INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DO DESENVOLVIMENTO
REGIONAL GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Relatória Final (Estágio Supervisionado IV)
Maria Eduarda Dal Bon
Relatório final do Estágio
Supervisionado IV, realizado com o time do Americano Futebol Clube e supervisionado pelo Prof. Dr Erick Conde.
Campos dos Goytacazes
Julho /2023 INTRODUÇÃO
O presente relatório busca discorrer em torno das contribuições e desafios
perpassados ao longo do estágio realizado. O mesmo, ocorreu no Americano Futebol Clube localizado em Campos dos Goytacazes onde pude ser orientada e supervisionada pela Manuela (colocar nome todo) Psicóloga contratada do time e pelo Prof. Dr. Erick Conde que nos supervisionou e orientou ao longo dessa atuação com dois encontros semanais, até o presente momento. Vale ressaltar que, as intervenções desenvolvidas e trabalhadas ao longo do semestre tiveram cunho e prático de literaturas voltadas ao esporte a utilização teórica da Abordagem Centrada na pessoa. O trabalho se iniciou em Maio de 2023, inicialmente foram subdivididas funções para quatro estagiárias onde, juntamente com o supervisor foi decidido, a partir de questões apresentadas, que duas dessas atuariam no time do profissional e outras duas no time do sub-20. Dito isso, no presente relatório, será possível compartilhar os obstáculos de uma atuação da psicologia do esporte no contexto de um time profissional, onde a resistência ao trabalho ali ofertado se fez presente pelos jogadores, e pela comissão. Ainda no decorrer dos relatos, será possível apresentar alguns desafios e importantes intervenções apresentadas e vivenciadas juntamente a equipe do sub-20.
DESENVOLVIMENTO
A proposta de estágio surgiu a partir de uma articulação do supervisor
Erick e a psicóloga Manuela, que é a atual contratada do time. Inicialmente foram oferecidas vagas para três estagiárias o que, em uma perspectiva individual, já se configurou um desafio, tendo em vista que eu não faria parte da seleção uma vez que, por questões pessoais, não consegui participar do processo inicial dessa negociação. Entretanto, após dialogar com ambos os responsáveis se fez possível a atuação de quatro estagiárias, sendo: duas responsáveis pelo acompanhamento do sub-20 e outras duas que dariam seguimento às demandas ali apresentadas pelo time profissional. Estabeleceu-se, portanto, que daríamos início ao trabalho com o time profissional, na busca de desenvolvimento das atividades propostas a partir de demandas avaliadas ao longo do processo. É importante salientar ainda que, o papel profissional exercido por psicólogos(as) nesse contexto, se amplia aos atendimento individuais dos atletas, tendo como objetivo o desenvolvimento de técnicas de relaxamento, estabelecimento de metas, sociogramas, entre outras atividades grupais que tenham como estratégia ampliar o rendimento do time e dos atletas, buscando por uma maior consciência de habilidades psicológicas que podem auxiliar em distintas questões emocionais, sejam elas dentro ou fora dos campos, entre os jogadores e também a comissão técnica. Dito isso, estabelecemos uma relação de diálogo e escuta horizontal com a Manuela, que em nosso primeiro encontro, nos informou algumas das demandas trabalhadas por ela de maneira individual, e a partir de algumas trocas teóricas, se apresentou aberta e disposta a implementar intervenções em grupos e espaços de conversas para além do trabalho clínico naquele ambiente. Um dos primeiros desafios práticos para nós como estagiárias, era acompanhar de maneira assídua a rotina de treinos e jogos do campeonato, uma vez que, a locomoção para o centro de treinamento (CT) era financeiramente inviável e, por ser muito afastado da cidade, se tornava perigoso a busca de outras alternativas como ônibus, bicicleta ou até mesmo o trajeto a pé. Porém, após expor essa questão à Psicóloga, a mesma se prontificou a nos acompanhar todas as quartas-feiras aos treinos que ali seriam, e assim fizemos até então. Em nosso primeiro encontro com o time, fomos apresentadas para todos os atletas e comissão como parte da equipe de psicologia, e ali fomos bem recebidas. Ainda no mesmo dia, tivemos a oportunidade de alinhar propostas e objetivos juntamente ao atual técnico do time, Rafael Soriano, que foi contratado em agosto de 2022 para a sequência do campeonato da Copa-Rio. Em um primeiro momento, o mesmo se mostrou disposto, compartilhando algumas observações e nos dando espaço para propor algumas de nossas ferramentas teóricas a partir das demandas citadas. Entretanto, apresentou resistência a trabalhos em grupo para além das atividades físicas, alegando que os atletas normalmente não encaram com seriedade o desenvolvimento desse tipo de atividade, o que inicialmente não se tornou uma questão , tendo em vista que ainda não tínhamos tido uma análise de demandas proposta por nós, o que foi sendo amplificado com o tempo após acompanhamento de treinos e jogos. Nesse encontro, ainda antes de iniciarmos o campeonato, foi feita apenas a proposta de uma apresentação, e posteriormente, uma breve psicoeducação para esclarecer aos atletas nossa função como parte da equipe, e também para estreitar a criação de vínculo com os demais. Em paralelo a isso, as outras estagiárias se apresentaram a equipe do sub-20 e em nossa supervisão posterior a esses encontros, nós pudemos compartilhar com o supervisor as principais questões, observações e propostas para os próximos encontros. Julgo como importante ressaltar um episódio relatado por uma das estagiárias onde, a mesma se sentiu desrespeitada por um dos atletas que demonstrou uma atitude antiprofissional, o que infelizmente é uma realidade vivida nesse contexto por profissionais mulheres. No entanto, esse relato se fez importante para que nós trouxéssemos de maneira assertiva e, sobretudo respeitosa, a ética profissional e o papel de um(a) psicólogo(a) para o time. Para isso, reunimos todas as estagiárias e nossa representante Manuela, após o treino seguinte do sub-20 e em alguns minutos discorremos brevemente sobre a importância da promoção à saúde mental no contexto do esporte e sobre os papéis profissionais ali exercidos. Tal discurso se mostrou de grande proveito, uma vez que tivemos o apoio da comissão e autonomia sobre o discurso, dentro desse ambiente onde tem uma reprodução hierárquica majoritariamente masculina. Dando sequência ao trabalho desenvolvido no time do profissional, para além dos treinos, houveram os acompanhamentos dos jogos. O campeonato se iniciou no dia 13 de Maio e ali se fez possível uma observação mais cautelosa em relação ao entrosamento da equipe, as dinâmicas estabelecidas pela comissão e até mesmo a conduta da torcida sobre os jogadores. Logo na primeira partida algumas questões foram observadas como por exemplo: os impactos numa figura de liderança ausente, um alto nível de estresse entre a comissão, o nervosismo de alguns jogadores quando julgados pela torcida, entre outras demandas do âmbito psíquico que ao longo dos jogos foram ganhando ainda mais força. Após o desenvolvimento teórico de tais observações, com o suporte do supervisor aqui referido, nós apresentamos ao longo das semanas algumas intervenções que poderiam dar suporte aos profissionais em relação às demandas que foram relatadas, por nós como estagiárias e pela psicóloga em atuação plena naquele espaço. Dando auxílio e suporte no desenvolvimento dessas atividades, nós propusemos um sociograma com o enfoque de buscar maiores índices de liderança na equipe, buscamos dialogar em relação a atividades de autorregulação para inibir o nível de estresse e ansiedade durante as partidas, ou até mesmo a realização de uma roda de conversa em relação às questões ali apresentadas. Porém, mesmo na busca por adaptações das atividades propostas, a comissão técnica apresentou grande resistência no desenvolvimento de atividades em grupo durante nossa atuação, o que dificultou nossa atuação diante dessas propostas. Porém, em suma, é importante salientar que, embora tenha havido desafios quanto à realização dos cronogramas apresentados, nossa atuação no time do Americano se fez positiva no enfoque a essas questões para a comissão e a psicóloga que ali atua, ampliando o olhar sobre o campo da psicologia no esporte para além das demandas individuais, dando um passo a mais em busca do devido reconhecimento da psicologia para desempenho dos atletas de alto rendimento.
CONCLUSÃO
Por fim, acrescento que a experiência relatada teve grande contribuição
para a minha formação, tendo em vista que me coloquei em desafio para além de uma psicologia ofertada, em um contexto repleto de nuances e com grande potencial de desenvolvimento na promoção de saúde mental. Nesse sentido, após executar tal função por dois meses, em um time de futebol que apresentou grande resistência, entendo que é de suma importância o desenvolvimento contínuo da psicologia, tendo início a psicoeducação com a comissão técnica quando necessário, para que assim, se faça possível o desenvolvimento gradativo dentro do time como um todo. É necessário considerar ainda que, a psicologia dentro do esporte e, especialmente no futebol, sofre grandes estigmas que vem sido enfrentados e superados de maneira crescente ao longo das últimas décadas. Tenho, portanto, grande gratificação por participar no auxílio para a criação de expansão desse diálogo entre os benefícios que um bom trabalho psicológico pode ofertar para o esporte e para o desempenho dos profissionais ali presentes. REFERÊNCIAS
CASTELLANI, Rafael Moreno. Futebol e psicologia do esporte: contribuições
da psicologia social. Conexões, v. 12, n. 2, p. 94-113, 2014.
CONDE, Erick. et al. Psicologia do esporte e do exercício: Modelos Teóricos,
pesquisa e intervenção. São Paulo. Pasavento, 2019.