Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
1- CÓDIGO DE ÉTICA 4
2- A PSICOTERAPIA 10
3- AJUDA PSICOLÓGICA 22
REFERÊNCIAS
2
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
INTRODUÇÃO
3
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
1- CÓDIGO DE ÉTICA
Os princípios Éticos contidos neste Código, assim como a evolução técnica que a
FEBRACT alcançou, apresentam expressa relação de gratidão com seus fundadores,
Padre Haroldo Joseph Rahm e Professor Saulo Monte Serrat.
Palavras Iniciais
4
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Desde o ano 2015, a pedido do próprio Padre Haroldo, assim como por força
estatutária, o senhor Luis Roberto Chaim Sdoia, então Vice-Presidente, assumiu a
Presidência da FEBRACT, que por meio da criação do Conselho Deliberativo, ampliou
significativamente a participação de lideranças do Brasil na gestão executiva e técnica
da FEBRACT.
INTRODUÇÃO
O Código de Ética subordina-se às Leis vigente no país, naquilo que lhe for aplicável,
ao Código de Ética da Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas e ao
Estatuto da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas.
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
2 DA COMUNIDADE TERAPÊUTICA
6
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
3 DO ACOLHIDO/RESIDENTE
4 DA EQUIPE TÉCNICA
5 DO SIGILO PROFISSIONAL
6 DAS SANÇÕES
a) Advertência individual.
b) Advertência em boletim da FEBRACT, através de meios de comunicação e
divulgação da FEBRACT, impressos ou eletrônicos.
c) Suspensão provisória da filiação.
d) Desfiliação definitiva.
6.2 O membro da Comunidade Terapêutica filiada que pertencer aos Órgãos Diretivos
da FEBRACT, em caso de infração aos princípios éticos poderá ser:
a) Advertido individualmente.
b) Destituído de seu cargo ou função.
6.3 O membro da Equipe Técnica que cometer infração grave aos princípios éticos
contidos neste Código de Ética, além das sanções impostas pela Comunidade
Terapêutica na qual presta serviços, pode ter cancelado seu Certificado de
Coordenador fornecido no curso da FEBRACT, por meio de comunicação por e-mail
e registro no site da FEBRACT.
8
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
9
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
2- A PSICOTERAPIA
Por ser uma área da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento
para qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem intervenções
psicológicas, cujos objetivos centrais são:
A psicoterapia:
10
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
11
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Efetividade da psicoterapia
12
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
O funcionamento da psicoterapia
Uma vez confirmado o efeito positivo da psicoterapia sobre a saúde mental dos
pacientes, a pesquisa empírica começou a voltar a sua atenção a uma pergunta muito
mais difícil de ser respondida: como, com que mecanismos, é que ela funciona?
13
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Fases da terapia
A terapia em si pode se desenvolver em fases, cada qual com objetivos próprios: [2]
14
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Lembrando que quando se trata de psicoterapia em sua expressão mais genérica não
há que se falar em definição de diagnóstico na fase inicial, ou até em nenhuma fase,
uma vez que muitas vezes o foco do tratamento pode ser simplesmente mitigar um
sofrimento ou um sentimento, auto conhecimento, desenvolver habilidades para se
superar um problema, ou outros, de modo que não se fala em diagnóstico, muito
menos em cura.
15
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
16
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Efeitos da psicoterapia
17
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Tanto os micro como os macroefeitos se podem dar em três níveis: (1) melhora do
bem-estar, (2) modificação dos sintomas e (3) modificação da estrutura da
personalidade. Mudanças na estrutura da personalidade só são possíveis depois de
uma melhora do bem-estar e dos sintomas.[9]
Tipos de psicoterapia
18
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
De acordo com a duração: terapias curtas (ca. 6-15 sessões) e longas (até três ou
mais anos);
De acordo com o setting (contexto): online ou pessoalmente;
De acordo com a delegação do "poder terapêutico": terapias diretivas (power to
the terapist), em que o terapeuta trabalha com apenas um paciente; terapias de
mediação (power to the mediator), em que o auxílio não é direcionado ao paciente
diretamente, mas a pessoas relevantes para ele (pais, parceiro, etc.); grupos de
autoajuda (power to the person), em que pessoas com os mesmos problemas
procuram, juntas, se ajudar mutuamente na superação do problema;
Alguns métodos têm por objetivo mudanças intrapessoais (nas funções psíquicas
do indivíduo), outros têm por fim mudanças em sistemas interpessoais
disfuncionais (pares, famílias, grupos de trabalho…);
De acordo com o fim da terapia: alguns tipos de psicoterapia têm, por fim,
a superação de um problema (problembewältigungsorientiert); outras, objetivam
uma clarificação dos motivos e objetivos pessoais do paciente (motivational-
klärungsorientiert); por fim, outras buscam enfatizar as potencialidades do
paciente, dando atenção mais às partes saudáveis da pessoa.
Ver também psicanálise e psicologia analítica; ou, ainda, Sigmund Freud, Anna
Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott, Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson
19
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Abordagens transteóricas
20
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Ainda não existe uma teoria geral que abarque todas as formas de psicoterapia. A
moderna psicoterapia é um sistema aberto que tem ainda muito a se desenvolver por
meio da pesquisa científica. Um importante papel na pesquisa atual desempenham os
tratamentos voltados para transtornos específicos e não terapias
genéricas.[2] Exemplos de trabalhos transteóricos podem ser encontrados em
diferentes novas abordagens de terceira geração da terapia comportamental bem
como em grupos de pesquisa em diferentes países europeus, entre eles a Suíça.[15]
21
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
3- AJUDA PSICOLÓGICA
5 razões que provam por que todo mundo deveria fazer terapia
Buscar por ajuda psicológica é algo temido por muitas pessoas, que a consideram
uma escolha de “gente maluca”. Na verdade, é bem pelo contrário: a terapia auxilia
qualquer pessoa que deseja ter uma relação mais saudável consigo mesmo e
com outras pessoas ao seu redor.
Quer saber por que você e todo mundo deveria fazer terapia? Acompanhe a leitura!
O que é a terapia?
22
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Logo, o papel do psicólogo é criar uma facilitação para que a pessoa verbalize e tenha
autoconsciência de si mesma. Vale lembrar que sua função não é a de dar conselhos
e sim, percepções e caminhos de acordo com a situação.
1. Livrar-se de dependências
Um dos motivos mais importantes para justificar o porquê de fazer terapia são os
transtornos mentais, como muitas pessoas já conhecem. A terapia é altamente
indicada para tratar tipos diversos de patologias clínicas, como a dependência
23
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
2. Aumentar a autoconfiança
O medo do novo pode levar muitas pessoas a terem uma certa dificuldade de se
adaptarem à novas situações. Uma mudança de cidade ou trabalho pode gerar
grandes inseguranças, que são capazes de se transformarem em angústias,
ansiedades e sofrimento.
Bevilaqua complementa que “O medo pode ser utilizado para sermos mais cautelosos,
porém a medida que ele limite a qualidade de vida de uma pessoa podemos ter um
adoecimento. É fundamental podermos nos aproximar deste limitador e pensarmos:
qual o papel que ele ocupa na minha vida? Para então podermos saber como mudar.”
Ocasiões que têm relação com o luto e com separações, por exemplo, são bastante
delicadas pelo fato de deixarem marcas emocionais em alguém que vivenciou alguma
delas. Perder uma pessoa querida ou se separar de alguém após muitos anos é
geralmente muito doloroso.
24
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Muitas pessoas não conseguem superar esse momento de suas vidas sozinhas. Logo,
um profissional terapêutico pode ajudá-las a seguir com suas vidas e com as
mudanças que virão a surgir. Uma mágoa pode surgir após muito tempo por conta de
um fato que ocorreu anos atrás. Isso pode abalar a vida dessa pessoa, que ao fazer
terapia aprenderá a conviver com a sua própria história e ainda poderá aproveitar
novas possibilidades que surgirem.
Não é preciso ter um motivo bem definido para fazer terapia. Se alguém deseja se
relacionar melhor consigo mesmo ou com outras pessoas, isso já é motivo suficiente
para fazê-la. Muitas pessoas são inseguras em certas áreas da vida, outras são
tímidas e carregam um sentimento de culpa sem motivo aparente.
Ainda segundo a psicóloga Danielle Bevilaqua, “a psicologia tem um nicho que estuda
as habilidades sociais. Podemos ver claramente quais são as habilidades aprendidas,
como falar, andar e correr e quais podemos treinar para que possam nos apoiar em
relações mais saudáveis. Chamamos de Treinamento de Habilidades Sociais,
atrelado ao processo de psicoterapia, sempre que se faz necessário utilizo este
recurso com meus pacientes”.
A saúde mental é responsável pelos resultados daquilo que uma pessoa vive. Se
existe uma ou mais áreas da vida que não vão bem, é bem provável que existam
fatores internos que precisam ser repensados. Estes podem desencadear diversos
sentimentos negativos, como mudanças repentinas de humor, ansiedade e até
distúrbios alimentares.
25
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Depressão
Ansiedade
A vida acelerada e corrida pode causar ansiedade em seus vários momentos. Porém,
quando estes sentimentos começam a ser intensificar pode ocorrer um transtorno de
ansiedade e até levar à síndrome do pânico.
A ansiedade pode ser o problema central de um paciente, mas pode ser mais um
sintoma dentro de seu processo de adoecimento. Pode, por exemplo, aumentar em
26
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Transtornos de humor
Com isso, uma pessoa pode se afastar de pessoas queridas ou se sentir facilmente
distraída. A terapia entra como um fator de controle deste sinal, sendo eficaz para
modificar pensamentos negativos e estimular os positivos.
Distúrbios alimentares
27
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Quando falamos em terapia de grupo, na maioria das vezes, nos vem à cabeça grupos
de atendimentos como os de alcoólicos anônimos (AA), o MADA (Mulheres que amam
demais anônimas) e outros existentes. Portanto, pode-se formar grupos bem
parecidos quanto a sua formação, ou seja, o trabalho realizado com várias pessoas
ao mesmo tempo vai depender de qual modelo e qual objetivo o criador do grupo está
interessado. É possível formar grupos terapêuticos, grupos psicoeducativos e grupos
de autoajuda que é o modelo mais conhecido do grande público. Ao considerar que o
modelo de análise do comportamento no qual a interação entre as ações de um
indivíduo e seu ambiente especialmente o social é muito importante, trabalhar com
grupos terapêuticos parece ser bastante sensato (Banaco, 2008). Um indivíduo
funciona como ambiente social para o outro indivíduo, ou seja, produz mudanças no
responder do outro, e isso se parece com o modelo natural do funcionamento dos
grupos na sociedade.
Então, a terapia de grupo pode ajudar o cliente? De acordo com Yalom (2006), a
psicoterapia em grupo oferece benefícios significativos aos indivíduos, bem como a
28
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Os objetivos do grupo terapêutico têm que ficar claro para cada participante, havendo
a possibilidade de mudança no decorrer do grupo. Vale ressaltar, que assim como na
terapia individual, o sigilo é algo a ser lembrado a fim de favorecer com que os
indivíduos do grupo se sintam à vontade para exporem aquilo que sentem e fazem. A
seleção dos membros para o grupo também é de grande importância. É preciso que
29
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
De acordo com alguns autores, ensinar análise funcional ao cliente é um dos melhores
procedimentos terapêuticos. No grupo terapêutico a história de vida dos diferentes
indivíduos pode ser evidenciada, questionada e utilizada como modelos para novos
repertórios dos participantes do grupo, portanto, torna-se uma oportunidade de o
indivíduo observar e refletir sobre suas próprias habilidades sociais e discriminar seus
comportamentos, utilizando a análise funcional para adquirir autoconhecimento e,
assim, beneficiando-se de suas próprias análises.
Outro ponto importante que deve ser analisado é que ao se propor ser um terapeuta
de grupo, o profissional passa também a ser membro do grupo, com papel diferente,
mas, parte do grupo, só que agora mais exposto, já que é alvo não só de um, mas de
vários clientes. Para se tornar um terapeuta de grupo é preciso ficar atento aos dois
aspectos que influenciam e determinam o seu desempenho: o conhecimento teórico
e seu repertório de vida adquirido ao longo dos anos (Deryk & Sztamfater, 2008). A
habilidade mais importante para quem quer ser um terapeuta de grupo, assim como
na terapia individual, certamente é a audiência não punitiva. Muitas outras
características são necessárias, como tentar favorecer a auto observação e
autoconhecimento, o fornecimento de feedbacks. É preciso também que o terapeuta
tenha uma postura segura para não produzir nos participantes sentimentos
30
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
semelhantes ao que está sendo expressado. Porém, existem habilidades que são
imprescindíveis ao terapeuta que irá conduzir o grupo como saber facilitar a
participação e interação dos membros, fazer com que o grupo mantenha o foco,
mediar conflitos e assegurar que as regras estabelecidas pelo grupo sejam cumpridas.
Apesar de tantos “critérios” para assumir esse papel, na maioria das vezes, o próprio
grupo se reforça, diferencialmente, de maneiras negativa, positivamente, natural e
espontânea. O atendimento em grupo é um processo que torna o cliente ativo e
participante, levando-se em conta que o próprio grupo movimenta o processo.
Vimos até agora como planejar, montar, conduzir, se tornar um terapeuta de grupos,
mas não falamos das dificuldades existentes ou possíveis dentro desse processo. Na
literatura se fala em muitas vantagens e desvantagens do atendimento em grupo e
cita sempre como a única desvantagem a falta de acesso ao conteúdo individual de
cada participante do grupo.
Então é de grande importância haver preparo para lidar com tantos estímulos que o
atendimento em grupo coloca sob – responsabilidade do terapeuta. Preparo técnico e
teórico, habilidade e disposição podem ser a chave para o sucesso dessa modalidade
de atendimento.
Benefícios
A terapia de grupo é uma prática terapêutica ainda pouco difundida e praticada, mas
que apresenta bons resultados e tem ajudado muitas pessoas a superar problemas.
Ela é feita em grupos de no mínimo 4 pessoas que se encontram semanalmente por
aproximadamente 1 hora e 30 minutos para trocar experiências, compartilhar dores e
sofrimentos e procurar apoio em momentos difíceis.
A dificuldade em procurar uma terapia de grupo é a vergonha de expor seus
problemas para outras pessoas.Porém é importante entender que todos que estão ali
presentes estão dispostos a ouvir, apoiar e trocar experiências.
O papel do terapeuta consiste em auxiliá-los com suas questões e garantir a
privacidade do grupo.
Um dos benefícios da terapia de grupo, é estar em contato com pessoas que estão
passando por situações parecidas com as suas.. Através da troca, todos começam a
se sentir mais fortes para enfrentar o problema e passam a vê-lo de uma forma
diferente.
A oportunidade de conhecer e estar em contato com novas pessoas, principalmente
pessoas que podem ter algo em comum com você.
Certeza que está sendo ouvido e compreendido
Muitas pessoas reclamam da dificuldade em poder ser ouvido e compreendido por
32
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Descrição
33
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Estímulo de esperança
Universalidade
Altruísmo
34
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Comportamento imitativo
Aprendizagem interpessoal
Os seres humanos são animais sociais. Nossas vidas são caracterizadas por relações
intensas e persistentes, e grande parte da nossa auto-estima é desenvolvida através
de comentários julgamentos de outras pessoas as quais consideramos importantes.
No entanto, todos nós desenvolvemos distorções na forma como vemos os outros, e
essas distorções podem danificar até mesmo nossos relacionamentos mais
importantes. A terapia de grupo pode proporcionar uma oportunidade para os
membros de melhorar a sua capacidade de se relacionar com os outros e viver uma
vida muito mais gratificante.
A coesão do grupo
35
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Catarse
O que é o Psicodrama?
36
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Além disso, consideramos o trabalho em grupo valioso, pois, como se pode constatar
pela experiência prática, há uma grande força curativa durante estes trabalhos o que
possibilita, muitas vezes, em processos terapêuticos mais profundos e rápidos.
37
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Tais propostas não devem ser consideradas como "... técnicas ou formas
instrumentais de conversar, mas como uma postura filosófica através da qual
buscamos ao mesmo tempo estar informados pelas idéias construcionistas, e
mantermo-nos abertos às condições momentâneas da conversação e ao significado
de certas negociações" (Rasera, 2004, p.56).
38
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Em uma revisão das pesquisas sobre preparação para a terapia de grupo Kaul e
Bednar (1994) apontam a eficácia de diferentes formas de preparação para o grupo.
Contudo, se por um lado, parece haver um consenso quanto à necessidade de realizar
algum tipo de procedimento de preparação para o grupo, por outro lado, resta
compreender como ele contribui para os resultados obtidos. De forma geral, os
estudos avaliados, baseados em um modelo experimental, apresentam uma ênfase
39
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Esta forma de pensar a composição grupal não é orientada por critérios sócio-
demográficos ou diagnósticos privilegiados pelo terapeuta, mas enfatiza a atenção
aos sentidos dados por cada participante às características dos outros.. Trata-se de
um processo de negociação que evita uma definição a priori dos processos de
inclusão/exclusão, bem como da homo/heterogeneidade grupal. Esta passa a ser
entendida como um processo de construção das descrições de si dos participantes,
que se inicia num diálogo com o terapeuta e se desenvolve através da interação ativa
entre os mesmos.
Objetivo
Método
40
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
O Grupo Estudado
O grupo de apoio de curto prazo para pessoas portadoras do HIV aqui estudado teve
como objetivo promover conversas dialógicas que permitissem a construção de outras
formas de viver com HIV. O terapeuta buscou construir uma parceria conversacional
marcada pela reflexão, negociação e co-responsabilização com os outros
participantes. Além de 2 ou 3 sessões individuais de seleção e preparação para o
grupo, o grupo teve 10 sessões grupais semanais de 1h30 de duração, uma conversa
final e uma conversa de seguimento após três meses do término do grupo, com cada
participante. Ele foi composto por 4 participantes e o terapeuta: Pedro, 45 anos, sabia
de sua soropositividade há 9 meses, buscou o grupo para ter com quem conversar,
'colocar suas coisas pra fora' e se sentir melhor; Marina, 53 anos, profissional liberal
de nível superior, sabia-se portadora há 5 meses, e necessitava conversar sobre a
revelação de sua soropositividade para sua família; Tiago, 30 anos, sabia-se portador
há 9 anos, e buscava um jeito mais feliz de viver com HIV; Ricardo, 31 anos, sabia-se
portador há 4 meses, e precisava saber mais sobre a doença, como enfrentar o
preconceito e contar para sua família sobre a soropositividade; e o terapeuta, 29 anos,
psicólogo-pesquisador, há 6 anos atendia pessoas portadoras do HIV, é o primeiro
autor deste artigo.
As Sessões de Preparação
A escolha das sessões de Pedro e Marina se deve ao caráter peculiar das mesmas e
as diferentes tarefas de preparação demandadas. Pedro era um participante que
exigia uma preparação cuidadosa para o grupo: tratava-se de uma pessoa com vários
comportamentos auto-destrutivos, muito deprimido, que não sabia ao certo como sua
42
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
A sessão de preparação de Pedro escolhida para essa análise é a sua terceira sessão
individual, a última antes do início das sessões grupais. Esta sessão de preparação
em específico pode ser entendida como uma conversa de negociação explícita, ou
seja, ambas as partes oferecem suas descrições da situação e então passam a
investigar, uma junto a outra, as possibilidades de barganha, para uma conseqüente
redefinição da situação, suas possibilidades e limites. O primeiro momento da sessão
consiste no acolhimento e investigação de situações recentes ocorridas com Pedro.
Ele conta como tem tido menos dor de cabeça, como tem conversado mais com os
profissionais de saúde e falado menos sobre aids com sua esposa.
Terapeuta: Entendi. Da primeira semana, você falou assim, "Ah, que eu saí daqui,
fiquei pensando, depois entrou a outra semana, já pensou outra coisa. "... O que que
você ficou pensando? Você lembra?
Pedro: Ah, pensando besteira de novo...
Terapeuta: Voltou a pensar besteira? Que tipo de besteira que você voltou a pensar,
Pedro?
Pedro: Ah, mesma besteira que sempre dá. (Tosse) Que, que eu falo, né? Que eu
pego meu, meu (???) de noite, os outro pede pra sarar e eu peço pra Deus me levar
eu embora, só isso aí.
...
Terapeuta: Entendi. É, e a Milene [esposa de Pedro] tá sabendo que você continua
pedindo isso?
Pedro: Não. Num falei mais nada pra ela, não. Eu peço sozinho, quieto, num canto. ...
43
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Pedro: Depende.
Terapeuta: É, e nessas coisas que dependem de você, que que você, é, qual que é a
coisa mínima que você acha que você está disposto a fazer pra ajudar Deus? (SP de
Pedro, pp.1-2)
Nesta conversa, podemos ver como Pedro mudou sua relação com o que era seu
problema. No começo da conversa ele reclamava e pedia a Deus para morrer. Ele
estava em uma posição passiva, esperando pelo desejo divino. Seu próprio desejo de
viver estava ameaçado. É como se toda a sua vida estivesse saturada pelo problema
com nenhuma possibilidade de transformação. Esta posição de Pedro está claramente
baseada em uma narrativa dominante (White & Epston, 1990) sobre o viver com
HIV/aids na qual a pessoa com aids morrerá rapidamente, podendo ser salva apenas
por um milagre, por Deus.
45
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Conversando com Pedro sobre sua postura na sessão naquele momento, o terapeuta
busca construir a oportunidade para que ele fale como era capaz de enfrentar aquelas
dificuldades, promovendo um senso de ação e potência em Pedro. Novamente, ele se
refere ao ''desejo de Deus''. O terapeuta pergunta então sobre o desejo de Deus e
novamente, tentando colocá-lo em uma perspectiva diferente, uma posição mais ativa
em sua relação com Deus, pergunta a ele o que ele poderia fazer para ajudar Deus.
Inicialmente, ele ficou um pouco confuso, dizendo que poderia apenas rezar. A
questão do terapeuta era um convite a ver o mundo de uma maneira diferente. O
terapeuta tenta então ir um passo adiante, abrindo a possibilidade de Pedro pensar
em fazer algo mais. Neste momento, trata-se de colocá-lo em uma posição mais ativa
em relação a seu próprio cuidado e a vida. E então, ele se descreve como alguém que
queria seriamente ajudar Deus e de que ele era um agente importante na decisão
divina.
Esta forma de descrever a relação com Deus e sua relação com sua vida mudou: de
uma posição na qual ele não sabia o que fazer para um entendimento comprometido
de como as coisas dependiam também de sua decisão. Ele não apenas esperava pela
decisão divina sobre sua vida/morte, mas começava a pensar sobre sua
responsabilidade por ela. E então, Pedro e o terapeuta começam a conversar, no
momento seguinte, sobre como ele poderia ajudar a Deus, iniciando pelas coisas mais
simples de serem feitas. Este cuidado em escolher o que fazer também se relaciona
46
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
à construção de ações que possam ser uma evidência de seu potencial e um convite
a outras ações. É uma forma de fortalecer seu senso de ação pessoal.
Conversar sobre Deus e morte pode trazer vários desafios, mas à medida que se
enfatiza os sentidos dados pelo cliente, se aceita seu entendimento, e se conversa
com ele em seus próprios termos, novas possibilidade de vida podem ser
conjuntamente construídas. Esta conversa sobre o que ele poderia fazer para auxiliar
Deus em sua decisão foi a primeira de outras que ocorreram nas sessões do grupo
sobre as suas próprias ações e seu senso de controle sobre sua própria vida - uma
questão muito significativa para muitas pessoas que vivem com HIV/aids.
Esta conversa sobre mudanças ocorridas a partir das duas sessões iniciais combate
uma visão estereotipada das sessões de preparação como algo que existe apenas
para preparar para algo que virá. Não se trata de pensar a conversa sobre o contrato
grupal como uma forma de garantir como as coisas serão. As sessões de preparação
são elas próprias um contexto de negociação e construção de si e do grupo. Neste
sentido, as sessões de preparação não são diferentes de qualquer outra sessão do
processo grupal. A especificidade destas sessões se refere a um tema da conversa
intencionalmente trazido pelo terapeuta como uma forma de promover determinadas
relações entre os participantes consigo próprios e com os outros, inclusive o
terapeuta.
47
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Apesar desta preparação ser uma conversa na qual não havia um roteiro de instruções
sobre o grupo, ela possuía uma intenção geral que fez com que a conversa tivesse
uma certa lógica de funcionamento. Ela se pautava pela construção de um
entendimento comum sobre o que poderia vir a ser o grupo, a identificação de
dificuldades imaginadas no cumprimento do contrato e a exploração de possíveis
formas de solução destas dificuldades. Esta conversa se colocava como uma abertura
para redimensionar determinados organizadores práticos do grupo.
Terapeuta: É, você acha que vai ser fácil você dar a sua opinião e falar das coisas, ou
você acha que não, como que você acha isso, ô Pedro?
Pedro: Bom, quando eu achar que eu devo falar, e eu falo, quando eu ver que num,
48
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
que num, num tem nada que falar eu abaixo minha cabeça, eu fico quieto e deixo os
outros falar.
Terapeuta: É, que situação você acha que não vai dar pra você falar, que você vai ter
que abaixar a cabeça?
Pedro: Hum, depende do meu, se eu converso isso na hora, se tá, se eu estou de
acordo, se eu num estou, pra aí que eu vou falar. Depois que eles falar eu falo. Até
que eles estão conversando, minha cabeça está pensando no que eles estão falando.
Terapeuta: Hum? E, mas depois você vai poder falar, ou você num vai poder falar?
Pedro: Ah, aí depende o, conforme que for eu posso falar ou num posso falar, né?
Terapeuta: O que que faria você não falar? Você imagina numa situação, assim, que
você acha melhor não falar nada? (SP de Pedro, p.17)
Pedro continua a especificar as condições nas quais não expressará sua opinião
claramente, mantendo-se calado frente à conversa dos outros participantes. Se esta
era uma condição que Pedro colocava em suas contribuições, era necessário explorar
como se poderia possibilitar uma forma de participação na qual pudesse expressar
suas opiniões verbalmente, facilitando a conversa entre os participantes. Se por um
lado, processos de reflexão e diálogos internos são parte fundamental do grupo, a
interação verbal constitui uma forma de comunicação entre as pessoas fundamental
ao processo de negociação.
Terapeuta: É, deixa eu te perguntar uma outra coisa: você acha que você seria capaz,
assim, que você, ficaria numa boa, sem ter dor de cabeça, nem nada, se você falasse
para o grupo porque que você acha que a conversa num é boa?
Pedro: Não, mais é, sei lá, né? O que, que eu posso falar, sempre, vou ter que escutar,
ficar escutando primeiro depois eu vou ver, né, sempre vou escutar primeiro, prestar
atenção primeiro, pra depois...
Terapeuta: O Pedro, nessas situações, é, talvez, tenha dois jeitos que a gente pode
agir, né. Se numa conversa que a gente acha que num, a gente pode tanto, falar,
porque que a gente acha que essa conversa não tem que tomar esse caminho e falar..
...
Terapeuta: Entendi, mas então, é, e daí, assim, uma coisa que pode fazer também,
Pedro, é propor um outro assunto, porque senão, se você acha que um tá falando
49
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
palhaçada, o outro fala palhaçada, o outro fala palhaçada, você vai sair daqui falando
"Ah credo, aquele povo lá só fala palhaçada" (SP de Pedro, pp. 17/18).
50
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
A organização desta conversa aponta que à medida que Pedro colocava posições que
não traduziam diretamente a regra de expressar suas opiniões, isto demandava outras
questões, até que fosse possível formular uma alternativa na qual a regra fosse
respeitada bem como seu senso de bem-estar preservado.
51
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Esta apresentação tem por objetivo convidar Pedro a conversar sobre as relações
imaginadas com estas pessoas. Por um lado, a apresentação de Pedro se baseia em
recortes que enfatizam uma conversa sobre descrições soropositivas dos
participantes, produzindo, neste contexto de um grupo de apoio para pessoas
portadoras, recortes já antecipados mas que confirmam um certo modo de olhar e se
descrever os participantes. Por outro lado, estas negociações sobre o contrato e os
participantes têm como base uma postura do terapeuta orientada para o futuro. Este
convite permite explorar as dificuldades antecipadas, impressões iniciais, bem como
aumentar o conjunto de descrições de si em relação aos outros participantes do grupo,
num processo de responsabilização e familiarização com o diferente.
Esta postura se pauta pelo abandono de uma visão de um self essencial e verdadeiro
que se revela nas interações, a qual contra-indicaria este tipo de procedimento que
'contaminaria' as descrições de self dos participantes com os recortes utilizados pelo
terapeuta para sua apresentação, circunscrevendo outras possibilidades de sentido.
Inicialmente, Pedro não se manifesta sobre as pessoas, mas os problemas por elas
vividos. É como se ele não aceitasse o convite a pensar uma relação com estas
pessoas. Sua primeira reação frente a esta apresentação é a de relatar suas respostas
pessoais aos dilemas comuns enfrentados por outros participantes, especificamente
à revelação da condição de soropositividade para familiares e amigos. Mais do que
isso, ao descrever suas posturas Pedro mostra o caráter adequado e necessário das
mesmas, questionando aqueles que não fizeram o mesmo que ele. É curioso observar
que Pedro que não expressa suas opiniões, suas discordâncias, ou oposições,
também pode se apresentar como Pedro que expressa suas opiniões de forma direta
e imediata. Trata-se de um exemplo da construção situacional de si, a partir de uma
mudança no tópico da conversa na sessão.
52
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Terapeuta: Que que você achou dessas coisas que você ouviu?
Pedro: Essas, é o que eu te falei "Oh, cada um acha, que, pensa, eu, eu, sei lá, eu já
assumi, já contei pra todo mundo, que, num adianta eu esconder uma coisa que é
realidade ... Num dianta... (troca de fita) Falei, que eu tenho um problema desse. Eu,
eu escondo de você. Amanhã, depois, você vê eu subindo na cadeira, o sujeito que
nunca viu eu de costas, ele fala assim, ''Desgraçado do Pedro. Ele tinha os po, ele
tinha os problema dele, que amigo que eu sou dele, que ele num teve confiança de
chegar em mim e falar pra mim?''
Terapeuta: É, Pedro, você acha que você consegue por essa tua opinião no grupo?
Pedro: Tá certo.
Terapeuta: Tá?
Pedro: Eu consigo... (Pedro conta como contou para um amigo sobre sua
soropositividade e foi acolhido) Agora, vamos, vamos supor, eu moro, vamos supor,
eu moro com a minha mulher... eu chegava lá no médico, falava assim pra mim, e eu
chegava em casa, eu escondia dela. Eu tava certo? Não, num tava. Eu acho que não,
na minha cabeça eu num tava certo...
Terapeuta: Ô Pedro, você consegue imaginar porque que essas pessoas, têm dois
que num contaram né, que querem conversar sobre isso, porque que esses dois, é,
porque que eles ainda não contaram? Você consegue entender isso?
Pedro: Ah, eu sei lá. É a cisma, a cisma da pessoa ver que a pessoa num, num
compreende ele, né, deve ser isso (SP de Pedro, pp.23-24).
o bem-estar dos outros participantes deve ser buscada. Se através destas sessões,
destas conversas iniciais, se constrói a possibilidade dele estar aberto aos sentidos
trazidos pelo terapeuta, é preciso também criar espaços discursivos para a construção
de sua relação com os outros participantes.
Após este momento, o terapeuta continua a questionar Pedro sobre como imagina
participar de um grupo com estas pessoas. Ele acredita que será fácil pois estão "...
tudo eles no mesmo barco, com, com o mesmo problema. Eu vou achar estranho o
que? Esconder uma coisa deles pra quê? Se nós está tudo no mesmo, na mesma
canoa?" (SP de Pedro, p.24) Através desta fala afirma-se a homogeneidade grupal
para Pedro - o que poucos minutos antes era diferente, agora se torna parecido.
Pedro: ... Eu cheguei, ontem, ontem-ontem, na casa dum amigo meu, que ele tava,
bem, bem pior que eu, desempregado, eu falei, falei, "Eu, eu num posso te ajudar
mas, amanhã vou sair cedo, vou, vou arrumar quem possa te ajudar". E fui no, no cara
que tomava conta de mim... Fui num, no outro, fui na M., no O, um monte, falei "Oh,
fulano lá, que tava com nós, tá assim, assim, assim. Você que pode ajudar ele, eu
num posso". "Não Pedro, nós vai ajudar". E tentei, e tentou resolver o problema dele,
ele ficou contente.
...
Terapeuta: Então, entende como, você fez a sua parte, que era ir avisar os outros...
Então, eu acho que isso, num grupo, é, isso é muito importante Pedro, que é o que?
54
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
No fundo, no fundo, Pedro, todo mundo tem como ajudar. É que as pessoas num
podem ajudar do mesmo jeito, né. Cada um pode ajudar de um jeito. (SP de Pedro,
p.27)
55
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
A reação inicial de Marina, tal como Pedro, não tem a ver com os outros participantes
em si, mas consigo própria. Ela busca confirmar seu entendimento como sendo a
única mulher e ressaltando que ela era a mais velha. Quando a questiono de maneira
aberta sobre a composição grupal, ela faz comentários sobre a possibilidade de ajuda
deste grupo, enfatizando a possibilidade de apoio e ajuda que pode existir no grupo.
No trecho a seguir, esta possibilidade de apoio faz outras diferenças entre os
participantes terem um caráter secundário.
Terapeuta: ... Quais você acha que vão ser? Eu queria saber como que você
imaginaria, tanto quais vão ser as tuas facilidades nesse grupo, é, como, bem como
as dificuldades que você encontraria.
Marina: Ah, eu num penso assim. Eu num devo pensar assim.
...
Marina: Se eu tiver aí dentro e ouvir falar, ''Ah, você é Pedro, eu sou Tiago''. Não vai
funcionar, né? Então eu acho que a, a gente tem que ter, além de querer ajudar, a
dignidade de respeitar, seja ele quem for. É um grupo de 5 pessoas, com dificuldades
56
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
e sofrimento e fim de papo... Pra mim, aqui num tem idéia, num tem, sexo, num tem
nada. É, são pessoas precisando, de uma forma ou de outra, tornar mais fácil, como
lidar com essa doença. Eu acho que isso que é mais importante.
Terapeuta: É, eu achei engraçado na hora, no que eu acabei de falar da composição,
você falou assim, ''Ai, eu sou a única mulher...
Marina: (riso)
Terapeuta: ... e mais velha... (riso)
Marina: Mais velha, ainda... (rindo) Não, eu já sei que eu sou a mais velha, mais tudo
bem...
Terapeuta: É...
Marina: Não, num tem nada. Mais isso também, é pra eu, só nós aí, que tá tudo... E
são, é sexo masculino. Num quer dizer nada. É aquilo que eu falo pra você, ''A partir
do momento que você é soropositivo...'' Ai, foi isso que o doutor P. falava: ''Num
escolhe cor, sexo, profissão''. E a partir do momento que ela existe, são mil reações
diferente, ela é dolorosa, ela machuca. E, e ela que fez isso, num importa. Não, eu só
notei que no grupo é só eu. Mais num tem nada a ver, e, é aquilo que eu falo, ''Aqui
eu num vou ser uma mulher. Eu vou ser uma pessoa com o mesmo problema dele,
né? A mesma dificuldade, tudo, né?'' (SP de Marina, p.24)
Estes movimentos na produção dos sentidos sobre a composição do grupo nos fazem
repensar os chamados critérios de tal composição. Parece que os participantes se
57
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
58
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Talvez porque tendo o terapeuta indicado estes participantes, deve haver uma lógica
para ser assim e manifestar qualquer oposição a isto é questionar o saber do
terapeuta. As inúmeras situações em que Marina utiliza a expressão ''né'' parecem ser
tentativas de buscar a concordância e apoio do terapeuta, buscando sempre monitorar
a aceitação de seus modos de entender sobre o que conversavam. Os
questionamentos em voz alta de Pedro, sobre o que ele iria falar frente aos convites
de negociação, podem também ter este mesmo sentido. A quase ausência de
comentários sobre o contrato quando da primeira sessão do grupo, pode ter um
sentido muito semelhante. Além disso, talvez por perceberem os outros como
precisando de ajuda, questionar a participação de qualquer um deles seria posicionar-
se como uma pessoa cruel. Em ambas as situações, questionando o terapeuta, ou
colocando-se de forma crítica e severa em relação ao outro, o participante pode ter
ameaçado o seu próprio lugar no grupo.
Parece, assim, que o convite a conversar sobre o grupo, refletir sobre possíveis
dificuldades e formas de enfrentar, é produtivo à medida que gera um tipo de relação
entre terapeuta e participante, e deste consigo próprio. Através desta conversa,
entende-se que o próprio grupo pode ser objeto da conversa. Apesar de uma
descrição trazida pelo terapeuta sobre o grupo e o contrato, ela não é completamente
fechada, sendo possível sua negociação. Há uma tensão criativa que faz com que
terapeuta e participantes sejam postos como responsáveis pela relação construída.
Por outro lado, tal convite enfrenta um limite em suas possibilidades de abertura e
negociação, marcado pelos sentidos sobre a divisão institucional dos papéis sociais,
reafirmada pelos participantes durante a sessão de preparação, pela qual, em última
instância, cabe ao terapeuta a responsabilidade de definir quem participa do grupo e
aos participantes serem acolhedores e apoiadores.
59
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
Através desta análise podemos ver que a inserção de um participante implica uma
série de negociações que explicitam o caráter construído do grupo e seus
participantes. Nas quatro negociações aqui analisadas - sobre a participação de
Pedro, sobre o contrato grupal, sobre a relação dele com os outros participantes, na
sessão de preparação de Pedro; e sobre o contrato na sessão de preparação de
Marina - podemos ver um jogo no qual o terapeuta busca definir as formas de
participação e relacionamento no grupo, e o participante se esforça por redefinir tais
descrições do terapeuta. Este processo implica o terapeuta e os participantes em
outras redefinições e acordos.
61
CONSELHEIRO TERAPÊUTICO
REFERÊNCIAS
https://febract.org.br/portal/codigo-de-etica/>acesso em 14/12/2020
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicoterapia>acesso em 14/12/2020
https://www.salario.com.br/profissao/conselheiro-de-dependente-quimico-cbo-
515315/>acesso em 14/12/2020
https://hospitalsantamonica.com.br/5-razoes-que-provam-por-que-todo-mundo-
deveria-fazer-terapia/>acesso em 14/12/2020
https://www.comportese.com/2015/09/terapia-comportamental-de-grupo-e-suas-
peculiaridades>acesso em 14/12/2020
https://www.menteemovimento.com.br/psicoterapia-em-grupo>acesso em
14/12/2020
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722006000100018>acesso em 14/12/2020
62