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PARA E PARA

VOSSOS
0 BATISMO CRISTÃO

PAULO ANGLADA
p* VOS epara
b a

vossos FILHOS
0 BATISMO CRISTÃO

PAULO ANGLADA l«
PREFÁCIO

O batismo infantil (ou pedobatismo) é considerado um a prática


estranha por boa parte dos evangélicos no contexto brasileiro, forma­
do prindpalmente por igrejas batistas e pentecostais (credobatistas).
Para esses irmãos, a ordenança do batismo precisa ser acompanhada
de profissão de fé - o que as crianças pequenas obviamente não são
capazes de fazer. Além disso, no Brasil, a igreja conhecida por batizar
crianças é a Igreja de Roma, a qual realiza o rito de maneira indiscri­
minada, batizando qualquer criança.
Nessa situação, é importante explicar as razões que nos levam
(igrejas reformadas) a receber como membros da Igreja, através do
batismo, os filhos menores das famílias da aliança. É verdade, observa
John Murray, que "pensar a revelação da Escritura organicamente é
muito mais difícil do que pensar atomisticamente”.10 argumento em
defesa do batismo infantil não se baseia no ensino direto de textos bí­
blicos avulsos. Ele "se fundamenta no reconhecimento de que a ação
redentiva e revelacional de Deus neste m undo é pactuai”.12 Nem por
isso, entretanto, as bases para o batismo infantil por aspersão ou ablu-
ção são mais fracas ou menos bíblicas do que os argumentos opostos.

1 John Murray, Christian Baptism (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed,


1980), ii.
6 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

Muito pelo contrário. Elas são fortes, profundas, abrangentes e con­


sistentes. Elas refletem “um conceito chave no Novo Testamento”:
Todo o povo de D eus (judeu ou gentio - passado o u presente) é abençoado
de acordo com a aliança (isto é, a promessa de bênção) que D eus fez com
Abraão.3

Conforme explica o apóstolo Paulo:


Os dajè é que sãofilhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que D eus
justificaria pela fé os gentios, preanundou o evangelho a Abraão: Em ti,
serão abençoados todos os povos. De modo que os d ajè são abençoados com
o crente Abraão... Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar... para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios, emJesus Cristo.4

Meu objetivo, portanto, ao publicar este pequeno livro, é escla­


recer os leitores quanto ao conceito e prática reformada relacionados
ao significado, simbolismo e forma do batismo; e, principalmente,
explicar as razões pelas quais praticamos o batismo infantil. A obra
não tem nenhum a pretensão acadêmica. Não pretendi ser exaustivo
ou realizar um a pesquisa histórica, exegética ou teológica profunda,
para acadêmicos, teólogos ou especialistas.
Também não desejo, com esta pequena obra, provocar polê­
mica, menosprezar ou ofender aqueles que pensam de maneira di­
ferente. Durante quase vinte anos tive o privilégio de ensinar várias
disciplinas em um seminário batista, e de comungar,-respeitar e amar
irmãos de várias denominações batistas e pentecostais que ali estuda­
ram ou ensinaram ao longo desses anos. Amo-os sinceramente em
Cristo, para tencionar de maneira alguma ofendê-los ou feri-los.
Minha motivação é puram ente pastoral. Meu desejo sincero ao
produzir esse material, foi, primeiramente, esclarecer os membros
da minha própria igreja com relação às razões das nossas práticas

3 Bryan Chapell, Wfty Do We Baptize Infants? Basics o f the Faith (Phiilipsburg, NJ:
Puritan and Refòrmed, 2006), 7 (ênfase do autor).
4 Gálatas 3:7-9 (ênfase minha).
PREFÁCIO 7

acerca do batismo e das questões controvertidas associadas a esse


sacramento. Este estudo foi realizado inicialmente no contexto do
m eu ministério como pastor da Igreja Presbiteriana Central do Pará,
para instrução da igreja e principalmente dos pais, por ocasião da
realização de batismos infantis.
Ele foi posteriormente publicado, em um a forma mais resumi­
da, há quatorze anos atrás, em um a obra coletiva, juntam ente com
artigos de John Sartelle, John Evans e Joseph Pipa.5
Na presente forma, esses estudos apresentam-se desenvolvidos
com a inclusão de novas seções e conteúdos, enriquecidos com novas
pesquisas bíblicas, e aprofundados com citações e referências a obras
clássicas e contemporâneas significativas sobre o tema.
Expresso os meus agradecimentos a todos quantos, direta ou
indiretamente, contribuíram para a preparação e publicação desta
obra: aos meus pais, Hélio e Beatriz (em memória); aos meus filhos,
Karis Beatriz, Paulus Roberto e Anna Layse; e, espedalmente, à mi­
nha esposa, Layse. Agradeço também aos membros da Igreja Pres­
biteriana Central do Pará e ao irmão em Cristo Josias Baía e família,
pela importante contribuição para a publicação deste livro. Sou grato
principalmente a Deus, pela graciosa salvação, vocação e providência
em Cristo Jesus.
Espero que o Supremo Pastor condescenda em fazer uso dessa
pequena obra para esclarecimento de dúvidas dos leitores acerca do
significado e práticas relacionadas ao batismo cristão, com vistas à
edificação da sua Igreja.
Charlotte, NC, 26 de maio de 2014
Paulo R. B. Anglada

5 Paulo Anglada, "Batismo: A Circuncisão Cristã”, em O Batismo Infantil: O Que os


Pais Deveríam Saber Acerca deste Sacramento (São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000),
37-52.
ÍNDICE

P refácio ........................................................................................................5

In trodução ............................................................................................... l l

1 S ignificado do Batismo C ristão ........................................................ 13


Atestado de Salvação?................................................................................ 14

M eio de Salvação?........................................................................................ 15

Essencial à Salvação?.................................................................................... 16

Continuação da C ircuncisão.......................................................................17

Sinal e Selo do Pacto da Graça.................................................................... 19

Representa União com Cristo


e Todos os Benefícios D ecorrentes............................................................ 2 2

2 O B atismo e as C rianças da A fiança ...............................................25


N o Antigo T esta m en to .............................................................................. 25

N o N ovo T estam ento................................................................................. 2 7

3 O bjeções C ontra o Batismo I nfantil............................................... 33


N ão Existe M andamento
Bíblico Explícito para Batizar Crianças.......................................................33

N ão Existem Exemplos Claros de


Batismo Infantil no N ovo Testam ento.......................................................35

Jesus Só foi Batizado aos Trinta Anos de Idade......................................... 3 5


10 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

As Crianças N ão Preenchem as
Condições Necessárias: Arrependimento e F é ........................................3 6

Dedicar ou Apresentar Crianças


N ão é mais Bíblico do que Batizá-las?...................................................... 38

N ão é um a Incoerência Batizar Crianças


e N ão Permitir que Participem da C eia?..................................................3 8

Q ue Benefícios o Batismo Infantil Pode Proporcionar?.........................3 9

4 B enefícios d o B atismo I nfantil ..........................................................41

Para a Igreja..................................................................................................4 2

Para os Pais................................................................................................... 43

Para as Crianças........................................................................................... 45

C onclusão.................................................................................................... 4 6

5 S imbolismo e M o d o d o B atism o .........................................................4 9

A Prática Batista e Pentecostal....................................................................4 9

A Prática Reformada e Protestante............................................................ 5 0

C o n c l u s ã o .................................................................................................59

B ibliografia , 61
INTRODUÇÃO1

O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordena­


dos por Jesus para serem observados na dispensação da graça. Na
concepção reformada:

Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente


instituídos por D eus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar
o nosso interesse nele, bem com o para fazer uma diferença visível
entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenem ente
comprometê-los no serviço de D eus em Cristo, segundo a sua Palavra.2

A ceia do Senhor foi instituída por ocasião da ultima participa­


ção de Cristo na páscoa (M t 26:26-30).’ O batismo cristão foi ordena­
do na grande comissão, em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16.
Existem algumas questões controvertidas relacionadas ao ba­
tismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e
ao modo do batismo. Algumas denominações evangélicas batistas e
pentecostais, as quais constituem a maioria em nosso contexto, não
batizam crianças e reconhecem unicamente o batismo por imersão.
Entretanto, o batismo infantil representa a prática Cristã histórica. As
outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada,*1

' Ler Gn 17:1-14; Cl 2:8-12; Mt 28:18-20; e Tt 3:4-7.


1 “Confissão de Fé de Westminster”, em Símbolos de Fé: Confissão dc Fé de Wcstminstcr,
Catecismo Maior; Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 27:1.
1 Conferir também Mc 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Co 11:23-26.
12 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

anglicana, presbiteriana, metodista, etc.) batizam crianças e reco­


nhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão),
dando preferência ao segundo.
Em virtude dessas controvérsias e da prática católico-romana de
batizar indiscriminadamente qualquer criança, é importante esclare­
cermos porque batizamos filhos menores de crentes professos, e pra­
ticamos batismo por aspersão ou ablução. Esta obra pretende explicar,
resumidamente, a razão das nossas práticas concernente ao batismo,
especialmente no que se refere a essas questões controvertidas.
O livro contém cinco capítulos. O capítulo primeiro aborda o
tema do significado do batismo cristão: como ele deve ser compre­
endido, na ótica reformada. O capítulo segundo lida com a questão
do batismo infantil: o lugar dos filhos da aliança no Antigo e no Novo
Testamento. O capítulo terceiro apresenta respostas reformadas às
principais objeções levantadas contra o batismo infantil. O capítulo
quarto indica os benefícios e as implicações do batismo infantil para
a igreja, para os pais e para as crianças. O capítulo cinco discute a
questão do simbolismo e do m odo do batismo, sustentando que os
batismos por aspersão e ablução são tão legítimos quanto o batismo
por imersão.
Que o Senhor da Igreja, o próprio conteúdo do batismo cristão,
faça uso deste pequeno livro para a instrução e a edificação do povo
da aliança.
Capítulo 1

SIGNIFICADO
DO BATISMO CRISTÃO

Do ponto de vista reformado, o equívoco básico daqueles que


não batizam crianças e que exigem o método da imersão reside na
compreensão inadequada da continuidade da revelação da história
da redenção. A progressividade da revelação da obra da salvação, pla­
nejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade
e unidade,1 como cumprimento das promessas da aliança.12 “Existe
um a unidade fundamental da aliança da graça à medida que ela se
desdobra progressivamente por toda a Escritura, de Gênesis 3:15
até o seu clímax, com a vinda de Cristo na ‘plenitude do tem po’ (G1
4:4)”.3 Sinclair Ferguson resume bem a unidade histórica da Igreja,
como segue:
A igreja é organicamente um a em toda a história da revelação redentiva.
Ela consiste de todos os que são abraçados pela aliança de Deus. A graça de
D eus é uma; a fundação da salvação é uma, administrada diferentemente

1 Cf. Jr 31:31-34; Os 1:10-11; Am 9:11-15; Rm 2:28-29; 9:6-8; e G13:7;


2 Cf. Lc 1:54-55, 68-70,72-73; At 2:14-40; 13:32-33; e G13:13-14.
3 Daniel R. Hyde, Jesus Laves the Little Cbildren: Wky We Baptizc Chihhiv K à .iiulvillr.
MI: Reformed Fellowship, 2006), 30.
14 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

nas épocas de promessa e cumprimento; o instrumento da justificação é


um, ou seja, fé salvadora; há u m único Israel de Deus.4

O Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões


diferentes. A Igreja Cristã não é outra igreja. A igreja de Deus no
Antigo e no Novo Testamento pode ser comparada a um a lagarta e
um a borboleta. Elas são consideravelmente diferentes quanto à for­
ma, mas a mesma na essência.5 Tanto é assim, que as palavras igreja/
congregação6 e Israel são aplicadas tanto ao povo de Deus no Antigo
Testamento, como ao povo de Deus, no Novo.7
O apóstolo Paulo explica claramente que a igreja Cristã não é
um a nova árvore, e sim apenas um galho enxertado na mesma árvo­
re, cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o “pai de todos os crentes” (Rm
4:11). Abraão é o pai tanto de circuncisos, como de incircuncisos,
“que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de
ser circuncidado” (Rm 4:11-12). Ele foi um pecador salvo pela graça
de Deus, mediante a fé nas suas promessas, assim como todo crente
genuíno, em todas as épocas.
O que representa o batismo, no entendimento reformado? Ve­
jamos, primeiramente, o que o batismo não é, para, depois, conside­
rarm os o que ele é.

ATESTADO DE SALVAÇÃO?
Primeiramente, é preciso ressaltar que o batismo não é neces­
sariamente um atestado de salvação, um sinal visível de que a pessoa
está incondicionalmente salva. Não se trata de um rito de admissão
pública na igreja invisível, mas na igreja visível - e esta inclui salvos e
não salvos. Conforme argumenta o apóstolo Paulo:

4 Sinclair B. Ferguson, "Infant Baptism View”, em Baptism: Three Views, ed. David F.
Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 100-101.
5 Larry Wilson, Why Does the OPC Baptize Infantsf A Messagefrom the Orthodox Pres-
byterian Church (Willow Grove, PA: The Committee on Christian Education o f the
Orthodox Presbyterian Church, 2007), 3.
6 Tradução do termo grego èKK\r)oía, correspondente ao hebraico: bnp,
7 ( :f. 1 Ib 2:12 (citando o Sl 22:22); At 7:38 e G16:16.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO D

N em todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes


de Abraão, são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua
descendência. Isto é, estes filhos de D eus não são propriamente os da
carne, mas devem ser considerados com o descendência os filhos da
promessa (Rm 9:6-8).

Existem vários exemplos de membros professos na igreja no


Antigo e no Novo Testamento, os quais foram circuncidados ou ba­
tizados, mas nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito
Santo. Auxiliares diretos do apóstolo Paulo, como Demas, abando­
naram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Tais
pessoas são ‘ mcircuncisas de coração” (Jr 9:26; At 7:51). Elas trazem
o sinal da circuncisão ou do batismo, mas não a realidade que eles
representam.89
Referindo-se a essa classe de pessoas, o apóstolo João explica
que "eles saíram do nosso meio [isto é, da igreja visível], porque não
eram dos nossos [membros da igreja invisível]; porque se tivessem
sido dos nossos [da igreja invisível], teriam permanecido conosco [na
igreja visível]; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que
nenhum deles é dos nossos [da igreja invisível]” (1 Jo 2:19).
Parece desnecessário demonstrar o que a História da Igreja e a
experiência tornam evidente: o batismo não atesta, necessariamente,
a salvação daqueles que o recebem.

MEIO DE SALVAÇÃO?
O batismo tam bém não é um instrumento de salvação. O único
meio de salvação, segundo Bíblia, é a graça de Deus, mediante o arre­
pendimento e a fé, operados exclusivamente por meio da Palavra de
Deus lida ou pregada. O batismo não tem poder divino inerente. Em
si mesmo, ele não pode regenerar ninguém. Essa doutrina, da regene­
ração batismal, parece ter sido sustentada por vários Pais da Igreja,''

8 Cf. Mt 7:22-23.
9 Tais como Irineu, Cirilo de Alexandria, Tertuliano, Gregóriode Nazi.mzo. rime
outros. Cf. William A. BeVier, “Water Baptism in the First Five Ccnmries. I\ni II
Modes o f Water Baptism in the Ancient Church”, Bibliotheat Siunt 11 e> lf. l < i‘ivh
230-32.
16 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

e é ensinada pela Igreja Católico-Romana. Para a Igreja de Roma,


o batismo confere o mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo,
purificando da corrupção interna, garantindo remissão da culpa do
pecado e a infusão da graça santificadora, unindo o batizado com
Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus.101Na teologia católico-romana,
a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante,
nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.
Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si
mesmo. Ele não opera um a nova vida. Ele a pressupõe e fortalece,
mas não a opera nem garante, como declara a Confissão de Fé de
Westminster:
Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança,
contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas
a ela, que sem ela um a pessoa não possa ser regenerada e salva, ou que
sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados."

É preciso ressaltar, como faz Pierre Marcei, que, à luz das Es­
crituras:
A Palavra ouvida e crida, antes e depois do batismo, contém todos os dons,
os quais são plenamente alcançados mediante a fé. N ão existe um só dom
que não possa ser comunicado pela Palavra, e sim pelo sacramento.12

ESSENCIAL A SALVAÇÃO?
A Igreja Católica considera que o batismo é necessário para a
salvação. Nós, protestantes, não pensamos assim. O batismo é obri­
gatório, por obediência aos preceitos de Deus - e a nossa desobediên­
cia a esse preceito naturalmente resulta em empobrecimento espiri­
tual, como acontece com a desobediência a outros preceitos bíblicos.
Entretanto, essa concepção do batismo como essencial à salvação é
contrária ao caráter espiritual do evangelho, que não condiciona a

10 Newman, Lectures on Justificoticm, 257. Citado em Alexander Hodge, Ouüines of


Theology (Edinburgh: Banner o f Truth, 1972), 625.
11 Capítulo XXVIII, parágrafo V
12 Pierre Charles Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada (Rijswijk: Funda-
cion Editorial de Literatura Reformada, 1968).
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 17

salvação a formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz


é evidência incontestável desse fato. Jesus afirmou que naquele mes­
mo dia ele estaria consigo no paraíso, apesar de não haver recebido o
sacramento do batismo.
Do ponto de vista protestante, considerar o batismo como in­
dispensável à salvação significa atribuir a essa ordenação bíblica um
caráter supersticioso, incompatível com o evangelho de Cristo.

CONTINUAÇÃO DA CIRCUNCISÃO
Se o batismo não é um atestado de salvação, um meio de salva­
ção, nem é essencial à salvação, o que é ele, então? É a continuação
da circuncisão. É a versão evangélica da circuncisão; o correspondente
neotestamentário do sacramento vétero-testamentário da circuncisão.
Os dois sacramentos do Antigo Testamento, a páscoa e a cir­
cuncisão, não foram abolidos, e, sim, substituídos. A páscoa, o sacra­
mento comemorativo da igreja visível, foi transformada por Jesus na
santa-ceia, a ceia da nova aliança, quando ele participou da páscoa
pela última vez (M t 26:26-30). A circuncisão, o sacramento de admis­
são na igreja visível, foi transformada no batismo cristão, visto que
não mais haveria necessidade de derramam ento de sangue, um a vez
que o Cordeiro Pascal estava prestes a ser imolado.
Colossenses 2:11-12 “relaciona daram ente a circuncisão com o
batismo, e ensina que a circundsão de Cristo, isto é, a do coração,
representada pela circuncisão da carne, é cumprida pelo batismo, ou
seja, pelo que este significa”.13 Nessa im portante passagem bíblica,
“enfatizando a continuidade da aliança, assim com o a natureza
da m udança do sinal que a acom panha”,14 o batismo cristão é
chamado explidtam ente de “circundsão de Cristo”, isto é, a cir­
cuncisão cristã:15

13 Ibid., 159.
14 Chapell, WhyDo We Haplize tnfanlsí, 14.
15 Trata-se de um uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), com função adjeti­
va, como nos seguintes exemplos: tò CTüjpa TÍjç àpapT Íaç, o corpo do pecado, isto é,
pecaminoso (Rm 6:6); êv t ü atópan Tfjç crapicós, no corpo da carne, isto é, carnal (Cl
1:22); TÒ (MuTKTpa ’ lom vou, o batismo deJoão, isto éjoanino (Mt 21:25).
18 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no


despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido
sepultados, juntamente com ele, no batismo, n o qual igualmente fostes
ressuscitados mediante a fé n o poder de D eus que o ressuscitou dentre
os mortos.

O argumento do apóstolo Paulo é evidente: nós, cristãos, tam ­


bém fomos drcunddados, não com o corte do prepúcio, mas com
o batismo cristão, o qual, por ter o mesmo significado e substituir a
circuncisão judaica na nova aliança, pode ser referido como circunci­
são cristã. Conforme explica Ferguson:
A preocupação de Paulo, em Colossenses 2:11 -15, é ressaltar a importância
da obra de Cristo, a qual simultaneamente cumpre o significado da
circuncisão e fundamenta o significado do batismo. N esse sentido, os dois
sinais, cada um dentro da sua própria aliança, apontam para um a m esm a
realidade.16

Marcei destaca a correspondência entre a drcundsão e o batis­


mo, como segue:
A promessa, que é o fundamento da circuncisão, é igualmente do batismo;
o representado é o mesmo; a causa, que é o amor de Deus, é a mesma; o
conteúdo, Jesus Cristo, é o mesmo; a razão e o motivo pelos quais nos foi
dado o sinal são os mesmos... o uso e eficácia são idênticos, assim com o
as condições de admissão. Eles só diferem com relação à natureza do sinal
externo: depois de Jesus Cristo, um sacramento não podia mais ser um
sacrifício sangrento.17

É importante reconhecer, com relação à circuncisão, conforme


ressalta Murray, que:
A sua significação primária e essencial era que ela era sinal e selo das mais
elevadas e ricas bênçãos espirituais que D eus dispensa aos homens... A

16 Sinclair B. Ferguson, “Infant Baptism Response”, em Baptism: Three Views, ed. Da-
vid F. Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 58.
17 Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada, 158 (ênfases do autor). Quanto
à diferença relacionada às mulheres, Marcei escreve: "visto que esse sinal do Senhor
[a circuncisão] demonstrava a santificação da semente de Israel, é certo que o mesmo
servia tanto para os varões como para as mulheres; sem dúvida, não era aplicado às
mulheres, porque a sua natureza não permitia” (ibid, 161; ênfase do autor).
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 19

aliança feita com Abraão é, nos termos em que ele recebeu a promessa,
que nele seriam abençoadas as famílias da terra. É nos term os dessa
aliança que ele é o pai de todos os fiéis. E essa aliança que é desdobrada no
Novo Testamento e é nos term os dessa aliança que a bênção de Abraão
vem aos gentios.18

Subsidiariamente, a circuncisão indica um a identidade nacio­


nal e implica em bênçãos materiais. Contudo, nem a aliança, nem
o seu selo, a circuncisão, devem ser limitados a essa identidade
nacional. A natureza espiritual (mais ampla e profunda) da aliança
com Abraão e do seu sinal e selo, é indicada nas palavras da própria
aliança: “Serei o seu Deus, e eles serão o m eu povo” (cf. Jr 31:33; Gn
17:7; Êx 19:5-6; D t 7:6).1920

SINAL E SELO DO PACTO DA GRAÇA


Visto que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica,
ele representa, para a igreja visível no Novo Testamento, o mesmo
que a circuncisão representava para a igreja visível no Antigo Testa­
mento: o sinal visível e o selo21’ da aliança que Deus fez com Abraão,
o “pai de todos os crentes”.21 Esse é o papel da circuncisão, con­
form e as palavras do próprio Senhor a Abraão, por ocasião da
instituição dessa ordenança, em Gênesis 17:1-13:
Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o
SENHOR e disse-lhe: Eu sou o D eus Todo-Poderoso; anda na minha
presença e sê perfeito. Farei um a aliança entre m im e ti e te multiplicarei
extraordinariamente... será contigo a minha aliança;serás pai de numerosas

18 Murray, Christian Baptism, 46.


19 Ibid., 47. Com relação ao significado espiritual da circuncisão, ver D t 30:6; Jr 4:4;
R m 4:ll; eFp3:3.
20 Cf. Rm 4:10. Assim como uma aliança de casamento simboliza e sela o pacto de
companheirismo e fidelidade entre um homem e uma mulher que se unem por
amor; ou a autenticação de um documento em cartório.
21 A aliança com Abraão é uma administração histórica do pacto etem o da redenção,
entre as três pessoas da Trindade, com vistas à salvação dos eleitos de Deus, por meio
da obra redentora de Cristo e operação do Espírito Santo. Mais sobre o pacto da
redenção em Paulo Anglada, Imago Dei: Antropologia Reformada (Ananindeua: Knox
Publicações, 2013). 135-96.
20 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

nações... estabelecerei a minha aliança entre m im e ti e a tua descendência


no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu D eus e da
tua descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança,
tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne
do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim evós.O que tem oito
dias será drcuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o
escravo nascido em casa com o o comprado a qualquer estrangeiro, que
não for da tua estirpe. C om efeito, será drcuncidado o nascido em tua
casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne
e será aliança perpétua (ênfase minha).

A circuncisão dos israelitas e dos prosélitos do judaísmo era,


portanto, um sinal externo de confirmação do pacto de Deus com
Abraão, segundo o qual ele (Abraão) e seus descendentes constitui­
ríam a igreja visível de Deus na terra - e não m eramente símbolo da
fé dos beneficiários. “Como todos os sinais de aliança, a circuncisão
significava a atividade e graça divinas, às quais os recipientes eram
chamados a responder com fé (cf. Gn 17:11). Ela não significava a
própria fé”.22 Por conseguinte:
O pacto da graça é o fundamento do batismo.

Quando buscamos o fundamento do batismo, não basta dizer que o


encontramos em Cristo. Ele é o conteúdo do batismo, e com o tal, seu
lugar é eminente. Mas o verdadeiro fundamento dessa ordenança deve
buscar-se na profundidade do decreto de D eus pelo qual Cristo nos foi
dado, graças ao qual o Eterno veio a ser “D eus conosco”, e nos é revelado
n o pacto da graça.23

Como resume Samuel Miller: a "circuncisão era um sinal de


visível membresia na família de Deus, e da obrigação pactuai para
com Ele”.24 O batism o cristão, assim com o a circuncisão judaica,

22 Ferguson, "Infant Baptism Response”, 55.


23 Marcei, EI Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada, 154 (ênfases do autor). Ver ex­
planação completa de Marcei sobre o pacto da graça como fundamento do batismo,
nas páginas 154-58.
24 Samuel Miller, Infant Baptism: Scriptural and Reasonable and Baptism by Sprinkling
orEffitsion: theMost Suitable and EdifyingMode (Philadelphia: Joseph Whethan, 1835;
reimpressão, Dahlonega, GA: Crown Rights Book Company, 2008), 23.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 21

é, por conseguinte, o sinal externo solene de admissão na igreja visí­


vel, distinguindo o povo da aliança das demais pessoas. C onform e
explica a Confissão de Fé de W estminster, tanto o batismo, com o
a ceia do Senhor (os sacramentos):
São santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por
D eus para representar Cristo e os seus benefícios, e confirmar o nosso
interesse nele, bem com o para fazer uma diferença visível entre os que
pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenem ente obrigá-los ao
serviço de D eus em Cristo, segundo a sua Palavra.25

O sinal da circuncisão não implicava necessariamente em que


todos os de Israel, a igreja visível no Antigo Testamento, fossem ou
seriam verdadeiros israelitas (isto é, membros da igreja invisível), ou
seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salva­
dora. Para isso, eles precisavam se arrepender dos seus pecados c
crer nas promessas da aliança, principalmente na obra messiânica
da redenção (a aliança é condicional).26 A circuncisão tam bém não
implicava em que os gentios não pudessem se tornar m em bros
da aliança - eles tam bém poderiam ser admitidos na igreja visível
e receber o seu sinal e selo. O sinal da circuncisão implicava, sim,
em que os judeus e gentios circuncidados (prosélitos do judaís
m o) seriam considerados povo de Deus, objeto do seu cuidado
peculiar e da sua bênção, possuidores da sua revelação especial, e
instrum entos da sua graça para todos os povos.
Os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de
privilégios especiais, tais como "a adoção, e também a glória, as

25 Capítulo XXVII, parágrafo I.


26 Quanto ao aspecto negativo da circuncisão e do batismo, como consequência da
desobediência obstinada aos termos da aliança, ver Hyde, Jesus Loves the Littk Chil-
dren, 15-16 e 22-25. Hyde ressalta que "o batismo [assim como a circuncisão] também
é um sinal de maldição... Para aqueles que crêem no que o batismo significa, ele é
um sinal e selo das suas bênçãos em Cristo, mas para aqueles que rejeitam o que o
batismo significa, é um sinal e selo do julgamento deles como violadores da aliança”
(Ibid., 22). Na mesma linha, Ferguson escreve: ''Reversamente, quando se depara
com obstinada incredulidade, esses sinais [batismo e ceia do Senhor] confirmarão o
julgamento que eles implicam (cf. 1 Co 11:27-32; cf. Hb 3:7; 47)'' (“Infant Baptism
View”, 93; ver também pp. 96-100).
22 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas


e tam bém deles descende o Cristo, segundo a carne...” (Rm 9:3-4).
Após demonstrar a culpabilidade universal de gentios e judeus o
apóstolo Paulo pergunta: "Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou
qual a utilidade da circuncisão?” Ele mesmo responde: “Muita, sob
todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confia­
dos os oráculos de Deus” (Rm 3:1-2).
À luz do que foi dito até aqui, podemos chegar à seguinte con­
clusão: o batismo, assim como a circuncisão, é o rito público ouforma externa
determinada por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja
visível, como beneficiárias do pacto eterno da graça e objeto do seu cuidado
especial, com vistas à promoção do reino e da glória de Deus no mundo.

REPRESENTA UNIÃO COM CRISTO


E TODOS OS BENEFÍCIOS DECORRENTES
Passagens bíblicas como Romanos 6:3-6; 1 Coríntios 12:13;
Gálatas 3:27-28; e Colossenses 2:11-12, indicam que o batismo repre­
senta a união mística do crente com Cristo, e todas as bênçãos da
aliança, realizadas pela operação do Espírito, mediante a fé salvadora
na sua obra redentora. Afinal, todas as promessas da aliança têm
cumprimento nele (2 Co 1:20). Conforme explica Marcei:
Quando alguém recebe o evangelho com fé verdadeira, recebe os
benefícios que o m esm o promete; quando recebe o batismo com fé,
recebe as bênçãos de que este é sinal e selo. Para quem o recebe - exceto se
não for sincero - o batismo é um ato de fé, pelo qual e n o qual se apropria
das bênçãos da redenção de Cristo que lhe são oferecidas.27

As próprias palavras da instituição do batismo, em Mateus 28:19,


apontam para essa realidade: “Fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em [ou para]28 nome do Pai, e do Filho, e do Espírito San­
to”. Com base nessa e em outras passagens bíblicas, Ferguson chama
atenção para a amplitude do significado do batismo, como segue:

27 Marcei, El Baulismo: Sacram ento dei Pacto de G rada, 166.


28 Tradução da preposição grega eiç, para, em direção à, p ara dentro de.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 23

N o batismo, o nom e do Senhor nos é dado (M t 28:18-20). Batismo é uma


cerimônia nominativa. Nesse sentido, batismo em nom e do Pai, do Filho
e do Espírito Santo consuma a bênção triúna da aliança da época mosaica
(N m 6:22-26). N osso grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, anuncia as
bênçãos. Somos batizados para o seu nom e, com vistas aos seus recursos
salvíficos, suas posses, autoridade e comunhão. Batismo, portanto, aponta
primariamente para Cristo, de quem as multifacetárias bênçãos da redenção,
justificação e santificação são recebidas pela união de fé (1 Co 1:30).29

O batismo significa tudo o que está em Cristo para nós; ele aponta para
tudo o que ele fará por nós e tudo o que nos tom arem os nele.30

O batismo simboliza, portanto, justificação, redenção, regenera­


ção, purificação dos pecados, e todas as bênçãos decorrentes da nossa
união com Cristo,31 sendo união e purificação os seus simbolismos
proeminentes.
Murray também explica o significado básico do batismo:
Batismo significa união com Cristo em virtude da sua morte e do poder
da sua ressurreição, purificação da contaminação do pecado pela graça
renovadora do Espírito Santo, e purificação da culpa do pecado pela
aspersão do sangue de Cristo.32

Ser "batizado em Cristo” é ser unido a ele nos laços dessa união que nos
tom a beneficiários de todas as bênçãos da redenção e nos com prom ete
com seu Senhorio.33

Por que razão Deus escolheu esses símbolos específicos: circun­


cisão e batismo, como sinais e selos do pacto da redenção? Em função
do significado purificador que eles encerram. Eles comunicam a idéia
de limpeza e purificação.34 A circuncisão e o batismo apontam para
o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo (T t 3:5; At 22:16), por

29 Ferguson, “Infant Baptism View”, 89-90.


30 Ibid., 91.
31 Cf. At 2:38; 22:16; Ef 5:26; Hb 10:22; Rm 4:11; e 1 Co 1:30.
32 Murray, Christian Baptism, 5.
33 Ibid., 29-30. Ver também Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de (Inicia.
145-52.
34 Cf. Isaías 52:1, onde apalavra drcundsão é empregada como sinônim o di- Iiiii | hv .i
24 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

meio do arrependimento e da fé salvadora em Cristo. Os símbolos


não operam, não garantem, nem são essenciais à salvação. Contudo,
eles apontam para a separação cerimonial, espiritual e moral do povo
da aliança, e para as realidades espirituais por eles significadas, asso­
ciadas à obra redentora de Cristo.35
Isso não significa, também, que a circuncisão e o batismo, sinais
de admissão na igreja visível, sejam sempre subsequentes aos benefí­
cios espirituais simbolizados. “A eficácia do batismo não se limita [ou
está atada] ao m om ento em que é administrado”.36
Por que a circuncisão foi substituída pelo batismo na nova alian­
ça? Devido ao caráter tipológico do Antigo Testamento e ao caráter
universal do Novo. O sangue derramado na circuncisão, como em
quase todas as cerimônias da antiga aliança, apontava para o sangue
purificador do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. A
água, utilizada no batismo, explica John Sartelle:
É um agente universal de limpeza. N ão seria de esperar que poeira, folhas
ou suco de frutas fossem usados para significar limpeza. Eles não são
usados para tornar limpos os nossos corpos. A água, entretanto, é usada
diariamente no mundo inteiro com o agente de limpeza.37

35 O perdão dos pecados (At 2:38), da união com Cristo (Gl 3:26-29), do revesti­
mento de Cristo (Gl 3:28), da nova vida em Cristo (Rm 6:4), da unidade cristã (1
Co 12:13), etc.
36 "Confissão de Fé de Westminster”, 28:6.
37 John P. Sartelle, What Christian Parents Should Know about Infant Baptism (Phillips-
burg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1985), 7.
Capítulo 2

O BATISMO
E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA

E com relação às crianças: elas devem ser batizadas? A resposta


a essa pergunta depende da resposta a um a questão mais ampla: qual
é a condição das crianças no pacto da graça ou da redenção? Elas
fazem parte da família da aliança?

NO ANTIGO TESTAMENTO
A questão realmente importante acerca do batismo infantil
como a circuncisão cristã, portanto, é a seguinte: as crianças foram
incluídas como beneficiárias do pacto que Deus fez com Abraão? A
resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão, as
crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias da alian­
ça, isto é, como membros da igreja visível no Antigo Testamento.
Por essa razão, elas deveríam ser circuncidadas: "o que tem oito dias
será circunddado entre vós, todo macho nas vossas gerações” (Gn
17:9-12). A circuncisão podería ter sido instituída apenas para os adul­
tos. Deus podería ter ordenado a Abraão que as crianças de Israel
l<>ssem recebidas como membros do pacto apenas quando se tornas
sem adultas e evidenciassem fé nas promessas da aliança. Entretant (>,
isso não ocorreu. As crianças tam bém foram incluídas, porque ei a
26 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

propósito de Deus que a sua aliança fosse com Abraão é com a sua
descendência, desde a mais tenra idade.'
É importante compreender que a aliança que Deus fez com
Abraão, o pacto da graça, é a implementação histórica de um a
aliança eterna, que nunca foi anulada. Essa aliança, cujo selo era a
circuncisão, e agora é o batismo, a "circuncisão de Cristo”, é ante­
rior à lei de Moisés e, portanto, continua vigorando. O pacto da lei
foi abolido, é verdade, bem como as suas leis cerimoniais - a lei de
Moisés representa um parêntesis na história da redenção. Entretan­
to, a aliança da graça com Abraão, instituída cerca de quatrocentos
anos antes da lei de Moisés, jamais foi revogada. Trata-se de um a
"aliança eterna”. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, sofreram
transformações: primeiro, havia somente a circuncisão; depois, foi
acrescentada a páscoa; posteriormente, ambas foram substituídas
pelo batismo e pela ceia do Senhor. A forma externa, portanto, dos
sacramentos da aliança mudou, porém a aliança permanece em vi­
gor (cf. Gl 3:7-9,14,29).
É esse o argumento do apóstolo Paulo em Gaiatas 3:17. De­
monstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com
Abraão, ele assevera que “um a aliança já anteriormente confirmada
por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode
ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.”
Por conseguinte, a aliança mencionada no Novo Testamento
não é outra aliança, um a aliança recentemente estabelecida, que
anulou a aliança feita com Abraão. E a mesma aliança, renovada por
Jesus, o Mediador da aliança (cf. Gl 3:27,29). A palavra traduzida por
nova, na expressão "nova aliança”, não traduz o term o grego véoç,12
e, sim, K a iv ó s, como em novos céus e nova terra - onde a palavra
certamente não denota outros céus e outra terra, mas os mesmos
céus e a mesma terra renovados.

1 Na realidade, os filhos foram incluídos não apenas na aliança com Abraão, mas
em codas as alianças no Antigo Testamento: com Adão (Gn 15:3), com Noé (Gn 9:8),
com Moisés (Dt 29:1-15), etc.
2 Novo, geralmente usada com o sentido de jovem, recente; outro.
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 27

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo


corpo. Pertencemos à “comunidade do pacto”. Somos os verdadei­
ros descendentes de Abraão: “os da fé é que são filhos de Abraão” (G1
3:7). A Igreja Cristã são os ramos que, enxertados, tornaram-se parti­
cipantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira que representa o
povo de Deus na antiga dispensação (Rm 11:17). O meio de salvação
também não mudou. Somos salvos, hoje, da mesma maneira como
foram salvos os crentes na antiga dispensação, isto é, pela graça sobe­
rana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas suas promessas,
entre as quais a principal era a vinda e a obra do Messias, o Redentor
de Israel.3 ‘A dispensação do evangelho é o desdobramento da alian­
ça com Abraão, a extensão e o alargamento da bênção comunicada
por meio dessa aliança ao povo do Antigo Testamento. Abraão é o
pai de todos os crentes”.4 A diferença é m eramente relacionada ao
tempo: “No tempo do Antigo Testamento, as pessoas eram salvas ao
confiarem na obra redentora que Deus proveria em Cristo. Hoje, as
pessoas são salvas ao confiarem na obra redentora que Deus proveu
em Cristo”.5 Como resume Miller:
Tudo o que é essencial à identidade eclesiástica é evidentemente
encontrado aqui [na igreja na antiga e na nova aliança |. O m esm o Cabeça
divino; as mesmas preciosas alianças; o m esm o grande propósito espiritual;
o m esm o sangue expiatório; o m esm o Espírito santificador...6

Logo, por que razão os filhos dos membros da aliança na nova


dispensação deveríam ser excluídos da comunidade do pacto, isto é, da
igreja visível? Por que negar-lhes o selo da aliança: o batismo cristão?

NO NOVO TESTAMENTO
Se o batismo é o selo do pacto da graça, e as crianças na an­
tiga dispensação estavam incluídas como beneficiárias desse pacto, a
pergunta que deve ser feita, agora, na dispensação do evangelho, é a

3 Verjo 8:56; Rm 4:1-17; e Ef 2:20-23 (cf. Hb 10:1-12).


4 Murray, Christian Baptism, 48.
5 Wilson, WhyDoes the OPC Baptize Injànts?, 3.
6 Miller, Infant Baptism, 18.
28 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

seguinte: o Novo Testamento exclui as crianças da condição de bene­


ficiárias do pacto da graça? A resposta é não. Em nenhum lugar no
Novo Testamento os filhos dos que pertenciam à aliança — os quais
tão enfática e explidtamente nela foram incluídos em Gênesis 17 —
são excluídos. Pelo contrário, no Novo Testamento há declarações
que não teriam sentido se elas devessem ser excluídas dessa condição.
Primeiramente, o próprio Senhor Jesus afirma que as crianças
pertencem ao seu reino: "deixai vir a mim os pequeninos e não os
embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus” (Lc 18:16). Fazendo
referência a este acontecimento, Francis Turretin, teólogo reformado
do século XVII, pergunta:
Pois bem , se foi correto os infantes serem trazidos a Cristo, por que também
não serem recebidos para batismo, o símbolo da nossa comunhão com
Cristo? Por que a Igreja não deveria receber no seu seio aqueles a quem
Cristo recebeu n o seu?7

Pedro confirma que a promessa inclui os filhos da promessa: “pois


para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ain­
da estão longe” (At 2:39). Pedro podería ter dito apenas que a promessa
era “para vós outros e para todos os que ainda estão longe”. Mas acres­
centou “para vossos filhos”. Por que razão ele diria isso, se os filhos
devessem ser excluídos da família da aliança na nova dispensação?8

7 Francis Turretin, Institutes of Elenctíc Theology, trad. George Musgrave Giger, ed,
James T. Dennison, vol. 3 (Philippsburg: Puritan & Reformed, 1997), 417. Por que,
então (alguém pode perguntar), Jesus apenas abençoou, mas não batizou essas crian­
ças? Porque, Jesus não julgou oportuno batizar ninguém naquele estágio da história
de redenção (cf. Jo 4:2). Contudo, como explica Ferguson, a linguagem pactuai de Je­
sus, ao abençoar essas crianças, estabelece “o fundamento teológico para o batismo
infantil” (Ferguson, “InfantBaptismView”, 109).
8 Os credobatistas limitam o significado do termo “promessa”, aqui, exdusiva-
mente ao derramamento do Espírito, praticamente eliminando a sua relação com
a aliança com Abraão (cf. Bruce A. Ware, “Believers' Baptism View”, em Baptism:
Three Views, ed. David F. Wright [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009], 35-37). Essa
interpretação, entretanto, não explica a inclusão deliberada da expressão “e para vos­
sos filhos”, entre “para vós” e "para todos os que ainda estão longe”; nem faz justiça
à perspectiva futura da promessa da aliança (como em Jeremias 31:31-34 e 32:38-40),
conforme argumenta Ferguson (“Infant Baptism Response”, 57-58; e “Infant Bap­
tism View”, 103).
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 29

O apóstolo Paulo, por sua vez, reconhece a posição dos filhos


como “santos”, quando pelo menos um dos pais é crente. Escreven­
do aos Coríntios, ele orienta os cônjuges que haviam se convertido
a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente,
argumentando que “o marido incrédulo é santificado no convívio
da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido
crente”. E acrescenta: "Doutra sorte, os vossos filhos seriam impu­
ros; porém, agora são santos” (1 Co 7:14). Isto é, os filhos de pelo
menos um cônjuge crente são considerados "santos”9 - no sentido
cerimonial, designando separação do m undo para Deus, consagração,
frequentemente empregado para designar membros da igreja visível,
no Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo.101
Existem tam bém exemplos implícitos da prática do batismo
infantil nas páginas do Novo Testamento, quando casas inteiras (fa­
mílias) foram batizadas. É o caso de Lídia, do carcereiro de Filipos e
de Estéfanas, entre outros.
Acerca de Lídia, é dito que o Senhor abriu o seu coração para
crer, e logo foi “batizada, ela e toda a sua casa” (At 16:14,15). Com
relação ao carcereiro de Filipos, havendo ele perguntado a Paulo e
Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: “crê no
Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra
de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os
seus” (At 16:30-33).“ Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo
havia batizado estava a “casa de Estéfanas” (I Co 1:16). E improvável
que não houvesse crianças nessas famílias judaicas (geralmente nu­

9 Por que, então, não batizamos os cônjuges não-crentes e os filhos adultos, junta­
mente com os filhos pequenos? Porque, na condição de adultos, eles são responsá­
veis por fazer ou não a sua própria profissão de fé, enquanto as crianças, incapazes de
professar fé, são admitidas nessa condição, com base na fé dos pais (ou de um deles),
até alcançarem a idade da razão.
10 Cf. Rm 1:7; 8:27; 12:13; 15:25,26; 16:15; 1 Co 1:2; 6:1,2; 14:33; 16:1,15; 2 Co 1:1; 8:4;
9:1,12; 13:13; Ef 1:1,15; 2:19; 3:8,18; 4:12; 5:3; 6:18; Fp 1:1; 4:21,22; Cl 1:2,4; 3:12; etc.
11 A expressão "por terem crido em Deus”, no verso 34, está no singular no original
(TTemaTeuKCÍis) - assim como "crê”, no verso 31 - devendo, portanto, ser traduzida:
“por ter crido em Deus”, fazendo referenda apenas à fé do carcereiro.
30 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

merosas), ou que todos os membros adultos tenham se convertido


no mesmo momento, ou, ainda, que os membros adultos da família
fossem batizados com base apenas na fé dos pais. A referência, por­
tanto, deve ser aos filhos menores.
A realidade é que o batismo de famílias não é exceção, mas a
norm a no Novo Testamento: dos nove casos nominais de batismo
mencionados: Simão, o mágico (At 8:13), o eunuco etíope (At 8:38),
Paulo (At 9:18), Cornélio (At 10:48; 11:14), Lídia (At 16:15), o carcerei­
ro de Filipe (At 16:33), Crispo (At 18:8; 1 Co 1:14), Gaio (1 Co 1:14) e
Estéfanas (1 Co 1:16); dois não tinham família: o eunuco etíope e Pau­
lo; e cinco tiveram as suas famílias batizadas: Cornélio, o carcereiro de
Filipe, Lídia, Crispo e Estéfanas. Não obstante, lembra Ferguson:
Isso, em si m esmo, não é o ponto significativo. O ponto é que o batismo
de uma casa inteira, com o tal (At 16:15; 1 Co 1:16), ecoa o padrão que
governa a circuncisão cm Gênesis 17:11-14.12

Ademais, vários Pais da Igreja reconhecem e mencionam a prá­


tica do batismo infantil. Especialmente a partir do século terceiro,
quando a produção literária cristã preservada se torna mais abundan­
te, há evidências explícitas da prática generalizada de batismo infantil,
por exemplo, nos escritos de Tertuliano (160-230), Flipólito de Roma
(170-236), Orígenes (185-254) e Cipriano (200-258).13 Posteriormente,
Agostinho afirmou que “nenhum concilio jamais ordenara o batismo
infantil por ser esta um a prática que vinha desde os tempos apostóli­
cos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse
o contrário”. O Concilio de Cartago recebeu consulta se era lícito
batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do
batismo infantil a partir do oitavo dia de vida era comum.14

12 lêrguson, “Infant Baptism View”, 106.


13 Na presidência do Concilio de Cartago, no ano 253, expressando a decisão unâni­
m e de sessenta e seis bispos presentes no Concilio. (Cf. Miller, Infant Baptism, 34-35).
14 Mais informações históricas acerca da prática de batismo infantil, em Joachim Je­
remias, Infant Baptism in the First Four Centuries, trad. David Caims (London: SCM
Press, 1960); Miller, Infant Baptism, 32-44.
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 31

Não precisamos estranhar que Deus tenha incluído os filhos e


a descendência na sua aliança na nova dispensação. Ele se relaciona
salvífica e judicialmente não apenas com indivíduos, mas com famí­
lias. “Em todos os casos, no Antigo Testamento, o padrão de admi­
nistração da aliança inclui um princípio de inclusão da família e de
gerações subsequentes”.15 Foi assim com Adão (Rm 5:12,15,18,19; 1
Co 15:21-22), com Noé (G n 6:18; 9:8-9; H b 11:7), com Abraão (Gn
17:7-8; cf. Êx 2:24-25), com Moisés (Êx 2:24; cf. 6:1-8; 12:24-27), com
Davi (2 Sm 22:51; 23:5; 1 Re 11:11-12; Sl 89:1-4), e com outros no
Antigo Testamento. Conforme argumenta Miller:
A ligação íntima e afetuosa entre pais e filhos fornece um forte argumento
em favor da membresia eclesiástica da descendência infantil dos crentes.
A voz da natureza se levanta e dam a m uito poderosamente em favor
da nossa causa. A idéia de separar os pais da sua prole, com relação à
mais importante das relações nas quais aprouve a D eus na sua adorável
providênda colocá-los, é igualmente repugnante ao sentimento cristão e
à lei natural.16

Essa verdade bíblica é expressa na conhecida exclamação de


Moisés:
Senhor, Senhor D eus compassivo, clem ente e longânimo e grande em
misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que
perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o
culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até
à terceira e quarta geração!17

E conduziu o salmista a escrever:


A misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que
o tem em , e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para com os que
guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos
e os cumprem.18

15 Gregg Strawbridge, Baptism in the Bible and Infant Baptism, 4, Internet; http:/ /
www.paedobaptism.com/fUes/baptisminthebible.pdf, acessado em 8 /0 5 /2014.
16 Miller, Infant Baptism, 16.
17 Em Êx 34:6-7.
18 Sl 103:17-18.
Capítulo 3

OBJEÇÕES CONTRA
O BATISMO INFANTIL

Algumas objeções são comumente levantadas contra o batismo


infantil. As mais frequentes são as seguintes:

NÃO EXISTE MANDAMENTO


BÍBLICO EXPLÍCITO PARA BATIZAR CRIANÇAS
E verdade. Se houvesse, não havería razão para a discussão so­
bre o assunto. Como observa Chapell: "A igreja não teria debatido
as questões que envolvem o batismo infantil durante séculos, se as
respostas certas fossem óbvias”.1 Contudo, um mandamento como
esse não seria necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre
foram reconhecidas como membros da igreja visível no Antigo Tes­
tamento. Seria de se esperar o contrário, isto é, um mandamento
(que tam bém não existe, é preciso ressaltar) para excluir as crianças
da igreja no Novo Testamento, um a vez que as próprias promessas
da nova aliança explicitamente incluíam a descendência.12 Conforme
argumenta Ferguson:

1 Chapell, WhyDoWeBaptizelnfants?, 15.


2 Cf. Dt 30:6; Jr 31:33-37; 32:37-40; Ez 37:24-26; J1 2:1-29; Is 44:3; 54:10-13; 59:20-21;
eM l 4:5-6.
34 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

Visto que... todas as administrações anteriores da aliança incluem os


filhos da aliança, e ambos, o povo de Deus e o caminho da graça são
organicamente um em toda a Escritura, a ab-rogação do princípio “tu e
a tua descendência” requereria uma proclamação decisiva e específica.
Na realidade, à luz do relacionamento integral entre aliança e o princípio
da descendência, pode ser questionado se ele podería ser abandonado e a
própria administração pactuai permanecer.34

Também não existe mandamento explícito instituindo o do­


mingo como o dia do descanso cristão, nem há mandamento bíblico
explícito facultando às mulheres participação na ceia do Senhor! Não
existe, igualmente, nenhum a passagem nas Escrituras ensinando ex­
plicitamente a doutrina da Trindade. Nem por isso, entretanto, os que
questionam o batismo infantil rejeitam essas práticas e doutrina.
O que determina se um a doutrina ou prática é bíblica não é
apenas se ela é ensinada explicitamente nas Escrituras. Doutrinas e
práticas são igualmente bíblicas quando elas são lógica e claramente
inferidas do ensino geral da Bíblia, como as acima mencionadas. A
Confissão de Fé de Westminster expressa bem esse princípio teológi-
co-hermenêutico, quando afirma:
Todo o conselho de D eus concernente a todas as coisas necessárias para
a glória dele e para a salvação, fé e vida do hom em , ou é expressamente
declarado na Escritura ou pode ser lógica e daramente deduzido dela.'1

Respondendo a essa objeção, Samuel Miller conclui a sua argu­


mentação em defesa da legitimidade do batismo infantil, como segue:
Quando o próprio Mestre dedara com relação aos infantes, “dos tais é
o reino dos céus”; quando um apóstolo inspiradamente proclama: “a
promessa é para nós e para os nossos filhos”; e quando vem os daramente,

3 Ferguson, “Infant Baptism View, 102-03. Chapell também ressalta que “a elimina­
ção de qualquer sinal da aliança nos filhos dos crentes teria sido uma enorme mudan­
ça na prática e conceito para as famílias judaicas. Depois de dois mil anos de prática
de aliança familiar (estabelecida desde Gênesis), um pai judeu crente não sabería
como interpretar a continuidade da aliança abraâmica que não administrasse o sinal
da aliança aos filhos” (Chapell, WJty Do We Baptize Infants?, 16).
4 "A Confissão de Fé de Westminster", 1:6.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL .45

sob a administração apostólica da igreja, famílias inteiras recebidas na


igreja, repetidas vezes, com base na profissão de fé de indivíduos que eram
seus cabeças representativos, exatamente com o sabemos que ocorria na
antiga dispensação, quando a mem biesia de infantes era indisputada;
quando lem os coisas com o essas no N ovo Testamento, certamente não
podem os reclamar da falta de testemunho que deveria satisfazer qualquer
inquiridor razoável.5

NÃO EXISTEM EXEMPLOS CLAROS DE


BATISMO INFANTIL NO NOVO TESTAMENTO
É verdade. Entretanto, existem exemplos implícitos: as referên­
cias a batismos de famílias inteiras, etc.
Por outro lado, se não existe exemplo explícito de batismo in­
fantil no Novo Testamento, convém observar que tam bém não exis­
tem referências explícitas a batismos de adultos nascidos e criados
em lares cristãos - o que seria de esperar que acontecesse, se eles não
fossem batizados na infância. Apesar disso, o batismo dessa classe de
pessoas é defendido por aqueles que rejeitam o batismo infantil.

JESUS SÓ FOI BATIZADO


AOS TRINTA ANOS DE IDADE
O batismo de Jesus não serve de argumento contra o batismo
infantil. O batismo de João não deve ser identificado com o batismo
cristão. Tanto é assim que pessoas batizadas por ele, quando conver­
tidas à fé cristã, foram batizadas novamente, em nome de Jesus.6
O batismo de Jesus por João Batista provavelmente deve ser
entendido como um marco do início do ministério público de Jesus,
semelhante à solenidade de lavagem dos sacerdotes, no Antigo Tes­
tamento, antes de realizarem o seu oficio.7 É provável, como sugere
George Ladd, que o pano de fundo geral do batismo de Jesus esteja
nos ritos de lavagem cerimonial da antiga dispensação:

5 Miller, Infant Baptism, 48-49.


6 Cf. At 19:3-5.
7 Cf. Nm 19:7.
36 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

É possível que o pano de fundo para o batismo de João não esteja nem em
Qumran nem no batismo de prosélitos, mas no cerimonial de purificação
do Antigo Testamento. Era exigido que os sacerdotes se lavassem com o
preparação para o ministério n o santuário, e que o povo participasse de
determinadas purificações em várias ocasiões (Lv 11-15; N m 19). Muitas
conhecidas passagens proféticas exortam à purificação moral sob a
figura de lavagem com água (Is l:16ss; Jr 4:14), e outras antecipam uma
purificação por Deus nos últimos tem pos (Ez 36:25; Zc 13:1).89

Conforme explica Ferguson:

N o seu batismo, Jesus é identificado com o o verdadeiro Sacerdote que


lida com os pecados. O próprio João, que o batiza, pertence à linhagem
do sacerdócio levítico (Lc 1:5). Por m eio do batismo de Jesus (então com
trinta anos, a idade estipulada para assumir os deveres sacerdotais, cf. N m
4:3 com Lc 3:23) e sua consagração com água (ver Ex 30:17-21; Lv 8:6),
João o nomeia tanto com o Sacerdote Real, com o Sacrifício. Este será
batizado não com batismo de água, m as de sangue, em favor do seu povo;
ele próprio batizará com o Espírito e com fogo (uma profecia cumprida
tanto em símbolo com o em realidade n o dia de Pentecoste, Atos 2:1-4)7

AS CRIANÇAS NÃO PREENCHEM


AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS: ARREPENDIMENTO E FÉ
O mesmo argumento excluiría as crianças do céu, pois as Escri­
turas também declaram: “se não vos arrependerdes, todos igualmen­
te perecereis” (Lc 13:3); e "quem nele crê não é julgado; o que não crê
já está julgado” (Jo 3:18). Apesar disso, Jesus não as excluiu, e mesmo
os que levantam essa objeção não as excluem.
Evidentemente, o argumento diz respeito apenas aos adultos,
os quais podem exercer fé, e não às crianças. O batismo de adultos
deve realmente ser precedido de um a profissão de fé crível. Quanto
às crianças, a Bíblia tam bém declara: "se alguém não quer trabalhar,
também não coma” (2 Ts 3:10) - e nem por isso alguém argumenta-

8 George Eldon Ladd, The New Testament and Criticism (Grand Rapids: Eerdmans,
1967), 41. Ver também Miller, InfantBaptism, 51-52.
9 Ferguson, "Infant Baptism View”, 91.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 37

ria que as crianças devem ser deixadas com fome, porque não podem
exercer um a profissão.
Esse argumento invalidaria também a circuncisão, no Antigo
Testamento. Afinal, as crianças, filhas da aliança, também não podiam
se arrepender e ter fé nas promessas - condição para a salvação tam ­
bém no Antigo Testamento.101Não obstante, elas eram circuncidadas
e consideradas membros da igreja visível e beneficiárias da aliança, na
condição de filhas da promessa, com base na sua relação com os pais
ou responsáveis, exatamente como ocorre no Novo Testamento.
Os infantes, filhos da promessa, não eram circuncidados no An­
tigo Testamento porque criam. Eles eram circuncidados com base na
instituição divina, que os incluiu na aliança. Da mesma forma, os filhos
de crentes na nova aliança não são batizados porque crêem ou porque
sejam presumidamente eleitos - esse conhecimento não nos pertence.
Eles são batizados com base na mesma instituição divina, porque en­
tendemos que não foram excluídos da aliança, no Novo Testamento."
Por outro lado, isso não significa que as crianças devam ser tra­
tadas como descrentes. Como observa Chapell:
Não existe razão para presumir que, porque as crianças não são capazes
de expressar fé madura, elas devam ser tratadas como descrentes. Não há
hipocrisia em levá-las à igreja, encorajá-las a expressar a alegria por Cristo,
amá-las, ou perm itir que orem antes de dormir, ou manifestem outras
expressões de fé infantil. Pelo contrário, seria antibíblico tratar nossos
filhos como descendência de Satanás, não amados por Deus, e inimigos
da família da fé, até eles expressarem fé salvadora.12

Convém ressaltar ainda que o batismo - mesmo de adultos -


não representa fé salvadora. Ele representa a pacto da graça, que dá
origem à fé. Como escreve Marcei:

10 A circuncisão é explicitamente chamada de “selo da justiça da fé” (Rm 4:11), embo­


ra os infantes que a recebiam, com oito dias de vida, não pudessem ainda exercê-la.
11 Para uma discussão mais elaborada do assunto, ver Murray, Christian Baptism, 51
58.
12 Chapell, WhyDo We Baptíze Infants?, 28.
38 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

O batismo representa, sobretudo, um ato da graça de Deus - um a


oferta e um dom - cumprido em virtude da sua promessa. É necessário
enfatizar esse fundam ento objetivo do batismo: os adultos são batizados em
razão do pacto que lhes é oferecido e que eles aceitam; não em razão da sua fé ou
arrependimento, que são frutos do pacto. O fundamento do batismo não é a
fé e o arrependimento do crente que o pede, e sim o pacto, em virtude do
qual tais fé e arrependimento se tornam possíveis.13

DEDICAR OU APRESENTAR CRIANÇAS


NÃO É MAIS BÍBLICO DO QUE BATIZÁ-LAS?
Não. As passagens bíblicas geralmente apresentadas em defesa
da apresentação ou dedicação de crianças, ao invés de batizá-las - com
referência a Samuel, Sansão, João Batista e Jesus - não dizem respeito
à recepção delas na igreja, mas à consagração ao serviço sagrado, seja
de nazireu, profeta, ou sacrificial (no caso de Jesus). Sua apresentação
no templo representa um cumprimento profético, como antítipo do
cordeiro pascal.
Além disso, esses episódios não substituem a circuncisão ou o
batismo, os sinais e selos de recepção na igreja visível no Antigo e no
Novo Testamento.14

NÃO É UMA INCOERÊNCIA BATIZAR


CRIANÇAS E NÃO PERMITIR QUE PARTICIPEM DA CEIA?
De forma alguma. Assim como não representa um a incoerência
o fato de que as crianças nascem como cidadãs de um país, mas não
se encontram habilitadas a desfrutar de certos privilégios e responsa­
bilidades, como dirigir veículos, ser alunas de um a faculdade, votar,
ser votadas, etc., enquanto não alcançam determinadas idades.
Assim como a páscoa, a instituição da ceia do Senhor exige que
os participantes discirnam a natureza do fato. Por natureza, na condi­

13 Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de Gracia, 162 (ênfase do autor).


14 Para uma refutação mais elaborada da prática eclesiástica da dedicação ou apre­
sentação de menores na igreja, em substituição ao batismo infantil, ver Hyde, Jesus
Loves the Little Children, 49-53.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 39

ção de sacramento rememorativo, a participação na ceia do Senhor


requer auto-exame, julgamento, discernimento e compreensão das
doutrinas bíblicas fundamentais representadas nesse sacramento (1
Co 11:27-32).
Por essa razão, segundo a legislação pós-êxodo e estudiosos do
judaísmo, apenas após alcançarem certa idade, e de haverem sido
devidamente purificados, aqueles que haviam sido circuncidados aos
oito dias estavam autorizados a participar de todos os atos cerimo­
niais ligados à páscoa, como, entre outras coisas, oferecer sacrifícios
no templo.15

QUE BENEFÍCIOS O BATISMO


INFANTIL PODE PROPORCIONAR?
Se as crianças não têm compreensão para discernir a razão do
batismo, por que batizá-las? Qual o objetivo ou benefícios que o ba­
tismo lhes proporcionaria? Os mesmos benefícios que a circuncisão
de crianças proporcionava na antiga aliança. Afinal, também pode­
riamos perguntar: que benefícios a circuncisão traria às crianças na
antiga dispensação? Elas também não tinham capacidade para com ­
preender o significado da circuncisão. Porque, então, Deus ordenou
claramente que elas fossem submetidas àquele rito tão doloroso, no
Antigo Testamento?
A realidade é que, assim como a circuncisão infantil na antiga
aliança, o batismo infantil proporciona vários benefícios, não apenas
para as crianças, mas tam bém para a igreja e para os pais, conforme
veremos no próximo capítulo. Como ressalta Miller:
O batismo é sinal de muitas verdades importantes, e selo de muitas
importantes bênçãos pactuais.... N ão há beneficio em dedicar solenemente

15 Cf. Êx 23:18; 34:23; N m 9:13;D t 16:5-6; c Miller, Injànt Baptism, 67-68. Uma investi­
gação histórica mais pormenorizada acerca da instituição, legislações e celebração da
páscoa ao longo da história, indusive com referendas quanto à partidpação nas suas
cerimônias, pode ser encontrada em James Strong e John Mcdintock, "Passover",
em Cydopedia of Biblical, Theological and Ecdesiastiad Literature, vol. 7 (Rio, WI: Ages,
2000), 106-62.
40 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

nossos filhos a Deus, por m eio de um a cerimônia apropriada, apontada


por Ele mesmo? Não há beneficio em nos obrigar formalmente, por meio
de compromissos pactuais, a criar os nossos filhos “na disciplina e na
admoestação do Senhor”? Não há beneficio em ratificar publicamente a
ligação dos nossos filhos, bem como a nossa, com a igreja visível, e como
que compromissá-los a um a aliança com o Deus dos seus pais?16

16 Miller, Infant Baptism, 55.


Capítulo 4

BENEFÍCIOS
DO BATISMO INFANTIL

Os sacramentos não são apenas sinais e selos. Eles são meios de


graça. Isso significa que tanto a ceia do Senhor como o batismo cris­
tão são instrumentos, por meio dos quais, Deus comunica bênçãos
ao seu povo. Isso não ocorre de modo automático ou mecânico, as­
sim como a pregação do evangelho também não comunica bênçãos
de maneira mecânica ou automática, independentemente da atitude
dos ouvintes. "Não é o ministro, nem a água, e sim Cristo quem san­
tifica e dá significado” ao batismo.1 Na medida em que a igreja e os
pais desempenharem bem as suas responsabilidades, em obediência
à vontade revelada de Deus, pela graça de Deus, por intermédio da
obra de Cristo e pela operação do Espírito, todos se beneficiam do
batismo infantil.
O batismo implica também, portanto, em responsabilidades
por parte da igreja, dos pais e, em tempo próprio, das crianças. “Des­
se ponto de vista, o batismo é sinal e selo das obrigações do crente
para com Deus e para com a sua igreja”.12

1 Marcei, EI Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada, 165. Cf. Mt 3:11; 1 Co 6:11; Hb
9:13; e jo 1:7.
2 Ibid., 183.
42 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

PARA A IGREJA
Primeiramente, destaco a edificação dos membros da família
da aliança, os quais são relembrados dos privilégios que seus próprios
filhos desfrutam como membros da comunidade do pacto da graça,
na condição de filhos da promessa, debaixo do favor e do cuidado
especial de Deus, e das condições favoráveis à fé em que eles se en­
contram como membros da igreja visível. Quando contemplamos o
batismo dos filhos da aliança, nós, como igreja, somos abençoados,
edificados e encorajados, diante das circunstâncias morais e espiritu­
almente difíceis em que eles viverão. Não precisamos hesitar, como
tantos, para gerar e colocar nossos filhos neste m undo mau. Deus
será com eles, de maneira especial, porquanto são filhos da promessa,
e lhes proporcionará os cuidados e benefícios espirituais necessários
para o bem-estar espiritual deles, por meio dos cuidados da igreja e,
principalmente, dos pais.
Acerca dos benefícios do batismo para a igreja, Marcei escreve:
O batismo não diz respeito unicamente a quem o recebe. Não é - como
vê a perspectiva individualista - o meio de acrescentar um crente a outros
crentes. A igreja, como família, é mais do que a soma dos crentes que a
compõem: a igreja é o corpo de Cristo, um organismo vivo. N a igreja,
cada m em bro não vive apenas para si, esim para todoocorpo... O batism o
não somente promove um novo crente, mas edifica, santifica, purifica e
glorifica a igreja...3

Em segundo lugar, ressalto a lembrança da responsabilidade da


igreja inteira com relação ao ensino, ao exemplo, à oração e à orien­
tação das crianças e, principalmente, dos pais, com relação aos deve­
res e privilégios dos filhos da aliança. Quando um a criança é recebida
como membro da igreja visível, por intermédio do batismo, é como
se ouvíssemos um a pregação, com o seu caráter exortativo. “No ba­
tismo, os pais ligam a subsistência dos seus filhos à vida espiritual da
igreja. Eles prometem entrelaçar a vida de fé das suas famílias com a

’ Ibid., 179-80. Cf. Rm 12:3-8; Ef 4:1-6; 5:25-27; e 1 Co 12:11-27.


4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 43

vida da igreja”.4 Por esse meio, portanto, somos todos admoestados


e exortados acerca das nossas responsabilidades para com os filhos da
promessa. Por um lado, somos lembrados de que apenas a graça de
Deus, por meio da obra redentora de Cristo e santificadora do Espíri­
to Santo, nos purifica do pecado. Por outro lado, somos encorajados
e animados a ser bons modelos para eles e para os seus pais, bem
como à realização dos nossos deveres espirituais mútuos: de orarm os
uns pelos outros, particularmente pelos membros não-comungantes
da igreja; de ensiná-los e lembrá-los dos privilégios espirituais que
possuem na condição de filhos da promessa, bem como das suas
responsabilidades, à medida que forem crescendo; e a exortá-los e
repreendê-los - principalmente por intermédio dos pais - quando,
porventura, se desviarem do bom caminho ou se conduzirem de m a­
neira indigna do evangelho. Não apenas pastores e presbíteros, mas
todos os membros da igreja compartilham certas responsabilidades
para com os membros não-comungantes da família da aliança.

PARA OS PAIS
Primeiramente, o batismo infantil é um ato de devoção dos
pais. Ele é um a manifestação pública de obediência a Deus, depen­
dência da sua vontade soberana e confiança na sua fidelidade. Ao
apresentarem seus filhos para receberem o selo da aliança, os pais
crentes também confessam que eles e seus filhos são pecadores e in­
suficientes para cumprirem, por.si mesmos, os termos da aliança, à
parte da graça de Deus, da obra redentora de Cristo e da capacitação
do Espírito Santo.
Em segundo lugar, ressalto o conforto que os pais crentes têm,
decorrente de saberem que seus filhos são membros da família da
aliança, filhos da promessa, membros da comunidade do pacto da
graça. A não ser que eles rejeitem a promessa quando adultos, pela
graça soberana de Deus, essa é a condição em que se encontram, e
o Senhor lhes proverá todos os meios necessários com vistas à salva­

4 Chapell, WhyDoWeBaplizelnfants?, 25.


44 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

ção deles, a um a vida íntegra, santa e útil à igreja e à sodedade, para


a glória de Deus. Na condição de filhos da promessa, a salvação é
espedalmente para eles, e para outros a quem o Senhor nosso Deus
eficazmente chamar, pelo seu Espírito, mediante a Palavra.
Evidentemente, eles são seres humanos responsáveis, e, ao
chegarem à idade da razão, se assim Deus na sua soberana provi­
dência permitir, eles precisarão confirmar a sua condição de filhos da
promessa, professando publicamente a fé genuína em Cristo como
único e suficiente salvador, dizendo: “Eu sou do Senhor, creio em
Jesus como m eu único e suficiente Salvador, e prometo viver em
obediência a sua vontade revelada, para honra e glória do seu nome,
com a sua graça e com a assistência do seu Espírito”.
Em terceiro lugar, o batismo infantil responsabiliza os pais pela
criação dos seus filhos. A Bíblia nos ensina que a soberania de Deus na
obra da salvação não é incompatível, mas anda de mãos dadas com a
responsabilidade humana. Nem sempre sabemos como harmonizar
essas verdades bíblicas fundamentais. Entretanto, as Escrituras en­
sinam claramente que embora Deus seja absolutamente soberano,
inclusive na obra da salvação, nós somos responsáveis pelos nossos
atos, os quais incluem a criação dos nossos filhos na disciplina e na
admoestação do Senhor, e a obediência por fé, da parte deles, à von­
tade de Deus (cf. Ef 6:4 e Rm 16:26).
Assim sendo, o batismo infantil implica em um a série de res­
ponsabilidades dos pais para com os seus filhos, conforme as promes­
sas feitas por eles, na ocasião do batismo dos seus filhinhos, diante da
igreja e de Deus. Entre outras coisas, eles prom etem fazer com que
os seus filhos saibam que são herdeiros da promessa e conheçam os
privilégios e responsabilidades envolvidos nisso, por terem nascido
não em lares pagãos, mas em famílias cristãs; prometem ensinar-lhes
a Bíblia e educá-los na fé; prometem ser fiéis a Deus, dando-lhes bom
testemunho e servindo-lhes de exemplo de fé e de vida; prometem
trazê-los regularmente com eles à igreja; ensiná-los a adorar a Deus
com reverência e a amar os irmãos; prom etem livrá-los das más com­
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 45

panhias; orar com eles e por eles; e criá-los na disciplina e admoesta-


ção do Senhor.5
Logo após Deus haver ordenado que a circuncisão, o sinal da
aliança com Abraão, fosse aplicado à sua descendência, ele disse, com
referência ao pai da fé: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus
filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do
Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (G n 18:19), indicando a sua
responsabilidade na criação dos seus filhos no tem or do Senhor.6
É verdade, como observa Sartelle, que:
Não há como poderm os dizer que temos obedecido completamente
ao Senhor nessa matéria. E a questão não é se tem os sido perfeitos. E se
temos nos empenhado em guardar nossos votos da m elhor m aneira que
podemos.7

Que o Senhor nos conceda graça para perseverarmos fiéis aos


nossos votos, e vigilantemente educarmos nossos filhos com fideli­
dade e sabedoria, na condição de herdeiros da promessa.

PARA AS CRIANÇAS
Quando chegarem à idade da razão, elas saberão que pertencem
à aliança e se perguntarão: o que isto significa? E serão tão beneficia­
das com o batismo quanto aqueles que são batizados na idade adulta.
Não devemos pensar que os benefícios do batismo estejam restritos
ao m om ento do batismo. Como esclarece Chapell:
A validade de um selo não depende do tem po em que as condições
que acompanham a aliança são satisfeitas. Assim com o o selo de um
documento, o selo da circuncisão podia ser aplicado muito antes dos
beneficiários da promessa e as bênçãos significadas encontrassem as
condições da aliança. O selo era simplesmente a garantia visível de Deus
de que, quando as condições da sua aliança fossem cumpridas, as bênçãos
que ele prom eteu se aplicariam.8

5 Ver "Segunda Forma para o Batismo de Crianças”, em Manual Litúrgico ãa Igreja


Presbiteriana do Brasil (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 60.
6 Ver Sartelle, What Christian Parents Should Know about Infant Baptism, 19.
7 Ibid., 20-21.
8 Chapell, WkyDo We Baptize Infantsi, 12. (cf. Confissão de Fé de Westminster, 28.6).
46 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

As crianças desfrutam dos privilégios espirituais relacionados ao


batismo no decurso da vida, e, quando alcançarem a idade da razão,
compreenderão e discernirão esses benefícios, e poderão declarar,
pessoal e publicamente, fé salvadora em Cristo.9
Elas tam bém usufruem, desde agora, de todos os privilégios
que a igreja visível proporciona aos seus membros: oração intercessó-
ria, orientação, admoestação, ensino da Palavra, exemplo dos outros
fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto. Por meio
da presença aos cultos e da comunhão com os demais membros da
igreja, as crianças participam de fato, não como estranhas, mas como
membros, de todos os privilégios espirituais que Cristo dispensa ao
seu povo por intermédio da igreja, com exceção da participação na
ceia do Senhor. Dela, eles compartilharão apenas quando alcançarem
a idade da razão e professarem publicamente a sua fé em Cristo.
Finalmente, os filhos da afiança devem responder positivamen­
te ao privilégio de fazerem parte do povo da promessa, manifestando
e professando fé salvadora na obra redentora de Cristo e procurando
viver em obediência de fé, para a glória de Deus. O batismo infantil
é, em tempo apropriado, um a convocação ao arrependimento e à
obediência de fé.

CONCLUSÃO
O batismo, seja ele de adultos ou de infantes, por ser um a ce­
rimônia de iniciação na igreja visível, sinal e selo do pacto da graça,
e representar a nossa união com Cristo e todos os benefícios dela
decorrentes, não deve ser visto como um fato acabado, mas como o
início de um a experiência vitalícia.
A descrição que o Catecismo Maior de Westminster oferece
das implicações do batismo continua a m erecer a nossa atenção e
reflexão:

9 É interessante notar que muitas igrejas que não reconhecem o batismo infantil
adotam alguma forma externa para ligarem seus filhos ao povo de Deus, por meio
de rituais de apresentação solene dos seus filhos à igreja.
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 47

O dever necessário, mas m uito negligenciado, de tirar proveito de nosso


Batismo, deve ser cumprido por nós durante a nossa vida, espedalm ente n o
tem po da tentação e quando assistimos à administração desse sacramento
a outros, por m eio de séria e grata consideração da sua natureza e dos fins
para os quais Cristo o instituiu, dos privilégios e benefícios conferidos e
selados por ele e do voto solene que nele fizemos; por m eio de humilhação
devida à nossa corrupção pecaminosa, às nossas faltas, e ao andarmos
contrários à graça do Batismo e aos nossos votos; por crescermos até à
certeza do perdão de pecados e de todas as demais bênçãos a nós seladas
por esse sacramento; por fortalecer-nos pela m orte e ressurreição de Cristo,
em cujo nom e fom os batizados para mortificação do pecado e vivificação
da graça e por esforçar-nos a viver pela fé, a ter a nossa conversação em
santidade e retidão, com o convém àqueles que deram os seus n om es a
Cristo, e a andar em amor fraterna], com o batizados pelo m esm o Espírito
em um só corpo.101

Quando os filhos são criados “nessa atmosfera”, observa Chapell:


A fé naturalmente germina e amadurece de sorte que é possível, e m esm o
com um para os filhos de pais crentes, nunca conhecerem um dia em que
não crêem que Jesus é o seu Salvador e Senhor. Esse crescimento pactuai
de uma criança é, na realidade, a vida cristã normal que D eus pretende
para o seu povo."

10 “O Catecismo Maior de Westminster”, em Símbolos de Fé: Confissão de Fé de


Westminster, Catecismo Maior; Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005),
resposta 167.
11 Chapell, Why Do We Baptize Infants?, 27.
Capítulo 5

SIMBOLISMO
E MODO DO BATISMO

Com relação ao simbolismo e ao m odo do batismo, desejo ape­


nas indicar aos leitores as principais razões pelas quais nossos irmãos
batistas e pentecostais exigem o batismo por imersão, e apresentar
algumas razões de natureza exegética, histórica e prática pelas quais
nós, presbiterianos, reconhecemos ambas as formas de batismo: por
imersão ou por aspersão/ablução, e porque preferimos a segunda.

A PRÁTICA BATISTA E PENTECOSTAL


Os nossos irmãos batistas e pentecostais (estes historicamente
procedentes dos primeiros) sustentam que a imersão é a única forma
legítima de batismo. A primeira razão que apresentam está relacio­
nada ao simbolismo do batismo. Para eles, com base em Romanos
6:3-5 e Colossenses 2:12, o batismo é um a prescrição para imergir,
como símbolo da m orte, sepultamento e ressurreição do crente com
Cristo. Eis os textos:
Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristojesus,
fomos batizados na sua m orte? Fomos, pois, sepultados com ele na m orte
pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os m ortos pela
glória do Pai, assim tam bém andemos nós em novidade de vida. Porque, se
50 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

fom os unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos


também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).

Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, n o qual


igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de D eus que o
ressuscitou dentre os m ortos (Cl 2:12).'

A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de


exemplos de batismos por aspersão ou ablução no Novo Testamento.

A PRÁTICA REFORMADA E PROTESTANTE


Nós, reformados, não negamos a legitimidade do batismo por
imersão. Negamos apenas que essa seja a única modalidade aceitável
de batismo. Para nós, imersão, ablução e aspersão são modos legíti­
mos de batismo12 (sendo as duas últim as bíblicas e historicam ente
bem fundam entadas), pelas seguintes razões:
Principalmente, porque o simbolismo do batismo não se en­
contra na imersão, mas na união com Cristo e na purificação, no la­
var purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da
impureza, o batismo com água, que é a circuncisão cristã, simboliza
o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo e
da nossa união com ele: "Ele [Deus] nos salvou mediante o lavar re-
generador do Espírito Santo, que ele derram ou sobre nós ricamente,
por meio de Jesus Cristo, nosso salvador” (T t 3:5).3
Esse simbolismo do batismo é exemplificado no relato do
apóstolo Paulo das palavras de Ananias, por ocasião do seu próprio
batismo: "levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At
22:16). O batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação
do pecado. Conforme o Catecismo de Heidelberg:

1 Outras passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Marcos 1:5; Mateus 3:16; Atos 8:38 e
1 Coríntios 10 são geralmente apresentadas em favor do batismo por imersão. Entre­
tanto, nenhuma delas diz qualquer coisa acerca do m odo do batismo.
2 Cf. “Confissão de Fé de Westminster”, 28:3.
3 As várias lavagens cerimoniais no Antigo Testamento e promessas referentes à
dispensação do evangelho apresentam o mesmo simbolismo (cf. Lv 14:7; N m 8:7; Ez
36:25; Hb 9:13-14; e 1 Pe 1:2).
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 51

Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me
encontro tão seguramente lavado com seu sangue e com seu Espírito
das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado
externam ente com água que é usada para remover a sujeira do m eu corpo.4

Em um sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decor­


rentes da salvação estão implícitas no símbolo: o ingresso no corpo
de Cristo por meio da nossa união com ele, a m orte para o pecado,
o novo nascimento, etc. Muitas figuras são empregadas na Bíblia
para simbolizar essas realidades espirituais: m orrer com Cristo, ser
sepultado com Cristo, ressuscitar com Cristo (Rm 6:3-5; Cl 2:12),
ser crucificado com Cristo (Gl 2:19), viver em Cristo (2 Tm 3:12),
estar em Cristo (Rm 16:7), andar em Cristo (Cl 2:6), estar radicado e
edificado em Cristo (Cl 2:7), revestir-se de Cristo (Gl 3:27), etc. Entre­
tanto, isso não significa que qualquer dessas figuras indique o m odo
de batismo.5
A simbologia própria do batismo reside na purificação pela lava­
gem de água, apontando para a ação purificadora do Espírito Santo
e para o sangue de Cristo, que nos separa do uso comum ou impuro
e que nos une a Ele, e não no modo como essa lavagem é realizada.
Mesmo em Romanos 6, o contexto geral é de união com Cristo e de
purificação do pecado:
Q ue diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça
mais abundante? De m odo nenhum! Com o viveremos ainda no pecado,
nós os que para ele morremos?... Sabendo isto: que foi crucificado com
ele o nosso velho hom em , para que o corpo do pecado seja destruído, e
não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado
em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs.
1- 2 , 6 , 12).

4 "O Catecismo de Heidelberg”, em A Constituição da Igreja Presbiteriana da América.


Parte I: 0 Livro das Confissões (São Paulo: Missão Presbiteriana do Brasil Central,
1969), resposta 69.
5 Na realidade, identificar o simbolismo da morte, sepultamento e ressurreição com
Cristo com o batismo por imersão é um anacronismo, visto que, na época, como
aconteceu com Jesus, os mortos não eram sepultados embaixo da terra, mas tinham
seus corpos colocados em sepulcros abertos nas rochas.
52 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

Comentando Romanos 6:4, Charles Hodge observa correta­


mente:
N ão é necessário assumir que haja qualquer referência aqui à imersão do
corpo no batismo, com o se fosse um sepultamento. Nenhuma alusão
com o esta pode ser suposta nos próximos versos, onde é dito que som os
plantados com ele. A referência não é ao modo do batismo, mas ao seu
(feito. N osso batismo nos une a Cristo, de sorte que morrem os com ele
e ressuscitamos com ele... A m esm a doutrina acerca do batismo, e da
natureza da união com Cristo, aqui expressas, é ensinada em Gaiatas 3:27
e Colossenses 2:12.6

O mesmo ocorre com relação a Colossenses 3:12. Tanto o ver­


so anterior, como o posterior, relacionam o batismo à circuncisão,
como símbolo de purificação espiritual, por meio da obra redentora
de Cristo na cruz:
Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo... E a vós
outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela indrcundsão
da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os
nossos delitos (Cl 2:11,13).

O essencial com relação ao batismo, portanto, para nós refor­


mados, é explicitamente indicado na sua instituição e nas demais pas­
sagens do Novo Testamento, isto é, que seja realizado com água (At
10:47), em nom e do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).7
Segundo, por causa do uso dos verbos correlatos |3aTTTÍ.£tü e
(Mtítü) na Septuaginta (versão grega antiga do Antigo Testamento).8

6 Charles Hodge, A Commentary on Romans, The Geneva Series o f Commentar-


ies (Reimpressão, Edinbuigh e Carlisle, Pennsylvania: The Banner o f Truth Trust,
1975), 194-95 (ênfases minhas). Ver a sua argumentação inteira sobre Romanos 6:3-5,
nas páginas 193 a 196. Observação: sua referência a “plantados com ele” é tradução
literal da expressão grega ouvetácpripev oúv atrccô (traduzida na versão de Almeida
como: "unidos com ele”).
7 Ver análise dessas e de outras passagens relacionadas, do ponto de vista reforma­
do, em Murray, Christian Baptism, 26-30.
8 O verbo |3aTTTL((üo é empregado apenas quatro vezes na Septuaginta, em 2 Reis 5:14;
Judite 12:7; Isaías 21:4 e Eclesiástico 34:25. O verbo j3áiTTtú é bem mais frequente na
Septuaginta. Ele ocorre cerca dezessete vezes.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 53

Esses verbos não são empregados sempre, ou mesmo preferencial­


mente, no sentido específico de mergulhar ou imergir, como sugerem
os defensores do batismo por imersão. O sentido geral com um des­
ses verbos é molhar, umedecer, lavar, purificar, podendo essa lavagem
ou purificação ocorrer por imersão, ablução ou aspersão. Em Judite
12:7, por exemplo, onde se lê que "toda noite ela saía ao vale de Betú-
lia e purificava-se (èpanTÍCeTo) num a fonte de água no acampamen­
to”; e em Daniel 4:339 (ver tam bém 5:21), onde lemos: “no mesmo
instante cumpriu-se a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de
entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo
foi molhado (epá^p) do orvalho do céu...”; esses verbos não indicam
imersão, mas aspersão ou ablução. Além disso, pelo menos nas se­
guintes passagens na Septuaginta, o verbo páuTto dificilmente pode
significar imergir: Levíticos 14:6 e 16; Rute 2:14; e 1 Samuel 14:27.101
Mesmo em passagens como 2 Reis 5:14, onde a imersão é pro­
vável (mas não necessária), trata-se de um a lavagem como símbolo
de purificação, conforme indicam os versos 10,12 e 13.
Terceiro, em virtude de referências, no Novo Testamento, aos
ritos de purificação do Antigo Testamento, os quais eram frequen­
tem ente realizados por meio de aspersões de sangue ou de água."
Esses ritos de purificação de pessoas, utensílios, etc., são chamados
de batismos no Novo Testamento:
E, vendo que alguns dos discípulos dele com iam o pão com as mãos
impuras, isto é, por lavar [ cüátttoiç] (pois os fariseus e todos os judeus,
observando a tradição dos anciãos, não com em sem lavar [vu|jcuvTai]
cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não com em sem se
aspergirem QBctTTTLcTtovTCLL]; e há muitas outras coisas que receberam para
observar, com o a lavagem [(jarmaiiouç] de copos, jarros e vasos de metal
e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os
teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas com em
com as m ãos por lavar [raivais-impuras]? (Mc 7:2-5; ênfase minha).

9 Verso 30 na Septuaginta.
10 Para uma análise mais pormenorizada do significado de páiTTüj nessas e em outras
passagens na Septuaginta, ver Murray, Christian Baptism, 7-11.
11 Cf. N m l9 : 9 ,1 3 e 2 0 .
54 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

O autor da Carta aos Hebreus tam bém se refere a esses ritos


de purificação cerimonial do povo, do tabernáculo e dos utensílios
sagrados como batismos (PairTiapols).12
Quarto, devido ao uso do verbo (5aTm£oj no Novo Testamento.
Ele é intercambiável com vítttü) (lavar), como se pode verificar em
Marcos 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38 e Mateus 15;2,20. Observação: o
modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de
água, como hoje - só que com um jarro, ao invés de torneira. Além
disso, a contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30)
é reconhecidamente um a contenda sobre purificação (v. 25).
Em adição, João Batista, Jesus e o apóstolo Pedro se referem
ao derramamento do Espírito Santo, anunciado pelos profetas,13 com
o term o batismo (cf. Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; At 1:15; 11:16). Por
essa razão, ressaltando a propriedade do simbolismo do batismo por
aspersão ou ablução, Miller escreve:
Se o batismo, quanto ao seu significado simbólico, tem a intenção de
representar a lavagem do Espírito Santo, com o todos concordam; é
evidente que nenhum m odo de aplicar a água batismal pode ser mais
visivelmente adequado para comunicar o seu significado simbólico, ou
mais fortemente expressivo do grande beneficio que a ordenança tenciona
manifestar e selar, do que aspeigindo ou derramando.14

Quinto, e muito importante, por causa do caráter espiritual do


culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma, mas o espírito.
A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos ofician-
tes, no templo, no rito ou em formas externas, mas na sua natureza
espiritual e verdadeira. Consequentemente, em nenhum lugar no
Novo Testamento é explicitada a forma do batismo (imersão, asper­
são ou ablução). Nem mesmo as palavras de instituição do batismo
dizem qualquer coisa acerca do m odo como ele deveria ser realiza­
do. Logo, por que razão enfatizaríamos nós, por razões teológicas,

12 VerHb 9:10 (cf. w . 13,19 e 21). Ver também Murray, Christian Baptism, 17-20.
13 Ver Isaías 32:15; 44:3; Ezequiel 39:29; Joel 2:28-29 (cf. Atos 2:17-18); Zacarias
12 : 10.
14 Miller, Infant Baptism, 88. Ver também Murray, Christian Baptism, 20-21.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 55

um a forma específica de batismo, ao ponto de negar participação


na ceia do Senhor a crentes professos e piedosos, simplesmente por
não terem sido batizados por imersão? E preciso cuidado para não
se considerar a água batismal de modo supersticioso, atribuindo a
ela - muito menos ao m odo como ela é aplicada - mais importância
do que à obra salvadora de Cristo e do seu Espírito.
Sexto, é interessante observar, ainda, que não existe um só exem­
plo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explí­
cito e inequívoco a forma de batismo praticada: imersão, aspersão ou
ablução. Isso não parece compatível com a insistência daqueles que
sustentam como legítimo exclusivamente o batismo por imersão.
Na realidade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos
tornam bastante improvável a possibilidade de imersão. E o caso do ba­
tismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era
escassa (At 2:37-41);” do eunuco no deserto (At 8:26-40);1516 de Paulo na
casa de Judas, por Ananias;17 e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).18

15 Além disso, quanto tempo e esforço fisico seriam necessários para Pedro (mesmo
supondo que contasse com a ajuda dos demais apóstolos) batizar por imersão quase
três mil pessoas em um só dia (cf. At 2:41)?
16 A expressão “onde havia água”, no verso 36, traduz as palavras gregas “értí Ti
Ü5u)p”, que significam literalmente “em cima de” ou “próximo a alguma água”. E
as expressões “desceram à água” (Kare^r)aav ápípótepoi £Íç rò Ü5wp), literalmen­
te: "desceram ambos para a água” (v. 38), e “saíram da água” (àve^ijoav éx toO
iíSaroç), no verso 39, não implica em imersão. Elas podem significar apenas que eles
desceram do carro ou das encostas do riacho ou poça/olho d agua para a água (cf.
Mt 17:27; Jo 2:12; At 7; 15; e 18:22, onde expressões semelhantes são empregadas, sem
significar imersão). Se as expressões significassem imersão, em Atos 8:38-39, então
ambos teriam imergido: Filipe e o eunuco - o que não faria sentido.
17 Nada no relato indica que saíram da casa para um rio (cf. At 9:17-19) - nem Paulo
teria condições físicas para isso, prostrado que estava, sem comer ou beber durante
três dias (cf. w . 9 e 19).
18 Além de não haver qualquer referência no relato quanto a terem saído da casa
do carcereiro para um algum rio, as circunstâncias tomam isso altamente imprová­
vel, diante das condições físicas de Paulo e Silas (cf. w . 23 e 33), do horário: após a
meia-noite, e do local: nos aposentos do carcereiro, provavelmente da área externa
do cárcere, mas dentro das edificações da prisão. Cf. I. Howard Marshall, Atos dos
Apóstolos: Introdução e Comentário; Série Cultura Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1982;
reimpressão, 2001), 258; e John R. Stott, A Mensagem de Atos: Até os Confins da Tenra
(São Paulo: ABU, 1994; reimpressão, 2003), 301.
56 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

Finalmente, alguns desenhos, gravuras e pinturas mais antigas


de cenas de batismos cristãos (desde o final do primeiro ou início
do segundo século) retratam o derramam ento de água sobre o ba­
tizando. Em alguns casos, o ministrante do batismo e o batizando
encontram-se ambos dentro da água (com água até o tornozelo,
pernas ou cintura), às vezes em batistérios, mas o batismo está sendo
realizado por aspersão ou ablução.19
O batismo por imersão parece ter sido um a prática comum na
igreja primitiva, mas não a única. Vários escritos e autores antigos,
como o Didaquê, Clemente de Roma, Justino Mártir, Tertuliano,
Irineu, Basílio Magno, Cipriano, Gregório de Nazianzo, Ambrosio,
Hilário, Jerônimo e Agostinho, tam bém reconhecem a prática do
batismo por aspersão e /o u ablução.20 Além disso, algumas situações
inviabilizam o batismo por imersão, como no caso de escassez de
água, de regiões m uito frias e de pessoas enfermas no leito, mencio­
nado por Cipriano de Cartago, no terceiro século, como comum na
época, e amplamente praticado desde então.21
Não obstante todas as evidências mencionadas em favor do batis­
mo por aspersão ou ablução, convido o leitor a refletir sobre a seguinte
observação de Samuel Miller, em seu clássico sobre batismo infantil:

19 Cf. Clement Francis Rogers, "Baptism and Christian Archaelogy”, em Studia Bib-
Uca et Ecclesiastica, vol. 5, parte IV (Oxford: Claredon Press, 1903), 241-44.
20 Outras evidêndas de batismo por aspersão ou ablução na Igreja Primitiva po­
dem ser encontradas em Rogers, 'Baptism and Christian Archaelogy”;Ver também:
James W Dale, Christic Baptism and Patristic Baptism: BAÍITIZO: An Inquire into the
Meaning of the Word as Determined by the Usage of The Holy Scriptures and Patristic Writ-
ings (Wauconda, 1L: Bolchazy-Carducri; Phillipsburg, NJ: Puritan 8i Reformed; and
Toney, AL: Loewe Belfort Project, 1995; reimpressão da segunda edição, Philadel-
phia: Presbyterian Board o f Publication, 1874), 532-39. William A. BeVier, "Water
Baptism in the Andent Church, Part I”, Bibliotheca Sacra 116:462 (1959): 136-45;
idem., “Water Baptism in the First Five Centuries”: 230-41.
21 Batismo conhecido como “clínico”, do latim dinici (termo originado da expressão
grega: kv tt) kXÍi/ q, no leito). B. B. Waríield, 'Archaeology o f the Mood o f Baptism”,
Bibliotheca Sacra 53:212 (1896): 609. Esse artigo de Waríield contém uma história por­
menorizada do modo do batismo cristão (pp. 601-604). Ver também Dale, Ckristic
Baptism and Patristic Baptism, 523-32.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 57

Mesmo que pudesse ser provado (o que sabemos que não pode ser) que o
m odo de batismo adotado no tem po de Cristo e seus apóstolos era [apenas]
por imersão; ainda assim, se esse m odo de administração da ordenança não
for significativo de alguma verdade que outro m odo não possa representar,
temos plena liberdade para considerá-lo com o um a circunstância não
essencial, a qual podem os não observar, quando a conveniência requerer,
como todos fazemos em outros casos... A Ceia do Senhor, por exemplo,
foi sem dúvida instituída com pão asmo - e essa foi, provavelmente, a
prática com um no início. Entretanto, visto que ser ou não levedado nada
tem a ver com o objetivo e escopo da ordenança... a maioria dos crentes
professos, incluindo nossos irmãos batistas, consideram-se autorizados a
celebrar a ceia do Senhor com pão fermentado, sem a m enor hesitação.22

22
Miller, Infant Baptism , 100.
CONCLUSÃO

O batismo cristão não é um atestado de salvação: nem todos


os batizados são necessariamente salvos. Não é meio de salvação: ele
não opera a salvação da alma. Nem é essencial à salvação, embora
deva ser praticado em obediência a Cristo. O batismo com água foi
instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de ini­
ciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais
necessário o derramam ento de sangue. Ele é, portanto, “a circuncisão
cristã”. O batismo é sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso
na igreja visível, da nossa união com Cristo, do nosso compromisso
público solene com ele e com a sua obra. Por meio dele, os membros
da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas, como
povo de Cristo e beneficiários das promessas da aliança.
O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especifica­
m ente na imersão (significando m orte, sepultamento e ressurreição),
mas no lavar purificador, regenerador, operado pelo Espírito Santo
no coração daqueles que se arrependem dos seus pecados e crêem na
eficácia e suficiência da obra redentora de Jesus, e na sua consequente
união com ele e com o seu corpo. O batismo não é símbolo de um a
figura. Ele é símbolo de um a transformação espiritual interna, a qual
se espera ser uma realidade presente, com relação aos adultos; ou
futura, no caso das crianças.
O m odo do batismo não é teologicamente relevante. Ele pode
ser realizado tanto por imersão, como por aspersão ou ablução. Por
60 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS

essa razão, não exigimos que sejam rebatizados irmãos e irmãs rece­
bidos por transferência em igrejas de confissão reformada, original­
m ente batizados por imersão. Isso significaria atribuir valor indevido
a um a questão m eramente formal, na nova dispensação da graça.
Não obstante, consideramos que o batismo por aspersão ou ablução
é exegeticamente e historicamente preferível, à luz dos batismos ou
lavagens purificadoras do Antigo Testamento, dos exemplos e do
caráter não formal do Novo Testamento, e do testemunho da Histó­
ria da Igreja. Em adição a isso, as condições geográficas de algumas
regiões, onde existe pouca água ou o clima é demasiadamente frio,
o estado de saúde de pessoas gravemente enfermas, e a vida urbana
m oderna favorecem o batismo por aspersão ou ablução.
Finalizo, citando Calvino:
Sendo designado [o batismo] para reconfortar, consolar e confirmar a
nossa fé, devemos recebê-lo com o vindo da m ão do seu autor, estando
firm em ente persuadidos de que é ele m esm o quem nos fala por m eio do
sinal; que é ele m esm o quem nos lava e purifica, e elimina a mem ória dos
nossos pecados; que é ele m esm o quem nos faz participantes da sua morte,
destrói o reino de Satanás, subjuga os poderes da concupiscência; além
disso, nos faz u m com ele, para que revestidos dele, sejamos considerados
filhos de Deus.1

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0 BATISMO CRISTÃO
Obatismo infantil é considerado uma prática estranha por boa parte
dos evangélicos no contexto brasileiro, formado principalmente por
igrejas batistas e pentecostais. Para esses irmãos, a ordenança do
batismo precisa ser acompanhada de profissão de fé - o que as
crianças pequenas obviamente não são capazes de fazer. Nessa
situação, é importante explicar as razões que nos levam a receber
como membros da Igreja, através do batismo, os filhos menores das
famílias da aliança. Meu objetivo, portanto, é esclarecer os leitores
quanto ao conceito e prática reformada relacionados ao significado,
simbolismo eforma dobatismo; e, principalmente, explicar as razões
pelas quaisopraticamos.

O Rev. Paulo Anglada é ministro presbiteriano há mais


de 25 anos e conhecido pregador brasileiro; Mestre em
Teologia pela Potchefstroom University (África do Sul)
e Doutor em Ministério pelo Westminster Theological
Seminary (EUA); é também autor de vários livros e de
artigos em obras coletivas e revistas teológicas.

Knox Publicações ISBN 978-856118411-7


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