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ESCUTA PSICANALÍTICA: ESCUTANDO Docente: Dra.

Ana Celina Pires

AS AÇÕES S A L M A N A K H A T A R , C A P. 3
de Campos Guimarães
“ESCUTANDO” AS AÇÕES
Comunicação não verbal

“acting in”

“enactment”
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - COMUNICAÇÃO NÃO
VERBAL
As associações do paciente, verbais e não verbais, revelam e reconstrói as narrativas
inconscientes que contribuem para seu sofrimento!

Neste capítulo aborda o valor comunicativo do comportamento (somado à


comunicação verbal e não verbal dos silêncios e atos).

A comunicação não verbal traz informações importantes acerca do mundo interno do


paciente.

Essa comunicação é estudada desde os primórdios da psicanálise.


“ESCUTANDO” AS AÇÕES - COMUNICAÇÃO NÃO
VERBAL
Expressões faciais, aparência e ações do paciente durante a sessão.

Abrir e fechar a porta

Maneira como senta ou deita

O que faz, pega e mexe durante a sessão


“ESCUTANDO” AS AÇÕES - COMUNICAÇÃO NÃO
VERBAL
Considerando que as comunicações vão além da comunicação verbal é muito
importante “escutar as ações. Bion (1962) nos fala de “terror sem nome”, vivências
muito primitivas.
O paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela
atuação...Ele reproduz não como lembrança, mas como ação.” Sigmund Freud (1914, p.190)
vivências muito traumáticas.
Analistas pioneiros pós Freud continuaram estudando a importância da comunicação via ação.
Reich (1933) armadura de caráter – rigidez dos paranoides, graça dos histéricos, inacessibilidade dos narcisistas.
Deutsch (1952)”posturologia analítica” relação do que falava e como estavam deitados no divã.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - COMUNICAÇÃO NÃO
VERBAL
Duas década mais tarde, Arlow (citado em Suslick, 1969) categorizou os
comportamentos não verbais na situação analítica em quatro tipos:
1- ações que servem como pontuações no material verbal,
2- ações que desempenham a função de um glossário e explicam a comunicação
verbal,
3- ações que servem como notas de rodapé e ampliam o alcance das palavras
faladas,
4- ações que são erupções automáticas de atividade mental dissociada.
Ex: cutucar a cutícula, esfregar pontas dos dedos, tocar a boca, coçar os olhos, cruzar
as pernas, etc...
REPETIR, RECORDAR E ELABORAR (1914G, P.150)
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

O paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o
pela atuação (acting it, acting out). Ele o reproduz não como lembrança, mas como
ação; repete-o, sem, naturalmente, saber que o está repetindo. Por exemplo, o
paciente não diz que recorda que costumava ser desafiador e crítico em relação à
autoridade dos pais; em vez disso, comporta-se dessa maneira para o médico.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – ACTING IN
Meyer Zeligs (1957) traz o conceito de acting in para diferenciar de acting out
São atos inconscientes ATUAÇÕES
Nas etapas precoces do desenvolvimento psíquico não existe ainda uma linguagem verbal
articulada, e, muitas vezes, não vamos encontrar palavras que deem conta, suficientemente, das
sensações e sentimentos para compor uma interpretação transferencial. A palavra se mostra, pois,
insuficiente, sendo o ato a única maneira de expressão possível ao paciente em determinado
momento do processo e de acordo, também, com o momento em que se encontra a dupla ou a
interação dos dois psiquismos. Sendo assim, o acting fica definido como uma ação feita no lugar
do pensamento.
Ocorrem por repressão do trauma (repetir, recordar e elaborar- Freud)
Ou pela vivencia ter sido anterior à aquisição da linguagem (aspectos muitos primitivos – terror
sem nome- Bion, 1962) sensação de vazio e desamparo, sem saber bem os motivos. Sensações
absorvidas entre zero e cinco anos. Não nomeadas e jogadas no inconsciente. Dores!!
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – ACTING IN
acting out – atuações fora da sessão
acting in – atuações dentro da sessão – movimentos corporais, fantasias primitivas de
memórias reprimidas, algo é colocado em ação ao invés de palavras.
Deste modo, o acting in pode ser uma forma de resistência ou a única possibilidade
de comunicação (períodos pré-verbais sem representação psíquica)
Importante “escutar o valor comunicativo do “acting in”
Zeligs (1960) considerou “acting in” como ponto médio entre o “acting out” e a
associação livre.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – ACTING IN
No acting o sujeito passa de uma representação, de uma tendência, ao ato
propriamente dito ou à dramatização e encenação de conflitos primitivos dos quais
não se lembra e que, para não lembrar, atua ou recria as questões primitivas
dolorosas, estando elas tecnicamente referidas à transferência.
Tais expressões são veiculadas fortemente pela identificação projetiva em pacientes
cuja capacidade ainda está limitada por ansiedades persecutórias primitivas ou,
mais gravemente, por aqueles instalados no que John Steiner (2000) conceitua
como organizações patológicas em estruturas limítrofes.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – “ENACTMENT”
As realidades psíquicas encenadas no acting e no enactment estão intimamente
relacionadas, numa tessitura que é inconsciente e ainda indizível por ser de natureza
pré-verbal. A palavra, portanto, mostra-se insuficiente e não alcança conter
sensações e percepções dolorosas, estas precisando ser expressas através
de atuações e recriações no setting analítico.
Comunicação não verbal – acting in – enactment
Nesse cenário pré-verbal e verbal, recriam-se as questões primitivas e as dores
psíquicas que deverão ser revividas e sentidas pela dupla para que ocorra
tratamento, sendo as fantasias inconscientes, conceito tradicional de Susan Isaacs
(1949), os elementos nucleares da realidade psíquica que constituem o cerne das
noções de acting e, mais recentemente, de enactment.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – “ENACTMENT”
Duas perspectivas:
1- colocar as fantasias em ações ao invés de em palavras. Uma forma de
descrever o acting in de Zelig (1957). Vive sozinho essa fantasias
2- quando o paciente inconscientemente induz o analista a viver no setting sua
fantasia transferencial. Vivenciada pela dupla. Contratransferência fica muito
intensa.
As "falhas" do analista quando se engana em relação a horários, esquece de
alguma sessão, troca nomes, usa tom de voz sedutor, impaciente, irônico etc.
Essas situações se tornavam produtivas quando a dupla as reconhecia e
discutia, Cassorla (1985).
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – “ENACTMENT”
Retomando, então, a partir dos anos 80, surge o conceito
de enactment ou recriação ou realidade psíquica em cena, entendido como um suceder
de vivências não suficientemente contidas pela palavra, ora confusionantes, ora
ainda inconscientes, da dupla paciente-terapeuta (Boesky, 2000; Cassorla, 2001;
Steiner, 2000; Tuckett, 2000).
Anteriormente, Bion (1959) já enfatizara que o afastamento da realidade é uma
ilusão, não um fato, e emerge da identificação projetiva, sendo de tal maneira
predominante no funcionamento psíquico dos pacientes, que parece não ser fantasia,
mas fato.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES – ACTING IN E
ENACTMENT
Tanto o acting quanto o enactment são integrantes fundamentais e inevitáveis do
processo analítico e auxiliam positivamente o andamento do tratamento de pacientes
portadores de patologias limite, apesar de, muitas vezes, serem de difícil
compreensão e, aparentemente, negativos para o processo.
Contudo, os fenômenos que poderiam ser entendidos como prejudiciais ao
tratamento, dependendo do encaminhamento técnico são positivos e úteis para o
desenvolvimento das terapias de referencial psicanalítico (Sandler, 1987; Limentani,
1969, 1981; Britton, 1999; Steiner, 2000).
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - “ENACTMENT”
Processos de simbolização em áreas primitivas, organizações defensivas patológicas e comunicação
inconsciente entre os membros da dupla analítica.
Enactment crônico aos conluios duais.
Enactment agudo às situações em que esses conluios são desfeitos.

Ainda candidato, na década de 1980, atendia K, uma sofrida jovem. Durante as sessões me sentia
invadido por queixas e lamentações que, inicialmente, se referiam a sintomas corporais e à busca desesperada
de tratamentos médicos, depois substituídos por queixas em relação a pessoas significativas incompreensivas.
Tentava compreender o que havia para além das lamentações, com pobres resultados. Minhas
intervenções eram atacadas ou desvitalizadas. Sentia-me frente a uma espécie de muro protegido por
metralhadoras que me fuzilavam. Percebia minha impotência e K se queixava dela também. No entanto, havia
momentos em que K parecia aproveitar o trabalho analítico.

(CASSORLA, 2013)
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - “ENACTMENT”
Em determinado momento me surpreendi dando um soco no braço da cadeira
enquanto interrompia K dizendo-lhe que ela não me escutava e não me deixava
falar. Senti-me perplexo e assustado ao ouvir o barulho do soco e a irritação em
minha voz.
K assinalou, ironicamente, que eu havia ficado nervoso. Mais controlado, lhe disse
que sim, ela tinha razão, eu era humano. E acrescentei: "ainda bem que você tem um
analista que fica nervoso, e que se não fosse isso eu estaria com medo de você e
você não teria analista". A sessão terminou em seguida, sem condições para
conversarmos sobre o que havia ocorrido.
Quando K saiu me senti envergonhado e culpado. Estava certo que minha função
analítica havia sido destruída e que havia maltratado K. Receava que ela não mais
voltasse. E tratava-se da paciente escolhida para minha primeira supervisão oficial...
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - “ENACTMENT”
Mesmo perturbado pude imaginar o que ocorrera. K havia projetado elementos não
pensáveis dentro de mim que, em forma complementar, se "engancharam" a aspectos meus
não suficientemente elaborados. Considerava-me responsável pela situação e não tinha
clareza sobre os aspectos de minha contratransferência que haviam sido "atuados". Essa
situação seria nomeada, anos após, enactment agudo.
No dia seguinte, me surpreendo com K chegando à sessão. Minha satisfação inicial foi
seguida de apreensão. Tinha certeza que K se vingaria. Mas ela estava calma, suas
associações eram produtivas, eu me senti analiticamente potente. A sessão foi satisfatória,
como há muito não ocorria.
Nas sessões seguintes minha surpresa aumentou. K, emocionada, lembrou-se de situações
traumáticas ocorridas durante sua vida, envolvendo separações, abandonos e intrusões. Essas
lembranças foram estimuladas pela situação descrita com a qual se articularam. Sua
ressignificação somada a construções hipotéticas ampliou a rede simbólica do pensamento1.
“ESCUTANDO” AS AÇÕES - “ENACTMENT”
A surpresa, ainda que agradável, me intrigou. Desde então venho me dedicando a sua
compreensão. Parti de conceitos que me pareciam próximos, tais como contratransferência
complementar, identificação projetiva massiva, contraidentificação projetiva, atualizações,
tela beta e outras formas de comunicação primitiva. O primeiro trabalho, apresentado na
SBPSP em 1985, foi publicado 10 anos após (Cassorla, 1995).
Revendo a situação fui capaz de perceber que o enactment agudo (o soco na cadeira) se
seguiu a um conluio dual de violência e submissão mútuas que havia tomado, antes, o campo
analítico (enactment crônico). K me atacava e eu me submetia a esses ataques, sem dar-me
conta suficiente do fato. Minha paciência parecia masoquista. Por outro lado, eu submetia K à
impotência de minha função analítica. Ambos os membros da dupla analítica se sentiam
prolongamento um do outro (Cassorla, 1997). Tempos depois chamaria esse conluio enactment
crônico. Percebi, também, que o enactment agudo indica a liberação do analista do conluio
dual. O paciente entra em contato com o fato de que o analista é outra
pessoa. (CASSORLA, 2013)
ESCUTAR AS AÇÕES EM DIFERENTES MOMENTOS
Enquanto organiza a primeira sessão,
Quando o paciente chega para a primeira sessão,
Durante a consulta inicial,
Durante a fase intermediária da análise,
Durante a fase de término da análise.
ENQUANTO ORGANIZA A PRIMEIRA SESSÃO

Como foi feito o contato?


As palavras faladas nesse momento adquirem status de ações e essas ações
precisam ser escutadas...
ex p.109 vinheta clínica 5
(pergunta por duas vezes, no telefonema se o prédio do consultório tinha um nome –
tinha número. Ao chegar deu seu nome completo. Depois relata que não é o mais
velho e tem o nome do pai. Seu irmão mais velho tem uma deficiência e não tem o
nome do pai. Elementos para interpretação no primeiro contato).
QUANDO O PACIENTE CHEGA PARA A PRIMEIRA
SESSÃO
A comunicação comportamental do paciente fica mais “alta” quando o mesmo chega,
de fato, para a consulta. As roupas contam uma história a respeito dele. Atrasos na
chegada, confusões acerca do horário da consulta, comentários iniciais, etc...
Ex p.111 Vinheta clínica 6, 7
v.6- errou o endereço, errou o dia – dois enactments antes da consulta formal. Já se
sentindo “abusada”. Brava. Relata abandono do pai quando tinha cinco anos –
apegada. Tem raiva dos homens. Mãe casou – 8 anos e foi abusada pelo padrasto
até 13 anos. Primeira vez procurava e não achava o prédio, segunda vez abusada
por chegar e não ter consulta – errou o dia. Colocou no local do pai e do padrasto,
antes de poder começar na terceira sessão. Chorou e contou sua angustiante história.
v.7 – revista, medo do vínculo, inacessível nas relações.
DURANTE A CONSULTA INICIAL
A comunicação via comportamento não cessa quando o paciente entra no consultório
e senta-se no local designado.
Ex p.115 Vinheta clínica 8 e 9
v. 8- estudante com problemas disciplinares. Roupa casual, senta e tira um maço de
cigarro do bolso da calça e um isqueiro um pouco sujo. Coloca na mesinha entre ele e
o analista. Professores consideram-no provocativo. Interpretou e respondeu touché
v.9 – enfermeira de origem iraniana, usando vestido revelador. Pé perto do meu.
Abuso sexual pelo seu pai. Retira o pé e interpreta o desconforto com uma
proximidade não desejável para mim, para eu saber como se sentia na infância e
testando se era seguro estar ali comigo. Sentou mais reta, chorou e contou muitos
abusos e dois estupros na idade adulta.
Nos dois casos, estavam tentando comunicar algo através da ação. Aguardou para ver
como isso desdobraria. Não respondeu com uma contra atuação. Fez comentário
interpretativo gentil somente após esses indícios ficarem claro na comunicação verbal.
Isso aumentou a aliança terapêutica.
DURANTE A FASE INICIAL DO TRATAMENTO
A tendência de comunicar sentimentos através de ações geralmente se intensifica quando
um paciente desiste de sentar e começa a deitar-se no divã. A consequente perda do
contato visual amplia a distância do analista.
Importante estar ciente disso sobre os estados afetivos, das capacidades egoicas do
paciente e das estratégias defensivas mobilizadas pelo paciente para compensar essa
distância ampliada entre eles.
Falar rapidamente, incessantemente, encolher-se no divã, falar muito baixinho, etc.. São
ações que revelam a ansiedade decorrente desse aumento da distância. Mantidas na
mente e não necessariamente interpretadas.
Ex p. 119 Vinheta clínica 10, 11, 12, 13
v.10 deita no divã com parte do rosto visível. Sente impelido a olhar para o rosto dela,
curiosidade e ansiedade. Relata super estimulação na infância por ficar exposta a nudez
parental.
V.11 enfermeira, 36 anos. Ansiosa por seu relacionamento estar aprofundando. Medo de
perder e se machucar. Abusada pelo tio e a mãe não acreditou. Deitava no divã e
mantinha um pé para fora, no chão. Leva um presente após poucas semanas de análise.
v.12 oferece uma sacola cheia de maças. Recusou e analisaram juntos esse comportamento
P.121
V.13 médico de 50 anos, na saída parava na porta e anunciava o dia e a hora do
próximo encontro. Tom questionador. Como um gancho que fazia acenar com a cabeça,
mesmo não querendo. p. 122
DURANTE A FASE INTERMEDIÁRIA DA ANÁLISE
Inclui tudo que acontece no final da “fase inicial” e o estabelecimento da “fase de término”
Conforme a transferência se aprofunda e a regressão se estabelece, cenários terríveis criados por fantasias
infantis adentram a consciência. Aumento de ansiedade, aumento da repressão, negação e atuação.
Ex p. 125 Vinheta clínica 14, 15, 16,17
V.14 jovem borderline, magra temerosa, carente. Análise cinco vezes por semana. Medo de sobrecarregar o A.
e grata pela atenção. Períodos em que precisava de mais. Criança rejeição materna e sem contato físico.
Revela que descobriu o endereço do A. e passa para ver a casa.*
V.15 mãe com comportamentos maldosos. Pergunta da mãe fica paralisada. Analisado isso semelhante a sua
relação com a mãe.
V.16 empresária que se deixava explorar. Pais sobreviventes do holocausto.Faltas na sessão *
V.17 advogada, setenta anos.., câncer , sozinha. Brincava com os objetos. Não interpretou.
Nesta fase importante um continente seguro e uma desconstrução interpretativa rigorosa.
Contudo nem tudo deve ser submetido a interpretação. Deve selecionar e escolher. Exemplo Vinheta 17
DURANTE A FASE DE TÉRMINO DA ANÁLISE
Diminuição das pressões transferenciais e a ascendência do ego, se estabelece o terreno para o término.
Melhora da modulação afetiva, substituição de defesas primitivas por defesas mais maduras, a cessação de
sonhos repetitivos e a capacidade aprimorada para elações objetais.
Aumento da capacidade egoica de sublimação e controle de impulsos.
Não ocorre grandes enactments.
A comunicação não verbal mantém-se em cena e pode demandar atenção. O frequente reaparecimento dos
sintomas durante essa fase também pode fundamentar situações significativas de “acting in”
Ex: p. 133 vinheta clínica 18
Conflito com figuras de autoridade e instabilidade de sua situação profissional. Exigia dos superiores
excelência e se considerava-se confiável e exigente. Padrão de idealização-decepção em relação ao pai que
prometia gratificações e não entregava. Expectativas estimulas e frustradas. Também vinha na transferência.
Interpretações traziam lembranças do seu pai. No último mês da análise errou o cheque 2.800 para 28.000.
o analista ficou feliz e desiludido como o pequeno Charles, em relação ao seu pai. Trouxe a questão na outra
sessão, inverteu a situação, via enactment, uma identificação com seu pai bombástico.
Foi possível interpretar esse enactment, pois foi repetidamente elaborado nas fases precedentes da análise.
O presente discutido na sessão anterior ao término, representou um enactment transferencial e gratidão genuína
do “relacionamento real com o analista”.
OBSERVAÇÕES FINAIS
Ação e palavra estão juntas. Contudo as ações podem muitas vezes falar mais que as
palavras
O paciente está sempre atuando. Observar comportamento incomum e bizarro, ameaça
de quebrar a estrutura terapêutica (faltas, violência, etc), o comportamento é o único
dado disponível quando persiste em ficar em silêncio.
O significado de tais comportamentos que podem ser discernidos e comunicados ao
paciente variam de acordo com a fase do tratamento.
Fase inicial – só chamar sua atenção gentilmente e ampliar a narrativa, comportamento
extratransferencial. Se houver resistência pode ser necessário uma interpretação.
Com o caminhar do processo pode fazer observações mais profundas e revelar os
aspectos transferenciais destas ações. A reconstrução das raízes infantis de tais ações
passa a ser possível.
Essas manobras são resultantes de intuição e não de estratégia técnica (Jacobs, 1991)
Nem todas as ações devem ser interpretadas. Muitas devem ser percebidas em silêncio...
Diferenças entre analistas influenciam a leitura da “escuta”
Importante ter em vista a dupla analítica e a rêverie do analista.
REFERENCIAS

AKHTAR, Salman. Escuta Psicanalítica: metodos, limites e inovações. São Paulo: Blucher,
2016.
CASSORLA, Roosevelt M.S.. Afinal, o que é esse tal enactment?. J. psicanal., São
Paulo, v.46, n.85, p.183-198, jun.2013. Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
58352013000200017&Ing=pt&nrm=iso>. Acessos em 9 maio 2023.
GUS, Mauro. Acting, enactment e a realidade psíquica "em cena" no tratamento
analítico das estruturas borderline. Rev. bras. psicanál, São Paulo , v. 41, n. 2, p.
45-53, jun. 2007 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-
641X2007000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 11 maio 2023.

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