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SISTEMAS DE SAÚDE NO MUNDO

Iolanda Felipe da Silva Bona


Médica de Família e Comunidade
IESC I
SISTEMAS DE SAÚDE NO MUNDO
• Em todo o mundo, há diversos modelos e tipos de
sistemas de saúde que são adotados pelos países;

• Variam de acordo com a sua política, cultura e


realidade;

• Costumam ter em comum a adoção de medidas para


uniformizar os custos com a verba disponível,
atendendo à população de forma justa, garantindo o
bem-estar e reduzindo o risco de vida.
SISTEMA DE SAÚDE NA ALEMANHA
• É organizado segundo o modelo de seguro social.

• O Seguro Social de Doença alemão é de afiliação


compulsória, financiado solidária e paritariamente
por trabalhadores e empregadores mediante taxas
de contribuições sociais proporcionais aos salários.

• Diferente dos seguros privados, o valor das


contribuições não é escalonado segundo o risco e
independe do estado de saúde, da idade, do sexo ou
do número de dependentes do segurado.
• O Seguro Social de Doença é parte de amplo sistema
de proteção social, que inclui outros quatro ramos:
▫ Seguro social para aposentadorias e pensões;
▫ Seguro desemprego;
▫ Seguro de acidentes de trabalho e;
▫ Seguro social para cuidados de longa duração.

• No setor saúde, o processo de tomada de decisão é


compartilhado entre governo federal, estados e
organizações não diretamente estatais
autorreguladas com funções públicas.
• Uma característica marcante é sua divisão institucional em
setores assistenciais bem separados e entre o financiamento e
a prestação de serviços de saúde.

• Os serviços de saúde pública coletiva (vigilâncias sanitária e


epidemiológica) estão a cargo de órgãos governamentais
federais e estaduais e são financiados com recursos fiscais.

• A atenção individual é financiada pelas Caixas do Seguro


Social de Doença e prestada por prestadores contratados:
▫ Consultórios privados para atenção ambulatorial primária e
especializada;
▫ Hospitais públicos e privados para atenção hospitalar.
• O segurado pode escolher, a cada atendimento,
qualquer médico credenciado, não sendo
obrigatório o encaminhamento pelo generalista
para consulta com especialistas.

• Ou seja, a atenção de primeiro contato pode ser


prestada tanto pelo médico generalista como
pelo médico especialista, não sendo definidos
um primeiro nível de atenção e uma porta de
entrada preferencial.
• Outra característica do sistema de saúde alemão é a estrita
separação entre os setores ambulatorial e hospitalar.

• Os hospitais, em geral, não prestam atenção ambulatorial


especializada, tratando pacientes somente em regime de
internação.

• A maioria dos médicos exerce atividade apenas em um dos


setores: ou trabalha como assalariado em um hospital ou tem
consultório próprio.

• Observa-se uma tendência à especialização, com a redução da


proporção de médicos que trabalham como generalistas.
SISTEMAS DE SAÚDE NA FRANÇA

• Possui um Sistema Universal de Saúde, onde o


seguro de saúde é obrigatório para toda a população.

• É financiado, em grande parte, pelo Estado, através


de um sistema de seguro nacional.

• Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a


França é o país líder na melhoria de cuidados em
saúde em geral, e está em primeiro lugar entre os
dez melhores sistemas de saúde do mundo.
• Os cuidados dos habitantes são prestados por
hospitais públicos, hospitais privados sem fins
lucrativos, hospitais comerciais, além de um grande
setor de atendimento ambulatorial composto por
profissionais independentes.

• O país possui um sistema de coparticipação nos


gastos em saúde, ou seja, após o paciente pagar o
profissional de saúde ou os medicamentos, ele é
reembolsado pelo Estado.

• Os clínicos gerais são responsáveis por encaminhar


o paciente para um especialista ou hospital, quando
necessário.
SISTEMA DE SAÚDE NO CANADÁ
• É definido como um seguro nacional de saúde
financiado a partir de fontes fiscais e de modo
compartilhado entre o governo federal e as
províncias.

• Cada província tem autonomia para estabelecer


prioridades, organizar e gerir os serviços, desde que
respeitados os grandes princípios da Lei federal:
▫ Universalização;
▫ Gestão pública;
▫ Integralidade ou caráter completo da assistência e;
▫ Portabilidade (os direitos são válidos em todo o
território canadense).
• Em âmbito federal, há um Ministério da Saúde que
define grandes diretrizes, acompanha o desempenho
e exerce uma regulação sob províncias.

• A prestação de serviços fica a cargo de prestadores


privados com diversas formas de credenciamentos e
contratos.

• A maior parte dos médicos exerce sua prática em


consultórios, clínicas ou hospitais, sendo
remunerados por serviços prestados.
• Dos hospitais, 95% são instituições sem fins lucrativos
administradas por organizações comunitárias, religiosas ou
autoridades provinciais.

• Há no Canadá uma forte tradição de formar comissões para


enfrentar situações que se tornam problemáticas nos serviços
de saúde. Essas comissões encomendam pesquisas, consultam
grupos de interesses e entregam um relatório que embasa as
decisões da política de saúde a ser adotada.

• Algumas províncias e territórios com populações rurais e em


áreas distantes e isoladas têm dificuldades em fixar
profissionais.

• O número de generalistas é levemente inferir ao de


especialistas.
SISTEMA DE SAÚDE NOS EUA
• Os EUA são o único país rico que não dispõe de um
sistema universal de proteção e cuidados à saúde.

• Seu sistema de saúde é misto com financiamento


público e privado e prestadores dominantemente
privados de caráter lucrativo e filantrópico.

• A maior parte das prestações é intermediada por


terceiras partes pagadoras privadas: os planos e
seguros de saúde.

• As ações de Saúde Pública são da responsabilidade


dos três níveis de governo.
• O Medicaid é um programa conjunto do governo federal e
dos estados destinados aos segmentos de baixa renda
administrado pelos estados segundo um conjunto de normas
federais.

• O governo federal participa do financiamento, cobrindo entre


50-70% dos recursos, com participação menor nos estados
mais ricos e maior nos estados mais pobres.

• Em virtude de sua estrutura descentralizada, os estados têm


razoável discrição para decidir:
▫ Quem é coberto, qual o pacote de benefícios ofertados e quanto é
pago aos prestadores de serviços.

• Além do critério financeiro, para ser coberto pelo Medicaid o


indivíduo deve pertencer a um grupo elegível: crianças,
gestantes, adultos com menores dependentes, pessoas com
incapacidades graves ou idosos.
• O Medicare é um seguro social administrado
pelo Governo Federal e operado por seguradoras
privadas contratadas, destinado ao atendimento
de cidadãos americanos com mais de 65 anos de
idade que tenham ou cujos cônjuges tenham
contribuído por mais de 10 anos.

• Pessoas com menos de 65 anos podem ter


direito ao programa, caso tenham recebido
pagamentos do Seguro Social por Incapacidades
ou sejam portadoras de doença renal em fase
terminal ou esclerose lateral amiotrófica.
• A maior parte dos americanos tem sua atenção à
saúde coberta por planos e seguros privados de
saúde contratados por seus empregadores.

• Esses planos e seguros ofertados constituem um


salário indireto e não estão sujeitos a impostos ou
taxas.

• Podem cobrir apenas o empregado ou incluir seus


dependentes.

• Apenas um quarto das grandes empresas estende a


cobertura para depois da aposentadoria.
• Cerca de 10% da população compra diretamente
seu seguro de saúde.

• Os imigrantes ilegais que ali residem e


trabalham continuam sem cobertura de saúde
no país mais rico do mundo.

• Os EUA caminham de maneira muito particular,


com forte ênfase no mercado de planos de saúde,
para alcançar a universalidade de cobertura de
seus cidadãos.
SISTEMA DE SAÚDE EM CUBA

• A rede assistencial de Cuba apresenta áreas de saúde cobertas


pelo programa Médico da Família — que inspirou a criação da
Estratégia Saúde da Família no Brasil.

• Dados oficiais apontam que mais do 99,1% da população


cubana estão cobertos com médico e enfermeira da família. A
meta é atingir 100% da população.

• A partir dos anos 1960, tomou força a ideia de que o


atendimento médico deveria ser gratuito, o que levou à
criação do Sistema Nacional de Saúde.
▫ A mudança priorizou o atendimento primário, baseado no
médico e na enfermeira da família, implementado a partir de
1984.
• O modelo compreende procedimentos e serviços
de promoção, prevenção, cura e reabilitação,
além da proteção de grupos populacionais
específicos.

• É o programa de ―medicina familiar‖ que orienta


as demais ações.

• Além da revitalização do atendimento


hospitalar, a estratégia diminuiu a demanda de
internações, consultas de urgências e
intervenções cirúrgicas.
• Em Cuba, os maiores índices de mortalidade estão
associados às doenças crônicas não transmissíveis.

• A atenção médica primária é ―a porta de entrada da


saúde‖, cada equipe do Programa Saúde da Família
atende no máximo 250 famílias.

• Seus integrantes residem na área de atuação, em


edificação construída pelo governo, onde também
funciona um consultório.

• Além do médico de família, há um clínico geral de bairro,


os hospitais de zona e os institutos especializados.

• Todo atendimento é gratuito, com exceção dos


medicamentos, que são subsidiados pelo Estado.
SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL
• Antes de 1988, o Brasil não possuía uma política
de saúde.

• A saúde era excludente e contributiva, ou seja,


tinham acesso apenas aqueles que podiam pagar
a medicina privada e quem contribuía com a
previdência social.

• À outra parte da população, cabia o atendimento


nas santas casas de misericórdia.
• O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela
Constituição de 1988, que definiu três grandes
referenciais para o sistema de saúde brasileiro:
▫ O conceito ampliado de saúde;
▫ A saúde como direito do cidadão e dever do Estado e;
▫ A instituição do SUS.

• ―A saúde é um direito de todos e dever do Estado,


garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem reduzir o risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para
sua promoção, proteção e recuperação‖.

• É considerado um dos maiores sistemas de saúde pública


do mundo.
• Esse sistema foi resultado de um intenso
movimento social, que teve como objetivo
construir um sistema universal de saúde para o
país.
Princípios Doutrinários
com vogais
• Universalidade - Todos os cidadãos devem ter acesso aos
serviços de saúde públicos e privados conveniados, em todos
os níveis do sistema de saúde, assegurado por uma rede
hierarquizada de serviços e com tecnologia apropriada para
cada nível.

• Equidade - Em princípio, o acesso aos serviços de saúde deve


ser garantido a toda a população em condições de igualdade,
podendo haver uma discriminação positiva em casos
especiais, em que a prioridade deve ser dada a quem tem mais
necessidades.

• Integralidade – Atender o usuário em todas as demandas,


desde ações preventivas até curativas.
Princípios Organizativos
com consoantes
• Hierarquização e Regionalização - Os serviços de saúde precisam
estar organizados em níveis de complexidade crescente, com
tecnologia adequada para cada nível, potencializando a
resolutividade. A base territorial do serviço no SUS está definida
com adscrição da clientela para um pleno exercício da
responsabilidade do serviço com aquela população.

• Descentralização - No SUS, há uma redistribuição do poder,


repassando competências e instâncias decisórias para esferas mais
próximas à população. Com isso, houve uma redefinição das
atribuições, desconcentrando o poder da União e dos Estados para
os municípios.

• Participação social - Essa diretriz é a garantia dada pelo Estado de


que a sociedade civil organizada tem possibilidade concreta de
influir sobre as políticas públicas de saúde.
• O SUS é financiado com recursos das três esferas de
governo (Municípios, Estados, União).

• É constituído por uma complexa rede de serviços


dividida em dois subsistemas:
▫ Subsistema público - assegurado com impostos e
contribuições de livre acesso.
▫ Subsistema privado - assegurado por pagamento de
seguros e planos de saúde ou pelo desembolso direto.

• O setor público não pode arcar sozinho com todos os


serviços necessários para compor um sistema de
saúde completo. Contratando muitos serviços do
setor privado para trabalhar complementarmente,
dando-se preferência aos de caráter não lucrativo.
Será que existe no país quem nunca
tenha utilizado o SUS?
 Pense no que você fez, em seu dia a dia, nos
últimos 12 meses:

Se foi à farmácia adquirir um medicamento,


vacinou-se, fez uma compra no supermercado ou
foi à padaria, precisou de um procedimento
médico de alta complexidade para você ou algum
familiar, não há dúvida: você usou o SUS.
Competências do SUS
I. Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de
interesse para a saúde e participar da produção de
medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados
e outros insumos;
II. Executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador;
III. Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV. Participar da formulação da política e da execução das ações de
saneamento básico;
V. Incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento
científico e tecnológico e a inovação;
VI. Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de
seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo
humano;
VII. Participar do controle e da fiscalização da produção, do
transporte, da guarda e da utilização de substâncias e de
produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII. Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o
do trabalho.
Referências Bibliográficas
NORONHA, José Carvalho; GIOVANELLA, Lígia; CONNI, Eleonor Minho. Sistemas de Saúde da Alemanha, do
Canadá e dos EUA: uma visão comparada. In: PAIM, Jairnilson Silva; ALMEIDA-FILHO, Naomar de. Saúde
Coletiva: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. Cap. 11, p. 151-172.
LAVOR et al. O SUS que não se vê. Radis, comunicação em saúde. n 104, 2011.
Obrigada!

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