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U N I V E R S I DA D E P O T I G U A R

D I S C I P LI NA : I N T E R V E N Ç Õ ES N A I N F Â N C I A E A D O L E S C Ê NCI A

INTERVENÇÕES COM CRIANÇAS E


JOVENS

Docente: Ms. Aléxia Thamy Gomes de Oliveira


Quando pensamos em nossa infância, quais as lembranças?
E quando pensamos em nossa adolescência?
Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Lei Nº 8. 069, de 13 de julho de 1990


Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
O que é ser criança?

O que é ser adolescente?


Todo adolescente se sente deslocado do mundo?

Toda criança gosta de brincar – o que é “brincar”?


Concepções sobre o lugar da brincadeira

“a criança tem necessidade de brincar, mas na escola é preciso


separar brincadeiras e ‘tarefas sérias’.”

“As brincadeiras estão presentes tanto na pré-escola quanto nas séries iniciais do 1º
grau, e o tempo ocupado por elas é determinado pela idade das crianças ou pelo
andamento da programação pedagógica”.

Fontana & Cruz (2009)


Concepções sobre o lugar da brincadeira

“Muitos educadores, compreendendo mal a natureza dos jogos,


excluíram-os das atividades formadoras e da prática educativa.” (Almeida,
2013, p. 01)
Qual a importância da
brincadeira na vida da criança?

Ex.: recreio para “ser livre, ser criança”


A brincadeira
“Se o jogo, no cotidiano dos adolescentes e das crianças é algo
tão presente, deveríamos dar muito mais importância à sua
utilização como ferramenta que nos auxilie a proporcionar
mais prazer no processo educativo e, com isso, participar da
construção de adultos socialmente conscientes e
participativos”
Almeida, 2013, p.76
Estudos científicos sobre a criança
A ideia de criança, tal como concebemos hoje, não existia antes do século XVII

Fontana & Cruz (2009)


Representação de crianças na Roma Antiga
“Adultos em miniatura”

Representação de uma escola romana / Crédito: Wikimedia Commons

Imperador Flávio Honório ainda criança - Getty Images

Representação de crianças romanas brincando / Crédito:


Wikimedia Commons
A mortalidade infantil e o Ser Criança
Segundo Fontana & Cruz (2009)

A convivência com um índice de mortalidade infantil extremamente alto fazia com que a morte das
crianças fosse considerada natural e que a duração da infância fosse limitada a um período muito
curto da vida dos indivíduos. Ela correspondia ao período em que, para sobreviver, a criança
necessitava de cuidados físicos. Quando sobrevivia, com 6 ou 7 anos, após o desmame tardio, a
criança ‘tornava-se a companheira natural do adulto’ (Ariès, 1981), com quem passava a conviver o
tempo todo.

Observação: Apesar de ser uma realidade distante, é importante levar em consideração que essa concepção sobre
ser criança ainda esteve presente nas precoces uniões matrimoniais de nossos avós e ainda existem em algumas
realidades culturais hoje.
A mortalidade infantil e o avanço das
descobertas científicas

•Prolongamento da vida
•Diminuição da mortalidade infantil
•Criança vista como um ser diferente do adulto, não somente fisicamente
•Criança não preparada para a vida, “cabendo aos pais, além da garantia da sobrevivência, a
responsabilidade por sua formação, entendida principalmente como espiritual e moral” (Fontana &
cruz, 2009, p. 07)

•Criação de espaços outros para a socialização da criança – a escola.


A retirada da criança do “mundo dos adultos” e
a repercussão no modo de pensar sobre elas

•Século XVIII - Filósofos começam a apontar a existência de um mundo próprio e autônomo da


criança
•Rousseau e Pestalozzi – a mente infantil como operando de forma diferente da dos adultos

Novas possibilidades de estudos científicos sobre a criança e o comportamento infantil e


o surgimento de diversas abordagens
Algumas abordagens

Por mais que algumas dessas


abordagens apresentem aspectos
diferentes das atuais, elas contribuiram
enormemente para a compreesão do
fenômeno no contexto em que estavam
inseridas.
Algumas abordagens
Concepções científicas sobre a criança e seu desenvolvimento

Abordagem inatista-maturacionista

“fatores inatos são mais poderosos nas determinações das aptidões


individuais e do grau em que estas podem se desenvolver do que a
experiência, o meio social e a educação” (Fontana & Cruz, 2009, p. 12)

Alfred Binet (1857 - 1911) - (em colaboração com


Theodore Simon, criou a primeira escala para a
medida da inteligência geral – escola Binet-
Simon)
Algumas abordagens
Concepções científicas sobre a criança e seu desenvolvimento

Abordagem Comportamentalista

B. F. Skinner (1904-1990) distingue dois


tipos de aprendizagem: por
condicionamento clássico e por
condicionamento operante
“Destaca a importância da influência dos fatores externos, do
ambiente, da experiência sobre o comportamento da criança”
(Fontana & Cruz, 2009, p. 24)

J. B. Watson (1878-1958) lançou


oficialmente a escola behaviorista
Algumas abordagens
Concepções científicas sobre a criança e seu desenvolvimento

Abordagem Piagetiana
Piaget (1896-1980) tinha por objetivo
explicar a forma pela qual o homem
atinge o conhecimento que o distingue
das outras espécies animais

“Como o ser humano elabora seus conhecimentos sobre a


realidade, chegando a construir, no decorrer de sua história,
sistemas científicos complexos e com alto nível de abstração” (Fontana
& Cruz, 2009, p. 43)
Algumas abordagens
Concepções científicas sobre a criança e seu desenvolvimento

Abordagem histórico-cultural

“Tudo o que é especificamente humano e distingue o homem de


outras espécies origina-se de sua vida em sociedade”” (Fontana & Cruz,
2009, p. 57)

Vygotsky (1896-1934) - Questionando as


teorias psicológicas de seu tempo,
Vygotsky destaca que, diferentemente
das outras espécies, o homem, pelo
trabalho, transforma o meio produzindo
cultura.
As relações sociais com o mundo
adulto: a concepção de Vygotsky

• Brincadeira como a forma possível de satisfazer a essas necessidades, já que possibilita à criança agir
como os adultos em uma situação imaginária.

“Para Vygotsky, a situação imaginária da brincadeira decorre da ação da criança. Ou seja, a tentativa da
criança de reproduzir as ações do adulto, em condições diferentes daquelas que elas ocorrem, é que dá
origem a uma situação imaginária” .(Fontana & Cruz, 2009, p. 123).
Situações imaginárias

“aquilo que na vida real passa despercebido pelas crianças torna-se regra de comportamento
na brincadeira” (Fontana, 2009)

As regras decorrem da própria situação imaginária. É o fato de assumir determinado papel


que induz a criança a submeter seu comportamento a regras.
(Ex. Quando alguem não segue as regras da brincadeira é muito comum a fala “fulano não
sabe brincar”)

“Segundo Vygotsky, essa submissão da criança a regras de comportamento é a razão do


prazer que ela experimenta na brincadeira” (Fontana & Cruz, 2009, p. 125)
A criança supera a ação impulsiva
Situações imaginárias

Mas, e as crianças pequenas?

Crianças muito pequenas ainda não tem essa capacidade: os objetos é que
determinam o que devem fazer, por que sua percepção é sempre um estímulo para a
atividade (a criança age com o que vê)

“De acordo com Vygotsky, ‘é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera
cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos internos’” (Fontana &
Cruz, 2009, p. 126)
Transformações de significados

Quando a criança é muito pequena, os significados ainda estão


ligados aos objetos que ela conhece: cachorro, é seu próprio
cachorro; mãe, é sua própria mãe; relógio, é o relógio da parede da
sala de sua casa.

Vygotsky : a brincadeira infantil como um recurso que possibilita a


transição da estreita vinculação entre significado e objeto concreto
à operação com significados separados dos objetos.
Transformações de significados

Para uma criança pequena, não é qualquer objeto que pode


substituir o outro (não há apropriação do significado do objeto)

Crianças mais velhas, ou adultos, podem operar com os


significados, independentemente do objeto concreto.
Brincadeira infantil como transição

“Na brincadeira, a criança opera com significados desvinculados


dos objetos e das ações; mas o fato de utiizar outros objetos reais e
outras ações reais ajuda-a a realizar uma importante transição”.

Ex.: com o significado cavalo (sem se referir ao cavalo real)


utilizando um objeto, como o cabo de vassoura, que lhe permita
realizar a mesma ação possível com o cavalo real: montar ou
cavalgar)
A concepção vigente na psicologia sobre adolescência
está fortemente ligada a estereótipos e estigmas,
SOBRE A ADOLESCÊNCIA
desde que Stanley Hall a identificou como uma etapa
marcada por tormentos e conturbações vinculadas à
emergência da sexualidade. Essa concepção foi
reforçada por algumas abordagens psicanalistas que
a caracterizaram como uma etapa de confusões,
estresse e luto também causados pelos impulsos
sexuais que emergem nessa fase do
desenvolvimento. Erikson (1976) foi o grande
responsável pela institucionalização da adolescência
como uma fase especial no processo de
desenvolvimento ao introduzir o conceito de
moratória, identificando essa fase com confusão de
papéis e dificuldades de estabelecer uma identidade
própria, e como um período que passou a “ser quase
um modo de vida entre a infância e a idade adulta”
(p. 128). (CFP, 2002)
As concepções presentes nas vertentes teóricas da
psicologia, apesar de considerarem a adolescência
como um fenômeno biopsicossocial, ora enfatizam os
aspectos biológicos, ora os aspectos ambientais e
sociais, não conseguindo superar visões dicotomizantes
ou fragmentadas. Dessa forma, os fatores sociais são
encarados de forma abstrata e genérica, e a influência
do meio torna-se difusa e descaracterizada
contextualmente, agindo apenas como um pano de
fundo no processo de desenvolvimento já previsto no
adolescente.
Referências

Camargo, A. L. F (2003) O Papel do brinquedo no desenvolvimento. Disponível em <


http://www.lite.fe.unicamp.br/papet/2003/ep127/brinquedo.htm>

FONTANA, Roseli; CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 2009.

Conselho Federal de Psicologia (2002) Adolescência e Psicologia Concepções, práticas e reflexões críticas.

Leitura complementar:

Almeida, P. N. (2013) O jogo no desenvolvimento e na formação da criança. Educação lúdica: teorias e práticas. São Paulo: Loyola, 2013, v.
1, cap. 3.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1978.
SHULTZ, D. & SCHULTZ, S. História da Psicologia Moderna. Tradução Suely Sonoe Murai Cuccio, São Paulo, 9ª edição. Cengage Learning,
2009.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

AFINAL, COMO ERA A VIDA DAS CRIANÇAS NA ROMA ANTIGA? Era outra infância — no entanto, não tão distante da nossa. Disponível em
< https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-como-viviam-criancas-na-roma-antiga.phtml>

Dicas:

Casa Vogue (2014)25 Fotos de crianças ao redor do mundo. Disponível em


https://casavogue.globo.com/LazerCultura/Fotografia/noticia/2014/07/25-fotos-de-criancas-ao-redor-do-mundo.html

Filme: O menino e o mundo (Alê Abreu, Brasil, 2014) Classificação indicativa: livre.

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