Você está na página 1de 124

Sumário

APOSTILA EDITAL ABERTO PF .................................................................................................................................. 2


CAPÍTULO 1 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................... 2
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS ..................................................................................... 6
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................................................................................ 44
CAPÍTULO 2 - DIREITOS SOCIAIS ......................................................................................................................... 54
CAPÍTULO 3 - DIREITOS DE NACIONALIDADE................................................................................................. 65
CAPÍTULO 4 - DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................... 74
CAPÍTULO 5 - PARTIDOS POLÍTICOS .................................................................................................................. 87
CAPÍTULO 6 – PODER EXECUTIVO ...................................................................................................................... 89
CAPÍTULO 7 - SEGURANÇA PÚBLICA ................................................................................................................. 96
CAPÍTULO 8 – ORDEM SOCIAL ........................................................................................................................... 104

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com


Possuem um caráter negativo diante do Estado,
APOSTILA tendo em vista ser utilizado como uma verdadeira
limitação ao poder estatal, ou seja, o Estado, diante
EDITAL ABERTO dos direitos de primeira dimensão, fica impedido de
agir ou interferir na sociedade. São verdadeiros
PF direitos de defesa com caráter individual. Estão entre
estes direitos as liberdades públicas, civis e políticas.
São os ligados ao valor LIBERDADE. São os
direitos CIVIS E POLÍTICOS. NÃO FAZER DO
CAPÍTULO 1 – TEORIA GERAL ESTADO.
DOS DIREITOS Documentos históricos que marcaram o
surgimento desses direitos:
FUNDAMENTAIS ü Magna Carta de 1215 – João sem Terra;
TEORIA GERAL DOS DIREITOS ü Paz de Westfália (1648)
ü Habeas Corpus Act (1679)
FUNDAMENTAIS ü Bill of Rights (1688)
CONCEITO ü Declaração Americana – 1776 (Revolução
Americana)
Os Direitos e garantias fundamentais são institutos ü Declaração Francesa – 1789 (Revolução
jurídicos que foram criados no decorrer do Francesa)
desenvolvimento da humanidade e se constituem de
normas protetivas que formam um núcleo mínimo Ø DIREITOS DE 2ª Dimensão– Diante das
de prerrogativas inerentes à condição humana. péssimas condições de trabalho decorrentes da
Possuem como objetivo principal a proteção do Revolução Industrial (século XIX) aliado a Primeira
indivíduo diante do poder do Estado. Mas não só do Grande Guerra Mundial tivemos o surgimento dos
Estado. Os direitos e garantias fundamentais direitos de segunda geração. Por isso são conhecidos
também constituem normas de proteção do como direitos de igualdade. Agora, para reduzir as
indivíduo em relação aos outros indivíduos da diferenças sociais, o Estado precisa interferir na
sociedade. sociedade. E esta interferência reflete a conduta
O Título II da Constituição Federal que estabelece positiva adotada por meio de prestações sociais. São
os Direitos e as Garantias Fundamentais foi assim direitos de segunda dimensão os DIREITOS
dividido (ART. 5o ao 17o CF): SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS.
a. Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Ligados ao valor IGUALDADE. Implicam em um
Individuais e Coletivos – art. 5o FAZER DO ESTADO – prestação em favor dos
b. Capítulo II – Dos Direitos Sociais – art. 6o menos favorecidos e dos setores economicamente
ao 11o mais fracos da sociedade.
c. Capítulo III – Da Nacionalidade – art. 12 e Documentos históricos que marcaram o
13 surgimento desses direitos:
d. Capítulo IV – Dos Direitos Políticos – art. ü Constituição Mexicana - 1917;
14 ao 16 ü Constituição de Weimar – 1919
e. Capítulo V – Dos Partidos Políticos – art. 17 ü Tratado de Versalhes – 1919 (criação da
OIT)
ü Constituição Brasileira – 1934.
DIMENSÃO DE DIREITOS:
Ø DIREITOS DE 1ª Dimensão– Foram os Ø DIREITOS DE 3ª Dimensão – ligados ao
primeiros direitos conquistados pela humanidade. valor FRATERNIDADE OU SOLIDARIEDADE.
São direitos relacionados à liberdade, em todas as Direitos da sociedade de massa. Que atingem a
suas formas. Nascem das revoluções liberais todos. São direitos difusos: indivisibilidade a
ocorridas no final do século XVIII, com a burguesia, ausência de individualização.
que exigia a limitação do Poder do Estado, a época Alguns direitos de 3a geração:
absolutista, e o respeito as liberdades individuais. ü Direito ao Meio Ambiente;
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com
ü Direito à defesa do consumidor. portanto, a limitação/relativização de um direito
ü Direito ao desenvolvimento ao progresso; fundamental não pode descaracterizar o seu núcleo
ü Direito de comunicação; essencial ao ponto de abolir o direito.
ü Direito de propriedade sobre o patrimônio Isso porque no nosso Estado nós adotamos a teoria
comum da humanidade. RELATIVA dos direitos fundamentais e não a teoria
ü Autodeterminação dos povos; absoluta.
ü Direito a Paz (Karel Vazak) para alguns o TEORIA RELATIVA: Pela teoria
doutrinadores é direito de 5ª Geração – relativa a relativização de um direito
divergência!) fundamental seria possível, sendo que
o seu núcleo essencial, só poderia ser
Ø DIREITOS DE 4ª Dimensão – de acordo determinado em um caso concreto,
com Paulo Bonavides são direitos de 4a geração: pois só em um caso específico se
ü patrimônio genético; biotecnologia poderá verificar se eventual restrição
(engenharia genética) ao direito seria capaz de violar a
ü Decorrentes da globalização dos direitos essência do direito fundamental
fundamentais: inerentes a democracia, à restringido o seu núcleo.
informação, pluralismo político. o TEORIA ABSOLUTA: De acordo
(globalização política). com essa teoria o núcleo essencial do
direito fundamental é determinado
Ø DIREITOS DE 5ª Dimensão – Direito a pelo próprio direito, sendo
Paz de acordo com Paulo Bonavides. insuscetível de qualquer restrição,
independentemente das
peculiaridades que o caso concreto
CARACTERÍSTICAS DOS possa fornecer.
DIREITOS FUNDAMENTAIS ü Inalienabilidade– os direitos fundamentais
não podem alienados, não podem ser
ü Historicidade – esta característica revela
negociados, não podem ser transigidos.
que os Direitos Fundamentais são frutos da
ü Irrenunciabilidade– os direitos
evolução histórica da humanidade. Significa
que eles surgem e se desenvolve conforme o fundamentais não podem ser renunciados.
ü Imprescritibilidade– os direitos
momento histórico.
fundamentais não se sujeitam a prazos
ü Universalidade– os direitos fundamentais
prescricionais. Não se perde um direito
pertencem a todas as pessoas, independente
fundamental pelo decorrer do tempo. Essa é
da sua condição. A existência de um núcleo
a regra. É possível encontrar uma exceção a
mínimo de proteção à dignidade deve estar
esta regra quando se fala do direito a créditos
presente em qualquer sociedade.
trabalhistas.
ü Limitabilidade ou relatividade – não existe
ü Inviolabilidade - não podem ser violados
direito fundamental absoluto. Os direitos
por leis infraconstitucionais, nem por atos
fundamentais são relativos, esses direitos
administrativos de agente do Poder Público,
podem ser limitados:
sob pena de responsabilidade civil, penal e
o (i) pela própria Constituição Federal;
administrativa. Logicamente, não podem ser
o (ii) através de Emenda
violado nas relações privadas.
Constitucional;
ü Proibição do retrocesso – esta característica
o (iii) através das leis (Reserva Legal
proíbe que os direitos já conquistados sejam
simples e Reserva legal qualificada)
perdidos.
o (iv) Juiz, através de um juízo de
ü Máxima efetividade – esta característica é
ponderação aplicando a regra da
mais uma imposição para o Estado no
máxima observância dos direitos
sentido de garantir a máxima efetividade dos
fundamentais conjugando com a
direitos fundamentais, ou seja, estes direitos
mínima restrição.
não podem ser ofertados de qualquer forma é
Importa destacar que a limitação dos direitos
necessário que eles sejam garantidos da
fundamentais não pode implicar na abolição desses
melhor forma possível.
direitos uma vez que esses são cláusulas pétreas e,
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 3
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ü Concorrência: os direitos podem ser Assim, podemos dizer que os titulares e
exercidos cumulativamente. destinatários dos direitos fundamentais são:
ü Complementariedade – um direito ü Brasileiros natos ou naturalizados (art.5o caput)
fundamental não pode ser interpretado ü Estrangeiros residentes no país (art.5 caput)
sozinho. Cada direito deve ser analisado ü Estrangeiros em trânsito no país (STF).
juntamente com outros direitos ü Pessoas jurídicas, privadas ou públicas, quando o
fundamentais, bem como com outros direito for compatível com a sua personalidade.
institutos jurídicos. ü Apátridas.
ü Não-taxatividade – esta característica diz
que o rol de direitos fundamentais é apenas
exemplificativo tendo em vista a CLÁUSULAS PÉTREAS E OS
possibilidade de inserção de novos direitos. DIREITOS FUNDAMENTAIS
É o que se extrai do art. 5º § 2º da CF O artigo 60, § 4o da Constituição Federal traz o rol
(cláusula de abertura material): das chamadas Cláusulas Pétreas.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos § 4o - Não será objeto de deliberação a
nesta Constituição não excluem outros proposta de emenda tendente a aboli
decorrentes do regime e dos princípios por I - a forma federativa de Estado;
ela adotados, ou dos tratados internacionais II - voto direto, secreto, universal e
em que a República Federativa do Brasil periódico;
seja parte. III - a separação dos Poderes;
IV - OS DIREITOS E GARANTIAS
TITULARES E DESTINATÁRIOS INDIVIDUAIS.

DOS DIREITOS E GARANTIAS


FUNDAMENTAIS: As Cláusulas Pétreas são núcleos temáticos
formados por institutos jurídicos de grande
Os direitos fundamentais surgiram tendo como importância, os quais não podem ser retirados da
titulares os seres humanos, tanto é que a CF no caput Constituição. Observe que o texto proíbe a abolição
do art. 5o estabelece como titulares e destinatários destes direitos e garantias, ou seja, a sua
dos direitos fundamentais “os brasileiros e descaracterização, a violação de seu núcleo
estrangeiros residentes no país”. essencial, contudo não impede que os mesmos sejam
modificados, relativizados, para melhor.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo- É importante notar que o texto constitucional prevê
se aos brasileiros e aos estrangeiros no inciso IV como sendo Cláusulas Pétreas apenas
residentes no País a inviolabilidade do os Direitos e garantias individuais. Dessa forma,
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à pela literalidade da Constituição, não são todos os
segurança e à propriedade, nos termos direitos fundamentais que são protegidos por este
seguintes: instituto, mas apenas os de caráter individual.
Contudo para o STF e para as principais bancas,
Contudo, de acordo com a orientação do STF esses especialmente o CESPE, todos os direitos
direitos também devem ser estendidos aos fundamentais são considerados CLÁUSULAS
estrangeiros de passagem, aos turistas que estão no PÉTREAS.
Brasil.
As constituições mais modernas como a brasileira
também consagram direitos fundamentais as pessoas DIREITOS X GARANTIAS
jurídicas, tanto de direito privado quanto de direito Outro tema relevante para a sua prova é a diferença
público, ou seja, o Estado – entes estatais, também entre direitos e garantias.
são titulares e destinatários de direitos fundamentais. Podemos dizer que DIREITOS são bens, vantagens
Evidentemente que só poderão exercer aqueles prescritas na norma constitucional, são normas de
direitos que são compatíveis com a personalidade conteúdo declaratório (por exemplo: direito à honra,
jurídica desses entes. à liberdade de locomoção).

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 4
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
As GARANTIAS por sua vez são os instrumentos FORÇA NORMATIVA DOS
através dos quais se assegura o exercício dos
TRATADOS INTERNACIONAIS
Direitos Fundamentais. São normas de conteúdo
assecuratório, preservando o direito declarado (por DE DIREITOS HUMANOS
exemplo: indenização por dano à honra, Habeas Uma regra muito importante para sua prova é a que
Corpus para garantir a liberdade de locomoção). está prevista no parágrafo 3º do artigo 5º:
Podemos dizer que os remédios constitucionais são
§ 3o Os tratados e convenções
espécies de garantias, isso porque as garantias não se
internacionais sobre direitos humanos que
limitam aos remédios constitucionais. forem aprovados, em cada Casa do
A CF estabelece formas de garantia diferente dos Congresso Nacional, em dois turnos, por
remédios constitucionais. Vejamos dois exemplos: três quintos dos votos dos respectivos
Ex1: é inviolável a liberdade de consciência e de membros, serão equivalentes às emendas
crença, sendo assegurado o livre-exercício dos constitucionais. (Incluído pela Emenda
cultos religiosos — art. 5.º, VI (direito) —, Constitucional nº 45, de 2004)
garantindo-se na forma da lei a proteção aos locais
de culto e suas liturgias (garantia); Este dispositivo constitucional apresenta a chamada
Ex2: direito ao juízo natural (direito) — o art. 5.º, Força Normativa dos Tratados Internacionais de
XXXVII, veda a instituição de juízo ou tribunal de Direitos Humanos.
exceção (garantia)". Segundo o texto constitucional é possível que um
ATENÇÃO, as garantias também são direitos, tratado internacional de Direitos Humanos possua
porém nem todo direito é uma garantia!!! força normativa de emenda constitucional, desde
que preencha os seguintes requisitos:
TRIBUNAL PENAL
ü Tem que tratar de direitos humanos!!
INTERNACIONAL – TPI ü Tem que ser aprovado nas duas casas
O § 4º do artigo 5º da Constituição vai dispor a legislativas do Congresso Nacional, ou seja,
respeito do Tribunal Penal Internacional – TPI, na Câmara dos Deputados e no Senado
vejamos: Federal;
ü Tem que ser aprovado em dois turnos de
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação votação em cada casa;
tenha manifestado adesão. ü Tem que ser aprovado pelo quórum de 3/5
dos membros em cada turno de votação, em
cada casa.
O TPI é um tribunal permanente, localizada em Preenchidos estes requisitos o Tratado Internacional
Haia, nos países baixos (Holanda), integra o sistema terá força normativa de Emenda à Constituição.
de proteção da ONU – Organização das Nações Mas surge a seguinte questão: e se o Tratado
Unidas, com competência criminal apenas para Internacional for de Direitos Humanos e não
julgamento de indivíduos e não de Estados em preencher os requisitos constitucionais previstos no
crimes mais graves como: genocídios, crimes de § 3º do artigo 5º da Constituição? Qual será sua
guerra, crimes contra a humanidade. força normativa? De acordo com o STF, caso o
Apesar de ser um tribunal com atribuições Tratado Internacional fale de direitos humanos, e for
jurisdicionais, o TPI não integra o Poder Judiciário aprovado no Congresso Nacional, mas não preencha
brasileiro. Sua competência é excepcional e os requisitos do § 3º do Art. 5º da CF, ele terá força
complementar à jurisdição nacional, e somente será normativa de NORMA SUPRALEGAL, é dizer, é
exercida no caso de manifesta incapacidade ou falta uma norma acima da lei (supra) mas que ainda está
de disposição do sistema judiciário nacional. abaixo da Constituição Federal.
Dessa forma a submissão brasileira ao TPI não Dessa forma temos que os tratados internacionais de
ofende a soberania do Estado brasileiro, pois só direitos humanos podem ter dois status: ou de norma
atuará na ineficácia ou omissão do judiciário constitucional (emenda) ou de norma supralegal.
brasileiro.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 5
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
EMENDA À CONSTITUIÇÃO Direitos raízes
TRATADOS INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS
SEGURANÇA
VIDA IGUALDADE LIBERDADE PROPRIEDADE
JURÍDICA
NORMA SUPRALEGAL

DIREITO À VIDA
Apenas para complementar, aqueles tratados que
não falem de direitos humanos, se aprovados pelo O Direito a vida, previsto de uma forma genérica no
poder legislativo, terão força normativa de Lei art. 5o assegura tanto o direito de não ser morto,
Ordinária. direito de continuar vivo (acepção negativa), quanto
o direito a ter uma vida digna (acepção positiva).
Apesar de ser um direito essencial ao exercício dos
demais direitos, não se pode afirmar que o direito à
DIREITOS E GARANTIAS vida seja hierarquicamente superior aos demais
direitos fundamentais.
INDIVIDUAIS E COLETIVOS A CF protege a vida de forma geral, não só a
INTRODUÇÃO extrauterina como a intrauterina, porém, assim
como os demais direitos, o direito à vida não é
A Constituição Federal, ao disciplinar os direitos absoluto.
individuais, os colocam basicamente no artigo 5o. A CF e outras leis infraconstitucionais estabelecem
Logo no caput deste artigo, já aparece uma relativização a esse direito fundamental, vejamos:
classificação didática dos direitos ali previstos Ø Pena de morte –A CF prevê uma hipótese
quando diz: de pena de morte no Brasil no caso de guerra
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem declarada, nos termos da alínea a do inciso
distinção de qualquer natureza, garantindo- XLVII do artigo 5o da CF. Ademais, entende
se aos brasileiros e aos estrangeiros a doutrina que não poderia ser inserida uma
residentes no País a inviolabilidade do nova hipótese de pena de morte – cláusula
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à pétrea:
segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: XLVII - não haverá penas: a) de morte,
salvo em caso de guerra declarada, nos
Para estudarmos os direitos individuais utilizaremos termos do art. 84, XIX;
os cinco grupos de direitos previstos no caput do
artigo 5o: Ø Aborto: o aborto é proibido no Brasil, em
ü Direito à vida respeito ao direito a vida, contudo a lei
ü Direito à igualdade permite a prática em alguns casos
ü Direito à liberdade específicos, a saber: (i) necessário ou
ü Direito à propriedade terapêutico; (ii) sentimental ou humanitário;
ü Direito à segurança (iii) feto anencéfalo (ADPF 541).
Percebe-se que os 78 incisos do artigo 5o, de certa
forma, surgem de um desses direitos que costumo
1
chamar de “direitos raízes”. Utilizando esta divisão ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica,
que parece didática, vamos trabalhar os incisos mais surgindo absolutamente neutro quanto às religiões.
importantes deste artigo de forma a prepará-lo para a Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA
GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA –
prova. Logicamente, não conseguiremos abordar
SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS
todos os incisos, o que não tira a sua FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se
responsabilidade de lê-los ainda que não trabalhados inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de
em nossa aula. feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e
128, incisos I e II, do Código Penal.
(ADPF 54, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 12/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 6
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Vejamos o art. 128 do Código Penal: Nesse sentido, em respeito ao princípio da dignidade
da pessoa humana, o STF, através da Súmula
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado
por médico: vinculante 11, restringiu o uso de algemas no país,
autorizando o seu uso para 3 situações: PERIGO,
Aborto necessário
RESISTÊNCIA E FUGA - PRF
I - se não há outro meio de salvar a
vida da gestante;
Súmula Vinculante 11
Aborto no caso de gravidez resultante
de estupro Só é lícito o uso de algemas em casos de
II - se a gravidez resulta de estupro e o resistência e de fundado receio de fuga ou
aborto é precedido de consentimento da de perigo à integridade física própria ou
gestante ou, quando incapaz, de seu alheia, por parte do preso ou de terceiros,
representante legal. justificada a excepcionalidade por escrito,
sob pena de responsabilidade
Ø Células tronco-embrionárias: O STF disciplinar, civil e penal do agente ou da
decidiu, na ADI 3.510, pela legitimidade da autoridade e de nulidade da prisão ou do
pesquisa científica com a utilização de ato processual a que se refere, sem prejuízo
células tronco embrionárias, nos termos do da responsabilidade civil do Estado.
art. 5o da leio 11.105/2005:
Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e Ainda em respeito do respeito ao direito a vida sob a
terapia, a utilização de células-tronco perspectiva da dignidade da pessoa humana temos:
embrionárias obtidas de embriões humanos
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à
produzidos por fertilização in vitro e não
integridade física e moral;
utilizados no respectivo procedimento,
atendidas as seguintes condições: L - às presidiárias serão asseguradas
condições para que possam permanecer
I – sejam embriões inviáveis; ou
com seus filhos durante o período de
II – sejam embriões congelados há 3 amamentação;
(três) anos ou mais, na data da publicação
desta Lei, ou que, já congelados na data da XLVIII - a pena será cumprida em
publicação desta Lei, depois de estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do
completarem 3 (três) anos, contados a partir
da data de congelamento. apenado;

Como desdobramento da ideia de vida digna, a CF DIREITO À IGUALDADE OU


garante as necessidades vitais básicas do ser humano
e proíbe qualquer tratamento indigno, como a ISONOMIA
TORTURA, penas de trabalho forçado, penas de O direito ou princípio da igualdade encontra-se
caráter perpétuo etc, nos termos do art. 5o, III e previsto de forma genérica no caput do art. 5o da
XLVII: CF, mas desse princípio decorrem diversas previsões
III - ninguém será submetido a tortura nem constitucionais relacionadas a igualdade, como por
a tratamento desumano ou degradante; ex: inciso I, XLII do art. 5o, art. 7o, XXX, dentre
XLVII - não haverá penas: diversos outros que estabelecem um tratamento
igualitário. Vejamos:
a) de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX; I - homens e mulheres são iguais em direitos
b) de caráter perpétuo; e obrigações, nos termos desta
c) de trabalhos forçados; Constituição;
d) de banimento; XLII - a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
e) cruéis;
de reclusão, nos termos da lei;
XXX - proibição de diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de
DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013 RTJ VOL-00226-01 PP-
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
00011)
estado civil;
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 7
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
que visam compensar possíveis perdas que
O direito a igualdade pertence à segunda geração de determinados grupos sociais tiveram ao longo da
direitos fundamentais e possui como sinônimo o história de suas vidas.
termo Isonomia. Podemos destacar como Ações afirmativas e
exemplo de tratamento discriminatório entre homens
e mulheres a Lei Maria da Penha – Lei
IGUALDADE FORMAL X 11.340/2006 que estabelece uma proteção especial a
IGUALDADE MATERIAL mulher no sentido de coibir a violência doméstica e
A doutrina classifica o princípio da igualdade em familiar contra a mulher.
duas modalidades: Outro exemplo são as chamadas cotas raciais para
acesso as Universidades Públicas, consideradas pelo
˃ IGUALDADE FORMAL: STF como constitucionais.
A igualdade formal se traduz no termo “todos são Por fim, podemos destacar ainda a decisão do STF,
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na ADIn 4277 e na ADPF 132, que evitando
natureza”. É uma igualdade jurídica, que não se tratamento discriminatório sem razoabilidade,
preocupa com a realidade, mas apenas que o Estado reconheceu o direito a União Estável homoafetiva,
ou as pessoas estabeleçam tratamento diferenciado entendendo de forma extensiva o conceito
de forma arbitrária. constitucional de família, permitindo inclusive a
celebração civil do casamento.
˃ IGUALDADE MATERIAL: Destacou o Ministro Celso de Mello na decisão
Contudo, o princípio da igualdade não impede que mencionada:
se estabeleça tratamento diferenciado entre pessoas "É arbitrário e inaceitável qualquer estatuto
diferentes, quando há razoabilidade para essa que puna, exclua, discrimine ou fomente a
discriminação, a fim de estabelecer o que se chama intolerância, estimule o desrespeito e a
de igualdade material, substancial ou efetiva. É a desigualdade e as pessoas em razão de sua
igualdade que se preocupa com a realidade. Traduz- orientação sexual."
se na seguinte expressão:
“Tratar os iguais de forma igual, os OS DESTINATÁRIOS DO DEVER
desiguais de forma desigual, na medida das
suas desigualdades”.
DE IGUALDADE
Este tipo de igualdade confere um tratamento com O Tratamento isonômico para o Estado se manifesta
justiça social para aqueles que não a possuem. através de um dever, e que pode ser analisado em
dois planos distintos:
Observe que a igualdade formal é a regra utilizada ü Igualdade na lei: O princípio da igualdade
pelo Estado para conferir um tratamento isonômico obriga o legislador na edição das leis a estabelecer
entre as pessoas. Contudo, por diversas vezes, um um tratamento igualitário entre as pessoas, evitando
tratamento igualitário não consegue atender a todas tratamento abusivamente diferenciados a pessoas
as necessidades práticas. Faz-se necessária a que estão em situações idênticas.
utilização da igualdade em seu aspecto material para ü Igualdade perante a Lei: voltada
que se consiga produzir um verdadeiro tratamento especialmente ao intérprete da norma – Judiciário e
isonômico. aos aplicadores da lei (executivo) que devem aplicar
Dessa forma, podemos afirmar que o Estado pode a norma de forma igualitária.
dar tratamento diferenciado aos indivíduos, seja
através da lei, seja através de políticas públicas, com Registra-se o conteúdo da Súmula Vinculante 37
a finalidade de atenuar diferenças sociais. que não autoriza o Poder Judiciário a estender
Como formas de concretização da igualdade vantagens concedidas pela lei a um grupo
material foram desenvolvidas políticas públicas de determinado para outro grupo de indivíduos sob o
compensação dirigidas às minorias sociais ou fundamento da isonomia, sob pena de violação da
camadas menos favorecidas através das chamadas separação dos poderes:
AÇÕES AFIRMATIVAS OU DISCRIMINAÇÕES Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem
POSITIVAS. São verdadeiras ações de cunho social função legislativa, aumentar vencimentos de

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 8
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
servidores públicos sob o fundamento de
isonomia.
LIBERDADE DE AÇÃO ou
Vale ressaltar ainda que o princípio da igualdade
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
também se aplica na relação entre particulares, nas O inciso II do artigo 5o apresenta aquilo que a
relações privadas. doutrina chama de liberdade de ação:
II – ninguém será obrigado a fazer ou
IGUALDADE NOS CONCURSOS deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
O princípio da igualdade não impede tratamento
discriminatório, diferenciado, em concursos
públicos, desde que as exigências do cargo Esse inciso consagra o princípio da legalidade, em
justifiquem o tratamento diferenciado. sentido AMPLO, também chamada de liberdade
Dessa forma seria possível estabelecer limite de matriz, base da noção de Estado de Direito. Através
idade mínima e máxima ou ainda altura mínima ou desse princípio os particulares somente serão
previsão de vaga para apenas um sexo. Contudo, obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
para que possam existir essas discriminações devem em virtude de uma lei, de uma norma, que imponha
preencher dois requisitos: ou proíba um determinado comportamento, isso
ü Deve ser fixado em lei – não bastam que os significa, que o particular é livre para fazer tudo
critérios estejam previstos no edital, aquilo que a lei não proíba ou não determine. A
precisam estar previstos em Lei, no seu regra é da autonomia da vontade.
sentido formal; Entretanto, essa ideia não é a mesma quando
ü Deve ser necessário ao exercício do cargo – destinada ao Poder Público, isso porque em um
Estado de Direito o Poder Público se sujeita as leis,
o critério discriminatório deve ser necessário ao
exercício do cargo. A título de exemplo: seria de modo que se aplica ao Estado o principio da
razoável exigir para um cargo de policial militar, legalidade estrita, segundo o qual o Estado não
altura mínima ou mesmo, idade máxima, que pode atuar contrariamente a lei ou na sua ausência,
representam vigor físico, tendo em vista a natureza esse principio voltado para a administração pública
do cargo que exige tal condição. As mesmas pode ser verificado no caput do art. 37 da CF.2.
condições não poderiam ser exigidas para um cargo
de técnico judiciário, por não serem necessárias ao Dessa forma podemos assim esquematizar o
exercício do cargo. principio da legalidade a depender do seu
destinatário:
Nesse sentido, destaca-se a Súmula 683 do STF: Ø PARA O PARTICULAR – A legalidade
significa liberdade de agir, é dizer “fazer
O limite de idade para a inscrição em tudo que não for proibido”. Princípio da
concurso público só se legitima em face do AUTONOMIA DA VONTADE.
art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa Ø PARA O PODER PÚBLICO– para o
ser justificado pela natureza das atribuições agente público legalidade significa “poder
do cargo a ser preenchido.
fazer tudo o que for determinado ou
permitido pela lei”. Princípio da
LEGALIDADE ESTRITA.
DIREITO À LIBERDADE
O direito à liberdade encontra-se previsto de forma
genérica no caput do art. 5o. A liberdade é a essência
dos direitos de primeira geração, que inclusive são
chamados de liberdades públicas.
2
A ideia de liberdade prevista no caput é bastante Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
ampla e compreende a ideia de liberdade física, de dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
expressão, pensamento, religiosa.
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
Diversos direitos previstos no art. 5o decorrem da também, ao seguinte:
ideia de liberdade, os quais serão analisados agora.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, 9
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
Pode fazer tudo o I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o
particular que a lei não
proíba estabeleça;
legalidade
Só pode fazer o
Público que a lei manda ü Tipificação de crimes, a CF exige a
ou autorize existência de lei formal na definição de tipos
penais
Art. 5o XXXIX - não há crime sem lei
A expressão LEI no art. 5o, II refere-se a lei de uma anterior que o defina, nem pena sem prévia
forma ampla, genérica, aqui abordando outras cominação legal;
espécies normativas que não apenas a lei formal
(aquela elaborada pelo poder legislativo).
Dai a relevante distinção entre o princípio da LIBERDADE DE
legalidade e o Princípio da Reserva Legal. MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO E EXPRESSÃO
O PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL, decorre
do princípio da legalidade e ocorre quando uma Dentro da ideia de liberdade de expressão podemos
norma constitucional atribui determinada matéria destacar três incisos do art. 5o: IV, V e IX.
exclusivamente à lei formal, ou seja, aquela Esse direito está diretamente ligado aos fundamentos
aprovada pelo Legislativo, excluídas as Medidas da RFB, quais sejam: o Pluralismo Político e a
Provisórias e outras normas subordinadas. Ex: Dignidade da pessoa humana.
matérias envolvendo a criação de tipos penais. Vejamos o art. 5o, IV:
Dessa forma, podemos dizer que a legalidade é Art. 5o, IV – é livre a manifestação do
mais ampla que a reserva legal, pois esta tem o pensamento, sendo vedado o anonimato;
seu conteúdo mais restrito aquelas hipóteses
exigidas pela CF. Contudo, podemos dizer que a
Reserva legal tem maior densidade ou conteúdo, Esta liberdade serve de amparo para uma série de
pois exige um tratamento exclusivo do Legislativo possibilidades no que tange ao pensamento.
nas matérias previstas na CF. A manifestação do pensamento diz respeito a
Ø Reserva legal Simples e qualificada. exteriorização de ideias, por escrito ou oral, mas
também o direito de ouvir, assistir e ler.
Assim como os demais direitos fundamentais, a
manifestação do pensamento não possui caráter
+ AMPLO
absoluto, sendo restringido pela própria Constituição
LEGALIDADE Federal que proíbe seu exercício de forma anônima.
-
DENSIDADE
A vedação ao anonimato impede, como
regra, DENÚNCIAS ANÔNIMAS, também
- AMPLO
RESERVA chamadas de delações apócrifas, como
LEGAL fundamento único para a instauração de
+
DENSIDADE
procedimentos criminais.
Contudo, o STF, entende como constitucionais as
referidas denúncias (disque-denúncia) como
Como desdobramento do PRINCÍPIO DA ferramenta de comunicação do crime, mas não pode
LEGALIDADE, podemos destacar: servir como amparo para a instauração do Inquérito
ü Atividade de tributação, que determina Policial, muito menos como fundamento para
que os entes não podem aumentar ou exigir condenação de quem quer que seja. Este
tributos sem lei; posicionamento se aplica à instauração de qualquer
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias tipo de procedimento investigatório, seja
asseguradas ao contribuinte, é vedado à administrativo, cível ou penal.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,10
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Desse modo, podemos concluir que a denúncia jurídica constituída, a quem por ele responda,
anônima não pode, isoladamente, servir de independentemente de quem seja o responsável
fundamento para instauração de processo formal intelectual pelo agravo.
contra o denunciado, autorizando apenas medidas
informais para verificação dos fatos denunciados. O exercício do direito de resposta não afasta a
A vedação do anonimato não impede que o possibilidade de indenização por dano: material,
jornalista guarde o sigilo de suas fontes3, moral ou a imagem. Vale destacar ainda que a
respondendo ele porém, caso opte pelo sigilo, por indenização decorrente destes danos é cumulativa!!!
declarações falsas, injuriosas, difamatórias etc.
A CF ainda assegura o direito a LIBERDADE DE
A vedação ao anonimato, além de ser uma garantia EXPRESSÃO:
ao exercício da manifestação do pensamento, IX - é livre a expressão da atividade
possibilita o exercício do DIREITO DE intelectual, artística, científica e de
RESPOSTA caso alguém seja ofendido, em matéria comunicação, independentemente de
divulgada, publicada ou transmitida por veículo de censura 4ou licença;
comunicação social, como prevê o inciso v do art. 5o
da CF:
Dessa forma no Brasil é assegurada a liberdade de
V - é assegurado o direito de resposta, expressão sendo vedada a censura, essa vedação é
proporcional ao agravo, além da confirmada pelo art. 220 § 2º da CF:
indenização por dano material, moral ou à
imagem;
Art. 220. A manifestação do pensamento, a
O direito de resposta, que se manifesta como ação de criação, a expressão e a informação, sob
replicar ou de retificar matéria publicada é qualquer forma, processo ou veículo não
exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sofrerão qualquer restrição, observado o
sua honra e é orientado pela ideia da disposto nesta Constituição.
proporcionalidade, é dizer: a resposta deve ser § 2º É vedada toda e qualquer censura de
assegurada no mesmo meio de comunicação em que natureza política, ideológica e artística.
a agressão foi realizada, devendo ter o mesmo
destaque e duração. A liberdade de expressão apresenta duas dimensões:
O direito de resposta é amplo e abrange ofensas a) substancial: que consiste no próprio direito de
mesmo que não tenham caráter penal. pensar (Pluralismo político);
O direito de resposta, inobstante ser norma de b) instrumental: que consiste no direito de expor o
eficácia plena e aplicabilidade imediata, é seu pensamento, de expressar suas ideias (ex: direito
regulamentado pela lei 13.188/2015 que assegura o de reunião).
exercício desse direito de forma GRATUITA,
vejamos o art. 2o: A liberdade de expressão, assim como a
o
Art. 2 Ao ofendido em matéria divulgada, manifestação do pensamento não são absolutas
publicada ou transmitida por veículo de devendo ser exercidas com responsabilidade pois
comunicação social é assegurado o direito encontram limites em outros direitos fundamentais,
de resposta ou retificação, gratuito e como por exemplo a privacidade e a intimidade das
proporcional ao agravo. pessoas.
O direito de resposta ou retificação deve ser Ademais, de acordo com a jurisprudência do STF a
exercido no prazo decadencial de 60 (sessenta) liberdade de expressão encontra limites nos
dias, contado da data de cada divulgação, chamados discursos de ódio, voltadas ao combate
publicação ou transmissão da matéria ofensiva, do preconceito e da intolerância contra minorias
mediante correspondência com aviso de estigmatizadas.
recebimento encaminhada diretamente ao veículo
de comunicação social ou, inexistindo pessoa

3 4
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da Art. 220, § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
fonte, quando necessário ao exercício profissional; ideológica e artística.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,11
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A respeito do exercício da liberdade de expressão e A CF assegura a liberdade de consciência e de
manifestação do pensamento já decidiu o STF: crença as pessoas no art. 5o, VI:
Decisão do STF que vale a pena ser
VI – é inviolável a liberdade de consciência
mencionada, é a que analisou a constitucionalidade
e de crença, sendo assegurado o livre
da “marcha da maconha”. De acordo com o exercício dos cultos religiosos e garantida,
Supremo, no julgamento da ADPF5 187, o na forma da lei, a proteção aos locais de
movimento foi legítimo e encontra fundamento na culto e a suas liturgias;
liberdade de manifestação do pensamento. De
acordo com o STF a mera proposta de
descriminalização de determinado ilícito penal não A liberdade de consciência consiste na aceitação de
se confunde com o ato de incitação à prática do valores morais e espirituais, independentemente de
crime, além disso não poderá ser feito o uso da questões religiosas;
droga durante a manifestação e não poderá ter a A liberdade de crença se refere as questões
participação de crianças e adolescentes. religiosas e é abrangida pela liberdade de
O STF declarou inconstitucional a consciência.
exigência de diploma de jornalismo para ser Já a liberdade de culto é uma das formas de
jornalista haja vista esta profissão ser um canal expressão da liberdade de crença.
essencial para divulgação do pensamento e da Por causa da liberdade religiosa, é possível exercer
informação. qualquer tipo de crença no país. Perceba que o inciso
Em respeito a liberdade de expressão VI, além de proteger as crenças e cultos, também
entendeu o STF6 não ser exigível autorização protege as suas liturgias, que são os ritos e
prévia7, da pessoa biografada ou de seus familiares, cerimônias.
para a publicação de obras biográficas ou Essa liberdade, contudo, não é absoluta, uma vez
audiovisuais. Destaca-se o trecho do referido que não se pode utilizar este direito para praticar
julgado: atos contrários às demais normas do direito
Em decorrência do direito a liberdade de brasileiro como, por exemplo, sacrificar seres
expressão, decidiu o STF8 que é inconstitucional a humanos como forma de prestar culto a determinada
proibição de tatuagem a candidato de concurso divindade.
público, os ministros destacaram que a tatuagem
passou a representar uma autêntica forma de Além de consagrar a liberdade religiosa no Brasil
liberdade de manifestação do indivíduo, pela qual esse inciso consagra também a ideia de que o Brasil
não pode ser punido, sob pena de flagrante violação é um ESTADO LAICO, LEIGO OU NÃO-
à CF. Entretanto, em situações excepcionais poderá CONFESSIONAL. Isso não significa que o Brasil é
ocorrer restrição de pessoas com tatuagens quando o um Estado ateu, mas tão somente que não adota uma
seu conteúdo viole valores constitucionais. (RE religião oficial, existindo uma separação entre
898.450) Estado e Igreja. Esta relação entre o Estado e a
Igreja encontra, inclusive, vedação expressa no texto
constitucional, que consagra o princípio da laicidade
(art. 19, I, CF):
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao
CRENÇA - RELIGIOSA Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o
5
Ação de descumprimento de preceito fundamental - ADPF
funcionamento ou manter com eles ou seus
6 representantes relações de dependência ou
ADI 4815 – MIN. CÁRMEN LÚCIA
aliança, ressalvada, na forma da lei, a
7
Em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de colaboração de interesse público;
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença de Ressalta-se que é possível a relação entre Estado e
pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias Igreja para assegurar a colaboração de interesse
ou audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de pessoas público.
falecidas).
8
RE 898450 – Rel. Min. Luiz Fux.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,12
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Outro dispositivo interessante é o previsto no inciso obrigação legal a todos imposta não poderá ser
VII: privado dos seus direitos.
VII – é assegurada, nos termos da lei, a
prestação de assistência religiosa nas Recusa recusa de
Perda dos
entidades civis e militares de internação obrigação cumprimento
direitos
legal imposta da prestação
coletiva; a todos alternativa
políticos

Aqui a Constituição Federal garantiu a prestação de


assistência religiosa nas entidades de internação
coletivas, sejam elas civis ou militares. Entidades Podemos afirmar que a liberdade religiosa
de internação coletivas são quartéis, penitenciárias, assegurada pela CF possui uma dimensão positiva e
hospitais ou hospícios. A prestação dessa assistência uma negativa.
não será, evidentemente, realizada pelo Estado, mas ü Negativa, na medida em que assegura aos
sim pelas entidades religiosas (entidades privadas), o indivíduos o exercício dessa liberdade sem
dever do Estado aqui se manifesta na permissão restrição de direitos pelo Estado, implicando
quanto ao exercício dessa liberdade. para o Estado um não fazer;
ü Positiva, na medida em que determina ao
Ainda a respeito da liberdade religiosa destacamos o Estado um comportamento positivo, um
inciso VIII, do art. 5o, um dos mais importantes para fazer, como o de assegurar a prestação de
sua prova, vejamos: assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva.
VIII – ninguém será privado de direitos por
motivo de crença religiosa ou de convicção
A respeito da liberdade religiosa e da laicidade do
filosófica ou política, salvo se as invocar
para eximir-se de obrigação legal a todos
Estado podemos destacar algumas questões
imposta e recusar-se a cumprir prestação relevantes:
alternativa, fixada em lei;
PREÂMBULO DA CF
Estamos diante do instituto da ESCUSA DE Quanto a laicidade do Estado destacamos que o
CONSCIÊNCIA. Este direito permite a qualquer preâmbulo da CF contem a expressão - "sob a
pessoa que, em razão de sua crença ou consciência, proteção de Deus" -, no entanto, de acordo com o
deixe de cumprir uma obrigação imposta sem que STF, o preâmbulo não tem força normativa, é antes
com isso sofra alguma restrição em seus direitos, um norte, um guia para o povo e para os operadores
contudo, tal regra encontra um limite. do direito, por isso a sua previsão não implica em
No caso de uma obrigação imposta a todos, se o violação a laicidade.
indivíduo se recusar ao seu cumprimento, ser-lhe-á
"Nós, representantes do povo brasileiro,
oferecida uma prestação alternativa, previamente reunidos em Assembléia Nacional
prevista em lei, caso também não cumpra a Constituinte para instituir um Estado
prestação alternativa, a Constituição permite que Democrático, destinado a assegurar o
alguns direitos do individuo sejam restringidos. exercício dos direitos sociais e individuais,
Os direitos que serão restringidos serão os direitos a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
políticos e haverá a PERDA desses direitos, de desenvolvimento, a igualdade e a justiça
acordo com a doutrina majoritária, como se observa como valores supremos de uma sociedade
pela leitura do art. 15, IV da CF fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e
Art. 15. É vedada a cassação de direitos comprometida, na ordem interna e
políticos, cuja perda ou suspensão só se internacional, com a solução pacífica das
dará nos casos de: IV – recusa de cumprir controvérsias, promulgamos, sob a
obrigação a todos imposta ou prestação proteção de Deus, a seguinte
alternativa, nos termos do art. 5o, VIII; CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL."
Como estamos diante de uma norma de eficácia
contida, caso o Estado não estabeleça a prestação
alternativa, aquele que deixou de cumprir a

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,13
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
SÍMBOLOS RELIGIOSOS EM também deveria ser estendida as escolas
REPARTIÇÕES PÚBLICAS e particulares.
FERIADOS RELIGIOSOS De acordo com o STF (27/09/2017) o Ensino
Nesse tema também se enquadra o posicionamento religioso prestado nas escolas públicas poderá ter
da jurisprudência quanto a presença de símbolos natureza confessional, ficando a critério da escola
religiosos em repartições públicas. O optar pelo ensino confessional ou não confessional.
entendimento atual considera que a presença dos Veja a decisão:
mesmos decorre da cultura nacional e não ofende a O Plenário (...) julgou improcedente pedido
laicidade do estado, seria um símbolo cultural. O formulado em ação direta na qual se discute
mesmo pode ser entendido para os feriados o ensino religioso nas escolas públicas do
religiosos. país. Conferiu interpretação conforme à
Constituição ao art. 33, caput, e §§ 1º e 2º,
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases
Em respeito a liberdade religiosa, em especial a da Educação Nacional - LDB), e ao art. 11,
proteção aos locais de culto, a CF assegura a § 1º, do acordo Brasil-Santa Sé aprovado
imunidade tributária para os templos religiosos. Art. por meio do DL 698/2009 e promulgado por
150, VI, b: meio do Decreto 7.107/2010, para assentar
que o ensino religioso em escolas públicas
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias pode ter natureza confessional. Entendeu
asseguradas ao contribuinte, é vedado à que o poder público, observado o binômio
União, aos Estados, ao Distrito Federal e laicidade do Estado (...) e consagração da
aos Municípios: liberdade religiosa no seu duplo aspecto
VI - instituir impostos sobre: (...), deverá atuar na regulamentação
integral do cumprimento do preceito
b) templos de qualquer culto;
constitucional previsto no art. 210, § 1º da
De acordo com o STF a maçonaria não tem CF, autorizando, na rede pública, em
imunidade tributária: igualdade de condições, o oferecimento de
ensino confessional das diversas crenças,
A imunidade tributária conferida pelo art. mediante requisitos formais de
150, VI, b, é restrita aos templos de credenciamento, de preparo, previamente
qualquer culto religioso, não se aplicando à fixados pelo Ministério da Educação. Dessa
maçonaria, em cujas lojas não se professa maneira, será permitido aos alunos se
qualquer religião. [RE 562.351, rel. matricularem voluntariamente para que
min. Ricardo Lewandowski, j. 4-9-2012, 1ª possam exercer o seu direito subjetivo ao
T, DJE de 14-12-2012.] ensino religioso como disciplina dos
horários normais das escolas públicas. O
ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS ensino deve ser ministrado por integrantes,
PÚBLICAS devidamente credenciados, da confissão
religiosa do próprio aluno, a partir de
Outro tema interessante é a respeito da disciplina de
chamamento público já estabelecido em lei
ensino religioso nas escolas públicas de ensino para hipóteses semelhantes (...) e,
fundamental, que é de matrícula facultativa, é preferencialmente, sem qualquer ônus para
disciplina ofertada nos horários normais das aulas, o poder público.
conforme art. 210 da CF: [ADI 4.439, rel. p/ o ac. min. Alexandre de
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos Moraes, j. 27-9-2017, P, Informativo879.]
para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e
respeito aos valores culturais e artísticos, LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO
nacionais e regionais. A CF assegura o direito a liberdade de locomoção
§ 1º O ensino religioso, de matrícula
que significa o direito de ir, vir e permanecer. O
facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de inciso XV do artigo 5o já diz:
ensino fundamental. XV – é livre a locomoção no território
Apesar da facultatividade estar mencionada apenas nacional em tempo de paz, podendo
nas escolas públicas, Pedro Lenza entende que qualquer pessoa, nos termos da lei, nele

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,14
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
entrar, permanecer ou dele sair com seus Lembra-se que a liberdade de locomoção por não ser
bens; um direito absoluto permite a sua restrição quando
em conflito com outros direitos fundamentais.
Assim, a liberdade de locomoção é assegurada de
forma livre em tempos de paz, desse modo, em
Caso a liberdade de locomoção seja restringida por
regra, ninguém será preso em tempos de paz, senão
ilegalidade ou abuso de poder a Constituição prevê
em flagrante delito ou por ordem escrita e
um remédio constitucional, uma solução a esse
fundamentada de autoridade judiciária competente,
problema através do Habeas Corpus.
nos termos do art. 5o, LXI:
Art. 5o, LXVIII – conceder-se-á “habeas-
corpus” sempre que alguém sofrer ou se
LXI - ninguém será preso senão em
achar ameaçado de sofrer violência ou
flagrante delito ou por ordem escrita e
coação em sua liberdade de locomoção, por
fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão ilegalidade ou abuso de poder;
militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;
Perceba que o direito explanado no inciso XV não LIBERDADE PROFISSIONAL
possui caráter absoluto haja vista ter sido garantido O art.5o, inciso XII dispõe a respeito da liberdade do
em tempo de paz. Isto significa que em momentos exercício profissional:
de não paz seria possível estabelecer restrições à
liberdade de locomoção. XIII - é livre o exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
Do mesmo modo, destaca-se que em situações qualificações profissionais que a lei
estabelecer;
excepcionais, de instabilidade institucional, como no
Estado de Sítio e no Estado de Defesa esse direito
poderá ser restringido: Apesar da liberdade consagrada na CF, por se tratar
ESTADO DE DEFESA: ART. 136 § 3º Na de norma de eficácia contida, pode ocorrer
vigência do estado de defesa: I - a prisão restrições ao exercício dessa liberdade, através de
por crime contra o Estado, determinada lei. É dizer, as pessoas são livres para o exercício de
pelo executor da medida, será por este qualquer trabalho, oficio ou profissão, contudo, caso
comunicada imediatamente ao juiz a lei estabeleça alguma exigência, como
competente, que a relaxará, se não for legal, qualificação, nível superior, para que a pessoa
facultado ao preso requerer exame de corpo exerça a atividade, essa deverá cumprir o previsto na
de delito à autoridade policial. lei, se não cumprir o previsto na lei a pessoa poderá
ser responsabilizada pelo exercício ilegal de
ESTADO DE SÍTIO: ART. 139 Art. 139. Na
vigência do estado de sítio decretado com
profissão, previsto no art. 37 da Lei das
fundamento no art. 137, I, só poderão ser contravenções penais.
tomadas contra as pessoas as seguintes Contudo, entendeu o STF que nem todas as
medidas: I - obrigação de permanência em profissões podem sofrer restrições ou condições
localidade determinada; II - detenção em legais para o seu exercício, uma vez que a regra é a
edifício não destinado a acusados ou liberdade. De acordo com a decisão apenas quando
condenados por crimes comuns; houver potencial lesivo na atividade é que poderá
haver restrições.
Outro ponto interessante refere-se à possibilidade de Dessa forma, entendeu o STF como
qualquer pessoa entrar, permanecer ou sair do país inconstitucional a exigência de inscrição em
com seus bens, nos termos da lei. Este direito conselho de fiscalização profissional para a
também não pode ser encarado de forma absoluta, atividade de músico, uma vez que tal
haja vista que esse direito deve ser exercido nos atividade não tem potencial lesivo.
termos da lei, assim há a possibilidade de se exigir Nem todos os ofícios ou profissões podem
declaração de bens ou pagamento de imposto ser condicionados ao cumprimento de
quando da entrada da pessoa no país com bens. condições legais para o seu exercício. A
regra é a liberdade. Apenas quando houver

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,15
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
potencial lesivo na atividade é que pode ser ü Locais abertos ao público: não pode ser
exigida inscrição em conselho de realizado em espaço privado, ainda que em percurso
fiscalização profissional. A atividade de móvel.
músico prescinde de controle. Constitui, ü Independente de autorização – não precisa
ademais, manifestação artística protegida
de autorização, significa dizer que as autoridades
pela garantia da liberdade de
expressão.[RE 414.426, rel. min. Ellen
não dispõem de competência e discricionariedade
Gracie, j. 1º-8-2011, P, DJE de 10-10- para decidir pela conveniência, ou não, da realização
2011.] = RE 795.467 RG, rel. min. Teori da reunião e não podem interferir indevidamente em
Zavascki, j. 5-6-2014, P, DJE de 24-6-2014, uma reunião realizada de forma lícita e pacífica,
com repercussão geral quando não haja lesão ou perturbação à ordem
pública;
Também entendeu o STF como
ü Necessidade de prévio aviso: o direito de
constitucional o exame de ordem (OAB)
reunião independe de autorização, contudo se faz
como requisito necessário ao exercício da
necessário o aviso (comunicação) à autoridade
advocacia. (RE 603.583)
competente para que se adote as medidas necessárias
para garantia da ordem e da segurança pública,
como por exemplo a organização do trânsito no local
LIBERDADE DE REUNIÃO da manifestação, bem como para não frustrar outra
Primeiramente destaca-se que este direito decorre do reunião previamente convocada.
fundamento constitucional do Pluralismo Político, ü Não frustrar outra reunião convocada
bem como se identifica com a liberdade de anteriormente para o mesmo local – é a garantia
expressão e manifestação do pensamento, assim de isonomia no exercício do direito prevalecendo o
podemos dizer que o direito de reunião é um direito- de quem exerceu primeiro.
meio utilizado para se viabilizar a manifestação do
pensamento e a liberdade de expressão, tratando-se Pacífica

de união de pessoas, em caráter temporário, que


visam expressar alguma ideia ou objetivo em Aviso Prévio
• Não frustrar Sem armas
comum. Trata-se de direito individual, mas de outra reunião
• Organização

exercício coletivo. REUNIÃO

A CF estabelece as características desse direito:


XVI – todos podem reunir-se pacificamente,
Não precisa de Local aberto
sem armas, em locais abertos ao público, autorização ao Público

independentemente de autorização, desde


que não frustrem outra reunião Extrai-se do referido direito alguns elementos:
anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente; a) Elemento subjetivo: é necessário um
conjunto de pessoas para o exercício desse
Podemos enumerá-las: direito que não pode ser realizado de forma
ü Reunião pacífica: a finalidade desse direito individual, o seu exercício, portanto é
é a manifestação pacífica e lícita da liberdade de necessariamente coletivo;
expressão, não se legitima uma reunião que tenha b) Elemento temporal: refere-se a
fins não-pacíficos; temporariedade do direito, a reunião deve ser
ü Sem armas: trata-se de vedação a uma temporária, com inicio e fim pré-
reunião armada, significa sem armas brancas ou de determinado.
fogo, a ideia é evitar a violência ou coação por meio c) Elemento espacial: deve ser realizada em
do uso de armas. Ressalta-se que se um ou alguns local aberto ao público, de forma estática ou
dos manifestantes portarem armas não torna o em movimento
exercício do direito de reunião inconstitucional, d) Elemento objetivo: a reunião deve ser
devendo a autoridade policial retirar o manifestante realizada de forma pacífica, sem armas.
armado, prosseguindo o direito de reunião dos e) Elemento formal: refere-se aqui a
demais participantes. necessidade de aviso prévio à autoridade
competente, para não frustrar outra reunião
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,16
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
anteriormente convocada para o mesmo
local.
ESTADO • Restrição
f) Elemento teleológico: as pessoas em uma DE DEFESA Reunião
reunião devem ter um ideal em comum, um
mesmo propósito, mesma finalidade, que ESTADO • Suspensão
pode ser política, religiosa, artística ou DE SÍTIO Reunião
filosófica. Sabe-se que o direito de reunião é
um direito meio, um instrumento para o
exercício do direito fim que é a liberdade de
manifestação do pensamento. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO
As associações pressupõem a união de pessoas, que
Caso ocorra lesão ou ameaça ao exercício do direito se organizam, com caráter permanente, em
de reunião, por ilegalidade ou abuso de poder, o decorrência de uma ideia ou interesse em comum.
remédio constitucional será o Mandado de Assim, podemos dizer que o direito de associação
Segurança e não o Habeas Corpus. depende do preenchimento de 3 requisitos:
a) Pluralidade de pessoas - Trata-se de direito
O direito de reunião é norma constitucional de individual, mas de exercício coletivo.
eficácia contida, uma vez que esse direito poderá b) Caráter permanente;
sofrer restrição durante o Estado de Defesa e poderá c) Interesse em comum – ato de vontade.
ser suspenso durante o Estado de Sítio. Vejamos:
ESTADO DE DEFESA: A CF assegura o exercício desse direito de forma
Art. 136. O Presidente da República pode, plena, mas não absoluta, vejamos:
ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, decretar XVII é plena a liberdade de associação para
estado de defesa para preservar ou fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
prontamente restabelecer, em locais
restritos e determinados, a ordem pública A CF proíbe a criação de associações que tenham
ou a paz social ameaçadas por grave e finalidade ilícita, reforçando a proibição de criação
iminente instabilidade institucional ou de associações com caráter paramilitar. Entende-se
atingidas por calamidades de grandes como associação de caráter paramilitar, toda
proporções na natureza. organização paralela ao Estado, sem legitimidade,
§ 1º O decreto que instituir o estado de com estrutura e organização tipicamente militar. São
defesa determinará o tempo de sua duração, as facções criminosas, milícias ou qualquer outra
especificará as áreas a serem abrangidas e organização que possua fins ilícitos e alheios aos do
indicará, nos termos e limites da lei, as
Estado.
medidas coercitivas a vigorarem, dentre as
seguintes:
A finalidade lícita de que trata o direito à associação
não está ligada somente às normas de direito penal,
I - restrições aos direitos de:
mas se estende ao Direito como um todo.
a) reunião, ainda que exercida no seio das
associações;
XVIII a criação de associações e, na forma
ESTADO DE SÍTIO da lei, a de cooperativas independem de
Art. 139. Na vigência do estado de sítio autorização, sendo vedada a interferência
decretado com fundamento no art. 137, I, só estatal em seu funcionamento;
poderão ser tomadas contra as pessoas as A CF ainda dispõe que a criação dessas associações
seguintes medidas: é livre, ou seja, para criar uma associação não será
IV - suspensão da liberdade de reunião; preciso anuência ou autorização do Estado, sendo
ainda vedada interferência estatal no funcionamento
e criação das associações. Ademais, as associações
não precisam de personalidade jurídica para que
tenham a proteção constitucional.
Já a criação de cooperativas também é livre, mas
dependerá de lei.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,17
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
(genérica) não é suficiente para legitimar a atuação
das associações na representação.
XIX as associações só poderão ser
compulsoriamente dissolvidas ou ter suas Diferente da situação de representação processual
atividades suspensas por decisão judicial, (XXI) é a substituição processual, que ocorre
exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em quando a associação defende em nome próprio,
julgado; interesse alheio, como quando impetra Mandado de
Segurança Coletivo, nesse caso, de acordo com STF
As associações podem ter suas atividades suspensas a associação não precisará de autorização expressa e
ou dissolvidas de forma compulsória apenas através específica, bastando a autorização genérica do ato de
de decisão judicial, caso tenham finalidade ilícita, constituição da associação9.
ou seja, se a associação tiver finalidade lícita ela não
poder ter suas atividades suspensas ou ser dissolvida A respeito da atuação das associações em
compulsoriamente. defesa de seus filiados, merece destaque a
No caso da dissolução, que importa no encerramento jurisprudência do STF que entende que as
definitivo da associação, por ser uma medida mais associações não possuem legitimidade para
grave, não basta qualquer decisão judicial, tem que deduzir interpelação judicial como medida
ser transitada em julgado, ou seja, uma decisão preparatória de ação penal em defesa da
judicial definitiva, que não cabe mais recurso. honra de seus associados. Explica-se:
Contudo, para a suspensão não é necessário que a O art. 144 do Código Penal trata da chamada
decisão tenha transitado em julgado. interpelação judicial nos crimes contra a honra, esse
Trânsito em
dissolução
Decisão julgado 9
REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA
judicial CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no artigo 5º,
decisão não
suspensão inciso XXI, da Carta da República encerra representação
definitiva
específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da
associação a revelar a defesa dos interesses dos associados.
TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS.
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação
proposta por associação, é definida pela representação no
XX – ninguém poderá ser compelido a processo de conhecimento, presente a autorização expressa
associar-se ou a permanecer associado; dos associados e a lista destes juntada à inicial. (RE 573232,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/
O inciso XX tutela a chamada Liberdade Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
Associativa pela qual ninguém será obrigado a se 14/05/2014, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG
associar ou mesmo a permanecer associado a 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014 EMENT VOL-02743-01 PP-
qualquer entidade associativa. 00001)

"CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.


XXI as entidades associativas, quando SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA:
expressamente autorizadas, têm DESNECESSIDADE. OBJETO A SER PROTEGIDO PELA
legitimidade para representar seus filiados SEGURANÇA COLETIVA. C.F., ART. 5º, LXX, b. MANDADO SE
judicial ou extrajudicialmente; SEGURANÇA CONTRA LEI EM TESE: NÃO CABIMENTO.
SÚMULA Nº 266-STF. I - A legitimação das organizações
Por fim, o inciso XXI permite às associações sindicais, entidade de classe ou associação, para a segurança
representar seus filiados, tanto na esfera judicial, coletiva, é extraordinária, ocorrendo, em tal caso, substituição
quanto na esfera administrativa desde que possuam processual. CF, art. 5º, LXX. II - Não se exige, tratando-se de
expressa autorização, pois atuam em segurança coletiva, a autorização expressa aludida no inc.
representação processual, ou seja, a ação deve ser XXI do art. 5º, CF, que contempla hipótese de representação.
ajuizada em nome do representado para defender o III - O objeto do mandado de segurança coletivo será um
direito dos associados, independentemente de guardar
seu direito, pela associação. De acordo com o STF,
vínculo com os fins próprios da entidade impetrante do writ,
na hipótese de representação processual, a exigindo-se, entretanto, que o direito esteja compreendido
autorização não pode ser genérica, tem que ser nas atividades exercidas pelos associados, mas não se
expressa (obtida através de deliberação em exigindo que o direito seja peculiar, próprio, da classe.
assembleia ou individualmente), de modo que a (...)"Nesse mesmo sentido: RMS nº 21.514, Rel. Min. Marco
autorização apenas no estatuto social da Associação Aurélio (DJU 18/06/93, pág. 12111); e RE nº 175.401-0, Rel.
Min. Ilmar Galvão.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,18
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
instituto nada mais é do que um pedido de restrições estabelecidas na própria CF e nas
explicações em juízo solicitada por aquele que se legislações infraconstitucionais. Vejamos:
achar ofendido. Veja o dispositivo legal:
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou FUNÇÃO SOCIAL DA
frases, se infere calúnia, difamação ou
injúria, quem se julga ofendido pode pedir PROPRIEDADE
explicações em juízo. Aquele que se recusa Apesar da natureza individual da propriedade o seu
a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá uso deve visar os interesses da coletividade, desse
satisfatórias, responde pela ofensa.
modo, a Constituição exige que a propriedade atenda
A interpelação judicial tem caráter facultativo e a sua função social:
preparatório para futura e eventual ação penal
XXIII - a propriedade atenderá a sua função
decorrente de crimes contra a honra. social;
De acordo com o STF10 a legitimidade para
promover esse tipo de procedimento é apenas
daquele que se sente ofendido, uma vez que a O respeito a função social da propriedade é condição
medida tem caráter personalíssimo, e não das para o exercício do direito de propriedade, ademais a
associações ou de qualquer outro ente coletivo. função social da propriedade é classificado como
princípio da ordem constitucional econômica, no
artigo 170, inciso III, e das políticas urbana (artigo
DIREITO A PROPRIEDADE 182, §2º) e agrícola e fundiária (artigo 186).
A CF assegura o direito a propriedade de
bens móveis, imóveis, materiais e imateriais, Art. 170. A ordem econômica, fundada na
impedindo a intervenção por parte do Estado e dos valorização do trabalho humano e na livre
particulares de forma arbitrária. Relembra-se que o iniciativa, tem por fim assegurar a todos
direito de propriedade é um direito de natureza civil, existência digna, conforme os ditames da
ou seja, um direito de primeira geração. justiça social, observados os seguintes
O art. 1228 do Código Civil dispõe a respeito princípios:
(...)
dos atributos decorrentes do direito de propriedade
II - propriedade privada;
que são: (i) usar; (ii) gozar; (iii) dispor; (iv) reaver, III - função social da propriedade;

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade Art. 182. A política de desenvolvimento


de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito urbano, executada pelo Poder Público
de reavê-la do poder de quem quer que municipal, conforme diretrizes gerais
injustamente a possua ou detenha. fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais
da cidade e garantir o bem- estar de seus
O texto constitucional garante este direito de habitantes.
forma expressa: § 2º A propriedade urbana cumpre sua
XXII - é garantido o direito de propriedade. função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
Para a maior parte da doutrina o direito a
propriedade, apesar de mesclar elementos de direito Art. 186. A função social é cumprida
privado, é instituto de DIREITO PÚBLICO, eis quando a propriedade rural atende,
que seu fundamento é Constitucional. simultaneamente, segundo critérios e graus
Esse direito assim como os demais direitos de exigência estabelecidos em lei, aos
fundamentais não é absoluto possuindo diversas seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos
10 naturais disponíveis e preservação do meio
Pet 1249 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal
ambiente;
Pleno, julgado em 20/03/1997, DJ 09-04-1999 PP-00026
EMENT VOL-01945-01 PP-00041 III - observância das disposições que
regulam as relações de trabalho;
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,19
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
IV - exploração que favoreça o bem-estar Esse artigo traz três situações distintas: a) utilidade
dos proprietários e dos trabalhadores. pública; b) necessidade pública e c) interesse social.
Vamos ver a diferença entre elas:

Pelos dispositivos acima observa-se que a ü “utilidade pública”: ocorre para atendimento ao
Propriedade Urbana atende a sua função social interesse público, por conveniência social, vez que
quando cumpre o plano diretor do Município, sua utilização trará mais benefícios para a população
enquanto que a propriedade rural atende a função de modo geral.
social quando cumpre os requisitos estabelecidos ü “necessidade pública” ocorre da mesma forma
pela própria CF, como por exemplo a preservação que a utilidade pública, mas em situações de
do meio ambiente. emergência.
Ressalta-se que caso a propriedade não atenda a sua ü “interesse social”, ocorre para dirimir as
função social o Estado poderá impor sanções que em desigualdades sociais, utilizando a propriedade em
último caso poderá gerar a desapropriação, a perda benefício, principalmente, das camadas sociais
da propriedade. menos favorecidas.

Deve ser destacado que esta modalidade de


DESAPROPRIAÇÃO desapropriação gera direito à indenização que deve
ser paga de forma prévia, em dinheiro e com valor
Uma das formas de intervenção do Estado na
justo.
propriedade é através da chamada desapropriação
Qualquer um dos entes federativos (União, estados,
que ocorre quando o Estado, através de
municípios e o DF) podem promover essa
procedimento específico, transfere para si
modalidade de desapropriação.
propriedade particular. É forma de aquisição
originária da propriedade, porque não decorre de
ATENÇÃO: De acordo com o art. 185 da CF, a
um título anterior.
pequena e média propriedade, se o proprietário não
Existem três modalidades de desapropriação que
tiver outra, e a propriedade produtiva, não poderão
merecem nossa atenção:
ser desapropriadas para fim de reforma agrária:
Art. 185. São insuscetíveis de
Desapropriação por necessidade ou desapropriação para fins de reforma
utilidade pública e interesse social agrária:
I - a pequena e média propriedade rural,
Esta modalidade de desapropriação é utilizada pelo assim definida em lei, desde que seu
Estado quando o interesse social ou a utilidade proprietário não possua outra;
pública prevalecem sobre o direito individual. Neste II - a propriedade produtiva.
tipo de desapropriação, destaca-se que o proprietário
nada fez para merecê-la, contudo, o interesse
público exige que determinada área seja Desapropriação sanção
desapropriada. É a aplicação pura e simples do
Nesta modalidade, o proprietário, por algum motivo
principio administrativo da Supremacia do interesse
não observou a função social da propriedade e por
público sobre o interesse privado. É o caso, por
isso poderá ter sua propriedade desapropriada.
exemplo, de construção de uma rodovia que exige a
Contudo, a desapropriação só deve ser aplicada
desapropriação de várias propriedades para o
como última medida punitiva, quando outras
asfaltamento da via. Veja o que diz o texto da
medidas não foram atendidas. Por este motivo é
Constituição:
chamada de Desapropriação-sanção haja vista ser
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento uma verdadeira punição. Segundo a CF, esta
para desapropriação por necessidade ou desapropriação gera direito à indenização, que
utilidade pública, ou por interesse social, deverá ser prévia, com valor justo, mas não em
mediante justa e prévia indenização em dinheiro e sim em títulos da dívida pública ou
dinheiro, ressalvados os casos previstos agrária.
nesta Constituição;

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,20
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Essa modalidade de desapropriação pode ser tanto títulos da
da propriedade urbana quanto da propriedade rural, dívida pública
vejamos como ocorre cada uma delas: Município
A desapropriação sanção do imóvel urbano é resgate de até
chamada de desapropriação urbanística dez anos
sancionatória e está prevista no art. 182, § 4o, III da
CF e nesse caso o ente que vai desapropriar deverá Sanção interesse social
ser o Município, que indenizará a pessoa que foi
desapropriada através de títulos da dívida pública: reforma
Art. 182, § 4o - É facultado ao Poder agrária
Público municipal, mediante lei específica União
para área incluída no plano diretor, exigir, Títulos da
nos termos da lei federal, do proprietário do Dívida Agrária
solo urbano não edificado, subutilizado ou
não utilizado, que promova seu adequado Resgate até
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, vinte anos
de:
I- parcelamento ou edificação Desapropriação confiscatória ou
compulsórios; Expropriação
II - imposto sobre a propriedade predial e
Essa modalidade de desapropriação, ou apenas
territorial urbana progressivo no tempo;
expropriação, ocorre quando a propriedade mais que
III - desapropriação com pagamento
violar a função social acaba por ser utilizada para o
mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado
cometimento de crimes, nesse caso ocorrerá a
Federal, com prazo de resgate de até dez desapropriação confisco ou confiscatória, que tem
anos, em parcelas anuais, iguais e caráter sancionatório, pois o proprietário não será
sucessivas, assegurados o valor real da indenizado e encontra-se prevista no art. 243 da CF:
indenização e os juros legais.
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas
de qualquer região do País onde forem
A desapropriação sanção do imóvel rural, chamada localizadas culturas ilegais de plantas
de desapropriação rural sancionatória, está psicotrópicas ou a exploração de trabalho
prevista no art. 184 da Constituição, e se dá por escravo na forma da lei serão expropriadas
e destinadas à reforma agrária e a
interesse social para fins de reforma agrária, o ente
programas de habitação popular, sem
que deve desapropriar será a União, que indenizará qualquer indenização ao proprietário e sem
em títulos da dívida agrária: prejuízo de outras sanções previstas em lei,
Art. 184. Compete à União desapropriar observado, no que couber, o disposto no art.
por interesse social, para fins de reforma 5o.
agrária, o imóvel rural que não esteja Parágrafo único. Todo e qualquer bem de
cumprindo sua função social, mediante valor econômico apreendido em decorrência
prévia e justa indenização em títulos da do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
dívida agrária, com cláusula de afins e da exploração de trabalho escravo
preservação do valor real, resgatáveis no será confiscado e reverterá a fundo especial
prazo de até vinte anos, a partir do segundo com destinação específica, na forma da lei.
ano de sua emissão, e cuja utilização será (Redação da EC 81/2014)
definida em lei.
Alguns autores não consideram a hipótese tratada no
artigo 243 da CF como espécie de desapropriação,
mas simplesmente como confisco (ex: Pedro Lenza).
Incide tanto em propriedades urbanas quanto em
áreas rurais, onde forem localizadas culturas ilegais
de plantas psicotrópicas ou a exploração de
trabalho escravo.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,21
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A lei 8257/1991 regulamenta o procedimento de proprietário indenização ulterior, se houver
expropriação, que deve ser feita através de uma ação dano;
judicial expropriatória.
As áreas deverão ser destinadas à reforma agrária ou A requisição é a ocupação ou uso temporário, por
a programas de habitação popular sem direito à autoridades públicas, de bens ou serviços, no caso
indenização para o proprietário e este poderá ainda de iminente perigo público.
ser processado pela prática de ilícito penal. Este instituto permite que o uso da propriedade seja
Quanto a natureza da responsabilidade do limitado, em caráter temporário, pela necessidade
proprietário decidiu o STF que pode o proprietário de se solucionar situação de perigo público. Não se
afastar a sua responsabilidade se demonstrar que não trata de uma forma de desapropriação, pois o dono
incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in da propriedade requisitada não a perde, apenas a
elegendo, ou seja, deve ser aplicada a empresta para uso público sendo garantido
responsabilidade subjetiva. (RE 635.336) posteriormente, em havendo dano, direito a
ü in vigilando - falta de atenção com indenização. É medida direta e autoexecutória,
procedimento de outra pessoa. pois não depende de acordo ou procedimento
ü in eligendo - má escolha daquele a quem se judicial.
confia a prática de um ato. Observa-se que se assegura ao particular uma
indenização na hipótese de ocorrência de dano, veja
Cultivo ilegal de plantas psicotrópicas. que não se indeniza o mero uso da propriedade, mas
Expropriação. Art. 243 da CF/88. Regime tão somente o dano caso ocorra.
de responsabilidade. Emenda Ademais, a indenização será sempre posterior
Constitucional 81/2014. Inexistência de (ulterior) e nunca anterior, pois não há como se
mudança substancial na responsabilidade antever o dano e a sua extensão.
do proprietário. Expropriação de caráter Logo pode-se afirmar que a requisição é
sancionatório. Confisco constitucional.
compulsória e a cessão é gratuita.
Responsabilidade subjetiva, com inversão
de ônus da prova. Fixada a tese: “A
A requisição pode ser civil ou militar. Militar, por
expropriação prevista no art. 243 da CF exemplo em caso de conflito armado e civil, por
pode ser afastada, desde que o proprietário exemplo para evitar danos aos bens da coletividade.
comprove que não incorreu em culpa, ainda
que in vigilando ou in eligendo”. Ressalta-se que durante o Estado de sítio é possível
[RE 635.336, rel. min. Gilmar Mendes, j. também a requisição de bens.
14-12-2016, P, DJE de 15-9-2017, tema Art. 139. Na vigência do estado de sítio
399.] decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as
seguintes medidas:
VII - requisição de bens.
Necessidade, utilidade
Sanção- por interesse
pública ou interesse Confisco
social
social
• Prévia
• Justa
• Prévia
• Justa
•Sem indenização IMPENHORABILIDADE DO BEM
• Em dinheiro • Títulos da dívida
pública ou agrária
DE FAMÍLIA
A Constituição no art. 5o inciso XXVI consagra uma
forma de proteção às pequenas propriedades rurais
chamada de Bem de Família, afirmando que essas
não podem ser objeto de penhora para garantia de
REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA dívidas, débitos decorrentes da atividade da
propriedade, vejamos:
O inciso XXV do artigo 5º prevê a chamada
Requisição Administrativa. XXVI - a pequena propriedade rural, assim
definida em lei, desde que trabalhada pela
XXV - no caso de iminente perigo público, a família, não será objeto de penhora para
autoridade competente poderá usar de pagamento de débitos decorrentes de sua
propriedade particular, assegurada ao
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,22
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os herdeiros qualifica o direito autoral como sendo
meios de financiar o seu desenvolvimento; VITALÍCIO, contudo, após o falecimento do autor
o direito é limitado pela Lei 9.610/9811, para os
Observe que a proteção é para uma modalidade herdeiros, que estabelece o prazo de 70 anos, após
específica de propriedade, de modo que para sua esse prazo o direito cai em domínio público,
prova é preciso se atentar aos requisitos podendo ser livremente explorada, ou seja, para o
estabelecidos no inciso, quais sejam: autor o direito autoral é vitalício, mas após a sua
ü Pequena propriedade rural – a propriedade morte, para os herdeiros, esse direito passa a ser
para ser impenhorável deve ser pequena e temporário.
rural, não se trata de qualquer propriedade. Ademais, caso o autor não tenha herdeiros, após o
ü Trabalhada pela família – a propriedade seu falecimento o direito autoral pertencerá ao
deve ser explorada pelo agricultor e sua domínio público12.
família, sem empregados, ainda que seja
possível a eventual ajuda de terceiros. Destaca-se a Súmula 386 do STF:
ü Débitos decorrentes da atividade Pela execução de obra musical por artistas
produtiva – para que a propriedade não seja remunerados é devido direito autoral, não
penhorada necessariamente o débito deve exigível quando a orquestra fôr de
decorrer da atividade produtiva do imóvel amadores.
rural.

PROPRIEDADE IMATERIAL – PROPRIEDADE INDUSTRIAL


Já a propriedade industrial encontra-se protegida no
PROPRIEDADE INTELECTUAL
inciso XXIX:
Além das propriedades sobre bens materiais, a
XXIX - a lei assegurará aos autores de
Constituição também consagra normas de proteção
inventos industriais privilégio temporário
sobre a propriedade de bens imateriais, intelectuais.
para sua utilização, bem como proteção às
A propriedade intelectual abrange: (i) a propriedade criações industriais, à propriedade das
autoral e (ii) a propriedade industrial. marcas, aos nomes de empresas e a outros
signos distintivos, tendo em vista o interesse
PROPRIEDADE AUTORAL social e o desenvolvimento tecnológico e
A propriedade autoral encontra-se protegida nos econômico do País;
incisos XXVII e XXVIII do artigo 5o:
XXVII - aos autores pertence o direito Diferentemente do direito autoral, a propriedade
exclusivo de utilização, publicação ou industrial é um privilégio TEMPORÁRIO. A lei
reprodução de suas obras, transmissível aos que se refere o artigo é a lei 9.279/1996 e de acordo
herdeiros pelo tempo que a lei fixar; com ela o prazo do privilégio previsto na CF pode
XXVIII - são assegurados, nos termos da variar de 7 a 20 anos.
lei:
a) a proteção às participações Uma relação muito interessante entre a propriedade
individuais em obras coletivas e à autoral e a industrial está no tempo de proteção
reprodução da imagem e voz humanas, previsto na Constituição.
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do
aproveitamento econômico das obras que 11
Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos
criarem ou de que participarem aos contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida
criadores, aos intérpretes e às respectivas a ordem sucessória da lei civil.
Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude
representações sindicais e associativas; o caput deste artigo.
12
Os incisos em análise garantem ao autor Art. 45. Além das obras em relação às quais decorreu o
exclusividade de direitos de utilização, publicação prazo de proteção aos direitos patrimoniais, pertencem
ao domínio público:
ou reprodução de suas obras, transmissível aos I - as de autores falecidos que não tenham deixado sucessores;
herdeiros, a possibilidade de transmissão aos
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,23
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Observe que na propriedade autoral, o direito do dano material ou moral decorrente de sua
autor é vitalício tendo em vista a previsão de violação;
possibilidade de transmissão desses direitos aos ü Vida privada (privacidade): é um conceito
herdeiros. Contudo, quando nas mãos dos sucessores mais amplo que a intimidade, englobando tudo o que
a proteção será pelo tempo que a lei fixar, ou seja, queremos que não seja do conhecimento geral,
temporário. Já na propriedade industrial, a proteção relações do individuo com o meio social. Ex: um
do próprio autor já possui caráter temporário. relacionamento amoroso.
ü A intimidade: relacionada ao modo de ser da
pessoa, compreende os segredos e as informações
DIREITO À HERANÇA confidenciais – autoestima, autoconfiança,
O direito a herança permite a transferência – sexualidade. Ex: recordações pessoais, memórias e
sucessão - dos bens acumulados em vida aos diários dentre outras coisas.
herdeiros. ü Imagem: refere-se a captação e difusão sem
A CF assegura esse direito de forma expressa: consentimento da imagem da pessoa.
ü Honra: Reputação do indivíduo perante o
XXX - é garantido o direito de herança; meio social em que vive ou na estimação de si
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros mesmo.
situados no País será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos A violação desses direitos gera a possibilidade de
filhos brasileiros, sempre que não lhes seja indenização por dano moral e material de forma
mais favorável a lei pessoal do “de cujus”;
CUMULATIVA, vejamos o significado de cada um
desses danos:
O inciso XXXI prevê que em caso de sucessão, ü O dano material é o prejuízo econômico
transmissão, de bens de estrangeiros situados no que uma pessoa pode ter em virtude da
Brasil, a regra é a da aplicação da lei brasileira. violação da sua intimidade, vida privada,
Contudo, existe a possibilidade de aplicação da lei honra e imagem.
pessoal do estrangeiro falecido, ou seja, da lei ü O dano moral é a angústia, o sofrimento, a
estrangeira, quando essa lei for mais benéfica, mais dor que uma pessoa sente em virtude da
favorável, ao cônjuge e aos filhos brasileiros. Trata- violação da sua intimidade, vida privada,
se da garantia da Lei sucessória mais benéfica. honra e imagem. Ressalta-se que a
publicação não consentida de fotografia já
viola o direito a imagem gerando dano
DIREITOS À PRIVACIDADE moral, não se exige nesse caso ofensa a
Alguns direitos elencados no art. 5o da CF visam reputação ou a honra do individuo, apenas o
proteger diretamente a privacidade, a intimidade das uso indevido da imagem já causa
pessoas, podemos destacar: a inviolabilidade da desconforto, aborrecimento capaz de gerar
intimidade, vida privada, honra e imagem das dano moral.
pessoas; a inviolabilidade domiciliar; a
inviolabilidade das correspondências e o sigilo das O Estado também pode ser condenado a
comunicações. indenizar, pelo dano moral, particular em
decorrência de ofensas praticadas pelos seus
agentes.
VIDA PRIVADA – INTIMIDADE – A indenização por danos morais decorrente da
HONRA E IMAGEM violação da Honra deve ser assegurada tanto para
pessoas físicas quanto jurídicas (honra objetiva).
Para proteger a privacidade (gênero), sem a A proteção do direito a imagem á autônoma em
interferência de curiosos a CF assegura a relação ao direito a honra, ou seja, não precisa ter
inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e violação a reputação da pessoa para ter violação a
imagem das pessoas (espécies). sua imagem.
X - são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,24
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
DIREITOS À PRIVACIDADE c) Aposento de habitação coletiva, desde que
ocupado.
Alguns direitos elencados no art. 5o da CF visam Assim, o conceito de casa abrange não apenas a
proteger diretamente a privacidade, a intimidade das residência do individuo, mas também escritórios
pessoas, podemos destacar: a inviolabilidade da profissionais, consultórios médicos, trailers, barcos,
intimidade, vida privada, honra e imagem das quarto de hotel.
pessoas; a inviolabilidade domiciliar; a Essa amplitude logicamente não abrange bares,
inviolabilidade das correspondências e o sigilo das restaurantes, uma vez que são locais abertos ao
comunicações. público.

Outra questão relevante é saber O QUE É DIA?


INVIOLABILIDADE A doutrina é bastante controversa nesse ponto, para
alguns, dia deve ser considerado o período das
DOMICILIAR 6h00h às 18h00. Para outros, dia é o período entre o
Através dessa garantia a CF visa proteger o alvorecer e o anoitecer. E para Alexandre de
indivíduo em seu domicilio, na sua casa. Moraes, por exemplo, seria possível a invasão
Vejamos o que a Constituição dispõe: domiciliar com autorização judicial, após as 18:00
horas, desde que, ainda, não seja noite, como por
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo,
exemplo nos estados em que é adotado o horário de
ninguém nela podendo penetrar sem
verão.
consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para Para as provas, as bancas costumam usar as
prestar socorro, ou, durante o dia, por expressões dia e noite facilitando a vida do
determinação judicial; candidato, quando muito a banca informa o período
em que se deve considerar como dia e noite.
Como regra, só se pode entrar na casa de uma Ressalta-se ainda a interpretação do STF a
pessoa com o seu consentimento. Excepcionalmente, respeito da entrada forçada em domicílio, sem
a Constituição Federal admite a entrada sem mandado judicial, no caso de flagrante em
consentimento do morador nos casos de: decorrência de crime permanente, proferida no
ü Flagrante delito recurso extraordinário 603616, que entende ser
ü Desastre possível essa entrada a qualquer hora, inclusive a
ü Prestar socorro noite, desde que haja fundadas razões que indiquem
ü Determinação judicial, apenas durante o que dentro da casa existe uma situação de flagrante:
dia, trata-se de cláusula de reserva
jurisdicional, ou seja, apenas um juiz pode "A entrada forçada em domicílio sem
determinar a invasão domiciliar. Esse direito mandado judicial só é lícita, mesmo em
períodos noturno, quando amparada em
não se estende, portanto, aos membros do
fundadas razões, devidamente justificadas a
Ministério Público e as CPI’s. posteriori, que indiquem que dentro da casa
Contudo, no caso de determinação judicial a entrada ocorre situação de flagrante delito, sob
é autorizada apenas durante o dia, nos demais casos pena de responsabilidade disciplinar, civil e
a entrada é permitida a qualquer momento do dia ou penal do agente ou da autoridade e de
da noite. nulidade dos atos praticados"

Quando a Constituição foi feita em 1988 a ideia De forma excepcional o STF entendeu válida
originária era a proteção apenas da casa, do a entrada em escritório profissional, através de
domicílio, do indivíduo. Contudo, a jurisprudência determinação judicial, durante a noite, para instalar
tem dado um sentido mais amplo ao CONCEITO escuta ambiental e exploração do local.
DE CASA, que deve ser entendido como sendo: EMENTAS: (...) 8. PROVA. Criminal.
a) Qualquer compartimento privado, não aberto ESCUTA AMBIENTAL E EXPLORAÇÃO
ao público, onde alguém exerce suas DE LOCAL. Captação de sinais óticos e
atividades pessoais ou profissionais. acústicos. Escritório de advocacia. Ingresso
b) Qualquer compartimento habitado da autoridade policial, no período noturno,
para instalação de equipamento. Medidas
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,25
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
autorizadas por decisão judicial. Invasão de IV - ingresso forçado em imóveis públicos e
domicílio. Não caracterização. Suspeita particulares, no caso de situação de
grave da prática de crime por advogado, no abandono, ausência ou recusa de pessoa
escritório, sob pretexto de exercício da que possa permitir o acesso de agente
profissão. Situação não acobertada pela público, regularmente designado e
inviolabilidade constitucional. Inteligência identificado, quando se mostre essencial
do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, § 4º, III, para a contenção das doenças.
do CP, e art. 7º, II, da Lei nº 8.906/94.
Preliminar rejeitada. Votos vencidos. Não
opera a inviolabilidade do escritório de De acordo com a doutrina a referida lei não se
advocacia, quando o próprio advogado seja mostra inconstitucional diante da relativização do
suspeito da prática de crime, sobretudo direito à inviolabilidade domiciliar em ponderação
concebido e consumado no âmbito desse com o direito à vida e saúde.
local de trabalho, sob pretexto de exercício
da profissão. (...)(Inq 2424 ED,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 19/08/2010, SIGILO DE CORRESPONDÊNCIA
DJe-203 DIVULG 20-10-2011 PUBLIC 21-
10-2011 EMENT VOL-02612-01 PP-00014)
E DAS COMUNICAÇÕES
A CF protege dentro dos direitos à privacidade as
Lei do mosquito: correspondências e as comunicações dos indivíduos,
A lei federal 13.301/2016 – conhecida como lei do nos seguintes termos:
mosquito - Dispõe sobre a adoção de medidas de XII - é inviolável o sigilo da
vigilância em saúde quando verificada situação de correspondência e das comunicações
iminente perigo à saúde pública pela presença do telegráficas, de dados e das comunicações
mosquito transmissor do vírus da dengue, do telefônicas, salvo, no último caso, por
vírus chikungunya e do vírus da zika. ordem judicial, nas hipóteses e na forma
Dentre as medidas previstas nessa lei esta a que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução
possibilidade de entrada forçada em imóveis
processual penal;
públicos e particulares, no caso de situação de
abandono, ausência ou recusa de pessoa que possa Este dispositivo prevê quatro formas de
permitir o acesso de agente público, regularmente comunicação que possuem proteção constitucional:
designado e identificado, quando se mostre essencial Correspondência; Comunicação telegráfica;
para a contenção das doenças (art. 1o § 1o, IV da lei), Comunicação de dados; Comunicações
veja o dispositivo: telefônicas.
Art. 1o Na situação de iminente perigo à
saúde pública pela presença do mosquito
Destas quatro formas de comunicação, apenas uma
transmissor do vírus da dengue, do obteve autorização Constitucional para sua restrição:
vírus chikungunya e do vírus da zika, a AS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS. Por
autoridade máxima do Sistema Único de comunicações telefônicas entende-se o conteúdo da
Saúde - SUS de âmbito federal, estadual, conversa feita ao telefone durante o momento da sua
distrital e municipal fica autorizada a realização. A violação dessa comunicação se dá
determinar e executar as medidas através da interceptação telefônica (grampos
necessárias ao controle das doenças telefônicos).
causadas pelos referidos vírus, nos termos Contudo, a autorização constitucional não é ampla,
da Lei no 8.080, de 19 de setembro de pois a própria CF estabelece como requisito que a
1990, e demais normas aplicáveis,
restrição dessa comunicação seja determinada
enquanto perdurar a Emergência em Saúde
Pública de Importância Nacional - ESPIN.
apenas através de uma decisão judicial
fundamentada, ou seja, apenas um juiz, poderá
§ 1o Entre as medidas que podem ser
determinar a violação dessa forma de comunicação,
determinadas e executadas para a
contenção das doenças causadas pelos vírus tratando-se de cláusula de reserva jurisdicional.
de que trata o caput, destacam-se: Ademais, o juiz só poderá determinar a quebra das
comunicações telefônicas para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal e nos
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,26
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
estritos termos da lei (lei. 9296/96) – (reserva legal Ademais, a CF permite a restrição do sigilo de
qualificada), é dizer, não pode ser determinada a correspondência nas hipóteses de decretação de
quebra das comunicações telefônicas para estado de defesa e estado de sítio (art. 136 § 1º, I, b
investigação administrativa, em uma ação de e art. 139, III da CF/88).
natureza civil, ou mesmo em um processo de Outrossim, a correspondência é considerada sigilosa
extradição13. enquanto estiver fechada, assim, na hipótese de
Contudo, tal fato não impede que as provas obtidas apreensão de uma carta aberta pela polícia em
através da interceptação telefônica, devidamente cumprimento a determinado mandado judicial, não
autorizadas em investigação criminal ou em haverá quebra de sigilo de correspondência.
instrução processual penal, sejam posteriormente
emprestadas para instruir processo administrativo. COMUNICAÇÕES TELEGRÁFICAS:
em regra inviolável, podendo ser restringida
Entretanto, entende-se que nenhuma liberdade no Estado de defesa e estado de sítio, ou por
individual é absoluta, sendo possível, respeitados ordem judicial em um caso concreto.
certos parâmetros, a interceptação das
correspondências e comunicações telegráficas e de COMUNICAÇÃO DE DADOS 16: por
dados sempre que as liberdades públicas estiverem comunicação de dados entende-se os dados
sendo utilizadas como instrumentos para práticas bancários, fiscais, informáticos e telefônicos. De
ilícitas, ou seja, quando o exercício desse direito acordo com o STF a proteção constitucional refere-
estiver em conflito com outros direitos se a comunicação desses dados e não dos dados em
fundamentais, como por exemplo o direito a vida. si, por esse motivo entendeu que a apreensão do
disco rígido (HD) de um computador não configura
Assim, vamos analisar os principais pontos a quebra de sigilo da comunicação de dados, pois o
respeito dessas formas de comunicação. que fora apreendido são os dados em si e não a sua
comunicação17.
CORRESPONDÊNCIA: em regra A jurisprudência tem permitido sua quebra por
inviolável, contudo, como já ressaltado não existe determinação judicial e por determinação de
direito absoluto, nem mesmo a correspondência de COMISSÃO PARLAMENTAR DE
um indivíduo, dessa forma, se a carta de um INQUÉRITO.
sequestrador for interceptada pela família da ü Dados bancários:
vítima, por exemplo, o sequestrador não vai poder O STF, ao julgar cinco processos que questionavam
alegar que houve a violação ao sigilo de suas a constitucionalidade da LC 105/2001, garantiu ao
correspondências, pois o direito não pode ser Fisco – autoridade tributária - acesso aos dados
utilizado para assegurar o exercício de prática bancários dos contribuintes sem necessidade de
ilícitas. autorização judicial, quando houver processo
Ademais, de acordo com a Lei de Execução Penal administrativo instaurado ou procedimento fiscal em
em seu art. 41, parágrafo único14o diretor do curso, entendendo não se tratar de quebra de sigilo,
estabelecimento prisional pode interceptar a mas de transferência de informações sigilosas.
correspondência de preso, em decisão motivada. Tal Merece destaque a seguinte jurisprudência:
possibilidade portanto é medida excepcional e já foi Não é cabível, em sede de inquérito,
acolhida pelo STF.15 encaminhar à Receita Federal informações
Tem se entendido também pela possibilidade de bancárias obtidas por meio de requisição
quebra do sigilo de correspondência por judicial quando o delito investigado for de
determinação judicial, sempre que em conflito com natureza diversa daquele apurado pelo
outros direitos fundamentais, ponderando-se a sua fisco. Ademais, a autoridade fiscal, em sede
necessidade no caso concreto. de procedimento administrativo, pode

13 16
EEXT 1.021. Min. Celso de Mello, 06.03.2007 Quanto ao TCU – MS 22801; AUTORIDADE FAZENDÁRIA: RE 389808;
MINISTÉRIO PÚBLICO: MS 160646
14
LEP - Art. 41 - Constituem direitos do preso: XV - contato com o mundo 17
exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de (RE 418416, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
informação que não comprometam a moral e os bons costumes. Parágrafo Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2006, DJ 19-12-2006 PP-
único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou
restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.
00037 EMENT VOL-02261-06 PP-01233)
15
STF – HC 70.814-5 – Min. Celso de Mello.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,27
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
utilizar-se da faculdade insculpida no art. 6º A GRAVAÇÃO TELEFÔNICA
da LC 105/2001, do que resulta (CLANDESTINA): A gravação clandestina é a
desnecessário o compartilhamento in casu. captação da conversa por um dos interlocutores.
[Inq 2.593 AgR, rel. min. Ricardo No caso da gravação clandestina entendeu o STF19
Lewandowski, j. 9-12-2010, P, DJE de 15-
que é possível independentemente de autorização
2-2011.]
judicial quando realizada por um dos interlocutores,
quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva
da conversação.
Dessa forma, o Ministério Público não tem
competência (legitimidade) para determinar a CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL
quebra de sigilo de dados bancários de entes AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
privados. Em um único caso, o STF entendeu pela INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
legitimidade do MP para determinar a quebra dos POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
GRAVAÇÃO. CONVERSA TELEFÔNICA
dados bancários de entidade pública, em
FEITA POR UM DOS INTERLOCUTORES,
procedimento investigativo que visava a defesa do SEM CONHECIMENTO DO OUTRO.
patrimônio público – emprego indevido de verba INEXISTÊNCIA DE CAUSA LEGAL DE SIGILO
pública. OU DE RESERVA DE CONVERSAÇÃO.
ü Dados telefônicos ou sigilo telefônico LICITUDE DA PROVA. ART. 5º, XII e LVI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A gravação de
Importante ainda é diferenciar o sigilo das
conversa telefônica feita por um dos
comunicações telefônicas, com o sigilo de interlocutores, sem conhecimento do outro,
dados/registros telefônicos. As comunicações quando ausente causa legal de sigilo ou de
telefônicas referem-se ao conteúdo da conversa feita reserva da conversação não é considerada prova
ao telefone durante o momento da sua realização, ilícita. Precedentes. 2. Agravo regimental
improvido.
enquanto que os dados telefônicos referem-se aos
(AI 578858 AgR,)
registros das chamadas, duração de chamada e
números discados constantes dos registros das
operadoras de telefone. Essa regra, entretanto, não se aplica quando
se tratar de gravação de conversa informal
COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS, entre os policiais e o réu ou investigado, em
importante diferenciarmos as interceptações respeito ao direito do preso de permanecer
telefônicas, das escutas telefônicas, da gravação em silencio.
telefônica.
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: é a captação ILICITUDE DE PROVA. GRAVAÇÃO SEM O
e gravação da conversa telefônica, no mesmo CONHECIMENTO DO ACUSADO.
VIOLAÇÃO DO DIREITO AO SILÊNCIO.
momento em que ela se realiza, por terceira pessoa
É ilícita a gravação de conversa informal entre
sem o conhecimento de qualquer dos interlocutores, os policiais e o conduzido ocorrida quando da
é a forma de comunicação protegida pela CF e lavratura do auto de prisão em flagrante, se não
depende de 3 requisitos: houver prévia comunicação do direito de
ü Ordem Judicial; permanecer em silêncio. O direito de o indiciado
permanecer em silêncio, na fase policial, não
ü Para fins de Investigação criminal ou
pode ser relativizado em função do dever-poder
instrução processual penal; do Estado de exercer a investigação criminal.
ü Nas hipóteses e na forma que a lei Ainda que formalmente seja consignado, no auto
estabelecer. de prisão em flagrante, que o indiciado exerceu
o direito de permanecer calado, evidencia
ofensa ao direito constitucionalmente
ESCUTA TELEFÔNICA: A escuta telefônica é a
assegurado (art. 5º, LXIII) se não lhe foi avisada
captação de conversas feitas por um terceiro, com o previamente, por ocasião de diálogo gravado
conhecimento de apenas um dos interlocutores18 e com os policiais, a existência desse direito. HC
como regra precisa de autorização judicial, sendo
dispensável na hipótese de legítima defesa.
19
RE-QO-RG 583937, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em
18 19/11/2009, publicado em 18/12/2009
HC 91.613 – STF – REL. GILMAR MENDES – 17/09/2012.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,28
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
244.977-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, PRINCÍPIO DA SEGURANÇA NAS
julgado em 25/9/2012.
RELAÇÕES JURÍDICAS –
É ainda possível se falar na restrição das IRRETROATIVIDADE DA LEI
comunicações no estado de defesa e no Este princípio tem como objetivo garantir a
estado de sítio: estabilidade das relações jurídicas, impedindo que o
Estado adote leis retroativas em prejuízo dos
Art. 136. O Presidente da República pode, indivíduos. A referida regra se aplica a todo e
ouvidos o Conselho da República e o qualquer ato normativo infraconstitucional, ou
Conselho de Defesa Nacional, decretar seja, uma lei ordinária, complementar, de ordem
estado de defesa para preservar ou pública ou dispositiva20. Veja o que diz a
prontamente restabelecer, em locais Constituição:
restritos e determinados, a ordem pública
ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou XXXVI - a lei não prejudicará o direito
atingidas por calamidades de grandes adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
proporções na natureza. julgada;
§ 1º O decreto que instituir o estado de
Em linhas gerais podemos assim conceituar os três
defesa determinará o tempo de sua duração,
institutos mencionados:
especificará as áreas a serem abrangidas e
indicará, nos termos e limites da lei, as
medidas coercitivas a vigorarem, dentre as Direito Adquirido: é o direito já incorporado ao
seguintes: patrimônio do titular, ou seja, se um indivíduo
I - restrições aos direitos de: preenche todos os requisitos para a aquisição de um
b) sigilo de correspondência; determinado direito sob a vigência de uma lei, caso
c) sigilo de comunicação telegráfica e uma lei posterior altere esse direito, em prejuízo do
telefônica; individuo, essa lei nova não poderá retirar-lhe o
Art. 139. Na vigência do estado de sítio
direito, então adquirido. Destaca-se que o direito
decretado com fundamento no art. 137, I, só não precisa ter sido exercido para ser considerado
poderão ser tomadas contra as pessoas as como adquirido.
seguintes medidas: Não confunda as hipóteses de direito adquirido com
III - restrições relativas à inviolabilidade da expectativa de direito, essa refere-se à
correspondência, ao sigilo das possibilidade de adquirir um determinado direito
comunicações, à prestação de informações previsto em lei, enquanto aquela é a aquisição
e à liberdade de imprensa, radiodifusão e efetiva do direito através da implementação de todos
televisão, na forma da lei; os requisitos legais vigentes.

O STF entende não existir direito adquirido nas


DIREITOS DE SEGURANÇA – seguintes situações:
GARANTIAS INDIVIDUAIS a) Uma nova Constituição – Poder Constituinte
originário. Obs: tem direito adquirido em
CONCEITO face de emenda constitucional.
A CF assegura de forma genérica o direito a b) Mudança de moeda – padrão monetário;
c) Criação ou aumento de tributos;
segurança no caput do seu art. 5o, a segurança a que
se refere a Constituição não é a segurança pública d) Mudança de regime jurídico estatutário.
CUIDADO: A respeito de vantagens pessoais
(polícia), mas sim segurança nas relações jurídicas,
sejam elas de natureza processual ou não. São adquiridas por servidores públicos já decidiu o STF
também chamadas de Garantias individuais. Essas que a revogação por lei posterior viola o direito
garantias podem estar relacionadas: (i) a segurança adquirido:
jurídica; (ii) a garantias de natureza penal; (iii) EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO
garantias de natureza processual. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

20
RE 204.769/RS.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,29
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ADMINISTRATIVO. QUINQUENIO. LEI material e formal. É material, quando a decisão
NOVA. EXTINÇÃO DO ADICIONAL POR torna-se efetivamente imutável em qualquer
TEMPO DE SERVIÇO. DIREITO processo, e formal, quando no processo não
ADQUIRIDO. PRECEDENTES. 1. O comporta mais recurso.
Supremo Tribunal Federal fixou
A respeito do dispositivo constitucional destacamos
entendimento no sentido de que a lei nova
não pode revogar vantagem pessoal já
a Súmula 654 do STF:
incorporada ao patrimônio do servidor sob
pena de ofensa ao direito adquirido. 2. A A garantia da irretroatividade da lei,
verificação, no caso concreto, da prevista no art. 5º, XXXVI, da CF, não é
ocorrência, ou não, de violação do direito invocável pela entidade estatal que a tenha
adquirido, do ato jurídico perfeito e da editado.
coisa julgada situa-se no campo
[Súmula 654.]
infraconstitucional. Agravo regimental a
que se nega provimento.
Ademais, a regra da irretroatividade é relativizada
(AI 762863 AgR, Relator(a): Min. EROS no âmbito penal, uma vez que a lei penal mais
GRAU, Segunda Turma, julgado em benéfica para o réu poderá retroagir.
20/10/2009, DJe-213 DIVULG 12-11-2009
PUBLIC 13-11-2009 EMENT VOL-02382- Art. 5o. XL - a lei penal não retroagirá,
11 PP-02240) salvo para beneficiar o réu;

Imagine que um servidor tenha tomado posse no dia


01 de janeiro de 2017, e nessa data estava vigente a DEVIDO PROCESSO LEGAL
Lei A que estabelecia um adicional por tempo de
O devido processo legal é um princípio comum a
serviço de 0,5% do vencimento para cada ano de
todas as demais garantias relacionadas a efetivação
efetivo exercício, e que em outubro de 2017 foi
da justiça, surge como uma defesa dos indivíduos
publicada a lei B revogando a referida vantagem,
contra os abusos do Estado, impondo a ele um limite
nesse caso não poderá o servidor invocar o direito
ao seu poder, condicionando a restrição da liberdade
adquirido para manter o regime jurídico existente na
de alguém ou a privação de seus bens à existência de
data da sua posse, entretanto, se o servidor já tivesse
um procedimento legalmente estabelecido, no qual
completado um ano faria jus ao benefício apenas
se respeite todos os direitos e garantias processuais
daquele ano, uma vez que o direito já estaria sido
previstos na CF e na lei. É o que diz o inciso LIV do
incorporado ao seu patrimônio, contudo, não fará jus
artigo 5º:
ao benefício cumulativo nos anos seguintes como
previa a lei que foi revogada.
LIV - ninguém será privado da liberdade ou
ATO JURÍDICO PERFEITO de seus bens sem o devido processo legal;
É aquele ato que no momento da sua realização
preencheu todos os requisitos formais necessários
A exigência constitucional do devido processo legal
exigidos pela lei vigente, não podendo dessa forma
aplica-se aos processos em geral, ou seja, tanto aos
ser prejudicado por uma lei posterior. É um
processos judiciais quanto aos processos
complemento ao direito adquirido, vale dizer, o ato
administrativos.
jurídico perfeito está compreendido no direito
Esse direito/princípio possui dois sentidos
adquirido, isso porque não existe direito adquirido
(acepções):
se não for decorrente de um ato jurídico perfeito.
ü Acepção processual (formal) que garante
aos indivíduos o direito de ter um julgamento
COISA JULGADA
adequado de acordo com um procedimento
A coisa julgada acontece quando uma decisão
previamente estabelecido. Essa acepção tem
judicial transita em julgado, ou seja, não comporta
como principal destinatário o juiz que deverá
mais recurso, tornando-se imutável. A lei dessa
observar as regras processuais na condução
forma não poderá violar uma decisão judicial
do processo.
transitada em julgado, pois ela estará protegida pela
coisa julgada. A coisa julgada classifica-se em
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,30
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ü Acepção substancial (material) está ligada a Contraditório é o direito de tomar conhecimento e
ideia de se assegurar um processo justo e contradizer, contrariar, contraditar o que lhe foi
adequado, pautado pelos critérios da justiça, imputado.
da razoabilidade e da proporcionalidade. Já a Ampla Defesa é a possibilidade de, no exercício
Por exemplo: um processo judicial que respeite do direito de defesa, utilizar-se de todos os meios de
todos os ritos processuais previamente prova admitidos em direito.
estabelecidos, mas que perdure por trinta anos, pode Em regra, o contraditório e a ampla defesa são
até ter respeitado o aspecto formal do devido garantidos em todos os processos judiciais ou
processo legal, mas certamente violou a sua acepção administrativos, contudo, a legislação brasileira
material, pois um processo que se arraste por tanto previu alguns procedimentos administrativos, que
tempo certamente não é um processo justo, razoável em virtude de sua natureza meramente
e muito menos adequado. investigatória, são incompatíveis com o exercício
desses direitos, são eles:
Deste princípio surgem diversas outras garantias ü Inquérito policial;
constitucionais como: a garantia à proporcionalidade ü Inquérito civil;
e razoabilidade; o contraditório e a ampla defesa que ü Sindicância investigativa;
serão analisados a seguir. Em suma, nos referidos procedimentos
investigatórios, uma vez que eles não têm o condão
de punir o investigado não serão garantidos o
PRINCÍPIO DA contraditório e a ampla defesa.
PROPORCIONALIDADE OU
RAZOABILIDADE CUIDADO com a Súmula 14 do STF
SV nº 14 - É direito do defensor, no interesse do
O principio da razoabilidade ou proporcionalidade é
representado, ter acesso amplo aos elementos de
uma garantia processual que NÃO está expressa na
prova que, já documentados em procedimento
constituição, tratando-se, portanto, de um princípio
investigatório realizado por órgão com competência
implícito, mas extremamente importante para a
de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
efetivação do devido processo legal.
direito de defesa.
Esse princípio relaciona-se a ideia de necessidade e
adequação, tanto no processo judicial quanto na
esfera administrativa. São utilizados como Essa súmula assegura ao advogado regularmente
parâmetro de ponderação quando adotadas medidas constituído pelo indiciado o direito de pleno acesso
pelo Estado, principalmente no que tange a restrição ao inquérito, mesmo que sujeito a regime de sigilo,
de bens e direitos dos indivíduos. desde que se trate de provas já produzidas e
formalmente incorporadas ao procedimento
investigatório, dessa forma o advogado não vai ter
acesso apenas aquelas informações e providencias
CONTRADITÓRIO E AMPLA tomadas no inquérito que ainda não foram
DEFESA documentadas.

O contraditório e a ampla defesa são garantias de → Atente para outras Súmulas Vinculantes do
natureza processual asseguradas aos litigantes, tanto Supremo Tribunal Federal que versam sobre este
no processo judicial quanto administrativo e tema:
decorrem do exercício do Devido Processo Legal,
aliás, só se atenderá ao devido processo legal, caso SV nº 3 - Nos processos perante o Tribunal de
seja assegurado o contraditório e a ampla defesa, Contas da União asseguram-se o contraditório e a
ampla defesa quando da decisão puder resultar
veja a disposição do texto constitucional:
anulação ou revogação de ato administrativo que
beneficie o interessado, excetuada a apreciação da
LV - aos litigantes, em processo judicial ou legalidade do ato de concessão inicial de
administrativo, e aos acusados em geral são aposentadoria, reforma e pensão.
assegurados o contraditório e ampla defesa, SV nº 5 - A falta de defesa técnica por advogado no
com os meios e recursos a ela inerentes; processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,31
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
SV nº 21 - É inconstitucional a exigência de Em decorrência disso, decidiu o STF22 que o Estado
depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou deverá custear o exame de DNA para aqueles
bens para admissibilidade de recurso beneficiários da justiça gratuita.
administrativo.

LXXIV - o Estado prestará assistência


jurídica integral e gratuita aos que
Duplo grau de jurisdição comprovarem insuficiência de recursos;
Duplo grau de jurisdição seria a necessidade de se Esse direito constitucional deve ser assegurado
estabelecer a possibilidade de uma causa ser através das defensorias públicas.
reapreciada por outro órgão, ou seja, de existir pelo
menos duas instâncias.
De acordo com a posição atual do STF o principio DIREITO DE PETIÇÃO E
do duplo grau de jurisdição não é uma garantia CERTIDÕES
constitucional, pois a CF estabelece competências
originárias para julgar algumas autoridades, como XXXIV - são a todos assegurados,
instância única21. independentemente do pagamento de
Apesar de não estar previsto na CF é uma garantia taxas:
prevista no Pacto de San José da Costa Rica: a) o direito de petição aos Poderes Públicos
em defesa de direitos ou contra ilegalidade
O acesso à instância recursal superior ou abuso de poder;
consubstancia direito que se encontra b) a obtenção de certidões em repartições
incorporado ao sistema pátrio de direitos e públicas, para defesa de direitos e
garantias fundamentais. Ainda que não se esclarecimento de situações de interesse
empreste dignidade constitucional ao duplo pessoal;
grau de jurisdição, trata-se de garantia
prevista na Convenção Interamericana de A CF assegura independentemente do pagamento de
Direitos Humanos, cuja ratificação pelo taxas dois direitos, que são verdadeiros remédios
Brasil deu-se em 1992, data posterior à administrativos: (i) direito de petição e o (ii) de
promulgação do CPP. A incorporação obtenção de certidões.
posterior ao ordenamento brasileiro de O direito de petição é uma garantia dada aos
regra prevista em tratado internacional tem
indivíduos para que eles possam, em interesse
o condão de modificar a legislação
próprio ou coletivo ou geral, realizar duas coisas:
ordinária que lhe é anterior.
a) Levar ao conhecimento dos Poderes Públicos
[HC 88.420, rel. min. Ricardo
uma situação de ilegalidade ou abuso de
Lewandowski, j. 17-4-2007, 1ª T, DJ de 8-6-
2007. poder;
b) Para defesa de direitos contra o próprio
Estado
Trata-se de um direito universal, na medida em que
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA qualquer pessoa pode utilizá-lo (nacional,
GRATUITA estrangeira, física ou jurídica), sem a necessidade de
Para se assegurar a efetividade do acesso a justiça a advogado.
CF assegurou a assistência judiciaria integral e
gratuita aqueles que comprovarem insuficiência de
recursos, ou seja, comprovar a sua hipossuficiência. 22
Reconhecimento, pelas Turmas desta Corte, da
Esse benefício inclui os honorários de advogado e de obrigatoriedade do custeio do exame de DNA pelo Estado-
perito. membro, em favor de hipossuficientes. O custeio do exame
pericial da justiça gratuita viabiliza o efetivo exercício do
direto à assistência judiciária, consagrado no art. 5º, LXXIV, da
21
O duplo grau não é absoluto no âmbito jurisdicional. Desse CF/1988.
modo, a previsão legal de instância única no contencioso [ADI 3.394, rel. min. Eros Grau, j. 2-4-2007, P, DJE de 15-8-
administrativo não viola o alegado direito ao mencionado 2008.]
instituto. = RE 207.732, rel. min. Ellen Gracie, j. 11-6-2002, 1ª T, DJ de 2-
[RE 794.149 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j. 18-11-2014, 1ª 8-2002
T, DJE de 4-12-2014.]
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,32
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
É exemplo de direito de petição o direito de obter
vista ou cópia de processos. Quanto ao acesso ao Judiciário independente do
ATENÇÃO: não confundir com direito de ação. esgotamento das vias administrativas, temos
algumas circunstâncias em que se exige o
O direito de certidão serve também para a defesa esgotamento das instâncias administrativas ou pelo
de direitos, contudo sua finalidade é para menos a utilização inicial das mesmas, vejamos:
esclarecimento de situações de interesse pessoal do
requerente. ü Justiça Desportiva – para que se admita no
Poder Judiciário uma ação relativa as
É preciso demonstra a finalidade da certidão? competições desportivas é preciso o
DIVERGÊNCIA! esgotamento da instância administrativa
Posição dominante – não precisa demonstrar a junto à justiça desportiva. É o que prevê o
finalidade. art. 217 § 1º da CF:
Art. 217, § 1º - O Poder Judiciário só admitirá
Caso o direito de petição ou de certidão sejam ações relativas à disciplina e às competições
violados, por ilegalidade ou abuso de poder o desportivas após esgotarem-se as instâncias da
remédio constitucional cabível é o Mandado de justiça desportiva, regulada em lei.
Segurança. ü Compromisso arbitral – A lei 9.307/96
prevê que as partes, quando em discussão
patrimonial, poderão optar pela arbitragem
PRINCÍPIO DA como forma de resolução de conflito. Nesse
INAFASTABILIDADE DA caso a discussão nem poderá ser levada a
JURISDIÇÃO conhecimento do juiz, que deverá extinguir o
processo sem nem analisar o mérito.
Este princípio, também conhecido como Principio
do Livre Acesso ao Poder Judiciário ou Direito de ü Habeas data – O artigo 8º da lei 9.507/97
Ação, garante, as pessoas, físicas ou jurídicas, o exige, para impetração do habeas data, a
acesso direto ao poder judiciário, sempre que comprovação da recusa ao acesso a
alguém se sentir ameaçado ou tiver lesionado o seu informação, nesse caso não precisa-se
direito. aguardar o esgotamento da instancia
Assim prevê a Constituição Federal: administrativa, apenas o requerimento
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do administrativo já é suficiente para autorizar o
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; ajuizamento da Ação Judicial. Veja a súmula
nº 2 do STJ:
Perceba que a proteção possui sentido duplo: lesão
ou ameaça à direitos. Significa dizer que a garantia “Não cabe habeas data se não houve recusa
pode ser utilizada tanto de forma preventiva como de informações por parte da autoridade
de forma repressiva. Tanto para prevenir a ofensa a administrativa”.
direito como para reprimir a ofensa já cometida. ü Reclamação: só é cabível reclamação ao
STF em face de ato administrativo ou de
Contudo, nem todas as controvérsias podem ser omissão da administração pública que
submetidas à apreciação do Poder Judiciário, como contrarie súmula vinculante, após o
por exemplo: a decisão do Senado no processo de esgotamento das instâncias administrativas.
impeachment; o mérito administrativo; as decisões Lei 11.417/2006
privativas das Casas legislativas, aqueles atos
interna corporis. ü Benefício previdenciário: ação judicial
requerendo a concessão de benefício
Também, decorre deste princípio a ideia de que não previdenciário. O requerimento de benefício
é necessário o esgotamento das vias previdenciário deve ser feito ao INSS, pela
administrativas para ingressar com uma demanda via administrativa. Segundo o STF, só depois
no Poder Judiciário, uma vez que como regra, não da requisição administrativa é que se admite
existe a chamada “instância administrativa de
cunho forçado” ou “jurisdição condicionada.”
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,33
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
que seja ajuizada ação judicial requerendo a A Constituição traz expressamente que:
concessão de benefício previdenciário.
LXXVI - são gratuitos para os
reconhecidamente pobres, na forma da lei:
Destaca-se ainda a orientação do STF no sentido de
a) o registro civil de nascimento;
entender como sendo inconstitucional, por violar o
b) a certidão de óbito;
livre acesso ao Poder Judiciário, o cálculo do valor
da taxa judiciária sem limite sobre o valor da causa. Observe que, o texto Constitucional condiciona o
benefício da gratuidade do registro de nascimento e
Viola a garantia constitucional de acesso à da certidão de óbito apenas para os
jurisdição a taxa judiciária calculada sem reconhecidamente pobres. Entretanto, a lei 6.015/73
limite sobre o valor da causa. (registros públicos), alterada pela lei 9.534/1997,
[Súmula 667.] estendeu esse direito a todos independentemente de
sua situação econômica:

E ainda a súmula vinculante 28:


Art. 30 - Não serão cobrados emolumentos
É inconstitucional a exigência de depósito pelo registro civil de nascimento e pelo
prévio como requisito de admissibilidade de assento de óbito, bem como pela primeira
ação judicial na qual se pretenda discutir a certidão respectiva.
exigibilidade de crédito tributário. § 1o Os reconhecidamente pobres estão
isentos de pagamento de emolumentos pelas
demais certidões extraídas pelo cartório de
JUIZ NATURAL registro civil.

A imparcialidade do Poder Judiciário e a segurança STF entendeu pela constitucionalidade desse


do povo contra o arbítrio estatal são garantidas pelo dispositivo pois a certidão de nascimento e de óbito
princípio do juiz natural ou juiz legal, previsto em são documentos necessários ao exercício da
dois incisos do art. 5º da CF, vejamos: cidadania e a CF assegura a gratuidade desses
documentos23.
LIII - ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade LXXVII-são gratuitas as ações de “habeas-
competente; corpus” e “habeas-data”, e, na forma da
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de lei, os atos necessários ao exercício da
exceção; cidadania.

Significa dizer que em um processo, seja ele judicial


ou administrativo, só será válida a decisão proferida
por quem detenha competência para tanto. Por DEFESA DO CONSUMIDOR
exemplo: sendo um processo de natureza penal,
quem deverá proferir sentença será o juiz da vara A CF determina que o Estado deverá promover a
criminal, não podendo ser o juiz da justiça do defesa do consumidor.
trabalho, pois esse não tem competência para tal XXXII - o Estado promoverá, na forma da
atribuição. lei, a defesa do consumidor;
A vedação da criação de juízo ou tribunal de
exceção (ad hoc) significa que não se pode de forma
arbitrária criar tribunais para julgamento de um caso Esse direito é tão importante que também foi
específico ou ainda criar um tribunal após o caso elencado como princípio da ordem econômica (art.
que se pretenda julgar. 170, V da CF):
Art. 170. A ordem econômica, fundada na
PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos

GRATUIDADE DAS CERTIDÕES 23


LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas
DE NASCIMENTO E DE ÓBITO data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da
cidadania.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,34
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
existência digna, conforme os ditames da Garantia aplicável ao inquérito policial.
justiça social, observados os seguintes
princípios:
V - defesa do consumidor;
DIREITO A INFORMAÇÃO
Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como O direito à informação é assegurado em dois
destinatário final. momentos na Constituição, vejamos o primeiro:
XIV - é assegurado a todos o acesso à
Por tratar-se de norma de eficácia limitada o informação e resguardado o sigilo da fonte,
exercício desse direito foi assegurado com a edição quando necessário ao exercício
do Código de Defesa do Consumidor – Lei profissional;
8.078/90, que assegura diversos instrumentos de O Acesso a informação é o direito de informar, de se
proteção ao consumidor, especialmente em virtude informar e de ser informado.
de sua hipossuficiência. Esse inciso tem dois desdobramentos: assegura o
direito de acesso à informação (desde que esta
PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL não fira outros direitos fundamentais, como por
exemplo a intimidade) e resguarda os jornalistas,
DURAÇÃO DO PROCESSO - possibilitando que estes obtenham informações sem
CELERIDADE PROCESSUAL terem que revelar sua fonte. Não há conflito,
A EC 45/2004, inseriu o inciso LXXVIII no art. 5o todavia, com a vedação ao anonimato. Caso alguém
da CF, para o fim de assegurar a todos, tanto no seja lesado pela informação, o jornalista responderá
processo judicial e administrativo uma prestação por isso.
estatal rápida e eficiente. Veja:
Em um segundo momento a CF prevê no inciso
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e XXXIII o direito à informação, impondo neste caso
administrativo, são assegurados a razoável um dever aos órgãos públicos de prestar essas
duração do processo e os meios que
informações:
garantam a celeridade de sua tramitação.
XXXIII - todos têm direito a receber dos
Esta é a garantia da celeridade processual, contudo órgãos públicos informações de seu
não existe um prazo pré-determinado para que os interesse particular, ou de interesse coletivo
processos tenham um fim. Decorre do princípio da ou geral, que serão prestadas no prazo da
Eficiência que obriga o Estado a prestar assistência lei, sob pena de responsabilidade,
em tempo razoável. Celeridade quer dizer rapidez, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
mas uma rapidez com qualidade. É um comando imprescindível à segurança da sociedade e
tanto para o juiz na condução do processo evitando do Estado;
medidas protelatórias (enrolação do processo), como
para o legislativo impondo-lhe um dever de Esse dispositivo apresenta o direito à informação
melhorar a legislação vigente. que deve ser conjugado com o PRINCÍPIO DA
PUBLICIDADE que obriga a todos os órgãos e
Após a inclusão deste dispositivo entre os direitos entidades da Administração Pública, direta e indireta
fundamentais, várias medidas para acelerar a (incluindo empresas públicas e sociedades de
prestação jurisdicional foram adotadas, dentre as economia mista), a dar conhecimento aos
quais destacamos: administrados de informações de interesse
ü Juizados especiais particular, coletivo ou geral.
ü Súmula vinculante O princípio da publicidade evidencia-se, assim, na
ü Realização de inventários e partilhas por vias forma de uma obrigação de transparência.
administrativas Todavia, os órgãos públicos não precisam fornecer
ü Informatização do processo toda e qualquer informação de que disponham.
Aquelas informações cujo sigilo seja, imprescindível
Estas são algumas das medidas que foram adotadas à segurança da sociedade e do Estado não devem ser
para trazer mais celeridade ao processo. fornecidas.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,35
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
E ainda, é possível a manutenção de informações A Constituição Federal preocupou-se em regular a
sigilosas no caso de defesa da privacidade. extradição passiva por meios dos incisos LI e LII do
As hipóteses do exercício do direito à informação e artigo 5º conforme se depreende a leitura abaixo:
as suas restrições encontram-se regulamentadas na
LI - nenhum brasileiro será extraditado,
Lei 12.527/2011. salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização,
ou de comprovado envolvimento em tráfico
PUBLICIDADE DOS ATOS ilícito de entorpecentes e drogas afins, na
PROCESSUAIS forma da lei;
LII - não será concedida extradição de
Em regra, os atos processuais são públicos. Esta
estrangeiro por crime político ou de
publicidade visa garantir maior transparência aos opinião;
atos administrativos bem como permite a
fiscalização popular. Além disso, atos públicos → De acordo com a inteligência destes dispositivos,
possibilitam um exercício efetivo do contraditório e três regras podem ser adotadas em relação à
da ampla defesa. Entretanto, esta publicidade extradição passiva:
comporta algumas exceções: 1. Brasileiro Nato – nunca será extraditado
2. Brasileiro Naturalizado – será extraditado
LX - a lei só poderá restringir a publicidade
em duas hipóteses:
dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
ü Crime comum cometido antes da
naturalização;
ü Comprovado envolvimento com o tráfico
Nos casos em que a intimidade ou o interesse ilícito de drogas, antes ou depois da
social exigirem, a publicidade poderá ser restringida naturalização
apenas aos interessados. Imaginemos uma audiência 3. Estrangeiro – poderá ser extraditado
em que estejam envolvidas crianças, neste caso, SALVO em dois casos:
como forma de preservação da intimidade, o juiz ü Crime político
poderá restringir a participação na audiência apenas ü Crime de opinião
aos membros da família e demais interessados.
Procedimento: Regulamentada pela lei de migração
13.445/2017 (art. 89)
O pedido de extradição se inicia com o requerimento
EXTRADIÇÃO do Estado estrangeiro que deverá ser recebido pelo
A extradição permite que determinada pessoa seja órgão competente do Poder Executivo e, após exame
entregue a outro país para que seja responsabilizada da presença dos pressupostos formais de
pelo cometimento de algum crime, com a aplicação admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado,
das leis daquele Estado. É uma medida de encaminhado à autoridade judiciária competente, ou
cooperação internacional. Existem duas formas de seja, especificamente ao Supremo Tribunal Federal
extradição: (102, I, g), que deverá se pronunciar pela legalidade
ü Extradição Ativa – ocorre quando o Brasil e procedência do pedido.
pede para outro país a entrega de alguém Se o pedido for julgado procedente a entrega do
para ser aqui julgado pelas normas extraditando dependerá de ato discricionário do
brasileiras. Não precisa do STF. Presidente da República. (art. 84, VII).
ü Extradição Passiva – quando algum país
pede para o Brasil a extradição de alguém. A extradição, contudo, depende de o Estado
o Extradição instrutória: quando requerente assumir o compromisso de comutar as
existe procedimento persecutório, penas, substituindo se for o caso, quando a pena
com ordem de prisão emanada. aplicável ao extraditando for uma das penas
o Extradição executória: quando já há proibidas no Brasil. Por ex: se houver a
sentença penal condenatória. possibilidade do extraditando ser condenado a pena
de morte no país requerente e não for a hipótese
autorizada pela nossa constituição (guerra declarada)
o país solicitante deverá substituir a pena de morte
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,36
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
por privativa de liberdade. Ou se a pena for de INADMISSIBILIDADE DAS
prisão perpétua, deverá reduzir para o limite máximo
PROVAS ILÍCITAS
de prisão no Brasil que é de 30 anos.
A CF assegura, no processo, a inadmissibilidade de
uso de provas ilícitas. Veja o inciso LVI do artigo
Não impede a extradição a circunstância de
5º:
ser o extraditando casado com brasileira ou
ter filho brasileiro. LVI - são inadmissíveis, no processo, as
[Súmula 421.] provas obtidas por meios ilícitos;
Para sabermos o que é uma prova ilícita temos que
Não se deve confundir Extradição com a Expulsão, fazer a diferença entre prova ilegal, prova ilegítima e
com a deportação, nem com a entrega (surrender). prova ilícita.
Ø EXPULSÃO: A expulsão consiste em Provas ilegais são gênero, que tem como espécies as
medida administrativa de retirada compulsória de provas ilícitas e as provas ilegítimas.
migrante ou visitante do território nacional, A prova ilícita é aquela obtida através da violação
conjugada com o impedimento de reingresso por da CF ou de normas de direito material. Por
prazo determinado. exemplo: a CF assegura a inviolabilidade das
o Não se realiza a expulsão se o comunicações telefônicas, entendendo que essas
expulsando: comunicações são sigilosas, contudo é possível
§ tiver filho brasileiro que esteja ocorrer a quebra desse sigilo através de uma decisão
sob sua guarda ou dependência judicial. Caso alguém viole as comunicações
econômica ou socioafetiva ou telefônicas (grampeie o telefone) de alguém sem
tiver pessoa brasileira sob sua autorização judicial, as gravações obtidas ali não
tutela; poderão ser usadas em nenhum processo, pois foram
§ tiver cônjuge ou companheiro obtidas de forma ilícita.
residente no Brasil, sem A prova ilícita contamina todas as demais provas
discriminação alguma, decorrentes dela, esse é o efeito da chamada Teoria
reconhecido judicial ou dos Frutos da Árvore Envenenada (fruits of the
legalmente; poisonous tree). Segundo essa teoria, se a árvore
§ tiver ingressado no Brasil até os está envenenada, os frutos também o serão, é dizer,
12 (doze) anos de idade, se uma prova foi produzida de forma ilícita, as
residindo desde então no País; demais provas dela decorrentes também serão
§ for pessoa com mais de 70 ilícitas (ilicitude por derivação).
(setenta) anos que resida no País Outro ponto relevante é o de que a simples presença
há mais de 10 (dez) anos, da prova ilícita não torna nulo, invalida, todo o
considerados a gravidade e o processo, mas apenas aquelas provas decorrentes da
fundamento da expulsão; prova ilícita, que não poderão ser usadas no
processo.
Ø DEPORTAÇÃO: A deportação é medida As questões envolvendo o conhecimento dessa
decorrente de procedimento administrativo que norma constitucional geralmente encontra-se
consiste na retirada compulsória de pessoa que se relacionado com as provas decorrentes das violações
encontre em situação migratória irregular em dos direitos a privacidade: sigilo das comunicações e
território nacional. inviolabilidade domiciliar.
Ø ENTREGA (surrender): é a entrega de A prova ilegítima é aquela decorrente da violação de
cidadão brasileiro para ser julgado pelo Tribunal um direito processual. Por exemplo: produzir no
Penal Internacional. processo uma prova fora do prazo, essa prova será
ilegítima e não ilícita.
Demais detalhes a respeito da extradição serão
analisados na matéria de legislação especial. A prova ilícita é inadmissível tanto no processo
judicial quanto no processo administrativo.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,37
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
17/02/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
INOCÊNCIA
DJe-100 DIVULG 16-05-2016 PUBLIC
A CF assegura a presunção de inocência no inciso 17-05-2016)
LVII do art. 5º:
LVII - ninguém será considerado culpado Isso significa que o réu poderá iniciar o
até o trânsito em julgado de sentença cumprimento de sua pena ainda que pendente de
penal condenatória; recurso, mesmo que a decisão não tenha transitado
Trata-se de uma garantia individual de natureza em julgado.
processual penal de que as pessoas devem ser Ressalta-se ainda que a presunção de inocência tem
consideradas inocentes até que o Estado prove o aplicação também no processo civil e
contrário, através de decisão judicial definitiva, que administrativo, por exemplo, em decorrência desse
não comporte mais recurso, ou seja, uma decisão princípio é vedado a exclusão de candidato de
transitada em julgado, de modo que se existir concurso público pelo simples fato de responder a
dúvidas quanto a culpabilidade de uma pessoa essa inquérito ou ação penal sem trânsito em julgado da
deverá ser considerada inocente – in dubio pro reo, sentença condenatória.
inclusive se houver empate na votação de decisão
condenatória, o réu deverá ser absolvido. TRIBUNAL DO JÚRI
Esse direito/garantia também impede seja lançado o
nome do réu no rol dos culpados antes do trânsito O Tribunal do Júri tem como fundamento o
em julgado da decisão condenatória. princípio democrático porque assegura ao cidadão o
Ponto importantíssimo para a sua prova é a direito de ser julgado por seus semelhantes, outros
interpretação do STF quanto ao início do cidadãos, escolhidos aleatoriamente.
cumprimento da pena, ou seja, se seria possível a É uma instituição pertencente ao poder judiciário
execução provisória da pena antes da decisão que possui competência específica para julgar
transitada em julgado, autorizando por exemplo a determinados tipos de crime.
prisão do réu. → A Constituição Federal apresenta alguns
De acordo com o STF a execução de decisão penal princípios que regem este tribunal:
condenatória proferida em segundo grau de XXXVIII - é reconhecida a instituição do
jurisdição, embora sujeita a recurso, não viola a júri, com a organização que lhe der a lei,
presunção de inocência. assegurados:
a) a plenitude de defesa;
CONSTITUCIONAL. HABEAS b) sigilo das votações;
CORPUS. PRINCÍPIO c) a soberania dos veredictos;
CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO
d) a competência para o julgamento dos
DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). crimes dolosos contra a vida;
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE → Segundo este texto, o Tribunal do Júri é regido
SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO. pelos seguintes princípios:
EXECUÇÃO PROVISÓRIA. ˃ Plenitude de defesa – é a ampla defesa também
POSSIBILIDADE. 1. A execução assegurada aos acusados em geral. Esse princípio
provisória de acórdão penal permite que no júri sejam utilizadas todas as provas
condenatório proferido em grau de permitidas em direito. Aqui, o momento probatório é
apelação, ainda que sujeito a recurso bastante explorado haja vista a necessidade de se
especial ou extraordinário, não convencer os jurados que são pessoas comuns da
compromete o princípio constitucional sociedade, que às vezes não conhecem nada de
da presunção de inocência afirmado direito;
pelo artigo 5º, inciso LVII da ˃ Sigilo das votações – o voto é sigiloso para
Constituição Federal. 2. Habeas corpus manter a imparcialidade do julgamento. Durante o
denegado. julgamento não é permitido que um jurado converse
(HC 126292, Relator(a): Min. TEORI

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,38
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
com o outro sobre o julgamento sob pena de do CPP de observância obrigatória, faz com
nulidade; que a competência constitucional do
˃ Soberania dos veredictos - o que for decidido Tribunal do Júri exerça uma vis
pelos jurados será considerado soberano. Nem o Juiz atractiva sobre delitos que apresentem
relação de continência ou conexão com os
presidente poderá modificar o julgamento. Essa
crimes dolosos contra a vida. (...) A
soberania não impede que a decisão do júri seja manifestação dos jurados sobre os delitos
objeto de recurso. de sequestro e roubo também imputados ao
˃ Competência para julgar os crimes dolosos réu não maculam o julgamento com o vício
contra a vida – muito cuidado com isso aqui em da nulidade. [HC 101.542, rel. min. Ricardo
prova. O júri não julga qualquer tipo de crime, mas Lewandowski, j. 4-5-2010, 1ª T, DJE de 28-
apenas os dolosos contra a vida. Crimes dolosos, são 5-2010.] = RHC 98.731, rel. min. Cármen
aqueles praticados com intenção, com vontade. É Lúcia, j. 2-12-2010, 1ª T, DJE de 1º-2-2011
diferente dos crimes culposos, os quais são
praticados sem intenção. E devem ser apenas crimes
contra a vida, não podendo ser crimes contra o CRIMES IMPRESCRITÍVEIS,
patrimônio, ordem econômica etc, por exemplo, o INAFIANÇÁVEIS E
Latrocínio não é considerado crime contra a vida,
portanto, não será de competência do tribunal do
INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA E
Júri24. ANISTIA
A CF dispõe nos incisos XLII, XLIII, XLIV do art.
Ressalta-se que a competência do Tribunal do Júri 5º a respeito de diversos crimes e o tratamento
não é absoluta, isso porque, algumas pessoas constitucional que devem ter, essas normas
possuem prerrogativa de foro em virtude de suas estabelecem um comando para o legislador, que na
funções, devidamente previstas na CF, de modo que hora de elaborar as normas penais deve observar o
caso cometam crimes contra a vida não serão disposto na CF.
julgados pelo júri e sim pelos Tribunais previamente Inicialmente destacamos a VEDAÇÃO AO
estabelecidos. Ex: parlamentares federais que são RACISMO, considerado como crime inafiançável e
julgados pelo STF (art. 102, I, b, CF). Observe que imprescritível, sujeito a pena de RECLUSÃO.
apenas se sobrepõe a competência do júri aqueles
foros por prerrogativa de função previstos na CF, de XLII - a prática do racismo constitui crime
modo que se estiver estabelecido apenas na inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
Constituição Estadual, deverá prevalecer a
competência do júri.
É esse o teor da súmula vinculante 45: O repúdio ao racismo é um dos princípios da RFB
A competência constitucional do Tribunal
no que tange as suas relações internacionais:
do Júri prevalece sobre o foro por Art. 4º A República Federativa do Brasil
prerrogativa de função estabelecido rege-se nas suas relações internacionais
exclusivamente pela Constituição Estadual. pelos seguintes princípios:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Ademais, de acordo com a jurisprudência do STF a
competência do Júri pode ser ampliada por norma Ressalta-se que a expressão racismo de acordo com
infraconstitucional. Veja: o STF abrange todas as formas de discriminação que
A competência do Tribunal do Júri, fixada implique em distinções entre as pessoas, em virtude
no art. 5º, XXXVIII, d, da CF, quanto ao de sua raça, cor, credo, descendência. Entendeu o
julgamento de crimes dolosos contra a vida STF em caso específico que a apologia de ideias
é passível de ampliação pelo legislador discriminatórias e preconceituosas contra os judeus
ordinário. A regra estabelecida no art. 78, I, (antissemitismo), configura racismo:
HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE
24
Súmula 603 do STF: A competência para o processo e LIVROS: ANTI-SEMITISMO. RACISMO.
julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do CRIME IMPRESCRITÍVEL.
júri. CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,39
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE ü Se o perdão tiver natureza coletiva será
EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM chamado de indulto.
DENEGADA. 1. Escrever, editar, divulgar e ü A Anistia é um perdão também, mas
comerciar livros "fazendo apologia de concedido apenas através de lei, aplicável a
idéias preconceituosas e discriminatórias"
crimes coletivos, geralmente políticos.
contra a comunidade judaica (Lei 7716/89,
artigo 20, na redação dada pela Lei
8081/90) constitui crime de racismo sujeito → Atenção:
às cláusulas de inafiançabilidade e Os crimes inafiançáveis englobam todos os crimes
imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII). previstos nos incisos XLII, XLIII e XLIV.
(HC 82424, Relator(a): Min. MOREIRA Os crimes que são insuscetíveis de graça e anistia
ALVES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. não são imprescritíveis, e vice e versa. Desta forma
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, nunca na sua prova pode haver uma questão em que
julgado em 17/09/2003, DJ 19-03-2004 PP- apresente as três classificações ao mesmo tempo.
00017 EMENT VOL-02144-03 PP-00524)

PESSOALIDADE DA PENA – Art.


Outros tipos de crime tiveram também especial
previsão na Constituição em virtude de sua extrema 5o, XLV
gravidade: O princípio da pessoalidade ou intransmissibilidade
XLIII - a lei considerará crimes da pena significa que a pena deve ser cumprida
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou apenas por aquele que cometeu ou participou da
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito conduta criminosa, não podendo ser transferido a
de entorpecentes e drogas afins, o outra pessoa, ou seja, a parentes ou amigos.
terrorismo e os definidos como crimes
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do
hediondos, por eles respondendo os
condenado, podendo a obrigação de
mandantes, os executores e os que, podendo
reparar o dano e a decretação do
evitá-los, se omitirem;
perdimento de bens ser, nos termos da lei,
XLIV - constitui crime inafiançável e estendidas aos sucessores e contra eles
imprescritível a ação de grupos armados, executadas, até o limite do valor do
civis ou militares, contra a ordem patrimônio transferido;
constitucional e o Estado Democrático.
Contudo, no que se refere a obrigação de reparação
As questões sobre esse tema geralmente são mais de danos e a perda de perdimento de bens é possível
superficiais exigindo mais a memorização do que a que os sucessores sejam responsáveis, mas dentro
compreensão do significado de cada crime, desse dos limites do patrimônio que lhes foi transferido.
modo segue algumas dicas para facilitar a sua
memorização:
ü Imprescritível: RAÇÃO INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:
ü Insuscetíveis de graça ou anistia: 3TH PENAS PERMITIDAS E
INSUSCETÍVEIS o
IMPRESCRITÍVEIS -
INAFIANÇÁVEIS GRAÇA E ANISTIA -
PROIBIDAS Art. 5 , XLVI e XLVII
RAÇÃO
3TH
O art.5o, XLVI da CF, determina que a lei deverá
•RACISMO •RACISMO •TRÁFICO
•AÇÃO DE GRUPOS •AÇÃO DE GRUPOS •TORTURA
individualizar a pena e na sequência, estabelece em
ARMADOS ARMADOS •TERRORISMO rol EXEMPLIFICATIVO, algumas penas permitidas
•TRÁFICO •CRIMES
•TERRORISMO HEDIONDOS.
no Brasil, são elas:
•TORTURA
XLVI - a lei regulará a individualização da
•CRIMES HEDIONDOS
pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
ü A graça, apesar da divergência doutrinária
quanto a sua existência, é o perdão b) perda de bens;
concedido pelo Presidente da República, c) multa;
favorecendo um condenado por crime d) prestação social alternativa;
comum ou por contravenção, extinguindo- e) suspensão ou interdição de direitos;
lhe ou diminuindo-lhe a pena imposta.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,40
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Por se tratar de rol exemplificativo pode a lei Nós temos ainda a pena de banimento. É a expulsão
estabelecer outros tipos de penas, desde que não do brasileiro, tanto nato como naturalizado.
incida das hipóteses de pena proibida, prevista no As penas cruéis, em respeito ao princípio da
art. XLVII: dignidade da pessoa humana e da vedação a tortura e
a tratamento desumano ou degradante. Também é
XLVII - não haverá penas:
proibida.
a) de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo; PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA:
c) de trabalhos forçados; A CF destaca que não se deve prender as pessoas
d) de banimento; por dívidas de natureza civil, contudo a CF/88
e) cruéis; estabeleceu duas exceções, possibilitando nesses
casos a prisão civil por dívida, são elas:
Essas são as penas que não podem ser aplicadas no ü Devedor voluntário e inescusável de pensão
Brasil. Contudo, observe que, inobstante a pena de alimentícia
morte ter sido proíba, a própria CF traz uma ü Depositário infiel
possibilidade de sua decretação, no caso de guerra
declarada.
Assim, é possível afirmar que existe pena de morte LXVII - não haverá prisão civil por dívida,
do Brasil, mesmo que em apenas uma situação. salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação
A pena de caráter perpétuo é aquela que deve ser
alimentícia e a do depositário infiel;
cumprida até a morte. Não existe esse tipo de pena
no Brasil, pois as penas aqui são temporárias. Contudo, o Brasil em 1992 ratificou o Pacto de San
Ressalta-se ainda que as penas de caráter perpétuo se José da Costa Rica que só permite a prisão civil por
estendem também para a esfera administrativa25. dívida do devedor de alimentos. Acolhendo então as
A outra pena é a de trabalhos forçados. É aquela determinações do tratado internacional o STF
pena em que o camarada é obrigado a trabalhar de entende como lícita apenas a prisão do devedor de
forma a denegrir a sua condição como ser humano. pensão alimentícia, considerando como ilícita a
prisão do depositário.
Isso não significa que a ratificação do brasil ao
tratado internacional tenha revogado o disposto na
25
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E CF, isso porque, um tratado não pode revogar o
PROCESSUAL CIVIL. PENA DE INABILITAÇÃO PERMANENTE texto de uma constituição. O que ocorre é que essa
PARA O EXERCÍCIO DE CARGOS DE ADMINISTRAÇÃO OU
previsão constitucional, quanto ao depositário,
GERÊNCIA DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.
INADMISSIBILIDADE: ART. 5 , XLVI, "e", XLVII, "b", E § 2 , DA deixou de ter aplicabilidade.
C.F. REPRESENTAÇÃO DA UNIÃO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO: Esse entendimento encontra-se inclusive sumulado,
LEGITIMIDADE PARA INTERPOSIÇÃO DO R.E. RECURSO veja o teor da Súmula Vinculante nº 25:
EXTRAORDINÁRIO. 2. No mérito, é de se manter o aresto, no
É ilícita a prisão civil de depositário
ponto em que afastou o caráter permanente da pena de
inabilitação imposta aos impetrantes, ora recorridos, em face
infiel, qualquer que seja a modalidade do
do que dispõem o art. 5 , XLVI, "e", XLVII, "b", e § 2 da C.F. 3. depósito
Não é caso, porém, de se anular a imposição de qualquer
sanção, como resulta dos termos do pedido inicial e do
próprio julgado que assim o deferiu. 4. Na verdade, o PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Mandado de Segurança é de ser deferido, apenas para se PENAL E RETROATIVIDADE DA
afastar o caráter permanente da pena de inabilitação,
devendo, então, o Conselho Monetário Nacional prosseguir no LEI MAIS BENÉFICA – ART. 5O
julgamento do pedido de revisão, convertendo-a em XXXIX E XL
inabilitação temporária ou noutra, menos grave, que lhe
parecer adequada. 5. Nesses termos, o R.E. é conhecido, em Como desdobramento do princípio da legalidade,
parte, e, nessa parte, provido. 10 previsto de forma genérica no art. 5o, II da CF, 26nós
(RE 154134, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Primeira
Turma, julgado em 15/12/1998, DJ 29-10-1999 PP-00017
26 o
EMENT VOL-01969-01 PP-00191) Art. 5 II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,41
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
temos o inciso XXXIX da CF que dispõe sobre a
necessária previsão legal para a tipificação de
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL –
crimes, ou seja, apenas a lei formal poderá definir as
condutas reprováveis socialmente, tratando-se de ART. 5O LVIII
matéria de reserva legal, lembrando ainda que a A CF vai afirmar que a pessoa que tiver
competência para legislar sobre direito penal é identificação civil, aquela atestada através de
privativa da União (art. 22, I CF27). Dessa forma, documentos públicos, como por exemplo: carteira de
apenas lei federal poderá criminalizar identidade, carteira de trabalho, passaporte ou
comportamentos. Em virtude disso, sabe-se que não carteira profissional, não precisará se submeter a
é possível se criar crimes através de medida identificação criminal, que é o processo
provisória28. datiloscópico e o fotográfico.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o Contudo o referido artigo é norma de eficácia
defina, nem pena sem prévia cominação contida, de modo que a lei poderá estabelecer
legal29; hipóteses em que, mesmo o individuo tento
identificação civil deverá ser identificado
Além disso, podemos extrair desse inciso que uma criminalmente.
determinada conduta só poderá ser considerada A lei que regulamenta o dispositivo constitucional é
como crime se quando ela foi realizada já existia a a lei 12.037/200930 e em seu artigo 3o traz situações
lei penal definindo aquele comportamento como em que deverá ocorrer a identificação criminal.
criminoso. Trata-se do princípio da anterioridade da
lei penal. LVIII - o civilmente identificado não será
Podemos destacar ainda o inciso XL que apresenta submetido a identificação criminal, salvo
como regra geral a irretroatividade da lei penal, nas hipóteses previstas em lei;
contudo, no seu texto já prevê uma exceção, quando
se tratar de lei mais benéfica ao réu, autorizando
nesse caso que a lei penal opere efeitos retroativos. HIPÓTESES DE PRISÃO
XL - a lei penal não retroagirá, salvo A CF assegura que os cidadãos civis só podem ser
para beneficiar o réu; presos em duas circunstâncias: a) flagrante delito; b)
determinação judicial.
Dessa forma, podemos afirmar que a lei penal Contudo, destaca que para os militares, além das
benigna (lex mitior) é sempre retroativa e poderá ser hipóteses constitucionais também será possível a
aplicada ainda que o réu já tenha sido condenado. prisão administrativa – por ordem de um superior
Contudo, se a lei for desfavorável ao réu (lex hierárquico.
gravior) ela não poderá retroagir, somente sendo É o que dispõe o inciso LXI
aplicada para eventos futuros.
Vale apenas ressaltar ainda o enunciado da Súmula 30
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação,
711 do STF: poderá ocorrer identificação criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de
falsificação;
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE II – o documento apresentado for insuficiente para identificar
AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME cabalmente o indiciado;
PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É III – o indiciado portar documentos de identidade distintos,
ANTERIOR À CESSAÇÃO DA com informações conflitantes entre si;
CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. IV – a identificação criminal for essencial às investigações
policiais, segundo despacho da autoridade judiciária
competente, que decidirá de ofício ou mediante
representação da autoridade policial, do Ministério Público ou
27
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: da defesa;
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; diferentes qualificações;
28
Art. 62. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da
matéria: I - relativa a: b) direito penal, processual penal e localidade da expedição do documento apresentado
processual civil; impossibilite a completa identificação dos caracteres
29
Brocardo jurídico: nullum crimem, nulla poena sine praevia essenciais.
lege.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,42
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
LXI - ninguém será preso senão em LXIII - o preso será informado de seus
flagrante delito ou por ordem escrita e direitos, entre os quais o de permanecer
fundamentada de autoridade judiciária calado, sendo-lhe assegurada a assistência
competente, salvo nos casos de transgressão da família e de advogado;
militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;
Ressalta-se que o silencio do réu não pode ser
considerado como confissão, como já decidiu o
AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA STF:

A CF assegura no inciso LIX que se o Ministério O exercício do direito ao silêncio, que se


Público não realizar a Ação Penal Pública no prazo revela insuscetível de qualquer censura
policial e/ou judicial, não pode ser
legal, ou seja, ficar inerte, não cumprindo sua
desrespeitado nem desconsiderado pelos
obrigação institucional, o particular poderá realizar órgãos e agentes da persecução penal,
queixa-crime no lugar da denúncia. porque a prática concreta dessa
LIX - será admitida ação privada nos crimes prerrogativa constitucional – além de não
de ação pública, se esta não for intentada importar em confissão – jamais poderá ser
no prazo legal; interpretada em prejuízo da defesa. [HC
99.289, rel. min. Celso de Mello, j. 23-6-
2009, 2ª T, DJE de 4-8-2011.]
DIREITO DOS PRESOS
A CF em diversos dispositivos assegura direitos aos O preso tem ainda como garantia o direito de saber
presos, em direito constitucional esses incisos os responsáveis pela sua prisão ou pelo seu
costumam ser cobrados na sua literalidade, vejamos: interrogatório, a intenção desse dispositivo é
impedir, ou pelo menos coibir as arbitrariedades e
O inciso LXII determina que a prisão de qualquer ilegalidades no ato da prisão ou do interrogatório,
pessoa não pode ser mantida em sigilo, devendo possibilitando a responsabilização por eventuais
necessariamente ser comunicada a sua família ou abusos.
pessoa indicada e ao juiz competente.
LXIV - o preso tem direito à identificação
dos responsáveis por sua prisão ou por seu
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local interrogatório policial;
onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à
família do preso ou à pessoa por ele Por fim, destaca-se que a regra geral é a de que as
indicada; pessoas respondam aos processos em liberdade, de
modo que a exceção é a manutenção do individuo
A comunicação da prisão feita ao juiz é relevante na preso, em respeito ao principio da presunção de
medida em que se o juiz entender que a prisão é inocência. Dessa forma, determina a CF que se for
ilegal poderá relaxá-la, ou seja, poderá soltar o cabível a liberdade provisória, por não estarem
preso, sem prejuízo da condução regular do processo presentes os requisitos da prisão preventiva, essa
penal. deverá ser concedida, não se mantendo o réu preso.

LXV - a prisão ilegal será imediatamente LXVI - ninguém será levado à prisão ou
relaxada pela autoridade judiciária; nela mantido quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

Ademais, aos presos é assegurado o direito ao


silêncio, o direito de permanecer calado, isso porque DIREITOS DOS SENTENCIADOS
ninguém é obrigado a produzir prova contra si A CF assegura direitos aqueles réus já sentenciados
mesmo. É o chamado direito a não que estão cumprindo pena. Esses direitos decorrem
autoincriminação:
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,43
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
do principio constitucional da dignidade da pessoa b) Os remédios judiciais, que são ação
humana, uma vez que é dever do Estado manter a constitucionais, Habeas corpus, Habeas data,
integridade física e moral dos presos, vejamos os Mandado de Segurança, mandado de
incisos relevantes para a sua prova: injunção e Ação Popular.
XLVIII - a pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a
O Direito de petição e certidão já foram estudados
natureza do delito, a idade e o sexo do anteriormente, motivo pelo qual passamos a analisar
apenado; os remédios de natureza judicial.

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à


integridade física e moral;
HABEAS CORPUS
É o remédio constitucional que visa proteger a
L - às presidiárias serão asseguradas liberdade de locomoção. Vejamos o que diz o texto
condições para que possam permanecer constitucional:
com seus filhos durante o período de
amamentação; LXVIII-conceder-se-á “habeas-corpus”
sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
DISCRIMINAÇÃO ou abuso de poder;
ATENTATÓRIA AOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS O Habeas Corpus é utilizado para proteger a
liberdade de locomoção, ou seja, o direito de ir, vir
ou permanecer do individuo, em decorrência de ato
XLI - a lei punirá qualquer discriminação
de ilegalidade ou abuso de poder. É possível ainda o
atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
HC na hipótese de ameaça indireta, reflexa,
potencial a liberdade de locomoção.

Natureza da Ação: O HC é uma ação de natureza


ERRO JUDICIÁRIO penal, de procedimento especial, ou seja, é uma ação
A CF assegura que caso o Poder Judiciário cometa que tem uma tramitação mais rápida, mais célere.
algum erro, por exemplo, condenando um individuo Contudo, mesmo diante desse procedimento mais
que depois provou ser inocente, ou ainda que ficou rápido é possível a concessão de liminar nessa
preso além do tempo fixado na sentença, o Estado ação, ou seja, de se adiantar os efeitos da sentença,
deverá indenizá-lo pelos danos sofridos. já no inicio do processo. Entretanto, isso só é
possível se preenchidos os requisitos para o seu
deferimento, a saber: periculum in mora, ou seja,
LXXV - o Estado indenizará o condenado deve haver um perigo real e concreto com
por erro judiciário, assim como o que ficar possibilidade de dano irreparável e fumus boni iuris,
preso além do tempo fixado na sentença; que é a fumaça de bom direito, ou seja, deve haver
indícios de que a prisão se deu por ilegalidade ou
abuso de poder.
REMÉDIOS
CONSTITUCIONAIS Existem dois tipos de Habeas Corpus:
ü Habeas Corpus preventivo (salvo-conduto)
Os remédios constitucionais são espécies de que é aquele utilizado para prevenir a violência ou
garantias constitucionais que visam proteger coação à liberdade de locomoção.
determinados direitos e até outras garantias ü Habeas Corpus repressivo (liberatório) que
fundamentais. é aquele utilizado para reprimir a violência ou
A nossa CF apresenta dois tipos de remédios coação a liberdade de locomoção, ou seja, é
constitucionais: utilizado quando a restrição da liberdade de
a) Os remédios administrativos, que são o locomoção já ocorreu.
direito de petição e o direito de certidão;
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,44
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
artigo 1332 da CF, que estabelece que a língua
Perceba que não se trata de qualquer tipo de portuguesa é o idioma oficial do Brasil.
restrição à liberdade de locomoção que caberá o Destaca-se que o Ministério Público33 também tem
remédio, mas apenas aquelas cometidas com legitimidade ativa para impetrar habeas Corpus.
ilegalidade ou abuso de poder.
Ø Paciente – pode ou não ser o impetrante e é
Nas relações processuais que envolvem a utilização quem está doente, quem precisa do remédio,
do Habeas Corpus, é possível identificar a ou seja, quem teve restringido ou esta sendo
participação de três figurantes: ameaçado de ter restringido a sua liberdade
de locomoção. Ele será o beneficiário do
Ø IMPETRANTE – O impetrante é a pessoa habeas corpus. Só pode ser paciente uma
que impetra a ação. Quem entra com a ação é quem pessoa física, pessoa jurídica não pode ser
tem legitimidade ATIVA. A titularidade desta paciente de habeas corpus, pois a liberdade
ferramenta é Universal, pois qualquer pessoa pode de locomoção é um direito incompatível com
impetrar o HC. Não precisa sequer de advogado. sua natureza jurídica.
Sua possibilidade é tão ampla que não precisa Ø Autoridade Coatora – é quem restringiu ou
possuir capacidade civil, política, de idade, está ameaçando de restringir a liberdade de
profissão, estado mental ou mesmo qualquer locomoção de alguém por ilegalidade ou
formalidade, pode ser inclusive impetrado por abuso de poder. Poderá ser tanto um ente
analfabeto, nesse caso o HC será assinado a rogo. É privado quanto uma autoridade pública.
possível a impetração em proveito próprio ou de
terceiros (habeas corpus de terceiro). Este remédio é Ressalta-se que essa ação é integralmente
desprovido de condições que impeçam sua utilização GRATUITA:
da forma mais ampla possível. Poderá impetrar esta LXXVII-são gratuitas as ações de “habeas-
ação tanto uma pessoa física quanto jurídica, desde corpus” e “habeas-data”, e, na forma da
que a pessoa jurídica impetre HC em favor de uma
pessoa física.
O que não se admite é a impetração apócrifa, aquela
sem assinatura, sem identificação, uma vez que a CF 1995, P, DJ de 17-3-1995.] Vide HC 94.016, rel. min. Celso de
veda o anonimato, sendo também proibida a Mello, j. 16-9-2008, 2ª T, DJE de 27-2-2009
impetração em língua estrangeira31, em respeito ao 32
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Federativa do Brasil.
31
É inquestionável o direito de súditos estrangeiros ajuizarem,
33
em causa própria, a ação de habeas corpus, eis que esse O Ministério Público dispõe de legitimidade ativa ad causam
remédio constitucional – por qualificar-se como verdadeira para ajuizar, em favor de terceiros, a ação penal de habeas
ação popular – pode ser utilizado por qualquer pessoa, corpus. O remédio processual do habeas corpus não pode ser
independentemente da condição jurídica resultante de sua utilizado como instrumento de tutela dos direitos do Estado.
origem nacional. A petição com que impetrado o habeas Esse writ constitucional há de ser visto e interpretado em
corpus deve ser redigida em português, sob pena de não função de sua específica destinação tutelar: a salvaguarda do
conhecimento do writ constitucional (CPC, art. 156, c/c CPP, estado de liberdade do paciente. A impetração do habeas
art. 3º), eis que o conteúdo dessa peça processual deve ser corpus, com desvio de sua finalidade jurídico-constitucional,
acessível a todos, sendo irrelevante, para esse efeito, que o objetivando satisfazer, ainda que por via reflexa, porém de
juiz da causa conheça, eventualmente, o idioma estrangeiro modo ilegítimo, os interesses da acusação, descaracteriza a
utilizado pelo impetrante. A imprescindibilidade do uso do essência desse instrumento exclusivamente vocacionado à
idioma nacional nos atos processuais, além de corresponder a proteção da liberdade individual. Não se deve conhecer do
uma exigência que decorre de razões vinculadas à própria pedido de habeas corpus quando este, ajuizado
soberania nacional, constitui projeção concretizadora da originariamente perante o STF, é desautorizado pelo próprio
norma inscrita no art. 13, caput, da Carta Federal, que paciente (...). Conversão do julgamento em diligência, para
proclama ser a língua portuguesa ‘o idioma oficial da que o paciente, uma vez pessoalmente intimado, esclareça se
República Federativa do Brasil’. Não há como admitir o está de acordo, ou não, com a impetração do writ.
processamento da ação de habeas corpus se o impetrante [HC 69.889 diligência, rel. min. Celso de Mello, j. 2-2-1993, 1ª
deixa de atribuir à autoridade apontada como coatora a T, DJ de 1º-7-1993.]
prática de ato concreto que evidencie a ocorrência de um = HC 75.347, rel. min. Carlos Velloso, j. 3-12-1997, P, DJ de 6-
específico comportamento abusivo ou revestido de 3-1998
ilegalidade. [HC 72.391 QO, rel. min. Celso de Mello, j. 8-3-
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,45
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
lei, os atos necessários ao exercício da liberdade de locomoção, conforme o
cidadania. entendimento do STF36.
Institutos de prescrição, preclusão e
decadência não alcançam o Habeas Corpus,
Ademais, a Constituição proíbe a utilização deste
remédio constitucional em relação às punições conforme orientação do STF37
De acordo com a orientação do STF não se
disciplinares militares. É o que prevê o artigo 142, §
2º: pode interpor Habeas Corpus de forma
sucessiva, sem julgamento de HC anterior já
§ 2º - Não caberá “habeas-corpus” em impetrado, contudo essa regra é relativizada
relação a punições disciplinares militares. quando a violação à liberdade de locomoção
é evidente e decorre de ilegalidade ou abuso
Contudo, o STF tem admitido o remédio quando de poder38.
impetrado por razões de ilegalidade da prisão Por outro lado, a jurisprudência tem admitido
militar. Isso significa que não cabe HC para o cabimento do HC para impugnar inserção
discutir o mérito da prisão, os motivos da prisão de provas ilícitas no processo ou quando
disciplinar, mas tal somente aspectos formais da houver excesso de prazo na instrução
prisão, por exemplo: se a autoridade que decretou a processual penal.
prisão era competente para tanto, a duração da
prisão, dentre outros. Algumas súmulas sobre o HC:

Por último, cabe ressaltar que o magistrado poderá Súmula 395:Não se conhece de recurso de habeas
concedê-lo de ofício34, ou seja, independentemente corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das
de qualquer pedido ou provocação o juiz poderá custas, por não estar mais em causa a liberdade de
colocar em liberdade um individuo irregularmente locomoção.
preso. Súmula 692:Não se conhece de habeas corpus
contra omissão de relator de extradição, se fundado
Algumas JURISPRUDÊNCIAS sobre o Habeas em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
Corpus que merecem destaque: constava dos autos, nem foi ele provocado a
respeito.
Não cabe habeas corpus em relação às penas Súmula 693: Não cabe habeas corpus contra
pecuniárias, multas, advertências ou ainda, decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a
nos processos administrativos disciplinares e processo em curso por infração penal a que a pena
no processo de Impeachment. Nestes casos o pecuniária seja a única cominada.
não cabimento deve-se ao fato de que essas
medidas não visam restringir a liberdade de
locomoção.
36
De acordo com a orientação do STF o habeas O habeas corpus não se presta à revisão, em tese, do teor
corpus não é meio idôneo para impugnar ato de súmulas da jurisprudência dos tribunais. [RHC 92.886 AgR,
de sequestro ou confisco de bens em rel. min. Joaquim Barbosa, j. 21-9-2010, 2ª T, DJE de 22-10-
processo criminal35. 2010.]
O habeas corpus não é instrumento cabível 37
O habeas corpus não sofre qualquer peia, sendo-lhe
para a revisão, em tese, de súmulas editadas estranhos os institutos da prescrição, da decadência e da
por tribunais, ainda que se refiram a preclusão ante o fator tempo. [HC 91.570, rel. min. Marco
Aurélio, j. 19-8-2008, 1ª T, DJE de 24-10-2008.]
34
RT 650/331
35 38
O habeas corpus não é o meio adequado para impugnar É pacífica a jurisprudência deste STF no sentido da
ato alusivo a sequestro de bens móveis e imóveis bem como inadmissibilidade de impetração sucessiva de habeas corpus,
a bloqueio de valores. [HC 103.823, rel. min. Marco Aurélio, j. sem o julgamento definitivo do writ anteriormente
3-4-2012, 1ª T, DJE de 26-4-2012.] impetrado. Tal jurisprudência comporta relativização,
O habeas corpus, garantia de liberdade de locomoção, não quando de logo avulta que o cerceio à liberdade de
se presta para discutir confisco criminal de bem. [HC 99.619, locomoção dos pacientes decorre de ilegalidade ou de abuso
rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, j. 14-2-2012, 1ª T, DJE de 22-3- de poder (inciso LXVIII do art. 5º da CF/1988). [HC 94.000, rel.
2012.] min. Ayres Britto, j. 17-6-2008, 1ª T, DJE de 13-3-2009.]

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,46
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Súmula 694:Não cabe habeas corpus contra a
imposição da pena de exclusão de militar ou de Natureza da Ação: O HD é uma ação de natureza
perda de patente ou de função pública. civil, de rito sumário.
Súmula 695: Não cabe habeas corpus quando já
extinta a pena privativa de liberdade. São Sujeitos da Ação do HD:
ü Impetrante: qualquer pessoa física ou
jurídica, nacional ou estrangeiro, poderá
impetrar HD41. Contudo, é importante
ressaltar que só caberá o remédio em relação
HABEAS DATA às informações do próprio impetrante, e não
O habeas data cuja previsão está no inciso LXXII do de terceiros dai o caráter personalíssimo
artigo 5º tem como objetivo proteger a liberdade de dessa ação.
informação do indivíduo: Destaca-se que de acordo com o STF é
parte legítima para impetrar habeas data
LXXII-conceder-se-á “habeas-data”: o cônjuge sobrevivente na defesa de
“para assegurar o conhecimento de
interesse do falecido42.
informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou
bancos de dados de entidades ü Impetrado: Entidade pública ou privada,
governamentais ou de caráter público” ou contudo, o banco de dados ou os registros
“para a retificação de dados, quando não se onde constem as informações devem ter
prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo”. do próprio contribuinte constantes dos sistemas
informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da
administração fazendária dos entes estatais.” [RE 673.707, rel.
O HD é cabível em três hipóteses, sendo as duas min. Luiz Fux, j. 17-6-2015, P, DJE de 30-9-2015, com
primeiras previstas expressamente na CF e a terceira repercussão geral.]
41
prevista na Lei 9.507/9739 que é a lei que Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO.
regulamenta o HD, vejamos: HABEAS DATA. ARTIGO 5º, LXXII, CRFB/88. LEI Nº 9.507/97.
ACESSO ÀS INFORMAÇÕES CONSTANTES DE SISTEMAS
ü Para conhecer a informação;
INFORMATIZADOS DE CONTROLE DE PAGAMENTOS DE
ü Para retificar a informação; TRIBUTOS. SISTEMA DE CONTA CORRENTE DA SECRETARIA DA
ü Para anotação (inserir informações) nos RECEITA FEDERAL DO BRASIL-SINCOR. DIREITO SUBJETIVO DO
registros do interessado, de contestação ou CONTRIBUINTE. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. (...) 6. A
explicação sobre uma informação que legitimatio ad causam para interpretação de Habeas Data
embora verdadeira possa ser justificada e que estende-se às pessoas físicas e jurídicas, nacionais e
esteja sob pendência judicial ou estrangeiras, porquanto garantia constitucional aos direitos
administrativa. individuais ou coletivas.
(RE 673707, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado
em 17/06/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL
Ex: é exemplo de cabimento de HD, quando um - MÉRITO DJe-195 DIVULG 29-09-2015 PUBLIC 30-09-2015)
contribuinte que queira obter informações fiscais 42
HABEAS DATA – DADOS DE CÔNJUGE FALECIDO –
suas que estejam constantes de registros e bancos de LEGITIMIDADE DO SUPÉSTITE – ARTIGO 5º, INCISO LXXII,
dados do órgãos fiscal de arrecadação tributária tiver ALÍNEA “A”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 2. É parte legítima
negada essas informações40. para impetrar habeas data o cônjuge sobrevivente na defesa
de interesse do falecido. Observem o alcance da alínea “a” do
inciso LXXII do artigo 5º da Constituição Federal, que assegura
39
Lei 9507/97 Art. 7° Conceder-se-á habeas data: o conhecimento de informações relativas à pessoa do
I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de entidades governamentais ou de caráter público. Encerra o
dados de entidades governamentais ou de caráter público; acesso presente o interesse de agir. Sendo o servidor militar
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo falecido, a viúva pode atuar visando obter as informações
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; armazenadas no assentamento funcional dele. 3. Ante o
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de quadro, nego seguimento a este recurso extraordinário.
contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas (STF - RE: 589257 DF, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de
justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. Julgamento: 28/12/2012, Data de Publicação: DJe-024 DIVULG
40
“O Habeas Data é garantia constitucional adequada para a 04/02/2013 PUBLIC 05/02/2013)
obtenção dos dados concernentes ao pagamento de tributos
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,47
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
caráter público. Ex: Serviço de Proteção ao ü Não é cabível para sustar publicação feita em
Crédito – SPC é uma empresa privada, mas sítios eletrônicos (na internet)44:
pode ser ré em uma ação de HD, pois as
informações constantes de seus registros, de
seus bancos de dados, possuem caráter
público. AÇÃO POPULAR
A ação popular é uma ferramenta fiscalizadora
O HD só é cabível diante na negativa utilizada como espécie de exercício direto dos direitos
(recusa) expressa da autoridade políticos, é dizer, o seu exercício é um instrumento de
administrativa de fornecimento, retificação democracia participativa. Por isso que só poderá ser
ou anotação (explicação) das informações utilizada por cidadãos, ou seja, aqueles indivíduos que
solicitadas ou ainda omissão injustificada, detenham o exercício dos direitos políticos. Veja o que
veja o que dispõe o STF: diz o inciso LXXIII do artigo 5º:
A prova do anterior indeferimento do
pedido de informação de dados pessoais, ou
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima
da omissão em atendê-lo, constitui
para propor ação popular que vise a anular
requisito indispensável para que se ato lesivo ao patrimônio público ou de
concretize o interesse de agir no habeas
entidade de que o Estado participe, à
data. Sem que se configure situação prévia
moralidade administrativa, ao meio
de pretensão resistida, há carência da ação ambiente e ao patrimônio histórico e
constitucional do habeas data.
cultural, ficando o autor, salvo comprovada
[RHD 22, rel. p/ o ac. min. Celso de Mello,
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
j. 19-9-1991, P, DJ de 1º-9-1995.] da sucumbência;
= HD 87 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j.
25-11-2009, P, DJE de 5-2-2010
Qualquer CIDADÃO pode ser o autor dessa ação,
entende-se por cidadão aquele que detenha a chamada
É uma ação é gratuita, mas exige a capacidade eleitoral ativa, ou seja, o indivíduo que
representação por advogado. possa votar. Lembra-se que a capacidade eleitoral
ativa pode ser exercida a partir dos 16 anos. Dessa
forma, um jovem de 16 anos que detenha o título de
LXXVII-são gratuitas as ações de “habeas- eleitor poderá ser autor de Ação Popular.
corpus” e “habeas-data”, e, na forma da Assim, pessoas jurídicas, o Ministério Público e
lei, os atos necessários ao exercício da
estrangeiros não podem interpor Ação Popular.
cidadania.
A respeito do tema destaca-se a súmula 365 do
A respeito do HD é importante conhecer o STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para
entendimento da jurisprudência sobre as hipóteses propor ação popular.”
de NÃO CABIMENTO do Habeas Data, vejamos
algumas delas: O réu da Ação popular pode ser qualquer pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado;
ü O habeas data não se confunde com o direito autoridades, funcionários, administradores e
de obter CERTIDÕES, dessa forma havendo beneficiários diretos que tenham cometido algum ato
recusa em fornecer certidões para a defesa de
direitos ou situações de interesse pessoal, pessoais falsos ou equivocados. O habeas data não se revela
próprio ou de terceiros, ou meras meio idôneo para se obter vista de processo administrativo.
informações de terceiros, a via adequada é o HD 90 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 18-2-2010, P, DJE de 19-3-
mandado de segurança. 2010. = HD 92 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 18-8-2010, P,
ü Não é cabível o habeas data para se obter DJE de 3-9-2010.
44
vista ou cópia de processo administrativo43: O habeas data é via processual inadequada ao atendimento
de pretensão do autor de sustar a publicação de matéria em
sítio eletrônico.[HD 100 AgR, rel. min. Luiz Fux, j. 25-11-2014,
43
A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do 1ª T, DJE de 16-12-2014.]
indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,48
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
lesivo ao patrimônio: Público, histórico ou cultural; A CF prevê no art. 5o, LXIX:
a moralidade administrativa ou ao meio ambiente.
LXIX- conceder-se-á mandado de segurança
para proteger direito líquido e certo, não
A Ação Popular tem como objeto, serve para amparado por “habeas-corpus” ou
ANULAR ato ou contrato administrativo que seja “habeas-data”, quando o responsável pela
lesivo: ilegalidade ou abuso de poder for
ü Ao Patrimônio: Público, histórico ou cultural; autoridade pública ou agente de pessoa
ü A Moralidade administrativa; jurídica no exercício de atribuições do
ü Ao Meio Ambiente. Poder Público;
Dessa forma a Ação Popular não serve para defesa de
direitos individuais e sim de direitos de natureza Natureza da Ação: O MS é uma ação de natureza
coletiva, como concretizador do princípio republicano civil, de rito sumário especial. Destaca-se que o
que impõe ao administrador público o dever de prestar caráter civil da Ação, não impede que seja
contas a respeito da gestão da coisa pública. impetrado MS contra ato de juiz em processo penal.
Outro ponto relevante é que não precisa comprovar o
prejuízo aos cofres públicos para propor Ação Como se pode ver, o mandado de segurança será
Popular. cabível para proteger DIREITO LÍQUIDO E
CERTO, que é aquele em que os fatos alegados são
A Ação pode ser interposta de forma preventiva, comprováveis de plano, as provas devem ser pré-
antes da prática do ato ilegal ou imoral, ou constituídas, pois no MS não existe dilação
repressiva após a ocorrência do ato lesivo. probatória, não existe fase de instrução processual,
que é o momento em que se produz provas. Ex: no
O Ministério Público não pode ajuizar Ação MS não será possível ouvir testemunhas, nem
Popular, uma vez que essa prerrogativa é apenas do produzir perícia no curso do processo.
cidadão, contudo, caso haja omissão ou abandono da É dizer: para ser cabível MS não pode haver
ação pelo autor, o MP poderá substituir o autor na controvérsia sobre os fatos narrados.
ação. No mais, o MP atua na Ação Popular apenas Veja que é possível a existência de controvérsia
como fiscal da lei. sobre a matéria de direito, ou seja, pode ser
Gratuidade para o Autor. A CF isenta o impetrado MS, mesmo não havendo unanimidade na
autor da Ação Popular de pagar custas judiciais ou interpretação da doutrina e da jurisprudência, mas os
ônus da sucumbência, salvo se tiver de má-fé. fatos devem ser comprováveis de imediato.
Observe que a ação em si não é gratuita, a
gratuidade é apenas para o Autor, de boa-fé, e não Assim, para ser cabível MS não pode haver
para o Réu. controvérsia sobre os fatos narrados, veja que é
Tema importantíssimo para a sua prova diz possível a existência de controvérsia sobre a matéria
respeito ao foro por prerrogativa de função que de direito, ou seja, pode ser impetrado MS, mesmo
não alcança a Ação Popular, dessa forma, não existe não havendo unanimidade na interpretação da
competência originária para o julgamento de Ação doutrina e da jurisprudência, mas os fatos devem ser
Popular45. Por ex: uma Ação Popular contra o comprováveis de imediato.
Presidente da República não deverá ser ajuizada Esse entendimento encontra-se sumulado pelo STF,
perante o STF e sim perante o juiz singular, de conforme Súmula 625:
primeiro grau.
Além da previsão constitucional, esta ação encontra- Controvérsia sobre matéria de direito não
se regulamentada pela lei 4.717/65. impede concessão de mandado de
segurança.

MANDADO DE SEGURANÇA O Cabimento do MS só é possível também se o


direito não estiver amparado por habeas corpus ou
45
Não é da competência originária do STF conhecer de ações habeas data, ou seja, nem toda violação a direito
populares, ainda que o réu seja autoridade que tenha na líquido e certo será discutida através de MS,
Corte o seu foro por prerrogativa de função para os processos somente sendo cabível quando não for protegido por
previstos na Constituição. STF - AG.REG.NA PETIÇÃO : Pet- outros remédios constitucionais. Este é o chamado
AgR 3152 PA.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,49
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
caráter residual, subsidiário do mandado de impetrado, mesmo que já tenha sido proferida
segurança. sentença, desde que essa decisão ainda não tenha
transitado em julgado.
O texto constitucional exigiu também para a
utilização desta ferramenta, a ocorrência de “É lícito ao impetrante desistir da ação de
ilegalidade e o abuso de poder praticado por mandado de segurança, independentemente
autoridade pública ou privada, esta desde que esteja de aquiescência da autoridade apontada
no exercício de atribuições do poder público, ou como coatora ou da entidade estatal
seja, o ato impugnado através de MS interessada ou, ainda, quando for o caso,
necessariamente precisa ser um ATO DE dos litisconsortes passivos necessários”
AUTORIDADE, entendido como qualquer (MS 26.890-AgR/DF, Pleno, Min. Celso de
manifestação ou omissão do Poder público ou de Mello, DJe de 23-10-2009), (...) "mesmo
agente no exercício de atribuições do Poder Público. após eventual sentença concessiva do writ
constitucional, (…) não se aplicando, em tal
hipótese, a norma inscrita no art. 267, § 4º,
O mandando de segurança poderá ser repressivo
do CPC" (RE 255.837-AgR/PR, Segunda
quando a ilegalidade já tiver sido cometida ou Turma, Min. Celso de Mello, DJe de 27-11-
preventivo quando o impetrante demonstrar justo 2009).
receio de sofrer violação de direito líquido e certo [RE 669.367, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber,
por parte da autoridade impetrada. j. 2-5-2013, P, DJE de 30-10-2014, com
repercussão geral.]
O mandado de segurança possui prazo decadencial
(que não se interrompe e não se suspende) para ser
A legitimidade para impetrar mandado de
utilizado de 120 dias, a contar da data em que o
segurança com a finalidade de impedir a
interessado teve conhecimento oficial do ato a ser
aprovação de lei ou emenda que seja
impugnado. Esse prazo deve ser verificado na data
incompatível com o processo legislativo
do ajuizamento da ação, ainda que feito em juízo
constitucional é dada aos parlamentares,
incompetente.
membros da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal e não a qualquer cidadão.
O prazo de decadência para o Mandado de
O STF admite a legitimidade do
Segurança, ainda que protocolado em juízo
parlamentar – e somente do parlamentar –
incompetente, deve ser aferido na data em
para impetrar mandado de segurança com a
que foi originalmente protocolado, desse
finalidade de coibir atos praticados no
modo, não decai o direito ao MS se não for
processo de aprovação de lei ou emenda
remetido ao juízo competente dentro dos
constitucional incompatíveis com
120 dias, Conforme jurisprudência do STF:
disposições constitucionais que disciplinam
É posição pacífica da jurisprudência desta
o processo legislativo. Precedentes do STF:
Suprema Corte que o prazo decadencial
MS 20.257/DF, Min. Moreira Alves
para ajuizamento do mandado de
(leading case) (RTJ 99/1031); MS
segurança, mesmo que tenha ocorrido
20.452/DF, min. Aldir Passarinho (RTJ
perante juízo absolutamente incompetente,
116/47); MS 21.642/DF, min. Celso de
há de ser aferido pela data em que foi
Mello (RDA 191/200); MS 24.645/DF, min.
originariamente protocolizado.
Celso de Mello, DJ de 15-9-2003; MS
[MS 26.792 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j. 4-
24.593/DF, min. Maurício Corrêa, DJ de 8-
9-2012, 1ª T, DJE de 27-9-2012.]
8-2003; MS 24.576/DF, min. Ellen Gracie,
DJ de 12-9-2003; MS 24.356/DF, min.
Ademais, de acordo com o STF é constitucional a Carlos Velloso, DJ de 12-9-2003.
fixação de prazo decadencial para o Mandado de [MS 24.667 AgR, rel. min. Carlos Velloso, j.
Segurança, conforme Súmula 632 do STF - É 4-12-2003, P, DJ de 23-4-2004.] = MS
constitucional lei que fixa prazo de decadência para 32.033, rel. p/ o ac. min. Teori Zavascki, j.
20-6-2013, P, DJE de 18-2-2014
impetração de mandado de segurança.

O impetrante pode desistir do MS a qualquer tempo, Não cabe MS contra ato que caiba recurso
independentemente do consentimento do administrativo com efeito suspensivo.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,50
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
“Não se dará mandado de segurança defender direitos dos seus membros ou associados,
quando se tratar de ato de que caiba desde que pertinentes as finalidades da entidade.
recurso administrativo com efeito Ademais, não precisa ser um direito de todos os seus
suspensivo" (...). membros, podendo ser um direito de parte dos
[MS 26.178 AgR, rel. min. Ayres Britto, j.
membros da entidade.47
6-6-2007, P, DJE de 11-4-2008.]
= MS 26.737 ED, rel. min. Cármen Lúcia, j.
Caso um Partido Político, perca no curso do
25-6-2008, P, DJE de 13-3-2009 processo a sua representação no Congresso
Nacional, isso não será causa para a extinção do
mandado de segurança, desse modo, a perda
superveniente da representação no congresso
MANDADO DE SEGURANÇA nacional não implica na extinção do MS.
COLETIVO No MS Coletivo os legitimados atuam como
A CF ainda trata do MANDADO DE substitutos processuais, buscando interesses de seus
SEGURANÇA COLETIVO, que é remédio filiados em nome próprio, por esse motivo os
constitucional para defesa de direitos coletivos e legitimados não precisam de autorização expressa
individuais homogêneos: dos seus filiados48

LXX - o mandado de segurança coletivo A legitimação das organizações sindicais,


pode ser impetrado por: entidades de classe ou associações, para a
a) partido político com representação no segurança coletiva, é extraordinária,
Congresso Nacional; ocorrendo, em tal caso, substituição
b) organização sindical, entidade de classe processual. CF, art. 5º, LXX. Não se exige,
ou associação legalmente constituída e em tratando-se de segurança coletiva, a
funcionamento há pelo menos um ano, em autorização expressa aludida no inciso XXI
defesa dos interesses de seus membros ou do art. 5º da Constituição, que contempla
associados; hipótese de representação.
[RE 193.382, rel. min. Carlos Velloso, j. 28-
Observadas as regras do mandado de segurança 6-1996, P, DJ de 20-9-1996.]
individual, o mandado de segurança coletivo possui = RE 437.971 AgR, rel. min. Cármen
alguns requisitos que lhe são peculiares: os Lúcia, j. 24-8-2010, 1ª T, DJE de 24-9-2010
legitimados para propositura, ou seja, quem pode
propor Mandado de Segurança Coletivo.

De acordo com a CF são LEGITIMADOS para SÚMULAS SOBRE O MANDADO


propor o mandado de segurança coletivo: DE SEGURANÇA:
ü Partidos Políticos com representação no
Congresso Nacional, ou seja, para se ter
representação no Congresso Nacional basta ü O mandado de segurança não substitui a ação
um membro na Câmara OU um no Senado. popular. [Súmula 101.]
ü Organização sindical46, ü Não cabe mandado de segurança contra lei
ü Entidade de classe, em tese. [Súmula 266.]
ü Associação desde que legalmente constituída ü Não cabe mandado de segurança contra ato
e em funcionamento há pelo menos um ano. judicial passível de recurso ou correição.
Observe que o requisito de um ano de constituição e [Súmula 267.]
funcionamento só se aplica às associações!! ü Não cabe mandado de segurança contra
decisão judicial com trânsito em julgado.
Os Partidos Partidos, podem defender direitos [Súmula 268.]
relativos a seus integrantes ou relacionados a
47
finalidade partidária, enquanto que os demais podem Súmula 630 - A entidade de classe tem legitimação para o
mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada
interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
48
46
Agravo Regimental em Recurso Extraordinário RE 696845

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,51
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ü O mandado de segurança não é substitutivo direitos fundamentais, será cabível a impetração de
de ação de cobrança. [Súmula 269.] Mandado de Injunção.
ü Concessão de mandado de segurança não Dessa forma o objetivo do MI é suprir a omissão
produz efeitos patrimoniais em relação a legislativa que impede o exercício de direitos
período pretérito, os quais devem ser fundamentais.
reclamados administrativamente ou pela via
judicial própria. [Súmula 271.] Quando o legislador não regulamenta uma norma
ü Pedido de reconsideração na via constitucional de eficácia limitada, impedindo o
administrativa não interrompe o prazo para o exercício de direitos fundamentais, fica
mandado de segurança. [Súmula 430.] caracterizada a violação da CF, pela omissão
ü Praticado o ato por autoridade, no exercício legislativa, pela inércia, essa é a chamada violação
de competência delegada, contra ela cabe o negativa do texto constitucional.
mandado de segurança ou a medida judicial.
[Súmula 510.] A CF prevê expressamente apenas a possibilidade de
ü Não cabe condenação em honorários de impetração de Mandado de Injunção de natureza
advogado na ação de mandado de segurança. individual, contudo a doutrina e a jurisprudência
[Súmula 512.] aceitavam, por analogia ao Mandado de Segurança,
ü Controvérsia sobre matéria de direito não o cabimento do Mandado de injunção coletivo.
impede concessão de mandado de segurança. Contudo, a Lei nº 13.300/2016, disciplinou o
[Súmula 625.] processo e julgamento do mandado de injunção
ü A impetração de mandado de segurança individual e previu expressamente a possibilidade de
coletivo por entidade de classe em favor dos impetração de mandado de injunção coletivo.
associados independe da autorização destes.
(SÚMULA 629) O Mandado de injunção individual pode ser
ü A entidade de classe tem legitimação para o impetrado por pessoas naturais ou jurídicas que se
mandado de segurança ainda quando a afirmam titulares de direitos e liberdades
pretensão veiculada interesse apenas a uma constitucionais e das prerrogativas inerentes à
parte da respectiva categoria. [Súmula 630.] nacionalidade, à soberania e à cidadania, cujo
ü É constitucional lei que fixa prazo de exercício seja inviabilizado pela ausência da norma
decadência para impetração de mandado de regulamentadora. (Lei 13.300/2016, art. 3º).
segurança. [Súmula 632.] Pessoas jurídicas de direito Público, apesar de
serem titulares de garantias fundamentais, não
possuem legitimidade para impetração de mandado
MANDADO DE INJUNÇÃO de injunção.
O mandado de injunção é uma garantia que visa
assegurar o exercício de direitos e liberdade O objeto da ação é a omissão legislativa
constitucionais que ficam inviabilizados pela inconstitucional, ou seja, a mora inconstitucional,
ausência de regulamentação. Vejamos o que diz a que só se caracteriza após o decurso razoável de
Constituição: tempo para a edição da norma.
O mandado de injunção não é via adequada para
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção impugnar a constitucionalidade de uma norma
sempre que a falta de norma
regulamentadora ou sanar lacuna normativa de
regulamentadora torne inviável o exercício
dos direitos e liberdades constitucionais e
período anterior à sua edição.
das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania; Assim, podemos esquematizar três requisitos para o
ajuizamento de mandado de injunção:
Você deve lembrar que algumas normas a) Falta de norma regulamentadora;
constitucionais para que produzam efeitos dependem b) Inviabilização de um direito ou liberdade
da edição de outras normas infraconstitucionais, constitucional ou de prerrogativas inerentes à
estas normas são conhecidas por sua eficácia como nacionalidade, à soberania e à cidadania;
normas de eficácia limitada, caso essas normas c) Decurso de prazo razoável para a elaboração
regulamentadoras não sejam criadas e por conta da norma regulamentadora.
disso se esteja tornando inviável o exercício de
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,52
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ü Associação desde que legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano.
O mandado de injunção coletivo tem por
finalidade proteger direitos, liberdades e Contudo, além desses legitimados a lei 13.300/2016,
prerrogativas pertencentes, indistintamente, a uma conferiu legitimidade também para:
coletividade indeterminada de pessoas ou ü Defensoria Pública
determinada por grupo, classe ou categoria. ü Ministério Público.
A legitimidade para impetração, antes conferida, por
analogia, aos mesmos legitimados do mandado de Agora, como que o Poder Judiciário deverá proceder
segurança coletivo (CF, art. 5.º, LXX), foi ampliada na hora de julgar um Mandado de Injunção, ele
pelo artigo 12 da Lei nº 13.300/2016. pode, deve assegurar imediatamente os direitos não
regulamentados? Ele deve criar a lei? Deve intimar o
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser
promovido: legislativo para ele realizar a norma? Essa decisão
valerá para todo mundo ou valerá apenas para as
I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida
for especialmente relevante para a defesa da ordem
partes do processo?
jurídica, do regime democrático ou dos interesses
sociais ou individuais indisponíveis; Antes da lei 13.300/2016 essas perguntas não
II - por partido político com representação no tinham uma resposta específica, isso porque
Congresso Nacional, para assegurar o exercício de dependendo do caso o poder judiciário fazia uma ou
direitos, liberdades e prerrogativas de seus outra coisa, contudo, felizmente a lei resolver esse
integrantes ou relacionados com a finalidade dilema, pacificando o tema.
partidária;
III - por organização sindical, entidade de classe ou Quanto aos efeitos do Mandado de Injunção
associação legalmente constituída e em podemos destacar que a lei 13.300/2016, adotou a
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para chamada TEORIA CONCRETISTA
assegurar o exercício de direitos, liberdades e INTERMEDIÁRIA, através da qual, o julgador
prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de deve primeiramente comunicar a omissão ao órgão
seus membros ou associados, na forma de seus competente para a elaboração da norma, fixando
estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades,
prazo para o seu cumprimento e, após, caso não
dispensada, para tanto, autorização especial;
tenha sido cumprido o determinado, o direito seria
IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela
exercido nos termos a serem fixados pela decisão
requerida for especialmente relevante para a
judicial:
promoção dos direitos humanos e a defesa dos
direitos individuais e coletivos dos necessitados, na Art. 8o Reconhecido o estado de mora legislativa,
forma do inciso LXXIV do art. 5o da Constituição será deferida a injunção para:
Federal. I - determinar prazo razoável para que o impetrado
Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as promova a edição da norma regulamentadora;
prerrogativas protegidos por mandado de injunção II - estabelecer as condições em que se dará o
coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma exercício dos direitos, das liberdades ou das
coletividade indeterminada de pessoas ou prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as
determinada por grupo, classe ou categoria. condições em que poderá o interessado promover
Assim, podemos dizer que podem impetrar ação própria visando a exercê-los, caso não seja
suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Mandado de Injunção coletivo, os mesmos que
podem apresentar mandado de segurança coletivo, Parágrafo único. Será dispensada a determinação a
que se refere o inciso I do caput quando
ou seja:
comprovado que o impetrado deixou de atender, em
ü Partidos Políticos com representação no mandado de injunção anterior, ao prazo
Congresso Nacional estabelecido para a edição da norma.
ü Organização sindical49,
ü Entidade de classe;
Ainda quanto aos efeitos da decisão do MI, o artigo
9o adotou como regra a TEORIA CONCRETISTA
INDIVIDUAL, com aplicação dos efeitos apenas
49
Agravo Regimental em Recurso Extraordinário RE 696845 para as partes do processo (inter partes), porém,
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,53
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
com a possibilidade de extensão desses efeitos para "Art. 6º São direitos sociais a educação,
todos ou para um grupo de pessoas (efeitos ultra a saúde, a alimentação, o trabalho, a
partes ou erga omnes), ou seja, podendo ser adotado moradia, o transporte, o lazer, a
a TEORIA CONCRETISTA GERAL. segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a
Art. 9o A decisão terá eficácia subjetiva limitada às
partes e produzirá efeitos até o advento da norma
assistência aos desamparados, na
regulamentadora. forma desta Constituição."
§ 1o Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou Para as provas é muito importante que você
erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou memorize esses direitos, como dica de memorização
indispensável ao exercício do direito, da liberdade veja a seguinte mnemônica.
ou da prerrogativa objeto da impetração.
ü Efeito inter partes é o efeito da decisão apenas
para as partes integrantes do litígio. EDU MORA LÁ SAÚ TRABALHA ALI
ASSIS PRO SEG
TRANSPORTANDO PRESO
ü Efeito ultra partes é o efeito da decisão para um
grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas,
por exemplo, uma associação ou sindicato.
ü Efeito erga omnes é o efeito da decisão para Respectivamente: educação, moradia, lazer, saúde,
todos. trabalho, alimentação, assistência aos desamparados,
proteção à maternidade e à infância, segurança,
transporte e previdência social.
CAPÍTULO 2 - DIREITOS
SOCIAIS A respeito desses direitos elencados no caput do art.
6o algumas considerações são pertinentes.
NOÇÕES GERAIS
Os direitos sociais encontram-se previstos a partir do O direito à moradia (inserido pela EC 26/2000)
artigo 6º até o artigo 11 da Constituição Federal. São não se confunde com o direito à propriedade, isso
normas que se concretizam por meio de prestações porque o direito à moradia é, como visto, um direito
positivas por parte do Estado, haja vista objetivarem de segunda dimensão que determina que o Estado
reduzir as desigualdades sociais, atuam como deve assegurar a todos um teto, um abrigo. Já o
liberdades positivas, visando a igualdade social. direito de propriedade se caracteriza por ser um
São direitos de 2a dimensão ou geração e visam direito de primeira dimensão, ou seja, é o direito do
assegurar a isonomia ou igualdade. individuo de usar, fruir e gozar da coisa imóvel que
Pela sua relevante importância na consagração dos lhe pertença, sem a intereferência do Estado.
direitos humanos, os direitos sociais se encontram
previstos na Declaração Universal dos Direitos O direito a segurança elencado no artigo 6o refere-
Humanos (DUDH), em seu art. XXII: se a ideia de segurança pública, nos termos do art.
144 da CF.
Todo ser humano, como membro da
sociedade, tem direito à segurança O direito à alimentação (inserido pela EC 64/2010)
social, à realização pelo esforço refere-se ao direito humano a uma alimentação
nacional, pela cooperação internacional adequada.
e de acordo com a organização e
recursos de cada Estado, dos direitos O direito ao Transporte foi o último direito social
econômicos, SOCIAIS e culturais a ser inserido na CF através da EC 90/2015.
indispensáveis à sua dignidade e ao
livre desenvolvimento da sua
personalidade. CARACTERÍSTICAS:
Os direitos Sociais são normas de ordem pública
Primeiramente devemos analisar quais são os com as seguintes CARACTERÍSTICAS:
direitos sociais previstos na CF, vejamos: A) Imperatividade: é uma imposição ao Estado que
deve necessariamente assegurar os direitos sociais,

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,54
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
não depende da vontade dos indivíduos, pois a é obrigado a pelo menos assegurar o acesso aos
norma não é conselho, mas ordem a ser seguida. direitos sociais. Dessa forma o Estado não pode
B) Inviolabilidade: os direitos sociais não podem alegar insuficiência de recursos para assegurar o
ser violados, aliás todos os direitos fundamentais são mínimo; essa teoria ficou conhecida como teoria do
invioláveis. mínimo existencial.
C) Aplicação imediata: sabe-se que todos os Dessa forma, podemos dizer que a teoria do mínimo
direitos sociais têm aplicação imediata (uma vez que existencial impõe um limite a teoria da Reserva do
são espécies de direitos fundamentais – art. 5o50 § 1º Possível, na medida em que o Estado não pode
da CF/88), contudo, quanto a eficácia dos direitos alegar que não tem dinheiro para assegurar o
sociais, de uma forma geral pode-se afirmar que são mínimo de acesso aos direitos sociais, que
normas de eficácia limitada, ou seja, que dependem representam o mínimo de dignidade que o Estado
de regulamentação, desse modo, caso haja omissão deve proporcionar.
legislativa no sentido de implementar um Conclui-se então que a teoria do mínimo existencial
determinado direito social será possível a impetração determina que o Estado tem o dever de assegurar ao
de Mandado de injunção. cidadão condições mínimas para uma vida digna,
independentemente da existência de recursos
públicos para custeio.
CLÁUSULA DA RESERVA DO
POSSÍVEL X MÍNIMO Ademais, caso o Estado não assegure o mínimo
EXISTENCIAL existencial, de forma excepcional é possível a
atuação do Poder Judiciário, que inclusive pode
Sabe-se que a implementação dos direitos sociais, determinar medidas coercitivas, como bloqueio de
enquanto dever do Estado, depende necessariamente contas, para que o Estado assegure os direitos
de recursos financeiros, o Estado não tem como sociais. A esse fenômeno de atuação do Poder
assegurar educação, saúde, trabalho e os demais Judiciário na gestão da coisa pública no sentido de
direitos sem dinheiro. assegurar os direitos sociais, ficou conhecido como
Dessa forma, no que tange a implementação dos Judicialização de Políticas Públicas.
direitos sociais o Estado é obrigado a assegurá-los Evidentemente que essa atuação do Poder Judiciário
na medida daquilo que for economicamente, é excepcional, sob pena de violação da separação
financeiramente possível, dessa forma o Estado não dos Poderes.
fica responsável pela total implementação dos
direitos sociais, mas apenas naquilo que tenha
dinheiro para executar. DIREITO SOCIAS
A teoria que diz que o Estado só deve assegurar os TRABALHISTAS
direitos sociais na medida daquilo que lhe seja
economicamente viável, ficou conhecida como No capítulo destinado aos direitos sociais a CF, nos
Teoria da Reserva do Possível ou cláusula da incisos seguintes, tratou apenas de um dos direitos
reserva do possível. elencados no art.6o que é o direito ao Trabalho.
A cláusula da reserva do possível traz a ideia de que Dessa forma, os artigos que se seguem (7o ao 11o)
é impossível garantir de forma ampla todos os dispõe apenas de direitos sociais de caráter
direitos sociais previstos pela CF, tendo em vista a trabalhista. Os demais direitos sociais são abordados
inexistência de recursos públicos suficientes. pela CF, especialmente no título da Ordem Social.
Mas dai você deve estar se questionando: então o Esses direitos podem ser assim classificados em
Estado não é obrigado a assegurar direitos sociais? É direitos aplicáveis as relações individuais de
só ele alegar que não tem dinheiro e pronto, ficamos trabalho e direitos coletivos dos trabalhadores:
sem direitos sociais?
A resposta é que o Estado é obrigado a assegurar, no
que diz respeito aos direitos sociais, o mínimo ao
respeito da dignidade das pessoas, ou seja, o Estado

50
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,55
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
trabalhadores domésticos, graças a EC 72/2013, que
Direito de associação ficou conhecida como PEC dos domésticos.
profissional ou
sindical As bancas costumam cobrar quais dos direitos desse
artigo também são aplicáveis aos domésticos ou aos
Direitos individuais servidores públicos, por isso é muito importante que
Direito de greve
(art. 7o)
Direitos dos você memorize quais direitos sociais são extensíveis
trabalhadores
Direito de
a esses trabalhadores.
Direitos coletivos (art.
8o - 11)
Substituição
processual
Para ajudá-lo ao final desse capítulo temos uma
tabela comparativa entre os direitos de cada uma
Direito de
dessas classes: trabalhadores urbanos e rurais;
participação domésticos e servidores públicos. Tem que ler!!!!!

Direito de
representação
Os incisos do artigo 7o costumam cair nas provas de
classista forma bastante literal, é um copia e cola da CF,
sendo assim, a leitura integral dos incisos do artigo
7o é imprescindível. Dessa forma, vamos analisar
aqueles que são mais cobrados ou que exijam um
conhecimento a mais:
DIREITOS SOCIAIS INDIVIDUAIS
DOS TRABALHADORES
Vamos analisar então o caput do art.7o da CF: PROTEÇÃO CONTRA DESPEDIDA
ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA

Art. 7º São direitos dos trabalhadores A CF buscando proteger as relações de trabalho


urbanos e rurais, além de outros que estabelece que lei complementar deverá prever uma
visem à melhoria de sua condição indenização compensatória, caso o trabalhador seja
social: despedido arbitrariamente ou sem justa causa.
O problema é que essa lei complementar nunca foi
Pela leitura do caput podemos observar que o rol de criada, dessa forma, até que a lei seja criada a
direitos trabalhistas configuram um rol indenização deverá ser realizada através do
EXEMPLIFICATIVO, isso porque outros direitos pagamento de multa de 40% sobre o valor do FGTS,
poderão ser assegurados em outros documentos. conforme determinação do art. 10, I do ADCT.
Além disso os direitos elencados são aplicáveis aos Ressalta-se que essa regra constitucional é uma
trabalhadores URBANOS, RURAIS, e por expressa norma de eficácia contida.
disposição da CF são estendidos integralmente aos
trabalhadores AVULSOS, observe: I - relação de emprego protegida contra
despedida arbitrária ou sem justa
XXXIV - igualdade de direitos entre o causa, nos termos de lei complementar,
trabalhador com vínculo51 empregatício que preverá indenização
permanente e o trabalhador avulso. compensatória, dentre outros direitos;

Parte desses direitos, não todos, também são


GARANTIAS DO TRABALHADOR
extensíveis aos servidores públicos e aos A CF pensando em amparar aquele trabalhador
desempregado prevê um seguro, que é uma ajuda
dada ao trabalhador, caso ele esteja desempregado
51
Segundo a lei 12.023/2009, trabalhado avulso é: “aquele de forma involuntária, ou seja, caso ele tenha sido
que presta serviços nas áreas urbanas ou rurais de caráter demitido. Isso significa que se o trabalhador pedir
intermitente sem vinculo empregatício, mediante demissão ele não fará jus ao seguro desemprego.
intermediação obrigatória do sindicato da categoria por meio
de acordos e convenções coletivas de trabalho para execução II - seguro-desemprego, em caso de
das tarefas.”. desemprego involuntário;

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,56
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ü Proibição de Vinculação: a CF não admite a
A CF assegura também o Fundo de Garantia do vinculação do salário para qualquer finalidade, ou
tempo de serviço – FGTS, que nada mais é do que seja, o salário mínimo não deve servir como índice
uma espécie de poupança que o empregador faz, de correção monetária.
depositando mensalmente um valor em uma conta Destaca-se, contudo, a interpretação do STF52 que
vinculada e exclusiva do empregado. Assim, em entende não ofender a CF a vinculação do salario
situações emergenciais ou mesmo em caso de mínimo como base para cálculo de pensão
desemprego o trabalhador poderá levantar os valores alimentícia.
que foram depositados.
A garantia do salário mínimo é assegurada também
III - fundo de garantia do tempo de ao servidor público, entretanto, tal garantia não se
serviço - FGTS; refere ao valor do vencimento básico, mas diz
respeito a totalidade da remuneração. A
Atenção: de acordo com a nova orientação do STF o
remuneração do servidor é composta de: vencimento
prazo para cobrança judicial dos valores do FGTS é
básico mais adicionais, sendo assim, de acordo com
de 5 anos, observado o limite de 2 anos após a
a SV.16, se o valor do vencimento básico foi inferior
extinção do contrato de trabalho e não mais de 30
ao mínimo não haverá ofensa a CF, o que não se
anos. (RE 134.328).
permite é que a remuneração seja inferior ao
mínimo.
SALÁRIO MÍNIMO Súmula Vinculante 16:
A garantia do Salário mínimo encontra-se prevista Os artigos 7º, IV, e 39, §3º (redação da
no inciso IV do art. 7o, vejamos a sua redação: EC 19/98), da Constituição, referem-se
IV - salário mínimo, fixado em lei, ao total da remuneração percebida pelo
nacionalmente unificado, capaz de servidor público.
atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com Ø Não viola a Constituição o estabelecimento
moradia, alimentação, educação, de remuneração inferior ao salário mínimo
saúde, lazer, vestuário, higiene, para as praças prestadoras de serviço militar
transporte e previdência social, com inicial.
reajustes periódicos que lhe preservem
[Súmula Vinculante 6.]
o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
Ø Salvo nos casos previstos na Constituição, o
salário mínimo não pode ser usado como
Quanto ao salario mínimo podemos destacar as indexador de base de cálculo de vantagem de
seguintes características: servidor público ou de empregado, nem ser
ü Deve ser fixado em Lei: é apenas o Poder substituído por decisão judicial.
Legislativo que deve fixar o valor do salário [Súmula Vinculante 4.]
mínimo. Contudo, de acordo com o STF a lei que
regulamenta o Salário mínimo poderá autorizar que
REGRAS SALARIAIS
a mera declaração do valor do salário seja feita por
decreto do Presidente da República. VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
ü Nacionalmente Unificado: o salário mínimo convenção ou acordo coletivo;
é estipulado de forma nacional, unificado em todo o VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
país, sem levar em consideração as peculiaridades de para os que percebem remuneração variável;
cada região do país. VIII - décimo terceiro salário com base na
ü Reajustes periódicos: como o salário remuneração integral ou no valor da
mínimo deve atender a todas as necessidades vitais aposentadoria;
do individuo e de sua família, o valor do salário X - proteção do salário na forma da lei, constituindo
deve ser reajustado com a finalidade de manter sua crime sua retenção dolosa;
capacidade aquisitiva.
52
ARE 842.157, mi. Dias Toffoli, 19.06.2015.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,57
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
ininterruptos de revezamento, salvo
PISO SALARIAL negociação coletiva;
A CF estabelece dentre os direitos assegurados aos
trabalhadores urbanos e rurais, o direito ao piso
salarial que deverá ser fixado de forma proporcional
Observe que o valor da hora extra deve ser de, NO
à extensão e à complexidade do trabalho.
MÍNIMO, 50% a mais do que o valor da hora
V - piso salarial proporcional à normal.
extensão e à complexidade do trabalho;
XVI - remuneração do serviço
extraordinário superior, no mínimo, em
Como visto, o valor do piso salarial em relação aos cinquenta por cento à do normal;
trabalhadores não está definido na Constituição
Federal, ademais essa é uma competência que foi
LICENÇA MATERNIDADE E LICENÇA
delegada aos Estados e ao DF, através da LC
PATERNIDADE
103/2000.
A CF assegura expressamente o prazo de 120 dias
de licença maternidade, oportunizando que a mãe
TRABALHO NOTURNO
possa ficar pelo menos os primeiros meses com seu
IX – remuneração do trabalho noturno superior filho, sem prejuízo do seu emprego e do seu salário.
à do diurno;
Em decorrência do evidente desgaste que o trabalho XVIII - licença à gestante, sem prejuízo
noturno gera para o empregado a CF assegura que a do emprego e do salário, com a duração
hora noturna deve ser paga em valor superior a hora de cento e vinte dias;
trabalhada em período diurno
Licença adotante: De acordo com a jurisprudência
do STF o prazo da licença adotante deverá ser igual
ao da licença gestante, nem poderá ser estabelecido
JORNADA DE TRABALHO e HORA EXTRA
prazos distintos em decorrência da idade da criança
A duração da jornada de trabalho no Brasil é, como
adotada. (RE 778.889)
regra, de oito horas diárias e 44 semanais, o que for
trabalhado além disso deverá ser pago ao
trabalhador como hora extra.
Em decorrência da igualdade formal entre homens e
Contudo, essa regra não é absoluta isso porque o
mulheres a CF também assegura um período de
trabalhador poderá realizar compensação de horários
licença para o pai, contudo não estabelece um prazo
(banco de horas) ou pode ter a jornada reduzida,
específico, deixando esse prazo para a lei definir.
desde que prevista em acordo ou convenção coletiva
Atualmente, a licença paternidade é de 5 dias,
de trabalho.
conforme art. 1053 § 1º do ADCT:

XIII - duração do trabalho normal não


XIX - licença-paternidade, nos termos
superior a oito horas diárias e quarenta
fixados em lei;
e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução
da jornada, mediante acordo ou
PRESCRIÇÃO DOS CRÉDITOS
convenção coletiva de trabalho;
TRABALHISTAS.
O inciso XXIX do art. 7o estabelece algumas regras
Quando o trabalhador é obrigado a trabalhar no de prescrição dos créditos trabalhistas, ou seja, se o
regime de escala, ou seja, em turnos ininterruptos de trabalhador entender que ele não recebeu todos os
revezamento, a jornada é reduzida para seis horas,
53
salvo se tiver outra disposição em acordo ou Art. 10. § 1º Até que a lei venha a disciplinar o disposto no
convenção coletiva. art. 7º, XIX, da Constituição, o prazo da licença-paternidade a
que se refere o inciso é de cinco dias.
XIV - jornada de seis horas para o
trabalho realizado em turnos
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,58
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
direitos a que fazia jus durante o contrato de uma igualdade meramente formal, no sentido de
trabalho ele poderá reivindicar esses direitos em evitar discriminações arbitrárias, contudo não
uma Ação judicial trabalhista. Contudo, a CF impede tratamento diferenciado com vistas a
estabelece um prazo para que esse direito de ação assegurar uma igualdade material ou efetiva.
seja exercido. Vejamos os dispositivos:
A CF falar em dois prazos distintos um de 2 anos e
XXX - proibição de diferença de
outro de 5 anos. Vejamos o texto constitucional:
salários, de exercício de funções e de
critério de admissão por motivo de sexo,
XXIX - ação, quanto aos créditos idade, cor ou estado civil;
resultantes das relações de trabalho, XXXI - proibição de qualquer
com prazo prescricional de cinco anos discriminação no tocante a salário e
para os trabalhadores urbanos e rurais, critérios de admissão do trabalhador
até o limite de dois anos após a extinção portador de deficiência;
do contrato de trabalho; XXXII - proibição de distinção entre
Esse prazo de 2 anos refere-se ao prazo que o trabalho manual, técnico e intelectual
trabalhador tem para ingressar com uma ação ou entre os profissionais respectivos;
trabalhista reivindicando seus direitos. Este prazo é XXXIII - proibição de trabalho noturno,
contado a partir do dia em que houve a extinção, a perigoso ou insalubre a menores de
rescisão do contrato de trabalho. dezoito e de qualquer trabalho a
Já o prazo de 5 anos refere-se ao período anterior menores de dezesseis anos, salvo na
ao ajuizamento da ação que o trabalhador terá para condição de aprendiz, a partir de
discutir seus direitos trabalhistas. quatorze anos;
Por exemplo, imagine que um trabalhador tenha
trabalhado em uma empresa por 10 anos e tenha sido
Merece destaque o inciso XXXIII, no qual a
demitido. Ao sair da empresa ele terá um prazo de
Constituição determina que é proibido o trabalho
dois anos para ajuizar a ação, senão fizer nesse prazo
para os menores de 16, ressalvada a condição de
o seu direito ficará prescrito. Imaginemos então que
aprendiz, a partir dos 14. Dessa forma, o adolescente
esse mesmo trabalhador, assim que foi demitido,
com 14 anos poderá trabalhar no Brasil, contudo até
procurou um advogado que ajuizou imediatamente a
os seus 16 anos, esse trabalho deve ser apenas na
Ação trabalhista; a contar da data em que a ação foi
condição de aprendiz.
protocolada será possível discutir os créditos
Essa proteção especial é reforçada pelo artigo 227, §
existentes apenas nos últimos cinco anos. Mas você
3º, I da CF
deve se perguntar, ele não trabalhou 10 anos? e os
créditos dos cinco anos iniciais? Qualquer crédito Art. 227, § 3º - O direito a proteção
anterior aos cinco anos estará prescrito e o especial abrangerá os seguintes
trabalhador não poderá reivindicar esse direito. aspectos:
I –idade mínima de quatorze anos para
CUIDADO!! Não há previsão constitucional para a admissão ao trabalho, observado o
aplicação do prazo prescricional para os disposto no art. 7º, XXXIII;
trabalhadores domésticos, no entanto, os tribunais
têm aplicado a norma aos trabalhadores domésticos Ademais, a CF proíbe, para os menores de 18 anos,
com base na analogia. o trabalho perigosos, insalubres e noturnos.

PROIBIÇÕES
ASSISTÊNCIA GRATUITA – CRECHES E
A CF nos incisos XXX, XXXI, XXXII e XXXIII
PRÉ-ESCOLAS
apresenta algumas regras de proibição, ou seja, ela
veda tratamentos desnecessários e discriminatórios XXV - assistência gratuita aos filhos e
entre trabalhadores, estabelecendo a necessidade de dependentes desde o nascimento até 5 (cinco)
um tratamento igualitário, isonômico entre os anos de idade em creches e pré-escolas;
trabalhadores. Evidentemente que essa igualdade é

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,59
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Os trabalhadores, por expressa disposição discricionárias da administração pública
constitucional têm direito a assistência em creches e nem se subordina a razões de puro
pré-escolas, de forma gratuita, aos filhos até os cinco pragmatismo governamental. [ARE 639.337
anos de idade. AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 23-8-2011,
2ª T, DJE de 15-9-2011.] = RE 956.475, rel.
Esse direito é reforçado pelo art. 208, IV da CF/88
min. Celso de Mello, decisão monocrática, j.
que dispõe a respeito do direito a educação infantil: 12-5-2016, DJE de 17-5-2016 = RE
Art. 208. O dever do Estado com a 464.143 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 15-
educação será efetivado mediante a 12-2009, 2ª T, DJE de 19-2-2010
garantia de:
IV - educação infantil, em creche e pré-
escola, às crianças até 5 (cinco) anos de DEMAIS DIREITOS
idade; XI – participação nos lucros, ou resultados,
desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
Nesse sentido, entende o STF ser direito público participação na gestão da empresa, conforme
subjetivo de crianças até cinco anos de idade, o definido em lei;
acesso gratuito a creches e pré-escolas, podendo o
Judiciário intervir para assegurar o referido direito, XII - salário-família pago em razão do dependente
veja a decisão: do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
XV - repouso semanal remunerado,
A jurisprudência do STF firmou-se no
preferencialmente aos domingos;
sentido da existência de direito subjetivo
público de crianças até cinco anos de idade XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
ao atendimento em creches e pré-escolas. menos, um terço a mais do que o salário normal;
(...) também consolidou o entendimento de XX - proteção do mercado de trabalho da mulher,
que é possível a intervenção do Poder mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
Judiciário visando à efetivação daquele
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de
direito constitucional. [RE 554.075 AgR,
rel. min. Cármen Lúcia, j. 30-6-2009, 1ª T, serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos
DJE de 21-8-2009.] = AI 592.075 AgR, rel. da lei;
min. Ricardo Lewandowski, j. 19-5-2009, 1ª XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
T, DJE de 5-6-2009 meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as
A educação infantil representa prerrogativa
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na
constitucional indisponível, que, deferida às
crianças, a estas assegura, para efeito de
forma da lei;
seu desenvolvimento integral, e como XXIV - aposentadoria;
primeira etapa do processo de educação XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
básica, o atendimento em creche e o acesso coletivos de trabalho;
à pré-escola (CF, art. 208, IV). Essa
XXVII - proteção em face da automação, na forma
prerrogativa jurídica, em consequência,
impõe, ao Estado, por efeito da alta da lei;
significação social de que se reveste a XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a
educação infantil, a obrigação cargo do empregador, sem excluir a indenização a
constitucional de criar condições objetivas que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou
que possibilitem, de maneira concreta, em culpa;
favor das "crianças até cinco anos de idade"
(CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e
atendimento em creches e unidades de pré-
escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental, apta a DIREITOS DOS DOMÉSTICOS
frustrar, injustamente, por inércia, o Como já destacado os trabalhadores domésticos
integral adimplemento, pelo Poder Público, possuem a grande maioria dos direitos elencados no
de prestação estatal que lhe impôs o próprio
artigo 7o, conforme parágrafo único do referido
texto da CF. A educação infantil, por
qualificar-se como direito fundamental de artigo.
toda criança, não se expõe, em seu processo
de concretização, a avaliações meramente
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,60
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, Piso salarial - V
XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento das
obrigações tributárias, principais e acessórias, Participação nos lucros, ou
decorrentes da relação de trabalho e suas resultados - XI
peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX,
XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à
previdência social. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 72, de 2013)
Proteção do mercado de
trabalho da mulher - XX
Destaca-se que os direitos destacados na primeira
parte não dependem de regulamentação, enquanto
que os direitos da segunda parte do parágrafo
dependem de regulamentação, que foi realizada Prescrição dos créditos
inclusive pela LC 150/2015. trabalhistas - XXIX

Dessa forma, são NOVE direitos que não são


aplicáveis aos domésticos de acordo com o texto DIREITOS NÃO
constitucional, vejamos: ASSEGURADOS AOS Proteção em face da automação
ü Piso salarial; DOMÉSTICOS - XXVII
ü Participação nos lucros, ou resultados, P6 JADI
desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão
da empresa, conforme definido em lei; Proibição de distinção entre
ü proteção do mercado de trabalho da mulher, trabalho manual, técnico e
intelectual - XXXII
mediante incentivos específicos, nos termos
da lei;
ü Prescrição dos créditos trabalhistas;
Jornada de seis horas para o
ü proteção em face da automação, na forma da trabalho realizado em turnos
lei; ininterruptos de revezamento -
ü proibição de distinção entre trabalho XIV
manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
ü Jornada de seis horas para o trabalho ADcional de remuneração para
realizado em turnos ininterruptos de as atividades penosas,
revezamento insalubres ou perigosas - XXIII
ü ADicional de remuneração para as
atividades penosas, insalubres ou perigosas,
Igualdade de direitos entre o
na forma da lei; trabalhador com vínculo
ü Igualdade de direitos entre o trabalhador empregatício permanente e o
com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso - XXXIV
trabalhador avulso

DIREITOS COLETIVOS
TRABALHISTAS

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,61
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Os direitos sociais coletivos são aqueles exercidos Dessa forma, os trabalhadores têm liberdade para
pelos trabalhadores, coletivamente ou no interesse definir a base territorial de atuação dos seus
de uma coletividade, e podem ser classificados em: sindicatos, mas não será possível dois ou mais
a) direito de associação profissional ou sindical; sindicatos da mesma categoria profissional ou
b) direito de greve; econômica, na mesma base territorial.
c) direito de substituição processual; A CF ainda estabelece que a base territorial não
d) direito de participação; pode ser inferior a área de um Município.
e) direito de representação classista Exemplificando, caso seja criado um sindicato dos
motoristas de Cascavel, não poderá ser criado outro
sindicato de motoristas em Cascavel, e ainda não
REGRAS DE ASSOCIAÇÃO seria possível estabelecer como base territorial um
PROFISSIONAL OU SINDICAL bairro ou região do Município, pois a base territorial
A CF estabelece como direito dos trabalhadores, de mínima é a área de um Município.
forma livre e independentemente de autorização, a
criação de associação profissional ou de sindicatos, II - é vedada a criação de mais de uma
sendo inclusive vedado ao Poder Público a organização sindical, em qualquer grau,
interferência e a intervenção na organização representativa de categoria profissional
sindical. Contudo, estabelece como requisito ou econômica, na mesma base
indispensável que o sindicato deverá ser registrado territorial, que será definida pelos
no órgão competente, atualmente como não há lei trabalhadores ou empregadores
dispondo qual é o órgão competente, essa atribuição interessados, não podendo ser inferior à
é exercida pelo Ministério do Trabalho, conforme área de um Município;
Súmula 677 do STF:
Até que lei venha a dispor a respeito, Destaca-se que as regras aplicáveis aos sindicatos se
incumbe ao Ministério do Trabalho estendem aos sindicatos rurais e de colônia de
proceder ao registro das entidades sindicais
pescadores, conforme art. 8o Parágrafo único da
e zelar pela observância do princípio da
unicidade.
CF/88:
[Súmula 677.]
Parágrafo único. As disposições deste
Resumindo: Para criação de Sindicatos – não artigo aplicam-se à organização de
precisa de autorização, mas precisa de registro! sindicatos rurais e de colônias de
pescadores, atendidas as condições que
a lei estabelecer.
Art. 8º É livre a associação profissional
ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização CONTRIBUIÇÕES
do Estado para a fundação de sindicato, O inciso IV estabeleceu a possibilidade de se criar
ressalvado o registro no órgão uma contribuição a ser paga diretamente para o
competente, vedadas ao Poder Público a Sindicato, fixada pela Assembleia Geral, que deverá
interferência e a intervenção na ser descontada em folha do trabalhador, para custear
organização sindical; o sistema confederativo, e o seu pagamento só é
obrigatório se o trabalhador é filiado ao respectivo
sindicato. Essa contribuição é chamada de
A exigência do registro é necessária para que se
contribuição confederativa.
assegure o chamado princípio da unicidade
sindical, ou monismo sindical, que é a mais
importante das limitações constitucionais à liberdade IV –a assembleia geral fixará a
sindical estabelecido no inciso II do art.8o contribuição que, em se tratando de
Esse princípio estabelece um limite para a categoria profissional, será descontada
organização de sindicatos, estabelecendo uma base em folha, para custeio do sistema
territorial mínima e proibindo a criação de sindicatos confederativo da representação sindical
idênticos na mesma base territorial.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,62
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
respectiva, independentemente da VI - é obrigatória a participação dos
contribuição prevista em lei; sindicatos nas negociações coletivas de
trabalho;
É o que diz o teor da súmula vinculante 40 do
STF: APOSENTADO
Outro dispositivo que SEMPRE aparece em prova
diz respeito ao trabalhador aposentado, que pode
A contribuição confederativa de que
manter-se filiado a sindicato, sendo-lhe assegurado o
trata o art. 8º, IV, da Constituição
direito de votar e de ser votado nos sindicatos.
Federal, só é exigível dos filiados ao
sindicato respectivo.
VII - o aposentado filiado tem direito a
votar e ser votado nas organizações
Essa contribuição não se confunde com a chamada
sindicais;
contribuição sindical, estabelecida pela CLT. Essa
contribuição era obrigatória para todos os
trabalhadores, independentemente de estarem ou não ESTABILIDADE SINDICAL
filiados ao sindicato, em virtude disso essa No intuito de proteger os trabalhadores
contribuição possuía caráter tributário. sindicalizados, que pretendam se candidatar a cargo
Contudo, a Lei 13.467, de 13/7/201754, denominada de direção ou representação sindical, de
de reforma trabalhista, transformou a contribuição perseguições ilegítimas dos empregadores, a CF
sindical de valor obrigatório em facultativo, assegura a eles estabilidade, vedando a demissão
dependente de autorização expressa e prévia do sem justa causa.
destinatário, mudando então a sua natureza. Essa estabilidade se inicia com o registro da
candidatura e perdura, com o candidato eleito, até
LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO um ano após o término do seu mandato.
A CF assegura a liberdade de associação sindical, de Evidentemente que essa estabilidade não é absoluta,
modo que ninguém deve ser obrigado a se pois o trabalhador mesmo estável poderá ser
sindicalizar, e também não pode ser obrigado a se demitido no caso de cometimento de falta grave,
manter sindicalizado. autorizando a demissão por justa causa.
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou VIII - é vedada a dispensa do
a manter-se filiado a sindicato; empregado sindicalizado a partir do
registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se
PARTICIPAÇÃO NAS NEGOCIAÇÕES
eleito, ainda que suplente, até um ano
COLETIVAS E APOSENTADO
após o final do mandato, salvo se
Os sindicatos por representarem os interesses de
cometer falta grave nos termos da lei.
suas categorias, tem participação obrigatória quando
da elaboração de acordos ou convenções coletivas,
sob pena de nulidade da negociação. É o que Ressalta-se que essa estabilidade, segundo a
determina o inciso VI. jurisprudência do STF, no caso do servidor público,
não se estende ao cargo em comissão eventualmente
por ele ocupado à época de sua eleição.

"Estabilidade sindical provisória (art. 8º,


54
A Lei 13.467, de 13/7/2017, denominada de reforma VIII, CF): não alcança o servidor
trabalhista, altera o artigo 579 da Consolidação das Leis do público, regido por regime especial,
Trabalho, dando-lhe a seguinte redação: ocupante de cargo em comissão e,
“Art. 579. O desconto da contribuição sindical está concomitantemente, de cargo de direção no
condicionado à autorização prévia e expressa dos que sindicato da categoria." (RE 183.884, Rel.
participem de uma determinada categoria econômica ou Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 8-
profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato 6-1999, Primeira Turma, DJ de 13-8-1999.)
representativo da mesma categoria”.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,63
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Contudo, esse direito encontra limites, pois a lei
pode restringir o exercício do direito de greve em
DIREITO DE SUBSTITUIÇÃO relação aqueles serviços ou atividades essenciais.
PROCESSUAL Não é que o direito de greve não poderá ser
Os sindicatos atuam na defesa de seus filiados na exercido, ele será, contudo com limitações, visando
condição de substitutos processuais, buscando a atender as necessidades inadiáveis da comunidade.
defesa de direitos e interesses de natureza coletiva A lei que regulamenta esse direito de greve é a Lei
ou individual da categoria, tanto no âmbito judicial 7783/89.
quanto no âmbito administrativo.
Observe que a atuação dos sindicatos nessas Greve no serviço público:
hipóteses independe de autorização especifica do
filiado. Art. 37. A administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos
III - ao sindicato cabe a defesa dos Municípios obedecerá aos princípios de
direitos e interesses coletivos ou legalidade, impessoalidade, moralidade,
individuais da categoria, inclusive em publicidade e eficiência e, também, ao
questões judiciais ou administrativas seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos
termos e nos limites definidos em lei
DIREITO DE GREVE específica;

O art.9o da CF vai consagrar o famoso direito de


greve, contudo esse direito, nesse dispositivo, é ATENÇÃO: Algumas atividades em razão da sua
direcionado apenas aos trabalhadores da iniciativa essencialidade não podem realizar greve, como por
privada. Isso porque o direito de greve para o exemplo os órgãos de segurança pública, conforme
servidor público é assegurado no art. 37, VII da jurisprudência do STF:
CF55. NOVO: O exercício do direito de greve, sob
Vale ressaltar que o art. 9o é uma norma qualquer forma ou modalidade, é vedado
constitucional de eficácia contida, diferente da aos policiais civis e a todos os servidores
norma do art, 37, VII que é uma norma de eficácia públicos que atuem diretamente na área de
limitada. segurança pública. É obrigatória a
Observe o texto: participação do poder público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das
Art. 9º É assegurado o direito de greve, carreiras de segurança pública, nos termos
competindo aos trabalhadores decidir do art. 165 do CPC, para vocalização dos
sobre a oportunidade de exercê-lo e interesses da categoria. Com base nessas
sobre os interesses que devam por meio orientações, o Plenário, por maioria, deu
dele defender. provimento a recurso extraordinário com
§ 1º - A lei definirá os serviços ou agravo interposto contra acórdão que
atividades essenciais e disporá sobre o concluiu pela impossibilidade de extensão
aos policiais civis da vedação do direito à
atendimento das necessidades inadiáveis
greve dos policiais militares.
da comunidade. [ARE 654.432, rel. p/ o ac. min. Alexandre
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os de Moraes, j. 5-4-2017, P, Informativo 860,
responsáveis às penas da lei. Tema 541.]

O artigo estabelece que cabe aos trabalhadores, de


forma livre, decidir se devem ou não realizar greve e
quais os direitos que pretendem defender. DIREITO DE PARTICIPAÇÃO
A CF assegura a participação dos trabalhadores e
55
empregadores em órgãos colegiados públicos em
Art. 37 VII - o direito de greve será exercido nos termos e que se discuta interesse dessas categorias. A ideia é
nos limites definidos em lei específica;
se manter um diálogo democrático entre os
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,64
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
interesses do Estado, dos trabalhadores e dos ü Nação: conjunto de pessoas que se
empregadores. identificam pela mesma língua, cultura,
costumes, tradições.
Art. 10. É assegurada a participação
ü Cidadania: mais restrita que a nacionalidade
dos trabalhadores e empregadores nos
se refere aos indivíduos que podem exercer
colegiados dos órgãos públicos em que
direitos políticos.
seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de
O direito a ter uma nacionalidade é considerado
discussão e deliberação.
como Direito Humano fundamental previsto no art.
XV da Declaração Universal de Direitos Humanos.
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
CLASSISTA Espécies de Nacionalidade
Nas empresas com mais de 200 empregados a CF Existem duas espécies de nacionalidade: a)
assegura a eleição de um representante, que será um nacionalidade primária ou originária e b)
intermediador entre os trabalhadores e a nacionalidade secundária, derivada ou adquirida.
administração da empresa.
A ideia é facilitar a comunicação entre o trabalhador
e o empregador em empresas de grande porte. Nacionalidade Primária ou
Observe que esse representante não faz jus a Originária:
estabilidade sindical pois não se trata de
Imposta na data do nascimento pelo Estado, de
representante do sindicato e sim um representante
forma unilateral e involuntária (como regra) e que
direto dos trabalhadores.
identifica o indivíduo como sendo nacional nato de
um Estado.
Art. 11. Nas empresas de mais de Critérios utilizados:
duzentos empregados, é assegurada a ü Ius (jus) solis ou critério da territorialidade:
eleição de um representante destes com por esse critério a nacionalidade é definida pelo
a finalidade exclusiva de promover-lhes local de nascimento do individuo, independente da
o entendimento direto com os nacionalidade dos pais (critério geralmente adotado
empregadores. por países de imigração).
ü Ius (jus) sanguinis: por esse critério a
nacionalidade é definida pelo sangue, pela filiação,
ascendência, não importando o local onde a pessoa
tenha nascido, é dizer, o individuo adquire a
CAPÍTULO 3 - DIREITOS DE nacionalidade dos seus pais (critério geralmente
adotado por países de emigração).
NACIONALIDADE
No Brasil o critério adotado como regra é o ius solis,
permitindo-se situações de aquisição da
Noções introdutórias nacionalidade pelo ius sanguinis.
Conceito: NÃO existe no Brasil o critério do jus
matrimoniale, ou seja, pelo vínculo do casamento.
“Vinculo Jurídico político que liga um individuo a
certo e determinado Estado, fazendo este individuo
componente do povo e por isso têm direitos e Nacionalidade secundária, derivada
obrigações.” ou adquirida:
Não devemos confundir: É aquela adquirida por vontade própria, pelo
processo de naturalização e que identifica o
ü Povo: conjunto de nacionais de um Estado. individuo como sendo nacional naturalizado de um
ü População: conjunto de residentes no Estado.
território (nacionais ou estrangeiros)
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,65
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Conflitos de nacionalidade disso concluímos que a nacionalidade brasileira
originária também será adquirida pelo filho de pais
A depender dos critérios de nacionalidade adotados estrangeiros que estejam em território brasileiro
pelos Estados pode surgir os chamados conflitos de cumprindo funções para outro país, que não o seu.
nacionalidade que pode ser positivo ou negativo. Ademais, para que incida a excludente de
nacionalidade os dois pais devem ser estrangeiros,
ü Conflito Positivo de Nacionalidade: ocorre isso porque se um dos pais for brasileiro, ainda que
quando o individuo possui mais de uma o outro esteja a serviço do seu país de origem,
nacionalidade (multinacionalidades) é chamado de deverá prevalecer a nacionalidade brasileira.
Polipátrida.
ü Conflito Negativo de Nacionalidade:
quando o individuo não é nacional em nenhum 2a HIPÓTESE – IUS SANGUINIS +
Estado, é o chamado Apátrida ou Heimatlos. CRITÉRIO FUNCIONAL – art. 12,
I, “b”
BRASILEIRO NATO - São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de
NACIONALIDADE ORIGINÁRIA pai OU mãe brasileiros, desde que um deles esteja a
serviço da RFB.
Vamos analisar agora as hipóteses constitucionais de Para aquisição da nacionalidade nessa hipótese
aquisição da nacionalidade originária, as quais qualquer um dos pais deve ser brasileiro e não
encontram-se elencadas em rol taxativo no art. 12, I necessariamente os dois, podendo ser brasileiro nato
da CF/88: ou naturalizado.
A serviço da RFB significa a serviço de órgãos e
Art. 12. São brasileiros: entidades da Administração Direta e indireta da
I - natos: União, dos estados, dos municípios e do Distrito
a) os nascidos na República Federativa do Federal, incluindo as empresas públicas e sociedades
Brasil, ainda que de pais estrangeiros, de economia mista, contudo o serviço deve ter
desde que estes não estejam a serviço de seu caráter permanente e não eventual.56
país; Considera-se como serviço oficial da República
b) os nascidos no estrangeiro, de pai Federativa do Brasil, o serviço a organizações
brasileiro ou mãe brasileira, desde que internacionais, contudo, deve ser uma organização
qualquer deles esteja a serviço da República internacional da qual o Brasil faça parte.
Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai
brasileiro ou de mãe brasileira, desde que 3a HIPÓTESE - IUS SANGUINIS +
sejam registrados em repartição brasileira REGISTRO – art. 12, I, “C” –
competente OU venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em
Primeira parte
qualquer tempo, depois de atingida a São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro,
maioridade, pela nacionalidade brasileira; filhos de pai ou mão brasileiros, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente.
Para aquisição da nacionalidade nessa hipótese
1a HIPÓTESE – IUS SOLIS – art. qualquer um dos pais deve ser brasileiro e não
12, I, “a” necessariamente os dois, podendo ser brasileiro nato
ou naturalizado.
São brasileiros natos os nascidos na RFB, ainda que
Ex: Maria de férias na França tem seu filho em
de pais estrangeiros, desde que qualquer deles não
Paris, ele será francês? Depende da lei francesa. E
estejam a serviço de SEU país. Se qualquer um deles
brasileiro? Se fizer o registro será brasileiro nato.
estiver a serviço de seu pais essa criança será
considerada como estrangeira, ou seja, não será
brasileira nata.
Observe que o texto constitucional exige para
afastamento da nacionalidade brasileira que
56
qualquer um dos pais esteja a serviço de seu pais, Comentários à Constituição do Brasil, 2014, pg. 651.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,66
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
4a HIPÓTESE - IUS SANGUINIS + estrangeiro que venha a residir no Brasil ainda
OPÇÃO – art. 12, I, “C” – Parte final menor, adquire a nacionalidade originária no
momento da fixação de sua residência no Brasil,
São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro filho devendo confirmar sua vontade de conservar a
de pai ou mãe brasileira que venham a residir no nacionalidade brasileira quando atingir a
Brasil e realizem a opção pela nacionalidade maioridade.
brasileira, após adquirirem a maioridade.
Trata-se da hipótese de nacionalidade potestativa,
pois depende de manifestação da vontade do ORIGINÁRIA
individuo, sendo, portanto, uma exceção a
característica da involuntariedade da nacionalidade Ius Sanguinis +
Ius Sanguinis + Ius Sanguinis +
originária. Ius Solis Critério
Registro Opção
Funcional
Essa opção se dá através de uma Ação de opção de
nacionalidade, de competência da Justiça Federal
(art. 109, X CF/88). A decisão judicial que concede BRASILEIRO NATURALIZADO -
a nacionalidade opera efeitos retroativos (Ex tunc),
ou seja, o individuo é considerado como brasileiro NACIONALIDADE SECUNDÁRIA
nato desde o seu nascimento. OU DERIVADA OU ADQUIRIDA
Assim, podemos esquematizar 4 requisitos para A aquisição da nacionalidade brasileira secundária
aquisição da nacionalidade potestativa: que identifica o individuo como sendo brasileiro
a) Ser filho de pai ou mãe brasileiros; naturalizado se dá através do processo de
b) Fixar residência do Brasil naturalização, que depende de manifestação de
c) Possuir a maioridade, ou seja, deve ter pelo vontade do interessado e de concordância
menos 18 anos. (aquiescência) do Estado.
d) Fazer a opção da nacionalidade a qualquer Em outras palavras a aquisição da nacionalidade
tempo, depois de atingir a maioridade. brasileira deve sempre se dar de forma expressa e
não tácita.
Atenção: Veja que é requisito para aquisição da A CF estabeleceu duas hipóteses de naturalização no
nacionalidade potestativa que o individuo tenha pelo art. 12, II da CF/88: a) naturalização ordinária
menos 18 anos, entretanto, e se o filho de pai ou mãe constitucional (art. 12, II, a) e b) naturalização
brasileiros, nascido no estrangeiro, vier a residir no extraordinária constitucional (art. 12, II, b)
Brasil antes de atingir a maioridade? Como ficará a
sua situação? Será considerado como estrangeiro?
Buscando solucionar esse impasse decidiu o STF57, Art. 12. São brasileiros:
que o filho de pai ou mãe brasileiro nascido no II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a
57 nacionalidade brasileira, exigidas aos
São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai
brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir no originários de países de língua portuguesa
Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade apenas residência por um ano ininterrupto e
brasileira. A opção pode ser feita a qualquer tempo, desde que idoneidade moral;
venha o filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira, nascido no b) os estrangeiros de qualquer
estrangeiro, a residir no Brasil. Essa opção somente pode ser nacionalidade residentes na República
manifestada depois de alcançada a maioridade. É que a Federativa do Brasil há mais de quinze anos
opção, por decorrer da vontade, tem caráter personalíssimo. ininterruptos e sem condenação penal,
Exige-se, então, que o optante tenha capacidade plena para desde que requeiram a nacionalidade
manifestar a sua vontade, capacidade que se adquire com a brasileira
maioridade. Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro
ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a
ser considerado brasileiro nato, sujeita essa nacionalidade a
manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, NATURALIZAÇÃO ORDINÁRIA
depois de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, CONSTITUCIONAL – art. 12, II, a
enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se
em condição suspensiva da nacionalidade brasileira.
[RE 418.096, rel. min. Carlos Velloso, j. 22-3-2005, 2ª T, DJ de
22-4-2005.]
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,67
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A naturalização ordinária constitucional se divide II - ter filho brasileiro;
em: naturalização para originários de países de III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro
língua portuguesa e não originários de países de e não estar dele separado legalmente ou de
língua portuguesa na forma da lei. fato no momento de concessão da
naturalização;
IV - (VETADO);
ORDINÁRIA PARA V - haver prestado ou poder prestar serviço
ORIGINÁRIOS DE PAÍSES DE relevante ao Brasil; ou
LÍNGUA PORTUGUESA VI - recomendar-se por sua capacidade
profissional, científica ou artística.
Para aquelas pessoas originárias de países de Língua
Portuguesa58 a CF exige 2 critérios: residência por
um ano ininterrupto e idoneidade moral. o Naturalização especial
De acordo com a jurisprudência do STF saídas
esporádicas do país não interrompem o prazo de Art. 68. A naturalização especial poderá
residência. ser concedida ao estrangeiro que se
encontre em uma das seguintes situações:
I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de
ORDINÁRIA NA FORMA DA LEI 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço
Exterior Brasileiro em atividade ou de
É possível ainda a aquisição da nacionalidade pessoa a serviço do Estado brasileiro no
derivada brasileira nos termos estabelecidos em lei. exterior; ou
A lei que o texto constitucional se refere é a lei de II - seja ou tenha sido empregado em missão
migração - Lei 13.445/2017, a qual estabelece três diplomática ou em repartição consular do
tipos de naturalização: ordinária (legal); especial; Brasil por mais de 10 (dez) anos
provisória. ininterruptos.
Art. 69. São requisitos para a concessão da
naturalização especial:
o Naturalização ordinária legal I - ter capacidade civil, segundo a lei
Art. 65. Será concedida a naturalização brasileira;
ordinária àquele que preencher as seguintes II - comunicar-se em língua portuguesa,
condições: consideradas as condições do
I - ter capacidade civil, segundo a lei naturalizando; e
brasileira; III - não possuir condenação penal ou
II - ter residência em território nacional, estiver reabilitado, nos termos da lei.
pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;
III - comunicar-se em língua portuguesa, o Naturalização provisória
consideradas as condições do
naturalizando; e Art. 70. A naturalização provisória poderá
IV - não possuir condenação penal ou ser concedida ao migrante criança ou
estiver reabilitado, nos termos da lei. adolescente que tenha fixado residência em
território nacional antes de completar 10
Art. 66. O prazo de residência fixado no
(dez) anos de idade e deverá ser requerida
inciso II do caput do art. 65 será reduzido
por intermédio de seu representante legal.
para, no mínimo, 1 (um) ano se o
naturalizando preencher quaisquer das Parágrafo único. A naturalização prevista
seguintes condições: no caput será convertida em definitiva se o
naturalizando expressamente assim o
I - (VETADO);
requerer no prazo de 2 (dois) anos após
atingir a maioridade.
58
São países que adotam a Língua Portuguesa como idioma
oficial: Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, PROCEDIMENTO:
Brasil, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e A aquisição da nacionalidade derivada na forma da
Princípe e Guiné Equatorial. lei e para os originários de países de língua

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,68
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
portuguesa, se dá através de processo administrativo,
com trâmite perante o Ministério da Justiça. EFEITOS:
O ato administrativo que concede a nacionalidade Destaca-se que em todas as hipóteses de
nessas hipóteses é discricionário e a decisão terá naturalização era expedido um certificado relativo a
caráter constitutivo. cada naturalizando, contudo, em razão da revogação
da lei 6815/80 (art. 11959) e consequente vigência da
lei 13.446/2017 (lei de migração) não serão mais
expedidos Certificados de Naturalização. Isso
porque pela nova lei a naturalização passa a produzir
efeitos a partir da data da publicação do ato de
Residência 1 ano
ininterrupto naturalização (portaria) no Diário Oficial da União,
Originários de conforme disposto no Art. 73 da referida Lei.
Países de Língua
Portuguesa
idoneidade moral
NATURALIZAÇÃO Art. 73. A naturalização produz efeitos após
ORDINÁRIA a publicação no Diário Oficial do ato de
naturalização.
Na forma da lei Lei 13.445/2017

QUASE NACIONALIDADE –
PORTUGUÊS EQUIPARADO
Além da possibilidade naturalização ordinária, os
Portugueses, ou seja, aqueles originários de
NATURALIZAÇÃO Portugal, poderão ter os mesmos direitos de
EXTRAORDINÁRIA brasileiros – salvo os direitos específicos de
brasileiros natos, independentemente de processo de
A naturalização extraordinária ou quinzenária ocorre
naturalização. É o que dispõe o § 1º do art. 12 da
quando o estrangeiro, de qualquer nacionalidade,
CF/88.
preencher os seguintes requisitos:
ü tiver residência no país por mais de 15 anos
ininterruptos § 1º. Aos portugueses com residência
ü Não tiver condenação penal. permanente no País, se houver
ü O interessado deve requisitar a reciprocidade em favor de brasileiros, serão
nacionalidade. atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição.
A Lei de migração também dispõe sobre essa
espécie de nacionalidade:
Para que tais direitos sejam assegurados aos
Art. 67. A naturalização extraordinária será
Portugueses esses deverão:
concedida a pessoa de qualquer
nacionalidade fixada no Brasil há mais de ü Ter residência permanente no Brasil
15 (quinze) anos ininterruptos e sem ü Desde que haja reciprocidade em favor de
condenação penal, desde que requeira a brasileiros, ou seja, os direitos que serão
nacionalidade brasileira.
59
Dispositivo revogado da Lei 6815/80 – Estatuto do
Estrangeiro. Art. 119. Publicada no Diário Oficial a
PROCEDIMENTO:
A aquisição da nacionalidade derivada pela portaria de naturalização, será ela arquivada no
naturalização extraordinária também se dá na através órgão competente do Ministério da Justiça, que
de processo administrativo, com trâmite perante o emitirá certificado relativo a cada naturalizando, o
Ministério da Justiça. qual será solenemente entregue, na forma fixada
O ato administrativo que concede a nacionalidade em Regulamento, pelo juiz federal da cidade onde
nessa hipótese é vinculado e a decisão terá caráter tenha domicílio o interessado.
declaratório.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,69
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
assegurados aos Portugueses aqui no Brasil, lei estrangeira reconhece também para o brasileiro a
devem ser assegurados a brasileiros nacionalidade originária daquele país. Ex: filho de
residentes em Portugal – trata-se da chamada italianos que nasce no Brasil quando seus pais
cláusula de reciprocidade, estabelecida estavam de férias.
pelo Tratado de Amizade, Cooperação e
consulta, firmado entre o Brasil e Portugal. v “DE IMPOSIÇÃO DE
A aquisição dos direitos pelos Portugueses não NATURALIZAÇÃO PELA NORMA
produz efeitos imediatos, isso porque depende de ESTRANGEIRA, AO BRASILEIRO
requerimento do Português, bem como concordância RESIDENTE EM ESTADO
do Estado brasileiro. ESTRANGEIRO, COMO CONDIÇÃO
PARA PERMANÊNCIA EM SEU
Reforça-se que os direitos aqui assegurados são os TERRITÓRIO OU PARA O
mesmos de brasileiros, ressalvados os direitos EXERCÍCIO DE DIREITOS CIVIS”
reservados aos brasileiros natos (art. 12 § 3º.), ou Também não perde a nacionalidade brasileira caso a
seja, serão equiparados aos direitos de brasileiros naturalização tenha ocorrido como uma imposição
naturalizados. do Estado estrangeiro ao brasileiro lá residente,
Essa situação é regulamentada pelo decreto como condição para permanência em seu território
presidencial 70.436/1972. ou para o exercício de direitos civis.
Ex: jogador de futebol.
PERDA DA NACIONALIDADE Assim, nessas duas hipóteses, ainda que o
A CF estabelece, em rol taxativo, no art. 12 § 4º da brasileiro se torne nacional de outro país ele não
CF/88 hipóteses de perda da nacionalidade. Há duas perderá a nacionalidade brasileira.
hipóteses de perda da nacionalidade: a perda
mudança e a perda punição, vejamos: Procedimento: A declaração da perda de
nacionalidade brasileira se efetivará por ato do
Ministro de Estado da Justiça (portaria), após
PERDA MUDANÇA: procedimento administrativo, no qual serão
Ocorre quando o brasileiro, seja nato ou garantidos os princípios do contraditório e da ampla
naturalizado, adquire outra nacionalidade, conforme defesa. (Art. 250 Decreto 9.199/2017).
art. 12§4º, II: • O risco de geração de situação de apatrídia
deve ser considerado para a declaração da
§ 4º - Será declarada a perda da perda da nacionalidade.
nacionalidade do brasileiro que:
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos
casos:
Reaquisição: É possível a reaquisição da
nacionalidade brasileira através de novo processo
administrativo, desde que cessada a causa da perda
São pressupostos para a perda da nacionalidade pela de nacionalidade e o interessado, por meio de
perda mudança: requerimento endereçado ao Ministro da Justiça,
ü Aquisição de nacionalidade secundária requerer a sua reaquisição (art. 254 Decreto
estrangeira 9.199/2017). Entretanto, questiona-se, ao readquirir
ü Ato voluntário. a nacionalidade brasileira, será brasileiro nato ou
naturalizado?
Entretanto, há duas exceções, ou seja, duas situações O entendimento prevalente e agora previsto no
em que o individuo pode adquirir outra decreto 9.199/201760 é a de que o brasileiro irá
nacionalidade e não perder a brasileira, vejamos: recuperar a sua condição de nacional na forma como
tinha antes, ou seja, se era brasileiro nato, recupera
v RECONHECIMENTO DE
NACIONALIDADE ORIGINÁRIA PELA 60 o
Decreto 9.199/2017 - Art. 254 § 7 O deferimento do
LEI ESTRANGEIRA requerimento de reaquisição ou a revogação da perda
Não perde a nacionalidade brasileira aquele que importará no restabelecimento da nacionalidade originária
tiver o reconhecimento de nacionalidade brasileira.
originária pela lei estrangeira, ou seja, quando a
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,70
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
como nato, se era naturalizado recupera como
naturalizado.
DISTINÇÃO ENTRE
BRASILEIROS NATOS E
PERDA PUNIÇÃO NATURALIZADOS:
O brasileiro naturalizado poderá ter cancelada a sua A CF veda a possibilidade da LEI63 estabelecer
naturalização através de sentença judicial, em distinções entre brasileiros natos e naturalizados,
virtude de atividade nociva ao interesse nacional, contudo a CF estabelece em hipóteses taxativas de
conforme art. 12§4º, I: diferenciação entre natos e naturalizados, são elas:

Ø Regras de extradição (art. 5o, LI)


§ 4º - Será declarada a perda da Ø Cargos privativos de brasileiros natos (art. 12
nacionalidade do brasileiro que:
§3º)
I - tiver cancelada sua naturalização, por
sentença judicial, em virtude de atividade Ø Cancelamento da naturalização por atividade
nociva ao interesse nacional; nociva (art. 12 §4º, I)
Ø Integrantes do Conselho da República (art.
89, VII)
Por evidente essa hipótese de perda da nacionalidade Ø Propriedade de empresa jornalística e de
só se aplica ao naturalizado. radiodifusão sonora e de sons e imagens (art.
ü Pressuposto: atividade nociva ao interesse 222)
nacional.
ü Instrumento: sentença judicial.

Procedimento: O cancelamento da naturalização se EXTRADIÇÃO


dá através de um processo judicial, ou seja, através
Art. 5o LI - nenhum brasileiro será
de uma decisão judicial. Apesar da CF não exigir extraditado, salvo o naturalizado, em caso
expressamente o trânsito em julgado da decisão, essa de crime comum, praticado antes da
só produzirá efeitos após o trânsito em julgado (art. naturalização, ou de comprovado
248, parágrafo único do decreto 9.199/2017)61 envolvimento em tráfico ilícito de
A competência para o cancelamento da entorpecentes e drogas afins, na forma da
naturalização é da Justiça federal62. lei;
LII - não será concedida extradição de
Reaquisição: Como a perda se dá através de decisão estrangeiro por crime político ou de
judicial, com efeitos a partir do trânsito em julgado, opinião;
a reaquisição só seria possível através de Ação ü Brasileiro nato: NUNCA;
Rescisória e nunca por outro procedimento de ü Brasileiro Naturalizado – PODE:
naturalização. o Crime comum + antes da
naturalização;
61 o Tráfico de entorpecentes pode ser
Art. 248. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão
de sentença transitada em julgado por atividade nociva ao
antes ou depois da naturalização.
o
interesse nacional, nos termos estabelecidos no art. 12, § 4 ,
inciso I, da Constituição. Caso da ex-brasileira nata extraditada.
Parágrafo único. A sentença judicial que cancelar a “A Primeira Turma, por maioria, denegou
naturalização por atividade nociva ao interesse nacional mandado de segurança em que se
produzirá efeitos após o trânsito em julgado. questionava ato do ministro da Justiça que
62 declarara a perda da nacionalidade
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
brasileira da impetrante (CF, art. 12, § 4º,
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de
II), por ter adquirido outra nacionalidade
estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação,
63
as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva Art. 12 § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre
opção, e à naturalização; brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos
nesta Constituição.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,71
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
(Lei 818/1949, art. 23). No caso, a
impetrante, brasileira nata, obtivera a
nacionalidade norte-americana de forma
livre e espontânea e, posteriormente, fora
acusada, nos Estados Unidos da América,
da prática de homicídio contra seu marido,
nacional daquele país. Diante disso, o
governo norte-americano indiciara a
impetrante e requerera às autoridades
brasileiras a prisão para fins de extradição.
O Colegiado entendeu que o ato do ministro
da Justiça de cassação da nacionalidade
brasileira é legítimo, pois a impetrante
perdera a nacionalidade brasileira ao
adquirir outra em situação que não se Seguindo a nossa mnemônica temos:
enquadraria em qualquer das duas exceções
ü Ministros do STF: todos os 11 ministros do
constitucionalmente previstas (...).”
[MS 33.864, rel. min. Roberto Barroso,
STF devem ser brasileiros natos;
j.19-4-2016, 1ª T, Informativo 822.] ü P3: referindo-se a 3 presidentes, quais sejam:
Presidente da República e Vice-Presidente;
Presidente da Câmara e Presidente do Senado,
observe que não se inclui o vice-presidente da
CARGOS PRIVATIVOS DE Câmara e do Senado.
ü C: referindo-se a Carreiras diplomáticas64.
BRASILEIROS NATOS O Diplomata representa o Brasil em outras
Alguns cargos devido a sua relevância ou posição nações, negocia acordos em nome do País,
política devem ser ocupados apenas por brasileiros dá apoio aos brasileiros em viagem ou que
natos, são eles: vivem no exterior e obtém informações
importantes para a política externa.
§ 3º. São privativos de brasileiro nato os
cargos:
ü O: Oficiais das forças armadas, observe
I - de Presidente e Vice-Presidente da que apenas os oficiais devem ser brasileiros
República; natos e não quaisquer membros das forças
II - de Presidente da Câmara dos armadas. FORÇAS ARMADAS de uma
Deputados; nação constituem o conjunto das suas
III - de Presidente do Senado Federal; organizações e forças de combate e de
IV - de Ministro do Supremo Tribunal defesa. No Brasil é formada compostas pela
Federal; Marinha do Brasil, pelo Exército Brasileiro e
V - da carreira diplomática; pela Força Aérea Brasileira.
VI - de oficial das Forças Armadas; Em regra, os oficiais das Forças Armadas são:
VII - de Ministro de Estado da Defesa
tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel,
general.
Veja um pouco da estrutura das Forças Armadas:
MP3.COM

64
Sobre as carreiras diplomáticas: Uma vez aprovado no
Concurso, o aluno recebe imediatamente o título de Terceiro-
Secretário e ingressa no curso de formação. Depois de
concluir a formação, o Diplomata pode fazer outros cursos e
evoluir na carreira, assumindo os seguintes cargos:
• Segundo-Secretário
• Primeiro-Secretário
• Conselheiro
• Ministro de Segunda-Classe
• Ministro de Primeira-Classe, mais conhecido
como EMBAIXADOR.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,72
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Deputados, todos com mandato de três anos, vedada
a recondução.

Art. 89. O Conselho da República é órgão


superior de consulta do Presidente da
República, e dele participam:
(...)
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com
mais de trinta e cinco anos de idade, sendo
dois nomeados pelo Presidente da
República, dois eleitos pelo Senado Federal
e dois eleitos pela Câmara dos Deputados,
todos com mandato de três anos, vedada a
recondução.

PROPRIEDADE DE EMPRESA
JORNALÍSTICA E DE
RADIODIFUSÃO
O Art. 222 da CF estabelece que a propriedade de
empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou
naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas
jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
ü M: Ministro de Estado da Defesa, tenham sede no País, com pelo menos 70% do
as Forças Armadas atuam sob a capital pertencente a brasileiros natos ou
direção superior do Ministério da naturalizados há mais de 10 anos.
Defesa (MD), que tem a incumbência Ademais a responsabilidade editorial e as
de orientar, supervisionar e coordenar atividades de seleção e direção de programação
as atividades desenvolvidas por essas são privativas de brasileiros natos ou naturalizados
instituições. há mais de dez anos.

CANCELAMENTO DA Art. 222. A propriedade de empresa


NATURALIZAÇÃO POR jornalística e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens é privativa de brasileiros
ATIVIDADE NOCIVA natos ou naturalizados há mais de dez anos,
Já analisamos a hipótese de cancelamento da ou de pessoas jurídicas constituídas sob as
naturalização por atividade nociva, ou seja, apenas o leis brasileiras e que tenham sede no País.
brasileiro naturalizado pode perder a nacionalidade § 1º Em qualquer caso, pelo menos
se cometer atividade nociva ao interesse nacional. setenta por cento do capital total e do
capital votante das empresas
jornalísticas e de radiodifusão sonora e
INTEGRANTES CONSELHO DA de sons e imagens deverá pertencer,
REPÚBLICA direta ou indiretamente, a brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez
O Art. 89, VII CF determina que dentre os anos, que exercerão obrigatoriamente a
integrantes do Conselho da República, seis deles gestão das atividades e estabelecerão o
devem ser cidadãos brasileiros natos, com mais de conteúdo da programação.
trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados 2º A responsabilidade editorial e as
pelo Presidente da República, dois eleitos pelo atividades de seleção e direção da
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos programação veiculada são privativas de
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,73
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
brasileiros natos ou naturalizados há mais grandes grupos: a) os democráticos; b) os não
de dez anos, em qualquer meio de democráticos: regimes autoritários ou totalitários.
comunicação social. Quanto ao regime político o caput do art. 1o da CF
afirma que o Estado brasileiro é um Estado
Democrático de Direito, consagrando assim a
adoção de um regime político democrático.
IDIOMA E SÍMBOLOS DA RFB Art. 1º A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados
Apenas para não deixar em branco destacamos o e Municípios e do Distrito Federal,
texto do art. 13 da CF que deve ser memorizado. constitui-se em Estado Democrático de
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma Direito e tem como fundamentos:
oficial da República Federativa do Brasil. Um regime político democrático é aquele que
§ 1º São símbolos da República Federativa permite a participação do povo nas decisões
do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o políticas do Estado, dependendo da forma como essa
selo nacionais. participação é realizada nós temos as modalidades
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os de democracia, que podem ser: (i) direta, (ii)
Municípios poderão ter símbolos próprios. indireta ou representativa e (iii) semidireta ou
participativa.

A democracia direta é aquela que permite a


CAPÍTULO 4 - DIREITOS participação do povo diretamente na tomada de
decisões políticas, sem intermediários, exercendo a
POLÍTICOS chamada soberania popular. A CF consagra algumas
formas de participação direta do povo no art. 14, I da
CF através do: referendo, do plebiscito e da
NOÇÕES GERAIS iniciativa popular; podemos acrescentar a esse rol de
De acordo com Marcelo Novelino: "direitos políticos instrumentos de democracia direta a chamada Ação
são direitos públicos subjetivos fundamentais popular.
conferidos a determinados indivíduos para a A democracia indireta é aquela em que a vontade
participação nos negócios políticos do Estado. popular é exercida através de representantes
Diversamente dos direitos individuais (direitos de legitimamente eleitos, através de um processo
defesa) e dos direitos sociais (direitos a prestações), os eleitoral democrático, modelo esse também
direitos políticos são 'direitos de participação' (status encontrado na nossa CF.
activae civitatis) decorrentes do princípio Dessa forma, podemos observar que a nossa CF
democrático" estabelece tanto elementos da democracia direta
Os direitos políticos nada mais são do que direitos quanto elementos da democracia indireta, de modo
que asseguram o exercício da Soberania Popular, que quando isso ocorre temos a chamada
atribuindo poderes aos cidadãos para participarem democracia semidireta. Assim, o modelo de
das decisões políticas do Estado, através do democracia adotada no Brasil é a democracia
chamado direito de sufrágio, ou direito político SEMIDIRETA ou PARTICIPATIVA, que
positivo. conjuga elementos da democracia direta e da
O exercício dos direitos políticos decorre do Regime democracia indireta.
Político adotado no nosso país que é o regime A escolha desse modelo pode ser visualizada no
político democrático. parágrafo único do art. 1o da CF

Parágrafo único. Todo o poder emana do


REGIME POLÍTICO - povo, que o exerce por meio de
DEMOCRACIA representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.
O Regime político é a forma como um Estado se
organiza para exercer o seu poder sobre a sociedade,
assim podemos dividir os regimes políticos em dois Soberania Popular
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,74
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A Soberania popular, nos termos do art. 14 da CF,
UNIVERSAL
deve ser exercida pelo Sufrágio Universal, pelo voto
e pelos instrumentos de democracia direta, a saber: SUFRÁGIO Censitário
plebiscito, referendo e iniciativa popular. RESTRITO
Capacitário
Art. 14. A soberania popular será exercida
pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos ü VOTO: O voto é o instrumento para o
termos da lei, mediante: exercício do sufrágio. A CF/88 estabelece
I - plebiscito; que este deverá ser: direto, secreto, universal,
II - referendo; periódico (art. 60, § 4o, CF), obrigatório (art.
III - iniciativa popular. 14, § 1o, I, CF) e com valor igual para todos
(art. 14, caput). Dentre todas essas
Assim, podemos dizer que a Soberania Popular será características, a única que não é cláusula
exercida pelo sufrágio universal e pelo voto, direto e pétrea é a obrigatoriedade de voto, ou seja, é
secreto, não podemos, entretanto, confundir a única que pode ser abolida mediante
Sufrágio, com voto e com escrutínio, vejamos: emenda constitucional.

ü DIREITOS DE SUFRÁGIO: É direito ü Escrutínio: é a maneira, o modo como se


público, subjetivo fundamental que assegura o realiza o voto, se público ou secreto.
direito de votar e ser votado. Desse modo o direito
de sufrágio pode ser visto por duas perspectivas: (i)
capacidade eleitoral ativa: que é o direito de votar, VOTO (materialização do Sufrágio)
de alistar-se perante a justiça eleitoral de ter o título
de eleitor; (ii) capacidade eleitoral passiva: que é o DIRETO SECRETO UNIVERSAL PERIÓDICO
IGUAL VALOR
PARA TODOS
OBRIGATÓRIO
- não é CP!
direito de se candidatar a um cargo eletivo. O direito
de sufrágio é o que caracteriza os chamados direitos
políticos.
De acordo com a doutrina, o SUFRÁGIO pode ser
de dois tipos, universal ou restrito:
a) Universal: quando o direito de votar é
concedido a todos os nacionais, independentemente
secreto
de condições econômicas, culturais, sociais ou
outras condições especiais, preenchidos mínimos Escrutínio
público
requisitos constitucionais. Os critérios para se (aberto)
determinar a capacidade de votar e de ser votado são
não-discriminatórios nessa modalidade.
Além do sufrágio e do voto a soberania popular
b) Restrito (qualificativo): quando o direito também é exercida através do Referendo, do
de votar depende do preenchimento de algumas Plebiscito e da Iniciativa Popular, que são
condições especiais, sendo atribuído a apenas uma instrumentos ou institutos da democracia direta,
parcela dos nacionais. O sufrágio restrito pode ser importante destacarmos as suas principais
censitário, quando depender do preenchimento de características e diferenças:
condições econômicas (renda, bens, etc.) ou
capacitário, quando exigir que o indivíduo apresente
Plebiscito e Referendo
alguma característica especial, de natureza
intelectual (ser alfabetizado, por exemplo). Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao
povo para que delibere sobre matéria de acentuada
A Constituição Federal de 1988 consagra o relevância, de natureza constitucional, legislativa ou
SUFRÁGIO UNIVERSAL, assegurando o direito administrativa.
de votar e de ser votado a todos os nacionais que A diferença entre eles é que o plebiscito é
cumpram alguns requisitos. convocado com anterioridade a ato legislativo ou
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,75
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar de governo. Quanto ao primeiro referendo a doutrina
ou denegar o que lhe tenha sido submetido. diverge, uns defendem que foi em 1963 para retorno
Enquanto que o referendo é convocado com do sistema presidencialista outros defendem que foi
posterioridade a ato legislativo ou administrativo, o referendo do desarmamento, de 23 de outubro de
cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou 2005.
rejeição.
Como a decisão decorre do exercício de soberania
popular a decisão tomada pelo povo vincula os Iniciativa Popular
governantes. A iniciativa popular é a possibilidade de o povo
Ademais, tem-se que uma decisão tomada pelo povo deflagrar, iniciar um projeto de lei, tanto de lei
em plebiscito ou referendo não pode ser alterada por ordinária quanto de lei complementar.
lei, nem mesmo por emenda constitucional, de modo Esse projeto de lei deve ser apresentado perante à
que podemos afirmar que a democracia direta Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo,
prevalece sobre a democracia indireta. um por cento do eleitorado nacional, distribuído
pelo menos por cinco Estados, com não menos de
Convocação: Nas questões de relevância nacional, três décimos por cento dos eleitores de cada um
de competência do Poder Legislativo ou do Poder deles. Como se extrai do art. 61 § 2º da CF, veja:
Executivo, e no caso de criação, fusão, incorporação
ou desmembramento de novos Estados e criação de
Territórios (art. 18 § 3º da CF), o plebiscito e o Art. 61. A iniciativa das leis
referendo são convocados mediante decreto complementares e ordinárias cabe a
legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, qualquer membro ou Comissão da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal ou do
dos membros que compõem qualquer das Casas do
Congresso Nacional, ao Presidente da
Congresso Nacional. República, ao Supremo Tribunal Federal,
Assim, é competência do Congresso Nacional, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-
através de Decreto Legislativo, autorizar referendo e Geral da República e aos cidadãos, na
convocar plebiscito, conforme art. 49, XV da CF. forma e nos casos previstos nesta
Art. 49. É da competência exclusiva do Constituição.
Congresso Nacional: § 2º A iniciativa popular pode ser exercida
XV - autorizar referendo e convocar pela apresentação à Câmara dos Deputados
plebiscito; de projeto de lei subscrito por, no mínimo,
um por cento do eleitorado nacional,
distribuído pelo menos por cinco Estados,
Destaca-se que nem sempre o plebiscito será com não menos de três décimos por cento
convocado pelo Congresso nacional, pois o dos eleitores de cada um deles.
plebiscito destinado à criação, à incorporação, à
fusão e ao desmembramento de Municípios (art. 18§ Destaca-se que o projeto de lei de iniciativa popular
4º da CF), será convocado pela Assembleia deverá circunscrever-se a um só assunto e não
Legislativa, em conformidade com a legislação poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à
federal e estadual. Câmara dos Deputados, por seu órgão competente,
providenciar a correção de eventuais impropriedades
Nas demais questões, de competência dos Estados, de técnica legislativa ou de redação.
do Distrito Federal e dos Municípios, o plebiscito e
o referendo serão convocados em conformidade,
respectivamente, com a Constituição Estadual e com Ação popular
a Lei Orgânica. A ação popular é uma ferramenta fiscalizadora
utilizada como espécie de exercício direto dos
Referência Histórica: O primeiro plebiscito no direitos políticos, é dizer, o seu exercício é um
Brasil foi realizado em 1993, nos termos do art. 2o
do ADCT65, para definição da nossa forma e sistema
constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou
65
Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, presidencialismo) que devem vigorar no País.
através de plebiscito, a forma (república ou monarquia
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,76
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
instrumento de democracia participativa. Por isso ü O alistamento e o voto são proibidos:
que só poderá ser utilizada por cidadãos, ou seja, estrangeiros e os conscritos.
aqueles indivíduos que detenham o exercício dos 1. Estrangeiros – não possuem Nacionalidade
direitos políticos. Veja o que diz o inciso LXXIII do brasileira – pressuposto da cidadania;
artigo 5º: Destaque-se que os portugueses equiparados (quase
nacional), por receberem tratamento equivalente ao
de brasileiro naturalizado, poderão se alistar como
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima
para propor ação popular que vise a anular
eleitores.
ato lesivo ao patrimônio público ou de 2. Conscritos – convocados para o serviço
entidade de que o Estado participe, à militar – impedidos de se alistar. Além disso, o TSE
moralidade administrativa, ao meio considera conscritos os médicos, dentistas,
ambiente e ao patrimônio histórico e farmacêuticos e veterinários que prestam serviço
cultural, ficando o autor, salvo comprovada militar obrigatório. Explica-se:
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus Não são conscritos, no sentido que Constituição
da sucumbência; empresta ao termo, apenas os jovens que completam
dezoito anos, mas também os médicos, dentistas,
DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS farmacêuticos e veterinários que não prestaram o
Como visto o direito de sufrágio, também chamado serviço militar obrigatório em virtude de adiamento
de direito político positivo, se divide no exercício do de incorporação para a realização dos respectivos
direito de votar – capacidade eleitoral ativa e no cursos superiores. Uma vez concluídos os seus
direito de se eleger – capacidade eleitoral passiva. cursos de graduação, essa classe especial de
conscritos, formada por médicos, dentistas,
farmacêuticos e veterinários, vem a prestar o Serviço
CAPACIDADE ELEITORAL ATIVA Militar obrigatório.
(ALISTABILIDADE) – DIREITO DE Destarte, tal qual os jovens da classe que completam
VOTAR. dezoito anos e são selecionados para a prestação do
Serviço Militar obrigatório, os médicos, dentistas,
A capacidade eleitoral ativa permite a participação farmacêuticos e veterinários também incorporados
do cidadão na democracia representativa, nos às Forças Armadas em razão do Serviço Militar não
plebiscitos e nos referendos, através do exercício do são admitidos ao alistamento e, por conseguinte, ao
voto. voto.
Essa capacidade é adquirida com o alistamento na
Justiça Eleitoral, não sendo, portanto, um ato de
ofício. A qualidade de eleitor é demonstrada através § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
do título de eleitor que dá ao nacional a condição de I - obrigatórios para os maiores de dezoito
cidadão. anos;
De acordo com o art. 14 § 1o da CF o alistamento e II - facultativos para:
o voto são obrigatórios para alguns, facultativos para a) os analfabetos;
outros e pode ainda ser proibido para determinadas b) os maiores de setenta anos;
pessoas. Vejamos: c) os maiores de dezesseis e menores de
ü O alistamento e o voto são obrigatórios: dezoito anos.
para maiores de 18 anos e menores de 70 § 2º Não podem alistar-se como eleitores os
anos, que não sejam analfabetos. estrangeiros e, durante o período do serviço
ü O alistamento e o voto são facultativos: militar obrigatório, os conscritos.
Analfabetos, maiores de setenta anos e
jovens entre dezesseis e dezoito anos.
Destaca-se que o adolescente que ainda tiver 15 anos CAPACIDADE ELEITORAL
poderá, no ano eleitoral66, realizar o alistamento
desde que complete 16 anos até a data da eleição, PASSIVA (ELEGIBILIDADE) –
inclusive. DIREITO DE SER VOTADO.

66
Até 151 dias antes das eleições.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,77
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Caracteriza-se pela possibilidade de participar das São normas que impedem a participação do cidadão
decisões políticas do Estado, concorrendo a mandato no processo político, implicam na negativa dos
eletivo. direitos políticos positivos
São requisitos de elegibilidade: 1. Inelegibilidades.
ü *nacionalidade brasileira: nato, 2. Causas de perda ou suspensão dos direitos
naturalizado, ou condição de português equiparado, políticos – art. 15
em alguns casos a CF exige que o cargo seja
privativo de brasileiros natos, como já estudado no
tópico sobre nacionalidade (Presidente e Vice-
INELEGIBILIDADES
Presidente da República). (art. 12 § 3o)
ü *Pleno exercício dos Direitos Políticos: não As inelegibilidades são circunstâncias, fatores que
pode incidir nas causas de perda ou suspensão dos impedem o individuo de exercer a capacidade
direitos políticos (art. 15 CF). eleitoral passiva, ou seja de se eleger, total ou
ü *Alistamento eleitoral: tem que ter parcialmente e são classificadas dentro dos direitos
capacidade eleitoral ativa para poder ser eleito, ter políticos negativos. As inelegibilidades podem ser
título de eleitor. classificadas quanto a natureza, modo de incidir e
ü *Domicilio eleitoral – na circunscrição onde quanto ao fundamento, vejamos:
pretende se eleger – vínculo com a população, pelo Ø Quanto a sua natureza as inelegibilidades
prazo mínimo de 6 meses antes das eleições. podem ser classificadas como:
Domicilio eleitoral diferente de domicílio civil. ü Constitucionais: previstas na CF;
ü *Filiação partidária: deve estar filiado a um ü Infraconstitucionais: previstas na LC
partido político, pelo prazo mínimo de 6 meses67 64/90, alterada pela Lei Complementar nº
antes das eleições, pois o nosso sistema eleitoral não 135/2010 (Lei do Ficha Limpa).
admite candidaturas avulsas ou autônomas, sem A importância da distinção das inelegibilidades
partido político. constitucionais das infraconstitucionais é a de que
ü *Idade mínima: idade constitucional quanto as primeiras não há preclusão, podendo ser
exigida para exercício de determinados cargos, a ser alegadas nas diversas fases do processo eleitoral,
comprovada em regra na data da posse, salvo para o enquanto que as inelegibilidades infraconstitucionais
caso do vereador, que deve ser comprovada na data- se não forem arguidas em momento oportuno,
limite do pedido de registro de candidatura68. ficarão preclusas.
35 -
Presidente/Vice/Senador Ø Quanto ao modo de incidir as
inelegibilidades podem classificadas como:
30 - Governador/Vice ü Diretas: quando a causa da
inelegibilidade decorre do próprio
individuo.
21 - Deputados, Prefeito, juiz de paz
ü Indireta ou Reflexa: quando a
inelegibilidade é decorrente de um ato de
18 - Vereador terceiros, como o cônjuge ou um parente.

Ø Quanto ao fundamento as inelegibilidades


podem classificadas como:
DIREITOS POLITICOS ü sanção ou cominada: são aquelas que
NEGATIVOS decorrem de uma punição, ou seja, da prática de
um ato ilício e vai depender de uma determinação
judicial que constituirá a inelegibilidade, nesse
67
caso a decisão judicial terá efeitos constitutivos.
Lei das Eleições 9.504/97 - Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato
deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de
Ex: condenados por abuso do poder econômico.
seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo. ü originária ou inata: o individuo pela sua
68 o
situação encontra-se impedido de concorrer a
Lei das Eleições 9.504/97 – Art. 11 §2 A idade mínima constitucionalmente
estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência
cargos eletivos, não em virtude de uma ilicitude,
a data da posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será mas em decorrência de uma situação fática. Por ex:
aferida na data-limite para o pedido de registro.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,78
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
é analfabeto, ou em decorrência do parentesco. meios, como por exemplo através da aplicação de
Nesse caso, se houver decisão judicial um teste de alfabetização.
reconhecendo a inelegibilidade, essa decisão será A aplicação de um teste de alfabetização pelo juiz
meramente declaratória e não constitutiva. não pode ferir a dignidade humana e deve ser
realizado de forma reservada, não podendo ser um
A CF estabelece dois tipos de inelegibilidades: (i) teste público. Ademais, somente será aplicado ante a
absolutas; (ii) relativas. ausência de comprovante de escolaridade e se o
magistrado não se convencer da declaração feita
Vamos analisar, portanto as inelegibilidades pelo próprio candidato.
constitucionais: E ainda, de acordo com a jurisprudência69 mesmo
que o candidato tenha sido eleito e diplomado será
possível verificar sua situação de analfabetismo.
INELEGIBILIDADES
ABSOLUTAS INELEGIBILIDADES RELATIVAS
As inelegibilidades absolutas impedem que o As inelegibilidades relativas são circunstâncias que
cidadão concorra para qualquer cargo eletivo, por impedem que o cidadão concorra a alguns cargos em
condições pessoais. virtude de condições especiais do próprio candidato
Por se tratar de medidas excepcionais as ou de seu cônjuge ou parente.
inelegibilidades absolutas são previstas apenas na As hipóteses de inelegibilidades relativas são
CF em rol taxativo. EXEMPLIFICATIVAS e não taxativas, isso
São inelegíveis absolutamente: os inalistáveis e os porque a própria constituição autoriza que outras
analfabetos, nos termos do art. 14 § 4º da CF: hipóteses de inelegibilidades sejam criadas através
de Lei Complementar. Veja o art. 14§ 9º da CF:
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os
analfabetos.
Art. 14 § 9º Lei complementar estabelecerá
outros casos de inelegibilidade e os prazos
Os inalistáveis são os estrangeiros e os conscritos, de sua cessação, a fim de proteger a
conforme já analisado. probidade administrativa, a moralidade
Analfabeto é aquele que não sabe ler nem escrever, para exercício de mandato considerada vida
exigindo-se assim o mínimo de conhecimento da pregressa do candidato, e a normalidade e
língua portuguesa para que o cidadão possa legitimidade das eleições contra a influência
concorrer a um cargo eletivo. do poder econômico ou o abuso do exercício
de função, cargo ou emprego na
Ressalta-se que o analfabeto possui capacidade
administração direta ou indireta.
eleitoral ativa de forma facultativa, mas não tem
capacidade eleitoral passiva, é dizer: pode votar,
mas não pode ser eleito.
Não devemos confundir o analfabeto, que não sabe
ler nem escrever, com o analfabeto funcional, que é 69
Registro. Indeferimento. Candidatura. Vereador.
aquele que, apesar de saber ler e escrever, não Analfabetismo. Aferição. Teste. Aplicação. Juiz Eleitoral. Art.
compreende textos simples e/ou realizar operações 28, VII e § 4º, Res.-TSE nº 21.608.
básicas de matemática. Dessa forma, o analfabeto Embargos de declaração. Obscuridade. Contradição.
funcional pode se candidatar a cargos eletivos. Inexistência.
A comprovação da alfabetização é feita através do 1. Para comprovação de sua alfabetização, é facultado ao
comprovante de escolaridade, documento que é candidato, na ausência do comprovante de escolaridade,
exigido no pedido de registro de candidatura apresentar a declaração de próprio punho a que se refere o
art. 28, § 4º, da Res.-TSE 21.608. Não obstante, esse mesmo
(Conforme resolução 21.608/2004), só a
dispositivo permite que o juiz, se for o caso, determine a
apresentação desse documento já é suficiente. A aferição da alfabetização, por outros meios, o que será feito
ausência do comprovante pode ser suprida por caso persista dúvida quanto à declaração apresentada.
declaração de próprio punho do candidato. Embargos rejeitados.
Entretanto, mesmo com a declaração e havendo (Recurso Especial Eleitoral nº 21920, Acórdão de , Relator(a)
dúvidas quanto a alfabetização do candidato, pode o Min. Carlos Eduardo Caputo Bastos, Publicação: PSESS -
juiz eleitoral, determinar a aferição através de outros Publicado em Sessão, Data 18/09/2004)

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,79
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Podemos destacar três hipóteses de inelegibilidades a) Os vices poderão ser eleitos para o mesmo
relativas previstas na CF: a) inelegibilidade por cargo, ou seja, o de vice por um único
motivos funcionais: limite de reeleição; b) período subsequente;
inelegibilidade por motivos funcionais: b) Os vices reeleitos poderão se candidatar ao
desincompatibilização; c) inelegibilidade reflexa ou cargo do titular nas eleições subsequentes,
em virtude do parentesco; d) inelegibilidade do mesmo que tenham substituído os titulares.
militar.
Vamos exemplificar: Imagine que Zezinho e
Luizinho sejam eleitos respectivamente aos cargos
de Prefeito e Vice, uma vez cumprido o primeiro
INELEGIBILIDADE POR mandato, foram reeleitos, e finalizaram o segundo
MOTIVOS FUNCIONAIS – mandato, pergunta-se:
LIMITE DE REELEIÇÃO a) Zezinho pode ser candidato a reeleição como
Prefeito? A resposta é evidentemente não,
Dispõe a CF no art. 14 § 5º:
pois ele já cumpriu dois mandatos e está
§ 5º O Presidente da República, os impedido de cumprir um terceiro mandato
Governadores de Estado e do Distrito consecutivo.
Federal, os Prefeitos e quem os houver b) Zezinho pode ser candidato a vice-prefeito
sucedido, ou substituído no curso dos na eleição imediatamente seguinte ao
mandatos poderão ser reeleitos para um
término do seu segundo mandato como
único período subsequente.
Prefeito? A Resposta é também não, pois
Dessa forma, o Presidente da República, caso o titular venha a falecer ou perca o seu
Governadores de Estado e Prefeitos só podem se cargo, Zezinho assumiria e iria cumprir um
reeleger por um único período subsequente, ou seja, terceiro mandato, o que é proibido pela CF.
4 anos mais 4 anos, estando inelegíveis para o c) Luizinho pode ser candidato a vice-prefeito
mandato seguinte. nas eleições seguintes? A resposta é não pois
Esse dispositivo estabelece um limite a reeleição dos ele já foi vice por dois mandatos
membros do Poder Executivo, vedando a reeleição consecutivos.
para um terceiro mandato de forma sucessiva. d) Luizinho pode ser candidato ao cargo de
Observe que a vedação é para um terceiro mandato Prefeito nas eleições seguintes? Aqui a
SUCESSIVO, isso porque é possível que um resposta é SIM, ainda que Luizinho tenha
candidato cumpre três ou mais mandatos, desde que substituído temporariamente o titular ele
não os realize de forma sucessiva. poderá se candidatar ao cargo do titular, isso
Outra observação importante é a de que essa porque o tempo em que Luizinho foi vice
limitação só se aplica aos membros do Poder não é computado como exercício de mandato
Executivo, pois não existe limitação à reeleição para eletivo, dessa forma, ele poderia ser
os membros do Poder Legislativo. candidato a Prefeito.
De acordo com a literalidade da CF essa limitação Quando a essa última indagação temos que ir além:
abrange não apenas os titulares, mas também No exemplo citado Zezinho e Luizinho cumpriram
aqueles que sucederam (definitivo) ou substituíram dois mandatos na condição de Prefeito e vice até o
(temporário) o titular do cargo, ou seja, os vices. final, dessa forma, Luizinho pode ser candidato ao
Contudo, de acordo com a jurisprudência do STF a cargo do Prefeito cumprindo um primeiro mandato e
“mera substituição” não deve ser computada para por consequência poderá na sequência ser candidato
fins de reeleição, incidindo a inelegibilidade relativa a reeleição.
somente quando houver o exercício efetivo da Entretanto, se Luizinho tiver sucedido Zezinho ou
titularidade do cargo, que se dá mediante eleição ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito,
sucessão. poderá também candidatar-se ao cargo do titular,
contudo, não poderá ser candidato a reeleição, pois o
Dessa forma, podemos estabelecer algumas período de sucessão deve ser contado como um
observações pertinentes em relação ao Vice: primeiro mandato.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,80
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
PREFEITO – PROIBIÇÃO DE TERCEIRA Os membros do Poder Executivo para concorrerem a
ELEIÇÃO EM CARGO DA MESMA OUTROS cargos deverão renunciar aos seus
NATUREZA respectivos mandatos no prazo de 6 (seis) meses antes
De acordo com a jurisprudência os PREFEITOS que das eleições, conforme art. 14 §6º da CF:
já cumpriram o segundo mandato sucessivo não
§ 6º. Para concorrerem a outros cargos, o
poderão candidatar-se a outro cargo de prefeito, ainda Presidente da República, os Governadores de
que em Município distinto, em respeito ao princípio Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
republicano, essa decisão veio afastar a figura do devem renunciar aos respectivos mandatos até
Prefeito itinerante ou profissional, conforme seis meses antes do pleito.
entendimento do STF:
Observe que não será necessária a renúncia para
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. concorrer ao mesmo cargo, ou seja, para concorrer a
REPERCUSSÃO GERAL. REELEIÇÃO. reeleição.
PREFEITO. INTERPRETAÇÃO DO ART.
Os vices não precisam se desincompatibilizar para
14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. MUDANÇA
DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA concorrer a outros cargos desde que não tenham
ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. I. sucedido ou substituído o titular nos seis meses
REELEIÇÃO. MUNICÍPIOS. anteriores ao pleito.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA É o que diz o § 2º, do art. 1o da LC 64/90
CONSTITUIÇÃO. PREFEITO. § 2º O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o
PROIBIÇÃO DE TERCEIRA ELEIÇÃO Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros
EM CARGO DA MESMA NATUREZA, cargos, preservando os seus mandatos
AINDA QUE EM MUNICÍPIO DIVERSO. respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis)
O instituto da reeleição tem fundamento não meses anteriores ao pleito, não tenham
somente no postulado da continuidade sucedido ou substituído o titular.
administrativa, mas também no princípio
republicano, que impede a perpetuação de
uma mesma pessoa ou grupo no poder. O Inclusive, caso o vice assuma o mandato de seus
princípio republicano condiciona a titulares, no prazo de desincompatibilização, ainda
interpretação e a aplicação do próprio que de forma temporária, haverá inelegibilidade
comando da norma constitucional, de modo reflexa para os seus parentes.
que a reeleição é permitida por apenas uma
única vez. Esse princípio impede a terceira
eleição não apenas no mesmo município,
mas em relação a qualquer outro
INELEGIBILIDADE REFLEXA -
município da federação. Entendimento Parentesco
contrário tornaria possível a figura do A inelegibilidade em decorrência do parentesco é
denominado “prefeito itinerante” ou do
chamada de reflexa, porque a inelegibilidade é
“prefeito profissional”, o que claramente é
incompatível com esse princípio, que gerada para terceiros e não para quem esta no cargo
também traduz um postulado de eletivo, ou seja, não é direta. É uma proibição para o
temporariedade/alternância do exercício do cônjuge ou parente até 2o grau de membros do
poder. (...) O cidadão que exerce dois Poder Executivo. Vejamos o que diz o texto
mandatos consecutivos como prefeito de constitucional no art. 14 § 7º:
determinado município fica inelegível para
o cargo da mesma natureza em qualquer
§ 7º São inelegíveis, no território de
outro município da federação.
jurisdição do titular, o cônjuge e os
(STF - RE: 637485 RJ, Relator: Min.
parentes consanguíneos ou afins, até o
GILMAR MENDES, Data de Julgamento:
segundo grau ou por adoção, do Presidente
01/08/2012)
da República, de Governador de Estado ou
Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos
INELEGIBILIDADE POR MOTIVOS seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
FUNCIONAIS – REGRA DE titular de mandato eletivo e candidato à
DESINCOMPATIBILIZAÇÃO reeleição.

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,81
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Dessa forma, o titular de um mandato eletivo ou Veja que a inelegibilidade é apenas até o 2o grau,
quem tenha substituído nos últimos seis meses antes não alcançando, portanto, parentes de 3o e 4o graus.
das eleições, pertencente ao Poder Executivo –
Presidente, Governador e Prefeito, gera, no seu Observe o esquema:
território de jurisdição, inelegibilidade para o
cônjuge ou parente até segundo grau, tanto para FORMAS DE GRAUS DE
cargos do poder executivo quanto para os cargos do PARENTESCO PARENTESCO
poder legislativo.
1º grau 2º grau
Observe que os membros do Poder Legislativo não
geram inelegibilidades ao seu cônjuge e parentes,
Parentesc Em Ascende PAIS AVÓS
mas tão somente os membros do Executivo. linha nte (inclusiv
o
Cônjuge é o esposo, a esposa, decorrente do
consangu reta e
casamento civil, religioso, ou de União Estável, madrasta
íneos
inclusive as uniões homoafetivas. e
O parentesco pode se dar de duas formas, por padrasto
consanguinidade – que decorre de aspectos )
biológicos – ou por afinidade – que se constitui em Descend FILHOS NETOS
decorrência do casamento ou da união estável, ente
tornando o cônjuge ou companheiro parente dos Em ---- ----- IRMÃOS
parentes do outro, inclusive nas hipóteses de linha
adoção. colat
Esse parentesco pode-se dar em linha reta ou eral
colateral. Em Ascende SOGRO AVÓS DO
Ø Por consaguinidade e em linha reta temos os Parentes
linha ntes S CÔNJUGE
ascendentes e os descendentes, sem limites Por
reta (inclusiv OU
de graus: Afinidad
e COMPAN
1º grau: pai e filho e
padrasto HEIRO
2º grau: avô e neto ou
3º grau: bisavô e bisneto madrasta
Ø Por consaguinidade e em linha colateral do
temos aquelas pessoas que apesar de não cônjuge
serem ascendentes e descentes decorrem de ou
um ancestral comum, encerrando o companh
parentesco até o 4o grau: eiro)
2º grau: irmãos Descend ENTEA NETOS
3º grau: tios e sobrinhos entes DOS,
4º grau: sobrinhos-netos, tios-avós e primos GENRO
S E
Ø Por afinidade e em linha reta temos os NORAS
ascendentes e os descendentes do cônjuge, (inclusiv
sem limites: e do
1º grau: sogro, sogra, genro, nora, enteados cônjuge
2º grau: avôs do cônjuge, netos do cônjuge ou
3º grau: bisavô e bisneto do cônjuge. companh
Ø Por afinidade e em linha colateral temos eiro)
aquelas pessoas que apesar de não serem Em - - CUNHAD
ascendentes e descentes decorrem de um linha OS (irmãos
ancestral comum, a afinidade vai apenas até colat do cônjuge
o segundo grau: eral ou
2o grau: cunhados. companheir
o)

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,82
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
e também renunciar seis meses antes do
pleito.
RESUMINDO: Lembra-se o caso da ex-governadora do RJ, Rosinha
1- O cônjuge, parentes e afins, até o segundo Garotinho, que foi eleita em 2002, logo após seu
grau, ou por adoção de PRESIDENTE não poderão esposo, Anthony Garotinho, que foi eleito em 1998,
se candidatar a nenhum cargo eletivo no País. para um primeiro mandato, ter renunciado seis
2- O cônjuge, parentes e afins, até o segundo meses antes para concorrer ao cargo de presidente
grau, ou por adoção de GOVERNADOR não em 2002.
poderão se candidatar a nenhum cargo dentro
daquele Estado. Isso inclui os cargos de Vereador, Destaca-se que não haverá inelegibilidade reflexa se,
Prefeito e Vice-Prefeito (de qualquer dos Municípios por exemplo, o esposo e a esposa forem candidatos a
daquele estado), bem como os cargos de Deputado cargos eletivos pela primeira vez, isso porque, como
Federal, Deputado Estadual, Senador, Governador e nenhum dos dois detêm mandato eletivo não haverá
Vice-governador por aquele estado. inelegibilidades.
3- O cônjuge, parentes e afins, até o segundo
grau, ou por adoção de PREFEITO não poderão se
candidatar a nenhum cargo dentro daquele Quanto a figura do cônjuge temos que destacar ainda
Município, ou seja, estarão inelegíveis par ao cargo a Súmula vinculante 18 do STF:
de Vereador, Prefeito e Vice-Prefeito.
A dissolução da sociedade ou do vínculo
conjugal, no curso do mandato, não afasta
EXCEÇÕES: a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo
1A - REELEIÇÃO 14 da Constituição Federal.
Ao lermos o art. 14, §7o, percebemos, em sua parte
Em decorrência dessa súmula, a separação ou
final, que há uma exceção a essa regra da
divórcio na vigência do mandato não afasta a
inelegibilidade reflexa, vejamos: “salvo se já titular
inelegibilidade reflexa para o mandato subsequente.
de mandato eletivo e candidato à reeleição”.
Essa disposição significa que a inelegibilidade
Contudo, a referida súmula não se aplica no caso de
reflexa não se aplica caso o cônjuge, parente ou afim
extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos
já possua mandato eletivo e esteja candidato a
cônjuges.
reeleição; nessa situação, será possível que estes se
Desse modo, a inelegibilidade não se aplica ao viúvo
candidatem à reeleição, mesmo se ocuparem cargos
(a) do Chefe do Executivo, uma vez que o
dentro da circunscrição do Chefe do Executivo, se,
falecimento afasta a inelegibilidade, conforme
entretanto, a candidatura for para outro cargo que
orientação da jurisprudência do TSE:
não de reeleição haverá inelegibilidade.

2A – RENÚNCIA ELEGIBILIDADE - CÔNJUGE VAROA –


O cônjuge, parentes e afins são elegíveis até mesmo PREFEITO FALECIDO. Elegível, podendo
para o cargo do titular, quando este (o titular) tiver concorrer à reeleição, é o cônjuge de
direito à reeleição (primeiro mandato) e houver Prefeito falecido, mormente quando este foi
sucedido pelo Vice-Prefeito. (TSE. Consulta
renunciado seis meses antes do pleito.
n.º 54-40. Relator Min. Marco Aurélio.
Se for para outros cargos que não o do titular, Julgado em 24.04.2012. Publicado em
bastará a renúncia seis meses antes do pleito. 31.05.2012).
Imagine o seguinte exemplo: José é Prefeito e
Maria, sua esposa quer se candidatar
a) Se Maria quiser se candidatar ao cargo de No caso de desmembramento de município o
vereadora, basta que José renuncie seis parente do Prefeito do Município originário não
meses antes do pleito para que ela fique pode se candidatar a prefeito do município recém-
elegível. criado.70
b) Se Maria quiser se candidatar ao cargo do
titular, ou seja, ao cargo de prefeita, para que
fique elegível o titular deverá estar no OUTRAS HIPÓTESES
primeiro mandato (tenha direito à reeleição) 70
RE 158.314-2
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,83
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A CF estabelece a possibilidade de se criar, através AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE
de Lei Complementar, novas hipóteses de
inelegibilidades relativas. MANDATO ELETIVO
Observe que as hipóteses de inelegibilidade só
podem ser estabelecidas por LEI
COMPLEMENTAR, enquanto que as hipóteses de § 10 – O mandato eletivo poderá ser
elegibilidade podem ser previstas em lei ordinária. impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo
Como dispõe o art. 14 §9o: de quinze dias contados da diplomação,
instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros § 11 – A ação de impugnação de mandato
casos de inelegibilidade e os prazos de sua tramitará em segredo de justiça,
cessação, a fim de proteger a probidade respondendo o autor, na forma da lei, se
administrativa, a moralidade para exercício temerária ou de manifesta má-fé.
de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade
das eleições contra a influência do poder
econômico ou o abuso do exercício de PERDA OU SUSPENSÃO DOS
função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta. DIREITOS POLÍTICOS
A CF veda expressamente a Cassação dos Direitos
A Lei complementar mencionada no dispositivo é a Políticos, contudo permite a sua privação, restrição de
lei 64/90, chamada de lei das inelegibilidades que duas formas: permanente (perda) ou temporária
foi significativamente alterada pela LC 135/2010, (suspensão).
que é a Lei da Ficha Limpa. Essa restrição privam o cidadão do direito de votar e de
ser votado.
O Art. 15o da CF apresenta um ROL TAXATIVO
MILITARES dessas possíveis restrições, no entanto, não diz quais
são as hipóteses de perda e quais são as hipóteses de
O Militar que pode se alistar, ou seja, que pode
suspensão, por isso, nesse ponto a doutrina é
votar, poderá ser eleito, conforme artigo 14 § 8º:
divergente. Veja as hipóteses:

§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas


as seguintes condições: Art. 15. É vedada a cassação de direitos
políticos, cuja perda ou suspensão só se
I - se contar menos de dez anos de serviço, dará nos casos de:
deverá afastar-se da atividade;
I - cancelamento da naturalização por
II - se contar mais de dez anos de serviço, sentença transitada em julgado;
será agregado pela autoridade superior e,
se eleito, passará automaticamente, no ato II - incapacidade civil absoluta;
da diplomação, para a inatividade. III - condenação criminal transitada em
julgado, enquanto durarem seus efeitos;
Ressalta-se que a CF, art. 142 §3o, V, veda ao IV - recusa de cumprir obrigação a todos
Militar a filiação partidária enquanto no serviço imposta ou prestação alternativa, nos
ativo. termos do art. 5º, VIII;
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não V - improbidade administrativa, nos termos
pode estar filiado a partidos políticos do art. 37, § 4º.

Assim, para suprir o requisito constitucional de


filiação partidária a justiça eleitoral entende que Parte da doutrina vai defender que são causas de perda
basta o registro de candidatura apresentado pelo o cancelamento da naturalização (I) e a escusa de
partido político. consciência (IV) sendo que as demais hipóteses seriam
causas de suspensão.
Outra parte da doutrina vai defender que a escusa de
consciência é hipótese de suspensão dos direitos
políticos.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,84
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Dessa forma a doutrina diverge apenas quanto a escusa legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
de consciência, uns considerando como causa de perda alternativa, terá seus direitos restringidos.
e outros como causa de suspensão. Os direitos a serem restringidos são os direitos
políticos, conforme art. 15, IV da CF:
CAUSAS DE PERDA DE DIREITOS
IV- recusa de cumprir obrigação a todos
POLÍTICOS imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
Cancelamento da naturalização por
sentença transitada em julgado Entre as obrigações legais a todos imposta podemos
destacar o exercício da função de jurado, no tribunal do
É pressuposto da cidadania, ou seja, do exercício dos júri, e a prestação do serviço militar.
direitos políticos que o individuo detenha a A doutrina constitucionalista, encabeçada por José
nacionalidade brasileira, dessa forma a perda da Afonso da Silva e acompanhada por Pedro Lenza,
nacionalidade faz com o que o individuo se torne defende que essa hipótese de restrição de direitos
estrangeiro, implicando por consequência na perda dos políticos seria caso de perda, já que para readquiri-los a
direitos políticos. pessoa deverá prestar o serviço alternativo ou realizar a
Destaca-se que o brasileiro nato e o naturalizado obrigação legal imposta.
podem perder a sua nacionalidade nos termos do artigo Cuidado com a legislação infraconstitucional, por
12§ 4º da CF, relembra-se: exemplo no caso da recusa do serviço do júri, o art. 438
do CPP fala que a sua recusa e o não cumprimento da
§ 4º - Será declarada a perda da prestação alternativa implicaria na suspensão dos
nacionalidade do brasileiro que: direitos políticos:
I - tiver cancelada sua naturalização, por
sentença judicial, em virtude de atividade
Art. 438. A recusa ao serviço do júri
nociva ao interesse nacional;
fundada em convicção religiosa, filosófica
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos
ou política importará no dever de prestar
casos:
serviço alternativo, sob pena de suspensão
a) de reconhecimento de nacionalidade
dos direitos políticos, enquanto não prestar
originária pela lei estrangeira;
o serviço imposto.
b) de imposição de naturalização, pela
norma estrangeira, ao brasileiro residente Nesse sentido, a lei 8.239/1991 que trata da prestação
em estado estrangeiro, como condição para do serviço militar obrigatório trata essa hipótese como
permanência em seu território ou para o causa de suspensão dos direitos políticos.
exercício de direitos civis;

Art. 4º Ao final do período de atividade


No caso do naturalizado a perda só é possível através previsto no § 2º do art. 3º desta lei, será
de decisão judicial, de competência da Justiça Federal conferido Certificado de Prestação
(art. 109, X da CF), uma vez transitada em julgado a Alternativa ao Serviço Militar Obrigatório,
referida decisão ocorrerá a perda dos direitos políticos. com os mesmos efeitos jurídicos do
Assim, apesar da CF falar apenas como hipótese de Certificado de Reservista.
perda dos direitos políticos o cancelamento da § 2º Findo o prazo previsto no parágrafo
anterior, o certificado só será emitido após
naturalização, entende-se que se o brasileiro nato
a decretação, pela autoridade competente,
perder a sua nacionalidade, por consequência
da suspensão dos direitos políticos do
também perderá os direitos políticos. inadimplente, que poderá, a qualquer
tempo, regularizar sua situação mediante
cumprimento das obrigações devidas.
Escusa de consciência
O Art. 5o, VIII da CF estabelece o direito a objeção ou
Assim, deverá o candidato avaliar como a banca
escusa de consciência, por esse dispositivo ninguém
trabalha o tema, em geral nas provas de direito
será privado de direitos por motivo de crença religiosa
constitucional a escusa de consciência sem
ou de convicção filosófica ou política, entretanto, se a
cumprimento da prestação alternativa é considerada
pessoa invocar esse direito para eximir-se de obrigação
como hipótese de perda.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,85
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Assim, com essa nova redação temos que a sentença de
interdição não produziria mais a suspensão dos direitos
CAUSAS DE SUSPENSÃO DE políticos.
DIREITOS POLÍTICOS
Incapacidade civil absoluta Condenação criminal transitada em
Incapacidade civil é o estado no qual se limita legal ou julgado enquanto durarem os seus
judicialmente o exercício da vida civil a um indivíduo, efeitos
quando essa limitação é para todo e qualquer ato da É efeito secundário da condenação criminal definitiva a
vida civil, chama-se essa incapacidade como absoluta. suspensão dos direitos políticos, sendo sua
Nesse tópico, entretanto, temos um problema. aplicabilidade direta e automática, independentemente
Isso porque essa hipótese constitucional se referia ao da gravidade ou natureza do crime.
art. 3o, II do Código Civil Brasileiro, o qual, entretanto, Sabe-se que o pleno gozo dos direitos políticos é
foi revogado pela lei 13.146/2015 que colocou em condição necessária para a investidura em mandato
vigor o Estatuto das pessoas com deficiência. eletivo, dessa forma, se um individuo já eleito tiver
A Lei n. 13.146/15 é resultado da adesão do Brasil, por uma condenação criminal transitada em julgado,
intermédio do Decreto Legislativo n. 186, de 09 de haverá a perda IMEDIATA do mandato?
julho de 2008, à Convenção sobre os Direitos das A resposta é que depende do cargo eletivo.
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, Isso porque a CF – para deputados e senadores, dispõe
que tem status de Emenda Constitucional pela sua que a perda do mandato, no caso de condenação
aprovação conforme procedimento previsto no § 3o do criminal transitada em julgado, só ocorrerá após
art. 5o da Constituição Federal. decisão pela maioria absoluta da casa legislativa,
Assim, dispunha o artigo do CCB: conforme art. 55 § 2º da CF:
Art. 3o São absolutamente incapazes de
exercer pessoalmente os atos da vida civil:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou
I - os menores de dezesseis anos;
Senador:
II - os que, por enfermidade ou deficiência
VI - que sofrer condenação criminal em
mental, não tiverem o necessário
sentença transitada em julgado.
discernimento para a prática desses atos;
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda
III - os que, mesmo por causa transitória,
do mandato será decidida pela Câmara dos
não puderem exprimir sua vontade.
Deputados ou pelo Senado Federal, por
maioria absoluta, mediante provocação da
Essa hipótese de suspensão de direitos políticos se respectiva Mesa ou de partido político
referia então aqueles casos em que a pessoa era representado no Congresso Nacional,
reconhecida como incapaz através de um processo de assegurada ampla defesa.
interdição.
Assim, uma pessoa com enfermidade ou deficiência Assim, mesmo que a condenação criminal transitada
mental, e sem discernimento necessário para os atos da em julgado implique na suspensão dos direitos
vida civil, era considerada absolutamente incapaz, políticos, para deputados e senadores a perda do
decorrente daí o efeito direto de suspensão dos direitos mandato não será automática e dependerá de decisão da
políticos do interditado. casa respectiva. Esse entendimento foi inclusive
Contudo com a nova redação do art. 3o apenas os confirmado pelo STF no julgamento da AP 565.
menores de 16 anos são absolutamente incapazes, veja Para membros do executivo e vereadores a CF não traz
o que determina o art. 3o do CCB: qualquer previsão, de modo que deve valer a regra do
art. 15, ou seja, uma vez transitada em julgado a
Art. 3o São absolutamente incapazes de sentença criminal, ocorrerá a suspensão dos direitos
exercer pessoalmente os atos da vida civil políticos e por consequência a perda do mandato por
os menores de 16 (dezesseis) anos. não cumprir com o requisito de elegibilidade de estar
em pleno gozo dos direitos políticos.

Improbidade administrativa
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,86
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Improbidade é aquele ato desonesto, desleal praticado Art. 16. A lei que alterar o processo
por agente público. eleitoral entrará em vigor na data de sua
A CF, em seu art. 37§ 4º dispõe que os atos de publicação, não se aplicando à eleição que
improbidade administrativa importam na: ocorra até um ano da data de sua vigência.
ü Suspensão dos direitos políticos; Esse dispositivo estabelece períodos diferentes para
ü Perda da função pública; a vigência e a produção de efeitos da lei que altera o
ü A indisponibilidade dos bens; processo eleitoral.
ü E ressarcimento ao erário, na forma e gradação A vigência é imediata, na data da publicação,
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal contudo os efeitos da nova lei só serão aplicáveis as
cabível. eleições que ocorrem depois de um ano da entrada
Dessa forma, o individuo condenado judicialmente por em vigor da lei.
improbidade administrativa terá como consequência a
suspensão dos seus direitos políticos. Observe que só
ocorrerá essa restrição se a condenação se der na esfera CAPÍTULO 5 - PARTIDOS
judicial, não ocorrendo por mera decisão
administrativa.
POLÍTICOS

•I - cancelamento da naturalização por sentença


transitada em julgado;
Conceito
•IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
PERDA prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
Partido Político é uma livre associação de pessoas,
que possuem interesses em comum e objetivam o
exercício do poder político, através do voto.
•II - incapacidade civil absoluta;
•III - condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos;
SUSPENSÃO •V - improbidade administrativa, nos termos do art. Natureza Jurídica dos Partidos
37, § 4º.
Políticos
Os partidos políticos, segundo previsão expressa da
Constituição, possuem natureza jurídica de direito
REAQUISIÇÃO DOS DIREITOS privado. Vejamos o disposto no Art. 17, § 2º:
POLÍTICOS PERDIDOS OU “§ 2º – Os partidos políticos, após
SUSPENSOS adquirirem personalidade jurídica, na
forma da lei civil, registrarão seus estatutos
Como não se trata de hipóteses de cassação de direitos no Tribunal Superior Eleitoral.”
políticos, tanto no caso da perda, quanto no da
suspensão será possível a reaquisição da cidadania.
Quando a Constituição determina que os partidos
No caso de cancelamento da naturalização por
devem adquirir sua personalidade jurídica na forma
sentença judicial transitada em julgado a recuperação
da lei civil, praticamente afirma que devem ser
só se dará através de Ação rescisória.
considerados como pessoa jurídica de direito
No caso de escusa de consciência, a recuperação se
privado, apesar de ser exigido seu registro no TSE.
dará caso o individuo cumpra a obrigação legal a todos
imposta ou cumpra a prestação alternativa.
Nos demais casos a recuperação se dará quando
cessarem os motivos da suspensão dos direitos.
Criação e Limites dos Partidos
A CF assegura no caput do art. 17 a liberdade de
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos
políticos:
ANTERIORIDADE OU
ANUALIDADE ELEITORAL Art. 17. É livre a criação, fusão,
O principio da anualidade da Lei eleitoral é incorporação e extinção de partidos
considerada Cláusula pétrea, constituindo uma políticos, resguardados a soberania
garantia individual do cidadão-eleitor. nacional, o regime democrático, o

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,87
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
pluripartidarismo, os direitos fundamentais permanentes e provisórios e sobre sua organização e
da pessoa humana e observados os funcionamento e para adotar os critérios de escolha e
seguintes preceitos: o regime de suas coligações nas eleições
majoritárias, além de estabelecer normas de
Contudo, essa liberdade não é absoluta devendo os disciplina e fidelidade partidária. A EC 97/2017
partidos resguardarem: proibiu a celebração de coligações para as eleições
ü Soberania Nacional; proporcionais.
ü Regime democrático;
ü Pluripartidarismo; § 1º É assegurada aos partidos políticos
ü Direitos fundamentais da pessoa humana autonomia para definir sua estrutura
interna e estabelecer regras sobre escolha,
formação e duração de seus órgãos
Além disso, os Partidos devem observar os seguintes permanentes e provisórios e sobre sua
preceitos que funcionam como verdadeiras organização e funcionamento e para adotar
limitações aos Partidos Políticos: os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições
“Art. 17. É livre a criação, fusão, proporcionais, sem obrigatoriedade de
incorporação e extinção de partidos vinculação entre as candidaturas em âmbito
políticos, resguardados a soberania nacional, estadual, distrital ou municipal,
nacional, o regime democrático, o devendo seus estatutos estabelecer normas
pluripartidarismo, os direitos fundamentais de disciplina e fidelidade
da pessoa humana e observados os partidária. (Redação dada pela
seguintes preceitos: Emenda Constitucional nº 97, de 2017)71
I – caráter nacional;
II – proibição de recebimento de recursos A regra da vedação das coligações nas eleições
financeiros de entidade ou governo proporcionais só terá aplicação nas eleições de 2020.
estrangeiros ou de subordinação a estes;
III – prestação de contas à Justiça Eleitoral; Esse dispositivo ainda determina que não é mais
IV – funcionamento parlamentar de acordo exigida a regra da verticalização. Isto é, não é
com a lei. preciso haver vinculação das candidaturas nos
§ 4º – É vedada a utilização pelos partidos diversos níveis federativos (União, Estados, Distrito
políticos de organização paramilitar.” Federal e Municípios).

Seriam exemplos de organizações paramilitares as


milícias do Rio de Janeiro ou uma facção criminosa. Direito de Antena e recursos do
RESGUARDAR PRECEITOS - LIMITES fundo partidário
•Soberania Nacional; •Caráter nacional A Ec 97/2017 estabeleceu novas regras para que os
•Regime democrático; •Proibição de recebimento de
recursos estrangeiro
partidos tenham acesso gratuito a rádio e a televisão
•Pluripartidarismo;
•Direitos fundamentais da •PRestação de contas - Justiça (direito de antena), de acordo com a nova redação do
pessoa humana Eleitoral § 3º só terá direito de antena e acesso a recursos do
•Funcionamento parlamentar
•Vedação de utilização de fundo o PP que alternadamente:
organizações paramilitares.

71
Redação anterior:
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para
Autonomia e não verticalização definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e
para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
As regras constitucionais de autonomia dos partidos coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre
políticos recebeu nova redação pela EC 97/2017. A as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
CF assegura aos partidos políticos autonomia para municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada
definir sua estrutura interna e estabelecer regras
pela Emenda Constitucional nº 52, de 2006)
sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,88
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara
dos Deputados, no mínimo, 2,5% (dois e
§ 3º Somente terão direito a recursos do
meio por cento) dos votos válidos,
fundo partidário e acesso gratuito ao rádio
distribuídos em pelo menos um terço das
e à televisão, na forma da lei, os partidos
unidades da Federação, com um mínimo de
políticos que alternativamente:
1,5% (um e meio por cento) dos votos
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara válidos em cada uma delas; ou
dos Deputados, no mínimo, 3% (três por b) tiverem elegido pelo menos treze
cento) dos votos válidos, distribuídos em
Deputados Federais distribuídos em pelo
pelo menos um terço das unidades da
menos um terço das unidades da Federação.
Federação, com um mínimo de 2% (dois por
cento) dos votos válidos em cada uma delas;
ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Desfiliação com justa causa
Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da Federação. Sabe-se que aquele candidato eleito no sistema
proporcional que se desfiliar, sem justa causa, perde
Essa regra, que cria uma nova cláusula de barreira o mandato, ressalvadas as hipóteses legais de justa
(ou desempenho), no entanto, só vai passar a valer causa (art. 22-A LPP).
nas eleições de 2030, até lá funcionará da seguinte A EC 97/2017 trouxe uma hipótese de justa causa
forma – REGRA DE TRANSIÇÃO: para a desfiliação partidária, pelo § 5º do art. 17 o
candidato que for eleito por um partido que não
preencher os requisitos para obter recursos do fundo
Parágrafo único. Terão acesso aos recursos partidário e do tempo de rádio e TV, poderá mudar
do fundo partidário e à propaganda gratuita
de partido, sem perder o mandato por infidelidade
no rádio e na televisão os partidos políticos
que: partidária:
I - na legislatura seguinte às eleições de § 5º Ao eleito por partido que não preencher
2018: os requisitos previstos no § 3º deste artigo é
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara assegurado o mandato e facultada a
dos Deputados, no mínimo, 1,5% (um e filiação, sem perda do mandato, a outro
meio por cento) dos votos válidos, partido que os tenha atingido, não sendo
distribuídos em pelo menos um terço das essa filiação considerada para fins de
unidades da Federação, com um mínimo de distribuição dos recursos do fundo
1% (um por cento) dos votos válidos em partidário e de acesso gratuito ao tempo de
cada uma delas; ou rádio e de televisão. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
b) tiverem elegido pelo menos nove
Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da
Federação;
CAPÍTULO 6 – PODER
II - na legislatura seguinte às eleições de
2022: EXECUTIVO
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara O edital da PF/2018 descreveu esse tópico da
dos Deputados, no mínimo, 2% (dois por seguinte forma: forma e sistema de governo; chefia
cento) dos votos válidos, distribuídos em
de Estado e chefia de governo.
pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 1% (um por
cento) dos votos válidos em cada uma delas; FUNÇÕES TÍPICAS:
ou
b) tiverem elegido pelo menos onze O Poder Executivo enquanto um dos poderes do
Deputados Federais distribuídos em pelo Estado exerce as seguintes funções típicas:
menos um terço das unidades da Ø Representativa: representação do Estado,
Federação; atividade de Chefia de Estado.
III - na legislatura seguinte às eleições de
2026:
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,89
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Ø Governativa: tomar decisões políticas A República é exatamente o contrário da
fundamentais “Governar é escolher”, Monarquia, a expressão República vem de res
atividade de chefia de Governo. (coisa) public (pública ou do povo), isso porque o
Ø Administrativa: implementar essas políticas Chefe de Estado é escolhido pelo povo, através de
fundamentais, atividade de chefe da eleição, para um mandato certo, ou seja, na
Administração Pública. Ex: prestação de República o Chefe de Estado se manterá no poder de
serviço público. forma temporária, a ideia republicana é exatamente
a de alternância do poder. Ademais, em uma
Relembra-se que o nosso sistema de separação dos república o Chefe é responsável pelos seus atos,
poderes adota o modelo de freios e contrapesos, tendo o dever de prestar contas de seus atos e de
estabelecendo autonomia e limites aos poderes, de suas gestões, podendo ser responsabilizado pelo
modo que as funções estatais não são exercidas de descumprimento de seus deveres. Podemos ainda
forma absoluta. Nesse sentido, o Poder Executivo afirmar que esta intimamente ligada a ideia
exerce de forma atípica função legislativa, quando republicana a igualdade perante a lei, uma vez que
por exemplo, cria uma medida provisória e exerce nem ninguém está acima da lei, nem mesmo o chefe
função de julgamento, quando por exemplo julga eleito.
um servidor em um processo administrativo O texto constitucional não previu de forma expressa
disciplinar. o principio republicano como cláusula Pétrea,
Vale frisar que o Poder Executivo não exerce função contudo a CF o definiu como princípio sensível,
jurisdicional, pois as decisões administrativas estão previsto no art. 34, VII, “a” da CF, dessa forma a
sujeitas ao controle do poder judiciário, de modo violação do Princípio Republicano é hipótese de
que não decidem as questões com definitividade, Intervenção Federal.
não fazendo coisa julgada.
Art. 34. A União não intervirá nos Estados
nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes
FORMA DE GOVERNO - princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema
REPÚBLICA representativo e regime democrático;
A República proclamada em 15 de novembro de
1889, foi efetivamente consagrada na Constituição Apesar de não ser cláusula pétrea, por meio do
de 1891. O princípio fundamental republicano plebiscito de 1993, o “povo” confirmou a forma
determina a nossa FORMA DE GOVERNO, ou republicana, não podendo, portanto, emenda à
seja, o modo como se organiza a Chefia de Estado Constituição instituir a Monarquia no país, sob pena
em um País, como se dá a relação entre Governantes de se violar a soberania popular, a não ser que haja,
e Governados, ou seja, quem exerce o poder e como necessariamente, uma nova consulta popular (art. 2o
esse poder deve ser exercido. do ADCT), ou seja, um novo plebiscito.
São duas as formas de Governo conhecidas: a
Monarquia e a República. Para a sua prova é
importante conhecer as principais características de • VItaliciedade
uma e outra forma de governo. • Hereditariedade

A Monarquia tem como chefe de Estado um MONARQUIA • Irresponsabilidade

Monarca, que é chamado de Rei/rainha dentre outros


• Temporário
nomes. Essa forma de governo tem como • Eleito
característica a vitaliciedade do Chefe de Estado na • Responsável
REPÚBLICA • Igualdade perante a lei.
medida em que o monarca permanece exercendo a
sua chefia até morrer, e após a sua morte o cargo é
transmitido aos herdeiros, ou seja, o cargo é
adquirido de forma hereditária, além disso essa
forma de governo não permite a responsabilização
do Monarca pelas suas atitudes, daí a ideia da SISTEMA DE GOVERNO -
irresponsabilidade.
PRESIDENCIALISMO.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,90
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
O Brasil adota o presidencialismo como sistema de República Federativa do Brasil nas relações
governo, nesse modelo, as funções do Poder internacionais, enquanto que a Chefia de governo se
Executivo ficam concentradas na figura do refere a prática de atos de natureza política interna,
Presidente da República, que cumula as funções de bem como a prática de atos de administração.
Chefe de Estado e Chefe de Governo, nessa última Para a nossa prova, considerando a disposição do
inserida a função de chefe da Administração edital é pertinente sabermos as atribuições do
Pública. Nesse modelo a Chefia do Poder Executivo presidente, quando o mesmo atua como chefe de
é monocrática ou unipessoal. estado e como chefe de governo.
Outra importante característica do Presidencialismo
é a legitimidade popular do Presidente da
República, que é direta, ou seja, o povo diretamente ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE
escolhe o seu Chefe de Estado e o seu Chefe de DA REPÚBLICA
Governo. O art. 84 da CF atribuiu ao Presidente da República
Vale ressaltar que a nossa Constituição prevê uma competências privativas tanto de Chefe de Estado –
possibilidade excepcional de se eleger o Presidente representando a República Federativa do Brasil, Ex.
de forma indireta, ou seja, pelo Congresso Nacional. VII, VIII, XIX, como de Chefe de Governo –
Trata-se da hipótese de dupla vacância, ou seja, praticando atos de administração e de natureza
quando ficam vagos os cargos de presidente e vice- política, ex. III, IV, XXV etc.
presidente da República, nos dois últimos anos do Essas atribuições constam de um rol NÃO
mandato presidencial, nessa situação caberá ao TAXATIVO.
Congresso Nacional a eleição do novo presidente e
do vice-presidente da República. É o que dispõe o § XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta
1º do art. 81 da CF/88: Constituição.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e


Vice-Presidente da República, far-se-á Para fins didáticos vamos dividir essas atribuições
eleição noventa dias depois de aberta a em grupos:
última vaga.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da
anos do período presidencial, a eleição para
República:
ambos os cargos será feita trinta dias depois
da última vaga, pelo Congresso Nacional,
na forma da lei.
ATRIBUIÇÕES DE CHEFE DE
Destacamos ainda que no Presidencialismo existe ESTADO
uma nítida independência entre o Poder Executivo
e o Poder Legislativo, na medida em que tanto o A função de chefia de estado como já esclarecida se
Presidente quanto os parlamentares são eleitos pelo refere as atribuições do presidente que digam
povo para mandato certo, sem responsabilidades respeito a representação da República Federativa do
entre si, com exceção do impeachment, que o Brasil nas relações internacionais.
Presidente responde perante o Senado. A doutrina não é unânime em definir quais são as
atribuições do presidente como chefe de estado.
A doutrina majoritária (Pedro Lenza e Vicente Paulo
CHEFIA DE ESTADO E CHEFIA & Marcelo Alexandrino) defendem que apenas três
atribuições do Presidente seriam relacionadas ao
DE GOVERNO exercício da Chefia de Estado, quais sejam aquelas
Como visto, no sistema presidencialista de governo previstas no art. 84, VII, VIII e XIX da CF/88, veja:
o Presidente da República cumula as funções de
chefe de Estado e chefe de governo. A função de
chefia de estado se refere as atribuições do Art. 84. Compete privativamente ao
presidente que digam respeito a representação da Presidente da República:

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,91
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
VII - manter relações com Estados
estrangeiros e acreditar seus representantes III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
diplomáticos; previstos nesta Constituição;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
internacionais, sujeitos a referendo do como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
Congresso Nacional; execução;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
estrangeira, autorizado pelo Congresso
Nacional ou referendado por ele, quando Observe que o Presidente não possui competência para
ocorrida no intervalo das sessões sancionar ou vetar emendas constitucionais, mas tão
legislativas, e, nas mesmas condições, somente as leis.
decretar, total ou parcialmente, a
mobilização nacional;
O inciso IV estabelece a competência do presidente
para expedir DECRETOS REGULAMENTARES,
Para alguns doutrinadores também configuraria chamados de Decretos Executivos e servem para
competência como Chefe de Estado: dar cumprimento as leis – é ato INFRALEGAL, ato
normativo SECUNDÁRIO, decorrente do Poder
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Regulamentar do Poder Executivo.
Congresso Nacional; VI – dispor, mediante decreto, sobre:
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; a) organização e funcionamento da administração
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, federal, quando não implicar aumento de despesa nem
que forças estrangeiras transitem pelo território criação ou extinção de órgãos públicos;
nacional ou nele permaneçam temporariamente; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
Quanto essa última competência vale ressaltar que a vagos;
CESPE em 2018 na prova de delegado da PC-MA
considerou como atribuição de chefe de governo72 Já no inciso VI temos outro tipo de Decreto, os
chamados Decretos Autônomos, diferente dos
decretos Executivos, são atos normativos
ATRIBUIÇÕES DE CHEFE DE PRIMÁRIOS e equivalem as Leis pois podem
GOVERNO inovar a ordem jurídica. Através dessa modalidade
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; de Decreto o Presidente poderá:
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a a) organização e funcionamento da
direção superior da administração federal; administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem
Os Ministros de Estado são auxiliares do Presidente da criação ou extinção de órgãos públicos.
República e exercem cargos de livre nomeação e b) extinção de funções ou cargos
exoneração. São escolhidos dentre brasileiros maiores de públicos, quando vagos;
21 anos e no exercício dos direitos Políticos (cidadãos) –
ver art. 87 da CF.
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência,
se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
72
(CESPE/2018) De acordo com a CF, é função de chefe de
governo, exercida pelo presidente da República, Em singelas palavras o indulto é o perdão da pena,
a)permitir que forças estrangeiras transitem pelo território já a comutação da pena é a substituição de uma pena
nacional ou nele permaneçam temporariamente. mais grave por uma pena mais leve.
b)controlar a legalidade dos atos normativos e
administrativos.
c)fixar limites globais para o montante da dívida mobiliária XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os
dos estados. Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
d)requisitar e designar membros do MP, delegando-lhes Superiores, os Governadores de Territórios, o
atribuições. Procurador-Geral da República, o presidente e os
e)dispor sobre os limites globais para as operações de crédito diretores do banco central e outros servidores, quando
externo e interno da União. determinado em lei;

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,92
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os extingui-los inclusive mediante Decreto autônomo.
Ministros do Tribunal de Contas da União; Contudo, se o cargo estiver ocupado a extinção
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta dependerá de lei formal.
Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos
termos do art. 89, VII; ATUAÇÃO COM O CONGRESSO
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o NACIONAL
Conselho de Defesa Nacional;
O Conselho da República e o Conselho de Defesa XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso
Nacional são órgãos superiores de consulta do Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa,
Presidente e suas manifestações tem caráter expondo a situação do País e solicitando as providências
que julgar necessárias;
opinativo.
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano
plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e
XXV - PROVER e extinguir os cargos públicos federais, as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
na forma da lei; XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão
O provimento de cargos públicos é competência
legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
privativa do Presidente da República, que pode ser
delegada para Ministros de Estado, Procurador- De acordo com o inciso XXIII é competência
Geral da República e advogado geral da União. privativa do Presidente da República a iniciativa das
De acordo com o STF a atribuição para prover leis orçamentárias.
cargos públicos abrange a competência para O Inciso XXIV determina que o Presidente deverá
desprovê-los, ou seja, para aplicar a pena de apresentar prestação de contas ao Congresso
demissão. Nacional dentro de 60 dias após a abertura da sessão
Veja a decisão do STF: legislativa, o julgamento das Contas do Presidente é
Esta Corte firmou orientação no sentido da feito pelo Congresso Nacional, após parecer do
legitimidade de delegação a ministro de TCU.
Estado da competência do chefe do
Executivo Federal para, nos termos do art. XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos
84, XXV, e parágrafo único, da CF, aplicar termos do art. 62;
pena de demissão a servidores públicos
As MP’s não são leis, mas possuem força de lei, na
federais. RE 633.009 AgR, rel. min. Ricardo
medida em que durante a sua vigência possuem força
Lewandowski, j. 13-9-2011, 2ª T, DJE de
vinculante e caráter coercitivo. E é exemplo de funções
27-9-2011.]= RE 608.848 AgR, rel. min.
atípicas legislativa do Presidente.
Teori Zavascki, j. 17-12-2013, 2ª T, DJE de
11-2-2014
SEGURANÇA INTERNA E
Presidente da República: competência
ORDEM INSTITUCIONAL
para prover cargos públicos (CF, art.
84, XXV, primeira parte), que abrange a IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
de desprovê-los, a qual, portanto é X - decretar e executar a intervenção federal;
susceptível de delegação a ministro de XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas,
Estado (CF, art. 84, parágrafo único): nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da
validade da portaria do ministro de Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-
Estado que, no uso de competência los para os cargos que lhes são privativos;
delegada, aplicou a pena de demissão
ao impetrante. [MS 25.518, rel. min.
Sepúlveda Pertence, j. 14-6-2006, COMPETÊNCIAS DELEGÁVEIS
P, DJ de 10-8-2006.] De todas essas competências que analisamos até
agora apenas três delas podem ser delegadas , quais
Quanto a extinção de cargos públicos, você já sabe sejam:
que se eles estiverem vagos o Presidente poderá a) Editar decretos autônomos.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,93
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
b) Conceder indulto e comutar penas, com IMUNIDADE PRESIDENCIAL –
audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em
IRRESPONSABILIDADE PENAL
lei.
c) Prover cargos públicos73, apenas. Isso porque a RELATIVA –ART. 86§4º
competência para a extinção de cargos públicos
ocupados não é delegável. Apenas é delegável a
extinção de cargos públicos vagos (que é objeto de § 4º O Presidente da República, na vigência de seu
decreto autônomo). mandato, não pode ser responsabilizado por atos
estranhos ao exercício de suas funções.
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração ATOS ESTRANHOS: são CRIMES realizados
federal, quando não implicar aumento de despesa ANTES do exercício da presidência; e atos que não
nem criação ou extinção de órgãos públicos; tenham relação com a atividade presidencial.
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando Se o presidente cometer um crime sem qualquer
vagos; relação com a função presidencial– NÃO HAVERÁ
XII - conceder indulto e comutar penas, com PROCESSO CRIME, na vigência do mandato.
audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em Podendo o Presidente ser responsabilizado após o
lei; término do mandato.
Durante esse período de inibição da Persecução
XXV - prover os cargos públicos federais, na forma
criminal ficará suspenso o prazo prazo prescricional
da lei.
do crime.

Quem pode receber essas atribuições, por


delegação?? IMUNIDADE FORMAL - ART. 86
ü Ministro de Estado, §3º.
ü Procurador-Geral da República e
O Presidente da República possui imunidade formal
ü Advogado-Geral da União.
quanto a prisão, de modo que ele só poderá ser preso
após sentença penal condenatória, ou seja, o
Presidente não pode ser preso nem em flagrante,
RESPONSABILIDADES DO nem de forma preventiva ou cautelar.
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória,
Apesar de não estar expressamente no edital é em nas infrações comuns, o Presidente da República
decorrência da forma de Governo Republicana que o não estará sujeito a prisão.
Presidente da República pode ser responsabilizado,
motivo pelo qual optei colocar no material esse PRERROGATIVAS DO PRESIDENTE
conteúdo. APENAS: (ART. 86§3 E §4º): STF - Não são
estendidas aos integrantes do Executivo Estadual e
Antes de analisarmos as hipóteses de Municipal. Pois não são Chefes de Estado.
responsabilidade do presidente vamos abordar as
hipóteses de imunidades e prerrogativas que dispõe
o Presidente da República. Após analisarmos as situações em que o Presidente
não pode ser responsabilizado, passamos a analisar
O Presidente não possui Imunidade de natureza as hipóteses de responsabilização do Presidente.
material, pelas suas palavras, opiniões, mas possui O Presidente da República poderá ser
imunidades de natureza processual, vejamos: responsabilizado por dois tipos de crimes: (i) crimes
comuns; (ii) crimes de responsabilidade.

CRIMES COMUNS
O Presidente será responsabilizado pelo
73
MS 24.128. cometimento de crime comum, que tenha relação
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,94
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
com a função presidencial (in officio ou propter III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
officium), diretamente no STF onde possui sociais;
prerrogativa de foro. IV - a segurança interna do País;
A competência do STF abrange todos os tipos de V - a probidade na administração;
infrações penas, incluindo-se os crimes eleitorais, VI - a lei orçamentária;
dolosos contra a vida e as contravenções penais. VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei
Essa prerrogativa de foro não se estende as especial74, que estabelecerá as normas de processo e
ações de natureza civil, por exemplo: ações julgamento.
populares e ações civis públicas.

A lei especial mencionada deve ser uma lei federal,


Procedimento pois de acordo com o STF somente a União pode
Ø Denúncia: INÍCIO NO STF - Ação Penal - dispor a respeito dos crimes de responsabilidade.
Procurador geral da República (APP) ou do É o previsto na súmula vinculante 46 do STF:
ofendido no caso de Queixa; A definição dos crimes de responsabilidade e o
Ø Admissibilidade da acusação – Câmara – 2/3 estabelecimento das respectivas normas de processo e
votos; art. 51, I CF (Politico). julgamento são de competência legislativa privativa
Ø No caso de inadmissibilidade da acusação o da União.
processo é devolvido ao STF que deverá
SUSPENDER a ação penal, que poderá ser retomada
A lei em vigência que regulamenta o impeachment é
após o término do mandato, não mais pelo STF e
a lei 1.079/50.
sim pelo juízo competente.
Ø Processo instaurado no STF – Poderá receber
ou rejeitar a denúncia - julgamento. – PRESIDENTE Procedimento – IMPEACHMENT
FICA SUSPENSO DAS SUAS ATIVIDADES POR BIFÁSICO
ATÉ 180 DIAS!
Ø Trâmite do processo penal – não é processo CÂMARA
político. Ø Denúncia por qualquer cidadão (vedada a
Ø Condenação de natureza penal – perda do denúncia anônima) na Câmara – exercício do
mandato via reflexa (art. 15, III CF – efeito Direito de petição;
automático da condenação é a suspensão dos Ø Juízo de Admissibilidade Político (Tribunal
Direitos Políticos). de Pronúncia – Câmara) que poderá:
Não conhecer a denúncia – ARQUIVADA.
Conhecer a denúncia –
CRIMES DE b.1. declarar improcedente a acusação –
RESPONSABILIDADE – ART. 85 ARQUIVADA;
b.2. declarar procedente a acusação, através
CF de maioria qualificada de 2/3, autorizando a
Os chamados crimes de responsabilidade na instauração do processo.
realizada não são verdadeiros crimes, pois tem
natureza Jurídica de infração politico-administrativa
e encontram-se elencados no art. 85 da CF, em ROL SENADO
EXEMPLIFICATIVO.
Ø Vai para o Senado – Tribunal de Julgamento
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do – Juízo Político, que de acordo com a atual
Presidente da República que atentem contra a posição do STF poderá:
Constituição Federal e, especialmente, contra: 1. Não conhecer a denúncia – ARQUIVADA.
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder 74
Lei 1.079/50 é a lei que regulamenta os crimes de
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
responsabilidade do Presidente e foi parcialmente
constitucionais das unidades da Federação;
recepcionada pela CF.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,95
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
2. Conhecer a denúncia e instaurar o processo – o Incolumidade75 das pessoas e do
Quórum maioria SIMPLES. (novo juízo de patrimônio
admissibilidade – chamado de juízo de
instauração.
A Instauração do processo SUSPENDE as
Dever do estado
funções do Presidente (substituído-
impedimento), por 180 dias (após, se não houver Segurança
sido concluído o julgamento, volta as funções). Direito e
Ø Após, em sessão definitiva e una de responsabilidade
julgamento, o Senado poderá: de todos
1. julgar improcedente a denúncia –
ABSOLVIÇÃO ;
2. julgar procedente a denúncia por maioria
Preservação da
qualificada de 2/3, decretando a perda do ordem pública
cargo COM proibição de exercício de
atividade pública por 8 anos; (art. 52 §único) Finalidade
ENTRETANTO, de acordo com o Senado no Incolumidade
julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma das pessoas e do
patrimônio
Roussef, as penas são alternativas.

Ø Sessão presidida pelo Presidente do STF.


Ø A decisão do Senado é Irrecorrível e Órgãos
irreversível – Tribunal Especial - Julgamento Os órgãos responsáveis pela Segurança Pública
de natureza política. constam de um rol TAXATIVO (numerus clausus)
previsto nos incisos do art. 144 da CF:
Art. 144. A segurança pública, dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos,
CAPÍTULO 7 - SEGURANÇA é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do
PÚBLICA patrimônio, através dos seguintes órgãos:
Conceito I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
O direito à segurança encontra-se no capítulo III, do
III - polícia ferroviária federal;
Título V da CF denominado “Da defesa do Estado e
das Instituições Democráticas.” IV - polícias civis;
A Segurança Pública é um direito social elencado no V - polícias militares e corpos de bombeiros
art. 6o da CF: militares.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a Dessa forma, não podem os estados, o Distrito Federal
saúde, a alimentação, o trabalho, a e os Municípios criarem outros órgãos de segurança
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, pública76, devendo os demais entes federados seguir o
a previdência social, a proteção à modelo federal respeitando as diretrizes traçadas pela
maternidade e à infância, a assistência aos constituição Federal.
desamparados, na forma desta Constituição. A CF permite aos Municípios a instituição das
GUARDAS MUNICIPAIS, bem como permite aos
estados, municípios e DF a estruturação da
O caput do art. 144 da CF vai afirmar que a segurança
SEGURANÇA VIÁRIA, para preservação da ordem
pública é um dever do Estado, mas também é direito e
pública, da incolumidade das pessoas, e do patrimônio
responsabilidade de todos, é exercida com a seguinte
das vias públicas, contudo esses órgãos não são
finalidade:
Ø Finalidade
o Preservação da ordem pública 75
Isenção de perigo.
76

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,96
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
enquadradas pela CF como órgãos da Segurança
Pública.
Lei Orgânica
Também a polícia legislativa criadas no âmbito da
Câmara e do Senado não podem ser considerados como A CF dispõe que deverá ser criada uma lei orgânica
órgãos de segurança pública. para organizar o funcionamento dos órgãos de
segurança pública, essa lei até o momento não foi
editada:
Estrutura
A Segurança Pública é exercida pela polícia de Art. 144. § 7º A lei disciplinará a
segurança e se divide em duas áreas: organização e o funcionamento dos órgãos
ü Polícia Administrativa - Preventiva ou responsáveis pela segurança pública, de
Ostensiva: atua antes de ocorrer a infração penal, para maneira a garantir a eficiência de suas
inibir o crime. São elas: polícia federal, - polícia atividades.
rodoviária federal e polícia ferroviária federal, O projeto de lei ainda está em tramitação (PL
Polícia Militar e os Corpos de Bombeiros. 6662/2016).
ü Polícia Judiciária ou Repressiva – de
investigação: atua após a ocorrência da prática
criminosa, visando a apuração da materialidade e Ministério extraordinário da
autoria do crime. São elas: Polícia Federal e a Polícia Segurança Pública
Civil.
A MP 821/2018 – alterou a lei 13.502/2017 para criar o
A Segurança Pública é organizada em dois níveis, um Ministério Extraordinário da Segurança Pública,
federal (com gestão do Presidente da República) e através do desmembramento do Ministério da Justiça e
outro estadual (com gestão do Governador do Estado): Segurança Pública.
ü FEDERAL: Subordinada ao Presidente da Passariam a integrar a estrutura básica do Ministério
República e composta pela: polícia federal, - polícia Extraordinário da Segurança Pública:
rodoviária federal e polícia ferroviária federal. o O Departamento de Polícia Federal;
ü ESTADUAL, DF e TERRITÓRIOS: o O Departamento de Polícia Rodoviária
Subordinados aos Governadores e compostos pela Federal;
Polícia Civil, Polícia Militar e os Corpos de o O Departamento Penitenciário Nacional;
Bombeiros. o O Conselho Nacional de Segurança Pública;
o O Conselho Nacional de Política Criminal e
Observe que não há órgão de segurança pública no Penitenciária;
âmbito municipal. o A Secretaria Nacional de Segurança Pública.

O art. 40-A estabelece as competências desse novo


ministério:
Polícia Federal

Federal
Polícia Rodoviária Art. 40-A. Compete ao Ministério
Federal
Extraordinário da Segurança Pública:
Polícia Ferroviária I - coordenar e promover a integração da
Ostensiva Federal
(preventiva) segurança pública em todo o território
Corpo de
nacional em cooperação com os demais
Bombeiros entes federativos;
Estadual
Polícia de II - exercer:
segurança Polícia Militar
a) a competência prevista no art. 144, § 1o,
incisos I a IV, da Constituição, por meio da
Federal Polícia Federal
polícia federal;
Judiciária
(investigação) b) o patrulhamento ostensivo das rodovias
Estadual Polícia Civil
federais, na forma do art. 144, § 2o, da
Constituição, por meio da polícia
rodoviária federal;

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,97
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
c) a política de organização e manutenção segurança pública, que podem ser realizadas em
da polícia civil, da polícia militar e do qualquer ponto do país.
corpo de bombeiros militar do Distrito Entretanto, a Força Nacional de Segurança Pública
Federal, nos termos do art. 21, caput, inciso só pode atuar em um determinado município do
XIV, da Constituição; Brasil se for solicitada pelo governador do
d) a função de ouvidoria das polícias respectivo estado ou do Distrito Federal, e se esse
federais; e pedido for autorizado pelo Ministro do Ministério da
e) a defesa dos bens e dos próprios da Segurança Pública.
União e das entidades integrantes da Dessa forma, a Força Nacional poderá apoiar a
administração pública federal indireta; e Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de
III - planejar, coordenar e administrar a Bombeiros ou os órgãos oficiais de Perícia Forense.
política penitenciária nacional.” Assim podemos dizer que Força Nacional de
Segurança Pública está subordinado à Secretaria
Nacional de Segurança Pública, que hoje integra o
Cooperação entre União, Estados e DF Ministério Extraordinário se Segurança Pública.
A Lei 11.473/2007 dispõe sobre cooperação As atividades de cooperação federativa têm caráter
federativa no âmbito da segurança pública, consensual e serão desenvolvidas sob a
permitindo que a União firme convênio com os coordenação conjunta da União e do Ente
Estados e o Distrito Federal para executar atividades convenente.
e serviços imprescindíveis à preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio.
Remuneração
A cooperação compreende operações conjuntas, A remuneração dos servidores das carreiras de
transferências de recursos e desenvolvimento de segurança pública será em forma de subsídio, ou seja,
atividades de capacitação e qualificação de por parcela única, sem acréscimos.
profissionais, no âmbito da Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp), antes realizadas no
§ 9º A remuneração dos servidores policiais
âmbito da chamada Força Nacional de Segurança integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será
Pública (lei 13.500/201777). fixada na forma do § 4º do art. 39.
A Força Nacional de segurança Pública é um
programa de cooperação federativo disciplinado
pelo decreto 5.289/2004.
Não se trata de órgão de segurança pública, mas sim
Direito de greve
de um programa de adesão voluntária dos estados O art. 142 § 3º IV da CF veda aos militares a
interessados. sindicalização e a greve, dessa forma para os
Trata-se de um corpo de profissionais membros das policias militares e corpo de
especializados, mobilizados e prontos a atuar em bombeiros militares o exercício do direito de greve é
apoio e sob a coordenação de outros órgãos proibido.
subordinados aos governos estaduais e federal do De outro lado, e considerando que os membros das
Brasil. Seu trabalho consiste em apoiar operações de policias são servidores públicos civis não haveria
óbice ao exercício do direito de greve. Contudo, de
acordo com o STF os servidores que atuam
77 o
diretamente na área de segurança pública não podem
Art. 2 A cooperação federativa de que entrar em greve. Isso porque desempenham
o
trata o art. 1 , para os fins desta Lei, compreende
atividade essencial à manutenção da ordem pública.
operações conjuntas, transferências de recursos e
desenvolvimento de atividades de capacitação e
qualificação de profissionais, no âmbito da Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp).(Redação dada pela Lei nº POLÍCIAS DA UNIÃO
13.500, de 2017)
Parágrafo único. As atividades de cooperação federativa têm A segurança pública no âmbito da União é realizada
caráter consensual e serão desenvolvidas sob a coordenação pela polícia federal, polícia rodoviária federal e
conjunta da União e do Ente convenente. polícia ferroviária federal.
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,98
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A gestão da segurança pública no âmbito federal é demais órgãos de segurança de investigarem
atribuição do Presidente da República. esses crimes78.

Ø Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de


POLÍCIA FEDERAL entorpecentes e drogas afins, o
A Polícia Federal é órgão PERMANENTE, mantido e contrabando e o descaminho, sem prejuízo
organizado pela União. É polícia ostensiva e da ação fazendária e de outros órgãos
judiciária, é o único órgão de segurança que cumula as públicos nas respectivas áreas de
duas atividades. É EXCLUSIVA DA UNIÃO, e tem as competência;
seguintes atribuições: Destaca-se que essa competência da Polícia Federal
não afasta eventual atuação da polícia militar,
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
conforme orientação do STF:
permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem Busca e apreensão. Tráfico de drogas. Ordem
política e social ou em detrimento de bens, judicial. Cumprimento pela Polícia Militar.
serviços e interesses da União ou de suas Ante o disposto no art. 144 da CF, a
entidades autárquicas e empresas públicas, circunstância de haver atuado a Polícia
assim como outras infrações cuja prática tenha Militar não contamina o flagrante e a busca e
repercussão interestadual ou internacional e apreensão realizadas. (RE 404.593)
exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;
Ø Exercer as funções de polícia marítima,
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o aeroportuária e de fronteiras;
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e STF entendeu constitucional a atividade de
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas radiopatrulha aérea realizada pela polícia militar:
de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, Polícia Militar: atribuição de
aeroportuária e de fronteiras; "radiopatrulha aérea": constitucionalidade.
IV - exercer, com exclusividade, as funções de O âmbito material da polícia aeroportuária,
polícia judiciária da União. privativa da União, não se confunde com o
do policiamento ostensivo do espaço aéreo,
Competências da PF que – respeitados os limites das áreas
Ø APURAR INFRAÇÕES PENAIS: constitucionais das Polícias Federal e
Aeronáutica Militar – se inclui no poder
residual da Polícia dos Estados.
o Contra a ordem política e social – Lei 7.170/83;
[ADI 132, rel. min. Sepúlveda Pertence,
o Em detrimento de bens, serviços e interesses
julgamento em 30-4-2003, Plenário, DJ de
da União ou de suas entidades autárquicas, 30-5-2003.]
e empresas públicas.
De acordo com a doutrina aqui também se incluiria
aqui as fundações públicas de direito público, que Ø Exercer, com exclusividade, as funções de
tem natureza de verdadeiras autarquias. polícia judiciária da União.
Observe que não esta incluído entre as competências Essa exclusividade não impede a atuação do
da PF a apuração de infrações penais nas sociedades Ministério Público.
de economia mista e fundações públicas de direito
privado, que serão de competência da Polícia Civil
78
o Cuja prática tenha repercussão Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da
interestadual ou internacional e exija Constituição, quando houver repercussão interestadual ou
repressão uniforme, conforme Lei internacional que exija repressão uniforme, poderá o
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem
10.446/2002 – a competência aqui definida prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública
para a PF não exclui a responsabilidade dos arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das
Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação,
dentre outras, das seguintes infrações penais:

Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,99
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A cláusula de exclusividade inscrita no art. No âmbito estadual e distrital o patrulhamento das
144, § 1º, IV, da Constituição da República rodovias é feito pela polícia militar.
– que não inibe a atividade de investigação
criminal do Ministério Público – tem por
única finalidade conferir à Polícia Federal, § 2º A polícia rodoviária federal, órgão
dentre os diversos organismos policiais que permanente, organizado e mantido pela
compõem o aparato repressivo da União União e estruturado em carreira, destina-se,
Federal (Polícia Federal, Polícia na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo
Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária das rodovias federais
Federal), primazia investigatória na As competências da PRF estão definidas nos
apuração dos crimes previstos no próprio
seguintes instrumentos normativos:
texto da Lei Fundamental ou, ainda, em
tratados ou convenções internacionais. ü Art. 20 do CTB:
[HC 89.837, rel. min. Celso de Mello, j. 20- Art. 20. Compete à Policia Rodovia Federal
10-2009, 2ª T, DJE de 20-11-2009.] no âmbito das rodovias e estradas federais:
I - cumprir e fazer cumprir a televisão e as
normas de trânsito, no âmbito de suas
A PF não tem competência para apurar infrações atribuições;
penais militares, que são atribuídas aos órgãos de
II - realizar o patrulhamento ostensivo,
polícia judiciária militar (Decreto Lei 1002/1969) executando operações relacionadas com a
segurança pública, com o objetivo de
Carreira da PF preservar a ordem incolumidade das
pessoas, o patrimônio da União e o de
A carreira da Polícia Federal é formada pelos terceiros;
seguintes cargos: III - aplicar e arrecadar as multas imposta
ü Delegado de Polícia Federal; por infrações de trânsito, as medidas
ü Perito criminal Federal; administrativas decorrentes e os valores
ü Escrivão de Polícia Federal; provenientes de estada e remoção de
ü Papiloscopista Policia Federal; veículos, objetos, animais e escolta de
ü Agente de Polícia Federal. veículos de cargas superdimensionadas ou
perigosas;
Destaca-se que o cargo de delegado da PF é cargo de
natureza jurídica, dai porque o ingresso no cargo IV - efetuar levantamento dos locais de
acidente de trânsito e dos serviços de
se dá:
atendimento, socorro e salvamento de
o Mediante concurso de provas e títulos; vitimas;
o Participação da OAB;
V - credenciar os serviços de escolta,
o Bacharel em direito fiscalizar e adotar medidas de segurança
o 3 anos de atividade jurídica ou policial relativas aos serviços de remoção de
Tais requisitos devem ser comprovados na data da veículos, escolta e transporte de carga
posse. indivisível;
O cargo de diretor-geral, nomeado pelo Presidente VI - assegurar a livre circulação nas
da República, é privativo de delegado de Polícia rodovias federais, podendo solicitar ao
Federal integrante da classe especial. órgão rodoviário a adoção de medidas
A carreira é regulamentada pela Lei emergenciais, e zelar pelo cumprimento das
9266/1996. normas legais relativas ao direito de
vizinhança, promovendo a interdição de
construções e instalações não autorizadas;
POLÍCIA RODOVIÁRIA VII - coletar dados estatísticos e elaborar
FEDERAL estudos sobre acidentes de trânsito e suas
causas, adotando ou indicando medidas
A PRF é policia apenas ostensiva e envolve a operacionais preventivas e encaminhando-
fiscalização, patrulhamento e policiamento e os ao órgão rodoviário federal;
inclusive atendimento das vítimas de acidentes VIII - implementar as medidas da Política
rodoviários em rodovias federais. Nacional de Segurança e Educação de
Trânsito;

100
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
IX - promover e participar de projetos e (art. 21, XIV79) ainda que subordinadas ao
programas de educação e segurança, de Governador do DF.
acordo com as diretrizes estabelecidas pelo
CONTRAN; Inclusive, compete a União legislar sobre os
X - integrar-se a outros órgãos e entidades vencimentos dos membros das polícias do DF
do Sistema Nacional de Trânsito para fins conforme súmula vinculante 39:
de arrecadação e compensação de multas
impostas na área de sua competência, com Compete privativamente à União legislar
vistas à unificação do licenciamento, à sobre vencimentos dos membros das
simplificação e à celeridade das polícias civil e militar e do corpo de
transferências de veículos e de prontuários bombeiros militar do Distrito Federal.
de condutores de uma para outra unidade
da Federação;
Em que pese a organização e manutenção das
XI - fiscalizar o nível de emissão de
policias estaduais serem feitas pelos estados é
poluentes e ruído produzidos pelos veículos
automotores ou pela sua carga, de acordo
competência privativa da União estabelecer
com o estabelecido no art. 66, além de dar normas gerais de organização, efetivos, material
apoio, quando solicitado, às ações bélico, garantias, convocação e mobilização das
especificas dos órgãos ambientais. polícias militares e corpos de bombeiros militares
(art. 22, XXI).
Carreira criada e regulamentada pela Lei
9654/1998 e suas competências também
estão estabelecidas no decreto 1.655/1995. POLÍCIA CIVIL
A Polícia Civil é a polícia Judiciária em âmbito
POLÍCIA FERROVIÁRIA estadual e a ela incumbe apurar as infrações penais
FEDERAL que não sejam de competência da União e que não
sejam de natureza militar.
Atualmente a Policia Ferroviária Federal não existe São dirigidas por delegados de polícia que exercem
de fato, não há o órgão fisicamente formado e não função de natureza jurídica.
existe plano de carreira.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão delegados de polícia de carreira, incumbem,
permanente, organizado e mantido pela ressalvada a competência da União, as
União e estruturado em carreira, destina-se, funções de polícia judiciária e a apuração
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo de infrações penais, exceto as militares.
das ferrovias federais.
De acordo com a mais recente posição do STF, o
POLÍCIAS DOS ESTADOS superintendente da Polícia Civil deve ser
escolhido, pelo Governador de Estado, dentre
A segurança pública nos estados é realizada pelas delegados e delegadas integrantes da carreira
polícias civis, polícias militares e corpo de policial, independente do estágio de sua
bombeiros. progressão funcional, ou seja, não precisaria ser da
A gestão da segurança pública nos estados é classe final da carreira.
atribuição dos governadores de estado, ou seja, as
polícias civis, militares e corpos de bombeiros
militares se subordinam ao Governador. Ausência de vício formal de iniciativa
Destaca-se que é competência concorrente da quando a emenda da Constituição estadual
União, estados e DF dispor sobre as policias civis
(art.24, XVI), entretanto, no que tange a polícia civil 79
Art. 21. XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia
do DF elas são organizadas e mantidas pela União militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal
para a execução de serviços públicos, por meio de fundo
próprio;

101
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
adequar critérios de escolha do chefe da MICROSSISTEMA DOS JUIZADOS
Polícia Civil aos parâmetros fixados no art. ESPECIAIS CRIMINAIS. INTELIGÊNCIA
144, § 4º, da CR. Impõe-se, na espécie, DO ART. 2º DA LEI 9.099/95. BAIXA
interpretação conforme para circunscrever COMPLEXIDADE DA PEÇA. ATO DE
a escolha do governador do Estado a INVESTIGAÇÃO NÃO CONFIGURADO.
delegados ou delegadas integrantes da AUSÊNCIA DE INVASÃO DA
carreira policial, independente do estágio COMPETÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL.
de sua progressão funcional. DECISÃO REFORMADA. RECURSO DA
[ADI 3.077, rel. min. Cármen Lúcia, j. 16- ACUSAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO”.
11-2016, P, DJE de 1º-8-2017.] (RE 1050631, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, julgado em 22/09/2017,
publicado em PROCESSO ELETRÔNICO
A polícia de investigação só pode ser exercida pela DJe-221 DIVULG 27/09/2017 PUBLIC
polícia civil e não pela polícia militar, dessa forma 28/09/2017)
configura desvio de função o atendimento nas
delegacias de polícia por sargentos ou subtenentes
da PM.
POLÍCIA MILITAR E CORPO DE
Constitucional. Administrativo. BOMBEIROS
Decreto 1.557/2003 do Estado do Paraná,
que atribui a subtenentes ou sargentos A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros por serem
combatentes o atendimento nas delegacias militares são forças auxiliares e reserva do Exército.
de polícia, nos Municípios que não dispõem A Polícia Militar compete a atividade de polícia
de servidor de carreira para o desempenho Ostensiva, preservando a ordem pública.
das funções de delegado de polícia. Desvio Ao corpo de bombeiros militar compte a execução
de função. Ofensa ao art. 144, caput, IV e V de atividades de Defesa Civil – prevenção e extinção
e § 4º e § 5º, da Constituição da República. de incêndios, salvamento de vidas humanas,
Ação direta julgada procedente. catástrofes, inundações, calamidade públicas, dentre
[ADI 3.614, rel. p/ o ac. min. Cármen Lúcia, outras.
j. 20-9-2007, P, DJ de 23-11-2007.]

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia


O STF em diversos julgados manteve a interpretação ostensiva e a preservação da ordem
de que a lavratura de TERMO pública; aos corpos de bombeiros militares,
CIRCUNSTANCIADO é atribuição da polícia além das atribuições definidas em lei,
judiciária, ou seja, da Polícia Civil e não da Polícia incumbe a execução de atividades de defesa
Militar. (ADI 3614; RE 702617) civil.
Entretanto, em decisão monocrática proferida em § 6º As polícias militares e corpos de
setembro de 2017 o Ministro Gilmar Mendes bombeiros militares, forças auxiliares e
entendeu que essa atividade não é prerrogativa da reserva do Exército, subordinam-se,
polícia judiciária, por entender que seria uma peça juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito
apenas de informação diversa do inquérito policial:
Federal e dos Territórios.
Assim como as Polícias Civis, as Policias militares e
“APELAÇÃO CRIMINAL. DIREITO
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL Corpos de bombeiros militares se subordinam ao
PENAL. TERMO DE OCORRÊNCIA Governador.
CIRCUNSTANCIADO. ART. 69 DA LEI As PM e CBM são considerados militares dos
9.099/95. LAVRATURA PELA POLÍCIA estados/DF e Territórios, nos termos do art. 42 da
MILITAR. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. CF:
ATO REALIZADO CONFORME
PROVIMENTO 06/2015 DA
CORREGEDORIA-GERAL DE JUSTIÇA. Art. 42 Os membros das Polícias Militares e
COMPATIBILIDADE COM OS Corpos de Bombeiros Militares, instituições
PRINCÍPIOS DA INFORMALIDADE E organizadas com base na hierarquia e
CELERIDADE QUE REGEM O
102
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
SEGURANÇA VIÁRIA
De acordo com o STF que a polícia militar pode Considerando que a violência no trânsito é uma
realizar flagrantes ou participar da busca e apreensão questão de saúde pública, a EC 84/2014 criou a a
determinada por ordem judicial. carreira dos agentes de trânsito.
Inicialmente a emenda visava dar uma nova redação
ao § 8 do artigo 144 que trata das guardas
municipais, apenas ampliando suas atribuições como
GUARDAS MUNICIPAIS agentes de fiscalização e controle de trânsito,
Os Municípios poderão instituir guardas municipais, especialmente pelo fato de que o CTB colocou os
instituições de caráter civil, destinadas a proteção de municípios como principais gestores do trânsito.
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a Contudo, entenderam os deputados e senadores que
lei, mas sem possuir competência para o a responsabilidade pela segurança viária deve ser
policiamento ostensivo. partilhada pelos entes federativos e, portanto,
deveria ser atribuição não apenas dos municípios,
§ 8º Os Municípios poderão constituir
mas também dos estados e DF, ampliando o
guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações, conceito de segurança viária.
conforme dispuser a lei. Dessa forma, segurança viária implica além das
atividades de fiscalização e controle também
educação e engenharia de trânsito, visando assegurar
A lei em comento é a lei 13.022/2014 que dispôs ao cidadão o direito de mobilidade urbana.
sobre o Estatuto geral das Guardas Municipais e
deve ser entendida como uma norma geral que
estabelece apenas diretrizes e disposições gerais, § 10. A segurança viária, exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
uma vez que é o Município quem deverá instituir a
seu patrimônio nas vias públicas:
Guarda Municipal, através de lei municipal.
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização
Essa lei é objeto de ADI ainda em trâmite no STF.
de trânsito, além de outras atividades previstas em lei,
Destaca-se que o art. 5o, VI da Lei atribui que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade
competência específica para a Guarda exercer as urbana eficiente; e
competências de trânsito.
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito
Art. 5o São competências específicas das Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou
guardas municipais, respeitadas as entidades executivos e seus agentes de trânsito,
competências dos órgãos federais e estruturados em Carreira, na forma da lei.
estaduais:
VI - exercer as competências de trânsito que
Assim, a carreira de agentes de trânsito deve ser
lhes forem conferidas, nas vias e
estruturada em lei em âmbito estadual, distrital e
logradouros municipais, nos termos da Lei
no 9.503, de 23 de setembro de 1997 municipal, através de concurso público, vedando-se
(Código de Trânsito Brasileiro), ou de assim contratações temporárias, não se confundindo
forma concorrente, mediante convênio com a carreira de guardas municipais.
celebrado com órgão de trânsito estadual Essa carreira ainda não afasta a atividade de
ou municipal; policiamento ostensivo de trânsito da polícia militar.

A respeito desse dispositivo entendeu o STF que é


constitucional a atribuição às guardas municipais
do exercício do poder de polícia de trânsito,
inclusive para imposição de sanções administrativas
legalmente previstas, uma vez que o Poder de
Policia de transito não se confunde com segurança
pública. (RE 658.570, rel. p/ o ac. min. Roberto
Barroso, j. 6-8-2015)
103
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Esses direitos sociais foram melhor abordados pela
CF no chamado Título da Ordem Social, isso
Educação porque na sequência do art. 6º, a CF apenas ocupou-
se dos temas referentes aos direitos sociais de caráter
Preservação da ordem pública
trabalhista.
e incolumidade das pessoas e
do patrimônio das vias
públicas
Engenharia
Dessa forma, o título VIII da Ordem Social
Segurança Viária estabelecido na CF visa a concretização dos direitos
sociais elencados no art. 6º de forma genérica, são
Mobilidade urbana eficiente Fiscalização
direitos, portanto, de segunda geração, os quais
Dever dos Estados, DF e
Municípios estabelecem prestações positivas do Estado.
Contudo, o título da ordem social, estabeleceu novos
direitos não estabelecidos no artigo 6º, incluindo
direitos de terceira geração.
A Constituição Federal dividiu o título da Ordem
Social em oito capítulos: Disposição Geral (CF, art.
ATIVIDADE PENITENCIÁRIA 193); seguridade social (CF, arts. 194 a 204);
educação, cultura e desporto (CF, arts. 205 a 217);
A atividade penitenciária, relacionada com a guarda e
ciência e tecnologia (CF, arts. 218 a 219-B);
vigilância dos estabelecimentos prisionais, não foi
comunicação social (CF, arts. 220 a 224); meio
atribuída de forma específica à polícia civil, sendo
ambiente (CF, art. 225); família, criança,
admitida a criação da Carreira de Atividades
adolescente e idoso (CF, arts. 226 a 230); índios
Penitenciárias, que também não pode ser considerado
(CF, arts. 231 a 232).
como órgão de segurança pública. Conforme
Pode-se afirmar que juntamente com os direitos
jurisprudência do STF:
fundamentais, a Ordem Social estabelece o núcleo
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – substancial do regime democrático adotado na
define incumbirem às polícias civis "as nossa CF.
funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares". Não
menciona a atividade penitenciária, que diz
com a guarda dos estabelecimentos prisionais;
não atribui essa atividade específica à polícia Direitos
núcleo
substancial do
ordem social
civil. fundamentais regime
democrático
[ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, j. 3-2-2010,
P, DJE de 14-5-2010.]

BASE E OBJETIVO DA ORDEM


CAPÍTULO 8 – ORDEM SOCIAL
SOCIAL
O art. 193 da CF vai determinar que a base
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS constitucional da Ordem Social é o primado do
trabalho, e o objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
A CF em seu artigo 6º vai dispor a respeito do segundo
núcleo de direitos fundamentais que são os direitos
sociais, são eles: Art. 193. A ordem social tem como base o
primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à É dizer: o trabalho é o fator primordial para o
maternidade e à infância, a assistência aos desenvolvimento social e econômico do Estado
desamparados, na forma desta Constituição. Brasileiro, pois é através dele que se pode assegurar as
104
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
necessidades e o bem-estar das pessoas, garantindo a VII - caráter democrático e descentralizado
justiça social. da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos
Primado do trabalhadores, dos empregadores, dos
BASE
trabalho aposentados e do Governo nos órgãos
ORDEM colegiados.
SOCIAL bem-estar
social
OBJETIVO ü A universalidade de cobertura, também
justiça chamada de universalidade OBJETIVA, representa a
social cobertura sobre qualquer situação de risco social, é uma
ampla proteção social, enquanto que a universalidade
SEGURIDADE SOCIAL de atendimento, chamada de universalidade
SUBJETIVA, está relacionada com a cobertura para
O direito a saúde, previdência social e a assistência
todos os que necessitarem.
social são assegurados através de um conjunto
Podemos dizer que esse principio é reduzido na
integrado de ações de iniciativa do Poder Público e da
previdência social, pois depende de contribuição dos
Sociedade, a chamada seguridade social. Essas ações
segurados, de modo que quem não contribui, não estará
visam estabelecer um sistema de proteção social, diante
protegido pelo regime previdenciário.
de situações de vulnerabilidade, como doença, morte,
ü A uniformidade e a equivalência de benefícios
acidente, permitindo que as pessoas possam manter o
e serviços às populações urbanas e rurais deixam claro
seu sustento.
que não existe tratamento diferenciado entre os
trabalhadores urbanos e rurais. Ambos são tratados da
Art. 194. A seguridade social compreende mesma forma.
um conjunto integrado de ações de ü A seletividade e a distributividade visam
iniciativa dos Poderes Públicos e da redistribuir os benefícios sociais na tentativa de atender
sociedade, destinadas a assegurar os a quem mais dele necessitar, ou seja, deve se dar
direitos relativos à saúde, à previdência e à prioridade na prestação dos benefícios e serviços para
assistência social.
aqueles que mais precisam. Isso porque o Estado, por
Observe que a seguridade social é um trabalho mais que estabeleça formas de arrecadação, nunca terá
conjunto entre o Estado e a Sociedade. Apesar da ação recursos suficientes para atender a todas as pessoas em
conjunta, a obrigação de organizar a seguridade social é situação de risco, dai a ideia da seletividade. Ex; salário
do Estado, que deve fazer amparada nos seguintes família, pago apenas aos trabalhadores de baixa renda.
objetivos, também chamados de PRINCÍPIOS DA Em tese, esses princípios permitem um tratamento
SEGURIDADE SOCIAL: desigual sob o enfoque da igualda de material.
ü Irredutibilidade do valor dos benefícios: aqui
uma distinção jurisprudencial se faz necessária. Quanto
Art. 194. Parágrafo único. Compete ao
Poder Público, nos termos da lei, organizar aos benefícios previdenciários, entende o STF que fica
a seguridade social, com base nos seguintes garantido ao beneficiário a manutenção do valor real
objetivos: dos benefícios, ou seja, a manutenção do poder
I - universalidade da cobertura e do aquisitivo, impedindo que o beneficiário sofra os
atendimento; efeitos da inflação. Quanto aos benefícios de
II - uniformidade e equivalência dos seguridade social, de caráter assistencial, por exemplo,
benefícios e serviços às populações urbanas a irredutibilidade é apenas do valor nominal e não do
e rurais; valor real.
III - seletividade e distributividade na ü A equidade na forma de participação no custeio
prestação dos benefícios e serviços; apresenta a ideia de distribuição justa, levando em
IV - irredutibilidade do valor dos consideração a capacidade de contribuição (capacidade
benefícios; contributiva) e a isonomia entre os contribuintes. A
V - eqüidade na forma de participação no ideia aqui para a manutenção da Seguridade é que o
custeio; custeio seja distribuído de forma justa entre os vários
VI - diversidade da base de financiamento; agentes contributivos. Lembrando que dos três pilares

105
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
da seguridade, esse princípio aplica-se apenas a a) a folha de salários e demais rendimentos
previdência social. do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
ü Esse princípio nos conduz à diversidade da título, à pessoa física que lhe preste serviço,
base de financiamento, feita por toda a sociedade, a mesmo sem vínculo empregatício;
qual conta com a participação de vários agentes b) a receita ou o faturamento;
responsáveis pela manutenção financeira da seguridade c) o lucro;
social, especialmente os trabalhadores, as empresas e II - do trabalhador e dos demais segurados
os entes estatais. da previdência social, não incidindo
ü Por fim, temos o último objetivo, que é o contribuição sobre aposentadoria e pensão
caráter democrático e descentralizado da concedidas pelo regime geral de
Administração, mediante gestão QUADRIPARTITE, previdência social de que trata o art. 201;
com participação de quatro atores sociais: os III - sobre a receita de concursos de
trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do prognósticos.
Governo nos órgãos colegiados. O caráter democrático IV - do importador de bens ou serviços do
se explica pela ampla participação da sociedade. exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
Assim, a gestão da seguridade social é:
descentralizada, democrática e quadripartite. Além dessas fontes de contribuição lei complementar
poderá estabelecer outras hipóteses de financiamento
•da cobertura e do atendimento; da seguridade social, destaca-se que essa lei
universalidade
complementar é de competência da União – trata-se da
uniformidade e •dos benefícios e serviços às populações chamada competência residual da União.
equivalência urbanas e rurais;
Não deixe de ler!!
seletividade e •na prestação dos benefícios e serviços;
distributividade
§ 1º As receitas dos Estados, do Distrito
irredutibilidade
•do valor dos benefícios; Federal e dos Municípios destinadas à
seguridade social constarão dos respectivos
•na forma de participação no custeio;
orçamentos, não integrando o orçamento da
eqüidade União.
§ 2º A proposta de orçamento da seguridade
•da base de financiamento;
diversidade social será elaborada de forma integrada
pelos órgãos responsáveis pela saúde,
caráter democrático e •da administração, mediante gestão previdência social e assistência social,
descentralizado quadripartite
tendo em vista as metas e prioridades
estabelecidas na lei de diretrizes
orçamentárias, assegurada a cada área a
FINANCIAMENTO DA gestão de seus recursos.
SEGURIDADE SOCIAL § 3º A pessoa jurídica em débito com o
sistema da seguridade social, como
A seguridade social deve ser financiada por toda a estabelecido em lei, não poderá contratar
sociedade, direta ou indiretamente, contando com a com o Poder Público nem dele receber
contribuição dos recursos dos entes federativos e ainda benefícios ou incentivos fiscais ou
de algumas contribuições sociais: creditícios.
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes
Art. 195. A seguridade social será destinadas a garantir a manutenção ou
financiada por toda a sociedade, de forma expansão da seguridade social, obedecido o
direta e indireta, nos termos da lei, disposto no art. 154, I.
mediante recursos provenientes dos
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da
orçamentos da União, dos Estados, do
seguridade social poderá ser criado,
Distrito Federal e dos Municípios, e das
majorado ou estendido sem a
seguintes contribuições sociais:
correspondente fonte de custeio total.
I - do empregador, da empresa e da
§ 6º As contribuições sociais de que trata
entidade a ela equiparada na forma da lei,
este artigo só poderão ser exigidas após
incidentes sobre:
decorridos noventa dias da data da

106
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
publicação da lei que as houver instituído Saúde
ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, "b". O direito a saúde como já sabido é um direito
§ 7º São isentas de contribuição para a fundamental, de natureza social, previsto no art. 6º
seguridade social as entidades beneficentes CF. O direito à saúde decorre do próprio direito à vida,
de assistência social que atendam às como forma de garantir qualidade à vida em sua
exigências estabelecidas em lei. modalidade de existência humana. De nada adianta
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o garantir ao indivíduo o direito de viver se essa vida não
arrendatário rurais e o pescador artesanal, possuir o mínimo de dignidade. Garantir saúde é
bem como os respectivos cônjuges, que cumprir os ditames constitucionais que protegem o
exerçam suas atividades em regime de indivíduo em sua existência, em perfeita consonância
economia familiar, sem empregados com o princípio da dignidade da pessoa humana.
permanentes, contribuirão para a
seguridade social mediante a aplicação de
Assim, de acordo com o art. 196 da CF podemos
uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus destacar:
aos benefícios nos termos da
lei. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever
§ 9º As contribuições sociais previstas no do Estado, garantido mediante políticas
inciso I do caput deste artigo poderão ter sociais e econômicas que visem à redução
alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, do risco de doença e de outros agravos e ao
em razão da atividade econômica, da acesso universal e igualitário às ações e
utilização intensiva de mão-de-obra, do serviços para sua promoção, proteção e
porte da empresa ou da condição estrutural recuperação.
do mercado de trabalho.
§ 10. A lei definirá os critérios de Desse texto extraímos alguns tópicos importantes
transferência de recursos para o sistema sobre o direito a saúde.
único de saúde e ações de assistência social ü Caráter não contributivo: o direito à saúde,
da União para os Estados, o Distrito norma de proteção do direito à vida, é destinado a todas
Federal e os Municípios, e dos Estados para as pessoas, independentemente de contribuição à
os Municípios, observada a respectiva Previdência Social. Por isso, dizemos que não possui
contrapartida de caráter contributivo, ou seja, quem quiser ser
recursos. beneficiado pela saúde pública poderá utilizar dos seus
§ 11. É vedada a concessão de remissão ou serviços, independentemente de filiação ou
anistia das contribuições sociais de que contribuição à Previdência Social.
tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para ü É um dever do Estado, que deve garantir
débitos em montante superior ao fixado em através de Políticas públicas – tratando-se de norma de
lei complementar.
caráter programática, contudo não pode ser apenas
§ 12. A lei definirá os setores de atividade uma promessa constitucional.
econômica para os quais as contribuições
ü Objetivo: redução de riscos de doenças e outros
incidentes na forma dos incisos I, b; e IV
do caput, serão não-
agravos.
cumulativas. ü Dois importantes princípios: universalidade e
§ 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive
igualdade de acesso. A respeito desses princípios
na hipótese de substituição gradual, total ou destacamos a decisão do STF que entende que viola a
parcial, da contribuição incidente na forma CF, a possibilidade de um paciente do SUS pagar para
do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ter acomodações superiores ou ser atendido por médico
ou o faturamento. de sua preferência, é a chamada diferença de classes.

O direito à saúde também pode ser garantido pela


Agora, vamos analisar os três direitos assegurados pela iniciativa privada, ou seja, temos a possiblidade da
chamada seguridade Social e suas principais iniciativa privada assumir a responsabilidade da
características: saúde, previdência social e assistência prestação de serviços referente à saúde, por isso,
social. existem no Brasil hospitais e planos de saúde privados
que vão te proporcionar a garantia desse benefício.
107
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Contudo, será o poder público que estabelecerá a processamento de sangue. A falta de regulamentação
regulamentação, fiscalização e controle do direito a ocorre porque a Constituição deixou para a legislação
saúde. infraconstitucional o dever de fazê-lo. O dispositivo em
questão é um exemplo de norma de eficácia limitada, o
qual foi regulamentado pelas leis 10.205/01, 9.434/97 e
Art. 197. São de relevância pública as ações
e serviços de saúde, cabendo ao Poder
11.105/05.
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente
Sistema único de saúde – SUS
ou através de terceiros e, também, por As ações e serviços na área da saúde constituem um
pessoa física ou jurídica de direito privado. sistema único de saúde (SUS) que é uma rede
Assim, podemos dizer que a regulamentação, regionalizada e hierarquizada e tem as seguintes
fiscalização e controle das ações e serviços na área da diretrizes:
saúde compete ao Estado – Poder Público, enquanto
que a execução dessas ações e serviços cabe ao Estado, Art. 198. As ações e serviços públicos de
poder público, mas também a iniciativa privada. saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema
Ainda a respeito da participação da iniciativa privada único, organizado de acordo com as
na área da saúde ressaltamos que a sua participação é seguintes diretrizes:
complementar ao do SUS, além disso a CF estabelece I - descentralização, com direção única em
algumas restrições destinadas a iniciativa privada, cada esfera de governo;
previstas nos parágrafos do art. 199, vejamos: II - atendimento integral, com prioridade
para as atividades preventivas, sem prejuízo
dos serviços assistenciais;
Art. 199. A assistência à saúde é livre à III - participação da comunidade.
iniciativa privada.
§ 1º O sistema único de saúde será
§ 1º As instituições privadas poderão financiado, nos termos do art. 195, com
participar de forma complementar do recursos do orçamento da seguridade
sistema único de saúde, segundo diretrizes social, da União, dos Estados, do Distrito
deste, mediante contrato de direito público Federal e dos Municípios, além de outras
ou convênio, tendo preferência as entidades fontes.
filantrópicas e as sem fins lucrativos.
§ 2º É vedada a destinação de recursos ü Descentralização, com direção única em cada
públicos para auxílios ou subvenções às esfera de governo: existe um autoridade em cada
instituições privadas com fins lucrativos. esfera da federação responsável pelo gerenciamento
§ 3º - É vedada a participação direta ou dos serviços da área da saúde. Na esfera federal,
indireta de empresas ou capitais temos o Ministério da Saúde, no âmbito estadual e
estrangeiros na assistência à saúde no municipal, temos as secretarias de saúde. Observe
País, salvo nos casos previstos em lei. que a direção do SUS é centralizada, mas as ações
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os na área da saúde são descentralizadas.
requisitos que facilitem a remoção de ü atendimento integral, com prioridade para as
órgãos, tecidos e substâncias humanas para atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
fins de transplante, pesquisa e tratamento, assistenciais: princípio da integralidade, a cobertura
bem como a coleta, processamento e deve ser a mais ampla possível.
transfusão de sangue e seus derivados,
ü participação da comunidade.
sendo vedado todo tipo de comercialização.
As competências do SUS estão previstas no art. 200,
Outra norma muito interessante e que pode cair na sua em rol EXEMPLIFICATIVO e a sua leitura é
prova é a proteção constitucional à remoção de órgãos, muito importante:
tecidos e substâncias humanas. A Constituição Federal,
em seu artigo 199, §4º, traz expressamente a vedação
Art. 200. Ao sistema único de saúde
para a comercialização de órgãos, apesar de não compete, além de outras atribuições, nos
regulamentar as formas de remoção, pesquisa, coleta e termos da lei:
108
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
I - controlar e fiscalizar procedimentos, recursos de que tratam os arts. 158 e 159,
produtos e substâncias de interesse para a inciso I, alínea b e § 3º.
saúde e participar da produção de
medicamentos, equipamentos,
imunobiológicos, hemoderivados e outros
A CF ainda trata da possibilidade de contratação,
insumos; sem concurso público, através de processo seletivo,
de agentes comunitários e agentes de combate as
II - executar as ações de vigilância sanitária
e epidemiológica, bem como as de saúde do endemias.
trabalhador; § 4º Os gestores locais do sistema único de
III - ordenar a formação de recursos saúde poderão admitir agentes comunitários
humanos na área de saúde; de saúde e agentes de combate às endemias
IV - participar da formulação da política e por meio de processo seletivo público, de
da execução das ações de saneamento acordo com a natureza e complexidade de
básico; suas atribuições e requisitos específicos
V - incrementar, em sua área de atuação, o para sua atuação. .
desenvolvimento científico e tecnológico e a § 5º Lei federal disporá sobre o regime
inovação; jurídico, o piso salarial profissional
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, nacional, as diretrizes para os Planos de
compreendido o controle de seu teor Carreira e a regulamentação das atividades
nutricional, bem como bebidas e águas para de agente comunitário de saúde e agente de
consumo humano; combate às endemias, competindo à União,
VII - participar do controle e fiscalização da nos termos da lei, prestar assistência
produção, transporte, guarda e utilização de financeira complementar aos Estados, ao
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e Distrito Federal e aos Municípios, para o
radioativos; cumprimento do referido piso salarial
VIII - colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do trabalho. Esses agentes podem perder seus cargos, além das
hipóteses previstas para o servidor estável, em caso
A CF ainda determina que a União, os estados, o DF e de descumprimento de requisitos específicos:
os Municípios devem aplicar, anualmente, percentuais
mínimos de suas receitas na área da saúde, art. 198 § § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do
2º: art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição
Federal, o servidor que exerça funções
equivalentes às de agente comunitário de
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal saúde ou de agente de combate às endemias
e os Municípios aplicarão, anualmente, em poderá perder o cargo em caso de
ações e serviços públicos de saúde recursos descumprimento dos requisitos específicos,
mínimos derivados da aplicação de fixados em lei, para o seu exercício.
percentuais calculados sobre:
I - no caso da União, a receita corrente
líquida do respectivo exercício financeiro,
não podendo ser inferior a 15% (quinze por
Previdência Social
cento); A previdência social, visa proteger as pessoas em
II – no caso dos Estados e do Distrito situação de risco. O sistema previdenciário brasileiro é
Federal, o produto da arrecadação dos composto por três regimes de previdência:
impostos a que se refere o art. 155 e dos a) Regime Geral de Previdência Social - RGPS,
recursos de que tratam os arts. 157 e 159, esse previsto no art. 201 e 202 da CF;
inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as b) Regime Previdenciário Próprio dos Servidores
parcelas que forem transferidas aos Públicos – RPPS, art. 39 e 40 da CF;
respectivos Municípios;
c) Regime Previdenciário Próprio dos Militares.
III – no caso dos Municípios e do Distrito
Federal, o produto da arrecadação dos
O que nos interessa é o RGPS, que é o aplicável aos
impostos a que se refere o art. 156 e dos
trabalhadores, sob o regime da CLT, previsto no art.
201 da CF. A previdência social diferentemente do
109
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
direito a saúde e da assistência social, tem caráter contudo algumas pessoas, em virtude de suas condições
contributivo. Ter caráter contributivo significa dizer especiais, por terem realizado atividades que
que só poderá ser beneficiado pela Previdência Social prejudicaram sua integridade física ou sua saúde e
quem contribuir previamente com o sistema de ainda os portadores de deficiência, poderão ter
previdência público. tratamento diferenciado, através de lei complementar,
Além da contribuição, a Constituição exige a filiação é a chamada aposentadoria especial e a aposentadoria
ao Sistema, na qualidade de segurado, maiores do portador de deficiência:
detalhes a respeito do tema será melhor estudado na
Disciplina de Direito Previdenciário.
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e
Vejamos o art. 201 da CF: critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime
Art. 201. A previdência social será geral de previdência social, ressalvados os
organizada sob a forma de regime geral, de casos de atividades exercidas sob condições
caráter contributivo e de filiação especiais que prejudiquem a saúde ou a
obrigatória, observados critérios que integridade física e quando se tratar de
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, segurados portadores de deficiência, nos
e atenderá, nos termos da lei, a: termos definidos em lei complementar.
I - cobertura dos eventos de doença,
invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente Regras para aposentadoria
à gestante; As regras de aposentadoria quando são cobradas em
III - proteção ao trabalhador em situação de direito constitucional, exigem apenas o conhecimento
desemprego involuntário; literal do Art. 201, § 7º, uma vez que o tema é
IV - salário-família e auxílio-reclusão para devidamente aprofundado em direito previdenciário:
os dependentes dos segurados de baixa
renda;
V - pensão por morte do segurado, homem § 7º É assegurada aposentadoria no regime
ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e geral de previdência social, nos termos da
dependentes, observado o disposto no § 2º. lei, obedecidas as seguintes condições:
I - trinta e cinco anos de contribuição, se
Pela leitura do referido artigo extraímos dos incisos que homem, e trinta anos de contribuição, se
diversos riscos são assegurados através de benefícios: mulher;
II - sessenta e cinco anos de idade, se
RISCO BENEFÍCIO homem, e sessenta anos de idade, se mulher,
Auxílio doença ou auxílio reduzido em cinco anos o limite para os
Doença trabalhadores rurais de ambos os sexos e
acidente
para os que exerçam suas atividades em
Aposentadoria por regime de economia familiar, nestes
Invalidez incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o
invalidez
pescador artesanal.
Pensão por morte § 8º Os requisitos a que se refere o inciso I
Morte
Aposentadoria por idade/ do parágrafo anterior serão reduzidos em
Idade avançada cinco anos, para o professor que comprove
por tempo de contribuição.
exclusivamente tempo de efetivo exercício
Salário maternidade das funções de magistério na educação
Proteção a maternidade
infantil e no ensino fundamental e médio.
Seguro desemprego
Desemprego involuntário § 9º Para efeito de aposentadoria, é
Salário família assegurada a contagem recíproca do tempo de
Baixa renda
contribuição na administração pública e na
Auxílio reclusão
Prisão atividade privada, rural e urbana, hipótese em
que os diversos regimes de previdência social
se compensarão financeiramente, segundo
A CF veda a adoção de requisitos e critérios critérios estabelecidos em lei.
diferenciados para a concessão de benefícios do RGPS,
110
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de permanente, o valor real, conforme critérios
acidente do trabalho, a ser atendida definidos em lei.
concorrentemente pelo regime geral de § 5º É vedada a filiação ao regime geral de
previdência social e pelo setor privado. previdência social, na qualidade de
§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a segurado facultativo, de pessoa participante
qualquer título, serão incorporados ao salário de regime próprio de previdência.
para efeito de contribuição previdenciária e § 6º A gratificação natalina dos
conseqüente repercussão em benefícios, nos aposentados e pensionistas terá por base o
casos e na forma da lei. valor dos proventos do mês de dezembro de
§ 12. Lei disporá sobre sistema especial de cada ano.
inclusão previdenciária para atender a
trabalhadores de baixa renda e àqueles sem
renda própria que se dediquem exclusivamente Previdência privada
ao trabalho doméstico no âmbito de sua
residência, desde que pertencentes a famílias A CF autoriza a criação de regime de Previdência
de baixa renda, garantindo-lhes acesso a Privada, nos termos do art. 202 da CF:
benefícios de valor igual a um salário-
mínimo.
Art. 202. O regime de previdência privada,
§ 13. O sistema especial de inclusão de caráter complementar e organizado de
previdenciária de que trata o § 12 deste artigo forma autônoma em relação ao regime
terá alíquotas e carências inferiores às geral de previdência social, será facultativo,
vigentes para os demais segurados do regime baseado na constituição de reservas que
geral de previdência social. garantam o benefício contratado, e
regulado por lei complementar.
a) 35 anos de contribuição – homem; 30 anos de § 1° A lei complementar de que trata este
contribuição – mulher; artigo assegurará ao participante de planos
b) 65 anos de idade – homem; 60 anos de idade – de benefícios de entidades de previdência
privada o pleno acesso às informações
mulher
relativas à gestão de seus respectivos planos
c) 60 anos de idade – homem; 55 anos de idade –
§ 2° As contribuições do empregador, os
mulher, para os trabalhadores rurais e para os que
benefícios e as condições contratuais
exerçam suas atividades em regime de economia previstas nos estatutos, regulamentos e
familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro planos de benefícios das entidades de
e o pescador artesanal – aposentadoria especial. previdência privada não integram o
d) Professor, que comprove exclusivamente tempo contrato de trabalho dos participantes,
de efetivo exercício das funções de magistério na assim como, à exceção dos benefícios
educação infantil e no ensino fundamental e médio: 30 concedidos, não integram a remuneração
anos de contribuição – homem; 25 anos de contribuição dos participantes, nos termos da lei.
– mulher. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 20, de 1998)
§ 3º É vedado o aporte de recursos a
Demais regras – art. 201 entidade de previdência privada pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, suas
autarquias, fundações, empresas públicas,
§ 2º Nenhum benefício que substitua o sociedades de economia mista e outras
salário de contribuição ou o rendimento do entidades públicas, salvo na qualidade de
trabalho do segurado terá valor mensal patrocinador, situação na qual, em hipótese
inferior ao salário mínimo. alguma, sua contribuição normal poderá
§ 3º Todos os salários de contribuição exceder a do segurado. (Incluído pela
considerados para o cálculo de benefício Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
serão devidamente atualizados, na forma da § 4º Lei complementar disciplinará a
lei. relação entre a União, Estados, Distrito
§ 4º É assegurado o reajustamento dos Federal ou Municípios, inclusive suas
benefícios para preservar-lhes, em caráter autarquias, fundações, sociedades de
economia mista e empresas controladas

111
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
direta ou indiretamente, enquanto IV - a habilitação e reabilitação das pessoas
patrocinadoras de entidades fechadas de portadoras de deficiência e a promoção de
previdência privada, e suas respectivas sua integração à vida comunitária;
entidades fechadas de previdência privada. V - a garantia de um salário mínimo de
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, benefício mensal à pessoa portadora de
de 1998) deficiência e ao idoso que comprovem não
§ 5º A lei complementar de que trata o possuir meios de prover à própria
parágrafo anterior aplicar-se-á, no que manutenção ou de tê-la provida por sua
couber, às empresas privadas família, conforme dispuser a lei.
permissionárias ou concessionárias de
prestação de serviços públicos, quando
patrocinadoras de entidades fechadas de Podemos observar que a assistência social não tem
previdência privada. (Incluído pela Emenda caráter contributivo, geralmente utilizada a quem dela
Constitucional nº 20, de 1998) necessita, principalmente aos hipossuficientes em mais
§ 6º A lei complementar a que se refere o § diversas áreas, como: criança, idoso, pessoas
4° deste artigo estabelecerá os requisitos portadoras de deficiência. São pessoas beneficiadas
para a designação dos membros das pela assistência social hoje no Brasil pelas diversas
diretorias das entidades fechadas de medidas que o Estado acaba adotando.
previdência privada e disciplinará a
inserção dos participantes nos colegiados e
instâncias de decisão em que seus interesses Ações Governamentais
sejam objeto de discussão e deliberação.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20,
de 1998) Art. 204. As ações governamentais na área
da assistência social serão realizadas com
recursos do orçamento da seguridade
Podemos extrair do texto constitucional algumas social, previstos no art. 195, além de outras
características da previdência privada: fontes, e organizadas com base nas
a) Complementar; seguintes diretrizes:
b) Facultativo; I - descentralização político-administrativa,
c) Organização autônoma em relação ao RGPS; cabendo a coordenação e as normas gerais
d) Independência financeira em relação ao Poder à esfera federal e a coordenação e a
Público; execução dos respectivos programas às
e) Regulado por Lei Complementar; esferas estadual e municipal, bem como a
f) Publicidade de gestão; entidades beneficentes e de assistência
social;
II - participação da população, por meio de
Assistência Social organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das
O artigo 203 prevê o benefício de seguridade social
ações em todos os níveis.
chamado de Assistência Social. São vários benefícios
Parágrafo único. É facultado aos Estados e
oferecidos a quem precisa de assistência, geralmente
ao Distrito Federal vincular a programa de
aos hipossuficientes. A Assistência Social não depende apoio à inclusão e promoção social até
de contribuição à Previdência Social: cinco décimos por cento de sua receita
tributária líquida, vedada a aplicação
Art. 203. A assistência social será prestada desses recursos no pagamento de:
a quem dela necessitar, independentemente I - despesas com pessoal e encargos
de contribuição à seguridade social, e tem sociais;
por objetivos: II - serviço da dívida;
I - a proteção à família, à maternidade, à III - qualquer outra despesa corrente não
infância, à adolescência e à velhice; vinculada diretamente aos investimentos ou
II - o amparo às crianças e adolescentes ações apoiados.
carentes;
III - a promoção da integração ao mercado
de trabalho; MEIO AMBIENTE - ART. 225
112
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
A CF no artigo 225 da CF assegura a todos o direito VIII - colaborar na proteção do meio
ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, ambiente, nele compreendido o do trabalho.
direito esse classificado como de 3a geração, é,
portanto, direito difuso e bem de uso comum do
povo, que deverá ser assegurado pelo Estado – Princípio do Desenvolvimento
Poder Público e pela coletividade que têm o dever Sustentável
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
O caput do art. 225 ainda consagra o chamado
futuras gerações:
princípio do Desenvolvimento Sustentável, princípio
esse alicerçado em três pilares: (i) econômico; (ii)
Art. 225. Todos têm direito ao meio bem estar social; (iii) ambiental.
ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia Para assegurar o Direito ao meio ambiente
qualidade de vida, impondo-se ao Poder ecologicamente equilibrado, foi elencado ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-
Público diversas atribuições, vejamos:
lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
Processos Ecológicos Essenciais
“Bem de uso comum do povo” (res omnium): I - preservar e restaurar os processos
Significa que os bens que integram o meio ambiente ecológicos essenciais e prover o manejo
devem satisfazer as necessidades comuns de todos ecológico das espécies e ecossistemas;
os habitantes da Terra. NÃO significa que os bens
devem ser gratuitos ou que sejam públicos. Processos ecológicos essenciais são aqueles
processos vitais que tornem possível a vida, nessa
relação entre os seres vivos e o meio ambiente. Ex:
Conceito de Meio Ambiente Cadeias alimentares, Ciclo das águas.
Outrossim, as expressões Preservar e Restaurar não
O conceito de meio Ambiente é mais amplo do que
são sinônimas.
costumamos aprender, e deve ser entendido como
a) Preservar: por preservação entende-se a
sendo o conjunto dos seguintes meios:
proteção e manutenção dos processos
ecológicos essenciais, ecossistemas, habitats;
v Meio ambiente natural, ou físico, constituído
b) Restaurar: a restauração pressupõe a
pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora,
existência de áreas degradadas que precisam
v Meio ambiente artificial, constituído pelo
ser recuperadas, restituídas o mais próximo
espaço urbano construído, consubstanciado no
possível da área original.
conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e
Ademais, a CF incumbe ao Poder Público o manejo
dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas
ecológico das espécies e ecossistemas, manejar
verdes, espaços livres em geral: espaço urbano
significa administrar, gerenciar. Desse modo,
aberto);
compete ao Poder Público o gerenciamento da
v Meio ambiente cultural, integrado pelo
biodiversidade.
patrimônio histórico, artístico, arqueológico,
paisagístico, turístico, que, embora artificial, em
regra, como obra do homem, difere do anterior pelo Preservação da Diversidade e da
sentido de valor especial que adquiriu ou de que se
impregnou; integridade do patrimônio genético
v Meio ambiente do trabalho: integra a proteção II - preservar a diversidade e a integridade
do homem em seu local de trabalho, com do patrimônio genético do País e fiscalizar
observância às normas de segurança, ressaltamos o as entidades dedicadas à pesquisa e
art. 200, VIII da CF que faz menção ao Meio manipulação de material genético;
Ambiente do Trabalho no âmbito da competência do Dessa forma, é dever do Estado a proteção dessas
SUS: informações genéticas dos seres vivos, mantendo a
Art. 200. Ao sistema único de saúde sua diversidade e integridade.
compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei:
113
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Espaços territoriais especialmente no meio ambiente e é documento indispensável para
embasar o pedido de licenciamento ambiental
protegidos – ETEP’s naquelas atividades potencialmente causadoras de
III - definir, em todas as unidades da significativa degradação ambiental.
Federação, espaços territoriais e seus Veja que o estudo não é exigível para toda e
componentes a serem especialmente qualquer atividade e sim apenas para aquelas
protegidos, sendo a alteração e a supressão potencialmente causadoras de significativa
permitidas somente através de lei, vedada degradação ambiental.
qualquer utilização que comprometa a O licenciamento assim como o EIA deve ser
integridade dos atributos que justifiquem realizado também em áreas indígenas.
sua proteção;
Ressalta-se ainda que esse instrumento assegura o
princípio da prevenção e não da precaução.
O Art. 225 parágrafo primeiro, inciso III dispõe a Por fim, ao Estudo e ao seu relatório deve ser dado
respeito da criação de espaços territoriais e seus publicidade assegurando nesse caso o principio da
componentes que deverão ter uma proteção especial. informação.
Esses espaços em virtude de suas características
peculiares merecem especial proteção.
A instituição (criação) dessas áreas pode-se dar,
Controle de riscos
tanto através de lei quanto através de ato executivo O art. 225, parágrafo primeiro inciso V, estabelece o
(decreto executivo). Entretanto, a sua redução princípio ambiental do limite e determina que cabe
(alteração) ou a sua supressão somente pode ser ao Poder Público no exercício de poder de polícia,
permitida através de lei específica. fiscalizar e orientar os particulares quanto aos
limites do uso do meio ambiente.
LEI
CRIAÇÃO V- Controlar a produção, a comercialização
ATO e o emprego de técnicas, métodos e
ETEP'S EXECUTIVO substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio
SUPRESSÃO APENAS LEI ambiente;

Trata-se da Gestão dos riscos, tudo o que puder


comprometer a integridade do meio ambiente
Estudo de Impacto Ambiental - EIA ecologicamente equilibrado deve ser fiscalizado e
controlado pelo Poder Público, reduzindo os riscos.
O art. 225, parágrafo primeiro inciso IV estabelece a
necessidade de realização de estudo prévio de
impacto ambiental para o licenciamento de obras ou Educação Ambiental
atividades – públicas ou privadas – que sejam
A Educação Ambiental é um instrumento de suma
causadoras de significativo dano ambiental.
importância para a conscientização e preservação
ambiental. A própria CF assegura o referido
IV - exigir, na forma da lei, para instalação princípio art. 225 § 1º VI:
de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do VI - promover a educação ambiental em
meio ambiente, estudo prévio de impacto todos os níveis de ensino e a
ambiental, a que se dará publicidade; conscientização pública para a preservação
do meio ambiente;

O EIA é um documento técnico que vai fazer uma


descrição da região e do local de implantação do Proteção da fauna e flora
empreendimento, avaliando todos seus possíveis
impactos negativos e positivos sobre o meio VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na
ambiente, é uma espécie de Avaliação de Impacto forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a
114
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
extinção de espécies ou submetam os Contrariando a referida decisão do STF foi editada a
animais a crueldade. Lei nº 13.364/2016, que elevou o Rodeio, a
Esse dispositivo ressalta a importância da fauna e da Vaquejada, bem como as respectivas expressões
flora na manutenção do equilíbrio no ecossistema. artístico-culturais, à condição de manifestações da
A respeito do tema podemos ressaltar algumas cultura nacional e de patrimônio cultural imaterial,
jurisprudências do STF: bem como passaram a ser considerados
manifestações da cultura nacional, nos termos do art.
a) FARRA DO BOI e BRIGAS DE GALO: já 215 e 216 da CF.
reconheceu inclusive a inconstitucionalidade de Por fim, em junho de 2017 foi promulgada a EC
normas que previam as brigas de galo e a Farra do 96/2017 que inseriu o § 7º ao art. 225 da
Boi, práticas que submetem os animais à crueldade: Constituição Federal, para estabelecer que não se
consideram cruéis as manifestações culturais
"Lei 7.380/1998, do Estado do Rio Grande definidas na Constituição e registradas como bem de
do Norte. Atividades esportivas com aves natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
das raças combatentes. ‘Rinhas’ ou ‘Brigas brasileiro, desde que regulamentadas em lei
de galo’. Regulamentação.
específica que assegure o bem-estar dos animais
Inadmissibilidade. Meio ambiente. Animais.
envolvidos.
Submissão a tratamento cruel. Ofensa ao
art. 225, § 1º, VII, da CF. (...) É Dessa forma, a referida Emenda acabou com os
inconstitucional a lei estadual que autorize entraves jurídicos para a realização da Vaquejada e
e regulamente, sob título de práticas ou dos rodeios no Brasil.
atividades esportivas com aves de raças
ditas combatentes, as chamadas ‘rinhas’ ou
‘brigas de galo’." (ADI 3.776, rel. min. Reparação do meio degradado
Cezar Peluso, julgamento em 14-6-2007, § 2º Aquele que explorar recursos minerais
Plenário, DJ de 29-6-2007.) No mesmo fica obrigado a recuperar o meio ambiente
sentido: ADI 1.856, rel. min. Celso de degradado, de acordo com solução técnica
Mello, julgamento em 26-5-2011, Plenário, exigida pelo órgão público competente, na
DJE de 14-10-2011. forma da lei.
De acordo com esse parágrafo o explorador de
B) RODEIOS E VAQUEJADAS: recursos minerais se obriga a reparar o meio
Rodeios são atividades com animais de montaria ou ambiente degradado de acordo com as soluções que
de cronometragem e as provas de laço, que avaliam devem ser apresentadas pelos órgãos públicos
o desempenho do atleta no domínio do animal e o competentes.
desempenho do próprio animal. (Art. 1o Lei Esse dispositivo reflete o princípio do poluidor
10.519/2002) pagador sob a sua perspectiva reparatória,
A vaquejada é a prática na qual dois vaqueiros denominado por alguns como princípio da reparação
montados a cavalo têm de derrubar um animal (boi), ou da responsabilidade.
puxando-o pelo rabo.

Em outubro de 2016 o STF julgou inconstitucional a Responsabilidade ambiental


prática da vaquejada, por entender que a prática O art. 225, parágrafo terceiro estabelece a chamada
submete os animais à crueldade. A Ação Direta de
tríplice responsabilidade, tanto de pessoas físicas
Inconstitucionalidade, acatada por 6 votos a 5, foi quanto jurídicas em matéria ambiental, ou seja, um
proposta pelo procurador-geral da República contra
mesmo ato pode provocar responsabilidades na
a Lei 15.299/13, do estado do Ceará, que esfera penal, civil e administrativa.
regulamentava a vaquejada como prática desportiva
e cultural no estado. § 3º As condutas e atividades consideradas
Para o relator da ação, ministro Marco Aurélio, a lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
prática teria “crueldade intrínseca”, e o dever de infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
proteção ao meio ambiente previsto na Constituição sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar
Federal se sobrepõe aos valores culturais da
os danos causados.
atividade desportiva.

115
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Ressalta-se que esse artigo assegurou a Ademais, a condição de patrimônio nacional
responsabilidade penal da pessoa jurídica. determina a utilização dessas áreas dentro de limites
A responsabilidade ambiental é, portanto, de 3 tipos: legais previamente estabelecidos com vistas a
• Responsabilidade Civil; manutenção da preservação desses biomas,
• Responsabilidade Administrativa; estabelecendo um regime especial de utilização.
• Responsabilidade Penal. Teoria dupla Cuidado! O fato dessas áreas serem nominadas
imputação STF como patrimônio nacional não as qualifica como
áreas públicas ou como bens da União, aliás é
Como visto, a CF determina que, tanto a pessoa possível bens particulares nessas áreas.
física quanto a pessoa jurídica podem ser O entendimento do STF nesse sentido é pacífico
responsabilizadas na esfera penal, civil e afastando inclusive a competência da Justiça federal
administrativa por atividades lesivas ao meio em crimes ocorridos nessa área.
ambiente. Terras devolutas
No âmbito civil e administrativo não há dúvidas de
que a pessoa jurídica pode ser condenada § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou
independentemente da responsabilização dos seus arrecadadas pelos Estados, por ações
agentes, entretanto, no âmbito penal há divergência discriminatórias, necessárias à proteção dos
se a responsabilização da pessoa jurídica depende ou ecossistemas naturais.
não da responsabilização dos seus agentes. Dessa
forma, entendeu o STF80 que a CF não condiciona a Terras devolutas são áreas que não se incorporaram
responsabilização penal da pessoa jurídica por legitimamente ao domínio particular (ainda que por
crimes ambientais à simultânea persecução penal da eles ocupada), bem como as já incorporadas pelo
pessoa física em tese responsável no âmbito da patrimônio público, não afetadas a qualquer uso
empresa, ou seja, a norma constitucional não impõe público. (Maria Silvia Di Pietro, 2010).
a necessária dupla imputação. Em outras palavras, são terras públicas sem
destinação pelo Poder Público e que em nenhum
momento integraram o patrimônio de um particular,
Patrimônio Nacional - Macrorregiões ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O
ou Biomas termo "devoluta" relaciona-se ao conceito de terra
devolvida ou a ser devolvida ao Estado.
A CF elevou a condição de patrimônio nacional, Como regra, as terras devolutas pertencem aos
cinco biomas importantes: A Floresta Amazônica Estados (art. 26, IV CF), sendo que será da União
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o apenas se essas terras forem indispensáveis à defesa
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira. das fronteiras, das fortificações e defesas militares,
das vias federais de comunicação e à preservação
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a ambiental (Art. 20, II CF).
Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal As terras devolutas são classificadas como bens
Mato-Grossense e a Zona Costeira são dominicais ou do patrimônio disponível, ou seja, em
patrimônio nacional, e sua utilização far-se- regra poderiam ser alienadas, entretanto, a
á, na forma da lei, dentro de condições que Constituição ressalva que aquelas terras devolutas,
assegurem a preservação do meio ambiente, decorrentes de processo discriminatório81,
inclusive quanto ao uso dos recursos necessárias à proteção dos ecossistemas são bens
naturais. da União e de uso especial, são indisponíveis.

Esse dispositivo tem por finalidade a proclamação Usinas Nucleares


de defesa de interesses do Brasil em eventuais
ingerências internacionais.
81
Ações discriminatórias: O processo discriminatório é aquele
80
Decisão do STF: Recurso Extraordinário 548181, destinado a assegurar a discriminação e delimitação das terras
Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em devolutas da União e dos estados-membros, além de separá-
06/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10- las das terras particulares e de outras terras públicas.
2014 PUBLIC 30-10-2014
116
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Sabe-se que a União detém o monopólio da e a mulher como entidade familiar, devendo
exploração da atividade nuclear, conforme art. 177, a lei facilitar sua conversão em casamento.
V e Art. 20, IX. § 4º Entende-se, também, como entidade
Nesse sentido, o que a CF exige é que as usinas familiar a comunidade formada por
nucleares devem ter sua localização definida em lei qualquer dos pais e seus descendentes.
federal (art. 22, XXVI). § 8º O Estado assegurará a assistência à
família na pessoa de cada um dos que a
§ 6º As usinas que operem com reator integram, criando mecanismos para coibir a
nuclear deverão ter sua localização definida violência no âmbito de suas relações.
em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas. Sobre os parágrafos do art. 226 algumas
considerações são pertinentes:
Práticas desportivas com animais -
Manifestações culturais ENTIDADE FAMILIAR:
Como já mencionado no tópico sobre a proteção da A CF estabeleceu proteção a três tipos de entidades
fauna e da flora, a EC 96/2017 inseriu o § 7º ao art. familiares:
225 da Constituição Federal, para estabelecer que a) Família matrimonial, decorrente do vínculo do
não se consideram cruéis as manifestações culturais casamento, tanto civil quanto religioso (§ 2º);
definidas na Constituição e registradas como bem de b) Família informal, constituída pela União
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural estável, aqui incluída a União homoafetiva de
brasileiro, desde que regulamentadas em lei acordo com a orientação do STF; (§ 3º)
específica que assegure o bem-estar dos animais c) Família monoparental, constituída pelo pai ou
envolvidos. mãe e seus descendentes. (§ 4º)
Veja o novo dispositivo:
O casamento é civil e gratuita a celebração,
§ 7º Para fins do disposto na parte final do veja que a gratuidade é apenas da celebração e
inciso VII do § 1º deste artigo, não se não dos atos de habitação para o casamento.
consideram cruéis as práticas desportivas O casamento religioso terá o mesmo efeito
que utilizem animais, desde que sejam
do casamento civil, independentemente sob qual
manifestações culturais, conforme o § 1º do
art. 215 desta Constituição Federal, religião tenha ocorrido o casamento.
registradas como bem de natureza imaterial A CF prioriza a ideia de família socioafetiva,
integrante do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo inclusive a paternidade socioafetiva.
devendo ser regulamentadas por lei Descata-se contudo que o reconhecimento da
específica que assegure o bem-estar dos paternidade socioafetiva não afasta a
animais envolvidos.” responsabilidade dos pais biológicos (RE 898.060 –
22.09.2016)
Em relação a família informal reconheceu o
FAMÍLIA - ART. 226 STF como entidade familiar a União estável
A CF nos artigos 226 – 230 estabelece importante homoafetiva (ADPF 132), como desdobramento
proteção ao núcleo familiar, afirmando que a família dessa decisão e considerando a jurisprudência do
é a base da sociedade e tem proteção especial dada STJ que decidiu que não há impedimentos legais
pelo Estado. para a celebração de casamento entre pessoas do
mesmo sexo (REsp 1. 183.378/RS), o CNJ editou a
resolução 175/2013 que dispõe sobre a habilitação,
Art. 226. A família, base da sociedade, tem celebração de casamento civil, ou de conversão de
especial proteção do Estado.
união estável em casamento, entre pessoas de
§ 1º O casamento é civil e gratuita a mesmo sexo.
celebração.
Transexualidade: a transexualidade
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é
nos termos da lei.
a vontade de viver e ser aceito como membro do
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é sexo oposto, acompanhado do desejo de fazer com
reconhecida a união estável entre o homem que o corpo seja o mais próximo daquele que se
117
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
sonha, seja através de procedimento cirúrgico ou de PLANEJAMENTO FAMILIAR
uso hormonal.
Apesar de ser visto como patologia (CID-10 F64.0) O planejamento familiar é decisão livre do casal,
o STF tem reconhecido que se trata de condição baseado nos princípios da dignidade da pessoa
social, motivo pelo qual entendeu pela possibilidade humana e da paternidade responsável.
de alteração do nome social no registro civil, sem a No que tange ao planejamento destaca-se que o
necessidade de cirurgia de mudança de sexo Estado deve proporcionar os recursos adequados a
(transgenitalização) (ADI 4275 – 1/03/2018).: concretização desse planejamento.
Decisão: O Tribunal, por maioria, vencidos, § 7º Fundado nos princípios da dignidade
em parte, os Ministros Marco Aurélio e, em menor da pessoa humana e da paternidade
extensão, os Ministros Alexandre de Moraes, responsável, o planejamento familiar é livre
Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, julgou decisão do casal, competindo ao Estado
procedente a ação para dar interpretação conforme a propiciar recursos educacionais e
Constituição e o Pacto de São José da Costa Rica ao científicos para o exercício desse direito,
art. 58 da Lei 6.015/73 (Lei dos registros Públicos), vedada qualquer forma coercitiva por parte
de instituições oficiais ou privadas.
de modo a reconhecer aos transgêneros que assim o
desejarem, independentemente da cirurgia de
transgenitalização, ou da realização de tratamentos A lei 9263/96 regulamenta esse dispositivo e
hormonais ou patologizantes, o direito à substituição podemos destacar como ações do Estado a
de prenome e sexo diretamente no registro civil. distribuição gratuita de preservativos e a distribuição
Impedido o Ministro Dias Toffoli. Redator para o de pílula do dia seguinte.
acórdão o Ministro Edson Fachin. Presidiu o
julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, O Estado visando estabelecer especial proteção à
1º.3.2018. família tem o dever de assegurar assistência a todos
os seus integrantes (art. 226. § 8º, CF/88), buscando
implementar mecanismos para impedir a violência
IGUALDADE ENTRE HOMENS E no âmbito familiar, podemos exemplificar como
MULHERES medida estatal nessa seara, a criação da Lei Maria da
A CF estabeleceu plena igualdade entre homens e Penha (lei 11.340/2006) que visa coibir a violência
mulheres quanto aos direitos e deveres na relação doméstica e familiar contra a mulher. Veja o
conjugal. dispositivo constitucional mencionado:
§ 5º Os direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal são exercidos § 8º - O Estado assegurará a assistência à
igualmente pelo homem e pela mulher. família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações.
DIVÓRCIO
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido DA CRIANÇA DO
pelo divórcio. ADOLESCENTE E DO JOVEM –
O divórcio é o instrumento para a dissolução do ART. 227 - 229
casamento civil e não para a União estável.
A CF estabelece tratamento prioritário a crianças,
Ademais, não há mais prazo mínimo exigido para a
adolescentes e jovens.
sua realização, isso porque antes da EC 66/2010
ü Criança: até 12 anos incompletos;
(PEC do amor) o parágrafo 6o tinha a seguinte
ü Adolescentes: 12 a 18 anos.
redação:
ü Jovens: 15 a 29 anos.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido
pelo divórcio, após prévia separação
judicial por mais de um ano nos casos Art. 227. É dever da família, da sociedade e
expressos em lei, ou comprovada separação do Estado assegurar à criança, ao
de fato por mais de dois anos. adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à
118
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
alimentação, à educação, ao lazer, à IMPORTANTE!!! A CF assegura especial proteção
profissionalização, à cultura, à dignidade, à criança, ao adolescente e ao jovem, essa especial
ao respeito, à liberdade e à convivência proteção compreende as seguintes medidas:
familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, § 3º O direito a proteção especial
crueldade e opressão. abrangerá os seguintes aspectos:
§ 1º O Estado promoverá programas de I - idade mínima de quatorze anos para
assistência integral à saúde da criança, do admissão ao trabalho, observado o disposto
adolescente e do jovem, admitida a no art. 7º, XXXIII;
participação de entidades não II - garantia de direitos previdenciários e
governamentais, mediante políticas trabalhistas;
específicas e obedecendo aos seguintes III - garantia de acesso do trabalhador
preceitos: adolescente e jovem à escola;
I - aplicação de percentual dos recursos IV - garantia de pleno e formal
públicos destinados à saúde na assistência conhecimento da atribuição de ato
materno-infantil; infracional, igualdade na relação
II - criação de programas de prevenção e processual e defesa técnica por profissional
atendimento especializado para as pessoas habilitado, segundo dispuser a legislação
portadoras de deficiência física, sensorial tutelar específica;
ou mental, bem como de integração social V - obediência aos princípios de brevidade,
do adolescente e do jovem portador de excepcionalidade e respeito à condição
deficiência, mediante o treinamento para o peculiar de pessoa em desenvolvimento,
trabalho e a convivência, e a facilitação do quando da aplicação de qualquer medida
acesso aos bens e serviços coletivos, com a privativa da liberdade;
eliminação de obstáculos arquitetônicos e
VI - estímulo do Poder Público, através de
de todas as formas de discriminação.
assistência jurídica, incentivos fiscais e
§ 1º O Estado promoverá programas de subsídios, nos termos da lei, ao
assistência integral à saúde da criança, do acolhimento, sob a forma de guarda, de
adolescente e do jovem, admitida a criança ou adolescente órfão ou
participação de entidades não abandonado; (Família substituta)
governamentais, mediante políticas
VII - programas de prevenção e
específicas e obedecendo aos seguintes
atendimento especializado à criança, ao
preceitos:
adolescente e ao jovem dependente de
I - aplicação de percentual dos recursos entorpecentes e drogas afins.
públicos destinados à saúde na assistência
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a
materno-infantil;
violência e a exploração sexual da criança
II - criação de programas de prevenção e e do adolescente.
atendimento especializado para as pessoas
portadoras de deficiência física, sensorial
ou mental, bem como de integração social § 7º No atendimento dos direitos da criança
do adolescente e do jovem portador de e do adolescente levar-se- á em
deficiência, mediante o treinamento para o consideração o disposto no art. 204.
trabalho e a convivência, e a facilitação do § 8º A lei estabelecerá:
acesso aos bens e serviços coletivos, com a I - o estatuto da juventude, destinado a
eliminação de obstáculos arquitetônicos e regular os direitos dos jovens;
de todas as formas de discriminação. II - o plano nacional de juventude, de
§ 2º A lei disporá sobre normas de duração decenal, visando à articulação das
construção dos logradouros e dos edifícios várias esferas do poder público para a
de uso público e de fabricação de veículos execução de políticas públicas.
de transporte coletivo, a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras de
deficiência. A proteção da Criança e do Adolescente recebe
melhor regramento na Lei 8069/90 (ECA) com as
alterações trazidas pela Lei 13.257/2016.

119
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
IGUALDADE ENTRE OS FILHOS Essa disposição constitucional está em harmonia
com a Convenção sobre os Direitos da Criança e de
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do acordo com a doutrina essa previsão é considerada
casamento, ou por adoção, terão os mesmos como cláusula pétrea, especialmente por ser
direitos e qualificações, proibidas quaisquer
garantia individual e decorrer do processo de
designações discriminatórias relativas à
filiação.
universalização dos direitos humanos (Marcelo
Novelino, p. 828).
Alienação parental: Considera-se ato de Entretanto, ser cláusula pétrea não impediria a sua
alienação parental a interferência na formação relativização, inclusive quanto a redução da
psicológica da criança ou do adolescente promovida maioridade para 16 anos.
ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou
pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou
O art. 229 da CF consagra o princípio da
à manutenção de vínculos com este. (art. 2o da Lei
solidariedade entre ascendentes e descendentes,
13.318/2010).
determinando que os pais têm o dever de assistir,
criar e educar os filhos menores, e os filhos quando
ADOÇÃO maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na
velhice, carência ou enfermidade. Trata-se de
O processo de adoção deve ser acompanhado pelo evidente dever recíproco de cuidado.
Estado, na forma da Lei. (lei 12.010/2009).
O filho adotante terá os mesmos direitos dos filhos
biológicos.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir,
Inclusive os prazos de licença adotante não podem criar e educar os filhos menores, e os filhos
ser diferentes dos prazos de licença gestante (RE maiores têm o dever de ajudar e amparar
778.889) os pais na velhice, carência ou
enfermidade.
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder
Público, na forma da lei, que estabelecerá
casos e condições de sua efetivação por IDOSOS – art. 230
parte de estrangeiros.
Em virtude da especial vulnerabilidade dos idosos, a
Adoção por estrangeiros (adoção CF, assegurou a eles tratamento diferenciado e
internacional) é medida excepcional, mas deverá o prioritário.
juiz analisar sempre o melhor interesse do menor. A CF impõe a família, a sociedade e ao Estado o
Adoção por casal homoafetivo ou transexual dever de cuidar e ampara as pessoas idosas,
é também admitida pela jurisprudência. assegurando sua participação na comunidade.
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado
IMPUTABLIDADE PENAL têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na
Art. 228. São penalmente inimputáveis os
comunidade, defendendo sua dignidade e
menores de dezoito anos, sujeitos às
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
normas da legislação especial.
De acordo com a CF são inimputáveis os menores
O Estatuto do Idoso – Lei 10.741/200382 estabeleceu
de 18 anos, ou seja, os menores de 18 anos não lhes
um critério cronológico para determinar quem deve
podem ser imputados a prática de crime e nem
ser considerado idoso, considerando as pessoas com
podem ser punidos segundo o Código Penal. Dessa
idade igual ou superior a sessenta anos.
forma a conduta ilícita praticada por menor de 18
anos seja regulada por legislação especial, a qual já
82 o
existe: Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Art. 1 É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular
Adolescente. os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos.

120
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
que se identifica e é identificado como
A CF destaca ainda que os programas de amparo aos pertencente a um grupo étnico cujas
idosos deverão ser executados de preferencial nos características culturais o distinguem da
lares dos idosos, o que não significa sociedade nacional;
obrigatoriamente. Inobstante a palavra silvícola ser destinada aquelas
§ 1º Os programas de amparo aos idosos pessoas que moram na selva, a proteção
serão executados preferencialmente em constitucional dada aos índios, se destinam aqueles
seus lares. que moram na selva ou que já sofreram processo de
aculturação.
A CF assegura aos maiores de 65 ANOS de idade a
gratuidade do transporte coletivo urbano, tratando- Terras tradicionalmente ocupadas
se de norma de eficácia plena, é executável
Considera-se como terras tradicionalmente ocupadas
diretamente do texto constitucional, bastando a
pelos índios:
apresentação do documento pessoal que comprove a
sua idade. Veja que a partir dos 60 anos a pessoa já é § 1º São terras tradicionalmente ocupadas
considerada idosa, mas apenas gozará do benefício pelos índios as por eles habitadas em
do transporte gratuito a partir dos 65! caráter permanente, as utilizadas para suas
atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é necessários a seu bem-estar e as
garantida a gratuidade dos transportes necessárias a sua reprodução física e
coletivos urbanos. cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições.
Essas medidas do estado são chamadas pela doutrina
de constitucionalismo fraternal ou direito Podemos destacar que de acordo com o STF NÃO
fraternal, expressão válida também para a proteção se considerada como terra indígena:
das minorias. ü As terras de aldeamentos indígenas extintos,
ainda que ocupadas em passado remoto
(Súmula 650 STF83);
ÍNDIOS ü Aquelas ocupadas após a promulgação da
CF/88 – 05/10/88. – definição de marco
A CF dá especial proteção aos índios e no intuito de temporal.
proteger a identidade dos mesmos assim como
Assim, podemos dizer que o STF adotou a chamada
preservar seu habitar, foram reconhecidos direitos de Teoria do fato indígena, segundo a qual na
organização social, costumes, línguas, crenças e
configuração das terras como indígenas, é essencial
tradições. aferir se a ocupação das terras pelos índios possui as
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua características de persistência e constância, na data
organização social, costumes, línguas, da promulgação do permissivo constitucional.
crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que Terras tradicionalmente ocupadas pelos
tradicionalmente ocupam, competindo à índios
União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens. • Caráter permanente
• Atividade produtiva dos índios
Nos termos do Estatuto do índio – Lei 6.001/1973, é • Imprescindíveis a preservação dos recursos
considerado como índio ou silvícola: ambientais para o seu bem-estar.
• Necessários a reprodução física e cultural
Art. 3º Para os efeitos de lei, ficam
estabelecidas as definições a seguir
83
discriminadas: Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não
I - Índio ou Silvícola - É todo indivíduo alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas
de origem e ascendência pré-colombiana por indígenas em passado remoto.

121
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Posse e usufruto das terras A remoção de grupos indígenas é proibida,
ressalvadas duas situações:
A CF assegura aos índios o direito de posse das 1a - Catástrofe ou epidemia, com posterior
terras que tradicionalmente ocupam, contudo a referendo/confirmação do Congresso Nacional.
propriedade é da União84, nos termos do art. 20, XI 2a – Interesse da soberania do País, nesse caso a
da CF. remoção só será possível APÓS autorização do
Por serem de domínio da União, as terras Congresso Nacional.
tradicionalmente ocupadas pelos índios classificam- Nas duas hipóteses fica garantido o retorno dos
se como bens públicos de uso especial. grupos indígenas após cessar o risco.
Aos índios é também assegurado o direito ao
usufruto exclusivo das riquezas do:
ü Solo § 5º É vedada a remoção dos grupos
ü Rios indígenas de suas terras, salvo, "ad
ü Lagos referendum" do Congresso Nacional, em
caso de catástrofe ou epidemia que ponha
Não há direito de usufruto sobre as riquezas do
em risco sua população, ou no interesse da
subsolo. soberania do País, após deliberação do
Congresso Nacional, garantido, em
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas qualquer hipótese, o retorno imediato logo
pelos índios destinam-se a sua posse que cesse o risco.
permanente, cabendo-lhes o usufruto Ressalta-se inclusive a decisão do Supremo de que a
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e
intimação do indígena para prestar depoimento
dos lagos nelas existentes.
perante CPI, como testemunha, fora do seu habitat
viola a Constituição.
Ademais, é possível o aproveitamento dos recursos
hídricos – potenciais de energia hidráulica e recursos
minerais em terras indígenas, mas depende de
autorização do Congresso Nacional, sendo que as Educação nas comunidades
comunidades deverão ser ouvidas. Nas comunidades indígenas deve-se assegurar uma
§ 3º O aproveitamento dos recursos educação bilíngue, incluindo a língua portuguesa e a
hídricos, incluídos os potenciais língua materna e os processos de aprendizagem dos
energéticos, a pesquisa e a lavra das índios.
riquezas minerais em terras indígenas só Art. 210 § 2º O ensino fundamental regular
podem ser efetivados com autorização do será ministrado em língua portuguesa,
Congresso Nacional, ouvidas as assegurada às comunidades indígenas
comunidades afetadas, ficando-lhes também a utilização de suas línguas
assegurada participação nos resultados da maternas e processos próprios de
lavra, na forma da lei. aprendizagem.

Ademais essas terras são inalienáveis, Nulidade e extinção de atos contra as


indisponíveis e os direitos sobre elas terras que ocupam
imprescritíveis:
É considerado sem nenhum efeito jurídico os atos
§ 4º As terras de que trata este artigo são que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos
posse das terras indígenas.
sobre elas, imprescritíveis.
Por exemplo, expedição de títulos de propriedade
em terras indígenas não terão qualquer valor
Remoção de indígenas jurídico, mas fica assegurada a indenização pelas
benfeitorias no caso de ocupação de boa-fé, que
devem ser cobradas da União.
84
Art. 20. São bens da União: XI - as terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios.
122
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Entretanto, há uma exceção, na hipótese de direitos e interesses, intervindo o Ministério
relevante interesse público da União, desde que Público em todos os atos do processo.
estabelecido por Lei complementar. O MP também tem legitimidade ativa para promover
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo a defesa dos indígenas.
efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das
terras a que se refere este artigo, ou a Art. 129. São funções institucionais do
exploração das riquezas naturais do solo, Ministério Público:
dos rios e dos lagos nelas existentes, V - defender judicialmente os direitos e
ressalvado relevante interesse público da interesses das populações indígenas;
União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a
extinção direito a indenização ou a ações
É competência da Justiça Federal julgar as
contra a União, salvo, na forma da lei, questões envolvendo disputa sobre direitos
quanto às benfeitorias derivadas da indígenas:
ocupação de boa fé. Art. 109. Aos juízes federais compete
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o processar e julgar:
disposto no art. 174, § 3º e § 4º. XI - a disputa sobre direitos indígenas.
O § 7º remete-se aos art. 174 que dispõe sobre as CUIDADO!
atividades garimpeiras, dessa forma, tais De acordo com o STF só será de competência da
dispositivos não se aplicam a áreas indígenas, veja: Justiça Federal quando a disputa envolver
Art. 174. Como agente normativo e diretamente:
regulador da atividade econômica, o Estado ü Direitos referentes à cultura indígena;
exercerá, na forma da lei, as funções de ü Direitos sobre as terras tradicionalmente
fiscalização, incentivo e planejamento, ocupadas;
sendo este determinante para o setor ü Interesses da União, como por exemplo
público e indicativo para o setor privado. infrações penais praticadas em detrimento de
§ 3º O Estado favorecerá a organização da bens, serviços ou interesse da União ou de
atividade garimpeira em cooperativas, suas entidades autárquicas ou empresas
levando em conta a proteção do meio públicas.
ambiente e a promoção econômico-social
dos garimpeiros.
Assim, um crime praticado por índio contra outro
§ 4º As cooperativas a que se refere o
índio, dentro do aldeamento, mas sem que haja
parágrafo anterior terão prioridade na
disputa sobre direitos indígenas será de competência
autorização ou concessão para pesquisa e
lavra dos recursos e jazidas de minerais da Justiça estadual e não federal. (RE 419.528)
garimpáveis, nas áreas onde estejam
atuando, e naquelas fixadas de acordo com
o art. 21, XXV, na forma da lei.
Quilombolas
Quilombolas são escravos refugiados em quilombos,
ou descendentes de escravos negros cujos
Defesa Judicial antepassados no período da escravidão fugiram
dos engenhos de cana-de-açúcar, fazendas e
O Art. 232 reconhece aos índios a legitimidade ad pequenas propriedades onde executavam diversos
causam, que é o direito de ingressarem em juízo na trabalhos braçais para formar pequenos vilarejos
defesa de seus direitos e interesses, lembrando que chamados de quilombos.
deverá ocorrer a intervenção do MP, uma vez que a O Art. 68 do ADCT considerado como direito
defesa judicial dos direitos e interesses das fundamental, assegura as comunidades quilombolas
populações indígenas é uma das funções o direito de propriedade das terras que ocupam,
institucionais do MP. veja:
Art. 232. Os índios, suas comunidades e
organizações são partes legítimas para
ingressar em juízo em defesa de seus
123
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).
Referências Bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional – 20. ed.
Saraiva, 2017.
VICENTE PAULO, MARCELO ALEXANDRINO.
Direito Constitucional descomplicado – 15 ed.
Método, 2016.
NOVELINO, Marcelo Novelino. Curso de Direito
constitucional, 11a ed. 2016. Editora JusPodivm.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional –
30a ed. Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito
Constitucional Positivo. Malheiros, 2006.
CANOTILHO, JJ GOMES e outros. Comentários à
Constituição do Brasil. – Saraiva, 2014.
BRASIL. Constituição Federal.

124
Professora Adriane Nogueira Fauth – adrianefauth@gmail.com - Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução,
ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 9.610/98).

Você também pode gostar