Daniela Fagioli é que esta área vem
conquistando espaço nas prescrições nutricionais, sobretudo em função
dos benefícios descritos na literatura e, desta forma, a busca por cursos de
especialização têm se expandido, para dar suporte ao profissional prescritor.

A Fitoterapia na Nutrição e na Atividade Física

A prática de atividade física promove alteração metabólica, gerando


inflamação e estresse oxidativo, que podem acabar por levar a um comprometimento
imune, com comprometimento da saúde do atleta, em especial em exercícios de
longa duração e de resistência.

Nesse sentido, alguns fitoterápicos contribuem para o melhor desempenho


esportivo, aumentando força e resistência, além de atuar como adaptógeno, ou
seja, dando condições ao organismo de responder a situação estressora.

Os fitoterápicos também podem atuar como importantes anti-


inflamatórios, antioxidantes, e auxiliar na recuperação pós-exercício combatendo
a dor, na melhora do sistema imune e como coadjuvante no tratamento de lesões
musculares.

Na Nutrição Esportiva, ênfase é dada aos fitoterápicos que modulam


dor e inflamação, principalmente pós-atividade ou recuperação de lesão, como
a Boswellia serrata; plantas medicinais de ação antioxidante e depurativa, como
a Curcuma longa; agentes com alegação de aumento de testosterona livre, como
o Tribulus terrestris e o Trigonella foenum-graecum; além de agentes adaptógenos
como o Panax ginseg, a Rodiola rosea e a Mucuna pruriens.

198
TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS

Lembrando que a competência para a prescrição de fitoterápicos e de


preparações magistrais é atribuída exclusivamente ao nutricionista portador de
título de especialista da ASBRAN.

Avanços em Nutrição Esportiva: a prescrição de fitoterápicos

Um dos fitoterápicos de interesse na Nutrição Esportiva atualmente,


embora pouco conhecido, é a Mucuna (Mucuna pruriens), também conhecida
como feijão de Velvet. Em 2011, Alleman e colaboradores, conduziram estudo
pré-clínico com 15 atletas do sexo masculino, voluntários saudáveis. O objetivo
dos pesquisadores era verificar se a ingestão isolada de extrato de Mucuna
promoveria aumento na secreção de hormônio do crescimento (GH) nesses
atletas. Os resultados foram muito animadores.

Em seu estudo, Alleman et al. observaram que a ingestão aguda resultou


em aumento da GH circulante em até 120 minutos após a ingestão. Sabe-se que o
hormônio do crescimento tem demonstrado efeitos lipolíticos diretos e indiretos,
tais como o favorecimento da mobilização de ácidos graxos livres no tecido
adiposo para geração de energia, o aumento na sensibilidade às catecolaminas, a
estimulação na liberação de outros hormônios, tais como os da tireoide ou, ainda
diminuindo a ação antilipolítica da insulina. Esses efeitos poderiam aumentar a
capacidade de oxidação de gordura, bem como o gasto energético.

Partindo deste mesmo princípio, com o objetivo de examinar se a inges-


tão de uma formulação ortomolecular e fitoterápica à base de Mucuna no pré-
-treino, Jung e colaboradores (2017) avaliaram 80 atletas de resistência, ao longo
de oito semanas.

Neste estudo, foram administrados 150 mg de extrato seco padronizado


a 15% de Mucuna pruriens por oito semanas. Os resultados sugerem que nas
primeiras quatro semanas de suplementação, os atletas melhoraram índices de
função cognitiva e desempenho durante o treinamento de resistência sem efeitos
colaterais significativos, demonstrando efeitos agudos de adaptação à atividade.
Ao final da oitava semana, não houve mudanças significativas nos desfechos,
sugerindo a ação da Mucuna como adaptógeno de curto prazo!

FONTE: <https://nutmed.com.br/blog/novidades/noticia-180>. Acesso em: 9 jul. 2021.

199
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A fitoterapia é uma ciência que utiliza de espécies vegetais, conhecidas por


plantas medicinais, para prevenção e tratamento de diferentes doenças.

• São diversas as maneiras descritas para utilizar as plantas medicinais, sendo


as mais usadas os chás, extratos líquidos, temperos, óleos e extratos secos
que podem ser encapsulados ou adicionados a sucos ou qualquer outra
preparação culinária.

• Cada planta tem uma finalidade específica e que, apesar de terem algumas
propriedades conhecidas a muito tempo, é sempre bom checar outras
características, as quais podem até prejudicar o paciente, uma vez que os
princípios ativos apresentam toxicidade variável

• A primeira aplicação prática recomendada das plantas medicinais é a respeito


do processo digestório do esportista.

• Nenhum tratamento fitoterápico, apesar de natural, é isento de riscos. As


interações dos fitoterápicos com suplementos, medicamentos e mesmo com
outras plantas medicinais deve ser conhecida.

• O efeito do exercício no trato gastrointestinal depende principalmente da


intensidade e da duração do exercício, exercícios de intensidade moderada
tem efeito protetor, exercício extenuantes e agudos podem causar problemas
gastrointestinais.

200
• Existem duas causas principais para o aparecimento dos problemas gastroin-
testinais durante o exercício: fatores mecânicos e isquêmicos.

• Evidências recentes têm mostrado que o treinamento do intestino com ele-


vadas quantidades de carboidrato durante o período de treinamento pode
diminuir os problemas gastrointestinais durante as competições.

CHAMADA

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201
AUTOATIVIDADE

1 É recomendado que, para evitar a ocorrência de distúrbios gastrointesti-


nais, sejam testados o alimento e a bebida durante o treinamento antes de
realizar as intervenções na competição, além disso, tem-se recomendações
práticas gerais para evitar tais distúrbios, quais são elas?

2 Dentre todas as possibilidades de aplicar a fitoterapia no mundo dos


esportes, a primeira aplicação prática recomendada é a respeito do processo
digestório do esportista. Considerando-se que maus hábitos alimentares,
medicamentos, suplementos, estresse físico e/ou mental produzam e
armazenam toxinas no organismo, o princípio para essa indicação é a
desintoxicação, sendo usadas para esse fim as plantas com ação quelante
de toxinas metabólitos e/ou gorduras, além de papel antioxidante e
hepatoprotetor. Assinale, a seguir, a espécie vegetal que possui ação
digestiva/desintoxicante:

a) ( ) Mulungu.
b) ( ) Tribulus terrestres.
c) ( ) Hortelã.
d) ( ) Chia.

3 Dentre as plantas medicinais citadas para melhora no processo digestório,


tem-se o ________________, tônico e diaforético, ou seja, favorece a
transpiração. Um de seus flavonoides é o diosmin, que diminui a fragilidade
capilar e aumenta a irrigação periférica, favorecendo a oxigenação dos
tecidos. Aumenta a secreção biliar, reduz a formação de gases e quela a
gordura. Além de hepatoprotetor, é um potente anti-inflamatório. Qual é a
planta que corresponde as informações supracitadas?

a) ( ) Alecrim.
b) ( ) Alho.
c) ( ) Gengibre.
d) ( ) Chá verde.

4 Tenho importante papel na desobstrução das vias aéreas respiratórias


superiores, sendo ótimo aliado na otimização da capacidade de oxigenação.
Além disso, aumento o metabolismo basal e a produção de células T do
sistema imune. Meu uso recomendado é diário em chás (rizoma) e em pó
adicionado a água de coco. Quem sou eu e como ajo no organismo?

202
a) ( ) Sou o gengibre e atuo inibindo a produção de prostaglandinas,
reduzindo as dores. Estimulo a digestão, aumentando a secreção dos
sucos gástricos e hepáticos.
b) ( ) Sou o Tribullus terrestris e atuo inibindo a produção de prostaglandinas,
reduzindo as dores. Estimulo a digestão, aumentando a secreção dos
sucos gástricos e hepáticos.
c) ( ) Sou o gengibre e atuo inibindo a produção de leucotrienos, reduzindo
as dores. Estimulo a absorção de nutrientes, aumentando a secreção
dos sucos gástricos e hepáticos.
d) ( ) Sou o alho e atuo inibindo a produção de prostaglandinas, reduzindo
as dores.
e) ( ) Sou o hortelã e atuo inibindo a produção de muco, reduzindo as
dores. Estimulo a digestão, aumentando a secreção dos sucos gástricos
e hepáticos.

5 Considerando que a fitoterapia é uma ciência que utiliza espécies vegetais


conhecidas por plantas medicinais para prevenção e tratamento de
diferentes doenças. Descreva sua importância na história e as variáveis que
a envolvem na atualidade, incluindo sua utilização na prática esportiva.

203
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