Você está na página 1de 8

Ensino Superior do Vale do São Francisco – CESVASF

Curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica

JOÃO PEREIRA DE SOUZA

“Herbicidas: Classificação, seletividade e mecanismos de ação”

Disciplina:
Professor: Breno Lima
Período: 9º
Herbicidas: Seletividade e Mecanismos de Ação
Resumo

Este trabalho aborda o tema dos herbicidas, discutindo sua seletividade e mecanismos de
ação. Os herbicidas são produtos químicos amplamente utilizados na agricultura para
controlar o crescimento de plantas espontâneas. A seletividade dos herbicidas é
importante para garantir o controle eficaz das plantas espontâneas sem causar danos
significativos às culturas desejadas. Neste trabalho, serão explorados os principais
mecanismos de ação dos herbicidas, destacando como eles afetam o crescimento e
desenvolvimento das plantas alvo.

Palavras chaves: seletividade, mecanismo de ação, plantas espontâneas, produtos


químicos.

Introdução

Os herbicidas são agentes biológicos ou substâncias químicas utilizados para matar ou


suprimir o crescimento de plantas indesejadas, conhecidas como plantas espontâneas.
Eles são amplamente utilizados na agricultura para garantir a produtividade das culturas,
reduzindo a competição por nutrientes, água e luz solar. No entanto, é essencial que os
herbicidas sejam seletivos, ou seja, capazes de controlar as plantas indesejáveis sem
causar danos significativos às culturas desejadas. Neste trabalho, exploraremos a
seletividade dos herbicidas e os mecanismos pelos quais eles atuam.

1. Seletividade de Herbicidas

A seletividade de herbicidas refere-se à capacidade desses produtos químicos de controlar


o crescimento de plantas espontâneas, ao mesmo tempo em que minimizam os efeitos
prejudiciais nas culturas desejadas. Existem vários fatores que influenciam a seletividade
dos herbicidas, tais como: Estrutura química do herbicida, dosagem aplicada, estágio de
desenvolvimento das plantas espontâneas e das culturas desejadas, tolerância natural das
culturas a determinados herbicidas, momento adequado da aplicação.
Dessa forma, a classificação por seletividade conta com duas categorias principais:

1.1 Herbicidas seletivos

São aqueles que matam ou reprimem o crescimento das plantas daninhas. O efeito das
substâncias não causam efeitos prejudiciais às espécies de interesse além de um nível que
elas não conseguem se recuperar.

Alguns exemplos de herbicidas seletivos são o trifluralin, para o controle crescimento de


gramíneas, e o lactofen, que limita o desenvolvimento de folhas largas.

Nesta classificação, ainda existem subcategorias de seletividade. São elas:

1. Genuína (fisiológica ou biológica): capacidade da planta de metabolizar o


herbicida em compostos pouco ou não tóxicos;
2. Adquirida (transgenia): modificação genética nas plantas que as possibilita
adquirir tolerância a determinado herbicida.
3. Toponômica (de posição): o herbicida não entra em contato com a cultura
cultivada, apenas as sementes ou as plantas daninhas. Isto é possível porque neste
tipo de seletividade, a aplicação do produto acontece diretamente no solo ou nas
plantas daninhas, após o plantio das espécies comerciais. O produto permanecerá
apenas na camada superficial do solo e, dessa forma, não afetará a cultura.

1.2 Herbicidas não-seletivos

No caso dos herbicidas não-seletivos, as substâncias possuem amplo espectro de ação —


ou seja, além de matar as plantas daninhas, os produtos também podem afetar, de forma
severa, a cultura da lavoura.

Sendo assim, outra forma de classificar os herbicidas é quanto às épocas de aplicação.


 Cultura, com a classificação dos herbicidas em dois momentos: pré-plantio e pós-
plantio;
 Plantas daninhas e à cultura, com a divisão em quatro momentos: pré-
emergência e pós-emergência da cultura e pré-emergência e pós-emergência das
plantas daninhas.
Apesar da recomendação específica para uma época de aplicação, há também herbicidas
que podem ser utilizados na pré e pós-emergência.
Quanto a época de aplicação

Pré-plantio (PP)

Nesta época de aplicação, a aplicação dos herbicidas tem o objetivo de dessecar as plantas
daninhas antes do plantio da cultura principal. Dessa forma, a pulverização dos produtos
classificados nesta categoria ocorre após a emergência das culturas infestantes.

Pré-plantio incorporado (PPI)

A aplicação desses herbicidas ocorre diretamente no solo. Por isso, precisam


posteriormente de incorporação mecânica ou por meio de irrigação, para que as
substâncias sejam absorvidas e impeçam o crescimento das culturas infestantes. Como a
utilização desses herbicidas é feita antes dessas espécies se desenvolverem, os produtos
desta época também se enquadram nas categorias de pré-emergência das plantas
daninhas.

Pré-emergência (PRE)

A aplicação destes produtos acontece na época de pré-emergência das plantas daninhas,


mas após a semeadura ou plantio da espécie de interesse. Assim, também são
considerados herbicidas de pós-plantio da cultura. Para a aplicação desses defensivos, é
necessário preparo solo e garantir que há um médio-bom teor de umidade, proveniente da
água da chuva ou de irrigação.No geral, os herbicidas de pré-emergência atuam nos
processos de germinação de sementes ou no crescimento radicular (raiz) das plantas
daninhas.

Pós-emergência (POS)

Neste caso, em que a pulverização ocorre após a emergência das plantas daninhas e o
plantio da cultura, a aplicação do herbicida é voltada à parte foliar das espécies
infestantes. Desse modo, é importante que acultura da lavoura tenha boa tolerância à
exposição direta do produto.
Os herbicidas de pós-emergência ainda podem ser divididos em duas categorias:

 Pós-emergência em área total: são herbicidas seletivos à cultura, de seletividade


genuína ou adquirida, que podem ser aplicados com pulverizador sem proteção na
barra;
 Pós-emergência dirigida: herbicidas não-seletivos, com aplicações nas
entrelinhas da lavoura. Neste caso, a pulverização não necessita de proteção na
barra.
2.Translocação
Nesta classificação, os herbicidas são categorizados quanto à translocação. Este termo
se refere ao modo como ocorre o deslocamento da substância ao interior da planta.
Existem, então, dois tipos de herbicidas de translocação:

2.1 Herbicidas tópicos (ou de contato)

Estes defensivos não se translocam ou, se o fazem, é de forma limitada.

Dessa forma, os danos que os herbicidas tópicos causam às espécies daninhas, como já
denuncia o nome, são apenas nas partes que os produtos entram em contato direto com os
tecidos das plantas. Como a mobilização desses herbicidas na planta é baixa, a
pulverização necessita ter uma boa cobertura. O efeito, no entanto, é rápido e costuma
levar poucas horas.

2.2 Herbicidas sistêmicos

São herbicidas com alta capacidade de translocação dentro da planta daninha. O local de
ação do produto, neste caso, pode ocorrer tanto próximo como longe do local em que o
produto foi aplicado. O deslocamento dos herbicidas sistêmicos pode ocorrer
pelo xilema, tecido que transporta a água (seiva bruta); pelo floema, também um tecido
vegetal, que carrega as substâncias orgânicas (seiva elaborada); ou, ainda, pelos dois.

Antes da aplicação de herbicidas sistêmicos, é importante observar as condições de clima


e umidade do solo, que influenciam no resultado final.

Outro fator a se prestar atenção é a pluviosidade, já que as chuvas logo após a aplicação
podem afetar a translocação de produtos com absorção lenta.
3. Mecanismo de ação

Nesta categoria, a divisão dos herbicidas se baseia na forma como ocorre o primeiro
evento metabólico das plantas após a aplicação do produto — o mecanismo de ação.
Para compreender melhor como ocorre essa classificação, vamos primeiro entender o que
é modo de ação.
Quando falamos em modo de ação, nos referimos ao conjunto de eventos metabólicos
decorrentes da aplicação dos herbicidas na planta.

Ou seja — em outras palavras, o termo diz respeito a todo o comportamento do herbicida


na espécie daninha, desde o momento do contato durante a aplicação até a expressão final
do seu efeito tóxico. Inserido no modo de ação do herbicida está, então, o mecanismo de
ação. Apesar de mais complexa, por envolver um conhecimento mais profundo sobre
química, a característica é uma das preferidas para classificar os herbicidas por envolver
diversos fatores: condições ambientais, seletividade e o próprio comportamento dos
herbicidas nas plantas e no ambiente.

3.1 Grupos e categorias dos herbicidas quanto ao mecanismo de ação

Assim, de acordo com o mecanismo de ação, podemos dividir os herbicidas em dois


grupos principais:

 Enzimático: ação do herbicida ocorre diretamente sobre alguma enzima do


metabolismo da planta;
 Não-enzimático: ocorre sobre algum evento metabólico da planta, mas sem
ligação com uma enzima específica.
A partir delas, podemos especificar ainda mais a classificação dos herbicidas. Confira
abaixo:

3.1.1 Enzimáticos

 ACCase: inibem a ação da enzima acetilcoenzima A carboxilase (ACCase);


 ALS ou AHAS: inibem a ação da enzima acetolactato sintase (ALS) que também
pode receber o nome de acetohidroxi ácido sintase (AHAS), dependendo da
reação;
 Caroteno: inibe duas enzimas, uma conhecida (4-HPPD) e outra ainda
desconhecida. São subdivididos em dois grupos:
 Inibidores da HPPD: inibem a ação da enzima 4-hidroxifenil-piruvato
dioxigenase (4-HPPD);
 Inibidores da síntese de carotenoides com ação em enzima
desconhecida: a ação é semelhante aos herbicidas inibidores da HPPD;
 EPSPs: inibem a ação da enzima 5-enolpiruvil chiquimato-3-fosfato sintase
(EPSPs);
 Glutamina GS: inibem a ação da enzima glutamina sintetase (GS);
 PROTOX (ou PPO): inibem a ação da enzima protoporfirinogênio oxidase
(PROTOX ou PPO)
3.1.2Não-enzimáticos
 Auxina: simula uma auxina sintética e causa um desequilíbrio deste hormônio na
planta, que é responsável pelo crescimento apical da planta.
 Biossíntese de lipídeos (não-ACCase): inibem a síntese de lipídeos, proteínas,
isoprenoides e flavonoides. No entanto, o mecanismo exato de ação não é
conhecid
 Divisão celular: inibem a divisão celular, sendo divididos em dois grupos:
 Inibidores do arranjo de microtúbulos: impedem a formação das fibras
dos microtúbulos e a movimentação dos cromossomos, que resulta na
interrupção da divisão celular na Prófase;
 Inibidores da biossíntese de ácidos graxos de cadeia muito
longa: afetam a síntese proteica e inibem a divisão celular;
 FSI: inibemo transporte de elétrons no fotossistema I;
 FSII: inibem o transporte de elétrons no fotossistema II;

Cada mecanismo de ação dos herbicidas dá origem a produtos químicos específicos que
são selecionados e aplicados de acordo com o tipo de planta daninha a ser controlada.

4. Conclusão

Os herbicidas desempenham um papel importante no controle de plantas daninhas na


agricultura. A seletividade dos herbicidas é fundamental para garantir o controle eficaz
das plantas indesejadas sem prejudicar as culturas desejadas. Os diferentes mecanismos
de ação dos herbicidas permitem que eles atuem de maneiras diferentes no controle das
plantas daninhas. A compreensão desses mecanismos e a escolha correta dos herbicidas
são fundamentais para o sucesso da implementação desses produtos químicos na
agricultura.

5. Referências

SILVA, P. S. L. et al. Number and time of weeding effects on maize grain yield. Revista
Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v. 3, n. 2, p. 204-213, 2023. TAKEITI, C. Y.
Cereais e grãos. Disponível em: . Acesso em: 05 dez. 2023. VOLPE, André Bosch;
DONADON, Caio César; VERDE, Diogo de Almeida. Manejo de plantas daninhas na
cultura do milho (Zea mays L.). Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, 2011. ZAMBOLIM, L.; ZUPPI DA CONCEIÇÃO, M.; SANTIAGO, T.O. O
que os engenheiros agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos
fitossanitários. Viçosa: UFV. 2023, 376 p. ZULALIAN, J.

Você também pode gostar