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DISTÂNCIA
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Caro(a) aluno(a),
Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio
de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e
síntese dos saberes.
Atenciosamente,
Setor Pedagógico
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .....................................................................................................................
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EDUCAÇÃO DIGITAL E A PANDEMIA DE COVID-19 ...................................................... 5
AS DIFICULDADES DA EDUCAÇÃO DIGITAL DURANTE A PANDEMIA .................. 13
EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO DIGITAL NA PANDEMIA ................................................ 17
ESTUDAR E APRENDER EM UM CURSO A DISTÂNCIA ............................................... 21
O PAPEL DO ALUNO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA .................................................... 27
TECNOLOGIAS E MÍDIAS DIGITAIS NO CONTEXTO ESCOLAR .................................
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AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM .................................................................
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CIBERCULTURA ................................................................................................................... 40
LETRAMENTO E INCLUSÃO DIGITAL ............................................................................. 46
INCLUSÃO DIGITAL .............................................................................................................
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TIC E NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS ...............................................................
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AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O ENSINO
SUPERIOR ...............................................................................................................................
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REFERÊNCIAS .......................................................................................................................
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APRESENTAÇÃO
Desde 2020, estamos passando por um marco significativo na Educação. Uma grande
pandemia, que assolou o Brasil e o mundo, em dezembro de 2019, despertou questionamentos
sobre as aulas remotas. O ensino híbrido, mesmo não sendo algo novo, foi implantado na
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educação brasileira, mas muitos docentes não conheciam esse modelo, o que causou
desconforto e muitas dificuldades em sua chegada.
FLAUZINO, Victor Hugo de Paula. Et al. As dificuldades da educação digital durante a pandemia de
COVID19. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 11, pp. 05-32.
Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://autorreconhecimento/saude/educacao-digital, DOI:
10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/educacao-digital
A pandemia causada pelo coronavírus foi responsável por modificar não só a vida
social das pessoas, como também o modelo de ensino. O Ensino à Distância (EaD) já existia
como modelo alternativo cuja principal característica é o acesso ao ensino a distância. Com a
pandemia, as atividades educacionais foram readaptadas para o Ensino Remoto Emergencial
(ERE), inicialmente sem um planejamento definido. Com o avanço da pandemia, fez-se
necessário adaptar o sistema de ensino utilizado atualmente para que todos os alunos
continuassem o processo de aprendizagem (SPALDING et al., 2020)
O conceito de educação a distância é muito simples, professores e alunos mediam o
conhecimento por meio de interações síncronas e/ou assíncronas em diferentes espaços e
tempos, independentemente do uso de artefatos digitais. O termo “distância” explica sua
principal característica: a separação física entre professores e alunos no espaço, mas não
exclui o contato entre alunos ou a utilização de meios técnicos para fazer contato direto entre
alunos e professores. O método de ensino por EAD ocorre com a mediação didático-
pedagógica para o processo de ensino e aprendizagem, por meio da utilização da TDIC
(Tecnologias digitais de informação e comunicação), na qual utiliza-se professores
qualificados e treinados para realizar o acompanhamento e avaliação dos alunos, além de
desenvolver atividades educativas e colaborativas para promover a educação em diversos
lugares diferentes (JOYE; MOREIRA; ROCHA, 2020). Vale ressaltar, no entanto, que mesmo
sem as tecnologias digitais, a educação a distância existia.
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emergencial que possibilite a continuidade da educação. Sendo assim, a tecnologia digital se
tornou um dos principais meios para manter o processo educacional. Surgiu então a educação
remota, que tem o objetivo de oferecer as aulas em formatos presenciais, como se o aluno e o
professor estivessem em sala de aula, porém é em formato de live e foi desenvolvida
exclusivamente por conta da crise (ARRUDA, 2020)
Ensino Remoto Emergencial (ERE) teve que ser instituído em virtude da pandemia
causada pelo coronavírus e a obrigatoriedade do distanciamento social para evitar o contágio.
Vale lembrar que esse conceito está relacionado diretamente à situação vivenciada pelo mundo
atualmente, imposta pela pandemia. Para atender às necessidades educacionais dos alunos, por
meio da utilização da educação digital, é um grande desafio, pois a maioria dos professores
não está familiarizado com este tipo de ensino e também uma parte da população brasileira
não possui acesso à internet. É necessário que cada contexto seja analisado cuidadosamente,
para que nenhum profissional ou aluno seja excluído do processo. Isso inclui a logística
(equipamentos e rede de internet) bem como o treinamento de profissionais para que as
ferramentas sejam utilizadas de forma correta e proveitosa. Outro desafio merece destaque
frente a pandemia: como manter os alunos motivados e garantir que eles participem das aulas
e usem regularmente as ferramentas (LUDOVICO et al., 2020).
No campo da educação, clama-se por soluções imediatas para desenvolver ações
educacionais formais durante a pandemia, estratégias alternativas estão sendo adotadas nas
práticas de ensino da escola, e essas estratégias precisam ser aceleradas neste século. A
pandemia serviu como um trampolim para que as instituições de ensino entendessem que o
uso da tecnologia para comunicação e aulas ministradas deveria ser estruturado, que a cada
dia o mundo está mais desenvolvido tecnologicamente, e que as instituições de ensino,
especialmente no Brasil, não estavam acompanhando esse avanço e por meio disto surgiu a
seguinte pergunta de pesquisa, quais foram as dificuldades da educação digital durante a
pandemia de COVID19?
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METODOLOGIA
A coleta dos artigos científicos foram realizadas no mês de janeiro de 2021 e foram
estabelecidos os critérios de inclusão; artigos acadêmicos publicados entre 2016 a 2020, na
língua portuguesa, disponíveis de forma gratuita e nos bancos de dados supracitados. Foram
excluídos os artigos inferiores a 2016, resumos, periódicos que não contemplavam nenhum
dos objetivos e que não respondessem à pergunta de pesquisa e artigos repetidos encontrados
nas bases de dados citadas acima. O critério de exclusão será explicado conforme a ilustração
da Figura 1.
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Conforme Pinho e Araújo (2019), os avanços tecnológicos testemunhados pelo
mundo inteiro, percebe-se a necessidade de se familiarizar a cada dia com as ferramentas
oferecidas pela tecnologia. Em todos os segmentos da vida, percebe-se o quão impactante é a
presença da tecnologia e, obviamente, essa presença também se estenderia às escolas e redes
de ensino em geral.
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Para Kobs e Junior (2020), com o avanço da tecnologia digital no Brasil surgiram
novas possibilidades dinâmicas de aprendizado, por meio da internet, na qual promoveu o
suporte para o processo de aprendizagem com serviços como de correio eletrônico, conexão
remota, troca interativa de mensagens em tempo real, transferência de arquivos, navegação
multimídia, entre outros, para promover o conhecimento.
Heinsfeld e Pischetola (2020), comenta que a velocidade que o EAD está evoluindo e
modificando a forma de ensino, mas mantendo a sala de aula como espaço de diálogo entre
educador e educando. O método EAD permite que o aluno troque experiências, informações e
conhecimentos em qualquer local do mundo, favorecendo-o na economia de tempo que ele
gastaria para se deslocar até a sala de aula.
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Conforme Rocha; Joye e Moreira (2020), devido ao constante desenvolvimento do
EAD vem crescendo cada vez mais e se tonando um dos principais meios de ensino e
aprendizado. O uso da internet tem facilitado o aperfeiçoamento desse tipo de educação, pois
permite que ela esteja presente em diferentes espaços e tempos. Por conta disso, o crescimento
da EAD tem sido inevitável, pois a sociedade está cada vez mais atualizada. Essa atualização
possibilitou o surgimento de diferentes denominações para a EAD, como por exemplo:
Elearning (aprendizagem eletrônica), B-learning (aprendizagem híbrida), M-learning
(aprendizagem com mobilidade), U-learning (aprendizagem com ambiguidade). Essas
denominações se distinguem pelo tipo de tecnologia utilizadas, modos de instrução,
características da aprendizagem, forma de avaliação, dentre outras.
Segundo Leite e Silva (2020), nos últimos anos o EAD teve grandes avanços, no qual
impactou diretamente a educação, por meio da adoção do ensino digital e abandonando o
sistema de ensino arcaico. Com isso os docentes e discentes tiveram que adquirir novas
habilidades educativas no universo digital, para o processo de construção de um novo método
de ensino.
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Para Pinho e Araújo (2019), a tecnologia educacional visa o aprimoramento
profissional de educadores, ampliando as chances de acesso de qualidade aos estudos para
todos, e oferece autonomia ao professor, estimulando seu lado crítico e criativo. A mudança no
perfil do professor, dispensando o conhecimento puramente obstrucionista e favorecendo
ações críticas e reflexivas, sendo incentivo no progresso da carreira do professor que
implementam a tecnologia nas suas práticas pedagógicas, permitindo transformar e socializar
conhecimentos para uma sociedade mais solidária e democrática, renovando o processo
ensino-aprendizagem e contribuindo para a qualificação da educação (BASNIAK; SOARES,
2020).
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AS DIFICULDADES DA EDUCAÇÃO DIGITAL DURANTE A PANDEMIA DE
COVID-19
Conforme Santos et al. (2020), o EAD foi uma grande preocupação no início e sofreu
diversos preconceitos, porém ela foi a salvação para a educação na pandemia por COVID-19,
que atualmente remodelou o ensino para não comprometer a educação, mas hoje a EAD sofre
com a condição econômica da sociedade pois o acesso à internet é o principal requisito para a
modalidade de ensino a distância, a inclusão digital é uma barreira a ser quebrada, pois em
diversos locais do país não tem acesso a sinal de internet.
Mas para Costa e Sousa (2020), foi observado diversas condições socioeconômicas
diferente em todo o território nacional junto com a falta de internet, para conseguir sanar este
problema no ensino a distância, algumas empresas de telefonia disponibilizaram o sinal aberto
de internet, nos locais que falta internet foi desenvolvido um canal educativo, no qual todos os
alunos conseguiram ter acesso à educação.
Segundo Santana e Sales (2020), no EAD o principal desafio foi promover educação
igualitária para todos os cidadãos brasileiros, por questões como o acesso a equipamento e
internet, manejo adequado dos sistemas, treinamento. Os professores têm um duplo desafio,
que se concentram em se adaptar à nova realidade imposta por tempo indeterminado e
garantindo a qualidade do serviço prestado. A pandemia serviu de mediador para exaltar as
fraquezas apresentadas pelo sistema de ensino e que são necessárias transformações que
acompanhem o avanço tecnológico mundial. Cada estado brasileiro tem suas particularidades
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e problemas sociais e educacionais, e todos esses aspectos devem ser levados em consideração
de forma a implementar um novo modelo educacional que atenda às necessidades dos
discentes de forma igualitária.
Para Amaral e Polydoro (2020), algumas escolas tiveram que replanejar e reorganizar
as estratégias educacionais, adaptar alunos no ambiente virtual e criar módulos
interdisciplinares para superar os problemas socioeconômicos e de internet, algumas
faculdades disponibilizaram equipamentos e ampliaram o acesso digital e facilitou a inclusão
do discente no processo de educação.
Para Arruda (2020), durante a pandemia o EAD teve diversos desafios, o principal foi
realizar a aproximação entre aluno e professor no ambiente virtual, para superar esta barreira
foram desenvolvidos conteúdos interativos no qual solicitava a presença ativa do aluno e
docente como mediador, além destes conteúdos a criação de lives auxiliaram aproximação do
aluno com o ambiente de sala de aula.
Ludovico et al. (2020), versa que os alunos normalmente têm dificuldades de acesso à
Internet e alegam que a quantidade de atividades nas plataformas é muito grande. O autor
também destaca que diversos alunos se distraem utilizando aplicativos de relacionamentos e
não acessam a aula nas plataformas digitais o uso do Whatsapp aumentou em virtude da
dificuldade dos pais em acessarem as plataformas digitais.
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Segundo Joye; Moreira e Rocha (2020), o EAD é uma medida emergencial, todas as
instituições ainda estão se adaptando e buscando a melhor forma de contemplar o conteúdo a
ser estudado junto aos alunos, de forma a garantir a motivação dos mesmos e adaptação dos
professores a um novo modelo educacional.
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EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO DIGITAL NA PANDEMIA DE COVID-19
O EAD durante a pandemia revolucionou o método de ensino, pois criou um espaço
educacional, no qual desempenhem um papel importante no desenvolvimento das habilidades
e competências dos professores e alunos. O EAD teve muitas evoluções para fornecer
materiais ricos de informações a um ambiente no qual os professores e alunos conseguem
expressar suas ideias e melhorar o processo de ensino (SILVA; TEIXERA, 2020).
Conforme Oliveira et al. (2020), a EAD é uma forma de educação que durante a
pandemia teve uma grande evolução na democratização do conhecimento por ser uma forma
alternativa de ensino, pois permite que professores e instituições de ensino levem o
conhecimento a quem está disposto a aprender, sem depender de rígidas estruturas do ensino
tradicional e lugar ou hora predeterminada.
Coelho; Moraes e Rosa (2020), uma das grandes revoluções do EAD foi o acesso
digital a todos, sem ferir a privacidade do aluno e professor para melhorar a desigualdade
favorecendo o aumento das possibilidades na educação, aprendizado, além de favorecer o
acesso tecnológico, informação, cultura e educação, para alunos e professores.
Segundo Silva e Filho (2020), os métodos de ensino a distância tiveram uma grande
evolução por meio das plataformas digitais, pois estes ambientes foram modernizados e
adaptado para atender uma grande demanda de alunos e professores. Para reforçar a ideia de
Silva e Filho (2020), Cani et al. (2020), afirma que as plataformas durante a pandemia por
covid-19, tiveram uma melhora significativa para auxiliar professores e alunos para
disponibilizar, produzir e compartilhar conteúdos educacionais de forma criativa,
independente e segura, com isso impulsionando a educação para o meio digital.
Com a mesma linha de pensamento Martins et al. (2020), reforça que o EAD realizou
uma intensa transformação no sistema educacional e no processo de ensino e pesquisa com
alterações nas práticas diárias de aprendizado, por meio de um ambiente interativo criado nas
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plataformas de educação a distância, na qual os alunos tiveram acesso a grande quantidade de
informações e conhecimento fornecido pelo método EAD.
Dosea et al. (2020), o EAD teve grandes mudanças durante a pandemia do covid-19
para manutenção e qualidade de ensino, por meio da renovação das plataformas digitais, a fim
de promover a educação e aprendizado, contribuindo de forma significativa para proporcionar
o contato do aluno com o professor, tornando um ambiente interativo e rico de informação
Para Silva; Andrade e Santos (2020), a evolução digital do EAD por meio de
plataformas como o Google Classroom, que é um sistema utilizado para gerenciar o conteúdo
de escolas e profissionais da educação para criar atividades de ensino e realizar diversas
formas de avaliação de acordo com a turma selecionada, tornou-se uma das principais
ferramentas da atividade acadêmica para assessorar professores no Brasil. Trata-se de um
ambiente virtual no qual os professores podem organizar cursos por meio de séries ou cursos
integrais (gestão, informática ou automação), arquivo de atividades e orientação de trabalhos.
O ambiente tecnológico atual mudou os métodos de ensino.
Oliveira e Souza (2020), mencionam a Educação 4.0 é uma das grandes revoluções
do EAD, na qual apresenta ênfase no conteúdo e método de ensino, levando em consideração
o contexto do processo de ensino, a experiência e a continuidade que ele traz. O conteúdo é
basicamente o mesmo, mas a mudança é a utilização de métodos de ensino que utilizam
ferramentas digitais para trabalhar com professores e alunos no ambiente virtual.
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Para Santos e Schneider (2020), o EAD contribui para os alunos serem atores e
atrizes, mas também protagonistas de enredos online e ao vivo, com o objetivo de mediar,
intervir, informar, divulgar e dialogar sobre diversos temas que constituem temas coletivos ou
individuais e seus interesses, para aumentar o campo da aprendizagem. A decisão mais
inteligente, especialmente em tempos de pandemia, é utilizar todas as ferramentas digitais
como facilitadora do conhecimento e processo de aprendizagem.
Oliveira et al. (2020), para o EAD foi uma das principais tecnologias nos tempos de
pandemia que desenvolveu a cooperação entre alunos e professores para quebrar a barreira do
distanciamento social, na qual aproximou novamente docente e discentes nos ambientes
virtuais, com a única finalidade que é o desenvolvimento do ensino e aprendizagem no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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psicológico e acadêmico. Os professores também enfrentam o desafio de estarem devidamente
capacitados para implementar essa nova modalidade de ensino.
Na Educação, sempre há referências de grandes nomes na área, como o caso de Paulo Freire.
Ele deixou um legado de pesquisas e citações na área e muitos o utilizam como referência.
Vejamos as seguintes citações: “Ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os
homens se educam juntos, na transformação do mundo.” (FREIRE, 1997, p.68). Ao
analisarmos estas frases de Freire, percebemos que só existe educação se dois ou mais
indivíduos estiverem interagindo e colaborando entre si, transformando o mundo. Ou seja,
para que uma aprendizagem significativa aconteça é fundamental construir um ambiente
colaborativo, no qual todos (e cada um) se posicionem como aprendizes e, ao mesmo tempo,
estejam dispostos a trocar e a ensinar. Na EaD, acontece um processo de apropriação
tecnológica do ensino.
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Por meio da internet, constroem-se ambientes colaborativos de aprendizagem, os chamados
Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem (AVEA). Então, em uma experiência como
está em que você se encontra (estudando à distância, com seu computador conectado à
internet), é necessário que você esteja consciente de algumas questões, como veremos nas
próximas seções.
Para que a aprendizagem aconteça de modo efetivo, é preciso ter contato com o novo
conhecimento, reconhecê-lo e explorá-lo. Isto acontece internamente, mas também depende
de estímulos externos. A aprendizagem significativa implica mudança, pois os novos
conhecimentos e as novas habilidades que adquirimos nos levam a ver o mundo com novos
olhos e a adotar novos comportamentos. Mas, atenção: a aprendizagem só acontece quando o
indivíduo está profundamente envolvido e motivado para esse processo.
Habilidades e qualidades Aprender a distância vai exigir de você esforço contínuo em
aquisição de habilidades e qualidades fundamentais para o seu desenvolvimento profissional.
Observe o quadro que segue:
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questões de debate para os seus professores. Anime-se! Dessa forma, você será o
principal agente do seu processo de aprendizagem.
• Conhecer os seus pontos fortes e fracos, qualidades e limitações. Mantenha-se em
constante autoavaliação, estabeleça objetivos e metas realistas, concretas! E nunca
deixe de contar com o apoio dos seus professores.
• Manter e aumentar a autoestima. Reconheça e valorize cada pequena conquista e o
esforço que você fez para atingi-la.
• Relacionar-se com os outros. Participe ativamente de atividades em grupo e busque
relacionar-se com colegas também informalmente, mesmo que somente a distância.
• Ter clareza sobre o que está realmente aprendendo. É preciso que você reflita e analise
o que está sendo estudado, tendo certeza de que entendeu o que já foi visto, antes de
seguir em frente com o estudo de novos conteúdos.
• Lidar com o conteúdo: Defina um plano de estudos e administre as atividades
propostas, adequando a sua realização ao tempo que você possui para se dedicar aos
seus estudos.
• Procure sempre associar a sua aprendizagem à sua prática diária. Como você pode
notar, estudar a distância implica muito comprometimento consigo mesmo, com os
seus propósitos e objetivos. Você, como o principal agente dessa experiência de
aquisição de novos conhecimentos, deve estar sempre atento às suas necessidades e
dificuldades, e em constante processo auto avaliativo. Procure tornar toda essa jornada
a mais prazerosa e enriquecedora possível para você mesmo!
Estilos de aprendizagem
As pessoas encaram os seus momentos de estudo de forma distinta: cada um tem um modo de
se organizar, estudar, aprender e ensinar. São essas peculiaridades que influenciam e
diferenciam o processo de aprendizagem de cada um. Tais particularidades no modo como
estudamos e aprendemos podem estar associadas aos Estilos de Aprendizagem, que são as
diferentes abordagens ou caminhos que cada indivíduo pode traçar para aprender.
Por exemplo, Alonso (1994 apud PORTILHO; TORRES, 2004) define Estilos de
Aprendizagem como os traços cognitivos, afetivos e fisiológicos que servem de indicadores
relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem a seus ambientes
de aprendizagem. A autora defende que existem quatro estilos: o ativo, o reflexivo, o teórico e
o pragmático. Já o psicólogo Howard Gardner, da Universidade de Harvard, em seu livro
Inteligências Múltiplas – A Teoria na Prática (lançado no Brasil em 1995), destaca que os
indivíduos não possuem uma inteligência fixa, mas, pelo menos, sete diferentes modos de
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aprender que podem ser desenvolvidos ao mesmo tempo. Para esse autor, os sete principais
estilos de aprendizagem são:
• Físico: são pessoas inquietas, que raciocinam melhor quando seus corpos estão em
movimento. Interagem melhor com o mundo através do contato manual e corporal, o que lhes
concede boa coordenação motora e habilidade física.
• Intrapessoal: são pessoas solitárias, que se relacionam melhor com o mundo sob uma
ótica independente e através da autorreflexão. Têm um raciocínio lógico muito apurado, são
reflexivos e gostam de escrever e pesquisar (e explorar a internet!).
• Interpessoal: são pessoas que se relacionam melhor com o mundo através de suas
interações com os outros e adoram viver rodeados de gente. Rendem mais trabalhando em
grupos e gostam de ajudar, ouvir e dar opiniões.
• Musical: são pessoas que se relacionam com o mundo através dos sons e ritmos
sonoros e gostam de cantar, interpretar e escrever músicas.
• Visual: são pessoas que se relacionam com o mundo através de pinturas e imagens.
Têm um talento natural para as cores e para harmonização de ambientes.
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Cooperação e colaboração Muitos autores tratam “cooperação” e “colaboração” como
sinônimos, ao contrário de outros, que distinguem amplamente esses dois conceitos. Para
Moraes e Paz-Klava (2005), por exemplo, é de fundamental importância a compreensão das
diferenças entre cooperação e colaboração, sobretudo no que diz respeito a esses dois
conceitos no contexto de formação de uma comunidade virtual de aprendizagem. De acordo
com essas autoras, em termos práticos: » A colaboração é um pressuposto moral, em que o que
mais vale é o fato de cada um estar disposto a ajudar o outro, e o grupo, a crescerem juntos e,
independente daquilo ser valioso ou não, a descoberta é simplesmente dividida com o
parceiro. » A cooperação acontece quando temos que atingir uma meta juntamente a um
parceiro, caracterizando um “trabalho em equipe”, em que a divisão de informações faz parte
do processo.
Desse modo, é possível compreender que “colaboração” significa uma postura de cada
indivíduo diante de outros indivíduos, e a “cooperação” uma estratégia de trabalho.
No entanto, para Roschelle e Teasley (1995 apud BRNA 1998), “o trabalho cooperativo é
realizado através da divisão do trabalho entre os participantes, como uma atividade em que
cada pessoa é responsável por uma porção da solução do problema”. Colaboração envolve,
portanto, o “empenho mútuo dos participantes em um esforço coordenado para juntos
solucionarem o problema”. Maçada e Tijiboy (1997), por sua vez, comentam que » o conceito
de cooperação é mais complexo que o de interação e de colaboração pois além de pressupor
ambos requer relações de respeito mútuo e não hierárquicas entre os envolvidos, uma postura
de tolerância e convivência com as diferenças e um processo de negociação constante.
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ajudá-lo, vamos apresentar algumas estratégias de organização do tempo, do espaço de estudo,
etc., que vão facilitar a sua vida como estudante a distância.
Vejamos algumas dicas e estratégias que podem ajudá-lo a estudar a distância. Leia com
atenção as questões do autodiagnóstico (NORTHEDGE, 1998) apresentadas a seguir e anote
as suas respostas.
Reflita com cuidado sobre suas respostas e conscientize-se de que o tempo é o único recurso
não reciclável que recebemos. Podemos usá-lo apenas uma única vez. Por isso, é de extrema
importância que você saiba utilizar o tempo que tem à sua disposição de forma consciente.
Neste sentido, é fundamental que você:
- Identifique ações importantes e concentre-se nelas;
- Faça uma revisão periódica de valor e determine quais são, de fato, as suas
prioridades; - Discipline-se em relação ao cumprimento de prioridades.
Uma boa dica de leitura para ajudá-los nos seus estudos é o livro de Andrew Northedge, Técnicas para estudar
com sucesso, editado em Florianópolis pela Editora da UFSC, 1998.
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AUTONOMIA
Será que todos nós conseguimos aprender a distância? Este é um questionamento válido
quando está em jogo atitudes individuais como autonomia, disciplina e comprometimento. A
primeira competência exigida ao aluno é a organização. Organizar-se para o alcance de um
objetivo denota responsabilizar-se pela sua atividade, o que significa cumprir a parte que lhe
cabe no processo ensino-aprendizagem, ou seja, ler o material, fazer os exercícios, interagir
nos fóruns de discussão, fazer as avaliações, atividades mínimas que o despertarão para a
construção do conhecimento.
A segunda é disponibilizar tempo para se dedicar aos estudos. O aluno disciplinado irá
reservar de 2 a 3 horas por dia para se desincumbir da tarefa, no horário que mais lhe
interessar, sendo está uma das grandes vantagens da EAD (flexibilidade e liberdade). Mas é
preciso demonstrar persistência e perseverança diante das dificuldades de estudo. O aluno,
neste caso, buscará na sua autonomia, inclusive sendo proativo ao buscar contato com o seu
tutor/professor para elucidar suas dúvidas. E por fim e como consequência, se comprometer
com o que ele escolheu. Comprometer-se significa dedicação, seriedade, cumprimento de
cronograma e disciplina. A alternativa de estudar a distância está posta e apresenta inúmeras
vantagens, mas construir uma autonomia de aprendizado não é algo fácil. Se o aluno não
colocar esta questão em perspectiva, dificilmente terá sucesso em seu processo de
aprendizagem. Para discorrer sobre autonomia tomemos recortes do texto do professor
Antônio Carlos Ribeiro da Silva, professor da Faculdade de Ciências Contábeis - UFBA,
intitulado Educação a Distância e o seu Grande Desafio: o aluno como sujeito de sua própria
aprendizagem, publicado em abril de 2004 na FABAC.
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significativas por si mesmo numa ampla gama de situações e de circunstâncias. Para o
desenvolvimento de uma aprendizagem autônoma, o educador deve, mesmo que seja difícil,
mas se for desejável, assumir uma posição de renúncia ao poder oferecido pelo próprio
“lugar” de professor – aquela posição que permite a alguém controlar outros, no caso, os
alunos.
Galeffi (2002, p. 17) afirma que: “Só se aprende o que se mostra necessário no pensar-se. Só o
necessário pode ser aprendido em seu evento”.
A Segunda questão é de ordem prática e não constitui tarefa difícil de respondê-la, visto que
são inúmeras as vantagens da aprendizagem autônoma para o aluno e o professor. É nesta
concepção que HAIDT (1994:61) afirma que: quando o professor concebe o aluno como um
ser ativo, que formula ideias, desenvolve conceitos e resolve problemas de vida prática através
de sua atividade mental, construindo, assim, seu próprio conhecimento, sua relação
pedagógica muda. Não é mais uma relação unilateral, onde um professor transmite
verbalmente conteúdos já prontos a um aluno passivo que o memorize.
A utilização dessa alternativa é aconselhável, mesmo que alguns admitam a inexistência de
ganhos pedagógicos (o que não concebemos), pois quando você alimenta no outro a
potencialidade de crescimento ele busca sua independência e autoafirmação e a aprendizagem
ocorrerá não de forma dicotômica, distante e distorcida, mas pelo contrário, interligada e
interdependente com todas as relações significativas mantidas com o aluno. A utilização dessa
alternativa é aconselhável, mesmo que alguns admitam a inexistência de ganhos pedagógicos
(o que não concebemos), pois quando você alimenta no outro a potencialidade de crescimento
ele busca sua independência e autoafirmação e a aprendizagem ocorrerá não de forma
dicotômica, distante e distorcida, mas pelo contrário, interligada e interdependente com todas
as relações significativas mantidas com o aluno.
Essas questões nos remete a uma reflexão da necessidade de uma intervenção pedagógica
construtivista propiciando nos educandos condições adequadas para que os esquemas de
conhecimento, construídos pelos alunos, sejam os mais corretos e o professor não deve ficar
na posição de mero transmissor de conhecimentos, pois no EaD esse modelo é obsoleto pois
sua característica básica é a não convencionalidade em relação à sala de aula, das dimensões
espacial e temporal e da relação professor-aluno.
Esse poderia ser um caminho para melhoria do ensino brasileiro. Trabalhar a autonomia do
ato de aprender independente de modalidade de ensino, proporcionar na verdade uma
formação de indivíduos autônomo, crítico e criativo. Um cidadão que não pense de forma
fragmentada, mas de forma global e sistematizada, só assim seremos sujeitos de nossa própria
aprendizagem”.
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Distância. De acordo com a professora, ao longo de um curso, os alunos interagem e
aprendem. Realizam atividades de forma individual e coletiva, apropriando conhecimentos e
realizando trocas. O processo de apropriação (que é individual) é favorecido pela interação e
pela interatividade entre os integrantes do processo (conteúdo, professor, tutor e demais
colegas). É o momento da reflexão, da organização das ideias, da produção.
Na medida em que é externalizado o conhecimento, o aluno se torna coautor (na elaboração
das tarefas, por exemplo). A externalização do conhecimento, seja de forma dialógica, nos
fóruns temáticos, seja nos trabalhos individuais e/ou coletivos, permite que o aluno
desenvolva sua capacidade crítica-reflexiva, condição essencial para o sucesso do aprendizado
em EAD. Esta, é o segundo drive de competência exigida do aluno de EAD. Não basta só
esforço do professor/tutor instigando a participação no debate, mas o aluno deve ter uma
atitude proativa se sensibilizando para a troca de ideias e conhecimento.
Segundo Aretio (1996, apud DUARTE), a idade média do aluno de EAD está na faixa de 25-
50 anos, portanto adultos que decidem por uma educação continuada. São indivíduos que já
têm seus projetos de vida pessoais e sociais bem estabelecidos, e é em relação a eles que
buscam o aprendizado; possuem interesses de adultos: ocupação, bem-estar, ascensão social e
profissional, família e autoestima; normalmente, têm objetivos claros e concretos, valorizados
e atuais de aprendizagem; a motivação para o estudo é espontânea, intensa e persistente; têm
muita vontade de aprender com as situações escolares. Mas, em função do comportamento
psicológico dos jovens adultos e adultos, Aretio (1996 apud DUARTE), ressalta que existem
dificuldades que influenciam na aprendizagem do adulto: a insaciável curiosidade da infância,
por conhecer coisas novas, diminui; a inteligência pode estagnar-se e a memória tende a
diminuir; há decréscimo na rapidez de reação e das atitudes sensoriais e perceptivas; a
aprendizagem tende a ser mais lenta do que em idades anteriores, sobretudo quando se refere à
mudança de hábitos já consolidados; o cansaço e a escassez de tempo para dedicar-se ao
esforço intelectual. Por tanto, o planejamento de um curso EAD deve levar em conta o perfil
de seus estudantes para que a interatividade possa se fazer presente.
Para Resnick (1991, apud DUARTE), a aprendizagem é, antes de tudo, um processo social
em que interações com o outro desempenham papel fundamental. A apresentação de um caso
e sua análise ou a apresentação de um problema para se resolver são, também, estratégias, a
partir das quais o grupo pode analisar conceitos e procedimentos, chegando a situações de
aprendizagem significativas.
Vale a pena lançar mão de Kensky (2003, p.119) a respeito da comunicação no ensino
mediado pelas tecnologias. Acredito que os processos de interação social e de comunicação
são inerentes às atividades de ensinar. Estes processos não terminam ou se deterioram à
medida que uma nova e fenomenal tecnologia surge. Pelo contrário, mesmo com tanto
oferecimento de informações nas redes, com o aumento da velocidade das interações na web,
ainda assim as pessoas se intercomunicam, trocam ideias e informações principalmente pela
fala (linguagem oral) de ensino, é inerente ao ser humano se comunicar. E as novas
tecnologias dissipam a barreira da distância e do tempo para que se promova uma
comunicação (linguagem escrita) muito mais dinâmica. O aluno que põe em perspectiva este
fato estará, por seu turno, abrindo oportunidades maiores para o processo de aprender.
Construção coletiva do conhecimento é ainda extraída de Kensky (2003, p.126) a importância
dos trabalhos colaborativos. Nos cursos semipresenciais e a distância as formas cooperativas e
27
colaborativas de ensino baseadas no ambiente virtual podem ser utilizadas na maioria das
atividades. Buscas temáticas on-line, fóruns, chats e muitos outros trabalhos diferenciados
podem ser feitos tendo como meta a interação e a comunicação entre todos os participantes.
A utilização cada vez mais frequente de trabalhos em grupo via redes foi possibilitada após o
desenvolvimento de vários softwares de produção escrita coletiva, como Wikis e Google docs.
Orientadas pelo princípio da inteligência coletiva (termo criado por Pierre Levy), as atividades
colaborativas de ensino correspondem “a reunião em sinergia dos saberes, das imaginações,
das energias espirituais... de um grupo humano constituído como comunidade virtual”
(KENSKY,2003, p.126 apud LÈVY,1999, p.130). Lendo Kerckhove (KENSKY 2003, p.126),
Kensky acrescenta informações para definir seu conceito de inteligências em conexão. Para o
autor, a inteligência partilhada não é realmente “coletiva”, mas conectada. Para ele, a
convergência do hipertexto, multimídia, realidade virtual, redes neurais etc., está nos nossos
modos de comunicação, entretenimentos e trabalho.
A Internet nos dá acesso a um entorno real, quase orgânico, de milhões de inteligências
humanas perpetuamente trabalhando em algo e em muitas coisas que sempre têm uma
relevância potencial para qualquer um e para todos os outros.
E segundo Kensky, o conceito de webness caminha ao encontro do conceito de aprendizagem
colaborativa. “Nas comunidades virtuais em que vigoram os princípios da aprendizagem
colaborativa, cada membro do grupo é responsável pela sua aprendizagem e a aprendizagem
dos demais participantes” (KENSKY 2003, p.126).
Portanto, o conhecimento é visto como uma construção social e não individual e é por isso
que os ambientes educacionais que propiciam a interação e a colaboração são ricos em
possibilidades de crescimento do grupo. Pesquisadores da Universidade de Évora (Portugal)
que estudaram a aprendizagem colaborativa desenvolveram um quadro comparativo das
principais diferenças entre a aprendizagem tradicional e a aprendizagem colaborativa. A
seguir, um quadro comparativo sobre as duas aprendizagens.
28
Em seguida, Kensky apresenta os elementos básicos de aprendizagem colaborativa de acordo
com a pesquisa de Évora: 1. “A interdependência do grupo. Os alunos, como um grupo, têm
um mesmo objetivo a perseguir e devem trabalhar eficazmente em conjunto para alcançálo.
Primeiro, os alunos são responsáveis pela sua própria aprendizagem (grifo nosso). Segundo,
por facilitar a aprendizagem de todos os membros do grupo. Terceiro, por facilitar a
aprendizagem de alunos de outros grupos.
A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos
e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada
tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento
individual, mas o de todo o grupo social. [...] O homem transita culturalmente mediado pelas
tecnologias que lhe são contemporâneas.
Nas palavras da autora, o avanço das tecnologias interfere no comportamento e nas formas de
relacionamento dos grupos sociais, modificando a cultura. A esse respeito, Gomes (2013, p.
27) corrobora ao afirmar que “[...] essa nova cultura social, que surge em consequência de
transformações tecnológicas, acaba por oportunizar novas formas de comunicação que
moldam a vida ao mesmo tempo em que são moldadas por ela [...]”. Esse novo cenário social,
mediado pelo uso das tecnologias e mídias digitais, nos insere no contexto da cibercultura, a
qual é entendida por Lemos (2010, p. 87; 105) como:
[...] fruto das novas relações sociais a partir da apropriação criativa das novas tecnologias, em
que o receptor também se torna um emissor potencial, propiciando a democratização do
acesso à informação. [...] a cibercultura vai se caracterizar pela formação de uma sociedade
estruturada através de uma conectividade telemática generalizada, ampliando o potencial
comunicativo, proporcionando a troca de informação sob as mais diversas formas,
fomentando agregações sociais.
30
No âmbito educacional a escola vem, lentamente, procurando se inserir nessa nova realidade
tecnológica que se apresenta. Em setores como na medicina e na indústria, podemos observar
que o uso e integração dos recursos tecnológicos às práticas dos profissionais dessas áreas,
acontece de maneira muito mais rápida e articulada. Na educação, são necessárias mudanças
no currículo, bem como na prática dos sujeitos que atuam na escola e, conforme aponta Moran
(2007, p.90):
É claro que ao nos referirmos às tecnologias na escola não estamos entendendo-as, por si só,
como garantia de melhoria na qualidade do ensino, mas pensando nas possibilidades de
aprendizagem que podem ser ampliadas. Ao estar conectada às redes de internet, a escola se
comunica e fica mais sintonizada com as informações disponibilizadas na rede em relação à
sociedade, às questões sociais, culturais, econômicas e políticas do mundo. As tecnologias e
mídias digitais, conforme pontua Kenski (2008), provocam mudanças de comportamentos que
exigem mudanças metodológicas acerca da prática docente. Mas qual é a percepção dos
professores acerca do uso das tecnologias e mídias digitais no contexto escolar? Justificamos
o desenvolvimento deste estudo com base na importância do papel do professor diante da
utilização das tecnologias e mídias digitais na educação.
Acreditando que ele seja parte importante no processo de integração das tecnologias à sala de
aula, buscamos ouvi-lo com o intuito de captar suas percepções sobre o assunto, as quais
podem contribuir para repensar o contexto e ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal da
Educação (SME) no âmbito do uso das tecnologias nas unidades educacionais. Os dados que
serviram de base para o desenvolvimento desta pesquisa foram coletados por meio da
aplicação de um questionário junto aos professores participantes de curso de formação
continuada sobre tecnologias educacionais ofertado aos docentes da Rede Municipal de
Ensino (RME) de Curitiba, o qual foi desenvolvido durante os meses de março a maio de
2015 e contou com a participação de 26 (vinte e seis) professores que atuam nos anos iniciais
do ensino fundamental (1º ao 5º ano). O processo de formação contemplou um total de 40
(quarenta) horas - sendo 24 (vinte e quatro) horas presenciais e 16 (dezesseis) horas a
distância - e abordou a questão das tecnologias e mídias digitais4 na educação sob o viés tanto
do domínio técnico quanto pedagógico por parte dos docentes.
31
Integração das tecnologias e mídias digitais no contexto escolar
Os profissionais da educação vêm, cada vez mais, contando com a presença de tecnologias e
mídias digitais nas escolas, tais como: notebooks educacionais, computadores, internet, lousa
digital, dentre outras. É fato que essa realidade trouxe implicações para a prática pedagógica
deles, haja vista, que estes profissionais precisam buscar uma formação mais consistente para
lidar com esta nova realidade e contemplar esses recursos tecnológicos em suas atividades
diárias, seja por solicitação da equipe pedagógica, da mantenedora ou mesmo dos alunos que,
observando a presença dos recursos em sala de aula, questionam os professores sobre a sua
utilização. Outro aspecto importante é o fato de que vivemos em uma sociedade cuja
tecnologia avança continuamente, não sendo possível retroceder ou desprezar o potencial
pedagógico que as tecnologias e mídias digitais apresentam quando incorporadas à educação.
Conforme defende Castells (1999, p. 37), “[...] é nessa sociedade que vivemos e ela é a que
devemos conhecer se quisermos que nossa ação seja ao mesmo tempo relevante e
responsável”. Relacionando a presença das tecnologias com a prática pedagógica Almeida
(2010, s/p) aponta que: O importante é que o professor tenha oportunidade de reconhecer as
potencialidades pedagógicas das TIC5 e então incorporá-las à sua prática. Nem todas as
tecnologias que surgirem terão potencial. Outras inicialmente podem não ter, mas depois o
quadro muda. Primeiro, é preciso utilizar para si próprio para depois pensar sobre a prática
pedagógica e as contribuições que as TIC podem trazer aos processos de aprendizagem.
Salienta-se que a utilização das tecnologias e mídias digitais pode ocorrer de forma a
potencializar e dinamizar os processos de ensino e aprendizagem.
Por outro lado, lembramos que o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na
educação, por si só, não garante mudanças significativas nos processos educativos. Isso
porque, frente à presença das tecnologias e mídias digitais é necessário que os profissionais
envolvidos no ato de educar revejam suas concepções, metodologias e estratégias de ensino à
luz de uma nova cultura: a cibercultura. A Cibercultura tem desencadeado mudanças no
cotidiano dos cidadãos, nas práticas de letramento, nas transações econômicas, nos processos
de acesso e consumo das informações etc. De acordo com Levy (1999, p. 17): O ciberespaço
[..] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O
termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o
universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam
e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto
de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de
valores que se desenvolvem juntamente ao crescimento do ciberespaço.
Esse processo cultural que se desenvolve e se dissemina suportado na tecnologia digital, tem
colocado à escola e, portanto, aos professores, a necessidade de discutir o processo de
utilização, integração e apropriação das tecnologias e mídias digitais às práticas pedagógicas.
32
diferentes áreas do conhecimento. Em relação à formação continuada de professores é
possível observar a grande dificuldade dos docentes, muito além das questões técnicas, em
utilizar significativamente tais recursos.
Por
meio das etapas demonstradas na Tabela 1 compreendemos que, para ocorrer a apropriação
33
das tecnologias por parte dos professores, há momentos que circundam a prática pedagógica
relacionada à utilização instrumental de tecnologias e mídias digitais e situações em que esses
recursos se constituem como parte do planejamento de ensino do professor.
Em relação à prática docente, Lopes (2005, p. 34) enfatiza que o uso das tecnologias e mídias
digitais exige, por parte do professor, a elaboração de uma nova abordagem teórica, centrada
na valorização do conhecimento e que busque ensinar e aprender a buscar o saber. No intuito
de estabelecer uma relação entre o papel do docente - mediador das relações - e o processo de
ensino, Masetto (2013, p.142) afirma a necessidade de que o professor:
[...] parece haver uma crença, entre alguns responsáveis pelas políticas educacionais, de que as
novas tecnologias da informação e comunicação são uma panaceia para solucionar os males
da educação atual. [...] se, de um lado, pode ser considerado relativamente simples equipar as
escolas com essas tecnologias, de outro, isso exige profissionais que saibam utilizá-las com
eficácia na prática escolar.
Nesse sentido podemos estabelecer relação com a questão do letramento digital. A esse
respeito, Souza (2007) organiza um levantamento das concepções que caracterizam esse termo
e as define por visões “restritas e ampliadas”. A partir das visões restritas, o letramento digital
é denominado com base em uma concepção instrumental, como forma de “usar a tecnologia
digital, ferramentas de comunicação, e/ou redes para acessar, gerenciar, integrar, avaliar e criar
informação para funcionar em uma sociedade de conhecimento”. Também pode ser definido
por “aprendizagem mecânica de aplicações de softwares e hardwares”; bem como usar o
computador para “melhorar a aprendizagem, produtividade e performance”. Ou seja, a partir
dessas visões não são considerados os contextos socioculturais, históricos e políticos que
envolvem o processo do letramento digital (SOUZA, 2007, p. 57). Por sua vez, com base em
visões ampliadas, o letramento digital é entendido como:
34
por meio do computador, sendo capaz de atingir seus objetivos, muitas vezes compartilhados
social e culturalmente. (SOUZA, 2007, p. 60).
35
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM
36
CIBERCULTURA OU CULTURAL DIGITAL
O CIBERESPAÇO
De acordo com Kenway (2001), o ciberespaço é um “lugar” sem cara de lugar e sem
espaço, pois não há em seu interior fronteiras ou corpos, apenas textos e imagens e sons feitos
de bits e bytes; um espaço transnacional, um “lugar” que não tem
os aspectos de espaço, sem fronteiras, representando um lugar de
peregrinação, de andarilho. Este espaço oferece novas relações
entre produtores e consumidores de conhecimentos, pois
permitem aos sujeitos serem não apenas consumidores ativos ou
passivos dos produtos de informação e da cultura global, mas
agentes de seus próprios produtos culturais e distribuidores desses
elementos.
Percebe-se, assim, que o ciberespaço não surge apenas
por conta da digitalização, evolução da informática e suas interfaces, mas da
interconexão de computadores, da disseminação de produtos culturais.
Portanto, a Internet e o ciberespaço oferecem novas relações entre produtores e
consumidores de textos culturais, novas e diferentes formas de relacionamento, novas
identidades culturais e sociais e novas formas de desenvolver e armazenar conhecimento,
indicando, assim, novas possibilidades para as pedagogias transformacionais.
É inegável que vivemos uma época com muitas transformações. Desde a década de
1970 experimentamos um mundo caracterizado por um meio técnico-científico-informacional,
que se distingue dos períodos anteriores da história em virtude da profunda interação da
37
ciência com a técnica. Nesse cenário, a informação assume papel essencial nos processos de
produção, não só de mercadorias, mas também na organização do espaço, exigindo que o
território seja cada vez mais equipado com objetos técnicos que facilitem sua circulação em
redes. Antenas, cabos submarinos e satélites são alguns destes objetos que marcam cada vez
mais a paisagem ao darem origem a redes de comunicação eletrônicas.
Conforme asseguram Malaguti e Nunes (2009), neste contexto de interação entre
técnica e ciência, a implantação das redes de telecomunicações em alguns países por meio da
aproximação entre setores da comunidade acadêmica e governos deu origem às National
Research and Education Networks – NRENs (Redes Nacionais de Ensino e Pesquisa). Tendo
como principal objetivo a integração das comunidades acadêmicas dentro e fora dos seus
respectivos territórios nacionais, as NRENs foram implementadas por meio de modelos e
arranjos institucionais que variaram de acordo com cada país, como a Advanced Research
Projects Agency Network – ARPANET, nos Estados Unidos, que a história registra como o
embrião do que popularmente chamamos de internet.
No Brasil, as primeiras conexões às redes globais de computadores foram
estabelecidas em 1988 com a ativação de um enlace de comunicação do Laboratório Nacional
de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, com a Universidade de Maryland
(EUA), por meio da rede BITNET (sigla de Because It´s Time Network, uma das primeiras
redes de conexão em grande escala), assim como a conexão da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com o Fermi National Laboratory (Fermilab) de
Chicago (EUA).
No ano seguinte, em 1989, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) deu início à
implementação da NREN brasileira lançando, com apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto Rede Nacional de Pesquisa
(RNP).
Dez anos depois da criação do projeto RNP, em 1999, o Ministério da Educação
(MEC), por meio da instituição do Programa Interministerial de Implantação e Manutenção da
RNP, passa a compartilhar os custos da rede com o MCT. Em 2002, a RNP deixa de ser um
projeto e é qualificada como Organização Social (OS), responsável pela prestação de um
serviço de interesse público.
No entanto, a Internet não pode ser considera hoje apenas como equipamentos,
ferramenta de comunicação ou apoio utilitário, mas são meios potenciais de transformação de
práticas pedagógicas, fato esse que nos leva a pensar na concepção de educação e também na
importância do investimento na formação do professor para o desenvolvimento do trabalho
com as TIC, principalmente a Internet, tornando-as como instrumentos de aprendizagem.
A implementação das TIC no sistema educacional, principalmente a conexão de
computadores à Internet, pode tornar o processo de ensino-aprendizagem algo sintonizado
com a vida contemporânea, proporcionando para o aluno a escolha dos próprios caminhos
para ter acesso à informação. As TIC potencializam a difusão dessas informações, que seriam
os nós na rede, formando assim uma teia, onde os conhecimentos são permanentemente
(re)construídos a partir das inter-relações entre os sujeitos que estão ligados à máquina. Ou
seja: o uso dessas tecnologias na educação busca não apenas transmitir a informação, mas
38
tornar o ambiente mais interativo e propício à construção de aprendizagens, a partir da
conexão entre professor-aluno, aluno-aluno.
No entanto, em um programa de educação a distância, os estudos são feitos, na maior
parte do tempo, individualmente, sem a presença de colegas e professores. Essa autonomia de
construção de conhecimento é uma das principais características dessa modalidade de estudo.
São, portanto, bastante diferentes das experiências de cursos presenciais, nos quais o aluno
conta com a mediação constante de um professor. Em um curso a distância, os materiais e o
sistema de apoio tutorial cumprem essa função de mediar a aprendizagem, requerendo um
papel mais ativo e participante do cursista. Essa situação individual tem a vantagem de
permitir ao aluno definir quando vai estudar, onde e quanto tempo vai dedicar a essa tarefa, ou
seja, oferece condições de trabalho bem flexíveis. Porém, para que essa vantagem potencial
não resulte numa prática em desvantagem, é muito importante que o discente esteja ciente da
necessidade de planejar cuidadosamente o tempo que vai dedicar ao estudo e as condições em
que ele vai acontecer. Nesse contexto, planejar o estudo quer dizer organizar com alguns dias
de antecedência as suas sessões de estudo, a que horas, onde e durante quanto tempo vai
estudar. Além disso, é necessária a participação em ambientes virtuais de aprendizagens, para
a troca de interação aluno-aluno e aluno-professor.
REDES E INTERNET
40
Existem redes locais, chamadas de LAN (Local Area Network), que servem para ligar
computadores próximos um aos outros. A ideia de uma rede que pudesse conectar um
computador ao outro surgiu na década de 50. Nessa época, os computadores só conseguiam
desempenhar uma tarefa por vez e os programadores não podiam trabalhar diretamente no
computador, pois esse não apresentava uma velocidade compatível com programações, mas,
sim, trabalhavam manualmente.
Assim, nessa década, começaram as experiências para ver se era possível os
programadores trabalharem ao mesmo tempo no mesmo computador, introduzindo, assim,
uma LAN, que seria a base para a rede Internet.
A Internet é formada por milhares de computadores ligados entre si. Para que possa
existir uma comunicação entre eles, é necessária uma conexão e, para isso, precisa-se de um
provedor de acesso. Provedores são empresas que garantem o acesso de um computador à
Internet. A conexão entre um computador e o restante da rede pode ser feita por uma linha de
telefone, ondas de rádio, cabos, entre outros.
O navegador é um software que permite ao usuário conseguir informações na
Internet. A criação do navegador mudou a história da Internet. Em 1970, a palavra Internet não
existia. A primeira rede chamava-se arpanet e no início reunia apenas quatro universidades
americanas. No entanto, essa rede criou as bases para o que conhecemos hoje como Internet,
nome esse que só começou a ser usado na década de 80. Mas navegar por essa rede nessa
época ainda era difícil e trabalhoso e, para resolver essa problemática, o engenheiro britânico
Timothy John Lee, organizou as informações contidas na Internet, através da criação da web
que, do inglês, significa teia.
As páginas da Internet se ligam uma a outras através de links, que são o ponto de
conexão entre uma página e outra. O link pode ser uma palavra destacada em uma cor
diferente, pode ser um desenho, uma foto ou qualquer outro elemento de uma página web.
A web é uma rede infinita de sites e mais sites sobre todos os assuntos, onde o
usuário “navega”. O primeiro navegador da história da Internet foi criado por Timothy
41
Berners Lee, sendo esse aperfeiçoado 1993, por Marc Andreessen, quando criou o mosaic.
Hoje, existem vários tipos de navegadores, que mantiveram a essência.
Cada máquina conecta à Internet tem um endereço único, o IP, apesar de fazer parte
de uma rede. O IP tem a função de localizar um computador em uma rede.
42
LETRAMENTO E INCLUSÃO DIGITAL
43
Assim, é importante perceber que esses textos constituem-se em elementos abertos e
múltiplos, caracterizado pelo princípio da não-linearidade, interatividade, multicentramento e
virtualidade. Para Lévy (1996), o hipertexto desterritorializa o texto, deixando-o sem
fronteiras nítidas, sem interioridade definível. O texto, assim construído, é dinâmico, está
sempre por se fazer. Isto implica, conforme assegura Koch (2008), por parte do leitor, um
trabalho contínuo de organização, seleção, associação, contextualização de informações e,
consequentemente, de expansão de um texto em outros textos, de um mosaico textual para se
posicionar contra a originalidade radical de qualquer texto e para situar a experiência cultural
comum no compartilhamento dos textos, pois sempre assumimos posição de sujeito individual
(BAZERMAN, 2007). Ou seja: exige que o leitor esteja no centro da leitura e não apenas a
sua margem; exige uma nova postura de leitor (e de escritor), a qual a escola, focada em um
único tipo de letramento, produzindo sentido e significados sobre seus saberes, ainda não
consegue promover.
Esses novos procedimentos de leitura e de escrita de textos devem tramitar na escola
como elemento de integração de linguagens e interação social entre o sujeito local e um
sujeito global, pois todas as alunas e os alunos que fazem parte desta pesquisa evidenciam
identidades múltiplas, saberes diversos, negociam identidades, linguagens, ocupam posições
diferentes na enunciação de seu discurso, reconhecendo contextos e possibilidades
comunicativas. E, por mais que a escola construa uma barreira em relação à leitura e à escrita
de textos virtualizados, o mundo digital entra na vida daqueles que nunca tiveram acesso a
esse conhecimento de forma sistematizada, sejam eles da periferia ou dos bairros centrais da
cidade.
Frade (2007, p. 60) define letramento digital como “a apropriação de uma tecnologia,
quanto ao exercício efetivo das práticas de escrita que circulam no meio digital”. Ribeiro
(2007, p. 125) amplia um pouco mais esse conceito, acrescentando que letramento digital diz
respeito à “maneira como os leitores / usuários se apropriariam dos novos suportes e dos
novos recursos de apresentação para a escrita / leitura”.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/ 96) aponta para a
necessidade de uma alfabetização digital em todos os níveis de ensino da Educação Básica e
do Ensino Superior. Ou seja: cabe à escola o papel socializador do saber tecnológico, pois
assim ocorrendo, na visão de Santos (2009, p. 21), aconteceria “o exercício de democracia
direta em grandes comunidades em situação de mudança e desterritorialização.” No entanto,
essa democratização não se constituiria diretamente em autonomia do sujeito que utiliza esses
recursos (WILLIAMS, 1975, apud SANTOS, 2009), mas pode interferir na concepção
identitária que os sujeitos possuem de si mesmos.
Ribeiro (2007, p. 85) acredita que, com as tecnologias da comunicação e informação,
principalmente a internet, a identidade de um povo deixa de ser algo unitário e cede lugar para
um sujeito coletivo que, aos poucos, interfere nas subjetividades e identidades. “O sujeito é o
elo de uma teia de relações, formando um ecossistema, no qual, sozinho, não é ninguém.” No
entanto, cabe à educação, ao implementar o trabalho com as TIC em suas atividades
cotidianas, considerar as identidades individuais e garantir o respeito à diversidade, sem uma
ideologia homogeneizadora” (Ibidem, p. 85).
Para Kenway (2001, p. 116),
44
Educar os estudantes para o cambiante mundo do trabalho e para o papel das novas
tecnologias deve constituir uma parte importante do currículo, mesmo que isso
signifique conceder atenção a impopulares culturas extraescolares.
Nota-se, assim, que deve-se tornar papel da escola desenvolver habilidades que
permitam que o estudante utilize os meios digitais de forma adequada às suas expectativas
discursivas. Kenway (2001) vai um pouco mais além. Para a autora, “a competência
tecnológica constitui o novo equipamento básico dos educadores”, pois, para ela, “o
computador tornar-se um instrumento indispensável e uma faceta de todo e qualquer local da
prática humana” (Ibidem, p. 117).
Ribeiro (2007, p. 93) destaca que “a educação deve garantir o resgate da identidade e
da autoestima do homem, convertendo-se num instrumento libertário”. E, para ele, a
tecnologia pode ser um instrumento para essa potencialização, pois:
O papel da escola é ensinar a pensar, preparando o aluno para lidar com situações
novas, problematizando, discutindo e tomando decisões. Sobretudo, cabe à educação
resgatar o homem de sua pequenez, ampliando os horizontes, buscando outras
opções, tornando as pessoas mais sensíveis e comunicativas (Ibidem, p. 94).
Para realmente transformar as TIC como ferramenta que evidencie as identidades dos
sujeitos, Teixeira e Santos (2009) acreditam ser necessário redesenhar nas instituições
45
acadêmicas o trabalho com a questão da identidade cultural frente a desterritorialização
promovida pelas mídias digitais, traçando, nesse percurso, as percepções sobre as
hibridizações dos códigos culturais e suas possíveis reconversões, tornando-se, assim, um
vetor para a construção do desenvolvimento local.
Na visão de Kleiman e Vieira (2006, p. 119),
A escola tem papel central na realização das mudanças necessárias às novas
exigências tecnológicas. É fundamental, em qualquer sociedade, que o indivíduo
aprenda nas instituições escolares a se defender, conscientemente e de modo crítico,
das influências nefastas ou não, que atuam por meio das novas práticas discursivas
instituídas pelo uso do computador.
Assim, deve ser dentro da escola – e não alheia a ela – que discussões a respeito da
constituição das identidades do sujeito no mundo mediado pelas tecnologias devem ocorrer,
com o intuito de anular a falta de acesso a esses equipamentos, para que se possa partilhar
democraticamente o poder das modernas tecnologias. Além disso, debaixo do impacto
tecnológico, o sujeito desloca-se do local para o transnacional. Mas, conforme observam
Kleiman e Veira (2006), o local não deve ser preterido pela nova noção de território – que na
verdade é desterritorializada e sem fronteiras –, pois as TIC permitem o desvelamento de
identidades, mesmo essas, muitas vezes, sendo emancipadas. No entanto, as novas tecnologias
não podem (nem devem) gerar sujeitos descompromissados de problemas locais em nome de
um global. E é aí que, mais uma vez, entra a missão da escola: integrar o internauta aos
elementos globais, sem, contudo, permitir a homogeneização discursiva do sujeito virtual que,
devido a essas conexões diárias e velozes, podem aparecer sem ligações explícitas com o seu
contexto cultural e social.
Seguir essa concepção que permeia um intercâmbio entre as atividades culturais e
discursivas do local e do global faz com que os enunciados dos sujeitos se modifiquem e se
expandam, “pois todo e qualquer sujeito faz uso do discurso e como tal será constituído em
qualquer circunstância. O sujeito poderá ser múltiplo, ou único, mas nunca será nulo, zero,
apagado” (KLEIMAN e VIEIRA, 2006, p. 129).
Conforme Ribeiro (2007, p. 96), “a serviço da educação, as novas tecnologias devem
servir como mediação pedagógica a partir de um projeto educativo, num diálogo efetivo com
a realidade.” Assim, o trabalho com as TIC na escola deve potencializar o diálogo entre o
mundo real e o virtual, fornecendo aos sujeitos que as utilizam ou passaram a utilizá-las uma
ferramenta para a leitura de mundo e, em sua escrita, uma possível transformação dos textos e
de realidades que fazem parte do cotidiano desses indivíduos.
46
INCLUSÃO DIGITAL
Mas uma experiência muito significativa de inclusão digital, na esfera escolar, foi a
criação do Programa Escola Aberta, em 2006, pelo governo federal, que tem por objetivo
trabalhar a inclusão digital para a inclusão social por meio de integração escola-comunidade
em contextos populares desfavorecidos. Em relação à inclusão digital nas escolas públicas,
prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB/96, não basta instalar computadores
nas escolas, mas, sim, primeiramente quebrar a barreira de acesso e, depois, manter esse
acesso.
Mas uma pergunta é importante se fazer: a inclusão digital garante a inclusão social
das populações de baixa renda? A inclusão social pode ser compreendida como o acesso e o
exercício dos direitos civis (direito de ter um nome, acesso à justiça, a uma identidade de
referência); direitos políticos (acesso à informação, à liberdade de expressão); direitos
socioeconômicos (acesso a trabalho digno, à saúde, à educação); direito à ecologia e à
diversidade cultural (acesso a um meio ambiente livre de discriminações, desigualdades
sociais, acesso ao reconhecimento das diferenças).
Assim, a inclusão social vai além das questões identitárias e das apropriações das
tecnologias nas atividades do mundo do trabalho. Além do controle das esferas virtuais, é
necessário garantir aos jovens de contextos populares, igualmente, o acesso ao controle das
esferas reais. Ou seja: além de a escola (ou outra instituição social) possibilitar o acesso aos
meios tecnológicos, é necessário garantir a permanência de acesso, para a construção de uma
ciberdemocracia, condição contemporânea para que todos possam ser incluídos socialmente.
49
AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O
ENSINO SUPERIOR
51
basicamente centrado na instrução e no uso do giz e do quadro-negro. O problema é que, nas
escolas, as TDIC ainda são vistas como recursos tecnológicos.
Para mostrar que usa as TDIC, a escola cria o laboratório de informática, onde os
alunos, em geral, desenvolvem atividades desvinculadas ou pouco relacionadas com o que é
abordado em sala de aula, ou usam o laboratório para reforçar conteúdos vistos em sala de
aula. No primeiro caso, por exemplo, podem estar aprendendo sobre informática. O foco, o
objeto de estudo é a própria tecnologia em si. As atividades realizadas nos laboratórios de
informática são voltadas para o ensino de aplicativos, como processador de texto e planilhas, e
de softwares para acessar a informação.
Nesse caso, as TDIC ajudam a manter a imagem da escola, mas atrapalham o
desenvolvimento curricular, pois são empregadas durante um tempo que poderia ser utilizado
para “passar mais conteúdo”. Outro tipo de atividade é o uso das TDIC para reforçar o que é
transmitido em sala de aula. Para tanto, são utilizados os softwares do tipo exercício e prática,
alguns jogos ou os tutoriais. A intenção é usar estes softwares para ajudar o aluno a armazenar
e reter mais conteúdo. Em ambos os casos, as TDIC são tratadas como apêndice do que ocorre
em sala de aula. O que vale é o currículo do lápis e do papel, a instrução que tanto o professor
quanto as TDIC podem transmitir ao aluno.
No entanto, as TDIC são mais do que ferramentas tecnológicas. Weston e Bain
(2010), embasados em estudos de diversos autores, propõem que as TDIC não sejam vistas
como ferramentas tecnológicas, mas como ferramentas cognitivas, capazes de expandir a
capacidade intelectual de seus usuários. É o que acontece quando um engenheiro utiliza
recursos computacionais para calcular a estrutura de uma ponte, por exemplo; ou quando
médicos usam sofisticados sistemas para visualizar partes do corpo, à procura de lesões ou
tumores. Nesses casos, esses profissionais não estão pensando nas tecnologias, mas no
problema sendo resolvido, e em como os resultados fornecidos pelas tecnologias podem
auxiliar nas tomadas de decisão. Algo semelhante acontece mesmo no caso do acesso pleno às
TDIC, por meio do uso dos laptops na situação 1-1. Em geral, esses equipamentos têm sido
utilizados para o acesso imediato à informação, basicamente, em substituição às fontes
impressas de informação, como o livro; para a produção de texto, em grande parte,
substituindo o lápis e o papel; e para armazenar informação, como repositório digital,
substituindo os fichários.
Nenhuma dessas “inovações” está relacionada com alterações do processo de ensinar
e de aprender. Elas simplesmente automatizam velhas práticas (WESTON; BAIN, 2010). A
implantação das TDIC na Educação vai muito mais além do que prover o acesso à tecnologia
e automatizar práticas tradicionais. As TDIC têm de estar inseridas e integradas aos processos
educacionais, agregando valor à atividade que o aluno ou o professor realiza, como ocorre
com a integração das TDIC em outras áreas. No entanto, para que essa integração tecnológica
ocorra, é preciso implantar mudanças em políticas, concepções, valores, crenças, processos e
procedimentos centenários, e que certamente vão necessitar de grande esforço dos educadores
e da sociedade como um todo.
A integração das TDIC nos processos de ensino e aprendizagem vai requerer
alterações na estrutura dos espaços e do tempo da escola, como a implantação de salas de
multiatividades e a flexibilização das tradicionais aulas de 50 minutos e, sobretudo, a
reestruturação do tempo do professor. O professor necessita de tempo para que ele possa se
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organizar para estudar, planejar e dialogar com os alunos em situações que vão além do tempo
e do espaço da sala de aula, o que certamente implica políticas públicas de valorização do
docente. A mudança estrutural implica também alterações conceituais, como repensar as
atividades curriculares, assunto que será discutido no próximo tópico.
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REFERÊNCIAS
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