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Para Vós e Vossos Filhos - Paulo Anglada
Para Vós e Vossos Filhos - Paulo Anglada
VOSSOS
0 BATISMO CRISTÃO
PAULO ANGLADA
p* VOS epara
b a
vossos FILHOS
0 BATISMO CRISTÃO
PAULO ANGLADA l«
PREFÁCIO
3 Bryan Chapell, Wfty Do We Baptize Infants? Basics o f the Faith (Phiilipsburg, NJ:
Puritan and Refòrmed, 2006), 7 (ênfase do autor).
4 Gálatas 3:7-9 (ênfase minha).
PREFÁCIO 7
P refácio ........................................................................................................5
In trodução ............................................................................................... l l
M eio de Salvação?........................................................................................ 15
Essencial à Salvação?.................................................................................... 16
Continuação da C ircuncisão.......................................................................17
As Crianças N ão Preenchem as
Condições Necessárias: Arrependimento e F é ........................................3 6
Para a Igreja..................................................................................................4 2
Para os Pais................................................................................................... 43
Para as Crianças........................................................................................... 45
C onclusão.................................................................................................... 4 6
C o n c l u s ã o .................................................................................................59
B ibliografia , 61
INTRODUÇÃO1
SIGNIFICADO
DO BATISMO CRISTÃO
ATESTADO DE SALVAÇÃO?
Primeiramente, é preciso ressaltar que o batismo não é neces
sariamente um atestado de salvação, um sinal visível de que a pessoa
está incondicionalmente salva. Não se trata de um rito de admissão
pública na igreja invisível, mas na igreja visível - e esta inclui salvos e
não salvos. Conforme argumenta o apóstolo Paulo:
4 Sinclair B. Ferguson, "Infant Baptism View”, em Baptism: Three Views, ed. David F.
Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 100-101.
5 Larry Wilson, Why Does the OPC Baptize Infantsf A Messagefrom the Orthodox Pres-
byterian Church (Willow Grove, PA: The Committee on Christian Education o f the
Orthodox Presbyterian Church, 2007), 3.
6 Tradução do termo grego èKK\r)oía, correspondente ao hebraico: bnp,
7 ( :f. 1 Ib 2:12 (citando o Sl 22:22); At 7:38 e G16:16.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO D
MEIO DE SALVAÇÃO?
O batismo tam bém não é um instrumento de salvação. O único
meio de salvação, segundo Bíblia, é a graça de Deus, mediante o arre
pendimento e a fé, operados exclusivamente por meio da Palavra de
Deus lida ou pregada. O batismo não tem poder divino inerente. Em
si mesmo, ele não pode regenerar ninguém. Essa doutrina, da regene
ração batismal, parece ter sido sustentada por vários Pais da Igreja,''
8 Cf. Mt 7:22-23.
9 Tais como Irineu, Cirilo de Alexandria, Tertuliano, Gregóriode Nazi.mzo. rime
outros. Cf. William A. BeVier, “Water Baptism in the First Five Ccnmries. I\ni II
Modes o f Water Baptism in the Ancient Church”, Bibliotheat Siunt 11 e> lf. l < i‘ivh
230-32.
16 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
É preciso ressaltar, como faz Pierre Marcei, que, à luz das Es
crituras:
A Palavra ouvida e crida, antes e depois do batismo, contém todos os dons,
os quais são plenamente alcançados mediante a fé. N ão existe um só dom
que não possa ser comunicado pela Palavra, e sim pelo sacramento.12
ESSENCIAL A SALVAÇÃO?
A Igreja Católica considera que o batismo é necessário para a
salvação. Nós, protestantes, não pensamos assim. O batismo é obri
gatório, por obediência aos preceitos de Deus - e a nossa desobediên
cia a esse preceito naturalmente resulta em empobrecimento espiri
tual, como acontece com a desobediência a outros preceitos bíblicos.
Entretanto, essa concepção do batismo como essencial à salvação é
contrária ao caráter espiritual do evangelho, que não condiciona a
CONTINUAÇÃO DA CIRCUNCISÃO
Se o batismo não é um atestado de salvação, um meio de salva
ção, nem é essencial à salvação, o que é ele, então? É a continuação
da circuncisão. É a versão evangélica da circuncisão; o correspondente
neotestamentário do sacramento vétero-testamentário da circuncisão.
Os dois sacramentos do Antigo Testamento, a páscoa e a cir
cuncisão, não foram abolidos, e, sim, substituídos. A páscoa, o sacra
mento comemorativo da igreja visível, foi transformada por Jesus na
santa-ceia, a ceia da nova aliança, quando ele participou da páscoa
pela última vez (M t 26:26-30). A circuncisão, o sacramento de admis
são na igreja visível, foi transformada no batismo cristão, visto que
não mais haveria necessidade de derramam ento de sangue, um a vez
que o Cordeiro Pascal estava prestes a ser imolado.
Colossenses 2:11-12 “relaciona daram ente a circuncisão com o
batismo, e ensina que a circundsão de Cristo, isto é, a do coração,
representada pela circuncisão da carne, é cumprida pelo batismo, ou
seja, pelo que este significa”.13 Nessa im portante passagem bíblica,
“enfatizando a continuidade da aliança, assim com o a natureza
da m udança do sinal que a acom panha”,14 o batismo cristão é
chamado explidtam ente de “circundsão de Cristo”, isto é, a cir
cuncisão cristã:15
13 Ibid., 159.
14 Chapell, WhyDo We Haplize tnfanlsí, 14.
15 Trata-se de um uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), com função adjeti
va, como nos seguintes exemplos: tò CTüjpa TÍjç àpapT Íaç, o corpo do pecado, isto é,
pecaminoso (Rm 6:6); êv t ü atópan Tfjç crapicós, no corpo da carne, isto é, carnal (Cl
1:22); TÒ (MuTKTpa ’ lom vou, o batismo deJoão, isto éjoanino (Mt 21:25).
18 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
16 Sinclair B. Ferguson, “Infant Baptism Response”, em Baptism: Three Views, ed. Da-
vid F. Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 58.
17 Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada, 158 (ênfases do autor). Quanto
à diferença relacionada às mulheres, Marcei escreve: "visto que esse sinal do Senhor
[a circuncisão] demonstrava a santificação da semente de Israel, é certo que o mesmo
servia tanto para os varões como para as mulheres; sem dúvida, não era aplicado às
mulheres, porque a sua natureza não permitia” (ibid, 161; ênfase do autor).
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 19
aliança feita com Abraão é, nos termos em que ele recebeu a promessa,
que nele seriam abençoadas as famílias da terra. É nos term os dessa
aliança que ele é o pai de todos os fiéis. E essa aliança que é desdobrada no
Novo Testamento e é nos term os dessa aliança que a bênção de Abraão
vem aos gentios.18
O batismo significa tudo o que está em Cristo para nós; ele aponta para
tudo o que ele fará por nós e tudo o que nos tom arem os nele.30
Ser "batizado em Cristo” é ser unido a ele nos laços dessa união que nos
tom a beneficiários de todas as bênçãos da redenção e nos com prom ete
com seu Senhorio.33
35 O perdão dos pecados (At 2:38), da união com Cristo (Gl 3:26-29), do revesti
mento de Cristo (Gl 3:28), da nova vida em Cristo (Rm 6:4), da unidade cristã (1
Co 12:13), etc.
36 "Confissão de Fé de Westminster”, 28:6.
37 John P. Sartelle, What Christian Parents Should Know about Infant Baptism (Phillips-
burg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1985), 7.
Capítulo 2
O BATISMO
E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA
NO ANTIGO TESTAMENTO
A questão realmente importante acerca do batismo infantil
como a circuncisão cristã, portanto, é a seguinte: as crianças foram
incluídas como beneficiárias do pacto que Deus fez com Abraão? A
resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão, as
crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias da alian
ça, isto é, como membros da igreja visível no Antigo Testamento.
Por essa razão, elas deveríam ser circuncidadas: "o que tem oito dias
será circunddado entre vós, todo macho nas vossas gerações” (Gn
17:9-12). A circuncisão podería ter sido instituída apenas para os adul
tos. Deus podería ter ordenado a Abraão que as crianças de Israel
l<>ssem recebidas como membros do pacto apenas quando se tornas
sem adultas e evidenciassem fé nas promessas da aliança. Entretant (>,
isso não ocorreu. As crianças tam bém foram incluídas, porque ei a
26 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
propósito de Deus que a sua aliança fosse com Abraão é com a sua
descendência, desde a mais tenra idade.'
É importante compreender que a aliança que Deus fez com
Abraão, o pacto da graça, é a implementação histórica de um a
aliança eterna, que nunca foi anulada. Essa aliança, cujo selo era a
circuncisão, e agora é o batismo, a "circuncisão de Cristo”, é ante
rior à lei de Moisés e, portanto, continua vigorando. O pacto da lei
foi abolido, é verdade, bem como as suas leis cerimoniais - a lei de
Moisés representa um parêntesis na história da redenção. Entretan
to, a aliança da graça com Abraão, instituída cerca de quatrocentos
anos antes da lei de Moisés, jamais foi revogada. Trata-se de um a
"aliança eterna”. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, sofreram
transformações: primeiro, havia somente a circuncisão; depois, foi
acrescentada a páscoa; posteriormente, ambas foram substituídas
pelo batismo e pela ceia do Senhor. A forma externa, portanto, dos
sacramentos da aliança mudou, porém a aliança permanece em vi
gor (cf. Gl 3:7-9,14,29).
É esse o argumento do apóstolo Paulo em Gaiatas 3:17. De
monstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com
Abraão, ele assevera que “um a aliança já anteriormente confirmada
por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode
ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.”
Por conseguinte, a aliança mencionada no Novo Testamento
não é outra aliança, um a aliança recentemente estabelecida, que
anulou a aliança feita com Abraão. E a mesma aliança, renovada por
Jesus, o Mediador da aliança (cf. Gl 3:27,29). A palavra traduzida por
nova, na expressão "nova aliança”, não traduz o term o grego véoç,12
e, sim, K a iv ó s, como em novos céus e nova terra - onde a palavra
certamente não denota outros céus e outra terra, mas os mesmos
céus e a mesma terra renovados.
1 Na realidade, os filhos foram incluídos não apenas na aliança com Abraão, mas
em codas as alianças no Antigo Testamento: com Adão (Gn 15:3), com Noé (Gn 9:8),
com Moisés (Dt 29:1-15), etc.
2 Novo, geralmente usada com o sentido de jovem, recente; outro.
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 27
NO NOVO TESTAMENTO
Se o batismo é o selo do pacto da graça, e as crianças na an
tiga dispensação estavam incluídas como beneficiárias desse pacto, a
pergunta que deve ser feita, agora, na dispensação do evangelho, é a
7 Francis Turretin, Institutes of Elenctíc Theology, trad. George Musgrave Giger, ed,
James T. Dennison, vol. 3 (Philippsburg: Puritan & Reformed, 1997), 417. Por que,
então (alguém pode perguntar), Jesus apenas abençoou, mas não batizou essas crian
ças? Porque, Jesus não julgou oportuno batizar ninguém naquele estágio da história
de redenção (cf. Jo 4:2). Contudo, como explica Ferguson, a linguagem pactuai de Je
sus, ao abençoar essas crianças, estabelece “o fundamento teológico para o batismo
infantil” (Ferguson, “InfantBaptismView”, 109).
8 Os credobatistas limitam o significado do termo “promessa”, aqui, exdusiva-
mente ao derramamento do Espírito, praticamente eliminando a sua relação com
a aliança com Abraão (cf. Bruce A. Ware, “Believers' Baptism View”, em Baptism:
Three Views, ed. David F. Wright [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009], 35-37). Essa
interpretação, entretanto, não explica a inclusão deliberada da expressão “e para vos
sos filhos”, entre “para vós” e "para todos os que ainda estão longe”; nem faz justiça
à perspectiva futura da promessa da aliança (como em Jeremias 31:31-34 e 32:38-40),
conforme argumenta Ferguson (“Infant Baptism Response”, 57-58; e “Infant Bap
tism View”, 103).
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 29
9 Por que, então, não batizamos os cônjuges não-crentes e os filhos adultos, junta
mente com os filhos pequenos? Porque, na condição de adultos, eles são responsá
veis por fazer ou não a sua própria profissão de fé, enquanto as crianças, incapazes de
professar fé, são admitidas nessa condição, com base na fé dos pais (ou de um deles),
até alcançarem a idade da razão.
10 Cf. Rm 1:7; 8:27; 12:13; 15:25,26; 16:15; 1 Co 1:2; 6:1,2; 14:33; 16:1,15; 2 Co 1:1; 8:4;
9:1,12; 13:13; Ef 1:1,15; 2:19; 3:8,18; 4:12; 5:3; 6:18; Fp 1:1; 4:21,22; Cl 1:2,4; 3:12; etc.
11 A expressão "por terem crido em Deus”, no verso 34, está no singular no original
(TTemaTeuKCÍis) - assim como "crê”, no verso 31 - devendo, portanto, ser traduzida:
“por ter crido em Deus”, fazendo referenda apenas à fé do carcereiro.
30 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
15 Gregg Strawbridge, Baptism in the Bible and Infant Baptism, 4, Internet; http:/ /
www.paedobaptism.com/fUes/baptisminthebible.pdf, acessado em 8 /0 5 /2014.
16 Miller, Infant Baptism, 16.
17 Em Êx 34:6-7.
18 Sl 103:17-18.
Capítulo 3
OBJEÇÕES CONTRA
O BATISMO INFANTIL
3 Ferguson, “Infant Baptism View, 102-03. Chapell também ressalta que “a elimina
ção de qualquer sinal da aliança nos filhos dos crentes teria sido uma enorme mudan
ça na prática e conceito para as famílias judaicas. Depois de dois mil anos de prática
de aliança familiar (estabelecida desde Gênesis), um pai judeu crente não sabería
como interpretar a continuidade da aliança abraâmica que não administrasse o sinal
da aliança aos filhos” (Chapell, WJty Do We Baptize Infants?, 16).
4 "A Confissão de Fé de Westminster", 1:6.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL .45
É possível que o pano de fundo para o batismo de João não esteja nem em
Qumran nem no batismo de prosélitos, mas no cerimonial de purificação
do Antigo Testamento. Era exigido que os sacerdotes se lavassem com o
preparação para o ministério n o santuário, e que o povo participasse de
determinadas purificações em várias ocasiões (Lv 11-15; N m 19). Muitas
conhecidas passagens proféticas exortam à purificação moral sob a
figura de lavagem com água (Is l:16ss; Jr 4:14), e outras antecipam uma
purificação por Deus nos últimos tem pos (Ez 36:25; Zc 13:1).89
8 George Eldon Ladd, The New Testament and Criticism (Grand Rapids: Eerdmans,
1967), 41. Ver também Miller, InfantBaptism, 51-52.
9 Ferguson, "Infant Baptism View”, 91.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 37
ria que as crianças devem ser deixadas com fome, porque não podem
exercer um a profissão.
Esse argumento invalidaria também a circuncisão, no Antigo
Testamento. Afinal, as crianças, filhas da aliança, também não podiam
se arrepender e ter fé nas promessas - condição para a salvação tam
bém no Antigo Testamento.101Não obstante, elas eram circuncidadas
e consideradas membros da igreja visível e beneficiárias da aliança, na
condição de filhas da promessa, com base na sua relação com os pais
ou responsáveis, exatamente como ocorre no Novo Testamento.
Os infantes, filhos da promessa, não eram circuncidados no An
tigo Testamento porque criam. Eles eram circuncidados com base na
instituição divina, que os incluiu na aliança. Da mesma forma, os filhos
de crentes na nova aliança não são batizados porque crêem ou porque
sejam presumidamente eleitos - esse conhecimento não nos pertence.
Eles são batizados com base na mesma instituição divina, porque en
tendemos que não foram excluídos da aliança, no Novo Testamento."
Por outro lado, isso não significa que as crianças devam ser tra
tadas como descrentes. Como observa Chapell:
Não existe razão para presumir que, porque as crianças não são capazes
de expressar fé madura, elas devam ser tratadas como descrentes. Não há
hipocrisia em levá-las à igreja, encorajá-las a expressar a alegria por Cristo,
amá-las, ou perm itir que orem antes de dormir, ou manifestem outras
expressões de fé infantil. Pelo contrário, seria antibíblico tratar nossos
filhos como descendência de Satanás, não amados por Deus, e inimigos
da família da fé, até eles expressarem fé salvadora.12
15 Cf. Êx 23:18; 34:23; N m 9:13;D t 16:5-6; c Miller, Injànt Baptism, 67-68. Uma investi
gação histórica mais pormenorizada acerca da instituição, legislações e celebração da
páscoa ao longo da história, indusive com referendas quanto à partidpação nas suas
cerimônias, pode ser encontrada em James Strong e John Mcdintock, "Passover",
em Cydopedia of Biblical, Theological and Ecdesiastiad Literature, vol. 7 (Rio, WI: Ages,
2000), 106-62.
40 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
BENEFÍCIOS
DO BATISMO INFANTIL
1 Marcei, EI Bautismo: Sacramento dei Pacto de Grada, 165. Cf. Mt 3:11; 1 Co 6:11; Hb
9:13; e jo 1:7.
2 Ibid., 183.
42 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
PARA A IGREJA
Primeiramente, destaco a edificação dos membros da família
da aliança, os quais são relembrados dos privilégios que seus próprios
filhos desfrutam como membros da comunidade do pacto da graça,
na condição de filhos da promessa, debaixo do favor e do cuidado
especial de Deus, e das condições favoráveis à fé em que eles se en
contram como membros da igreja visível. Quando contemplamos o
batismo dos filhos da aliança, nós, como igreja, somos abençoados,
edificados e encorajados, diante das circunstâncias morais e espiritu
almente difíceis em que eles viverão. Não precisamos hesitar, como
tantos, para gerar e colocar nossos filhos neste m undo mau. Deus
será com eles, de maneira especial, porquanto são filhos da promessa,
e lhes proporcionará os cuidados e benefícios espirituais necessários
para o bem-estar espiritual deles, por meio dos cuidados da igreja e,
principalmente, dos pais.
Acerca dos benefícios do batismo para a igreja, Marcei escreve:
O batismo não diz respeito unicamente a quem o recebe. Não é - como
vê a perspectiva individualista - o meio de acrescentar um crente a outros
crentes. A igreja, como família, é mais do que a soma dos crentes que a
compõem: a igreja é o corpo de Cristo, um organismo vivo. N a igreja,
cada m em bro não vive apenas para si, esim para todoocorpo... O batism o
não somente promove um novo crente, mas edifica, santifica, purifica e
glorifica a igreja...3
PARA OS PAIS
Primeiramente, o batismo infantil é um ato de devoção dos
pais. Ele é um a manifestação pública de obediência a Deus, depen
dência da sua vontade soberana e confiança na sua fidelidade. Ao
apresentarem seus filhos para receberem o selo da aliança, os pais
crentes também confessam que eles e seus filhos são pecadores e in
suficientes para cumprirem, por.si mesmos, os termos da aliança, à
parte da graça de Deus, da obra redentora de Cristo e da capacitação
do Espírito Santo.
Em segundo lugar, ressalto o conforto que os pais crentes têm,
decorrente de saberem que seus filhos são membros da família da
aliança, filhos da promessa, membros da comunidade do pacto da
graça. A não ser que eles rejeitem a promessa quando adultos, pela
graça soberana de Deus, essa é a condição em que se encontram, e
o Senhor lhes proverá todos os meios necessários com vistas à salva
PARA AS CRIANÇAS
Quando chegarem à idade da razão, elas saberão que pertencem
à aliança e se perguntarão: o que isto significa? E serão tão beneficia
das com o batismo quanto aqueles que são batizados na idade adulta.
Não devemos pensar que os benefícios do batismo estejam restritos
ao m om ento do batismo. Como esclarece Chapell:
A validade de um selo não depende do tem po em que as condições
que acompanham a aliança são satisfeitas. Assim com o o selo de um
documento, o selo da circuncisão podia ser aplicado muito antes dos
beneficiários da promessa e as bênçãos significadas encontrassem as
condições da aliança. O selo era simplesmente a garantia visível de Deus
de que, quando as condições da sua aliança fossem cumpridas, as bênçãos
que ele prom eteu se aplicariam.8
CONCLUSÃO
O batismo, seja ele de adultos ou de infantes, por ser um a ce
rimônia de iniciação na igreja visível, sinal e selo do pacto da graça,
e representar a nossa união com Cristo e todos os benefícios dela
decorrentes, não deve ser visto como um fato acabado, mas como o
início de um a experiência vitalícia.
A descrição que o Catecismo Maior de Westminster oferece
das implicações do batismo continua a m erecer a nossa atenção e
reflexão:
9 É interessante notar que muitas igrejas que não reconhecem o batismo infantil
adotam alguma forma externa para ligarem seus filhos ao povo de Deus, por meio
de rituais de apresentação solene dos seus filhos à igreja.
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 47
SIMBOLISMO
E MODO DO BATISMO
1 Outras passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Marcos 1:5; Mateus 3:16; Atos 8:38 e
1 Coríntios 10 são geralmente apresentadas em favor do batismo por imersão. Entre
tanto, nenhuma delas diz qualquer coisa acerca do m odo do batismo.
2 Cf. “Confissão de Fé de Westminster”, 28:3.
3 As várias lavagens cerimoniais no Antigo Testamento e promessas referentes à
dispensação do evangelho apresentam o mesmo simbolismo (cf. Lv 14:7; N m 8:7; Ez
36:25; Hb 9:13-14; e 1 Pe 1:2).
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 51
Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me
encontro tão seguramente lavado com seu sangue e com seu Espírito
das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado
externam ente com água que é usada para remover a sujeira do m eu corpo.4
9 Verso 30 na Septuaginta.
10 Para uma análise mais pormenorizada do significado de páiTTüj nessas e em outras
passagens na Septuaginta, ver Murray, Christian Baptism, 7-11.
11 Cf. N m l9 : 9 ,1 3 e 2 0 .
54 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
12 VerHb 9:10 (cf. w . 13,19 e 21). Ver também Murray, Christian Baptism, 17-20.
13 Ver Isaías 32:15; 44:3; Ezequiel 39:29; Joel 2:28-29 (cf. Atos 2:17-18); Zacarias
12 : 10.
14 Miller, Infant Baptism, 88. Ver também Murray, Christian Baptism, 20-21.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 55
15 Além disso, quanto tempo e esforço fisico seriam necessários para Pedro (mesmo
supondo que contasse com a ajuda dos demais apóstolos) batizar por imersão quase
três mil pessoas em um só dia (cf. At 2:41)?
16 A expressão “onde havia água”, no verso 36, traduz as palavras gregas “értí Ti
Ü5u)p”, que significam literalmente “em cima de” ou “próximo a alguma água”. E
as expressões “desceram à água” (Kare^r)aav ápípótepoi £Íç rò Ü5wp), literalmen
te: "desceram ambos para a água” (v. 38), e “saíram da água” (àve^ijoav éx toO
iíSaroç), no verso 39, não implica em imersão. Elas podem significar apenas que eles
desceram do carro ou das encostas do riacho ou poça/olho d agua para a água (cf.
Mt 17:27; Jo 2:12; At 7; 15; e 18:22, onde expressões semelhantes são empregadas, sem
significar imersão). Se as expressões significassem imersão, em Atos 8:38-39, então
ambos teriam imergido: Filipe e o eunuco - o que não faria sentido.
17 Nada no relato indica que saíram da casa para um rio (cf. At 9:17-19) - nem Paulo
teria condições físicas para isso, prostrado que estava, sem comer ou beber durante
três dias (cf. w . 9 e 19).
18 Além de não haver qualquer referência no relato quanto a terem saído da casa
do carcereiro para um algum rio, as circunstâncias tomam isso altamente imprová
vel, diante das condições físicas de Paulo e Silas (cf. w . 23 e 33), do horário: após a
meia-noite, e do local: nos aposentos do carcereiro, provavelmente da área externa
do cárcere, mas dentro das edificações da prisão. Cf. I. Howard Marshall, Atos dos
Apóstolos: Introdução e Comentário; Série Cultura Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1982;
reimpressão, 2001), 258; e John R. Stott, A Mensagem de Atos: Até os Confins da Tenra
(São Paulo: ABU, 1994; reimpressão, 2003), 301.
56 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
19 Cf. Clement Francis Rogers, "Baptism and Christian Archaelogy”, em Studia Bib-
Uca et Ecclesiastica, vol. 5, parte IV (Oxford: Claredon Press, 1903), 241-44.
20 Outras evidêndas de batismo por aspersão ou ablução na Igreja Primitiva po
dem ser encontradas em Rogers, 'Baptism and Christian Archaelogy”;Ver também:
James W Dale, Christic Baptism and Patristic Baptism: BAÍITIZO: An Inquire into the
Meaning of the Word as Determined by the Usage of The Holy Scriptures and Patristic Writ-
ings (Wauconda, 1L: Bolchazy-Carducri; Phillipsburg, NJ: Puritan 8i Reformed; and
Toney, AL: Loewe Belfort Project, 1995; reimpressão da segunda edição, Philadel-
phia: Presbyterian Board o f Publication, 1874), 532-39. William A. BeVier, "Water
Baptism in the Andent Church, Part I”, Bibliotheca Sacra 116:462 (1959): 136-45;
idem., “Water Baptism in the First Five Centuries”: 230-41.
21 Batismo conhecido como “clínico”, do latim dinici (termo originado da expressão
grega: kv tt) kXÍi/ q, no leito). B. B. Waríield, 'Archaeology o f the Mood o f Baptism”,
Bibliotheca Sacra 53:212 (1896): 609. Esse artigo de Waríield contém uma história por
menorizada do modo do batismo cristão (pp. 601-604). Ver também Dale, Ckristic
Baptism and Patristic Baptism, 523-32.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 57
Mesmo que pudesse ser provado (o que sabemos que não pode ser) que o
m odo de batismo adotado no tem po de Cristo e seus apóstolos era [apenas]
por imersão; ainda assim, se esse m odo de administração da ordenança não
for significativo de alguma verdade que outro m odo não possa representar,
temos plena liberdade para considerá-lo com o um a circunstância não
essencial, a qual podem os não observar, quando a conveniência requerer,
como todos fazemos em outros casos... A Ceia do Senhor, por exemplo,
foi sem dúvida instituída com pão asmo - e essa foi, provavelmente, a
prática com um no início. Entretanto, visto que ser ou não levedado nada
tem a ver com o objetivo e escopo da ordenança... a maioria dos crentes
professos, incluindo nossos irmãos batistas, consideram-se autorizados a
celebrar a ceia do Senhor com pão fermentado, sem a m enor hesitação.22
22
Miller, Infant Baptism , 100.
CONCLUSÃO
essa razão, não exigimos que sejam rebatizados irmãos e irmãs rece
bidos por transferência em igrejas de confissão reformada, original
m ente batizados por imersão. Isso significaria atribuir valor indevido
a um a questão m eramente formal, na nova dispensação da graça.
Não obstante, consideramos que o batismo por aspersão ou ablução
é exegeticamente e historicamente preferível, à luz dos batismos ou
lavagens purificadoras do Antigo Testamento, dos exemplos e do
caráter não formal do Novo Testamento, e do testemunho da Histó
ria da Igreja. Em adição a isso, as condições geográficas de algumas
regiões, onde existe pouca água ou o clima é demasiadamente frio,
o estado de saúde de pessoas gravemente enfermas, e a vida urbana
m oderna favorecem o batismo por aspersão ou ablução.
Finalizo, citando Calvino:
Sendo designado [o batismo] para reconfortar, consolar e confirmar a
nossa fé, devemos recebê-lo com o vindo da m ão do seu autor, estando
firm em ente persuadidos de que é ele m esm o quem nos fala por m eio do
sinal; que é ele m esm o quem nos lava e purifica, e elimina a mem ória dos
nossos pecados; que é ele m esm o quem nos faz participantes da sua morte,
destrói o reino de Satanás, subjuga os poderes da concupiscência; além
disso, nos faz u m com ele, para que revestidos dele, sejamos considerados
filhos de Deus.1
1 John Calvin, Institutes of the Christian Religwn, trad. Henry Beveridge (Albany, Or-
egon: Ages, 1997), 4.15.14.
BIBLIOGRAFIA