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Edição gratuíta

A MARCHA DOS ORCS

Uma aventura para GURPS

DIÁRIO DO CAPITÃO
Os custos de uma tripulação

RPG & SOCIEDADE

Onde termina o jogo e começa a realidade ?

LIVE ACTION
Live Combat LARPs

GOLPE DE MESTRE
Ilusão Narrativa

O QUE É RPG ?

TITANIC
Origem e conceito

CONTOS
Crônicas Primordiais

RESENHAS Cenário/Aventura para

RPG Quest I , II e III
Ravenloft
OPERA RPG
OPERA RPG
 EDITORIAL
Seja bem vindo a Távola RPG !
RPG... Três letrinhas, mas com um significado enorme.
Para alguns, significa apenas um hobby como outro qualquer. Para Capa:
outros, no entanto significa a possibilidade de explorar novos horizontes, de se Charles MOS
divertir e se aventurar em mundos imaginários, de rever velhos amigos e fazer
muitos novos. Enfim... Para nós que jogamos e amamos essas três letrinhas e
o que ela significa pra cada um em particular, o RPG não é apenas um jogo... E
sim, uma diversão que nos contagia... Que nos faz feliz, que nos faz sonhar...
E foi baseado nesse amor que temos por esse hobby tão querido e 02 - O que é RPG ?
peculiar, que resolvemos criar essa revista que você está lendo agora... Origem e Conceito
Nosso objetivo desde o princípio foi criar uma revista com qualidade, 04 - RPG & Sociedade
gratuita e neutra comercialmente, onde RPGistas de todo o país, pudessem Onde termina o jogo e começa a
mergulhar em suas páginas e mais uma vez se divertir, aprender, ensinar e realidade ?
como sempre manter o contato com os amigos. 06 - RPG Quest I , II e III
Sabemos que não seria fácil, assim como não foi. Mas o RPG mais
Você é o Herói !
uma vez mostrou que, ao contrário do que muitos caluniamente tentam di-
famá-lo, é um jogo de boa índole e feito de amizade, e sendo assim, a Távola
13 - OPERA RPG
Observadores Perdidos Em
RPG foi idealizada e produzida totalmente através dessa amizade e da coop-
eração entre os praticantes desse hobby. Realidades Alternativas
Agradecemos profundamente a TODOS os que colaboraram, tenha 15 - Ravenloft
sido tanto na forma de matérias, ilustrações ou cedendo material das formas De Névoas e Corrupção
mais diversas possíveis, quanto pelas valorosas opiniões, e sugestões. 17 - TITANIC
Tudo e todos foram muito importantes para que a Távola RPG possa Cenário/Aventura pra OPERA RPG
estar on-line nesse momento, aliás... Já podemos dizer com orgulho que a re- 42 - Diário do Capitão
vista é feita por Jogadores para jogadores, todos empenhados em produzir e Os custos de uma Tripulação
expor materiais úteis e interessantes para o enriquecimento de nosso Hobby. 45 - Live Action
Nesse primeiro número temos a estréia de algumas seções que serão
Live Combat - LARPs
fixas e que estarão presentes toda edição, como o Golpe de Mestre, RPG &
Sociedade, Diário do Capitão e O que é RPG? Além, é claro das aventuras e
49 - A Marcha dos ORCS
Uma aventura para GURPS
cenários que tentaremos manter presentes toda edição.
Teremos outras seções que serão esporádicas estando presentes conforme o 56 - Especial
material for chegando... Entre elas estão as seções Contos (já nessa edição), Entrevista com os Autores do OPERA
Enigmas & Charadas, RPG Eletrônico e Pincéis & Escamas. RPG
Esperamos que todos gostem da revista e que “comprem” nosso son- 58 - Golpe de Mestre
ho, sempre opinando, colaborando, e principalmente, sempre estando con- Ilusão Narrativa
osco nessa nova empreitada, para que possamos crescer juntos e sempre 61 - Contos
aprimorarmos nosso trabalho. Crônicas Primordiais
Sejam Muito bem-vindos e se sintam em casa, afinal ela já é de 80 - Informativo
vocês.
Equipe Távola RPG

Equipe Távola RPG

*Coordenadores: Fernando “Wild JOKER”A.Celso Júnior & Charles M. Oliveira Santos

*Colunistas: Alessandro Franzen, Elara Leite, Iara “Tiamat”Coutinho, Rodrigo “Allef” e Rogério Mendes.
*Ilustraram essa edição: Charles M. Oliveira Santos, Roberto F. Santarcângelo Jr. e Tobias “Griever” Oliveira
*Colaboradores: Alan “Quïck”Jones W. Ancel, Alexandre Belmonte Oliveira, Augusto “Shaftiel”, Bruna “Lola” Cruz, Daniel “Talude” Paes Cuter, Felipe “Madruga”
Gonzalez, Fernanda “Moolight” Celso, Fernando Rodrigues Fontana, Fred “Xaal” Borges, João Steves,Leandro “Lucifer Abaddon” Zerbinatti de Oliveira, Leon-
ardo de Andrade, Lucas Bonini Salvego, Lucas Domingues Lima, Luis “Dahak” Teodoro, Marcus Alexandre Leitão Guedes, Pedro Gastaldi Cominal, Roberto F.
Santarcângelo Jr, Rogério de Mello Godoy, Rubens “Ramalokion” São Lourenço, Sidines ”3Libras” Silva e Tobias “Griever” Oliveira.
Agradecemos a TODOS que colaboraram, em especial ao Rogério Godoy e o pessoal do OPERA RPG, ao Universo Nova Fronteira, e a REDERPG e a Spell
Forever. Nos desculpem se esquecemos de alguém.

Távola RPG é uma publicação bimestral e gratuíta. www.távolarpg.com

Todos os jogos são trademarks de seus respectivos autores/proprietários, usados aqui com o propósito de resenha.

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 O Q UE É RPG ?
Origem e Conceito
O que é?
RPG nada mais é que uma sigla para Role
Playing Game que em português é geralmente
traduzido como Jogo de Interpretação.
Como o nome diz, é um jogo nas quais os
jogadores assumem o papel de um personagem,
interpretando as características físicas e mentais
desse personagem, assim como suas atitudes
dentro do jogo, na qual a imaginação, a cooperação
entre os demais jogadores, a aventura, e a
diversão, são os objetivos finais desse hobby.
Um grupo de RPG deve ter pelo menos duas
pessoas e no máximo 10 jogadores. Não existe
um número específico, embora a maioria dos
grupos tenha uma média de 4 até 6 integrantes.
No RPG, existem dois tipos de jogadores:
O primeiro tipo é o jogador personagem, o
jogador que cria um personagem seguindo as
regras do sistema usado em questão, sendo esse
jogador responsável por interpretá-lo e controlá-
lo durante o jogo. O segundo tipo de jogador
é o Mestre (Também chamado de Narrador,
Observador, Dungeon Master ou outros nomes),
será ele quem criará a história, e julgará as
ações de todos os personagens do jogo, sendo
imparcial e justo, prezando a diversão como
meta principal. O jogador que faz o papel do
Mestre, geralmente é o mais experiente do grupo
e tem a obrigação de conhecer as regras do
sistema usado em questão, de forma profunda.
O Mestre não possui um personagem em
específico, mas controla todos os personagens
não-jogadores da aventura; personagens
estes que irão interagir com os dos jogadores.
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Quem vence o Jogo?
Como ele é denominado um jogo, é natural
que essa pergunta seja feita, mas a resposta a
ela nem sempre é compreendida por aqueles que
não o conhecem . O fato é que num jogo qualquer,
existe a competitividade e conseqüentemente
a vitória daquele que se sai melhor perante os
outros e é nesse ponto onde, mais uma vez, o
RPG se diferencia dos jogos convencionais.
Numa sessão de RPG, vencer ou perder
não é importante. Nem competir. O único grande
objetivo de jogar RPG é criar uma história divertida
e envolvente, na qual os jogadores fazem o papel
dos personagens principais. Sendo dessa forma
podemos dizer que todos “vencem”, já que os
personagens-jogadores, estão ali geralmente
para cumprirem um objetivo em comum, e
caso exista alguma possível competitividade
entre eles, fará parte do contexto da aventura
e/ou das características de cada personagem.
O objetivo de cada aventura é superar
os desafios, e quando os jogadores conseguem
fazer isso, interpretando as características de
seus personagens, eles ganham “pontos de
experiência” que serão úteis para o crescimento
e o desenvolvimento de seus personagens.
Essa é a premiação pela "vitória” em uma
sessão. Todos os jogadores que conseguem
passar pela aventura são considerados
vencedores, e quase sempre esse sucesso
depende da cooperação mútua entre eles.
 Origem
DICIONÁRIO RPGÍSTICO
Conta-se que o RPG surgiu em 1974, com
o primeiro e consagrado “Dungeons & Dragons” RPG - Role Playing Game - Jogo de interpre-
(que pode ser traduzido como algo em torno tação.
de "Calabouços & Dragões"), que foi criado Personagens Jogadores, PJs, PCs - Perso-
pelos norte-americanos Dave Anerson e Gary nagens que os jogadores criam para jogar.
Gygax, dois fanáticos em jogos de estratégia. Mestre - Jogador que faz papel de Juiz e Nar-
O Livro de regras que serviria como inspiração rador da aventura, apresentando os desafios a
serem vencidos pelos demais jogadores.
para todos os outros RPGs que surgiriam depois,
Sistema de Jogo - Conjunto de regras que
vendeu seis mil cópias em pouco menos de dois anos.
definem as normas a serem seguidas dentro
O RPG surgiu com os Wargames, jogos daquele sistema em questão.
de estratégia de guerra, em que o objetivo era Planilhas - Uma folha de papel com espaços
destruir/conquistar o exército inimigo. No início personalizados adequado a cada sistema de
os exércitos eram apenas exércitos, até que regras aonde se anota as características do
um dos dois disse ter construído uma fortaleza personagem.
indestrutível. Como forma de invadir essa Miniaturas - Peças de chumbo, plástico ou de
fortaleza, o adversário disse que 3 dos seus papel que representam o personagem dentro
melhores guerreiros foram enviados para entrar de um tabuleiro ou mapa de combate.
nos esgotos da fortaleza para invadi-lá. Com isso, Dados de multi-faces - Dados especiais usa-
dos para o jogo. Os mais usados são os de 4,6,
surgiu a primeira aventura controlando um pequeno
8, 10, 12, e 20 lados. Quem define qual dado é
grupo de personagens, e assim começou a
usado é o sistema de jogo.
interpretação individual e não apenas de exércitos.
Então, como vímos, o RPG foi
criado da união dos jogos de estratégia
com o prazer de contar histórias.
É Importante dizer que mesmo com
sua criação, os clássicos wargames e outros
jogos te estratégia não deixaram de existir
e são sucesso até hoje, mas é claro que o
mercado de jogos nunca mais foi o mesmo
com a invenção desse jogo tão cativante.

Wild JOKER

Na Próxima edição, vamos explicar sobre

os sistemas que definem as regras a
serem seguidas e as “ferramentas” que os
RPGistas usam pra jogá-lo como planilhas
de personagens,os vários tipos de dados
de multifaces, miniaturas entre outras.

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 RPG & S OCIEDADE

RPG e Educação - Onde termina o jogo e

começa a realidade?
Bem-vindo (a) à nossa seção! Neste número começamos falando sobre
RPG e Educação.
Caro leitor (a), quero particularmente dar as
Uma dúvida freqüente para educadores de
boas-vindas a você que começa a acompanhar
todo o país tem sido maneiras de incremento
esta seção. Aqui trataremos sempre de assuntos
de suas aulas para jovens e adultos. O RPG
que inter-relacionam o RPG e a sociedade de um
surge como alternativa para os interessados em
modo geral. Em linhas amplas, pode-se considerar
acrescentar mais às suas aulas tanto em nível
esse espaço como um horizonte aberto para
de Educação Fundamental quanto Superior.
análise do RPG como fator inclusivo do jovem
Porém, em meio a atmosfera que atualmente o
à sociedade, da discussão sobre RPG e áreas
RPG encontra-se, depois de tanto estardalhaço
educativas, da questão polêmica que é o Role
midiático em torno de assassinatos pseudo-
Playing Game na mídia
de modo geral, além do
RPG na visão religiosa.

Então, desde
já cabeças abertas!
O mundo é feito de
informação, e aqui você
vai poder colher um
pouco mais dela, porém
cuidado: aqui tratarei
de questões polêmicas
de maneira crítica,
o que pode deixá-lo
com um comichão na
orelha, como se algo
o incomodasse. Mas
não fique preocupado,
isso são apenas as
indagações a respeito
dos assuntos surgindo
em sua mente. E é esse
o objetivo da seção.

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relacionados ao Role Playing Game, como inserir
esta ferramenta em suas aulas sem resistência
por parte de pais e dos próprios alunos é o grande
mistério.
RPG é mais do que nunca um grande
trunfo a ser usado a favor da educação. É
preciso, entretanto, profissionais bem formados e
informados a respeito da gama de possibilidades
RPGísticas. O educador deve estar preocupado
com sua reciclagem profissional. Afinal, esta é
a Era da Informação, conforme já se noticia há
algum tempo. Em diferentes locais do país o RPG
já é utilizado como forma de incentivo durante as
aulas. Na Paraíba, algumas escolas já fizeram
a experiência. Em vários locais do país já foram
organizados colóquios e seminários para debate
a respeito do papel do Role Play na educação, a
exemplo de Curitiba e João Pessoa.
Os jogos de representação de papéis sem
dúvida estão mais visíveis nas esferas educacional
e empresarial. Nas empresas pode ser observada
a utilização de dinâmicas de treinamento que
possuem, na grande maioria, ou senão todas, as
características que compõem o RPG. Na área da
educação, existem empresas especializadas em
treinamento de educadores e alunos monitores
para melhor utilização do RPG em sala de aula.
Essas empresas fazem treinamento para jogos de
mesa, ou RPGs tradicionais; e também ações ao
vivo, como uma simulação de acontecimentos.
Embora algumas destas tentativas não dêem
fruto imediato, em parte devido ao preconceito
na própria esfera educacional, em parte devido
ao choque causado por certas notícias e até por
idéias religiosas descabidas de qualquer sentido,
o importante é que há pessoas que valorizam
o jogo como ferramenta lúdica e começam a
voltar suas mentes para como melhor utilizá-lo.
Benefícios do RPG
O desenvolvimento do conteúdo programático
pode ser satisfatoriamente alcançado através
da utilização do RPG nas aulas. Através dele o
aprendizado dos alunos torna-se mais evidente,
além de deixá-los mais desinibidos e incitar a
participação em sala.
O espírito de equipe é altamente estimulado
5
Mas afinal: O que é RPG?
Criado em 1974 nos Estados Unidos, o primeiro
jogo de RPG chamava-se Dungeons and Dragons (em
tradução literal, Masmorras e Dragões). RPG significa
‘Role Playing Game’, ‘Jogo de Interpretação de Papéis’
em português.
Participar de qualquer jogo deste tipo implica
interpretar um personagem, fingir ser uma pessoa, agir
como ela agiria e pensar como ela pensaria. Funciona
como uma espécie de teatro, com a diferença que não
há roteiro, isto é, a história vai acontecendo à medida
que os personagens tomam suas decisões, como numa
história interativa. O jogador cria um personagem fictício,
que vive na imaginação dele e dos amigos que participam
do jogo.
No RPG tradicional, ou de mesa, os jogadores
normalmente munidos de suas fichas de caracteres de
personagem e alguns dados são norteados pelo Narrador.
Ao jogar, participam de viagens épicas, batalhas,
aventuras e inúmeros desafios. O Narrador descreve o
que acontece aos personagens como resultados do que
os jogadores dizem ou fazem. Seu dever é garantir que
os outros jogadores se divirtam.
Há também a ação ao vivo, ou Live Action, uma
variação do RPG tradicional na quais os jogadores podem
interpretar os personagens como em um teatro. Funciona
como uma simulação de acontecimentos, análoga a
reconstituições televisivas. Nesta variação, apenas
algumas ações são decididas nos dados, enquanto a
grande maioria é interpretação pura, sendo utilizados
inclusive adereços e fantasias. Armas e violência nunca
são permitidas em ações ao vivo.
Cada jogo possuiu um Sistema de Regras pré-
estabelecido que será utilizado pelo Narrador na hora
de guiar os jogadores pela história que está sendo
criada, chamada de aventura. Normalmente usam-
se dados para representar o benefício da sorte como
resultado das ações que os personagens irão realizar.
Qualquer pessoa pode ou não conseguir realizar
uma ação, como andar a cavalo. Para representar
a possibilidade que aquela pessoa tem de obter
êxito ou não é que são utilizados os dados.
no RPG, já que os jogadores atuam em grupo, Produção e iniciativas
uns ajudando os outros na maior parte do tempo.
Não existe um vencedor único em um jogo de
Com relação ao RPG na educação, pode-
RPG: o objetivo não é derrotar os outros jogadores.
se observar uma crescente produção de material.
Para vencer é preciso cooperar com os outros.
No RPG e Cultura, realizado este ano em João
Sendo um jogo de narração de histórias, não há
Pessoa, na Paraíba, a Ludus Culturalis, ONG
como uma determinada pessoa sair vitoriosa. Os
que visa a integração do Role Play nas áreas
personagens, através de suas motivações, buscam
educacionais, fez seus primeiros contatos no
sobreviver e alcançar objetivos. A expressão oral
sentido de ampliar a discussão no Nordeste.
e corporal, a criatividade, a relação entre assuntos
Em 2005 a própria equipe do RPG e Cultura
didáticos e situações do dia-a-dia, a capacidade
realizou um Seminário voltado para professores
de socialização, além da resolução de situações
visando essa integração e discussão em nível de
problema, são também habilidades estimuladas
Paraíba. O Seminário, cujo título foi Pedagogia da
na utilização do jogo em sala de aula.
Imaginação, foi uma espécie de extensão da tese
Sendo um jogo que oferece grande estímulo
de Mestrado de Sônia Rodrigues, pioneira nesse
à imaginação, o RPG exige certa habilidade da
estudo na América Latina nos anos 80. Inclusive,
parte do educador na hora de ministrar suas
a referida Ludus Culturalis trabalha no mesmo
aulas utilizando-o. É preciso ter noção de onde
sentido deste projeto, tendo realizado três edições
termina o jogo e começa a realidade, ainda que
do Simpósio RPG e Educação, além da discussão
o momento da aula seja uma mesclagem de
em vários Centros Educacionais na cidade de São
realidades sobrepostas, onde os alunos podem
Paulo. A ONG existe há quatro anos e realizará em
aprender sobre um determinado assunto ou abrir
setembro deste ano um novo Simpósio em São
possibilidades ainda maiores através de aulas
Paulo, além de planejar um colóquio para João
interdisciplinares.
Pessoa. Ainda no sentido do treinamento para
Para isso, cabe ao educador estar atento
professores e trabalho do RPG em sala de aula,
e conhecer o jogo que irá introduzir em suas
podemos citar a empresa Jogo de Aprender, que
aulas, como também perceber se é adequado ao
oferece este tipo de consultoria educacional.
assunto ministrado. Sem esse conhecimento, o
Esses são apenas alguns exemplos do que
que poderia ser uma boa aula em consonância
tem sido feito na área. Entretanto, existem ainda
com o RPG pode não passar de boas intenções.
muitos educadores anônimos que trabalham
Uma boa dica é o acompanhamento das aulas por
incessantemente para melhorar a imagem do RPG
RPGistas experientes ou por alunos monitores
e acreditam nele como potencial ferramenta de
que conheçam o jogo e estejam dispostos a
ensino. Boa sorte para todos esses educadores,
trabalhar para mesclá-lo às aulas. A utilização
que ousam perante um mundo de preconceitos.
de empresas especializadas, conforme descrito
outrora, também pode ser considerada.
Elara Leite
São muitas as possibilidades para o
educador que deseja incrementar suas aulas,
porém, devido à falta de informação e muitas
vezes por acomodar-se, o profissional na área de
ensino não busca uma reciclagem profissional, o
que prejudica, de certo modo, o rendimento das
aulas. É preciso que haja uma conscientização
a esse respeito para que o país possa crescer
na educação. Não adianta construir escolas, é
necessário construir educadores.

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 R ESENHAS
VOCÊ É O HERÓI !
No encontro internacional de RPG do ano
passado foi lançado pela Daemon editora, o primeiro
volume de RPG Quest, um RPG de tabuleiro aos
moldes dos extintos Hero Quest (pela Estrela em
1992), Dragon Quest e Classic Dungeon (Pela Grow
em 1993).
Esse lançamento, não é só uma volta saudosista
às velhas Quests, mas sim um jogo que praticamente
pode ser usado de três diferentes maneiras: Como
uma coleção de belas miniaturas para serem usadas
na mesa de jogo em seu RPG favorito; Como um
jogo de batalha de miniaturas aos moldes do famoso
Mage Knight, ou é claro, no seu objetivo principal, as
tradicionais Quests de tabuleiro.
Com belas ilustrações de Ronaldo Barata
e regras simples e práticas, o RPG Quest vem
agradando muitos Rpgistas veteranos e conquistando
muitos novos adeptos por todo Brasil.
Prova desse sucesso são as salas de diversos
fóruns, além das comunidades no Orkut dedicadas
a ele, cheias de jogadores ávidos pra opinarem no
próximo lançamento desse jogo de tabuleiro que é
uma ótima porta de entrada para iniciantes ao nosso
Hobby tão querido.
Em um ano de existência, o RPG Quest
soma três suplementos (Arcádia, Velha Arcádia e
Templários), dois Boosterpacks e diversos materiais
disponíveis gratuitamente em seu site, além de estar
previsto ainda esse ano, o lançamento de mais dois
suplementos: as Aventuras Orientais (contendo novas
regras de magia) e Tormenta. Os Fãs com certeza
agradecem.
6
RPQ Quest - Volume I
O primeiro Volume foi lançado
no EIRPG de 2005 e logo se
tornou um sucesso.
A ambientação deste
volume é em um mundo
medieval fantástico, chamado
de Nova Arcádia bem no estilo
clássico do gênero, como
Senhor dos Anéis, Forgotten
Realms, Dragolance e outros.
Ele é composto por um
livro de regras de 32 páginas e
várias folhas de papel plastificado aonde se encontram
as miniaturas, os terrenos, as salas, e os props
(alavancas, escadas, fontes, portas, marcadores,
etc).
Logo no começo do livro de regras, contém
explicações de como usar os props, as salas e demais
pisos assim como a orientação para a montagem das
miniaturas.
Os atributos são praticamente os mesmos do
sistema Daemon aonde existe uma variação, sendo
que os níveis de cada atributo vão do muito fraco (-1)
até Divino (+10).
As raças disponíveis são 7: Humano, Elfo,
Meio-Elfo, Anão, Halfling, Goblin e Minotauro), e as
Classes 8: Guerreiro, Bárbaro, Paladino, Ranger,
Ladrão, Mago, Clérigo e Druida.
As classes e raças determinam as habilidades
especiais, como Inimigo Predileto, Amizade com
Animais e Cura pelas Mãos.
Após isso, segue a lista de Perícias, que já vem
pré-determinadas pela Classe, mas que podem ser
compradas com pontos de experiência, e em seguida
uma lista de armas e equipamentos. excelente colega de aventuras.
As magias do sistema são divididas em duas: Tamara nasceu nas fronteiras árabes de
Rituais e Caminhos. Os Caminhos são como em Arcádia, próxima aos Reinos das mil e uma noites.
3D&T com compra de pontos, mas limitado como Tornou-se ladra muito jovem, nas ruas de Nova Cairo,
em Arkanun/Trevas. Já os Rituais, são determinados e acabou se apaixonando pela vida de Aventureira.
aleatoriamente, e são divididos em 3 círculos de Bruenor é um anão bárbaro nascido nas
magia. Os personagens que usam magia podem fazer montanhas de Hassgar, no norte de Arcádia. Sua vida
uso dos dois tipos. é devotada à luta contra as forças de Halzazee e à
O sistema é simples e prático, mas possui busca da cerveja perfeita.
alguns erros e limitações, necessitando muitas Cassius é um
vezes do bom senso dos jogadores em algumas minotauro das distantes
regras pouco esclarecidas no livro, mas nada que terras de Minoica, na
atrapalhe a diversão, ponto alto desse jogo que com Velha Arcádia, mas que
apenas primeiro volume, rende horas e horas de boa vive entre os humanos
diversão. como ferreiro há
muitos anos. Apesar da
Personagens: aparência feroz, Cassius
é um dos aventureiros
O Volume 1 apresenta doze heróis prontos mais simpáticos.
para jogar e regras para você criar seus próprios Gobbo é um
personagens, dentre 112 combinações diferentes halfling das colinas, nascido nas áreas mais centrais
de Arcádia, nas aldeias dos Halflings, mas se tornou
John Lucek, aventureiro muito jovem. Suas principais habilidades
Paladino da Ordem do são desarmar armadilhas e fechaduras.
Graal. Vive em Nova Elara é uma elfa das florestas e feiticeira da
Arcádia, na pequena natureza. Seu ódio contra as forças malignas de
vila de Lucena. John Halzazee é lendário e ela fará de tudo para impedir
está sempre disposto a o avanço das tropas do caos sobre as fronteiras de
defender Arcádia contra Arcádia
qualquer tipo de ação Gabrielle é uma
das forças do mal. maga elfa, nascida em
Orpheus é um Nova Arcádia, que se
elfo ranger que vivia nos juntou a pouco tempo ao
bosques mais próximos da fronteira oriental de Arcádia. grupo de aventureiros
Tornou-se aventureiro quando a vila onde morava foi nas fronteiras de
destruída pelas tropas de Halzazee. Halzazee. Gabrielle
Giovanna é uma meia-elfa guerreira nascida é uma colecionadora
nas cortes de Titãnia e Oberon, filha de um artista de tesouros e sua
humano e de uma elfa chamada Amarah. Desde motivação em explorar
pequena adorava ouvir as histórias sobre tesouros as masmorras é
perdidos e sobre os terríveis orcs do leste. Apesar de encontrar relíquias e
seus pais não aprovarem, treinou escondida para se objetos antigos para levar de volta ao seu reino.
tornar uma aventureira. Klunk, o bárbaro, veio das distantes tribos da
Theodore é um Hiperborea, na parte mais setentrional de Arcádia. Não
meio-elfo de Andaluzia, é muito esperto, mas tem um grande coração.
nas fronteiras entre Germana é uma paladina muito séria em
Arcádia e a Terra, relação às suas funções. Já entrou em combate contra
próxima das terras os orcs em mais de uma ocasião e sabe os perigos que
da Espanha. Desde os exércitos de Halzazee representam para Arcádia.
criança brincava com
poções e instrumentos
de alquimia. É um
pouco tímido, mas um

7
 Monstros:
Nesta edição, são 31 tipos de monstros
diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando
mais de 110 miniaturas de papel.
Os monstros deste título são:
8 Aranhas Gigantes, 1 Aranha Mãe, 2 Bruxas, 7
Bullywugs, 1 Líder Bullywug, 9 Esqueletos,
1 Líder Esqueleto, 1 Fantasma, 2 Gárgulas, 1
Gárgula Vermelho, 1 General Orc, 8 Goblins,
1 Goblin Xamã, 8 Gnolls, 3 Hobgoblins, 3
Homens-ratos, 1 Mago Necromântico, 4 Mimics,
1 Minotauro Maléfico, 3 Múmias, 1 Observador,
10 Orcs, 10 Ratos Gigantes, 1 Serpente Gigante, 4
Serpentes Comuns, 1 Trasgo, 1 Troll das cavernas, 3
Trolls das Florestas,
1 Vampira, 1 Víbora, 3 Vigilante e 8 Zumbis.
RPQ Quest - Volume II
O Segundo volume da
série RPGQuest veio 4 meses
após o primeiro, e desta vez
veio com uma ambientação
chamada de “Velha Arcádia”
que nada mais é que um
mundo aonde a mitologia
grega serve de pano de fundo
para um novo cenário.
Diferente do primeiro
volume onde as aventuras
eram em masmorras, esse dá
ênfase em aventuras situadas em ambientes externos,
tanto que quase não existem props internos, sendo
substituídos por um mapa frente/verso aonde de um
lado existe o cenário de uma praia e do outro uma
floresta com algumas trilhas.
Logo na primeira página do livro existe uma
explicação breve sobre o funcionamento do jogo,
bem mais rápida que na edição anterior, já que os
diversos props que necessitavam de uma explicação
mais detalhada sobre seu funcionamento no primeiro
8
volume, não existem.
A seguir uma explicação sobre a história e a
origem do cenário, aqui chamado de Arcádia que se
localiza entre os demais Planos conhecidos pelos
jogadores da linha Daemon, como Arkanum , Paradísia,
Spiritum entre outros.
Contém também uma breve explicação sobre
sua origem pelas “mãos” dos Deuses. Destaque para
os 4 mais importantes: Zeus, Hera, Hades, Poseidon
além de uma pequena descrição de outros.
O sistema do jogo continua o mesmo, com
algumas poucas diferenças pra se adequar ao cenário,
como as raças, classes e habilidades oferecidas.
Desta vez as raças disponíveis são: Humano,
Minotauro (apenas machos), Amazona, Ninfa (ambas
apenas fêmeas), Fauno/Sátiro, Ciclope e Centauro.
Já as classes oferecidas são: Ladrão, Clérigo, Mago,
Aventureiro, Soldado, Gladiador, Caçador e Marinheiro.
Algumas delas sofreram modificações como a perda
de uma arma pelo Ladrão, e a alteração na seleção de
perícias do Mago e do Clérigo.
Surgem duas habilidades novas: Ataque
coordenado e Treinamento em Defesa, ambos para a
Classe Soldado; E nas Perícias, Arqueria foi dividida
em Arco e Flecha, Besta, Funda e Zarabatana, há a
nova Meditação que acelera a recuperação de Pontos
de Magia, Música, Alquimia/Herbalismo que também
sofreu alterações na sua mecânica e a Religião que
agora não é mais exclusiva para algumas Classes.
A lista de armas também se ajustou ao cenário
com a inclusão de novas armas como a rede e corrente
(para Gladiadores), e em relação ao jogo, foi corrigido
o erro sobre escudos.
Na área de Magias, temos a estréia do quarto
círculo que só pode ser adquirida depois, com pontos
de experiência, além da substituição de algumas
magias por outras.
Agora, no Testes e combates, temos um exemplo
de como gastá-la, já que existem duas limitações para
comprá-la, há limites para Atributos, Perícias, Classes
e Raças que passam a ser no máximo Heróicos, e
as Magias tem limite de atingir 6o. Círculo, ainda que
o máximo publicado seja do 4o., e agora também é
possível comprar Pontos de Vida.
Saindo de vez das masmorras e explorando
ambientes externos, surgem as regras para viagens,
com o custo de estalagens e acampamentos, dos
meios de transporte e o valor em pontos de movimento
que cada pessoa gasta com seu deslocamento normal,
andando em marcha e correndo, existindo também
esses valores para montarias e veículos como cavalos,
grifos, bote e navios.
Os monstros são todos da Mitologia Grega
como Esqueletos, Javali Gigante, Tritão, Pégasus, P a l o m a
Fênix, Hidra de Sete Cabeças, a Estátua de Bronze e sacerdotisa de
o Cria de Cérberus. Atenas e Artemis, é
A grande inovação desse módulo é acrescentar responsável pelos
regras para Batalhas de Miniaturas. No livro temos as oráculos e também
regras de forma mais simples (existe um módulo mais pelos feitiços de cura
completo envolvendo todos os volumes, disponível dentro do grupo.
gratuitamente no site da Daemon), mas que já Nunca perde a
possibilitam realizar imensas batalhas. calma em nenhuma
Aos moldes do Mage Knight, cada criatura tem situação, por isso
uma pontuação que basicamente define o poder dela geralmente atua como diplomata.
em batalha. Cabe a cada jogador, selecionar suas Bellatrix era a antiga representante do reino
criaturas e personagens conforme sua estratégia das Amazonas em Acadme, mas preferiu tornar-se
e gosto, mas sempre respeitando um valor pré- uma aventureira. É uma alquimista especializada no
determinado de pontos de recrutamento totais que caminho do Fogo e da Terra.
deve estar entre 100 a 1000 pontos.
Para encerrar, o livro termina com a Monstros:
apresentação de 13 personagens que podem ser
usados tanto pra NPCs quanto para PCs. Nesta edição, são 27 tipos de monstros
Enfim, seguindo o exemplo de seu irmão mais diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando
velho, o volume 2 é uma ótima opção tanto para os mais de 60 miniaturas de papel.
iniciantes quanto para os amantes de uma boa Quest
!

Personagens:

Nesta edição, são seis heróis prontos para jogar

e regras para você criar seus próprios personagens,
dentre 88 combinações diferentes

Félix, Irmão
mais novo de Alexius
e Gladius. enquanto Os monstros deste título são:
seus irmãos se 1 Argus, 9 Aves de Bronze, 4 Cavalos, 1 Cria
juntaram ao exército de Cérberus, 1 Ciclope, 7 Esqueletos Soldados,
de Arcádia, felix, 1 Líder Esqueleto, 1 Estátua de Bronze, 1
por seu tamanho, Fênix, 2 Grifos, 4 Hárpias, 3 Líderes Hárpias
preferiu tornar-se um (Aello, Celaeno e Ocypete), 3 Homens-
espião. Está sempre Escorpião, 1 Hidra de 7 cabeças, 1 Javali Gigante,
tentando provar seu 1 Lâmia, 2 Medusas, 1 Minotauro Selvagem, 1
valor para seus irmãos. Pégasus, 3 Sereias, 2 Sirens, 4 Soldados,
Alexius é um conhecido aventureiro da Velha 6 Tristãos, 1 Líder Tristão e 13 NPCs.
Arcádia. Segundo filho do rei Solon, está sempre
disposto a ajudar qualquer pessoa que esteja com
problemas.
Diane é uma das maiores gladiadoras de
Atenas. Devota de Artemis, deusa da lua, seu sonho é
se apresentar em todos os coliseus de Velha Arcádia.
Fausto juntou-se ao grupo como representante
do reino dos sátiros, perto de Acadme. É um dos
conselheiros do grupo e também um excelente caçador.
Sempre procura uma solução pacífica para resolver os
problemas.

9
 RPQ Quest - Volume III
Em 6 meses foram
lançados três livros para
RPGQuest, além de dois
boosterpacks e vários
netbooks e aventuras todo
mês na revista Dragão Brasil.
A novidade desse é o tema:
Templários e Sarracenos, cujo
tema já havia sido abordado
no livro Templários da mesma
editora em 2000, mas para
o sistema Daemon. Nesse
livro, temos duas estréias na editora: Alexandre José
Garzeri e Pietro Antognioni, o primeiro é terapeuta
holístico especialista no tema que deu uma palestra
sobre o assunto no XIII EIRPG, enquanto Pietro,
vencedor do concurso de ilustrações do RPGQuest,
foi o responsável por todas as ilustrações, enquanto
o Barata, ilustrador das outras edições, ficou com a
função de colorizar as ilustrações e também como
diretor de arte.
O livro, tal qual o segundo começa com
publicidade, principalmente de livrarias em vários
estados do Brasil, na parte de créditos e agradecimentos
um aviso curioso, mas necessário: Esta é uma obra
de ficção: Ogros não existem! Na introdução, ficamos
sabendo que ele é um suplemento para os outros dois
RPGQuest e que a região que se situa não é a Terra
e sim um lugar situado no Reino de Nova Arcádia
chamada Languedoc semelhante ao sul da França
Medieval.
A seguir, vem a parte de background, com o
texto de Alexandre Garzeri, abrangendo 10 páginas,
começando com a lenda do Santo Graal, a távola
redonda e a sua simbologia, sendo os principais
descritos: o cajado do Mago Merlin, relativo ao fogo,
a espada Excalibur relativa ao ar e o cálice sagrado,
relativo a água, andando um pouco chegamos a busca
do Santo Graal. O texto a seguir é sobre Toulouse
falando do massacre no Languedoc que esta era
a sociedade cristã mais avançada da época, este
anunciado pelo papa Inocêncio III e duraram 35 anos,
dentro desse texto há a citação do Nobre de Foix que
é uma das Classes do jogo. Mas a primeira Classe
a ter um capítulo próprio é o Catarismo de aonde
surgiu o termo gnose que significa conhecimento, este
muito usado hoje em dia, eles também cuidavam da
guarda do Santo Graal e de um grande segredo que
efetivou o massacre de Languedoc. A próxima classe
a ser descrita é o Priorado de Sião ou Monastério
do Sinai que nasceu com três objetivos a cumprir e
10
tentou cumprí-los em sangue e espada. Os Cavaleiros
do Santo Sepulcro, criado pelo mesmo que fundou o
Priorado que tinham como objetivo defender o túmulo
de Cristo e dos peregrinos que o visitavam e que tinha
como mistério maior a guarda do Santo Sudário. Os
Hospitalários que tinham outros dois nomes, Cavaleiros
de São João e Cavaleiros de Rodes, eram divididos
em eclesiásticos, cavaleiros e subalternos, dedicados
a cuidar do próximo tal como Jesus Terapeuta. Os
Templários são os destaques do livro e dão título a este
que realizaram escavações em Jerusalém no sécuo
XII e eram excelentes guerreiros e quase foi extinta
em 1314 com a morte de Jaques de Molay, mesmo
com isso, a organização continua viva até hoje. Os
Teutônicos eram conquistadores de terras tidas como
selvagens e também conquistaram a arca da aliança.
No fim, apoiaram Martinho Lutero.
Continuando, segue o capítulo de criação
de personagem, a partir dos atributos, depois há as
Classes diviidas em Cavaleiros (podendo ser Cátaro,
Cavaleiro Templário, Cavaleiro do Priorado de Sião,
Cavaleiro Hospitalário, Protetor do Santo Sepúlcro,
Cavaleiro Teutônico e Nobre de Foix), Sarraceno
(Mago Sarraceno, Sarraceno e Hassassin) e Cultista
(Inquisidor e Cultista), O livro recomenda que a parte
iniquisitória fique como PdM. Há duas Habilidades
Especiais novas: Controlar Mortos-Vivos e Exorcismo
e 1 Perícia novas: Heráldica que é o estudo dos
brasões e nobreza. A propósito, não há Raças, mas
é possível a mistura com qualquer outra Raça ou
Classe de qualquer outro RPGQ. A lista de armas e
equipamentos e o capítulo Testes e Combates não
sofreram modificações, apesar de não ter magias.
Mesmo não tendo regras para Magias, este
suplemento trás 10 novas Magias que vão do 2º ao
4º nível dentro dos monstros, aliás o destaque nesses
monstros são vários demônios e vários mortos vivos,
além de versões inimigas das Classes citadas acima.
Os destaques são os apelões Daemon que garante
600XP e o Dragão Negro que valem 1000XP, do outro
lado, matar um Monge Cátaro ou Parfait valem -100XP
enquanto o Protegido vale -1000XP! Sim, pontos de
experiência negativos. Temos outras apelações, as
Lendas que não podem substituir os comandantes e só
pode possuir um por grupo em Batalhas de Miniaturas,
eles são pessoas que realmente existiram: St George,
Sir Godfroi, Sir Heinrich, Sir Hugues, Sir Jacques e
St Patrick. No final do livro, informações das relíquias
(Idéias de aventuras) e como funciona o mapa do
castelo e um mapa da Europa em 1304, maior do que
o do RPG Templários.
No geral, o livro está com qualidade muito boa
e possui muitas referências ao Código da Vinci que
parece ser o caminho da linha Trevas/Arkanun a partir Monstros:
de agora. As ilustrações do Pietro são muito boas e
transmitem o clima, principalmente as que estão em Nesta edição, são 36 tipos de monstros
preto e branco. o problema é que faltou na parte diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando mais
histórica mais informações sobre os sarracenos, coisa de 170 miniaturas de papel (Monstros + Cavaleiros).
que pode ser solucionada com o outro Templários. É
uma boa ter os dois anteriores para jogar junto com
esse, para uso de props do RPGQ1 e mais terreno
com o RPGQ2. Agora, com licença que minha mãe
quer ler esse livro por causa do Código da Vinci.

Personagens:

Nesta edição, são seis grandes heróis prontos

para jogar e regras completas para você criar seus
próprios personagens.

Phillipe, filho
do Duque de Foix, Os monstros deste título são:
jurou defender os 6 Cruzados, 3 Soldados Inquisidores, 1 Dragão
Castelos Cátaros e o Negro, 1 Ogro Comandante, 5 Ogros,
Santo Graal contra os 1 Ogro Herói, 2 Gárgulas de Mármore, 2
cruzados com a sua Gárgulas de Pedra, 9 Cockatrices, 10 Sarracenos,
vida, se necessário 5 Arqueiros Sarracenos, 1 Mago Sarraceno, 1
fosse. Líder Sarraceno, 3 Hassassins, 9 Esqueletos,
K l a u s , 4 Zumbis Infectados, 3 Fantasmas, 2 Banshees,
filho mais novo de 2 Possessores, 2 Esqueletos Mouros,
Heinrich que não deseja seguir carreira como Cavaleiro 2 vampiros Servos, 1 Vampiro Nobre, 1
Teutônico, tendo fugido para Langedoc a fim de se Cavaleiro Esqueleto, 9 Imps, 7 Bergahazzas,
juntar aos Cátaros em sua luta. 4 Succubi, 1 Comandante Bergahazza, 2
Joanna pode Cultistas, 1 Daemon, 8 Cavaleiros Teutônicos,
ser considerada a 5 Acólitos Inquisidores, 2 Adeptos Inquisidores,
“escolhida de Deus”. 1 Bispo Inquisidor, 5 Executores,
As lendas dizem 4 Soldados teutônicos e 1 comandante
que, no futuro, será Teutônico.
uma grande líder
dos cavaleiros na RPQ Quest - BoosterPack I
França.
P i e r r e O primeiro Boosterpack apresenta 5 tipos
é um Cavaleiro de monstros diferentes para os heróis enfrentarem,
Hospitalário que foi totalizando 17 miniaturas de papel.
enviado para auxiliar as forças do castelo Cátaro.
Ele possui um grande futuro dentro da Ordem dos
Cavaleiros Hospitalários.
Lígia é a Monja Cátara responsável pela
segurança do “protegido”. Junto com seus amigos,
fará tudo que estiver no seu poder para preservar a
Linghagem Sagrada dos ataques da Inquisição, custe
o que custar.
Bernard pertence ao Priorado do Sião e é o
braço direito de Lígia como responsável pela segurança
da Linhagem Sagrada e do Santo Graal.

11
 Os monstros deste Booster são:

8 Elfos Negros, 3 Elfos Negros Soldados, 1 Elfo

Negro Mago, 4 Driders e 1 Golem de Ferro

RPQ Quest - BoosterPack II

O segundo Boosterpack apresenta 6 tipos
de monstros diferentes para os heróis enfrentarem,
totalizando 17 miniaturas de papel.

Os monstros deste Booster são:

1 Dragão Branco Adulto Jovem, 12 Kobolds, 3 Kobolds

Heróis, 1 Kobold Líder,
1 Kobold xamã e 1 Psicoplus (Mind Flyer).

Wild JOKER & Daniel “Talude” Paes Cuter

12
 OPERA RPG
Observadores Perdidos Em Realidades
Alternativas
Após o livro ficar na “gaveta” da Devir
por praticamente 2 anos, os autores do OPERA
conseguiram sua liberação e publicaram seu livro pela
livraria campineira Comic Store (A mesma de Anel
Elemental: O Legado).
O livro, escrito por Leonardo Antônio de
Andrade e Rogério de Mello Godoy que antes dessa
publicação chegou a ter versões em disquetes e em
PDF, distribuídas livremente pela Internet, cuja última
versão em netbooks foi a 7.0, e este livro básico foi
baseado nessa versão.
Mas este sistema já teve livros impressos, sendo
que os primeiros livros baseados no sistema OPERA
a serem publicados foram o Resumo do OPERA,
um resumo de regras e o cenário O Mais Longo dos
Dias baseado no Dia D., ambos lançados no mercado
independente e diagramação e ilustrações simples, ou
seja “à baixo custo”.
Agora, esta publicação vem enaltecer (e
enriquecer, quem sabe?) os autores, depois das
grandes dificuldades que passaram.
Resumo do OPERA
O sistema OPERA é composto de 3 Atributos
Primários: Físico, Destreza e Inteligência, que são
obrigatórios para qualquer cenário e cujo a média
geral para um Humano é 6. Os outros são Vontade,
Percepção, Mana, Mente e Sorte, com Média
variável. Após definirem os Atributos são definidas as
Características (que são as conhecidas Vantagens
e Desvantagens) e as Habilidades (Perícias). Para
determinar quantos Pontos de Criação você irá gastar
no mundo atual você calcula multiplicando por 3 e
depois somando 10, com um humano padrão tendo 28
pontos a gastar.
Ele faz uso de 2 dados de 6 faces e há 2
tipos de teste: de Atributo e de Disputa. No primeiro
é rolado 2d6 e tenta-se conseguir um número menor
ou igual ao Atributo, no segundo, rola-se 2d6 e soma-
se o Atributo, aquele que conseguir um número maior
ganha a Disputa. Para adquirir maiores informações
13
do sistema, é possível baixar o netbook OPEReta no
site oficial do sistema.
O Livro
O livro para começar a resenha, vem com
2 capas: A primeira é a capa dura tradicional e a 2ª
pode ser destacada para ser usado como Escudo do
Observador, que traz tabelas úteis ao Observador,
além de cumprir a função de “orelha” do livro. Isto,
parece que será uma marca da editora Comic Store.
A capa principal está muito bonita, com o
logo do OPERA em relevo com tons dourados e
a diagramação está muito boa, com hyperlinks
indicando onde encontrar as referências relacionadas
aos assuntos tratados na página, assim como o que
há na página como HQs explicativas e tabelas. As
ilustrações são em Preto e Branco e, em sua maioria
são boas, enquanto outras que vieram principalmente
do Resumo do OPERA são fracas.
O livro começa com uma introdução explicando
o que é RPG, de um modo bem simples e com o
humor peculiar da dupla afinal “RPG é Receptáculo
Prosopopéico de Gatafunhos?”. A ilustração que abre
a introdução remete à última! Não vou contar o que é,
senão estraga a surpresa!
Os próximos 2 capítulos tratam da regras do
OPERA em si, mostrando como funciona a montagem
do personagem, o que ocorre quando o personagem
sofre danos, a Evolução do personagem, as
Características e Habilidades. Um detalhe interessante
são as Habilidades em Bloco que lembram as usadas
em 3D&T (ou será o inverso?). No 3º capítulo, há uma
Aventura-Solo que, pena andam meio esquecidas no
RPG e só tem aparecido nos mini GURPS históricos.
Para resumir sem divulgar muitas informações: você é
um garoto normal enterrado nos livros do vestibular e
vai ver TV, nela passa um programa que... Bem, isso
você lê no livro.
O capítulo 4 é dedicado ao Mestre, ou melhor,
Observador como este é chamado no jogo e prepara
este também para os próximos capítulos, além disso
trata de como definir o Realismo e utilizando as
Regras Opcionais e também dando dicas de como
expandir a Aventura-Solo, tornando-a uma Aventura
(ou Campanha, quem sabe).
Como já foi dito os próximos capítulos são
opcionais, ou seja, você decide se vai usar nenhum,
algum ou todos (Por que não?) na sua Campanha.
Esses capítulos são: Armas e Armaduras, Artes
Marciais, Poderes Psíquicos, Magia, Metamorfoses e
Tecnologia.
 Algumas regras desses capítulos podem
complicar, mas sempre há exemplos para estudar e
depois aplicar no jogo, como por exemplo na parte
de Artes Marciais quando há a demonstração de
combate entre um Ninja e um Samurai com uma HQ
Explicativa.
Os próximos capítulos tratam de Poderes
Psíquicos e Magia, inclusive na parte de Magias há
diagramas indicando que Magia gera a outra quanto
de volume será gasto pela Magia, assim como a
utilização de Ações (Mais conhecido como Verbo) +
Objetos (Substantivo) para a criação de Magia, como
por exemplo Produzir água, Controlar Som entre
outras.
O capítulo Metamorfoses trata de Poderes
para Super Heróis e Mutações para Raças, além de
três raças de exemplo: Dragões, Centauros e Elfos.
Ao final do capítulo, regras para Seres Artificiais, com
mais destaque aos ciborgues.
O último capítulo do livro trata de Tecnologia
que traz Regras para Veículos Terrestres, Marinhos,
Submarinos, Aéreos e Espaciais, Computadores
e equipamentos de alta tecnologia, ou seja, muito
material para mundos Cyberpunk.
Lembram-se da ilustração que citei no início?
Após o último capítulo, você a verá numa versão bem
mudada. O livro encerra com o resumo OPEReta já
falado nessa resenha, para “aquele jogador inexperiente
que estava brincando com os dados enquanto você
estava explicando as regras”.
Outros títulos
Depois que o título saiu pela Comic Store
tivemos, além do módulo básico outros títulos:
OPERA Conspiração do Amanhecer,
originalmente publicado em netbook, sobre sociedades
secretas e psiônicos no mundo moderno. As sociedades
são os Amonitas, que dizem que teve início no antigo
Egito; Mercurianos,que se ergueram durante o Império
Romano,; Shaitans, atualmente árabes que surgiram
na época do Império Romano; Sidhatras, pacíficos,
ligados ao Budismo e Zetotas, ligado ao partido judaico
que combatia a diominação romana.
OPERA 1887: Sob o Sol do Novo México, do
mesmo autor de Anel Elemental: O Legado é sobre
o velho oeste trás o que é característica do autor:
Longas listas de equipamento, além disso, papel bem
grosso e as profissões que podem ser assumidas
pelo personagem, sendo possível selecionar até 5
profissões diferentes que o personagem trabalhou e
14
trabalha.
OPERA O Mais Longo dos Dias é sobre
a segunda guerra mundial e foi escrtito por cinco
autores, sendo também o título com mais páginas
de todos os suplementos já lançados e tem as fichas
de personalidades históricas como o presidente DT
Eisenhower e muitas informações militares, como
20 páginas detalhando o equipamento, as unidades
especiais usadas na guerra e a perigosa regra de
confiabilidade do aparelho, atualizada do MB, além do
“Mais Longo dos Apêndices”, com quase 60 páginas
sobre exércitos.
O título mais esperado, sem dúvida, é OPERA
MM que propõe dar uma nova visão sobre os cenários
de fantasia medieval, além do OPERA Intempol
baseado no cenário que já teve quadrinhos pela Comic
Store, OPERA Hot Shot sobre aviação que mostra
o caos após uma 3ª guerra mundial e uma versão
OPERA para o Anel Elemental: O Legado.
Conclusão
Este é um excelente módulo básico que aborda
várias idéias de cenário para o Mestre, na qual pensar
em misturar todas as regras do livro é praticamente
uma idéia extremamente maluca! Deve-se saber
selecionar o que será usado, seja numa adaptação
ou numa criação. Podendo ser realista ou não. Gosto
muito dos capítulos 6, 9 e 10, aonde se pode sentir a
essência de uma criação de um mundo.
O problema atualmente é que a média de
títulos é um por ano, sendo interessante pelo menos 1
em cada 3 até 6 meses, dependendo da necessidade
e do tamnaho e deixando os jogadores antenados
com o sistema. Também seria bom o relançamento
do Resumo do OPERA, atualizado e um novo screen
lançado separadamente, junto com um mini-cenário
ou uma aventura.
Se você procura um RPG genérico e realista,
por que não tentar o OPERA?
Resenha publicada originalmente na
REDERPG, atualizada em 2006.
Daniel “Talude” Paes Cuter
NewsRPG (http://newsrpg.blogger.com.br)
Newsletter RPG (http://br.groups.yahoo.
com/group/newsrpg)
REDERPG (http://www.rederpg.com.br)
 RAVENLOFT todas as suas encarnações desde sua primeira
edição até os dias atuais.
Ravenloft teve início como uma aventura
de horror para AD&D intitulada Ravenloft, lançada
De Névoas e Corrupção na década de 80. A aventura foi um recorde de
vendas, e rendeu uma continuação, “Ravenloft 2:
Inúmeras são as lendas The House on Gryphon Hill”.
entre aventureiros de todos Mais tarde a TSR queria investir em um
os mundos sobre uma terra novo cenário, algo diferente, e devido as vendas a
distante, envolta em névoas, escolha óbvia foi lançar um cenário de horror, assim
onde o mal domina e o bem o Castelo Ravenloft, palco da aventura original.
não tem chance alguma. Assim o castelo foi introduzido em um mundo, e
Da mesma forma, na década de 90 foi lançado o cenário, um lugar
muitas são as lendas entre sombrio criado por entidades obscuras conhecidas
mestres e jogadores de RPG, apenas por Poderes Sombrios,cuja existência não
sobre tal mundo sombrio. O é conhecida pela maioria dos habitantes, onde
referido mundo é o cenário cada reino é na verdade governado por um ser
de Ravenloft, e mesmo entre jogadores e mestres de extrema corrupção que após ter praticado um
ele tem sua fama como um lugar maligno, um ato de maldade extrema acaba tendo um reino
verdadeiro inferno, no qual a única alternativa formado nos moldes da sua maldade. Esses seres
dos heróis é a morte. Fama esta que chega a ser são os darklrods, ou lordes sombrios, eles são ao
exagerada, o cenário de Ravenloft é u mundo de mesmo tempo senhores e prisioneiros de seu reino,
trevas, isso não se possuindo grande
pode negar, mas poder, mas jamais
mesmo com sua podendo deixar o
sombria natureza lugar e como reflexo
o mundo possui de todo seu poder
belezas naturais recebem a pior das
como qualquer maldições, jamais
outro mundo, e conseguir o que
um observador mais desejam.
incauto, que não Obviamente
se aprofundasse o cenário segue
na observação a linha do horror
do que realmente gótico, um mundo
se esconde obscuro, onde
por detrás do as névoas são
“palco” e a sob um elemento
a s máscaras de predominante, onde
seus regentes, aqueles que entram
observando o local não conseguem sair e tal gênero não é muito
superficialmente concluiria tratar-se de um mundo voltado para o combate, os darklrods não são
normal. meros monstros que servem para ser destruídos
Centenas de páginas poderiam ser gastas um a um em cada aventura, na verdade eles são
para explicar o Semiplano do Pavor, e ainda assim mais ferramentas como pano de fundo na história,
nem todos os seus obscuros mistérios seriam porém não era esse o tratamento que o cenário
esclarecidos. Portanto à seguir segue uma breve recebia em sua primeira edição.
explicação sobre Ravenloft, e nada melhor para No início, as aventuras consistiam apenas
explicar o cenário do que detalhar o trajeto de em “mate o darklord e escape do semiplano”, a

15
Terra das Brumas (nome pelo qual os habitantes
conhecem o mundo, visto que Ravenloft é apenas
o nome de um castelo localizado no reino de
Barovia) era tratada não como um cenário me si
mas como “um fim de semana no inferno”, ou seja,
os personagens de outro mundo eram levados
para lá, de alguma forma enfrentavam um darklrod
e no fim de aventura voltavam para seus mundos
de origem.
Tal atitude tirava o clima de um cenário
independente, tornando Ravenloft um “suplemento”
para outros cenários.
A história do cenário foi crescendo, uma
versão atualizada foi lançada, mas seu tratamento
estava longe de se assemelhar ao de um cenário
independente, um mundo de verdade (embora
Ravenloft seja um semiplano de existência, e não
um planeta em si como muitos outros cenários).
Até que finamente em 1997 foi lançado
o livro Domains of Dread, aqui traduzido como
Domínios do Medo, esse livro mudou totalmente
a perspectiva, pois foi ele que fez de Ravenloft
um mundo independente, dando uma descrição
completa e atualizada do cenário, e trazendo
regras para a criação de personagens nativos (até
então uma novidade).
Em 2000, com o lançamento da 3 edição
do D&D Ravenloft foi cancelado e o site oficial
Secrets of the Kargatane foi sancionado pela
Wizards of the Coast para produzir material oficial
online e gratuito. Nessa mesma época com o
apoio da Kargatane e com a iniciativa de Rodrigo
Morgado o site www.ravenloft.com.br surgiu para
dar apoio aos fãs brasileiros.
Em 2001 a White-Wolf anunciou a compra
dos direitos para a publicação da 3 ed do cenário,
contando com os membros da Kargatane como
autores de alguns livros. O foco de Ravenloft
continuou, até que em 31 de Outubro de 2003,
a Kargatane anunciou que seu site chegava
ao fim e que eles estavam pulando fora por
desentendimentos, diferenças criativas com a
White-Wolf.
Aos poucos o número de livros lançados foi
diminuindo e por fim e Agosto de 2005 o cenário
foi cancelado. A Wizards não pretende relançar o
cenário, porém prepara uma aventura genérica
envolvendo o Castelo Ravenloft para o final de
2006.
16
O Horror se fortalece em sua
Pós Vida
O cenário está agora nas mãos dos fãs,
internacionalmente o site Fraternity of Shadows
está lançando material, e nacionalmente nós do
www.ravenloft.com.br estamos lançando netbooks
e outros materiais além de dar continuidade de
forma não oficial aos Gazetteers de Ravenloft.
Ravenloft não é um inverno onde hordas de
serres malignos destroça os heróis, é um mundo
de sombras, de corrupção, e tragédia. Drama e
horror. E para cada elemento desses há também
o heroísmo, a bondade e a inocência, mostrando
o caminho que pode ser trilhado para que o
sofrimento acabe. Aqui o importante não é acabar
com o mal do mundo, isso talvez seja impossível,
se uma vida inocente puder ser salva ou se um
indivíduo resistir a corrupção já é uma vitória.
Por fim, o vilão de Ravenloft não é um ser
estranho aos personagens, o vilão aqui é como
cada um de nós, um ser que vive, e que tem
sonhos e desejos,. Um ser que busca a felicidade,
mas cujos meios para buscar seus desejos acaba
se excedendo. Assim os heróis podem ver a si
mesmos refletidos em um vilão, a única diferença
está na escolha que se faz.
Essas linhas, caro leitor, trazem menos do
que o básico sobre a Terra das Névoas, se elas
não esclareceram suas dúvidas, o que posso
dizer te é o seguinte:
Olhe, a lua está cheia, as névoas nos
cercam, dá-me tua mão e deixa que te conduza
para as névoas, mas uma vez que a elas adentrar,
não haverá volta, pois nelas existem segredos
inimagináveis, mas que mancharão para sempre
a pureza de tua alma.
Leandro “Lucifer Abaddon” Zerbinatti de Oliveira
www.ravenloft.com.br
TITANIC

Cenário/Aventura para

OPERA RPG
1a Parte
 A SOMBRA DO TITANIC de algum modo, alguma coisa sempre levou o Titanic, seus
tripulantes e passageiros, mais e mais próximos de seu
destino fatal.
Introdução A aventura que você tem em mãos agora retrata
a história desse transatlântico, de seu naufrágio, de suas
vítimas e até mesmo de suas lendas, mas não se passará no
Titanic, poucos passado e no TITANIC original e sim em um futuro próximo,
são os que não mais precisamente no ano de 2005.
conhecem a história do Os personagens terão a oportunidade de embarcar
navio que nem mesmo em uma réplica perfeita Titanic, feita de modo a imitar o
o próprio Deus poderia antigo vapor nos mínimos detalhes, a porcelana, os móveis,
afundar, mas que no os utensílios, tudo copiado para serem idênticos ao que
ano de 1912, em sua estava a bordo do Titanic no ano de 1912.
viagem inaugural iria Uma réplica construída para agradar os antigos
naufragar nas águas fãs da história do navio, uma réplica construída para trazer
geladas do Atlântico o passado de volta, e com ele, todas as lembranças,
Norte, deixando cerca divertimento por um preço bastante acessível.
de 1500 vítimas e vários Qual o desafio deste cruzeiro de férias?
sobreviventes que O passado do Titanic não tem nada de divertido, é
jamais se esqueceriam um passado de dor e sofrimento, o navio se tornou o túmulo
daquela noite fatídica. aquático de centenas e centenas de pessoas, que em
O que talvez pouco tempo viram todos os seus sonhos se desfazerem e
intrigue a muitos é o afundarem no oceano.
fato de que, passados Será possível remexer em todo esse sofrimento
mais de noventa anos sem conseqüências?
de seu naufrágio, Não desta vez.
o Titanic continuar a Aqueles que morreram no Titanic serão acordados
despertar a curiosidade das pessoas, sendo tema de filmes, de seu sono e retirados de seu mundo, irão desejar vingança,
livros e páginas de Internet. pois o tempo não passou para eles e tudo o que verão é
O que há de tão especial nessa história? um bando de pessoas fúteis se divertindo às custas de sua
A resposta para esta pergunta está no passado, na dor, dançando uma bela valsa no salão onde viveram seus
época em o Titanic foi idealizado e construído, nas pessoas últimos e derradeiros momentos.
que viviam naquele tempo e na série de acontecimentos Não, essa não é mais uma história romântica
e coincidências que conseguiriam afundar o maior, mais sobre o Titanic, é um pesadelo que está para começar, e
luxuoso e poderoso navio já construído até então. os personagens logo perceberão que, por uma série de
Era o início do século XX, e a sociedade britânica razões, estão bem no meio dele, sem ter como e nem para
acreditava estar adentrando um século de glórias, onde fugir.
descobertas e avanços indescritíveis, o ser humano Com o fim deste pesadelo haverá a redenção e o
começava a se achar poderoso, capaz de enfrentar e até fim da culpa ou a repetição de uma antiga tragédia e o fim
mesmo domar as forças da natureza ao seu redor. prematuro de inúmeras vidas, mais fantasmas para povoar
O Titanic nasce sob as influências desta época, o a história e lenda do TITANIC.
maior objeto móvel já construído pelo homem, seu tamanho, E porque os personagens não podem simplesmente
um reflexo de sua força e poder incomparável, luxuoso de fugir?
tal maneira que nenhum outro navio conseguisse receber Nas próximas páginas você descobrirá que alguns
melhor a fina aristocracia britânica. deles já fizeram isso uma vez, já fugiram, abandonando
Naquela época, era difícil olhar para o Titanic e não pessoas para morrerem e a culpa os perseguiu através do
se impressionar com o que o ser humano havia sido capaz tempo, ultrapassando até mesmo os limites da morte e da
de construir. vida.
É nesse ponto que a história desse gigante começa Desta vez eles terão que enfrentar o passado e os
a se imortalizar. seus medos.
Titanic, o navio dos sonhos, incomparável, símbolo Seja bem vindo à bordo do TITANIC.
de poder e status não apenas naufragou, ele sequer
conseguiu completar sua primeira viagem.
Como isso pode acontecer? Até que ponto a Capitão Observador Fernando
arrogância humana foi responsável pelo naufrágio e morte
de todas aquelas pessoas?
O fato é que várias seriam as maneiras de se evitar o
ocorrido, várias seriam as maneiras de pelo menos diminuir
drasticamente o número de vítimas, mas de alguma maneira,

18
 Capítulo I Apesar disso, em 1904, com o apoio
incondicional de J. P. Morgan, J. Bruce Ismay se
torna o presidente e diretor geral da companhia,
Nasce uma Lenda sua opinião é muito respeitada e aceita entre os
acionistas.
Em 1898, Em 1907, o ambicioso projeto idealizado
após a morte de seu por J. Bruce Ismay é aprovado e têm início à
pai, Joseph Bruce construção dos três navios irmãos da classe
Ismay assumia a Olympic, o Olympic, o Titanic e o Gigantic.
White Star Line
(Companhia
Estrela Branca), PRIMEIRA VÍTIMA
com um único
Um dos operários responsáveis pela remoção
objetivo em mente, das escoras que seguravam o costado do navio
levar a companhia ficou preso pela perna quando uma destas es-
ao topo e à coras ruiu, ele é levado às pressas para o Roy-
supremacia das al Victoria Hospital, mas não suporta os diver-
viagens marítimas sos traumas sofridos e falece no dia seguinte.
no século que
estava para No dia 20 de outubro de 1910 termina a
começar. construção do Olympic e o mesmo é lançado ao
Os ricos mar com sucesso, em 31 de maio de 1911 é a vez
passageiros britânicos desejavam cada vez mais do casco do Titanic ser lançado ao mar, fazendo
luxo e velocidade e com isso tornavam mais e ali a sua primeira vítima.
mais acirrada a disputa entre a White Star Line e A sociedade da época assim como a
sua principal concorrente, a Cunard Line. imprensa fica impressionada com o tamanho e a
A Cunard Line apresentava como armas tecnologia empregadas no Titanic, com seus quase
o Mauritânia e o Lusitânia, seus dois maiores e 270 metros de comprimento, casco duplo, 16
mais luxuosos transatlânticos. compartimentos à prova de água e portas à prova
Em 1900, a White Star Line começa a de água que podiam ser acionadas eletricamente
projetar três grandes vapores, maiores e mais a partir da ponte de comando, ele ganha da
luxuosos do que tudo já feito até então, é através imprensa britânica a fama de insubmergível.
destes navios que J. Em Junho de
Bruce Ismay pretende 1911 o Olympic parte
superar sua rival e PRIMEIRO ACIDENTE DO VELHO CAPITÃO para sua primeira
alcançar novamente o viagem, a data inicial
primeiro lugar entre as Em 20 de Setembro de 1911, sob o comando do vet- para a viagem inaugural
erano capitão Edward J. Smith (o mesmo capitão que
companhias marítimas.
iria comandar o Titanic em sua primeira e única via- do Titanic é definida
No ano de 1902 gem), o Olympic colide com o cruzador da marinha como sendo 20 de
a White Star Line, em real Hawke, sofrendo diversas avarias. A White Star março de 1912, mas um
dificuldades financeiras, Line desloca trabalhadores e recursos para reparar o incidente iria obrigar a
é vendida para um Olympic atrasando assim o término do Titanic, adian- companhia a alterar os
cartel de navegação do sua viagem inaugural para 10 de abril de 1912. seus planos e adiar esta
controlado pelo viagem.
banqueiro americano J. Em janeiro de
Pierpont Morgan, os seus navios continuam com 1912, os botes salva-vidas são levados a bordo, o
tripulação e bandeiras inglesas, mas passam para navio tem capacidade para receber até 48 botes,
o controle de acionistas americanos. mas com o objetivo de dar mais espaço aos

19
passageiros tal capacidade é ignorada e apenas
16 botes e 4 desmontáveis são colocados no
navio. Se a capacidade máxima do navio fosse
respeitada, haveria a possibilidade de se salvar
todas as pessoas á bordo.
Infelizmente o Titanic, com seus 20 botes,
superava o que a antiquada lei inglesa impunha
para navios com mais de 10.000 toneladas, pois,
para navios com esse tamanho a lei inglesa exigia
que houvesse no mínimo 16 botes salva vidas á
bordo.
Em 31 de Março, o Titanic está praticamente
pronto, devido a algumas modificações estruturais
e um maior número de suítes, ele supera seu irmão
mais velho,
o Olympic.
O Titanic era
então, o maior
e mais luxuoso
navio da época.
Em 02 de
Abril de 1912, o
Titanic passa
por testes
obrigatórios, testes de equipamentos, manobra,
velocidade e parada total a uma velocidade de
20 nós. São necessários cerca de 778 metros
para que o Titanic pare completamente a essa
velocidade.
No fatídico dia do impacto o navio estava a
uma velocidade de 22 nós (cerca de 40 km/h) e o
Iceberg fora avistado a uma distância aproximada
de 460 metros, tornando impossível uma parada
total do navio. Os testes de parada com velocidade
acima de 20 nós nunca foram realizados.
No dia 03 de Abril, o Titanic chega a
Southampton, porto de onde partirá para sua
última viagem, do dia 05 até o dia 09, ele recebe
todos os suprimentos e o carvão necessários
para a viagem que se iniciaria no dia seguinte.
20
Histórico
Nas próximas páginas você terá um histórico
completo dos fatos que levaram o Titanic ao
naufrágio mais famoso da história da humanidade,
desde sua partida no
porto de Southampton
até o resgate dos
sobreviventes pelo navio
S.S. Carpathia.
Há quem diga que
a enorme quantidade
de fatos e decisões
equivocadas que levaram
o navio ao fundo do oceano
atlântico não foram meras
coincidências, mas sim o
destino inevitável de um
navio que simbolizava a
arrogância de toda uma sociedade.
Um dos principais argumentos destas
pessoas é o romance Futility (Futilidade), escrito
por Morgan Robertson e publicado em 1898.
No romance Morgan descreveu o Titan, o
maior navio já fabricado até então, considerado
insubmergível e por isso mesmo, tornando
dispensável uma grande quantidade de botes
salva-vidas.
O insubmergível Titan, no entanto, viria a
colidir com um Iceberg em sua viagem inaugural,
rasgando o seu caso a estibordo e afundando
o navio, causando a morte da maioria dos seus
passageiros.
Não para por ai, o Titan e o Titanic podiam
alcançar a mesma velocidade máxima (25 nós),
ambos tinham um número de pessoas a bordo
bastante parecido (2000 no Titan e 2228 no Titanic)
e ambos naufragaram no mesmo mês (Abril).
Coincidência? Vale lembrar que este
romance foi publicado em 1898, ano em que J.
Bruce Ismay estava assumindo a White Star Line,
portanto, 14 anos antes do naufrágio do Titanic.
Southampton - 10 de Abril de 1912,
7:30.
O Capitão E. J. Smith sobe a bordo do
Titanic, recebe o relatório da navegação, passa
em revista à tripulação e um exercício com os
botes salva-vidas é realizado.
Apesar de estar no comando do Olympic
quando este se acidentou, o capitão Smith
desfruta da confiança da White Star Line e de sua
tripulação, é um veterano e esta será sua última
viagem, um presente da companhia pelos vários
anos de serviços prestados, uma aposentadoria
em grande estilo.
Southampton – quarta-feira, 10 de Abril
de 1912, 9:30.
Os passageiros começam a embarcar
no navio, já aqui é possível perceber e enorme
diferença de tratamento entre os passageiros da
primeira, segunda e terceira classe.
Enquanto os passageiros da primeira
classe embarcavam com toda a elegância e
nobreza típica da aristocracia britânica, a terceira
classe passava por uma humilhante e obrigatória
inspeção sanitária, inspeção essa que, diga-se de
passagem, nem
mesmo os cães
da primeira classe
eram obrigados a
passar.
Isso não
parece incomodar
em absoluto os
passageiros da
terceira classe,
a maioria está
radiante com a
viagem que se
aproxima, grande
parte deles está partindo para a América em
busca da Terra da Oportunidade, uma chance de
começar vida nova e de enriquecer.
Luxo, poder e riqueza na primeira classe,
uma segunda classe mais luxuosa do que a primeira
classe de alguns navios, sonhos e esperança
na terceira classe, o Titanic recebe pessoas de
classes diferentes, de mundos diferentes, mas
com algo em comum, a grande maioria está feliz
pela chance de estarem na viagem inaugural do
Titanic.
21
Southampton – 10 de abril, 12:00.
Pouco depois do meio dia, as sirenes do
Titanic são acionadas ecoando pelo porto, o navio
está de partida.
Todos que não são passageiros ou
pertencentes à tripulação abandonam o navio,
amigos, parentes ou simplesmente curiosos
acenam do porto para os passageiros a bordo do
Titanic.
Em meio a toda a alegria da partida para
esta viagem histórica, o Titanic iria
fazer novas vítimas.
Além de fazer mais uma vítima em
MAU PRESSÁGIO NA PARTIDA
Ao zarpar o Titanic criou um desloca-
mento de água com força o suficiente
para esticar ao extremo as amarras que
prendiam o navio New York ao cais. Não
suportando a pressão exercida sobre
elas, tais amarras, feitas de metal arre-
bentaram e chicotearam as pessoas que
estavam lá para assistir ao navio. O saldo de mais
este evento sinistro ligado ao Titanic foi de 4 pessoas
feridas e uma mulher morta.
Sem as amarras que o prendiam, o New York vai em
direção ao Titanic, e a colisão é impedida por apenas
1,2 metros, o mesmo que nada em se tratando de
embarcações com o tamanho do Titanic e do New
York.
O incidente atrasou em uma hora a chegada do Ti-
tanic a Cherbourg e demonstrou claramente a falta
de preparo da tripulação para comandar navios do
tamanho do Titanic.
sua partida, as coisas não corriam exatamente Cherbourg / França – 10 de abril, 17:30
bem a bordo do navio. Em seu interior, sem que os
passageiros suspeitassem havia um incêndio em O Titanic chega com uma hora de atraso
um dos depósitos de carvão, sem que a tripulação ao porto de Cherbourg, os passageiros não
conseguisse controla-lo. embarcarão diretamente no Titanic, por isso são
O fogo no depósito de carvão número embarcados em barcos que os levarão até o
10 já ardia quando o Titanic chegou até o porto navio.
de Southampton, e o capitão E. J. Smith tinha Todas as luzes do navio são acesas e os
conhecimento dele, mas fora tranqüilizado pelo franceses têm a oportunidade de ver o gigante da
engenheiro chefe e pelos inspetores da Harland & White Star Line todo iluminado no porto. Vinte e
Wolff, companhia que construiu o navio. Segundo dois passageiros terminam sua viagem aqui em
eles, as chamas no interior do depósito não Cherbourg e abandonam o navio, outros 274
representavam perigo para o navio e poderiam passageiros embarcam no Titanic.
ser debeladas com o reforço de novos foguistas Precisamente as 20:30, o Titanic levanta
que embarcariam em Southampton. âncora e parte para a Irlanda onde irá receber os
Não existe relato algum comprovando que últimos passageiros.
o fogo foi realmente extinto antes da partida do
navio, e o fato é que o Titanic partiu no horário Queenstown/Irlanda no Norte - 11 de
previsto, com ou sem um incêndio a bordo.
abril de 1912, 13:30.
O navio reúne a bordo algumas das
maiores fortunas do mundo, entre as pessoas
O Titanic chega ao porto de Queenstown
da primeira classe podemos destacar o “Rei do
onde recebe os seus passageiros, são 113
Cobre” Benjamin Guggenheim, Sr e Sra. Isidor
passageiros da terceira classe e 7 da segunda
Strauss, donos dos maiores armazéns de Nova
que embarcam juntamente com os malotes da
York e John Jacob Astor, conhecido neto do “Rei
correspondência.
dos Hotéis” e o homem mais rico a bordo. Além
São 14:00 e o Titanic levanta âncora para
deles estava presente o próprio J. Bruce Ismay,
seguir viagem rumo à Nova York com chegada
presidente da White Star Line e idealizador do
prevista para o dia 17 de Abril, um clima alegre
projeto que iria dar forma ao mais luxuoso navio
toma conta do navio, pois a promessa é a de mais
do mundo.
6 dias de festividades.
Ismay não poderia deixar de estar lá, era
Para ajudar não havia uma única nuvem de
o seu momento de triunfo, a realização de seu
chuva no céu, o oceano estava calmo e a viagem
sonho e o início de uma nova era nas viagens
prometia ser absolutamente tranqüila, nada
marítimas, ele estava no Titanic não apenas para
parecia poder atrapalhar a viagem do Titanic.
desfrutar de cada instante da viagem, mas para
Para Bruce Ismay, entretanto, uma viagem
garantir que nada saísse de errado.
tranqüila não era o bastante. Ismay havia definido
Sua presença a bordo viria a ter um papel
que o Titanic iria ser comentado por todos, o Titanic
importante nos fatos que levariam o navio ao seu
deveria ser notícia, não apenas por seu tamanho
derradeiro fim.
colossal ou por seu luxo, mas também por seu
O Titanic não seguiu diretamente para o seu
desempenho e velocidade, fazendo dele, o navio
destino final em Nova York, ainda havia escalas
perfeito.
em Cherbourg (França) e em Queenstown, na
Para concretizar o seu plano, Ismay tinha
Irlanda, para deixar alguns passageiros e receber
em mente a conquista da Flâmula Azul.
outros.

22
 impressionam com a estabilidade do navio.
TROFÉU PARA O MAIS VELOZ Algumas mensagens avisando sobre gelo na rota
escolhida pelo Titanic são recebidas, mas elas
A Flâmula Azul era um título muito disputado entre são comuns nesta época do ano e não despertam
as companhias de navegação da época e era dada a preocupação do capitão e menos ainda de sua
ao navio que conseguisse realizar um determinado tripulação.
trajeto em menos tempo.
Domingo – 14 de abril de 1912
Ismay desejava a Flâmula Azul para o trajeto
entre Southampton e Nova York, desbancando O Titanic está equipado com o que há
de mais moderno em termos de tecnologia de
assim a Cunard Line, sua concorrente direta pela
rota. comunicação, um poderoso Radiotelégrafo sem
Embora fosse presidente da companhia fio Marconi, este equipamento poderia enviar e
receber mensagens a uma distância muito maior
White Star Line, dona do Titanic, isso não dava a
Ismay a possibilidade de usurpar o comando dodo que a maioria dos navios que navegam nesta
navio do capitão Smith, em terra firme o capitão época.
era funcionário de Ismay e este poderia até mesmo Os avisos de
despedi-lo, mas dentro da embarcação, Ismay Iceberg não param
era teoricamente “apenas” mais um passageiro, de chegar, como é
incapaz de determinar a velocidade que o navio de costume, sempre
deveria alcançar. que uma grande
Entretanto, existem testemunhas entre os concentração de
sobreviventes que alegam terem visto o presidente gelo ou Iceberg é
da companhia pressionando o capitão a aumentar avistada por um
a velocidade para tentar ganhar o prêmio e asnavio, este emite mensagens de alerta para todos
conseqüentes notícias dos jornais. os outros que estiverem na área, diminuindo assim
o risco de naufrágios.
Não é difícil imaginar que sendo sua viagem
de aposentadoria, o capitão tenha ficado tentado São 13:42 minutos, o capitão recebe
uma mensagem do S.S. Baltic, alertando sobre
a encerrar sua carreira em grande estilo, fazendo
parte da história e ao mesmo tempo caindo nasIcebergs e grande quantidade de gelo em sua
rota, é o terceiro alerta que o capitão recebe no
graças da empresa para qual durante tanto tempo
trabalhou. dia e ele a entrega para J. Bruce Ismay, que toma
conhecimento dela, mas a guarda e comenta com
Não se sabe se este foi o motivo, mas o
passageiros que gelo não representa perigo
que se tem certeza é que o Titanic, na noite do
impacto, estava desenvolvendo uma velocidade para o Titanic.
de 22 nós, velocidade esta, bastante arriscada A quarta mensagem de gelo chega à
sala do telégrafo, ela vem do S.S. Amerika, e
para uma região repleta de Icebergs e com a sua
relata a presença de 2 grandes Icebergs na rota
visualização dificultada pela falta de ondas indo
de encontro a eles. do Titanic, infelizmente, às 13:45, logo após ter
Porque o veterano capitão Smith se recebido esta mensagem o aparelho de telégrafo
quebra, obrigando Jack Phillips e Harold Bride,
arriscaria tanto, se não fosse para encerrar a
carreira em grande estilo? seu substituto, a passarem boa parte da tarde o
consertando, isso provavelmente foi à razão dessa
Oceano Atlântico – 11 a 13 de Abril de mensagem jamais ter chegado até o capitão.
1912. Até as 22:30 do dia 14, o Titanic recebe mais
duas mensagens alertando sobre quantidades
O Titanic percorre mais de 1600 km com maciças de gelo logo à sua frente, porém elas não
tempo e oceano tranqüilos, os passageiros se chegam até a ponte de comando e ao capitão,

23
pois, aparentemente, o operador Phillips estaria por estar atolado com diversas mensagens dos
muito ocupado enviando as mensagens de passageiros que não puderam ser passadas
passageiros para terra firme, uma vez que elas durante à tarde, com isso ele ignorou um aviso
teriam acumulado devido à perda de tempo para que poderia ter salvado a vida
consertar o aparelho. de todos a bordo.
O telegrafista do
14 de Abril de 1912, 22:20 – Navio Californian assume que o
Californian. Titanic está mais do que ciente
sobre os Icebergs logo à sua
O navio de carga Californian, rumando de frente e continua a escutar as
Londres para mensagens enviadas por ele
Boston, está até as 23:30, quando desliga o
cercado de seu equipamento e vai dormir
gelo por todos como de costume.
os lados. O Californian, navio mais próximo e capaz
O de salvar a vida de todos os passageiros a bordo do
capitão Lord Titanic, para de receber mensagens de telegrafo
ordena que 10 minutos antes do impacto fatal do Titanic.
parem as
máquinas e 14 de Abril de 1912, 23:40.
que sejam enviadas mensagens de alerta sobre a
imensa quantidade de gelo na área. Com a chegada da noite, o capitão Smith
Por volta das 22:25, o Californian está envia dois vigias para o mastro, a função destes
completamente parado, aguardando que as homens é a de alertar o navio sobre a presença
condições de visibilidade melhorem para que ele de qualquer Iceberg ou grande quantidade de gelo
possa seguir viagem. em sua rota.
As 23:00, os vigias deste navio avistam Estes homens eram especialmente
um navio se aproximando pelo leste e concluem treinados pelas companhias de navegação, dada a
que deve se tratar do Titanic. Com uma lâmpada importância de sua função, pois um impacto contra
o capitão tenta contato via código Morse, mas não um Iceberg seria capaz de levar qualquer navio
obtém resposta por parte do outro navio. ao fundo do oceano em pouquíssimo tempo.
O navio avistado está seguindo em direção Apesar de seu treinamento e atenção
a uma área de risco, preocupado com o rumo que redobrada, os vigias daquela noite contavam com
ele está tomando, o capitão Lord ordena que seja imensas dificuldades, o oceano estava calmo,
enviada uma mensagem via radiotelégrafo. calmo até demais, não haviam ondas, ondas estas
O telegrafista do Californian recebe a que ao bater contra um Iceberg facilitariam em
missão de informar o navio avistado e inicia o muito a visão dele à distância. Além disso, faltava-
envio da mensagem: lhes um binóculo, equipamento essencial em sua
função, aparentemente havia apenas um único
binóculo a bordo e este estava desaparecido.
Californian: “Ouça, amigo, estamos cercados pelo À noite de 14 de Abril está fria, muito
gelo e...” fria, Frederick Fleet e seu companheiro de vigia
Titanic: “Desapareça, cale-se, você está interferindo Reginald Lee tentam se aquecer da melhor maneira
com minha transmissão, estou tentando me comuni-
possível, enquanto se esforçam para enxergarem
car com Cape Race.”
qualquer sinal de perigo logo à frente.
Fleet percebe um vulto logo à frente, uma
Jack Phillips interrompeu bruscamente a forma mais escura do que a água do oceano que
mensagem do Californian, muito provavelmente aumenta cada vez mais, em poucos instantes

24
 mas vários pequenos rombos por boa parte de
LOCALIZADO TARDE DEMAIS sua extensão.
Murdoch sabe que tem que agir rápido,
Várias décadas depois do naufrágio, em uma das ele ainda não tem idéia da gravidade dos danos
muitas expedições ao imenso campo de destroços sofridos, mas sabe que não devem ser pequenos,
do Titanic, foi encontrado um binóculo. Irônico o fato por isso mesmo ele aciona o mecanismo que
de que se no dia do naufrágio este binóculo estivesse fecha as portas estanques na esperança que
nas mãos dos vigias, o Iceberg teria sido visto bem elas contenham a água que por ventura esteja
antes e a tragédia poderia ser evitada. entrando no navio.
Estar portas, que podiam ser acionadas a
ele percebe que se trata de um imenso Iceberg a partir da Ponte de Comando, isolavam os vários
cerca de 460 metros, bem à frente do navio. compartimentos, impedindo que a água corresse
Fleet taca o sino do mastro em desespero, livremente entre eles, infelizmente, o número de
ao mesmo tempo em que tenta contato com a compartimentos alagados, fez com que a proa
ponte de comando: descesse rapidamente e que a água passasse
Iceberg, logo à frente! por cima dos compartimentos, fazendo com que
O sexto oficial Moody recebe a informação e tais portas apenas adiassem por breves instantes
imediatamente comunica o primeiro oficial Willian o inevitável.
Murdoch, que dá a ordem ao timoneiro: Vários foguistas que estavam trabalhando
Tudo a estibordo! nas caldeiras não tiveram tempo de escapar,
Ao mesmo tempo em que ordena a virada ficando presos nos compartimentos inferiores e
do navio a estibordo, pelo telegrafo de bordo morrendo afogados.
Murdoch ordena parada total, seguida da
reversão dos motores. 14 de abril de 1912, 23:50
Murdoch acredita estar tomando a atitude
mais correta diante da situação, mas ele está O abalo causado pelo impacto com o
enganado. Devido ao pouco tempo empregado Iceberg é sentido por vários passageiros e
nos testes de manobra com o Titanic não se sabe tripulantes, entre eles, o capitão E. J. Smith, que
o tempo necessário para que o navio execute a segue imediatamente para a ponte de comando
manobra ordenada por Murdoch. em busca de informações a respeito do ocorrido.
As hélices do Titanic param e começam a Fazem apenas 10 minutos que o impacto
dar ré, em alguns segundos que mais parecem ocorreu e a água entra com rapidez em vários
uma eternidade a proa do navio começa a se virar compartimentos. Os motores são colocados em
para a esquerda, mas infelizmente o Iceberg foi “á frente e devagar”.
visto tarde demais. Fleet, Murdoch e a tripulação O capitão chega à ponte de comando e
na ponte de comando observam em pânico o recebe o relatório preliminar de um visivelmente
casco do Titanic se chocar assustado oficial Murdoch, ele ordena parada
contra o Iceberg. total dos motores para que o navio possa ser
A 22 nós, cerca inspecionado e os danos avaliados.
de 40km/h, um gigante Para esta avaliação dos danos o capitão
de 46.000 toneladas se se junta a Thomaz Andrews, engenheiro chefe do
choca contra um imenso Titanic e ambos descem aos conveses inferiores
bloco de gelo. A colisão para poderem ter uma idéia da situação.
dura 10 longos segundos, Em pouco tempo eles percebem que a
e durante este tempo situação não é nada boa. Andrews demonstra ao
o Iceberg causa sérios capitão que devido à extensão dos danos e ao
danos ao casco do Titanic, número de compartimentos inundados (o navio era
abrindo não apenas um, capaz de flutuar com até quatro compartimentos

25
alagados, mas com os cinco que foram afetados
pelo impacto não), o navio não teria muito tempo
de vida, possivelmente não mais do que 2 horas.
Em meio ao silêncio e ao medo estampado
na face dos presentes, o capitão Smith pergunta
ao primeiro oficial Murdoch qual o número exato
de pessoas a bordo.
A reposta é terrível: “2228 almas a bordo
senhor”.
O capitão sabia que os botes salva-vidas
tinham capacidade para apenas metade destas
pessoas e que se a ajuda não chegasse rápido
centenas de vidas se perderiam nas águas
geladas do oceano, a partir daquele momento,
cada segundo era importante.
14 de abril de 1912, 24:00
Sem nenhuma alternativa, o capitão Smith
se dirige à sala do telegrafo onde dá a seguinte
ordem ao operador: “Informe a quem responder
que estamos afundando rápido pela proa e
precisamos de auxílio imediato”. Inicialmente,
é enviado o sinal de socorro padrão, CQD, mas
pouco tempo depois o operador do telégrafo
visando demonstrar o desespero da situação o
troca por um sinal de socorro recém implantado:
S.O.S (Save ou Souls, “Salvem nossas Almas”).
No continente, as estações costeiras de
Halifax e Cape Race recebem os pedidos de
socorro e impotentes, retransmitem o sinal na
tentativa de encontrar alguém que possa ajudar o
Titanic.
Vários navios respondem aos pedidos de
socorro, mas nenhum está perto o suficiente para
poder ajudar o Titanic, o vapor alemão Frankfurt
está a 241 km de distância, o Olympic, irmão
gêmeo do Titanic, está ainda mais longe, a 805
km de distância.
26
O radiotelegrafista do navio de passageiros
Carpathia, indo de Nova York a Liverpool consegue
contato com o Titanic e assustado ouve os pedidos
de socorro, informando imediatamente ao seu
capitão.
Arthur H. Rostron, capitão do Carpathia
ordena que o curso seja alterado para o local
onde está afundando o Titanic, ele está a 94 km do
acidente e a sua velocidade normal é de 14 nós.
As válvulas de segurança na sala de máquinas
são fechadas ilegalmente para que o navio possa
aumentar sua velocidade para 17 nós, cerca de 30
km/h, em uma tentativa desesperada de chegar
ao Titanic.
15 de abril de 1912, 00:05
O capitão Smith ordena que os passageiros
sejam acordados, que vistam coletes salva-vidas
e que botes salva-vidas sejam descobertos.
A princípio os passageiros não são
informados de que o navio está afundando,
recebem apenas instruções para se prepararem
e subirem ao deck de botes, muitos acreditam se
tratar de um exercício de rotina.
A proa do navio afunda rapidamente e a
tripulação aflita obedece ao capitão e começa
a preparar os botes salva-vidas para que sejam
baixados.
Pensando em manter a ordem e
diminuir o desespero dos passageiros,
o capitão ordena que a orquestra seja
trazida para o convés e que toque
músicas alegres e suaves.
15 de abril de 1912, 00:25
O capitão é informado de que o
navio mais próximo a responder o chamado é o
Carpathia e de que ele só chegará em 4 horas,
tempo demais para o Titanic que tinha menos de
2 horas de vida.
Não há mais nada que ele possa fazer,
é impossível salvar todos a bordo. Visivelmente
abalado, Smith ordena que os botes sejam
baixados, os oficiais começam a chamar mulheres
e crianças para entrarem nos botes.
Muitas mulheres desesperadas se recusam
a se separar de seus maridos que, de acordo vez mais rápido, o pânico entre os passageiros
com as instruções, aumenta a medida em que fica claro que o
não podem entrar naufrágio é inevitável e de que não existem botes
nos botes. Para suficientes para todos.
convencer algumas Thomaz Andrews, engenheiro chefe do
delas, os oficiais Titanic exige que a tripulação encha os botes com
insistem que se trata d e sua capacidade máxima, ele sabe que os botes
apenas um exercício foram testados e
e de que em breve os que são capazes
botes serão trazidos ESQUECIDOS de suportar o peso
de volta ao navio. de 60 pessoas,
Enquanto os passageiros da primeira
assim como sabe
classe recebem todo o auxílio ne-
15 de abril de cessário, sendo acordados e instruí-
que cada lugar
1912, 00:45 dos corretamente, os da terceira vazio em um bote
classe são deixados à própria sorte, são acordados é uma vida a
O primeiro bote é aos gritos pela tripulação, muitos não entendem o menos que será
baixado com apenas 27 que esta acontecendo e voltam a dormir, outros se- salva.
pessoas.Amaioria da tripulação quer chegam a ser avisados. Em um destes
Vários deles só percebem que o navio está botes, mais
não possui o treinamento
realmente afundando quando a água começa a inva- precisamente o
necessário para a operação dir os seus camarotes.
de salvamento durante um bote desmontável
Alguns passageiros da terceira classe não C, entra J. Bruce
naufrágio, por essa razão, com conseguem encontrar o caminho para o deck dos
medo de que os botes possam botes porque não existem placas de orientação em Ismay, presidente
virar ou mesmo afundar, eles outras línguas, eles se perdem nas entranhas do da White Star
começam a enchê-los com navio e morrem afogados. Line. A atitude
menos do que a metade de Existem boatos de que as passagens que le- do senhor Ismay
sua capacidade total. vam a terceira classe teriam sido fechadas para im- seria condenada
O despreparo é pedir que os passageiros dela chegassem aos botes por boa parte
tamanho que o bote de gerando um grande tumulto, se tais boatos são ver- da sociedade
dadeiros grande parte dos passageiros não teve se- britânica como
emergência número 1, 5º bote
quer a chance de tentar se salvar. covarde e
a ser descido é baixado com Embora essas informações não sejam con- até
12 pessoas, sendo 7 destas firmadas, os números de sobreviventes não deixam mesmo
tripulantes do navio. criminosa, já que
dúvidas sobre quem recebeu prioridade no naufrágio
Um navio é avistado ao e quem foi esquecido. A grande maioria dos sobrevi- o navio pertencia
longe e a tripulação começa a ventes pertence à primeira classe.
a sua empresa
lançar foguetes de sinalização e se esperava
na esperança de que a dele a coragem
tripulação do navio venha em seu socorro, porém e a dignidade de afundar com o Titanic, cedendo
isso não acontece e ele começa a se afastar assim o lugar a mais uma mulher ou criança que
lentamente. poderia ser salva.
Isto acontece provavelmente devido à cor
dos foguetes lançados pelo Titanic, os únicos a 15 de abril de 1912, 01:45
bordo do navio são brancos, tipicamente utilizados
em festas e comemorações, e não vermelhos O Carpathia que está rumando a toda
como deveriam ser os foguetes para sinalizar a velocidade para a posição do Titanic e que
perigo. vem mantendo contato constante, recebe a
A inclinação do navio já é bastante última transmissão por parte do navio: “Sala de
acentuada e sua proa começa a submergir cada Máquinas e Caldeiras alagadas”.

27
 O tumulto e o pânico no Titanic assumem desapareceu nas águas do Atlântico, elas buscam
uma proporção tamanha que obriga o segundo se manter no navio o máximo de tempo possível,
oficial Lightoller a sacar sua arma e disparar na esperança de que chegue alguma ajuda.
para cima, na tentativa de assumir o controle da Elas não sabem, mas a ajuda jamais
situação e permitir que mais mulheres e crianças chegará.
subam nos últimos botes.
15 de abril de
15 de abril de 1912, 02:05 1912, 02:18
O último bote é lançado na água, A popa do navio
ainda restam 1500 pessoas no Titanic, está fora da água, o
sem esperanças de salvação. Em meio leme e suas imensas
ao desespero muitos se atiram no hélices podem ser
oceano, morrendo se não pela queda, vistas pelos botes
pela baixa temperatura da água, que que se afastam.
beira o congelamento. Devido a
grande inclinação,
muitas pessoas
Em meio a todo o tumulto a orquestra do
Titanic continua a tocar músicas como “Au- caem do navio para
tumn” e “Mais perto de ti Senhor”. Eles con- a morte certa. Uma
tinuariam até que o navio estivesse de tal forma in- das chaminés se desprende e cai sobre vários
clinado e alagado que os obrigasse a cessar a sua passageiros que estão na água, matando-os
música. instantaneamente.
Tempos depois, tanto os sobreviventes quan- O padre Thomas Byles diz palavras de fé e
to a sociedade britânica viria a reconhecer a bravura esperança para vários passageiros da segunda e
destes homens, que se mantiveram firmes em seu terceira classe reunidos ao seu redor.
dever, mesmo diante de um desastre que se mostra- Nesse instante as luzes do Titanic piscam
va inevitável. Nenhum de seus integrantes sobre- algumas vezes para logo depois se apagarem,
viveu. lançando passageiros e tripulantes em um
assustador manto de escuridão.
Um enorme barulho é ouvido por todos
O capitão Smith dá ordens a sua tripulação à medida que o casco do Titanic não suporta a
de “Cada homem por si”. tensão exercida sobre ele e começa a se partir em
Tal ordem libera os membros da tripulação dois. A proa afunda rapidamente puxando a popa
de seus deveres e os autoriza a junto com ela.
lutarem por suas vidas da melhor A popa do navio fica
maneira possível. então em uma posição
A última vez em que o capitão vertical, até que se
Smith é visto é na ponte de comando, desprende da proa. Ela
onde ele, cumprindo pela última vez bóia por mais alguns
com seu dever, afunda junto com instantes e então inicia a
o Titanic, possivelmente repleto de sua descida nas águas
culpa por ter ignorado os avisos do Atlântico.
de gelo e mantido a velocidade do Os passageiros que
navio. não estão utilizando coletes salva vidas são
As pessoas que ainda estão a bordo do tragados pelo navio quando ele afunda, os que
Titanic se vêem obrigadas a correr em direção a estão utilizando voltam à superfície apenas para
popa do navio, uma vez que a proa do Titanic já sofrerem e agonizarem por mais alguns minutos,

28
à medida que seus corpos congelam nas águas
geladas.
Essa tortura dura pouco mais de 10 minutos
A ÚLTIMA DISCRIMINAÇÃO
Os passageiros da terceira classe ai-
nda sofreriam uma última forma de discriminação.
Dos 306 corpos encontrados, 116 foram devolvidos
ao oceano, por não estarem em condições de serem
reconhecidos.
Apenas os corpos que aparentassem ser de
passageiros da primeira classe eram mantidos a bor-
do independentemente de seu estado.
antes da morte dar fim ao sofrimento destas pobres
almas.
Em seus botes salva-vidas, os sobreviventes
ouvem no silêncio da noite os gritos desesperados
daqueles que estão se afogando, muitas das
mulheres a White Star Line:
bordo dos
botes sabem
que seus
maridos, pais
e amigos
podem estar
lá, pedindo
por socorro.
Infelizmente,
temendo que
os botes sejam virados na tentativa de resgate
das pessoas que estão se afogando, os oficiais
demoram a retornar, e quando o fazem, apenas
um único bote procura por sobreviventes.
O bote comandado pelo quinto oficial Harold
Lowe consegue localizar apenas três pessoas
ainda vivas em meio ao oceano, sendo que uma
delas viria a falecer logo depois.
Para os 705 sobreviventes só restava
esperar pelo resgate.
As 03:30 eles avistam os foguetes de
sinalização do Carpathia.
29
Carpathia, 15 de abril de 1912, 04:10
O primeiro bote salva-vidas é recolhido
pelo Carpathia, os sobreviventes estão exaustos
tanto fisicamente quanto emocionalmente, eles se
lembrarão pelo resto de suas vidas desta noite,
e durante anos muitos deles ouvirão em seus
pesadelos os gritos de desespero dos que se
afogaram no naufrágio.
Às 08:30 o último bote é recolhido pelo
Carpathia, cobertores e cuidados médicos são
oferecidos aos
sobrevivente e o
Carpathia segue
rumo à Nova York.
Através do
telégrafo do navio
o senhor J. Bruce
Ismay envia a
seguinte mensagem
aos escritórios da
"Com profundo pesar aviso-os que
o Titanic afundou esta manhã após
colidir com Iceberg, resultando em
séria perda de vidas. Mais detalhes
depois”.
Os jornais não perdem tempo, e
relatam o impensável até então,
o Titanic, gigante da White Star
afundou causando a morte da maioria
das pessoas a bordo, muitos destes
jornais ainda fornecem informações
equivocadas, principalmente no que se refere ao
número de vítimas da tragédia.
Nova York, 17 de abril de 1912
A White Star Line já sabe que não há a menor
possibilidade de haverem mais sobreviventes na
área do naufrágio e contrata o navio Mackay-
Bennet em Halifax para procurar por corpos para
serem entregues aos familiares.
Devido ao mau tempo e aos nevoeiros que
diminuíam drasticamente a visibilidade ele só
chega ao local do naufrágio no dia 20 de abril para
então encontrar um cenário macabro.
O oceano está repleto de destroços do
outrora luxuoso Titanic, e em meio a eles, estão devido à regra destes serem salvos primeiro em
corpos, muitos corpos, alguns deles não podem qualquer desastre marítimo.
ser reconhecidos, pois estão completamente Os principais opositores do movimento
desfigurados. argumentaram que as mulheres exigiam direitos
No total, o iguais, mas não obrigações e deveres
Mackay-Bennet iguais, as sufragistas demoraram a se
ajudado por outros recuperar do golpe.
três navios que
também foram Oceano Atlântico, Julho de 1986
enviados nas
buscas encontrou Após outras expedições fracassarem,
306 corpos. a expedição franco-americana liderada
pelo doutor Robert Ballard finalmente encontra os
Nova York, 18 de abril de 1912 destroços do Titanic. Eles estão a 3784 metros de
profundidade e foram muito difíceis de se encontrar
O Carpathia e os sobreviventes do naufrágio dada à diferença de 20 km entre a última posição
chegam à Nova York, onde podem avistar a relatada pelo Titanic e a localização exata deles.
Estátua da Liberdade Os destroços do Titanic
e 10.000 pessoas que se dividem em três
estão aguardando a sua O DESPREZO PARA COM A TRIPULAÇÃO áreas, a proa, primeira
chegada, é o fim da mais a afundar e a parte
longa viagem de suas Até mesmo a terceira classe foi mais bem tratada que que mais conserva
vidas. a tripulação do Titanic na chegada à Nova York. Eles, suas características
Apenas em 12 de pelo menos, tiveram o apoio de algumas pessoas e o r i g i n a i s ,
junho, quase dois meses entidades. Muitos dos tripulantes, sem dinheiro, ti- assemelhando-se a
veram sérias dificuldades para retornar à Inglaterra,
depois do desastre, as um navio.
onde somente então receberam o pagamento pelos
buscas por corpos seriam A popa do navio,
seus serviços a bordo do Titanic, mas somente até
encerradas e as últimas o momento em que ele afundou, nada mais foi pago que ficou boiando
vítimas enterradas em para estes homens que lutaram bravamente para durante um tempo e
Halifax. salvar o maior número de vidas possível. está completamente
O naufrágio O senhor Ismay, aparentemente, não considerava destruída, quase não
do Titanic provocaria que eles merecessem receber o pagamento integral, se reconhece que ela
profundas mudanças em uma vez que devido ao naufrágio eles não completa- fez parte de um navio.
vários aspectos da época, ram os seus dias de serviço. Entre elas há uma
não apenas referentes à extensão de cerca
navegação. de 800 metros, onde
A partir de 1914 todos os navios passaram a centenas de objetos que estavam no Titanic se
ter que possuir botes salva-vidas suficientes para espalharam, é um imenso campo de destroços
todas as pessoas a bordo, incluindo a tripulação, onde se pode encontrar de tudo, garrafas,
além disso, foi criada a Patrulha do Gelo, com porcelana, vasos sanitários, sapatos, até mesmo
a finalidade de um maior monitoramento dos uma cabeça de boneca foi encontrada.
Icebergs na região, impedindo assim novos Muitos consideram o sítio de destroços
naufrágios. do Titanic como sendo um local sagrado, onde
Na sociedade, um movimento que sofreu repousam as almas de todos que morreram no
bastante foi o movimento sufragista. As mulheres naufrágio, um verdadeiro túmulo aquático.
da época começavam a exigir direitos iguais aos
dos homens, mas a maioria dos sobreviventes
do Titanic era composta por mulheres e crianças

30
 Capítulo II
Fantasmas
"O som das pessoas se afogando é algo que
não posso descrever a você e nem qualquer
outro pode. É o som mais horrível que ouvi e
após há um silêncio terrível que se segue”.
Ms. Eva Hart
(Morreu em 15 de fevereiro
de 1996 aos 91 anos).
Aqui os Fantasmas são reais
Qual é uma das poucas certezas absolutas
que podemos ter a respeito de nossas vidas? A
certeza de que, cedo ou tarde, elas acabarão.
Pode ser daqui a dezenas de anos, deitados
confortavelmente em nossas camas, dormindo,
de forma
tranqüila
e indolor,
pode
amanhã, em
um terrível
acidente
de carro
com várias
v í t i m a s
fatais, mas o fato é que, inevitavelmente, um dia
nós iremos morrer.
É certo que isso irá ocorrer, agora a grande
dúvida que nos atormenta há séculos e séculos é:
E depois?
Depois que o coração dá a sua última
e derradeira batida e a vida se esvai de nossos
corpos, o que acontece? É o fim ou apenas um
novo começo?
A grande maioria da humanidade acredita
e tem fé que a morte é apenas uma passagem
para um novo mundo, que nosso corpo morre,
mas nossa consciência permanece “viva” em
outro mundo.
Pois bem, uma boa parte destas pessoas
acredita que nem sempre esta consciência
consegue se libertar das amarras que a prendem a
este mundo, seja por assuntos inacabados, apego
demasiado ao material, amor ou ódio intenso,
algumas pessoas ao morrerem não fazem a
passagem que deveriam fazer, seja ela qual for.
Eles permanecem aqui, em nosso mundo,
nos assombrando, muitas vezes, incapazes
de perceberem o que realmente aconteceu,
acreditando que ainda estão vivos.
Estas consciências, estes seres, passamos
a chamar de assombrações, almas penadas,
espíritos errantes ou simplesmente fantasmas,
nome pelo qual iremos nos referir a eles daqui por
diante.
Muitos afirmam não acreditar na existência
de fantasmas, poucos se atreveriam a entrar
sozinhos em um cemitério, apenas com a Lua
cheia a iluminar o seu caminho por entre os
túmulos.
A verdade é que a morte e o além nos
fascinam e ao mesmo tempo nos assustam. Ficar
frente a frente com um fantasma, se deparar
com alguém que já morreu é o confronto com o
desconhecido, afinal não é natural que os mortos
“se levantem e falem conosco”.
Os fantasmas realmente existem ou são
ser apenas fruto da imaginação fértil de algumas
pessoas que se deixam assustar por velhas
histórias e pelas sombras e barulhos típicos de
antigos casarões?
Não temos essa resposta e francamente
não importa, o que realmente interessa a nós é
que para esta história a bordo do Titanic, para
esta aventura, iremos assumir que fantasmas são
bem reais e capazes de interferir no mundo dos
vivos.
Aqui nessa história o barulho de passos
na velha escadaria sem que ninguém seja visto
andando no casarão abandonado pode sim,
significar que o seu antigo e último morador se
recusa a deixar o seu lar, mesmo tendo morrido a
mais de 13 anos.
Fantasmas no Titanic
Se for verdade que assuntos inacabados
e sentimentos intensos são capazes de “criar”
fantasmas, mantendo suas consciências
atormentadas presas ao mundo terreno, então o
Titanic teria sido o responsável pela “formação”
31
de inúmeros fantasmas, talvez centenas deles.
Basta que recordemos o que aconteceu
na noite de 15 de abril de 1912, quando 1500
pessoas morreram. As que tiveram sorte foram
esmagadas por uma das imensas chaminés que
se desprendeu do navio, porque para as outras
restou morrerem afogadas ou então congelar lenta
e dolorosamente enquanto gritavam implorando
por um socorro que estava próximo, mas que
jamais chegaria.
Quando os corpos foram encontrados
boiando em meio ao imenso campo de destroços
do Titanic, mães foram encontradas abraçadas
ao corpo de seus filhos, tente imaginar o que
estas mulheres sentiram ao verem os seus filhos
morrerem em seus braços sem que um único bote
retornasse para ajudá-las.
Some a isso, o que sentiram quase todos
os passageiros da terceira classe, abandonados
para morrer, tento que esperar pelo salvamento
das mulheres e crianças da primeira classe
enquanto as suas mulheres e crianças ficavam
praticamente condenadas a afundar juntamente
com o navio.
Pais se separando de mães e filhos, boa
parte da tripulação condenada a afundar com o
navio, foram 2 horas de desespero, dor e muito
sofrimento.
E quanto aos pouco mais de 700
sobreviventes, os afortunados e sem abençoados
sobreviventes.
Eles puderam assistir ao colossal navio
submergir nas águas do Atlântico, puderam ver
pessoas se atirando para a morte no oceano,
puderam ouvir seus gritos enquanto se afogavam,
gritos que se perpetuaram durante longos minutos,
até que enfim o silêncio veio a tomar conta da
escuridão.
O que sentiram as mulheres a bordo
daqueles botes sabendo que em meio aqueles
gritos poderiam estar os maridos que juraram
amar?
Muitos dos sobrevivente tiveram pesadelos
durante anos e anos, se lembrando daquela noite
infernal.
Neste cenário, tanto os vivos quanto os
mortos demorariam a encontrar a paz.
Agora viajemos em direção ao futuro, mais
precisamente ao ano de 2005, ano da construção
32
de uma réplica perfeita do antigo vapor da White
Star, o novo Titanic.
A intenção de seus criadores não é outra
senão o lucro, lucro esse que viria do imenso
fascínio que o navio exerce sobre inúmeros fãs
ao redor do mundo todo. Estes fãs ganhariam
a oportunidade de viajar a bordo do Titanic,
refazendo assim sua primeira e ultima viagem.
Tudo no navio buscando fazer com que os
passageiros se sentissem de volta a 1912, cada
detalhe tentando imitar o original, em uma viagem
com muita alegria, dança e excelentes bebidas.
Tantas pessoas se lembrando do passado,
vivenciando o passado, a energia criada pelos
seus pensamentos buscando e alcançando
aqueles que perderam a vida no Titanic e há
décadas descansam em sua sepultura no fundo
do oceano.
Estes fantasmas terão importante papel
nesta aventura e a seguir você encontrará regras
que os definem e aos que podem enxergá-los,
aqui chamados pelo nome de sensitivos.
Tais regras existem para auxiliar o
Observador nesta aventura e em outras que
envolvam fantasmas, mas, caso seja necessário
para o bom andamento do jogo, o Observador
deve se sentir à vontade para acrescentar, alterar
ou mesmo abolir essas regras.
PED – Percepção Extra Dimensional
Se fantasmas fossem reais, vários deles
poderiam estar ao seu lado e você não perceberia,
isso porque eles não estão em nossa dimensão,
estão em outra muito próxima da nossa, uma
dimensão que não podemos enxergar e que
passaremos a chamar de Dimensão Fantasma.
Para que você entenda melhor, tudo no
universo seria feito de energia, energia essa
que vibraria em diversas freqüências, os seres
humanos seriam capazes de perceber apenas uma
única freqüência e, portanto, uma única dimensão,
que chamaremos de Dimensão Terrestre.
A dimensão Terrestre e Fantasma estão em
uma freqüência muito próxima uma da outra, de tal
maneira que elas chegam quase a se tocarem.
Ao morrer, a maioria dos seres humanos
vai ou é atraída para outras dimensões distantes
da nossa, mas alguns não conseguem, ou não
querem, se afastar, e por isso ficam na dimensão
mais próxima e possível para eles, a Dimensão
Fantasma.
Como então alguns de nós conseguem
enxergar os Fantasmas enquanto a maioria não?
A percepção de alguns seres humanos
é mais apurada, mais sensível, estas pessoas
possuem o dom ou a maldição, dependendo
do ponto de vista, de perceberem a Dimensão
Fantasma e principalmente, os seus habitantes.
Esta característica especial recebe o
nome de Percepção Extra Dimensional, ou
simplesmente PED, e aqueles que a possuem
serão chamados de sensitivos.
A Percepção Extra Dimensional não é
uma característica que pode ser “desligada”, ela
permanece ativa em tempo integral.
Isso quer dizer que os sensitivos enxergam
fantasmas o tempo todo?
Não necessariamente, a não ser que o seu
nível de PED seja excepcionalmente alto. Para
perceber a presença de um fantasma é necessário
um teste de percepção somado aos bônus de
PED.
Existem maneiras de se melhorar ou piorar
as chances de se perceber algum elemento
da Dimensão Fantasma. Se o sensitivo está
concentrado em alguma atividade complexa como
ler um livro, resolver um problema matemático ou
dirigir um carro em uma estrada movimentada, a
sua PED fica prejudicada.
O inverso também é válido, caso o sensitivo
esteja se concentrando na tentativa de perceber
alguém da Dimensão Fantasma, suas chances
aumentarão.
Ao mesmo tempo em que um sensitivo
tem uma capacidade maior de interagir com os
elementos da Dimensão Fantasma, estes também
tem uma maior chance de atuar sobre ele, em
outras palavras, um sensitivo é mais vulnerável
aos poderes que certos fantasmas possuem.
Crianças e animais são mais sensíveis que
a maioria dos seres humanos, chegando até PED
2, mas caso ela não seja sensitiva, esse valor
diminui com a idade e, por volta dos 7 ou 8 anos
ela já não possui mais essa característica.
É claro que os fantasmas têm suas maneiras
de se fazerem notar, mesmo sem a presença de
33
alguém com PED, mas isto será discutido mais
adiante; a seguir estão as regras para esta nova
característica e habilidades referentes.
Nova Característica Psíquica:
PED – Percepção Extra Dimensional (2 PC)*
* Característica cumulativa, cada 2 pontos gastos
nela a aumentam em 1 nível.
Cada nível desta características aumenta
em 1 os bônus para se perceber elementos da
Dimensão Fantasma e dão –1 de penalidade contra
ataques mentais provenientes desta dimensão.
Caso algum personagem possua esta
característica em nível igual ou maior ao seu
atributo percepção ele adquire automaticamente
a característica psíquica “alucinação mental grave
(confundir Dimensão Terrestre com Fantasma)”,
passando a não conseguir distinguir um fantasma
de uma pessoa viva.
Novas Habilidades Psíquicas:
Transe (disponível apenas para personagens
com PED).
Alguns sensitivos adquirem a habilidade de
aumentar sua concentração e conseqüentemente
sua PED ao entrarem em transe. Não é algo
simples e nem mesmo seguro para aqueles com
pouca experiência.
Ao entrar em transe um sensitivo pode,
a cada 5 rounds de concentração, testar sua
habilidade transe (inteligência + bônus da
habilidade) para aumentar em 1 ponto sua PED.
Ao encerrar o transe, pontos de mente
iguais aos pontos aumentados em sua PED são
gastos, quanto mais pontos de mente forem
gastos maior será a sensação de fadiga.
O problema é que quanto mais o sensitivo
aumenta sua PED, mais sua mente se aproxima
da Dimensão Fantasma e mais se afasta
perigosamente da nossa, tornando mais difícil
abandonar o transe.
Qualquer teste de percepção para eventos
em nossa dimensão terá uma penalidade igual
aos pontos aumentados em PED.
Para sair deste estado o sensitivo precisa
vencer um novo teste de transe com penalidades
iguais ao número de pontos aumentados em sua
PED, e em caso de falha, ele perderá pontos de
mente referentes ao aumento em sua PED e só
poderá tentar um novo teste após 10 minutos.
Estímulos exteriores podem auxiliar o
sensitivo a sair deste estado e trazer sua mente
de volta ao “mundo real”, a seguir você encontra
uma tabela com os estímulos e bônus para o teste
de transe.
Estímulo Bônus
Aroma conhecido (incenso, cigarro, etc) +1
Voz conhecida (amigo, namorada, etc) +1
Contato físico (sacudir, empurrar, etc) +2
Dor intensa (soco, queimadura, etc) +3
Independente da quantidade de estímulos
apresentados, o bônus concedido por eles será
de no máximo 3.
Caso a mente do sensitivo chegue a 0 ele
desmaia, se a sua mente chegar a ficar negativa
ele ficará em coma pelo número de dias igual
aos pontos negativos, sendo que, não importa o
que aconteça, sua mente jamais ultrapassará o
valor de –2, momento em que o personagem sai
automaticamente do transe.
Clariaudiência (disponível apenas
personagens com PED).
Os fantasmas são incapazes de emitir sons, para
se comunicar com os vivos ou passar idéias,
eles utilizam telepatia, porém, alguns sensitivos
possuem a habilidade Clariaudiência que lhes
permite ouvir os fantasmas, muitas vezes, sem
sequer ser necessário um teste de habilidade.
Ectoplasma
É uma energia psíquica emanada pelos
seres humanos em momentos de grande emoção.
Embora não percebam, os terrestres liberam
grande quantidade de ectoplasma quando estão
orando, rindo, chorando, sonhando, quando estão
aterrorizadas ou em vários outros momentos em
que suas emoções afloram.
Se tal energia pudesse ser vista pelos
seres humanos se pareceria como uma fumaça
esbranquiçada saindo das mentes dos presentes
e flutuando no ambiente ao redor.
Embora os seres humanos não a percebam,
os habitantes da Dimensão Fantasmas conseguem
vê-lo nitidamente, pois é dessa mesma energia
que são feitos seus “corpos”.
Os fantasmas absorvem essa energia,
recuperando pontos de mente e conseqüentemente
a sua vitalidade; sem ectoplasma um fantasma não
conseguiria se manter na Dimensão Fantasma.
Embora necessite de seres humanos para
se formar, essa energia é dissipada rapidamente
na presença de grande quantidade de seres
humanos, ou seja, ela só fica “estabilizada” e
“própria para o consumo” de fantasmas em local
com pouca circulação de seres vivos.
Se forem necessários seres humanos para
se formar ectoplasma e se na presença deles ele
se dissipa como então os fantasmas conseguem
ter acesso a essa energia?
Locais que atraem a atenção e a lembrança
de seres humanos recebem essa energia, mesmo
sem que eles estejam presentes, tais como
cemitérios, casarões abandonados após a morte
de seus antigos moradores, praças tranqüilas ao
redor de templos, trechos distantes de estradas
movimentadas que chamam a atenção, etc.
para A seguir você tem uma tabela com a
quantidade de mente que um fantasma é capaz
de recuperar através do ectoplasma gerado em
determinados lugares:
Local acumulador de Ectoplasma Mente recuperada
por dia
Cemitérios 4
Praças tranqüilas ao redor de templos 3
Casarões abandonados 2
Locais que chamem a atenção 1
Fantasmas não se sentem bem em locais
muito movimentados, uma vez que seres vivos
dissipam ectoplasma e que fantasmas são
basicamente formados por ectoplasma, seus
“corpos” podem ser dissipados resultando em
redução de mente todas as vezes que seus corpos
são atravessados repetidamente por seres vivos.
34
 A tabela abaixo ilustra os diferentes locais fantasmas possuem o atributo Vontade com valor
dissipadores de Ectoplasma e quantidade de mais baixo do que o terrestre, a maioria possui
mente que um fantasmas perderia se ficasse Vontade 4.
neles. Para que se entenda melhor, quanto maior
a Vontade, maior é chance do fantasma ser
Local dissipador de Ectoplasma Mente perdida enxergado em nossa dimensão, seja por alguém
por dia com PED ou com alguém que não a possua.
Calçada tranquila, residência 0 Valores de Vontade abaixo de 6 dão
Centro urbano/estabelecimentos -1/-2 penalidade no teste para um ser vivo perceber a
Shows/Tumultos 2
presença do fantasma, valores acima de 6 dão
bônus neste mesmo teste de percepção.
Não importa qual o valor do atributo
Percepção de um ser humano, para poder enxergar
Construindo um Fantasma fantasmas o seu atributo Percepção será sempre
6, a não ser que ele possua a característica PED
Atributos que aumentará esse atributo.
Um fantasma pode gastar 1 ponto de
Físico: Fantasmas não possuem corpo físico Mente para poder aumentar em 1 o seu atributo
e, portanto também não possuem este atributo, Vontade, este efeito dura cerca de 1 minuto,
sua vitalidade é medida de acordo com o atributo normalmente o suficiente para que ele consiga se
mente. fazer perceber.
Destreza: Os fantasmas demoram
a perceber que já não estão mais Vontade Bônus/Penalidade Terrestre sem PED Terrestre com PED
limitados a seu antigo corpo físico e
por isso a maioria deles mantém a 1 -5 Nada Sente um calafrio
2 -4 Nada Sente um calafrio
destreza que tinham quando vivos. 3 -3 Sente um Calafrio Vê uma sombra
Alguns percebem que seu novo 4 -2 Sente um Calafrio Vê uma sombra
“corpo” pode e é bem mais ágil do 5 -1 Vê uma sombra Vê uma forma detalhada
que seu corpo terreno, senso assim 6 0 Vê uma sombra Vê uma forma detalhada
7 1 Vê uma forma detalhada Vê alguém transparente
um fantasma com a aparência de 8 2 Vê uma forma detalhada Vê alguém
um velho pode ter destreza 10, por 9 3 Vê alguém transparente Vê alguém
exemplo. 10 4 Vê alguém Vê alguém
Inteligência: Este atributo é idêntico
ao que o fantasma possuía quando
vivo, porém, devido à percepção distorcida que A tabela abaixo mostra quais os bônus
muitos deles possuem da realidade este atributo e penalidades que à vontade de um fantasma
pode ser bem prejudicado. oferece para uma tentativa de percepção e o
Mente: A mente representa a vitalidade dos modo como ele é visto por pessoas com PED e
fantasmas e reflete a quantidade de Ectoplasma por pessoas sem PED.
que ele pode manter em seu corpo, ela também Máquinas de captação de imagens
pode ser utilizada para ampliar os seus poderes. (filmadoras, máquinas fotográficas, etc) em
Para fantasmas o valor padrão deste atributo é condições de luz e foco ideais são capazes de
6, podendo ser maior ou menor dependendo da registrar fantasmas com um grau a mais que a
história do fantasma, do local onde ele está e de percepção de uma pessoa normal. Por exemplo,
sua experiência. um fantasma que seria apenas sentido como um
Vontade: É através do atributo Vontade que o calafrio seria registrado pela câmera como uma
fantasma pode se fazer perceber na dimensão sombra.
terrestre, quanto maior a sua vontade maior é sua Infelizmente, dada à dificuldade que estas
materialização em nossa dimensão. Normalmente máquinas tem em focar outra dimensão, elas

35
dificilmente captam imagens com detalhes, que Características Físicas
quase sempre ficam embaçadas impedindo que
se identifique com clareza a sua real natureza. Fantasmas têm forma humana, normalmente
Percepção: Este é o atributo que representa a forma que possuíam quando em vida, ás vezes
a maior limitação para os fantasmas, não por com algumas variações de acordo com a história
ela ser baixa, em alguns lugares sua percepção de sua vida ou a maneira como morreram. Um
consegue ser até maior do que os padrões fantasma pode ser uma noiva pálida com vestido
humanos, mas é ai que está o seu maior problema, esvoaçante, um homem de terno preto e um
a percepção de alguns fantasmas está limitada a ferimento à bala em sua testa, uma garotinha com
determinados lugares, que são os seus Campos olhos vermelhos segurando uma boneca, etc.
de Percepção.
A história de um fantasma é que
Características Psíquicas
determina qual será o seu Campo de Percepção,
normalmente alguém ou algum lugar importante
Fantasmas possuem características
para ele. Campos de Percepção são as áreas
psíquicas que variam de acordo com a história.
onde o fantasma está “preso”, vinculado, por
Uma pessoa que era egoísta e covarde quando
assim dizer, são os lugares onde ele consegue
viva, provavelmente será egoísta e covarde na
atuar e enxergar a Dimensão Terrestre, à medida
Dimensão Fantasma.
que se afasta destes campos, a percepção do
A maioria dos fantasmas possui algum tipo
fantasma começa a diminuir gradativamente até
de Alucinação Mental Grave, como por exemplo,
que ele não enxergue mais nada a não ser uma
uma menininha que acha que não morreu e que
névoa espessa.
seus pais a colocaram presa de castigo em seu
O fantasma ficará perdido nessa névoa
quarto.
espessa e em pouco tempo se lembrará do seu
Campo de Percepção, retornando para lá.
Um Campo de Percepção pode ser o quarto Características
em que o fantasma dormia antes de morrer, a sua
esposa, o túmulo onde foi enterrado o seu corpo, Intangibilidade
o seu carro, enfim, algo que fosse importante para Fantasmas são intangíveis para elementos
ele ou que tenha chamado sua atenção. da Dimensão Terrestre, só podem ser atingidos
Um fantasma pode ser guiado para fora de por outros fantasmas.
seu Campo de Percepção por pessoas que estejam Essa característica causa sérios
portando algo interessante para ele (fotografias, transtornos para fantasmas que não percebem
uma roupa que lhe pertencia) ou então mantendo sua atual condição. Eles não podem abrir portas
contato (falando com ele, se concentrando nele). ou tocar em objetos e não percebem que podem
Se o fantasma for retirado de seu Campo atravessar paredes, alguns fantasmas quase que
de Percepção e abandonado em um outro lugar, enlouquecem graças a sua percepção distorcida
podem ocorrer duas situações, se o local for da realidade que os cercam.
conhecido por ele, poderá ser transformado em Flutuação*
um novo Campo de Percepção, porém se for um Fantasmas não se locomovem devido ao
local desconhecido ele irá desaparecer e aparecer atrito de seus pés com o solo, mas como quase
em um Campo de Percepção conhecido. tudo referente a sua nova condição, eles demoram
Fantasmas com o mesmo Campo de um pouco a perceber.
Percepção podem se ver e interagir entre si, Nível Velocidade Quando isto ocorre, eles
conversando, por exemplo. conseguem flutuar graças
1 20 km/h ao poder de suas mentes
2 40 km/h
3 80 km/h a uma altura próxima
4 120 km/h ao solo (no máximo 4
metros).

36
 A verdade é que todos os fantasmas
flutuam, porém, como alguns não se dão conta
disso, continuam a se locomover na velocidade
do velho e bom caminhar.
O notarem que flutuam e não andam,
fantasmas podem aumentar a sua habilidade com
sua capacidade de flutuar, e ao aumentar a sua
habilidade também aumentar a sua velocidade, a
tabela a seguir ilustra isso.
Invisibilidade
Fantasmas são normalmente invisíveis em
nossa dimensão, a não ser que sua vontade seja
extremamente alta, fato raro entre eles.
Uma maneira que eles possuem para
serem notados pelos vivos é aumentando a sua
vontade através do gasto de pontos de mente,
um ponto de mente para cada ponto de vontade
aumentado.
Máquinas como câmeras fotográficas e
de vídeo não registram essa variação, elas só
registram a imagem do fantasma com sua vontade
padrão.
Silêncio
No início eles gritam, berram, se
desesperam até notarem que os vivos não podem
ouvi-los, nem mesmo quando são vistos. Em
algumas situações, quando estes fantasmas se
esforçam muito, conseguem emitir sussurros
quase inaudíveis, mais facilmente detectados por
aparelhos de alta sensibilidade.
Habilidades Psíquicas, Físicas e
Bélicas.
Eles podem possuir todas as habilidades
presentes no livro básico, sejam elas psíquicas,
físicas ou bélicas, tudo depende de sua história
quando vivo e até mesmo depois de morto.
Sim, fantasmas também podem aprender
depois de mortos, principalmente habilidades
referentes aos seus poderes, poderes estes que
serão descritos a seguir.
Poderes Fantasmagóricos
Os poderes fantasmagóricos funcionam
basicamente como os poderes psíquicos no
OPERA (ver capítulo 7 do livro básico) e são
37
compostos por dois números, o primeiro indica
o nível da habilidade que é baseada no atributo
vontade e, quanto maior este número maior é o
controle do fantasma sobre o poder, o segundo
indica o potencial do poder e, quando maior este
valor, maior o seu potencial, aumentando assim
valores como alcance e duração do poder.
Exemplo: Ataque Psíquico Fantasmagórico (2)
=4
Os fantasmas possuem basicamente todos
os poderes listados abaixo, porém, alguns deles
ou não sabem utiliza-los ou não sabem que os
possuem, sendo que sua habilidade com esses
poderes tem valor zerado.
Retornando ao exemplo citado acima,
vamos supor que um fantasma veja o seu
assassino passando tranqüilamente pelo seu
Campo de Percepção, e repleto de ódio e desejo
de vingança tente agredi-lo. Como já foi dito
anteriormente, fantasmas não possuem corpo
físico, são intangíveis e, portanto este seria um
ataque inútil.
Para o azar do assassino, este fantasma,
mesmo sem saber possuía o poder Ataque
Psíquico Fantasmagórico, que permite aos
habitantes da Dimensão Fantasma causarem
danos diretamente na mente dos seres vivos, os
dados de seu poder seriam os seguintes:
Ataque Psíquico Fantasmagórico (0) = 1
Testes para ativação de poderes com
habilidade zerada podem ter penalidades de
acordo com a situação, que podem variar de -1 a
-2.
Apenas os poderes que já foram utilizados
por um fantasma (mesmo sem ele saber que
utilizou) são citados na ficha com habilidade
zerada, os demais são deixados de fora até que o
fantasma descubra que os possui.
O inverso também pode ocorrer, o fantasma
possui a habilidade com o poder, mas o seu
potencial é quase nulo.
Imagine o fantasma de um pai que quer
derrubar a foto em que ele está junto da filha para
que ela perceba a sua presença. Ele sabe qual é
a maneira certa para se concentrar e derrubar o
objeto, mas infelizmente, o seu potencial nesse
poder é muito baixo.
Telecinésia Fantasmagórica (2) = 0
Poderes com potencial nulo não podem ser
utilizados, mas nem tudo está perdido e o retrato
pode ser empurrado, caso o fantasma gaste 1
ponto de mente para aumentar o potencial do
poder para 1.
A qualquer momento um fantasma pode
gastar quantos pontos de mente para aumentar o
seu nível de poder na mesma proporção, porém
assim que este poder for ativado o seu valor
retorna ao normal, ou seja, ele terá um único
round para utilizar o seu potencial aumentado.
Abaixo estão listados os principais poderes
fantasmagóricos, principais porque nada impede
que você crie algum poder fantasmagórico ou
utilize algum poder psíquico do OPERA como
poder do seu fantasma.
Lembre-se que, no entanto, é altamente
recomendável que o potencial dos poderes
fantasmagóricos seja baixo, no máximo 1 ou 2
para campanhas cujo principal foco seja o medo
do desconhecido. Acredite em mim, um retrato de
alguém que já morreu caindo subitamente pode
assustar bem mais do que o mesmo retrato sendo
arremessado a longas distâncias, pense nisso.
Descrição dos poderes
Controle Mental Fantasmagórico (3 PC).
Duração: 2 rounds p/ nível.
Alcance: 10 metros p/ nível.
Fantasmas não estão mais na Dimensão
Terrestre, mas podem utilizar os vivos para que
cumpram algumas tarefas.
Um fantasma só pode utilizar esse poder
em um único alvo por vez e caso falhe, uma nova
tentativa só poderá ocorrer após 12 horas, a não
ser que o fantasma opte por gastar 1 ponto de
mente para uma nova tentativa.
Através deste poder, fantasmas podem
enviar uma sugestão diretamente na mente do
alvo, e se a idéia não for completamente absurda
ele pode considerar tal idéia como sendo um
pensamento próprio.
Exemplos: “Ela está te traindo”, “Melhor visitar
a tia Alice”, “Ajude ela”.
Não são raras as vezes em que fantasmas
38
conseguem ajudar ou criar verdadeiros tumultos
através dessas sugestões.
Existe uma variação muito mais poderosa
deste poder, com uma penalidade de –6, um
fantasma pode tentar uma Dominação.
Em caso de sucesso, ele ocupa o corpo
do alvo, expulsando a consciência da vítima que
ficará em uma projeção astral, flutuando a cerca
de 2 metros de seu corpo e ligada a ele por um
fino fio de Ectoplasma.
O dominador não terá acesso aos
conhecimentos da vítima, mas poderá utilizar o
seu corpo como se fosse seu, não necessitando
mais de ectoplasma e sim de água, alimento e
sono para o seu novo corpo.
O tempo de duração da dominação é
ilimitado, mas pode ser interrompido por:
* Morte do corpo físico
* Fantasma decide abandonar o corpo (teste
de vontade + controle mental).
* Fim dos pontos de mente do fantasma
(ainda assim, a vítima precisará ser
despertada pra retornar ao corpo).
* Vítima vence uma disputa de vontade
contra o fantasma e recupera o seu corpo.
Este último item não é tão simples quanto
parece, para que a vítima possa tentar retornar ao
seu corpo, é necessário que chegue até ela algum
som familiar (pessoa conhecida chamando por
ela, música que ela gosta muito) e o dominador
agora não possui mais a penalidade de –6.
Caso a vítima consiga vencer a disputa de
vontade ela se sente caindo de volta em sua corpo
e o fantasma é arremessado para fora dele.
Perdendo, a vítima só poderá tentar um
nova disputa depois do tempo estabelecido pelo
poder do fantasma e apenas caso o estímulo
exterior persistir, para piorar, a cada derrota em
uma disputa contra a vontade do fantasma a vítima
perde 1 ponto de mente e sente uma forte dor.
A dor é intensa a tal ponto que a vítima pode
preferir retornar ao conforto da inconsciência,
“desistindo” de retornar ao corpo e optando pelo
conforto da inconsciência.
Para simular tal situação o Observador
pode, quando a vítima sofrer mais de 3 danos
mentais, passar a exigir testes de vontade para
que a vítima queira disputar novamente o controle
do seu corpo.
 do velho piano, correntes se arrastando ou
Criocinésia Fantasmagórica (2 PC) simplesmente vozes.
Duração: 1 round p/ nível No caso de vozes elas são geralmente
Alcance: 5 metros por nível confusas, sussurradas, por vezes apenas partes
Efeito: Decréscimo de 25ºC por nível no de uma frase conseguem ser pronunciadas.
ambiente.
Osmocinésia Fantasmagórica (1 PC)
Este é um poder automático e inconsciente Duração: 1 round por nível
que praticamente todos os fantasmas possuem. Alcance: 10 metros por nível
Quando alguém está próximo de um fantasma
com este poder sente uma queda brusca da É a presença de cheiros que acompanham
temperatura, uma vez que este poder está sempre a presença de um fantasma, o cheiro das rosas
ativo em nível 1. que a namorada adorava, o perfume da colônia
preferida do marido, o aroma da macarronada que
Ataque Psíquico Fantasmagórico (3 PC) a vovó preparava no fogão a lenha são apenas
Duração: Automático alguns exemplos.
Alcance: 2 metros por nível.
Efeito: 1 dano mental por nível em fantasmas e Pirocinésia Fantasmagórica (2 PC)
a cada 2 níveis em vivos. Duração: 1 round por nível
Alcance: 5 metros por nível
Com este poder fantasmas podem causar Efeito: Acréscimo de 25º C por nível no
dano a outros fantasmas e também a seres vivos. ambiente.
Por não estarem na mesma dimensão à utilização
deste poder é mais complicada em seres vivos, Poder oposto a criocinésia, é a capacidade
sendo necessários pelo menos 2 níveis para se dos fantasmas subirem a temperatura ao seu
causar 1 dano mental em um terrestre. redor. Dependendo do material a combustão
Para causar dano a um determinado alvo, pode começar a partir de 60º C, lembrando que a
é necessária a vitória em uma disputa de vontade temperatura ambiente deve ser somada ao poder
+ habilidade contra a vontade do oponente. do fantasma.
Caso um fantasma ataque um ser vivo com
apenas 1 nível deste poder, a vítima sofre com Telecinésia Fantasmagórica (4 PC)
dores de cabeça e vertigens que podem resultar Duração: 2 rounds por nível.
em penalidades de -1 até -2 dependendo do tempo Alcance: 10 metros por nível.
da duração do ataque. Velocidade: 2m/s
Embora seja um poder que possa
ser utilizado a distância alguns fantasmas É a capacidade que alguns fantasmas
não percebem que o possuem mas o ativam possuem de mover objetos da dimensão terrestre
inconscientemente quando tentam agredir alguém com a sua mente. Outros, ao
ou mesmo desejam ardentemente que alguém tentarem insistentemente tocar Nível Peso
sofra, neste caso o poder é ativado com nível de ou empurrar algum objeto
1 3 kg
habilidade zero. podem, inconscientemente 2 5 kg
ativar esse poder. 3 7 kg
Fonocinésia Fantasmagórica (2 PC) A tabela a seguir 4 10 kg
Duração: 1 round p/ nível determina o quanto cada nível
Som: 25 decibéis por nível de poder pode movimentar.
A partir do nível 5 são acrescidos 5 kg por
É a manifestação de sons onde o fantasma nível.
se encontra, pode ser de forma inconsciente ou
não, passos, máquinas de escrever, a música

39
Telepatia Fantasmagórica (2 PC) Mudanças na aparência
Duração: 2 rounds por nível.
Alcance: 10 metros por nível.
De acordo com o poder um fantasma ele
pode ter variações em sua aparência, essas
Funciona para emitir pensamentos
variações aumentam ainda mais quando estes
para a pessoa escolhida, e, ao contrário do
poderes são utilizados com freqüência ou com
controle mental, fica nítido para quem recebe os
intenções malignas.
pensamentos de que eles não lhe pertencem.
Resumindo, quanto mais é utilizado e
quanto maior o ódio e as intenções de causar o
Teleporte Fantasmagórico (5 PC)
mal de um fantasma maior é a variação de sua
Duração: 10 minutos por nível ou até o fantasma
aparência, a seguir as alterações mais comuns.
abandonar o objeto.
Alguns fantasmas com variações drásticas demais
Alcance: Distância percorrida pelo
fantasma.
Peso: 2kg / nível Poder Efeito

Flutuação Pés enevoados com rastro

Objetos que somem e Controle Mental Pequenos tentáculos no corpo
reaparecem misteriosamente em Criocinésia Unhas e redor dos olhos azulados
Pirocinésia Unhas e redor dos olhos avermelhados
uma casa podem estar sendo levados
Ataque Psíquico Orifícios extras no corpo (testa, palma da mão).
por fantasmas. Este poder permite Telecinésia Espinhos no corpo
a eles transportar um objeto ou até Telepatia Espinhos na cabeça
mesmo alguém através da Dimensão Teleporte Dedos alongados
Vampirismo Boca alargada
Fantasma. Osmocinésia Cauda
Quando um fantasma passa Fonocinésia Língua pontuda
de um Campo de Percepção para o
outro ele pode continuar a carregar
o objeto ou soltá-lo, nesse caso o objeto retorna
em sua aparência podem ser encarados como
imediatamente a Dimensão Terrestre.
sendo demônios por aqueles que os vêem.
Vampirismo Psíquico Fantasmagórico (4 PC).
Duração: instantânea. Quando os Vivos
Alcance: Toque. resolvem enfrentar
Efeito: Drena 1 ponto de mente. Fantasmas.
É o poder de drenar mente de um alvo, Fantasmas são
Mesmo com o valor do atributo mente em seu intangíveis, mas não
máximo o vampiro pode continuar a drenar a invulneráveis, existem
mente da vítima mesmo sem acrescentar nada na maneiras dos seres
sua. humanos afastarem ou
O fantasma se embaraça na vítima mesmo expulsarem eles
terrestre que precisa estar parada mas em intensa de volta para a Dimensão
atividade mental (tendo pesadelos, escrevendo Fantasma ou então para
livros, etc), sendo necessário um teste de vontade outra Dimensão.
+ habilidade para se drenar 1 ponto de mente por Eles são vulneráveis basicamente a magia,
hora. psiquismo e rituais que envolvam um dos dois ou
Em caso de falha, o fantasma pode tentar ambos.
novamente, mas se falhar mais 1 vez, ele é que
perde 1 ponto de mente.

40
Exemplo de Ritual: Exemplo de fantasma:
Ritual Anakauê para expulsar maus espíritos
Concentração: 1 turno O fantasma do Casarão da rua Alencar
Duração: Instantânea
Efeito: Causa 1 ponto de dano mental por Marta sempre soube que Carlos era o amor de
ponto de sucesso. sua vida, foi amor a primeira vista e não foi por
Custo: 2 (pontos de magia ou mente, acaso que eles se casaram.
dependendo do cenário) Foram 2 anos felizes, morando em casa
Ao perceber a presença de um mau espírito maior do que ela jamais poderia sonhar, cortesia
cercando um membro da tribo, o xamã Anakauê do pai de Carlos, um influente e rico produtor de
inicia um ritual para expulsá-lo. café que sempre fez questão de declarar o gosto
Durante quase 10 minutos ele, de posse de pela união de ambos, já que vinham de família se
seus talismãs (que lhe concedem um bônus de 1 renome na sociedade paulista.
em vontade, na falta deles o xamã teria penalidade Marta sempre esperava o marido retornar
de 1) realiza o ritual para logo depois testar sua fé
de seus afazeres na cozinha ou lendo um livro,
(vontade + habilidade ritual + 1) contra a vontade sentada na escadaria que dava acesso ao andar
do fantasma. superior, uma mania dela, mas chegou o dia em
No caso de sucesso, o fantasma receberá quem seu esposo não voltou.
danos mentais iguais aos pontos de sucesso do Os sonhos de Marta e as promessas
xamã, em caso de falha o xamã só poderá realizar de um futuro feliz ao lado de uma nova família
uma nova tentativa após 2 horas, porém com uma desmoronaram quando ela recebeu a notícia de
penalidade extra de 1 por cada nova tentativa, que em uma briga por razões políticas Carlos
uma vez que o “mau espírito” começa a ganhar havia recebido um tiro fatal.
confiança contra os poderes do xamã. Desesperada e sem saber o que fazer, ela
Lembre-se: Este é um exemplo de ritual, viria a cometer um crime contra as leis de Deus,
você é quem define se rituais são eficientes ou não tirando a própria vida.
para afastar fantasmas, como eles funcionam e de O gesto dela não lhe trouxe paz, ao contrário
que maneira (o capítulo 7 do livro básico pode do que ela desejava.
lhe dar mais dicas de como montar rituais). Perdida e desorientada Marta ficou no
casarão, ela não se lembra que seu esposo
Quando os Fantasmas resolvem morreu, sequer percebe que ela mesma está
enfrentar Fantasmas. morta, continua lá, na escadaria, esperando
eternamente pelo retorno de seu amado.
O confronto entre eles é decidido de forma Os anos se passaram e o casarão ganhou
normal, uma vez que eles não são intangíveis uns fama de mal assombrado, de lugar maldito, hoje,
para os outros, golpes são decididos pelo atributo ele está abandonado e as crianças vez por outra
destreza e a mente substitui o físico. desafiam umas as outras a entrar no velho casarão
Se um fantasma acerta um golpe em onde pode se ouvir barulhos estranhos, como o
outro, ele realiza um teste de mente, em caso de de o choro insistente de uma mulher.
sucesso, causa 1 dano. A cada 8 pontos de mente
que um fantasma possuir acrescente 1 dano no
dano de seus golpes contra outros fantasmas.

41
 D IÁRIO DO C APITÃO

Dicas de regras para Navegação :

Os Custos de uma Tripulação
Muitos mestres e jogadores por vezes desejam construir melhor os detalhes que moldam
encontram em seus caminhos longas jornadas a as grandes navegações.
bordo de um navio. Uma boa tripulação é o início de tudo.
São dias carregados de aventura ou Neste grupo é preciso reunir tudo o que uma
marasmo... Tudo dependerá dos ventos e dos boa embarcação precisa: Timoneiros, cozinheiros,
obstáculos que surgirem. calafates, marceneiros...
Mestres podem permitir que seus jogadores E quanto será que custa uma boa tripulação?
consigam moldar seus personagens com mais Descubra agora...
detalhes, fazendo-os aprender novas técnicas e
atributos. Navios – Informações Gerais
Aqui, tentarei auxiliar um pouco a todos que
Para facilitar
o calculo de uma
campanha marítima,
os valores dos
mantimentos
correspondem ao
necessário para um
mês de viagem a
bordo.
Ao lado do
nome de cada
alimento, encontra-
se a quantidade
necessária ao
consumo diário de
um marinheiro, o
custo do produto
individualmente e o
custo final para uma
viagem de cerca de
30 dias.

42
1 – Mantimentos: - Queijo – (1 pedaço/marinheiro semana)
– Sendo 4pp/peça (que pode ser dividido para
Alimentação básica a ser usada pelo 4 marinheiros) – Logo o custo e de 3 po por
cozinheiro de bordo e a ser distribuída entre os marinheiro/mês.
marinheiros: - Lentilha ou arroz – (250 gr. Diárias/marinheiro
Obs: Os alimentos sólidos eram distribuídos ou cerca de 7, 5 quilos por mês) – Sendo 2pp/500
uma vez por mês, todos crus. gramas, logo o custo e de 3po/marinheiro ao
mês.
- Biscoitos (400 gr. Diárias/marinheiro ou Obs: Estes itens historicamente eram
cerca de 12 quilos por mês) – Sendo 10 po/barril geralmente dados nos dias de jejum, como a
de 88kg, que era o suficiente para 7 marinheiros Sexta feira santa, para serem usados no lugar da
ao mês, logo o custo e de 1,4 po marinheiro/mês carne.
Obs: Estes biscoitos geralmente de água e Em termos de uma campanha de RPG, isso
sal, eram a base da dieta dos homens a bordo. pode e deve ser adaptado.
Com o tempo ficavam apodrecidos, cobertos
de bolor e viravam verdadeiros viveiros de baratas. Condimentos usados nas refeições e
Estes biscoitos, que se confundem com a própria distribuídos entre os marinheiros. Serviam
historia da navegação, eram assados em fornos como importantes complementos e temperos
próprios ainda em terra firme. para a alimentação. Nem todos os itens eram
disponibilizados.
- Carne Salgada ou Bacalhau/arenque e - Sal – (100 gr. mês/marinheiro) - 1pp/500
Sardinha na salmoura – gramas, que era o suficiente para 5 marinheiros
(500 gr. Diárias/marinheiro ou cerca de 15 ao mês, logo o custo e de 2pc marinheiro/mês.
quilos por mês) – Sendo 3 po/barril de 88kg, que - Mostarda – (50 gr. mês/marinheiro) -
era o suficiente para 5 marinheiros ao mês, logo o Sendo 2po/500gramas, que era o suficiente para
custo e de 6 pp marinheiro/mês 10 marinheiros ao mês, logo o custo e de 2pp
Obs: Na maioria das vezes estes mantimentos marinheiro/mês.
eram distribuídos de forma rigorosamente igual, - Alho – (250 gr. mês/marinheiro) - Sendo
entre todos, cabendo a cada tripulante 15 quilos 1po/500 gramas, logo o custo e de 5pp marinheiro
por mês mais as porções de cebola, vinagre e ao mês.
azeite. - Açúcar (mascavo) – (200 gr. mês/marinheiro)
– Sendo 1po/500gramas, logo o custo e de 4pp
- Cebola – (500 gr. Mês/marinheiro) - Sendo marinheiro ao mês.
1po/500 gramas, logo o custo e de 1po/marinheiro - Mel – (1 pote mês/marinheiro) - Sendo 5pp/
ao mês. pote com cerca de 500 gramas, logo o custo e de
- Azeite – (I Litro mês/marinheiro) Sendo a 5pp marinheiro ao mês.
Pipa de 4, 5 litros o suficiente para 4 marinheiros - Amêndoas ou figos – (500 gr. semana/
ao mês – 8po. marinheiro) – Sendo 3pp/500gramas, logo o custo
Logo o custo e de 2 po marinheiro/mês é de 1,2 po/marinheiro ao mês.
- Ameixas Secas ou uvas passas – (500 gr.
- Vinagre - (I Litro mês/marinheiro) Sendo a semana/marinheiro) – Sendo 2pp/500gramas.
Pipa de 4, 5 litros o suficiente para 4 marinheiros logo o custo e de 8 pp/marinheiro ao mês.
ao mês – 8po.
logo o custo e de 2 po marinheiro/mês 2 – Líquidos:
Obs: O vinagre não era usado somente na
alimentação: também servia para desinfetar a O vinho e a água eram entregues diariamente
imundice do porão, no qual parecia se esconder e cada homem tinha direito a uma “canada” (cerca
a mais terrível fatalidade da vida no mar: O de 1, 5 l)
Escorbuto

43
 Um Barril comporta 120 litros ou 88 Kg, sendo terceiro para os oficiais.
de água ou vinho, dura em média 1 dia para 80 Algumas embarcações permitiam que o fogo
tripulantes. fosse aceso no convés e que todos pudessem
usufruir, cozinhando particularmente suas porções.
- Vinho ou cerveja (1,5 litros por dia/marinheiro) Este era um momento muito delicado, pois o
– 20 po o barril de boa qualidade navio ficava exposto ao mais temido acidente: o
Obs: O vinho era preferido, e a principal incêndio de bordo.
função dele era manter a moral dos homens Assim, podemos calcular qual e o custo de
elevada. um marinheiro por mês para uma embarcação,
Havia em media, cerca de 200 barris ou pipas referente a uma viagem de 30 dias:
do liquido no navio.
Obs: Caso é claro, se opte por todos os
- Água (1,5 litros por dia/marinheiro) – 1 barril itens.
de boa madeira custa 2po. Geralmente a água era
embarcada gratuitamente. 1. Biscoitos – 1, 4 po
Obs: A água para beber e cozinhar também 2. Carne salgada ou peixes – 6pp
era fornecida a base de uma canada por dia. 3. Cebola – 1po
Armazenada em barris/toneis de madeira pouco 4. Azeite – 2po
apropriados, sempre cheirava muito mal por causa 5. Vinagre – 2po
do ciclo natural das reações químicas. Infecções 6. Queijo – 3po
e diarréias eram muito comuns. 7. Lentilha ou arroz – 3po
8. Sal – 2pc
3 – Animais: 9. Mostarda – 2pp
10. Alho – 5pp
Em alguns casos, dependendo da viagem, 11. Açúcar – 4pp
alguns animais eram levados a bordo para 12. Mel - 5pp
completar a dieta dos capitães e oficiais. Galinhas 13. Amêndoas ou figos – 1, 2po
e ovelhas eram as mais comuns. 14. Ameixas secas ou uvas passas –
8pp
- Galinha – 2pc
- Frango – 3pc CUSTO TOTAL DE UM MARINHEIRO POR
Rações: - 5pp/barril grãos – o que alimenta MÊS: 16 PO, 6 PP, 2 PC
cerca de 20 animais por mês. Soma-se a este numero, depois de multiplicado
pelo número de tripulantes, 20 po pelo barril de
- Ovelhas – 2po vinho e 2 po pelo barril de água, suficientes para
- Porcos – 3po ate 80 homens ao mês.
- Javali – 10po
Rações: - 15pc/maço de ervas - o que alimenta Ergam ferros e soltem as velas!
cerca de 1 animal de cada raça por mês. O oceano os espera...

Observações: Allefcapt

- Um dos principais personagens dentro de um

navio e o despenseiro, responsável pelo controle
da distribuição dos itens para a tripulação.
Em grandes embarcações, havia um total
de três: Um para os homens de infantaria ou
passageiros, outro para os marinheiros e um

44
 L IVE A CTION

Live Combat Live Action Roleplaying

Você e outros aventureiros se

embrenharam no meio da floresta em
busca do Olho do Grifo, um artefato
mágico poderosíssimo que pode ser a
única salvação da vila que os acolheu
tão hospitaleiramente nos últimos dias,
numa merecida pausa em sua busca por
aventuras. Você é um guerreiro bárbaro
e seu grupo de recém aliados pelas
circunstâncias é composto também
por um guerreiro civilizado, uma druida
elfa, uma clériga da deusa da vida, e
um mago que você acha velho demais
para esse trabalho.
A vila vem sendo atacada por Você conta seis monstros humanóides,
monstros, e há uma lenda que diz que o Olho todos portando lanças e escudos, e eles estão
do Grifo pode ser capaz de bani-los. O mago correndo na direção do seu grupo. Você não sabe
acredita saber a possível localização do artefato, muito bem o quê eles são, pois não conhece a
que segundo antigos pergaminhos pode estar nas região em que se encontra, mas eles parecem
ruínas de uma civilização antiga, perdidas no meio perigosos, e gritam, antecipando o combate,
da floresta próxima à vila. Então, seguindo essa lançando desafios e impropérios enquanto correm
pista, você e seu grupo se embrenham na mata em sua direção. O mago gastou todo o mana que
fechada, e depois de algum tempo finalmente tinha na anulação da magia de proteção e, portanto,
encontram as ruínas. O mago estava certo, e é inútil até que se recupere. Tanto a clériga quanto
depois dele anular uma magia que protegia o a druida são jovens e inexperientes, e hesitam,
artefato, vocês se apoderam do Olho do Grifo - sem saber ao certo o que fazer. Você sabe que
uma esmeralda gigantesca lapidada em forma seu grupo não é páreo para aqueles inimigos, e
de globo - e decidem voltar para a vila, para que grita para que eles corram de volta para a vila,
possam realizar um ritual que vai banir de uma vez que afinal não fica muito longe, e uma vez que
por todas os monstros, mas, para a sua surpresa, estejam lá, outros guerreiros poderão ajudá-los
assim que seu grupo sai das ruínas, você os vê no combate.
em meio às árvores.

45
 Seu grupo corre. As duas mulheres vão à
frente, pois são ágeis e estão com medo. Você e o
outro guerreiro acompanham o mago, que é gordo e
lento, e você amaldiçoa todas as escolas de magia
por servirem boa comida e nunca obrigarem seus
membros a fazerem exercícios físicos regulares.
Os monstros estão cada vez mais perto. Agora,
olhando por cima de seus ombros, você pode
ver que eles são seres humanos... ou quase. Há
alguma coisa muito errada na fisionomia deles, e
eles gritam como loucos. Você conclui que o que
eles querem é o Olho do Grifo, e talvez não o
tenham pegado antes porque não eram capazes
de anular a tal magia de proteção. Se o artefato
cair nas mãos dos monstros, será o fim da vila.
Talvez o fim do reino. Talvez... não, seja como
for, você não pode permitir que eles prevaleçam
assim tão facilmente.
46
O mago está ofegante e você percebe
que ele não vai conseguir continuar correndo por
muito tempo. Além disso, os monstros estão há
menos de dez metros de distância. Só há uma
coisa a fazer. Você olha para o outro guerreiro,
e sem que seja preciso dizer nada, ele concorda
com a cabeça, com o semblante grave de quem
sabe que chegou a hora de lutar. Como é mesmo
o nome dele? De onde ele vem? Agora já não
importa.
Agora chegou a hora de lutar. Chegou a
hora de morrer. Você vai morrer para que outros
vivam, para que o mago chegue em segurança na
vila, e para que os monstros sejam banidos pela
magia do Olho do Grifo. Você saca a sua espada.
O outro guerreiro faz o mesmo. Você solta o seu
brado de guerra, como é o costume de sua tribo.
O guerreiro civilizado apenas sorri.
"Ah, deuses!" - você pensa antes de aparar
a primeira estocada de lança e atingir um dos
monstros bem no meio do peito com um golpe de
sua espada - "Isso sim, é estar vivo!
A cena acima poderia ser parte de um conto
ou romance de fantasia, poderia ser a descrição
de parte de uma aventura de RPG de mesa, mas,
acredite, aconteceu de verdade, durante uma
aventura de Live Combat Live Action Roleplaying.
Eu era o guerreiro bárbaro.
LARP é a sigla para Live Action RolePlaying,
que numa tradução livre seria algo como
Representação de Papéis com Ação ao Vivo. No
Brasil essa modalidade de entretenimento é mais
conhecida por Live Action, ou simplesmente Live.
Alguns anos atrás, com a publicação do
cenário Vampiro: A Máscara e do sistema de
regras Teatro da Mente, os lives de Mundo das
Trevas tornaram-se bastante populares por
aqui, tanto que, para muita gente, Live Action é
um sinônimo para aventuras onde os jogadores
interpretam vampiros ao vivo.
Bem, isso não é verdade.
Para entender o que é um Live Action,
precisamos entender como essa atividade
surgiu, mas isso não é muito fácil de determinar.
A representação de papéis ao vivo, numa forma
aproximada da que tem hoje, provavelmente
surgiu em 1966 com a SCA - Society for Creative vencedor de uma luta, vocês dois devem lutar de
Anachronism, ou numa tradução livre, Sociedade verdade até que haja um vencedor!
para o Anacronismo Criativo - um grupo americano No Brasil, a disseminação do Live Combat
dedicado à recriação do clima e da cultura medieval.
ainda é pequena, e isso acontece por vários
Depois do lançamento do Dungeons & Dragons motivos. O principal deles é que participar de
em 1974, alguns grupos começaram a utilizar um evento desse tipo não é
elementos de fantasia em nada barato se comparado aos
eventos parecidos com lives de Teatro da Mente, por
aqueles organizados pela exemplo. Para representar um
SCA, e em 1977, também vampiro, na pior das hipóteses,
nos Estados Unidos, foi você pode usar uma camisa
criado o grupo Dagorhir, xadrez velha, fazer uma
que desde então organiza pose de grunge e estará bem
batalhas ambientadas caracterizado, dependendo do
em cenários de fantasia clã que escolher. Para interpretar
medieval, nas quais os um camponês num live de
participantes utilizam armas combate, que normalmente
feitas de espuma e lutam são ambientados em cenários
de verdade! medievais fantásticos, mesmo
De lá para cá os que você não pretenda lutar ou
cenários e as regras utilizar magia, mesmo que queira
tornaram-se mais apenas participar da história
elaborados e o LARP acabou como um simples camponês,
reinventando a si mesmo você ainda vai precisar de
várias vezes. Diversos uma fantasia razoavelmente
sistemas de regras foram elaborada. É claro que a
escritos e publicados, diversos estilos de LARP tolerância para fantasias mal acabadas varia
foram criados, mas o que muita gente não sabe, de grupo para grupo, e ninguém vai te impedir
é que o combate simbólico, aquele que se utiliza de participar de um evento se você aparecer de
de cartões com a descrição de armas ou disputas calça jeans e camiseta – pelo menos não se o
de pedra-papel-tesoura, é só uma das formas de evento acontecer no Brasil – mas acredite, se
resolução de conflitos nesses eventos, e, fora do não estiver bem caracterizado, se não parecer ao
Brasil, essa não é nem de longe a forma mais menos ligeiramente “medieval”, você vai se sentir
popular. Eventos que utilizam combate simbólico deslocado.
costumam reunir algumas dezenas de jogadores, Se pretender lutar ou utilizar magia,
enquanto eventos com combate ao vivo podem você provavelmente terá que arcar com os
reunir centenas, ou até milhares de jogadores. custos do equipamento que utilizar, ou então os
Mesmo nos eventos onde o combate é feito ao organizadores do evento terão que gastar uma
vivo, existem modalidades distintas, e existem boa quantidade de dinheiro na fabricação de
tantos estilos de aventuras quanto existem grupos armas de espuma e repassar parte desse custo
de LARP. aos jogadores. De um jeito ou de outro, você vai
Enfim, LARP é uma grande brincadeira pagar pela arma que utilizar, nem que o custo do
de representar personagens, onde, ao invés de aluguel da mesma esteja embutido numa taxa que
descrever como o seu personagem agiria, você será cobrada pelos organizadores do evento, que
deve agir como se fosse ele. E, em alguns casos, também pode cobrir transporte e alimentação.
como nos Live Combat LARPs, ao invés de disputar Porém, além de ser uma modalidade de
uma série de partidas de pedra-papel-tesoura entretenimento cara para os padrões brasileiros –
contra o seu oponente para determinar quem foi o por exemplo, participar de um único evento pode

47
facilmente custar mais do que o módulo básico e talvez essa seja justamente a oportunidade que
do seu cenário ou sistema favorito – ainda existe faltava para que os grupos pequenos e que estão
uma boa dose de preconceito em relação ao Live localizados fora dos grandes centros apareçam,
Combat, e algumas vezes isso parte dos próprios e possam formar uma comunidade forte de Live
RPGistas, lamentavelmente. Combat em nosso país.
Alguns jogadores vêem o Live Combat com Portanto, se você faz parte de um grupo
reservas, como se ele fosse uma perversão da que organiza eventos de combate ao vivo, escreva
idéia em torno do Live Action de estilo teatral. O que para a Távola e conte-nos as suas experiências
muitas vezes esses jogadores não sabem, é que com essa modalidade de LARP. E se você nunca
justamente o conceito de Live Action Roleplaying participou de eventos desse tipo, mande-nos as
começou com os lives de combate, que, talvez suas dúvidas a respeito desse assunto!
pelos altos custos envolvidos na organização dos No próximo número falaremos sobre a
eventos, só chegou ao Brasil anos depois dos cena internacional de Live Combat, e sobre
Lives que utilizam combate simbólico. Não que as diferenças de estilos em diferentes países,
eu esteja afirmando que eventos que utilizam inclusive no Brasil.
combate ao vivo são melhores do que eventos
que utilizam combate simbólico, nada disso. Até lá!
Eventos com combate ao vivo só são diferentes,
especialmente no tipo de emoção que evocam
em seus jogadores. Pode ser muito divertido você Rogério Mendes
imaginar um luta e resolvê-la através de disputas
de papel-pedra-tesoura, e inclusive eu mesmo já
joguei e organizei eventos assim, mas empunhar
uma espada, ainda que feita de espuma, e enfrentar
seus inimigos através da sua habilidade e esforço
físico, é uma coisa completamente diferente e, na
minha opinião, é uma experiência que vale a pena
ser vivida.
E é claro que Live Combat não significa
necessariamente que as aventuras são apenas
uma seqüência de lutas sem sentido, como
algumas pessoas parecem pensar. Como em
qualquer aventura de RPG, é preciso que haja um
enredo instigante, personagens interessantes,
um bom cenário, enfim, eventos onde a resolução
de combates é feita ao vivo são, antes de tudo,
aventuras de Live Action Roleplaying, que são boas
ou ruins dependendo do esforço e da dedicação
de seus jogadores e organizadores.
O que nós esperamos fazer nos próximos
números da Távola é justamente desmistificar
o Live Combat LARP, e, além disso, fomentar a
criação de novos grupos e aumentar o número de
jogadores dos grupos existentes no Brasil, que
são vários. Até onde sabemos, existem grupos nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Santa Catarina e até Rondônia, mas não temos a
pretensão de conhecer todos os grupos do Brasil,

48
A MARCHA DOS
ORCS
Uma aventura
para GURPS
 Título Original: “OH! WHEN THE A ORGANIZAÇÃO DA MILÍCIA
ORCS... COME MARCHIN’ IN...”
Autor: Steven Kudolis 1) O governo requer que cada vila envie um
Fonte: www.rpgarchive.com de casa 10 homens de sua milícia (guerreiros)
Tradução: Paulo E.“Alonso” Nunes para a equipe de vigília/assalto (todos jogadores
deverão ser escolhidos).
Esse módulo é ideal para um grupo de 2) A Guilda de Magos irá contratar os
jogadores que não estão familiarizados com jogadores magos para ajudarem na causa.
o sistema de jogo Gurps ou estão começando 3) Clérigos serão contratados como
novos personagens (100 – 120 pt). “médicos”.
Os jogadores nesse cenário têm pouco 4) A milícia é liderada pelo Sir. Laridine, um
ou nada de riqueza e devem ser de nascimento jovem cavaleiro. Ele tem pouca experiência em
comum (status 2 ou menos). Não é necessário combate, mas é um bom estrategista. No entanto,
que os jogadores se conheçam no inicio da ele tem péssima habilidade de liderança.
aventura. Esse módulo irá juntar todos assim mais 5) Membros da milícia serão abastecidos
tarde poderão formar o grupo de aventuras. de acordo com a sua escolha: besta + uma arma
de mão; ou escudo + arma de mão; ou apenas
uma lança. Deve haver pelo menos um membro
A BASE DA AVENTURA na milícia com cada tipo de arma.
6) A milícia será paga com ¼ do salário
Orcs estão aterrorizando os arredores mensal adiantado, mais acomodações e meio
da cidade dos jogadores. A milícia local foi de transporte. Eles receberão o resto do salário
convocada para impedir a invasão dos orcs. Os no fim do serviço.
jogadores farão parte desse grupo de acordo 7) A equipe de assalto terá 20 integrantes.
com a sua “classificação”. Eles são todos simples camponeses (com a
1) Jogadores guerreiros são possível exceção dos jogadores). Eles são muito
membros da milícia de sua cidade (ou desorganizados e reclamam sobre tudo. Eles
foram convocados para o serviço) não obedeçam as ordens muito bem.
2) Jogadores ladrões são enviados 8) As tropas são treinadas pelo sargento
para espionar o avanço dos orcs para Balto, sobre o olhar cuidadoso do Sir. Laridine.
manterem informando a guilda do Quando o treinamento estiver completo, Balto
envolvimento do governo na área. sairá.
3) Jogadores magos são contratados 9) O jovem cavaleiro, Sir Laridine aparenta
para ajudarem na missão. ter pouco controle sobre suas tropas. Ninguém
desobedece a suas ordens, mas resmungam e
RESUMO DA AVENTURA queixam-se delas. Um velho veterano de muitas
batalhas, um dos membros da tropa de assalto,
Orcs estão marchando em direção a regiões parece ser a pessoal que todos procuram quando
próximas do país de origem dos jogadores. precisam de alguma instrução. (trate-o como um
(próximo a cidade dos jogadores). Eles se homem barulhento, mas persuasivo. No entanto,
movimentam devagar e em segredo. Eles não ele não possui nenhuma habilidade tática.)
estão atacando tudo que vêem pela frente, mas
já atacaram diversas fazendas, massacrando os
cidadãos e gado encontrado lá. A milícia local é
enviada para avaliar a situação e colocar um fim
na ameaça orc. A milícia está sobre a liderança
do Sir. Laridine um jovem cavaleiro de 20 anos.

50
 O cavaleiro informa suas tropas que orcs não
O INÍCIO DA AVENTURA gostam da luz solar.
6) Quando o esquadrão se aproxima a
1) Cada membro do grupo provavelmente
uns 40 metros da floresta, os orcs de repente
será de diferentes cidades e levará alguns dias
avançam contra as tropas. Eles avançam com
para organizar a tropa intera.
vozes e armas erguidas. Só tem uns 12 orcs no
2) As tropas serão treinadas diariamente
ataque, mas nenhum outro orc é avistado na
pelo sargento Balto até que toda a força seja
área.
reunida. (Use esses treinos de arma para
7) Sir Laridine dá ordem para os besteiros
introduzir o sistema de batalha para novos
mirarem, mas não atirarem até que ele de
jogadores). Durante esses treinos, fica evidente
a ordem. Ele também manda os lanceiros
que sir Laridine tem pouco controle sobre as
avançarem até eles ficarem na mesma linha
tropas. Ao invés disso, um velho soldado,
dos arqueiros. O resto da tropa continua na
veterano de muitas campanhas, parece ser
retaguarda como antes.
aquele que as tropas procuram para liderar.
8) Quando os orcs alcançam 20-15 metros
3) Na manhã após toda a força ter sido
de distancia dos besteiros, Sir Laridine da a ordem
reunida e treinada, eles marcham na procura
para eles atirarem, depois manda eles recuarem
dos orcs.
para atrás dos lanceiros. Os lanceiros formam
O ATAQUE ORC uma parede protegendo os besteiros enquanto
o resto da tropa ( os guerreiros) guardam os
1) Sir Laridine decide que um batedor não flancos. A estratégia é eficaz. A maioria dos orcs
será necessário. Ele teme que um que iniciaram o ataque estão feridos e
único homem seria um alvo muito muitos estão mortos. Nenhum deles será
vulnerável caso eles encontrassem capaz de quebrar a linha de defesa do
os orcs. esquadrão.
2) De manhã no mesmo dia, 9) A ofensiva dos orcs foi contida e
as tropas recebem informação de muitos deles morreram. Os que sobraram
um fazendeiro local que alguns recuaram o mais rápido possível (você
orcs foram vistos a alguns precisa de 4-8 orcs sobreviventes para
quilômetros dali. As tropas irão recuar). Muitos deles largando suas armas
marchar em direção ao local no chão ao recuarem. Aparenta ser uma
indicado. fuga dos orcs.
3) O esquadrão
encontra uma vasta planície,
com algumas árvores
A EMBOSCADA
espalhadas. No canto
1) Sir Laridine da a ordem para os
mais longe do campo
besteiros recarregar e para todos ficarem
está uma densa floresta.
aonde estão e se prepararem para um
Ao se aproximar dela,
novo ataque, mas o velho veterano
as tropas avistam um
corre em direção aos orcs gritando
acampamento orc no
“Vamos homens. Nós conseguimos fazer
canto da floresta.
esses monstros correrem. Agora vamos
4) O cavaleiro
esmagá-los”.
organiza as tropas em três fileiras.
2) As tropas, empolgadas com a rápida
Todos besteiros (5-10) ficam na frente seguidos
vitória, seguiram o velho veterano. Eles ignoram
pelos lanceiros (5-10). O resto das forças fica
qualquer ordem dada pelo Sir Laridine enquanto
atrás e do lado dos lanceiros. O esquadrão
correm atrás, massacrando os orcs que não
marcha avançando para frente.
conseguem fugir deles. Os jogadores deverão
5) O sol do meio dia ilumina o campo.

51
decidir se irão atrás dos seus companheiros ou
ficaram atrás com sir Laridine.
3) Os orcs correm para dentro da floresta e
rapidamente saem da vista dos que ficaram com
o cavaleiro. Somente os gritos do esquadrão
na perseguição dos orcs que estavam fugindo
foram possíveis de se escutar.
4) Após alguns instantes, os gritos de vitória
dos companheiros se transformam em gritos de
medo e dor. Cada jogador que entrou na floresta
foi levado direto para uma emboscada. Cada
pessoa será atacada por três orcs, e mais orcs
poderão ser encontrados antes de um jogador
consiga fugir.
5) Sir laridine, montado no seu cavalo,
mantém-se no mesmo lugar com qualquer outro
jogador que ficou para trás com ele. Ele ordena
que as tropas que ficaram com ele se agrupem
junto a ele, com os besteiros armados e prontos
para atirar. Ele espera que alguns das suas
tropas saiam da floresta com vida e retorne junto
com ele.
6) Depois de alguns minutos da emboscada,
a floresta fica em total silêncio. Nenhum grito ou
choro de amigos ou inimigos pode ser escutado
mais. Então, sem nenhum aviso, um esquadrão
de orcs (20) sai do meio da floresta. Eles se
mantêm na entrada da floresta e sacam arcos. O
cavaleiro percebe o perigo e ordena a retirada.
AO AUXILIO DO SIR LARIDINE
1) Uma chuva de flechas cai (Jogadores que
recuaram não serão atingidos). Algumas flechas
atingem o cavalo do sir Laridine, derrubando-o.
Ao cair, o cavalo emite um alto som que pode ser
escutado pelos jogadores que estão fugindo.
2) Somente aqueles jogadores que virarem
para trás verão que a perna do cavaleiro está
presa debaixo do cavalo. O cavalo tem uma
flecha no pescoço, perto da cabeça. Outra flecha
está enterrada profundamente no peito/ombro
do cavaleiro. O cavalo não está se movendo e
o cavaleiro luta para se libertar do cavalo, mas
não parece ser capaz de fazê-lo.
3) Os orcs começam a avançar. Se 2 ou
mais jogadores voltarem para ajudar o cavaleiro,
então ele será liberto antes da chegada dos orcs.
52
O cavaleiro consegue correr se o ajudarem.
NOTA: Se os jogadores não ajudarem o cavaleiro,
ele será capturado pelos orcs e você terá que
escrever um novo final para a aventura.
4) Os orcs só continuaram avançando até
chegarem ao cavalo caído no chão. Lá, eles irão
parar e começar a despedaçar o cavalo com
os dentes. Caso os jogadores ainda estejam
ao alcance de arcos, eles serão atacados por
flechas.
5) O cavaleiro está gravemente ferido.
Correr só agravou os seus ferimentos. Ele precisa
ser levado a algum “médico” imediatamente.
6) Os jogadores podem criar uma espécie
de maca para levar o cavaleiro para a cidade
mais próxima (uma pequena vila chamada
Thanic).
7) Sir Laridine ficará muito grato aos
jogadores por terem salvado sua vida. Ele está
muito chateado com a perda de suas tropas,
mas ele sente que apesar deles terem morrido
por não terem seguido ordens, pelo menos eles
completaram parte da missão. Laridine conseguiu
juntar bastante informação do inimigo.
8) Sir laridine será um aliado aos jogadores
desde que eles mostrem que são merecedores
de tal amizade. Isso não custará pontos aos
jogadores.
AO FINAL DA EMBOSCADA
1) Jogadores mortos poderão ser
substituídos em Thanic.
2) Jogadores e NPCs que foram capturados
estão presos na floresta pelos orcs. Eles são
maltratados. Jogue um D20 para determinar o
que acontece com cada um deles a cada dia
que estão vivos.
1-2 = Devorados
3-4 = Molestados pelos Orcs
5-9 = Espancados (possivelmente até
a morte)
10-20 = Espancados e um NPC é
devorado/molestado/ou espancado
3) Jogadores que foram pegos na
emboscada mas escaparam, irão fugir em
direção a Thanic ( ou são livres para ir em
qualquer outra direção que desejarem). Se Sir
Laridine descobrir que eles estão na cidade, ele 7) Quando os orcs chegarem à cidade,
irá convocá-los para a milícia novamente. irão começar a queimar as construções e atacar
4) Qualquer Jogador ou NPC que não ficar qualquer pessoa que avistarem. Eles irão atacar
com o cavaleiro será considerado um traidor e com golpes fulminantes não deixando nenhum
será julgado se capturado. sobrevivente. Eles rapidamente irão atacar sem
5) A tropa do cavaleiro é a única na nenhuma organização ou estratégia. Eles irão
redondeza a procura dos orcs. Nenhum sinal lutar até a morte sem a intenção de se renderem
é encontrado dos orcs por 3 dias. O cavaleiro ou recuarem.
está usando esse tempo para se recuperar dos 8) Quando dentro da vila, os orcs irão se
ferimentos. Ele está esperando até que esteja em dividir em pequenos grupos de 3-10 andando
boas condições para voltar até seu comandante pelas ruas colocando fogo em tudo e atacando
e entregar um relatório completo das atividades as pessoas (eles possuem uma arma na mão
dos orcs na região. que não está carregando a tocha).
6) Após três dias, os orcs atacam a vila de 9) Os orcs perderão 3 guerreiros para cada
Thanic. 2 homens da milícia que morrerem. Os orcs irão
atacar por 6 minutos e então irão recuar. Calcule
O ATAQUE A THANIC a perda de ambos os lados a cada 30 segundos.
Isso não leva em conta as tropas perdidas ao
1) Três dias após a emboscada, o líder dos
atravessarem o campo ou as tropas mortas
orcs marcha até a cidade de Thanic.
pelos jogadores, mas sim quando grupos de orc
2) Os orcs somam 70 fortes guerreiros.
encontram grupos de milícia.
O restante está morto, ferido, ou guardando
prisioneiros na floresta.
Nota: Em algum lugar nessa confusão
3) Os orcs marcham sem nenhuma tentativa
se encontra o líder dos orcs, cercado pelos
de passarem despercebidos. Os fazendeiros
seus guerreiros mais leais. Se os jogadores
ao redor da cidade rapidamente avistam os
conseguirem vencê-lo e mostrarem a prova de
orcs entre a névoa marchando em direção a
sua morte (a cabeça do líder em uma lança,
Thanic. Eles irão fugir para a vila com relatos
etc.) outros orcs que encontrarem o jogador irão
exagerados de bandos de orcs destruindo tudo
atacar com um redutor de -2 de medo.
pelo caminho, o que não deixa de ser verdade.
Fazendas estão sendo queimadas e gados
mortos, mas os fazendeiros fugiram a tempo de ENCERRANDO TUDO
não serem capturados.
4) Sir Laridine irá comandar a defesa da Agora que a ameaça a vila está terminada,
vila, que somará somente 45 mais os jogadores Thanic precisará ser reconstruída (a maioria das
que estão a seu serviço. coisas foi queimada até o chão). Sir laridine será
5) O cavaleiro terá os jogadores que se culpado pelas pessoas da vila por suas casas
tornaram seu amigo lutando ao seu lado durante destruídas, mas será aclamado como um herói
a invasão. por seus companheiros de milícia. Sir Laridine
6) Os orcs terão que atravessar um campo permitirá que os jogadores que foram leais a ele
aberto antes de chegar a vila. Como está que mantenham seus equipamentos militares
anoitecendo, haverá uma penalidade de -1 para (proteções de couro e armas), e irá libertá-los de
tiros de flechas pela falta de claridade. Irá levar suas vassalagens (caso ainda não sejam).
30 turnos para os orcs atravessarem o campo. A Ele também irá convidá-los para ir até
cada turno os orcs avançam 4 hexágonos. Cada sua casa, comemorar a vitória e beber em
orc é carrega uma tocha. A vila poderá lançar homenagem aos companheiros mortos em
qualquer tipo de ataque com flechas dentro batalha.
desses 30 turnos. (obs: Apenas 10 pessoas da O povo de Thanic reconheceu o líder dos
vila possuem treinamento com flechas). atacantes como o jovem meio-orc que eles

53
haviam banido anos atrás. Eles não perceberam
que foi o mau-trato que ele sofreu em Thanic
que resultou nesse ataque, ao contrário, pensam
que estavam certos quando o maltrataram. Eles
culpam o agressivo temperamento dele como
justificativa para todas maldades e injurias feitas
nele quando era mais jovem.
FIM
encontrava, não iriam respondê-lo. Ele percebeu
que precisaria se tornar o líder dos orcs para
completar seu plano de destruição.
Através de traição, falsidade e mortes,
Snaggletooth se tornou líder dos orcs em menos
de um ano após a formulação de seu plano. Ele
reorganizou seus guerreiros no melhor grupo
de assalto que ele poderia formar (dada a
mentalidade e atitude dos orcs).
Então escolheu cerca de 100 guerreiros
dentro de suas melhores tropas para marchar
em direção a Thanic.

HISTÓRIA DE SNAGGLETOOTH - LÍDER

DOS ORCS
Os orcs estão sobre a liderança de
Snaggletooth. Um grande meio-orc de grande
ST e boa habilidade com armas. Ele tem se
mantido líder dessa tribo a quase 3 anos,
apesar de não ter nascido nesse clã.
Snaggletooth é o resultado produzido
de um estrupo de um orc, a uma jovem mulher
que morava em uma vila perto das fronteiras
do reino, chamada Thanic anos atrás. A vida
foi muito difícil para o jovem Snag. As outras
crianças o desprezavam e o provocavam sem
menor compaixão. Sua mãe era normalmente
alvo de fofocas cruéis e tratadas com total
desprezo.
Snaggletooth não podia mais agüentar
aquilo e decidiu fugir de casa para viver ou
morrer na floresta.
Ele foi encontrado quase morto por um
Snaggletooth está se movimentando
grupo de caça orc. Eles o levaram de volta para
devagar e cuidadosamente para que suas
a sua tribo aonde sua força e habilidades nas
tropas não causem uma destruição em massa,
armas lhe deram uma certa fama perante o clã.
que acabaria chamando muita atenção e
Ele foi rapidamente elevado a uma posição de
forçando o aparecimento de uma grande força
autoridade, somente alguns passos abaixo do
militar na região por parte do rei. Ele acredita
líder do clã orc.
que os militares não conseguiram se organizar
Nem mesmo longos anos tiraram de sua
a tempo de impedi-lo antes dele chegar à vila.
memória os maus tratos sofridos em thanic, e
Após o encontro com a milícia de Sir Laridine,
secretamente, ele prometeu se vingar da vila
Snaggletooth esperou 3 dias ára ver se mais
aonde nasceu. Ele começou a formular um
tropas seriam enviadas contra eles. Ao ver que
plano para satisfazer sua sede de vingança.
ninguém foi enviado, ele preparou suas tropas e
Seu plano iria exigir o uso de muitos guerreiros
marchou em direção a Thanic.
da tribo, guerreiros que na posição que Snag se

54
 seria esse objetivo.
RELATÓRIOS DE SIR LARIDINE *** Orcs não estão causando muitos
problemas para garantir o envio de um exercito
Entrada n° 105:
para eliminá-los, o que indica que eles não
Minhas tropas foram equipadas e
desejam um conflito armado nesse momento. Eles
marcharemos amanhã. Não existe nenhum
podem estar em uma missão para descobrirem
relatório de
o tamanho das forças em
atividade de
nossas fronteiras.
orcs na área.
*** Pela quantidade
Te n t a r e m o s
de gado roubado pelos
localizá-los e
orcs, eu estimo que eles
determinar a sua
somam entre 30 a 50
força.
guerrreiros.
Entrada n°
106:
Encontro
com os orcs
acabou muito mal.
Grandes perdas,
maior parte do
esquadrão foi
eliminado.
Entrada n°
107:
Feridas
sofridas em
batalha estão
curando bem,
devo estar em
perfeito estado
em alguns dias.
Nota dos orcs
avistados:
*** Muito
disciplinados, indicando forte liderança. Não
devemos menosprezar suas estratégias.
*** Orcs possuem armas feitas por homens,
habilidosos com flechas. A qualidade de seu
armamento os torna perigosos para tropas
montarias.
*** O lider dos Orcs possui qualidades
estratégicas e boa tática. Devemos ficar atentos
a tentativas de emboscadas. Devemos manter
disciplina em nossas tropas para assim não
cairmos em uma emboscada.
*** Orcs estão se movendo devagar e
cuidadosamente, tomando muito cuidado para
não serem vistos. Eles devem ter algum objetivo
em suas mentes. Até agora não descobri qual

55
 E SPECIAL
ENTREVISTA OBSERVADORA
Rogério de Mello Godoy e Leonardo
A.de Andrade, autores do Sistema de RPG
OPERA, falam à Revista Távola sobre a origem
do Sistema e as dificuldades enfrentadas para
consolidá-lo. Eles também comentam sobre os
novos rumos a serem tomados no mercado.
Távola - De onde surgiu a idéia de criar um
sistema de RPG, em meio a tantos sistemas que
temos espalhados pelo mercado?
Rogério - Surgiu da minha vontade de jogar
com o Conan, mas com chances de sobreviver
mesmo com o Nível de Armadura baixo por
estar vestindo apenas uma tanga, e por não
conseguir fazer as contas nos outros sitemas de
regras mais genéricos, onde o Conan de tanga
sobreviveria com sua Esquiva Passiva.
Leonardo - O nosso problema era conciliar
jogos, que pertenciam a níveis de realismo
diferentes na mesma mesa de jogo. Os sistema
de jogo que conhecíamos na época (inicio
da década de 90), não satisfaziam nossas
expectativas.
Távola - E porque um sistema genérico?
Rogério - Porque a gente cansou de atacar
dragão com míssil mágico, e queríamos ver o
estrago que uma artilharia anti-aérea faria no
bichão!
Távola - Quais foram as dificuldades em
apresentar esse novo sistema ao público?
56
Rogério - No começo, era a dificuldade
física mesmo, pois tínhamos que apresentar
pessoalmente as regras, mas com a utilização
da Internet pelo Léo, o OPERA se proliferou, pois
quem já sabia do OPERA comentava com um
colega, que entrava no site, gostava, comentava
com outro, que gostava também e contava para
outro e assim por diante.
Com a publicação, conseguimos atingir mais
gente ainda, e até agora tem gente nova
Observando em Realidades Alternativas.
Távola - Vocês tiveram um período de Playtest
na internet. Como foi esse período?
Rogério - Na verdade, foi mais divulgação do
que playtest na internet, pois tínhamos muitas
respostas de apoio, mas quase nenhuma
sugestão de regras. Os playtestes ocorriam ao
vivo, nas mesas de jogo de Catanduva e São
Carlos...
Leonardo - ...cujo público era bem diversificado.
Rogério - Um playtest bacana na net acontece
só agora, no fórum, onde várias sugestões e
relatos de jogos são trocados.
Távola - Como pretendem concorrer com
os diversos RPGs já existentes, tendo entre
eles, títulos fortes como Dungeons & Dragons,
GURPS, Storyteller, entre outros?
Rogério - Mais do que concorrer, pretendemos
apresentar uma opção para os roleplayers
conseguirem contar suas histórias do jeito
que eles quiserem, com uma adaptabilidade e atual mercado de RPG.
praticidade que só o OPERA permite.
Távola - Existem outros projetos para o OPERA
Leonardo - Com o OPERA é possível fazer em andamento? Quais suas perspectivas sobre
um kriptoniano enfrentar um dragão mágico de eles?
cinco cabeças (Realidade dos Quadrinhos vs.
Realidade Fantástica Medieval). Rogério - Sim, e pretendemos passá-los para
o público assim que for possível e como for
Távola - Os jogadores do OPERA devem estar possível.
aflitos com a situação incerta do sistema no
mercado, e todos nós gostaríamos de saber Equipe Távola RPG
sobre a possível falência (ou não) da Comic
Store e quais as conseqüências disso para o
sistema.

Rogério - Então, no que depender da

Comic Store, eu não vejo muito futuro, pois
a fiscalização federal deixou a empresa
“sinucada”, mas, Comic Store não é o único meio
de divulgação.

Távola - Aliás... A Comic Store faliu oficialmente?

Rogério - Que eu saiba, eles continuam como

distribuidora, pois contam com um estoque
gigantesco, mas como a parte importadora
deles foi esmagada pela incoerência fiscal, eles
ficaram sem verbas para qualquer outra coisa.
Mais uma vez, voltamos a investir pesado nas
atividades de internet, com novo site (http://www.
rpgopera.com), uma vez que o domínio antigo
está de posse da Comic Store.
Quem tem acesso à internet, tem acesso ao
OPERA e a todas as novidades que não param
de surgir (a própria Távola é um exemplo disso).
Mas, essa porta que se fechou nos fez procurar
muitas janelas, que podem funcionar muito
melhor do que antes. Não estamos parados
na internet e muito menos fora dela, mas aí, é
assunto que só comentaremos quando os livros
saírem das gráficas.

Távola - Você disse... “... Livros saírem das

gráficas”... Vocês já acertaram com outra
editora?

Rogério - Acertamos mais ou menos, tem muita

coisa para ser acertada ainda, só posso adiantar
que é uma editora que não tem nada a ver com o

57
 G OLPE DE M ESTRE
Ilusão Narrativa
Muitas vezes, por inexperiência, falta de preparação
ou insegurança, o Mestre do Jogo acaba por ficar perdido e
confuso quando seus jogadores começam a tomar um rumo
diferente do roteiro escrito de uma aventura. Tal situação
é comum e deve ser tratada com cuidado e sutileza, pois
define se o jogo irá continuar ou se seus jogadores irão
desejar outro Mestre de Jogo. Há uma ferramenta muito útil
para resolver esse problema... A Ilusão Narrativa.
Este é o primeiro artigo de uma série que tem por
objetivo apresentar algumas técnicas desenvolvidas por
minha pessoa bem como dicas baseadas em minha longa
experiência como Gamemaster desde 1988. Saiba que este
artigo é voltado tanto Mestres veteranos como iniciantes,
podendo ser usar para ampliar a diversão proporcionada
pelo nosso saudável hobby.
1 – CONCEITOS:
Antes de demonstrar a ferramenta da Ilusão Narrativa,
vamos rever alguns conceitos básicos para o melhor
entendimento dela.
A – O Mestre e seus deveres:
Como sabemos, um Mestre de Jogo é a personalidade
que tem a obrigação de contar uma história onde os jogadores
serão seus protagonistas e tem por noção ser um narrador
capaz de transferir todas as suas idéias através de palavras
e outros artifícios para o jogo. Como um escritor, ele conta
uma história que tem começo, meio e, muitas vezes, um
fim, ou seja, há um roteiro com objetivos e/ou moral a ser
mostrada/ provada por seus ouvintes.
Se for bem apresentado, os jogadores se sentirão
a vontade para iniciarem ações e reações adversas,
interagindo com os elementos que os cercam dentro da
narrativa da aventura. Dessa maneira, o Mestre do Jogo
faz o papel do ambiente, personalidades diversas e oferece
desafios que ele julga serem adequados aos seus jogadores
de forma direta ou indireta.
58
B – Os jogadores e sua imprevisibilidade:
Apesar de tudo, o papel do jogador envolve uma
liberdade enorme que pode ser traduzida em constante
processo criativo de análise, ação e reação baseado nos
elementos narrativos apresentados pelo Mestre do Jogo.
Dessa maneira, o jogador só tem uma preocupação primária
que é divertir-se como pode ao mesmo tempo que cuida de
todos os aspectos de um único personagem, ao contrário
do Mestre que deve seguir normas que gerenciam toda a
“realidade” da ambientação que ele está apresentando.
O Jogador é uma bomba-relógio que explode na mão
do Mestre do Jogo quando menos se espera, suplantando
um desafio de forma rápida e criativa, eliminando um vilão
que o narrador demorou dias para formular ou até indo por
uma direção completamente oposta ao do roteiro.
C – Erros Comuns:
Ao analisarmos ambos os lados, vemos que muitas
vezes, o Mestre do Jogo é forçado a usar artifícios que
resultam na insatisfação completa e total de seu grupo de
jogadores que, por sua vez, acabam ficando frustrados toda
a vez que são repreendidos e forçados a fazer algo que não
desejam na mesa. Só para ilustrar, a autoridade do Mestre
não lhe dá direito de frustrar o jogador com detalhes de
regras que beneficiam somente a um lado da mesa.
Outro tipo de comportamento negativo do Mestre para
lidar com essas diversas situações a qual ele não estava
preparado é a presença da personalidade guia em meio ao
grupo. Esse guia nada mais é do que a personificação do
mestre dizendo aos jogadores o que eles podem ou não
fazer, aquele que salva eles toda a vez que estão em perigo
e aquele que impede a sensação de realização dentro da
equipe em jogo por motivos diversos.
Digo a todos os Mestre que há métodos mais saudáveis
de se manter o jogo interessante e desafiador sem recair
nesses erros freqüentes.

2 – A IMAGINAÇÃO É SUA ALIADA:
Se você lembrar bem, Mestre do Jogo, o RPG não
passa de um entretenimento que ocorre na mente de cada
participante. Nem todos tem a mesma visão do caneco
de ouro adornado artesanalmente com opalas que você
descreveu minutos atrás. Garanto que cada ser humano
envolvido tem uma opinião diferente sobre essa descrição
que acabei de sugerir, uns dirão que ela é mais complexa
do que outros, logo foco na narrativa é necessário para uma
boa aventura... Esqueça os detalhes insignificantes, deixe a
imaginação fluir na mesa sem que se perca o foco no que
é importante.
A Ilusão narrativa nasce desse foco, usando a
imaginação de seus jogadores contra eles mesmos para
gerar um ar de seriedade e disciplina dentro da mesa..
3 – A FERRAMENTA E SUAS NUANCES:
Uma vez iniciada a sessão de jogo, o Mestre deve
primeiro manter-se calmo e seguro de suas próprias
capacidades. Ninguém será afetado pela Ilusão Narrativa
se o Mestre não estiver a vontade com a própria mesa de
jogo. Assim que iniciada a partida, o Mestre deve sempre ter
em mente esse triunvirato de ações: “Adaptação, Aceitação
e Resolução”.
A Ilusão Narrativa é uma técnica que permite manter
coesa uma mesa e demonstrar que a ambientação é
funcional não importa o que seus jogadores fizerem para
ir contra o seu estilo de mestrar. Antes de mais nada, a
ferramenta só é funcional se o Mestre do jogo dominar as 3
ações descritas abaixo:
a) ADAPTAÇÃO:
Saiba que seu roteiro nunca será executado a risca
por aqueles que você joga. Dessa maneira, você deve se
adaptar ao momento, nunca transparecendo que foi pego
de surpresa ou está despreparado. SE sua narrativa irá
guiá-los até o lago do terrivel Lorde Findulas e por acaso o
grupo se distanciar dos eventos por alguma razão, NUNCA
mova a locação do mapa para interceptá-los. A solução é
adaptação, ou seja, deixe-os interagir com o ambiente de
forma fluida e deixe que sofram as consequencias por seus
atos, afinal o mundo não gira somente em torno deles.
Use a adaptação para levá-los por um caminho alternativo
baseado nas ações de seus próprios jogadores, sem nunca
esquecer o foco da aventura.
Observe bem cada um, aprenda com eles o que move
cada pessoa por trás da cortina do personagem. Deixe que
eles próprios cheguem a uma conclusão. Sem que você
mesmo espere, haverá uma brecha que permitirá o pronto
retorno ao interesse central da trama.
Por mais que se tente, o Mestre nunca deve interceder
diretamente até que o momento seja o correto... garanto
que o resultado irá gerar uma ação positiva que causará
invariavelmente o segundo momento da Ilusão Narrativa...
59
Aceitação.
Digamos que um grupo de aventureiros resolve que
não possui motivos suficientes para seguir até o lago do
terrivel Lorde Findulas. Seguindo o novo caminho, o mestre
estuda qual deles seria a peça principal que engatilharia a
correntes de eventos que os colocaria de volta ao rumo da
história.
O Mestre entra em um momento mais reativo do que
passivo, nunca transparecendo que aquilo não estava
preparado. O jogo prossegue sem problemas, já que tudo
se baseia nas ações do grupo. O mestre pode pedir alguns
testes de percepção, mesmo que não haja necessidade para
tanto. Outro recurso é o artifício do Escudo do Mestre, onde
ele pode ficar realizando rolamentos uma vez ou outra, sem
dizer o que seria isso e/ou consultando o roteiro da aventura
de vez em quando. De vez em quando, mantenha-os atentos
usando pequenos momentos improvisados que dêem maior
credibilidade ao local onde estão. Caso em uma cidade,
faça as pessoas reagirem de forma variada ao verem os
jogadores. Caso no espaço ou sozinhos em algum local
desolado, nada é mais enervante do que o silêncio absoluto.
Se desejam matar um personagem perigoso, deixem que o
façam... As ações deles serão sua arma contra eles.
b) ACEITAÇÃO:
Esse momento é a parte mais delicada do processo,
pois depende exclusivamente da adaptação que o Mestre
do Jogo fez no início funcione adequadamente. Se tudo
transcorreu bem no período de Adaptação, o grupo estará
pronto para reagir ao primeiro estímulo, pois a imaginação
deles estará ativa nesse momento. Nesse instante, eles
darão muito mais crédito ao mundo que eles estiverem
interagindo em suas mentes. É momento em que estarão
mais vulneráveis.
Continuando o exemplo, digamos que um deles tem
uma personalidade passional, mesmo jogando com um
personagem agressivo. O mestre percebeu isso durante
o jogo e resolve aproveitar a brecha. O jogo continua e
o mestre os deixa indo em determinada direção, até que
o grupo se depara com uma cena capaz de ativar esse
gatilho. A liberdade concedida ao grupo por neste instante é
ilusória e beneficia a narrativa, enriquecendo o ambiente no
processo. Digamos que a cena tenha sido de um vilarejo que
fora queimado e não possuam sobreviventes... O vilarejo
será descrito como algo muito parecido com aquele que o
personagem escolhido tenha crescido. Imagens familiares,
com detalhes especialmente voltados para o jogador atrás
da folha de papel. Esse momento, a fase de aceitação entra
em ação. Atingindo aquele que menos espera do grupo.
Talvez não necessite muito de descrição, apenas uma breve
cena é capaz de engatilhar o processo.
c) RESOLUÇÃO:
É o momento em que a Ilusão Narrativa ocorre. Os
jogadores tomam uma resolução que os colocará de volta
ao rumo da aventura, sem nunca terem desconfiados que
você os manipulou para isso. Normalmente, se sentirão
realizados, pois se sentirão livres para continuar decidindo
os rumos da própria aventura e você estará mais do que
preparado para puxar o gatilho tantas vezes que necessário
caso situações fora de seu controle ocorram.

4 – NÃO ABUSE DA SORTE:

- Evite situações que obviamente denunciarão suas

intenções de manipular os seus jogadores. Seja criativo nas
reações.
- Seja sutil.
- Conheça cada jogador na mesa, entenda o estilo
de jogo deles e use isso para alimentar a história. Afinal de
contas eles são seus personagens principais e é deles a
aventura.
- A diversão do Mestre deve ser sempre ver o resultado
de seus esforços serem convertidos em diversão.
- Lembre-se, a Ilusão Narrativa só ocorre com sucesso,
se tal recurso for aplicado calmamente, com segurança
e, principalmente, com naturalidade. Jamais imponha a
ferramenta à força.

Alessandro Franzen

60
 C ONTOS

CRÔNICAS
PRIMORDIAIS

61
 Capítulo 1 concentração sejam cruciais para que vocês possam se tornar
guerreiros completos.
O Guerreiro Nimbus, Vento Celestial está no timão de sua
Ruan sentiu o rubor em seu rosto crescer de forma
Nau Aérea. O vento toca suavemente sua face e ele se deixa levar
absurda, tanto quanto os risos ao seu redor. Com uma mesura
pelas lembranças de como tudo começou...
ele pediu desculpas ao diretor. Este voltou para o palanque onde
estava a alguns momentos atrás e pediu para que os alunos se
- Vocês finalmente alcançaram o último estágio antes de
dispersassem e começassem a se organizar para o começo das
se formarem como verdadeiros Guerreiros do Céu.
aulas no dia seguinte.
A honra que vocês receberam ao final dessa nova etapa
em suas vidas é...
As horas passavam de modo rápido. Primeiro ele entrou
num grande salão cujo portão era guardado por duas estátuas que
Enquanto o diretor da academia continuava seu discurso de
exibiam o altivo uniforme dos Guerreiros Celestiais. Ele ia receber
boas vindas, Ruan Sturten sentia um misto de alegria e apreensão,
sua roupa de treinamento, uma versão mais simples do uniforme
afinal ele estava a um passo de realizar o sonho de seu pai, mas
tradicional, mas nas cores vermelho, negro e dourado. Foi difícil
ao mesmo tempo ainda não se sentia seguro de que era realmente
de encontrar algo de seu tamanho, ainda mais tendo vários outros
essa a sua própria vontade.
alunos com a mesma difícil missão.
Mal tinha saído da infância e seu pai se preparava para
Depois disso ele foi para a sala das armas, onde recebeu
mandá-lo estudar na Academia Aeriun. Nos anos seguintes
sua espada e seu escudo, esses ele usaria por toda a sua vida e
sempre que podiam estavam treinando, seja em sua vila, próxima
por causa disso, ele teve que jurar que jamais as usaria de modo
de Serenidade, a principal cidade da Ilha da Brisa Suave, ou nas
leviano. Em seguida ele passou por outras salas pegando livros,
terras dos anões e nas florestas dos elfos.
pergaminhos e diversos outros materiais que ele utilizaria pelos
próximos anos.
Aos poucos ele começou a se interessar pelas disciplinas
dos Guerreiros do Céu, a honra de nunca abandonar um
Ele seguiu, então, pelo o caminho indicado para chegar ao
companheiro, o respeito pela vida, e o principal: a batalha para
seu dormitório. Vários esbarrões depois ele finalmente alcançou
enfrentar os medos interiores. Ele precisaria muito disso, afinal por
a porta que dava para seu quarto, onde acreditava que teria um
qual outra razão alguém como ele entraria na Aeriun?
pouco de paz. Doce ilusão, pois assim que entrou ele levou um
empurrão na altura da boca do estômago que o fez cair e espalhar
Alguém com medo de alturas...
suas coisas.
A vergonha que ele sentia era enorme. Uma pessoa que
-Hei! Que inferno!
mora numa ilha flutuante e que não conseguia nem subir uma
escada de cinco degraus sem sentir vertigem? Era algo que ele
Um anão tirava as botas de Ruan da cabeça e continuava
não contaria a ninguém... Só mesmo para Vénië.
a praguejar. Algo sobre ser um absurdo uma anã querer ser
guerreira. Enquanto o jovem tentava reunir seus pertences ele
A voz do diretor ia cada vez mais longe conforme as
caiu novamente, pois um homem, vestido com a roupa padrão dos
memórias tomavam a mente do rapaz. Vénië sempre trazia uma
Guerreiros do Céu entrava:
alegria incomum. A bela elfa o acompanhava durante os treinos
na Floresta da Virtude, chamada pelos elfos de Floresta das
- Pegue suas coisa logo novato - E se voltando para o
Nuvens Eternas e quando ele perguntou o porquê desse nome ela
anão:
simplesmente sorriu. Um sorriso lindo, e disse:
- E você? Qual o problema?
- Como você é bobo, é claro que é porque as árvores
mais altas daqui alcançam as nuvens que parecem nunca se
- Uma anã nunca poderá ser uma guerreira! Será que só
desfazerem...
eu sei disso?
E ela ria com o riso de uma criança, mas mesmo percebendo
- Só. - Ruan percebeu uma pequena mulher saltar da cama
o óbvio interesse dela, ele não conseguiu corresponder ao
onde estava
sentimento que ela oferecia. Desse modo quando seu pai avisou
- São por causa de homens como você que nosso povo
que eles iam embora para uma temporada de treino das minas
não consegue avançar...
de Rustar, ele sentiu menos tristeza do que se esperava. Vénië,
porém prometeu que um dia eles iriam se reencontrar.
- Já chega! Prestem atenção todos vocês, pois só irei dizer
isso uma vez.
No momento em que se lembrou de Rustar, ele começou a
sentir a dor de seu acidente e por impulso levou a mão para seu
Nesse momento Ruan conseguiu ver quase todos que
peito, no momento em que a voz do diretor parecia muito mais
estavam no quarto: um elfo ruivo sentado no batente da janela,
próxima.
o casal de anões, sendo separados pelo instrutor e uma mulher
humana de cabelos negros sentada em outra cama. Ele também
Uma mão tocou seu ombro e o tirou de seu devaneio
reparou em como era o quarto propriamente dito, haviam seis
quando ele percebeu que Feston, o diretor e também o maior de
camas dispostas paralelamente e com mesas entre elas, duas
todos os Guerreiros do Céu, estava a seu lado:
janelas iluminavam o ambiente e uma porta interna provavelmente
levaria para um banheiro. Ele viu tudo isso num breve momento
- E vocês aprenderão, eu espero que a atenção e
e para não levar outra bronca, prestou atenção nas palavras do

62
instrutor:
- Um dos principais preceitos da academia é que os Ventos
de Washun tocam a todos sem distinção de raça ou sexo. Este é
seu grupo de combate. Um dia suas vidas estarão nas mãos uns
dos outros e, portanto, devem aprender desde já a se respeitar.
Dessa atitude dependerá sua formação aqui em Aeriun. Portanto
é melhor se adaptarem ou desistirem.
E, sem dar chance de réplica, ele saiu tão rápido quanto
entrou. Dessa vez Ruan conseguiu se esquivar, mas quando se
virou para a porta se surpreendeu ao ver uma velha amiga:
- Eu não falei que a gente ia se encontrar de novo? - E
o rapaz jogou suas coisas no chão pouco antes da bela elfa o
envolver num longo beijo.
Capítulo 2
As criaturas chagavam cada vez mais perto, separando
a equipe. Eram uns tipos de golens feitos de folhas e galhos
conjurados pelo mago Ashlure. Ele era o encarregado pelos treinos
dos alunos da Academia Aeriun.
Numa clareira perto de Serenidade, a cidade humana da
Ilha da Brisa Suave, o grupo de Ruan estava sendo derrotado
e com certeza seu desempenho acabaria rendendo um grande
sermão mais tarde.
- Você entrou na minha frente! - Tronter, o anão, quase
acertou uma de suas companheiras – Por isso eu sempre digo...
- Que anãs não deveriam ser guerreiras. Eu já sei! - Frisdan
rebatia as ofensas do compatriota.
- Cuidado Vénië! – Ruan quase perdeu sua espada ao
defender a elfa.
- O que faremos Joriander? – Hellen, a outra humana do
grupo se dirigia para aquele que haviam escolhido como líder.
- Eu... - Ele se defendia com seu escudo de outro inimigo
- Eu... Não sei... Eu...
Vendo a indecisão do colega e apesar da relutância que
sentia, Ruan começou a dar ordens:
- Rápido! Se desvencilhem dos inimigos e vamos todos em
direção ao morro!! – Vendo a indecisão nos rostos de todos ele
continuou – Já!!!!
Eles acabaram obedecendo e logo se encontravam de
costas para o morro. Ruan era o centro das atenções agora e ele
começou a explicar o que tinha em mente:
- Vamos fazer um meio círculo de costas para o morro.
Desse modo nossa retaguarda estará protegida. Essa formação
será a diferença entre derrota e vitória, não podemos deixar que
eles quebrem essa formação entenderam? Destruam as criaturas
que vierem em suas direções e quando possível, do seu colega do
lado. Lá vem eles, preparem-se!
Do alto do morro, o mago e o instrutor da academia
acompanham o desempenho dos alunos. O sorriso de Kandores
demonstra a sensível melhora que os alunos tiveram nesses
63
últimos meses, mas não foi o bastante. Eles ainda não agiam
como uma equipe de verdade.
As criaturas caiam diante da formação sólida que
encontravam pela frente. Quando um dos alunos usava o escudo
para defender, o companheiro do lado atacava com a espada.
Desse modo a vitória parecia certa, mas uma nova discussão
entre os anões fez com que Hellen fosse ferida no ombro e algo
aconteceu.
A moça, que era sempre tão serena e tranqüila, de repente
saltou sobre um grupo de criaturas como uma louca, desfazendo
assim a formação e permitindo que eles fossem cercados.
Com um movimento das mãos de Ashlure, os inimigos se
desfazem em montes de folhas secas e enquanto o mago leva a
jovem furiosa para outro lugar para tentar acalmá-la, Kandores se
aproxima para falar sobre o exercício com os demais:
- Vocês sabem por que perderam?
O silêncio dos jovens dizia tudo, mas isso não impediu que
o instrutor falasse durante três horas sobre todos os defeitos do
trabalho em equipe que eles tiveram e ele decidiu que os treinos
diários iriam aumentar.
Bem mais tarde, no dormitório, enquanto todos estavam
praticamente desmaiados depois do longo dia, Ruan aproveitava
o momento de privacidade para tomar seu banho. O banheiro era
quase do tamanho do quarto. De um lado estavam os sanitários,
todos separados pois eram utilizados tanto por homens quanto por
mulheres. Do outro lado haviam uns fornos para aquecer a água
para os banhos, no centro uma grande tina d’água era usada para
que os alunos se lavassem. Depois de tirar o sabão do corpo ele
revolveu relaxar apenas enchendo a tina com água quente e os
sais que Vénië havia trazido de casa.
Já dentro da tina, aproveitando o calor da água e o
agradável perfume dos sais, ele foi se lembrando das coisas que
haviam acontecido desde que ele chegara ali.
Depois do beijo que o rapaz e a elfa trocaram, que foi muito
longo, todos se apresentaram: Ruan havia contado sobre seu pai
e o sonho que tinha de ver o filho como um Guerreiro do Céu,
Tronter queria ser algo além de um mineiro, ele queria conhecer
e voar pelos céus, Frisdan queria provar que as mulheres anãs
podia ser grandes guerreiras, Joriander disse que seria o maior de
todos os Guerreiros, Hellen falou pouco, algo característico dela
e só disse que queria ficar mais forte e Vénië disse apenas “Por
que não?”
De lá até hoje eles passaram por muitos testes. De perícia,
de força, concentração, lutas armadas ou corpo a corpo. Suas
notas individuais eram ótimas, mas o problema era o grupo em si.
Os anões não se entendiam, Hellen parecia cada vez mais inibida,
Joriander, que fez questão de ser o líder, não era tão bom como
dizia e Vénië, bem, o que se podia dizer dela? Talvez que fosse
muito rebelde e não conseguia seguir as ordens de alguém que
ela não respeitasse totalmente.
Mas hoje, por um momento eles agiram como um grupo
e o que Ruan não queria era passar por cima da “autoridade” de
Joriander, mas se esse fosse o preço a pagar para que ele se
tornasse um Guerreiro do Céu, ele faria isso. Tal pensamento o
surpreendeu, afinal esse sempre foi mais o sonho de seu pai que
o dele. O que havia mudado?
 Quando ia começar a pensar no motivo dessa mudança,
Ruan ouviu o som da porta do banheiro ser trancada, ele abriu
os olhos e viu Vénië encostada na porta, com a chave na mão e
trajando apenas uma toalha. Sem sair da tina, pois sua própria
toalha estava longe, ele disse:
- Eu demorei demais? Desculpe... Eu já vou sair... Hã... Eu
pensei que todos estavam dormindo e...
A elfa tirou a toalha e se aproximou de forma sensual, sem
tentar disfarçar a sua nudez e antes que o jovem falasse algo,
ela o fez calar colocando delicadamente um dedo em seus lábios.
Depois colocou as mãos na nuca exibindo seus seios, com um
sorriso malicioso na boca. Ela contornou a tina até ficar atrás do
rapaz que a perdeu de vista.
- Vénië... – Ele fez menção de se erguer – Talvez seja
melhor eu sair e...
- Eu disse que queria que você saísse? – Ela sussurrou
perto do ouvido dele, provocando um arrepio.
Então, sem aviso, ela entrou na tina e começou a se
aproximar dele tocando seus pés, depois as coxas e quando
ela o tocou de forma mais íntima ele se levantou num salto e
ela finalmente conseguiu ver o peito do rapaz, que este tentava
esconder sob a água.
- Nossa! O que aconteceu com você?
O susto da elfa era legítimo, pois no lado direito do peito de
Ruan um tipo de cristal azulado podia ser visto, pois tomava quase
toda região na frente do coração, porém, ele parecia cravado na
pele e ao redor crescia um tipo de cicatriz cobrindo os lados do
mineral. Parecia um ferimento antigo.
- É um Cristal das Alturas? Mas como?
- Eu não quero falar sobre isso, acredito que o susto,
provavelmente foi demais e acho que o que você procurava não
te interessa mais. Portanto eu... – Ele deu as costas para a elfa e
saiu da tina.
Já estava pegando sua toalha para ir embora quando foi
impedido por Vénië que tocou a mão dele delicadamente e fez
com ele se virasse e a encarasse:
- Eu não perdi a vontade...
Ela o encarou com os olhos semicerrados e antes que
Ruan pudesse fazer algo, ela se abaixou e começou a beijar e
lamber a cicatriz. Isso foi demais para o rapaz, que lutava contra
o desejo que o invadia. Então a abraçou e quando seu corpo nu
entrou em contato com o belo corpo da elfa, ele não conseguiu se
controlar mais. Os beijos ficaram cada vez mais intensos, suas
mãos começaram a explorar o corpo um do outro, a princípio com
receio, mas cada vez com mais e mais vontade e quando não
agüentaram mais, ele a deitou no chão, ela o recebeu com todo
um imenso carinho e fizeram amor ali mesmo. Não apenas uma,
mas duas vezes quase seguidas, pois ambos estavam sentindo
esse desejo havia muito tempo e agora puderam, finalmente, dar
vazão a tudo o que os estava consumindo. Mais tarde, ambos
estavam abraçados dentro da tina e perdidos em pensamentos. O
silêncio reinava até que Ruan começou a falar:
64
- Vénië, eu...
- Não, não fala nada... Sei que você não sente por mim o
mesmo que eu sinto por você, mas eu queria isso demais. Desde
que eu te vi pela primeira vez... Sei que, possivelmente, nós não
iremos ficar juntos, mas pelo menos teremos para sempre esse
momento, portanto não vamos estragar isso... Por favor...
Ruan nunca havia visto a elfa daquele jeito e apenas a
abraçou. Eles ficaram assim até a água começar a esfriar. Então
se vestiram e foram dormir. Um último toque de suas mãos e eles
se deitaram.
No dia seguinte, depois do café da manhã, o jovem humano
pediu para que todos se encontrassem no local do exercício do
dia anterior. Quando todos chegaram e se sentaram ao redor de
Ruan, ele começou a falar:
- Precisamos conversar...
Capítulo 3
- Ainda não consigo acreditar... Eu vi com meus olhos e
não acredito.
- Alguns dizem que foi obra de um mago negro...
- Eu ouvi falar que poderia ser um desígnio do próprio
Washun e...
De repente, todos que estavam a conversar na estalagem
do Grifo Dourado se calaram. Um grupo de seis alunos da
academia Aeriun acabava de entrar e sua mera presença fez com
que as pessoas presentes começassem a sussurrar entre elas.
Eles escolheram uma mesa mais afastada, e depois de
fazerem seus pedidos ao atendente, resolveram ignorar todos à
volta e discutir o assunto pendente:
- Ruan, como você pôde esconder algo assim de nós?
- Eu já disse que estou tão surpreso quanto todos vocês,
Joriander. Eu juro.
- Humpf... Como se seu juramento fosse valer
algo depois... Depois... Depois daquilo! – Tronter socou a
mesa diante de si assustando todos.
As moças do grupo permaneciam caladas, Vélvën olhava
para o rapaz com um misto de carinho e medo, Hellen fitava a mesa
diante de si e Frisdan parecia a única solidária com o amigo:
- Gente, o Ruan deve ter uma explicação – E se voltando
para o próprio – Não é?
O rapaz sentiu todos os olhares que o fitavam agora e
mesmo contra sua vontade, começou a pensar naquela manhã em
que ele pediu pra que todos se reunissem.
- Precisamos conversar...
- Sobre o quê? – A impaciência do anão conseguia ser pior
pela manhã, porém ela refletia o estado de ânimo dos demais.
 - Acho que a resposta é óbvia Tronter. Nós perdemos
ontem, nesse mesmo lugar. E por quê? – antes que algum deles
respondesse continuou...
- Por que até agora é como se não tivéssemos aprendido
nada. Ainda deixamos desavenças pessoais nos atrapalharem,
egos e orgulhos nos afetarem, e quer me crer, que ainda muitos
segredos existem entre nós.
Conforme foi falando ele ia olhando em cada semblante
ao seu redor vendo o resultado de suas palavras e constatou que
precisaria ir mais fundo para conseguir atingir seu objetivo:
- Temos que ser mais do que simples Guerreiros do Céu,
temos que nos tornar amigos. – dessa vez houve uma reação,
todos se entreolharam imaginando ser impossível usar aquela
palavra entre eles.
- Sim. Amigos, pois se um dia, formos para uma batalha,
não quero soldados que nem ao menos conheço o nome para lutar
ao meu lado. Quero amigos pelos quais irei lutar até a morte, se
necessário, para que voltemos juntos para casa. Até a morte.
- E como faríamos isso? – Hellen perguntou de repente,
assuntando seus colegas acostumados com seu silêncio.
Com um sorriso no rosto, Ruan respondeu:
- Primeiro indo passear. Como hoje teremos o dia livre
vamos até a grande feira no centro de Serenidade para nos
divertirmos. Ao fim do dia voltamos até esse local. Vamos?
Espantados e intrigados com a sugestão do jovem
humano, eles foram à direção do centro da cidade. Uma vez lá, a
variedade de pessoas e entretenimentos os engolfou e a tensão
dos últimos dias pareceu ir embora. As garotas paravam em cada
uma das barracas de artigos femininos como jóias, roupas e
enfeites e a alegria de Vélvën foi contagiando suas companheiras
que pareciam demorar uma eternidade em suas escolhas. Ruan
flagrou um momento em que a retraída Hellen experimentava
cortes de seda e trocava olhares com Joriander, ao passo que
percebeu espantado um sorriso no rosto de Tronter ao ver que
Frisdan escolhia coisas mais pela praticidade em combate do
que pela beleza propriamente dita. Em seguida eles chegaram
a Barracas de armas e apetrechos que interessavam mais aos
homens. Foi a vez das moças esperarem e se divertirem ao
ver o anão experimentar uma roupa bem maior que ele, ou a
diversão que Vélvën sentia em flagrar Ruan toda vez que esse
ia experimentar uma roupa. Perto do fim do dia eles foram até
a Estalagem do Grifo Dourado, lugar que se tornaria um ponto
obrigatório mais tarde, conversaram, beberam e até dançaram! O
pôr do sol indicava o fim do dia quando Ruan os lembrou de um
compromisso prévio. Com caretas eles concordaram, saíram e
logo estavam na clareira novamente.
- Não foi tão ruim, não é? – Todos concordaram e ele
continuou – Eu acho que o primeiro passo foi dado, mas não
poderemos ser uma força respeitável apenas por causa de um
dia.
- E o que você pretende? – Joriander estava preocupado,
pois Ruan estava fazendo um trabalho de liderança melhor que o
dele.
- Que a partir de hoje a gente seja sincero um com o outro
e podemos começar de um jeito simples: admitindo nossas falhas
e pedindo ajuda um para o outro.
65
Um silêncio pesado caiu entre eles, ficarem amigos parecia
bem fácil comparado com aquilo. Percebendo que seus colegas,
agora possíveis amigos, reagiam como o esperado ele concluiu:
- Daqui a umas semanas iremos passar pelo teste da
montaria...
- E o que tem de mais nisso? É o momento que todos os
Guerreiros esperam.
- Isso mesmo Jor, eu espero conseguir que um Grifo me
aceite.
- Não vai ser difícil Vélvën, sua alegria é contagiante...
- Obrigada Fri. Eu aposto que o Trontinho vai agarrar um
pela força. Hihihihihihi.
- Eu já disse como detestei esse apelido?
Todos riram exceto Ruan, quando perceberam isso, foi
Hellen quem perguntou:
- Qual o problema Ruan?
- Eu... - Ele abaixou a cabeça, respirou fundo e disse
- Eu tenho medo de altura.
-Silêncio. Depois, todos quiseram falar ao mesmo tempo
“Como?” “Que absurdo” “E agora?”. Um Guerreiro dos céus com
medo de altura? Um absurdo, mas:
- Essa é minha tentativa para nos unir. Eu abri meu
coração e admiti que precisarei muito da ajuda de vocês. O que
faremos agora?
- Eu ouvi de meu pai que não seria capaz de me tornar
nada além de um mineiro, na verdade ele espera
que eu falhe...Por mais difícil que seja admitir isso, acho
que esse foi o motivo pelo qual eu tive dificuldade em aceitá-
la Frisdan...Afinal eu já acho difícil para que eu me torne um
Guerreiro, que dirá uma mulher e...
- Isso foi um avanço e tanto Tronter... Eu só queria que os
outros da academia vissem que eu posso ser
uma guerreira tão boa quanto eles...É tão difícil. O
preconceito dos anões é imenso...
- Acredite, Frisdan, não será tão difícil daqui em diante.
Joriander se levantou e parou diante de Ruan.
- E não será tão difícil quanto o que vou dizer: Ruan,
você é o líder agora. Eu me contento em ser o melhor guerreiro de
todos. Vi como você se esforçou para que a gente começasse a
criar vínculos e deu resultado, eu pensei que ser líder seria apenas
comandar soldados durante um combate e agora vejo que estava
errado. Completamente errado.
Antes dos demais esboçarem uma reação, Vélvën os
surpreendeu com os olhos mareados:
- Puxa... Incrível o que um pouco de bebida faz com as
pessoas... Aí estão vocês abrindo os corações e eu quis me tornar
uma Guerreira apenas porque não agüentava a vida das outras
elfas, tão castas e puras... Eu quero viver e viver intensamente. E
você Hellen? Quais os seus problemas? – A elfa parou de falar ao
ver o semblante da jovem.
Capítulo 4
- Eu simplesmente não consigo entender o que
Ela estava séria demais e quando começou a falar era
aconteceu... Eu...
como se não fosse à mesma pessoa e de fato não era:
- Calma, Ashlure, aqui, tome esse cálice de conhaque
- Hellen? Perdão mas ela não está aqui. Eu sou Hallarin.
dos anões. Ajuda a relaxar e você conseguirá falar melhor.
– Apesar do assombro geral, a “recém-chegada”
Continuou
- Obrigado, Feston... Eu preciso mesmo disso...
- Não se preocupem. Hellen não é louca ou possui dupla
personalidade. Explicarei desde o começo: A casa onde Hellen
Depois do mago residente da academia de Aeriun tomar
nasceu não era um exemplo de lar feliz. Seu pai era um homem
de um só gole e pedir mais, o instrutor, que estava impaciente
violento que chegava do trabalho e espancava a mãe dela por
demais, o chamou de volta ao assunto em questão:
motivos pífios, desde o jantar não estar pronto a uma poeira que
ele visse em um móvel. Hellen sofreu abusos diversos e pelas
- E então Mago? O que, em nome de Washun, aconteceu
suas feições, vocês adivinharam o que ele fazia quando a mãe
naquele lugar?
dela não estava em casa.
Sim... – Ele colocou o copo de volta na mesa central da
Todos se espantaram ainda mais, mas Hellen/Hallarin
sala do diretor e foi até a janela. Como a sala ficava na mais alta
continuou:
torre da academia, ele tinha uma visão geral de Serenidade – Vou
contar...
- Certa vez, cansada das agressões, ela havia decidido
acabar com sua vida e foi para uma clareira perto de casa. Depois
Alguns dias atrás:
de cortar os pulsos ela ficou caída à espera da paz que ela tanto
queria. Foi então que eu apareci. Sou, na verdade um dos espíritos
- O Dia da Montaria está chegando...Acho que não vou
da Floresta da Virtude. Washun diz que toda a vida tem uma função
conseguir e...
e eu vi essa verdade em Hellen. Ainda não era a hora dela e eu
envolvi seu corpo, curei seus ferimentos e dei forças para que ela
Ruan não pôde terminar a frase pois Vélvën o calou
continuasse a viver.
pondo de leve um dedo em seus lábios, isso estava se tornando
Mas aconteceu algo, quer eu não previra, ficamos unidas
uma prática comum nos últimos dias.
de maneira total. Hellen voltou para casa e teve um cesso de ódio
que quase resultou na morte de seu pai. Eu consegui impedi-la,
Feito isso ela se afastou e com um sinal, seus colegas
mas estava cada vez mais difícil controlar seus rompantes de raiva.
começaram a fazer o engenho funcionar. Criado pelos anões e
Os pais dela decidiram mandá-la para a Aeriun e aqui estamos. A
construído por todos, o Engenho do Medo, como foi chamado,
surra melhorou o modo de agir do pai dela e com os ensinamentos
consistia numa série de cordas ligadas a um cinturão que o jovem
da academia ela desenvolveu um pouco mais de controle, mas às
colocava em si.
vezes isso falha. No outro dia eu não consegui impedir sua fúria de
Essas cordas, graças a um grande número de roldanas,
vir à tona contra aqueles golens...
permitiam que os colegas o erguessem no ar, fazendo assim com
que ele enfrentasse seus medos.
- Isso é incrível. Se não fosse a voz diferente eu não
Esse engenho aliado a técnicas de relaxamento e
acreditaria e...
concentração que os elfos sabiam parecia estar fazendo efeito,
não apenas para Ruan, mas para Hellen que começava a lutar com
- Não! – Vélvën se ergueu e se colocou diante da garota
seus demônios internos e a fazer com que a moça aceitasse que
- Eu vim de Virtude e digo que isso é verdade. Já conheci
dentro de si havia um espírito da floresta chamada de Hallarin.
muitas pessoas na mesma situação.
- CHEGA! Abaixem-Me!
- Será que podemos ir embora?- A Voz mudou de
novo e era Hellen que falava agora – Eu fico muito
- Mais uns dois minutos, pessoal – Joriander sabia que o
cansada quando Hallarin se manifesta desse jeito...
amigo o agradeceria depois.
Foi quando todos perceberam como era tarde e que se não
- Força Ruan! – Frisdan se divertia com tudo aquilo e
voltassem logo, acabariam se encrencando.
por Tronter ter aceitado a ajuda dela ao construir o engenho e até
Nos dias seguintes eles começaram uma nova rotina,
agradecido! – Se concentra!
ficavam juntos o máximo de tempo se conhecendo trocando
conhecimentos, treinando e se concentrando no problema mais
- Você é um homem ou um elfo?! Sem ofensa, Joriander
imediato: o medo de alturas de Ruan.
e Vélvën...
E o dia finalmente chegou...
Apenas Hellen permanecia sussurrando para si mesma:

- Será que ele vai conseguir? – Claro que vai, ele é forte
– Sim... Isso ele é mesmo...

Depois de ser abaixado ele permaneceu ajoelhado e

abraçado a si. Depois se ergueu, olhou para a altura que estava e

66
depois de uns dois minutos, acabou vomitando.
- Um novo recorde! Está melhorando.
Ele limpou a boca e depois de se recompor, acabou
sorrindo e pediu para irem, em seguida, até a Estalagem do
Grifo Dourado comemorarem a “conquista” do amigo. Depois da
dedicação de Ruan para que todos se tornassem amigos mais
do que companheiros de armas, todos se esforçavam o dobro
para conseguir se formar na Academia Aeriun, aproveitando
seus pontos fortes, compensando as fraquezas um do outro,
trocando confidências (sim, Vélvën contou às amigas, o que havia
acontecido entre ela e Ruan) e passando com notas máximas
nos testes seguintes, surpreendendo a todos os instrutores da
academia.
Na manhã do Dia da Montaria ele leu a carta que havia
recebido da mãe: “Filho, você sabe que não sou boa com a escrita,
eu queria apenas lhe dizer que estou orgulhosa demais de você,
meu Ventinho do Céu, que apesar de seu medo, chegou até onde
parecia impossível. Eu o amo e saiba que, não importa o que
aconteça, você está sempre em meu coração”.
Ventinho do Céu...a mãe o chamava assim desde que
ele se conhecia por gente, costumava contar que, no dia do
nascimento de Ruan, ela havia sentido uma brisa tão suave e
calorosa que o parto acabou transcorrendo praticamente sem dor e
no momento de maior necessidade, lá estava sua mãe mandando
forças através de linhas tão simples.
Ele ouviu Vélvën o chamar pela porta do sanitário
perguntando se ele ia vomitar mais e surpreendeu a elfa ao sair de
cabeça erguida e com uma postura confiante:
- Estou pronto. Vamos embora.
No Dia da Montaria, os alunos da academia eram levados
para o alto de um morro onde uma série de criaturas aladas entre
Grifos, Hipogrifos, cavalos alados e até leões alados, esperavam
para encontrar aqueles que seriam seus cavaleiros por toda a vida.
Um a um os alunos ficavam frente às criaturas, todas alinhadas, até
que uma delas se aproximava e permitia ao aluno que a montasse.
Em seguida eles se jogavam aos céus e era nessa hora que o
vínculo era criado. Se o aluno fosse digno, a montaria o traria em
segurança ao chão, se não fosse o caso, o aluno seria dispensado
e iria servir o exército da Ilha da Brisa Suave de outra maneira.
Um a um os amigos de Ruan foram passando no teste:
Joriander foi escolhido por um imponente Hipogrifo, Hellen por um
Grifo, Tronter e Frisdan acabaram sendo escolhidos pelos únicos
leões alados que havia ali. Vélvën segurava a mão de Ruan
quando se afastou e acabou escolhida por um belo cavalo branco
alado e todos estavam comemorando com suas montarias quando
Ruan deu um passo á frente das criaturas.
Um grifo se aproximou permitindo que o rapaz afagasse
sua cabeça e se abaixando para ser montado para, em seguida,
se lançar aos céus, muito mais alto do que qualquer montaria já
tinha ido até então.
Tudo ia bem até o Grifo fazer uma pirueta e assim permitir
que Ruan olhasse o chão e percebesse a altura que haviam
alcançado. O mundo começou a girar e o medo tocou o coração
dele, enquanto seus companheiros não percebiam o que acontecia
com o amigo, o grifo o lançou para longe surpreendendo a todos
que não conseguiam se organizar para tentar salvá-lo.
67
“Voumorrervoumorrervoumorrer” as palavras passavam
rápido demais pela mente de Ruan enquanto ele sentia sua
consciência se esvair e seus olhos começaram a se fechar
aceitando seu destino quando algo explodiu em sua cabeça
“Meu Ventinho do Céu!” Ele conseguiu ver sua mãe, mais jovem
erguendo um bebê e agradecendo a Washun pela vida que estava
em suas mãos.
No momento em que Kandores conseguia subir em seu
grifo para tentar salvar o rapaz, sua atenção foi atraída pelos gritos
dos outros alunos:
- Olhem!
- Por Washun, como?!
- Será ele um pássaro?!
- Não seja idiota!
- ELE ESTÁ VOANDO!
Kandores olhou para onde apontavam e viu que Ruan
flutuava parado em pleno ar. Ele abriu os olhos e percebendo o
que aconteceu desejou descer com todas as forças e para sua
própria surpresa, ele começou a descer lentamente até chegar
ao topo do morro. Seus amigos correram ao seu encontro com
várias perguntas, os instrutores mandaram todos voltarem para a
academia, pois iriam falar com o diretor e depois falariam a todos
mais tarde.
Uma vez na estalagem do Grifo Dourado, Ruan era
questionado pelos companheiros:
- Gente, o Ruan deve ter uma explicação – e se voltando
para o próprio – Não é?
Porém, antes dele tentar responder a Frisdan, Kandores
entrou na estalagem e pediu que o rapaz o acompanhasse. Ele fez
questão de que seus amigos fossem juntos e o instrutor permitiu,
afinal eles também tinham interesse nisso.
No dia seguinte, no salão central da Academia, Feston
chamou Ruan e pediu que o rapaz ficasse ao seu lado quando ele
ia se dirigir aos demais alunos. Vélvën, Tronter, Hellen, Frisdan e
Joriander os acompanharam e ficaram um pouco atrás do amigo e
do diretor, que começou a falar:
- Meus alunos, depois de muito ponderar e depois de
ouvir a história desse jovem, eu decidi que Ruan
Sturten, bem como seus companheiros de grupo, assim
como todos vocês, estão prontos para se tornarem Guerreiros
do Céu – Diante do burburinho geral, Feston pediu silêncio e
continuou.
- Sei que muitos acreditam que o fato desse rapaz voar
é derivado de magia negra, mas eu posso garantir que não é. E
vocês saberão disso agora. Ruan conte sua história.
- Sim, senhor – Se estava com medo ou receio Ruan não
demonstrou.
- Há alguns anos atrás, meu pai me
levou até as minas de Rustar com o propósito de me treinar
para que eu pudesse me tornar um Guerreiro do céu. Certo dia eu
me afastei dele e entrei num dos vários túneis admirando a beleza
dos cristais aéreos, quando um inesperado tremor fez o túnel cair.
Fiquei algumas horas soterrado respirando um ar que não saberia
dizer de onde veio e sentindo uma estranha dor no peito. Quando
fui resgatado acabei desmaiando e acordei dias depois em minha
casa. Passei a mão num lugar que estava sentindo uma pontada
de dor e vi isso – Ele retirou a sua placa peitoral mostrando seu
ferimento e o cristal que ele trazia no peito.
Feston tocou no ombro do rapaz e pediu para que ele e
seus amigos se sentassem:
- Acreditamos que o fato de ter um cristal do céu cravado
no peito, de algum modo, concedeu a Ruan a incrível capacidade
de voar e ele próprio renovou seu juramento de usar suas
habilidades, todas elas, na defesa da Ilha da Brisa Suave.
Apesar das feições dos outros alunos não terem
suavizado, todos começaram a se preparar e se preocupar com o
grande teste final do dia seguinte.
- E então, Ashlure? Conte o que aconteceu durante o
teste.
- Sim... Contarei... Contarei como a Tropa Relâmpago
venceu um dragão...
Capítulo 5
Enquanto vê o mago Ashlure deixar sua sala, ainda
abalado pelos acontecimentos do dia anterior, Feston, o diretor da
Academia de Aeriun, se voltou para seu armário e começou a se
vestir para a cerimônia de formatura que aconteceria logo. “ Foi
algo de extraordinário, quem diria que aquele grupo poderia passar
por algo assim e sobreviver?” era o que ele pensava enquanto se
dirigia para o grande campo onde estavam os formandos e suas
famílias.
Um a um, os alunos, agora finalmente formados, iam
recebendo outra vez suas espadas e escudos, mas, dessa
vez estavam todos trajados com os uniformes de verdadeiros
Guerreiros do Céu. Quando os integrantes da já famosa Tropa
Relâmpago se ergueram, foram ovacionados por todos os
presentes. As marcas de sua última vitória ainda eram visíveis:
Tronter e Frisdan apresentavam vários ferimentos chamuscados
no rosto, Hellen tinha o braço imobilizado numa atadura, assim
como Vélvën, que apresentava um olho roxo também, Joriander
estava com uma perna quebrada e Ruan estava com um corte no
lábio, um curativo sobre o olho e uma mão enfeixada. Todos se
sentiam envolvidos pelas palmas, mas nem isso impediu que suas
mentes voltassem ao dia do grande teste.
Como todo segredo em uma academia o “grande teste”
era sabido por todos como sendo uma espécie de brincadeira
dos instrutores que pediam para o mago Ashlure preparar os mais
esdrúxulos oponentes para que os alunos mais se divertissem do
que qualquer outra coisa, afinal o verdadeiro teste era a escolha
da montaria. No ano passado o mago invocou uma legião de
golens, tudo seria simples se os golens não fossem feitos de
fezes. Desnecessário dizer como a formatura foi inesquecível no
dia seguinte.
Reunidos entre dois paredões de rocha os alunos
conversavam animadamente quando Ashlure apareceu no topo
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de um dos lados:
- Alunos! – Ele adorava uma entrada dramática – Hoje
deixarão de ser crianças e se tornarão adultos!
Preparem-se para enfrentar um horror ancestral!
Fazendo gestos exagerados o mago arrancava risadas
dos alunos, exceto de uma. Hellen parecia apavorada e quando
questionada por Frisdan ela falou, mais num sussurro:
- Tem algo errado...
O trovão ouvido em seguida mostrou a verdade nas
palavras da jovem. O céu escureceu de repente e apenas raios
e trovões iluminavam todo o lugar, o mago começou a sentir seus
braços dormentes, o controle de seu corpo escapar-lhe e viu
horrorizado um enorme portal surgindo na frente dos alunos. O
mago desmaiou e um momento de silêncio antecedeu o surgimento
de um enorme dragão vermelho.
O pânico se espalhou, os alunos não sabiam o que fazer
e o primeiro ataque do monstro, uma baforada de fogo, lançou
por terra vários deles que não pareciam estar vivos. Ruan liderou
seus colegas e eles escaparam do segundo ataque, as garras da
fera pegaram de raspão no escudo do rapaz que acabou caindo
de cara no chão. Sentindo o gosto do sangue que escapava do
lábio cortado e uma dor imensa na mão, Ruan os guiou até uma
caverna próxima, Tronter foi o primeiro a dar voz ao que todos
sentiam:
- Pelo jeito as coisas não aconteceram com era previsto,
não?
- Com certeza. E o que vamos fazer agora, Ruan?
- Calma Joriander, como está a sua boca, Ruan? E a
mão?
- Nada demais... Deixem-me pensar. – Os relâmpagos lá
fora iluminavam a caverna e o rugido da fera fazia tudo tremer – já
sei. Mas é arriscado.
- Confiamos em você Ruan.
Agradecendo o voto de Frisdan o rapaz explicou o que
passava pela cabeça dele. Todos se entreolharam e não pareciam
tão confiantes, ele resolveu então tentar encorajá-los:
- Lutamos muito para chegarmos até aqui, sei que um
dragão, de fato parece demais, mas enquanto estamos nos
escondendo aqui, os outros alunos podem estar morrendo lá fora.
Não sei quanto a vocês, mas eu acho isso inaceitável. Não lutei
tanto para morrer aqui, dentro de uma caverna, prefiro morrer nos
céus enfrentando esse dragão e o meu medo de voar. Lembram
que os outros alunos faziam questão de nos lembrar a toda hora
que não havíamos escolhido um nome para nosso grupo? – os
outros assentiram se mostrando mais animados – Pois eu sugiro
que escolhamos Tropa Relâmpago. Morreremos com esse nome,
tendo os céus por testemunhas iremos vencer ou morrer, não
importa, contando que estejamos juntos! Juntos até o fim! Vocês
estão comigo?!
Silêncio, um silêncio incômodo até Tronter quebrá-lo de
novo:
- Quanta besteira... – Ele se levantou e continuou – Ainda
bem que você é um guerreiro e não um orador.
Acha mesmo que iria lá para fora sem nós?
Todos se levantaram e começaram a ir em direção
da saída, deram as mãos num tipo de despedida caso o pior
acontecesse e sentindo o cheiro de carne queimada e destruição
que vinha de fora, se lançaram ao ataque:
- Lutem até o fim, Tropa Relâmpago! – A
ordem de Ruan ecoou por todo o lugar.
Os feridos voltaram
seus olhares aos guerreiros
que pareciam trazer a salvação
e aqueles que podiam andar
começaram a ajudar quem
estava caído saindo assim do
espaço do combate.
Vélvën e Hellen seguiram
pelo flanco direito do dragão visando
uma de suas patas, Joriander,
usando de sua incrível agilidade
escapou de uma baforada de fogo e ia em
direção da outra pata. O monstro ia atacar
novamente quando sua atenção foi atraída pelo
grito de Tronter e Frisdan que corriam de frente
para ele acompanhados de Ruan. que empunhava
sua espada com as duas mãos.
O dragão hesitou e as garotas enterraram
suas espadas numa das patas do monstro bem como
Joriander fez com a outra pata. Com um urro de dor ele os
lançou de encontro aos paredões, causando graves ferimentos
nos guerreiros que, ainda assim, continuavam tentando acertar
o corpo do monstro. Nesse meio tempo os outros chegavam
perigosamente perto, mostrando claramente que visavam acertar
o peito do dragão e uma baforada de fogo foi a melhor alternativa
de defesa. Exatamente o que Ruan esperava.
Os anões pegaram os escudos de Ruan e Joriander
que, por serem maiores do que os que eles normalmente usam,
puderam protegê-los do pior do mar de fogo que era lançado
contra eles. Enquanto isso Ruan saltou aos céus, seu semblante
totalmente sério e concentrado, que seria uma característica
marcante nos anos vindouros. Ele se colocou sobre a cabeça do
dragão e apesar da dor lancinante que vinha de sua mão, que
estava quebrada, ele se preparava para dar um golpe fatal no
monstro, mas esse esquivava sua enorme cabeça, dificultando
para o guerreiro conseguir desferir seu golpe. Ele acabou atingido
no rosto causando um ferimento no olho, mas mesmo com a visão
prejudicada ele percebeu uma brecha e começou a ir à direção da
cabeça do monstro quando aconteceu algo:
- NÃÃÃÃOOOOO! – O Dragão gritava – Jokarion não
será um títere!
Ruan deteve seu ataque a tempo de ver o monstro abaixar
a imensa cabeça como que para recuperar o controle, assim ele
pôde ver um estranho objeto na base da nuca de Jokarion. Um
instante de dúvida e o rapaz decidiu atacar o objeto cortando-o ao
meio. O urro de dor do monstro foi à última coisa que ele ouviu.
Horas depois, na enfermaria da academia, Ruan soube
que, uma vez livre do controle mental, Jokarion simplesmente deu
69
as costas ao cenário de destruição ao seu redor e foi embora,
porém, antes disso ele pareceu lançar algum tipo de magia de
cura poderosa evitando que houvesse alguma morte.
Depois da cerimônia, a tropa Relâmpago se reuniu a
seus familiares na Taverna do Grifo Dourado e todos se
divertiram demais. Hellen e Vélvën
cantaram Tronter, depois de muita
cerveja, acabou dançando com Frisdan,
que ficou muito embaraçada. Num
canto Joriander foi falar com Ruan que
permanecia à parte da festa:
- O que aconteceu destemido
líder? – certo desdém era percebido na
voz do elfo – vencemos um dragão!!
Um dragão! Bardos irão cantar sobre
isso por toda a nossa vida!
- Eu sei... Estou contente,
mas ainda é difícil para mim conceber
que existe por aí uma força capaz de
controlar um dragão, lançá-lo contra
nós e derrubar Ashlure daquele jeito...
você já pensou nisso?
- Sim, mas é por isso que eu
achei uma boa idéia te deixar como o líder.
– Ele piscou para o amigo –
Afinal eu não pretendo ficar perdendo
a festa. Vamos lá!
Os dois voltam para a festa e as garotas
os fazem cantar com elas, a noite de fato promete. Enquanto
isso um estranho vulto os observava pela janela:
- Sim... Aproveitem à festa... Logo a verdadeira
tempestade virá...
Capítulo 6
Depois da formatura, os novos Guerreiros do Céu têm
duas opções: ingressar nas fileiras do Exército Celestial ou, caso
o grupo da academia seja muito forte, formar uma equipe para
missões únicas.
Assim a Tropa Relâmpago, ainda muito famosa devido
à batalha contra o dragão, permaneceu unida e sempre era
selecionada para as missões mais perigosas. Nos últimos meses
a ilha estava sendo alvo de ataques de estranhas criaturas negras.
Eram monstros difíceis de matar e que, quando vencidos, se
desfaziam numa névoa escura e mal cheirosa e alguns pontos
importantes da ilha, tais como as minas dos anões, a floresta dos
elfos e até Serenidade, a cidade central, eram freqüentemente
atacados por desconhecidos que dificilmente eram vistos e quando
vistos, eram descritos sempre da mesma maneira: indivíduo
vestindo longos capuzes e capas que impediam uma identificação
mais precisa.
Nessa época começaram a surgir as primeiras vítimas
da Morte das Trevas. A princípio caiam de cama com uma febre
absurda, em seguida entravam em um tipo de coma onde pareciam
ter pesadelos constantes e finalmente a morte. Morte que vinha
depois de um misterioso enegrecimento da pele. Por isso os
curandeiros da ilha batizaram a doença de Morte das Trevas. Os
magos da ilha conseguiram criar um grande salão onde o tempo
passava muito mais devagar impedindo assim mais mortes entre
os doentes, mas mesmo essa solução parecia cada vez mais
inviável. Uma cura era procurada, mas sem sucesso até agora.
O Conselho da Regência era formado por três
governantes, um humano, um elfo e um anão. Sallas, a regente
humana, acreditava que deveriam pedir ajuda a outros reinos,
como Lemarin [1], o reino marinho, ou mesmo à Cidadela das
Chamas Esmeraldas [2], mas seus colegas, Hullari, o regente
élfico e Durak,e o anão, preferiam manter a situação em segredo,
afinal uma notícia assim poderia comprometer os acordos
comerciais com o resto das Terras Primordiais, sem falar que eles
não poderiam dispor de nenhum guerreiro do céu para servir de
mensageiro, uma vez que os ataques dos inimigos desconhecidos
persistiam. Sallas não gostou, mas acabou por aceitar, mas apenas
por um tempo. Algo que iria mudar logo...
Os receios da regente humana, de que a situação
acabaria por piorar, se tornaram realidade quando ela entrou no
quarto de sua filha na manhã seguinte. Seu grito assustou todos
os trabalhadores da casa.
Naquele mesmo instante a Tropa Relâmpago estava na
região dos portos, de onde todas as naus aéreas partiam, mas
não foi apenas por isso que o grupo de guerreiros estava lá. Ao
longe, eles viam uma embarcação menor que havia sido criada
para apenas uma pessoa. No leme estava um guerreiro dos céus
conhecido como Janner.
- Então ele decidiu mesmo se tornar um guerreiro
Nimbus?
- Sim, Joriander – Ruan falava depois de muito tempo de
silêncio – Um guerreiro que abandona a Ilha da
Brisa Suave em missão sagrada. Eles até escolhem um
novo nome que usarão até o fim da missão.
- Sabem o nome que ele escolheu? – O anão fazia uma
voz de mistério.
- Você sabe Tronter?
- Sim. Um amigo meu que pertencia ao grupo dele me
contou tudo o que ele passou... Coitado.
- Então conta logo seu anão fofoqueiro!
- Calma Vénië, depois o fofoqueiro sou eu...
- Você vai contar ou não? – a seriedade na voz de Hellen,
surpreendeu o anão que resolveu falar finalmente:
- Dizem que ele e sua esposa vinham sempre ver o
pôr do sol aqui no porto e depois se escondiam numa das naus
ancoradas para... Bem, vocês sabem... E então, numa dessas
vezes, eles foram surpreendidos por um dos tais desconhecidos
que vêm atacando a Ilha. Parece que o vilão pretendia destruir a
nau onde eles estavam. Lógico que Janner se lançou contra ele
para impedi-lo, porém, ele estava sem suas armas e acabou sendo
vencido e perdendo os sentidos. Quando ele acordou... – O anão
fez uma pausa que, por causa das feições de seus colegas, foi
mais curta do que ele pretendia -... Dizem que ele viu sua esposa
morta. Ela estava com os pulsos amarrados no teto de onde eles
estavam, mas o que mais o horrorizou foi perceber que os olhos
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dela foram vazados.
- Por Washun... – Frisdan colocou a mão na boca e seus
olhos começaram a ficar cheios d’água.
- Meu amigo disse que, no mesmo dia, ele se encaminhou
até o conselho doa regentes e pediu para sair em missão sagrada,
pois haviam dito que o assassino roubara uma nau aérea e partido
da Ilha. Ele assumiu o nome de Ceifador e hoje finalmente está de
partida...
Todos ficaram em silêncio, mas logo um mensageiro
pediu para que eles o acompanhassem até a casa da regente
Sallas e momentos depois, eles estavam diante desta. Ela estava
pálida, apática e com a voz embargada e as mãos trêmulas, ela
mostrou o bilhete que achara na cama de sua filha.
“Washun é um falso deus. Se a vida de sua filha é de
alguma valia, reúna quantos homens for necessário e destrua o
Cristal das Alturas. Você tem dois dias.”
- Eles deixaram isso como prova – Ela desembrulhou algo
e todos viram o que parecia um punhado de fios roxos – minha
filha havia pintado o cabelo dessa cor ontem antes de dormir e...
Ela começou a chorar quando Ruan se aproximou e disse
que fariam todo o possível para encontrar a filha da regente. Ele
se ergueu e começou a dar ordens aos demais para procurarem
pistas e começar a interrogar os empregados, porém:
- Não é preciso... - A regente começava a retomar seu
autocontrole – Sabendo desta situação minha amiga, Yalliras, veio
rápido e já está no quarto de Neria...
Yalliras era uma maga famosa em toda a Ilha pelos
seus resgates únicos. Sempre que se precisa encontrar alguém
é a ela quem recorrem, principalmente por ela não cobrar nada
dizendo que apenas cumpre a missão dada por Washun. Como
ela encontra os desaparecidos continua um mistério até hoje.
Logo a Tropa subiu para o quarto da menina. Era todo
decorado como o quarto de uma criança, apesar dos quase 16
anos que ela já tinha feito, mostrando a superproteção da mãe.
Tudo parecia em ordem e:
- Sem nenhum sinal de luta. – no centro do quarto podiam
divisar a conhecida figura de Yalliras – Sim, quem entrou aqui e
seqüestrou a pequena Neria usou de poderes místicos. – Ela
então se voltou para os recém chegados, finalmente parecendo
notá-los de verdade e continuou com um tom sério – Então eu
finalmente conheço a famosa Tropa Relâmpago eu sou...
- A famosa maga Yalliras... - Vélvën sorriu com certo
escárnio.
Se a maga notou isso ela não demonstrou, pois se virou
para a janela e continuou o que estava fazendo, fosse o que
fosse. Depois de 5 minutos, seu olho direito começou a emitir um
estranho brilho esmeralda e então ela se dirigiu até a janela, a
abriu e se jogou.
- Mas que inferno?...- Tronter acompanhou seus colegas
até a janela – Essa mulher é louca?
- Parece – Joriander tinha sido o primeiro a chegar na
janela – Vejam! Ela chegou até o chão e está correndo como louca
até os fundos do terreno.
Capítulo 7
As faíscas resultantes do impacto das armas pareciam
Nesse momento a regente chegou ao quarto e disse que
iluminar o topo de Lárion. Ruan empunhava com coragem sua
a maga havia deixado instruções para que eles devessem seguí-la
Espada do Firmamento, mas sua oponente defendia os golpes
imediatamente caso algo assim acontecesse. Logo todos estavam
mais poderosos. Depois de uma seqüência de ataques que quase
em suas montarias, Ruan junto de Vélvën, seguindo Yalliras
custaram à cabeça do rapaz, eles se afastaram e se encaravam.
através da cidade até alcançarem os limites da mesma e partirem
Aguardavam a primeira oportunidade para definir a luta. A
rumo às montanhas onde ficavam as minas dos anões.
respiração dele era como uma faca entrando e saindo do peito e
Ruan ainda não acreditava como seus colegas tinham caído tão
- A mulher não se cansa? Parece até possuída, sem
fácil diante de apenas uma inimiga.
ofensas Hellen...
Cada metro da escalada era vencido com muito suor
Apesar de seus companheiros terem as mesmas questões
e sangue. Amarrados uns aos outros eles persistiam, seguindo
do anão, todos ficaram em silêncio para que não perdessem a
Yalliras que dizia ter certeza do paradeiro de Neria. Assim, eles
maga de vista e assim foi durante quase todo o dia. Quando o
continuaram a subir sem saber o que os aguardava no cume da
Sol começava a se pôr no horizonte, os guerreiros se uniram à
montanha:
maga próxima a um dos lados de Lárion, a mais alta montanha
daquela região. Seu cume perfura as nuvens impossibilitando ver
- É boa essa maga louca estar certa... humpf...Anões não
sua altura real, criando assim histórias de que, se um dia alguém
foram feitos mesmo para escaladas...
conseguir alcançá-lo terá uma visão magnífica do firmamento.
Outras contam que lá reside um animal único em todo o mundo,
Não foram raras as vezes em que Ruan e Joriander tiveram
mas são só histórias pois não se tem confirmação de alguém que
que fazer mais força para puxar os diminutos companheiros. A
tenha chegado a tal lugar e voltado.
escalada era difícil até para os humanos e elfos, pois o paredão
era praticamente vertical. Eram pouquíssimas as fendas em que
- Eles estão lá encima... - O olho da maga brilhava ainda
se podia agarrar e uma vez que eles não possuíam equipamento
mais e ela continuou – Não temos muito tempo... Precisamos subir
correto tinham que contar somente com sua mãos e forças.
já e sem montarias, pois elas seriam facilmente vistas ao longe.
Mesmo assim, contrariando todas as chances, eles
- Que ótimo... Anões não foram feitos para escaladas...
alcançaram o topo. Vislumbraram então aquilo apenas conhecido
em lendas e histórias. No topo de Lárion, a noite de fato era eterna.
- Você pode ficar aqui e olhar as montarias...
O ar era rarefeito e era possível ver as estrelas do céu ainda mais
perto, quase como se estivessem ao alcance de suas mãos. Eles
- E perder a ação? Está louco Ruan?
estavam num local tão plano que parecia uma arena feita pelo
próprio Washun, mas o momento de deslumbramento foi muito
- E você vai conseguir Ruan? Ruan?
breve.
O Guerreiro já não ouvia Joriander, seu semblante sério
Ruan foi o primeiro a ver, assumindo seu semblante mais
mostrava que ele estava totalmente concentrado para vencer
sério e logo todos estavam olhando na mesma direção. Presa a
seu medo de altura. Ele começou a escalada logo atrás da maga
uma rocha, aparentemente desmaiada, estava a filha da regente
sendo acompanhado de perto pelos demais membros da Tropa
Sallas e ao seu lado quem a seqüestrou:
Relâmpago.
- Então finalmente chegaram...
Lá no cume, uma figura sinistra olhava o céu estrelado,
provando que as histórias estavam corretas:
Tirando o capuz que escondia seu rosto, revelou-se que
era uma mulher.
- Nunca pensei que um dia eu estaria em lugar tão alto
- Foi antes do previsto devo admitir, mas isso é muito bom.
– Ela olhou para baixo de repente e se voltou para a jovem que
Afinal não seria educado se atrasarem para o próprio funeral.
estava acorrentada numa pedra – Pretensos salvadores estão
subindo meu anjo, apenas para encontrar suas mortes em minhas
Apesar de sempre ser o primeiro a atacar, Joriander
mãos...
também se surpreendeu ao ver que Yalliras se lançava contra
a estranha. As duas trocaram vários golpes mais rápido do que
E uma sinistra risada se ergueu aos céus...
se podia ver, mas logo a maga foi lançada longe depois de um
chute no estômago. Nesse momento o elfo entrou em ação
desembainhando sua espada e fazendo um arco em pleno ar em
que ele visava a cabeça da inimiga. Ninguém viu de onde veio a
arma que ela usou para interceptar o ataque, nem a pequena foice
com a qual pôs Joriander fora de ação.

Enquanto Hellen ajudava Yalliras a se levantar, Ruan

tentava organizar um contra ataque. Com rápidos acenos de
suas mãos os integrantes da Tropa partiram para cima da inimiga.
Tronter buscou um ataque frontal, como Joriander, enquanto
Frisdan e Vélvën procuravam uma brecha pelos flancos e Ruan

71
tentava um ataque aéreo. O resultado foi, no mínimo, ridículo.
Com um chute ela derrubou o anão e em seguida, com
movimentos absurdamente rápidos, bloqueou as armas das
guerreiras fazendo-as recuar para longe, para depois parar o
ataque do último oponente antes deste chegar a tocar o chão,
quase o cortando ao meio com sua enorme espada.
Todos tinham dificuldade de respirar devido ao pouco ar,
mas a estranha parecia nem se importar com esse detalhe. Com
os pulmões explodindo, fizeram mais uma tentativa. Dessa vez
Vélvën usava sua agilidade para lançar seu escudo e atacar em
seguida com a espada. Hallarin, tomando o controle do corpo de
Hellen, tentava um ataque por baixo visando os pés da inimiga.
Tronter avançava por trás como um aríete, tendo o escudo na
frente do corpo e dessa vez era Ruan que tentava um ataque
frontal. Frisdan parecia prestes a entrar em pânico, mas mesmo
assim ela atacou pelo lado direito.
Um sorriso surgiu no rosto da estranha quando ela
escapava do ataque da anã derrubando-a longe com uma
cabeçada. Com um desvio ela mandou Tronter em direção de
Hallarin que quase cortou a perna do anão. Depois ela deu um soco
no rosto da Guerreira do Céu ao mesmo tempo em que desviava
o escudo de Vélvën com seu pé direito. Ruan teve de esquivar se
tornando um alvo fácil para a foice que era atirada contra ele. Para
sua sorte a elfa se jogou em sua frente e recebendo a arma na
coxa, teve uma perfuração até quase o osso.
O guerreiro amparou a elfa nos braços enquanto Tronter
recebia uma série de chutes que o deixaram desacordado. Yalliras
tentou lançar uma magia, mas a estranha a lançou de volta e a
prendeu com fitas negras no chão que cobriam todo o corpo. Em
seguida ela fez um gesto e a foice saiu da perna de Vélvën indo
parar a poucos centímetros das mãos da inimiga.
Só Haviam sobrado Ruan e a estranha. Nesse momento
ele percebeu que as armas dela não tocavam suas mãos.
Acompanhando o olhar dele, ela encostou-se em sua enorme
arma e com um sorriso, começou a falar:
- Então percebeu meu segredinho não é?
- Uf... Pelo visto... – Como era difícil respirar -... Você tem
um estranho poder... uf... De controlar sua arma à distância...
A risada dela ecoou como um trovão. Andando com graça
felina ela tentava circundar Ruan que se movia precariamente para
continuar de frente com ela. De repente ela parou e perguntou:
- Por que você adora a Washun?
Pego totalmente de surpresa ele ficou em silêncio por
uns instantes, depois tentou respirar mais um pouco e depois
falou sobre a história de Washun[1], sua luta contra Derkshedon,
a criação da Ilha e o fato dele ser o deus dos ventos da vida. “a
história é escrita pelos vencedores” ela sussurrou isso e se lançou
ao ataque demonstrando uma ferocidade inédita até agora.
Apesar de resistir, Ruan começava a demonstrar uma
certa fraqueza devido à falta de ar. Ele acabou sendo desarmado
e a inimiga colocou a foice encostada na garganta dele:
- Que você saiba o nome daquela que o matou... Sou
Shayla... E agora... – Ela ergueu sua foice, mas antes de terminar
72
o ataque – ARGH!
Joriander acordara e trespassou o ombro dela:
- Estou envergonhado... Por ter caído... Tão fácil... Agora
você, sua bruxa...
Ele não terminou a frase, pois uma energia incrível partia
do corpo de Shayla lançando-o longe e desacordado outra vez.
Com a mão sobre o ferimento, ela se voltou para Ruan que havia
recebido grande parte do impacto da explosão e lutava para
permanecer acordado. Ele recebeu um chute no rosto e estava
prestes a desmaiar enquanto a lâmina se erguia. A última coisa
que ele viu, foi um enorme vulto alado se colocar entre ele e a
inimiga. Um rugido ecoou e Ruan não agüentou mais.
Quando tempo se passou ele não podia precisar. Acordou
com alguma coisa bicando sua mão, abriu os olhos e viu que se
tratava de um falcão albino. Ele se ergueu rapidamente tentando
localizar sua inimiga, mas apenas Yalliras e a tropa Relâmpago
estavam lá. Pondo a mão no queixo e sentindo uma grande dor
ele foi até Neria, tomou seu pulso e a libertou depois de constatar
que a jovem permanecia viva.
Aos poucos ele acordou seus colegas, cuidaram dos
ferimentos, tentaram localizar a inimiga sem sucesso e mandaram
um pedido de socorro para casa através das telas de comunicação.
Joriander permanecia longe dos demais, soturno e Hellen se
aproximou do amigo:
- Tudo bem Jor?
- Claro – A amargura em sua voz era visível – Sou o
melhor guerreiro mesmo não? Fiquei desmaiado a maior parte da
luta...
- Se você não ajudasse o Ruan ele estaria morto agora
e...
O elfo se afastou bruscamente e Hellen voltou para junto
dos amigos. Vélvën a amparou “Esse idiota ainda não percebeu
não é?” a única resposta foi um olhar sofrido que ela tratou de
disfarçar. Logo uma Nau Aérea chegou ao local e todos voltaram
para Serenidade.
Depois da festa da Regente Sallas em comemoração ao
retorno da filha, a Tropa Relâmpago fez um extenso relatório sobre
a misteriosa inimiga. A preocupação com uma possível invasão
crescia a cada dia e somado à epidemia que a Morte das Trevas, a
situação na Ilha da Brisa Suave parecia cada vez mais precária.
Ruan ficou com o falcão que recebeu o nome de Rapnun
e todos os membros da tropa demoraram um longo tempo para se
recuperar dos ferimentos da batalha. Não apenas os ferimentos
físicos, mas também os espirituais. Tronter mancava e geralmente
era amparado por Frisdan e ela, por sua vez, passava horas no
quarto acariciando pequenas estátuas, quando questionada
sobre isso ela apenas desconversava. Vélvën começou a receber
inúmeras cartas que amassava sem nem mesmo ler. Dias depois
Hellen, quase recuperada, bateu na porta do quarto de Joriander
pois estava preocupada com a ausência do amigo:
- Jor? Você está aí?
- Vá embora! Não quero ver ninguém!
 Ela se afasta, com uma imensa dor no coração sem entender
o que estava acontecendo com o elfo que ela passou a amar.
Joriander também não sabe como conviver com tantos sentimentos
adversos, sua vontade de ser o melhor guerreiro parece sempre
se chocar com as habilidades de seus companheiros. Ruan é
melhor líder, Hellen é mais ágil, Tronter e Frisdan conseguiam criar
engenhos que ele jamais conseguiria imaginar, Hellen convivia
com uma situação que ele nunca poderia enfrentar. Até Yalliras,
que ingressara na Tropa, tinha lutado mais que ele pelo que os
outros contaram.
De fato as coisas não iam bem para a equipe, a derrota
parecia tê-los afetado mais do que deveria. Mesmo assim a Tropa
foi chamada para uma nova missão: um grupo de jovens príncipes
elfos eram mantidos presos num tipo de labirinto que surgiu nos
arredores de Lumiar, a capital dos elfos localizada na Floresta da
Virtude. Logo os Guerreiros chegaram e tiveram que entrar cada
um por uma das sete entradas do labirinto.
Depois de andar em diversos corredores por um tempo,
Ruan se deparou com um guerreiro trajando uma armadura
vermelha e preta. Ele se curvou e disse:
- A morte o aguarda... Não a façamos esperar demais...
Capítulo 8
A estranha criatura continuava a avançar. Seus passos
pareciam fazer toda a ilha estremecer e sua sombra já eram
sentidos na cidade de Serenidade que parecia que ser o objetivo
final da caminhada do colosso.
Os refugiados continuavam chegando das aldeias que
seriam atingidas primeiro. Pais abraçavam suas famílias enquanto
as mães faziam preces tentando consolar as crianças. A praça do
Cristal das Alturas estava cheia de pessoas que oravam para que
Washun os protegesse. Todos só voltaram seus olhares aos céus
quando sentiram outra sombra os cobrir.
Gritos de vivas e agradecimentos se fizeram ouvir ao
longe quando reconheceram o motivo da nova sombra: centenas
de Guerreiros do Céu partiam em direção à criatura. Nunca se
vira todo o Exército Celeste agindo em conjunto antes e tal visão
encheram de esperança os corações daqueles que estavam
abaixo.
Enquanto acompanhava a onda de guerreiros na garupa
de Vélvën, Ruan lembrava da batalha de alguns dias atrás. Uma
batalha com um final trágico e como isso os levara para aquele
momento de agora.
- Eu sou Nekrun, o guerreiro abençoado! Irei enviá-lo
para os braços da morte.
- Veremos. – O tempo era escasso e o guerreiro dos céus
logo saltou para o combate.
As espadas se cruzaram e eles ficaram assim por alguns
momentos medindo suas forças. Ruan empurrou o oponente com
seu escudo e tentou acertá-lo com a espada, porém sem sucesso.
Em seguida Nekrun saltou contra um da parede do labirinto e
tentou acertar o guerreiro.
Apesar de conseguir se defender, Ruan se espantou com
73
o golpe. Era um ataque padrão ensinado na Academia Aeriun!
Percebendo esse detalhe a luta começou a ficar desequilibrada.
O guerreiro do céu começava a ganhar mais terreno e sentindo
que a derrota era iminente, Nekrun saltou para trás ficando fora do
alcance do outro:
- Bem, isso foi interessante, mas... Você não deveria
estar tentando salvar alguém?
Ruan embainhou a espada e passou pelo inimigo. Seus
olhares se encontraram e o rapaz percebeu que o outro não
possuía pupilas, porém não havia tempo para perguntas e ele
partiu.
Os príncipes elfos eram filhos de Hullari e um deles
seria o futuro representante élfico no Conselho da Regência.
Estranhamente Ruan não encontrou mais nenhum obstáculo e
logo viu uma luz que parecia indicar a saída. Ao se aproximar ele
pôde perceber o som de prantos e se apressou, mas não estava
preparado para o que ele viu ao atravessar a última porta.
- NÃÃÃOOOO! – Vénië estava abraçada com os três
elfos.
Ruan se aproximou dos companheiros. Tronter olhava
para o lado, Hellen e Yalliras tentavam acalmar a elfa e Joriander
estava de costas para todos olhando o vazio. Frisdan se aproximou
e com olhos mareados, falou:
- Mortos... Eles estavam mortos a horas...
Mais tarde todos disseram que foram atrapalhados por
criaturas negras, apenas Ruan havia encontrado o novo oponente.
Quando se preparavam para sair do labirinto, todo o construto
sumiu numa névoa sinistra e todos ouviram a voz de Shayla ecoar
pelo ar:
- Podem ter salvado a filha da regente humana, mas eu
não cometeria o mesmo erro duas vezes... Nós ainda vamos nos
reencontrar e nesse dia toda a Ilha da Brisa Suave perecerá!!!
O riso da inimiga ecoou no ar durante todo o trajeto para
a casa do regente élfico. Conforme iam entrando na floresta todos
os habitantes começaram a segui-los, formando um imenso cortejo
fúnebre. Ruan, Joriander e Tronter carregavam os jovens mortos
enquanto as mulheres ainda tentavam consolar a elfa.
- O que aconteceu com Vénië, Ruan? – Tronter procurava
falar baixo para o amigo.
Ruan apenas acenou negativamente com a cabeça. A
vergonha de não ter conseguido salvar os jovens crescia ainda
mais e ficou intolerável quando chegaram à casa de Hullari.
O regente recebeu a notícia com toda deferência que se
esperava de um nobre. Sua esposa, porém teve que ser amparada
para dentro da casa. Ela ficou sob os efeitos de poderoso sedativo
para que ela pudesse acompanhar o enterro dos filhos no dia
seguinte.
Depois do enterro, a Tropa Relâmpago seguiu Hullari
até os pés de uma das árvores mais altas da floresta da Virtude.
Quando pararam sob sua sombra, Vénië se adiantou:
- Sentimos muito pela perda de seus filhos meu senhor.
 - Por favor, não fale mais assim com seu pai minha
querida... – E o regente abriu os braços.
Ela o abraçou e todos seus companheiros ficaram
boquiabertos ao saberem de tal fato. Depois de permanecerem
três dias na floresta, a Tropa foi chamada de volta à Serenidade
em caráter de urgência e durante o trajeto a elfa finalmente revelou
mais de si:
- Toda a minha vida eu vi a maioria das elfas de casas
nobres devotando suas vidas para arranjar um bom casamento,
voltando suas habilidades para tarefas como o bordado e coisas
assim. – Ela fez uma cara de asco e continuou.
- Eu odiava isso. Sempre que possível eu procurava
espiar os treinos das mulheres guerreiras e achava fascinante.
Claro que essa prática me rendeu muitas surras, mas minha
vontade de ser livre sempre superou tudo isso. Eu prometi que
jamais me prenderia de verdade a alguém e que viveria minha vida
com o máximo de prazer.
Nesse momento seus olhos encontraram com os de Ruan
e ele se lembrou daquela noite a tanto tempo e o porquê da elfa
jamais o ter procurado outra vez. Ela calou, olhou para os céus e
depois de um suspiro continuou:
- Depois de te conhecer quando éramos crianças, Ruan,
eu decidi ser uma Guerreira dos Céus. Pensei ter encontrado meu
lugar, mas depois de ver meus irmãos mortos... Eu... Eu...
A elfa voltou a chorar sendo amparada por Frisdan. A
anã estava muito calada nos últimos dias, algo parecia incomodá-
la, Ruan percebeu isso, mas preferiu ficar quieto. Algo naquele
estranho guerreiro era familiar demais e isso não deixava Ruan
pensar em mais nada.
O resto do trajeto até Serenidade foi feito em silêncio.
Ao chegaram na sede do Exército Celeste, foram para seus
aposentos descansar. No dia seguinte teriam que conversar com o
líder dos Guerreiros sobre a missão passada e receber uma nova.
A noite transcorreu tranqüila, mas nenhum dos membros da Tropa
conseguiu dormir muito.
Na manhã seguinte, bem cedo, todos estavam de frente
a Kronem, o mais antigo Guerreiro do Céu e líder do exército
Celeste. Todos exceto uma:
- Onde está Frisdan? – Era Vénië quem perguntava por
aquela que a amparou tanto nos últimos dias.
- A Guerreira Frisdan pediu afastamento, mas não foi por
isso que eu os chamei aqui.
Apesar de a notícia ter pego todos de surpresa não
tiveram tempo de absorvê-la. Kronem disse que parecia óbvio o
fato do filho de Durak ser o próximo a ser atacado por Shayla. Ele
enviara todo um grande contingente de guerreiros para proteger o
jovem anão, mas a experiência da Tropa Relâmpago poderia ser
útil e eles foram enviados para as Minas Rustar.
Toda a residência do regente anão estava fortemente
guardada. Ninguém se aproximava dela sem passar por diversos
guardiões e proteções místicas. Ainda assim o clima era de
desconfiança e ninguém olhava diretamente para Ruan e seus
amigos devido aos acontecimentos na Floresta da Virtude.
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Assim a Tropa Relâmpago ficou responsável pela ala
norte da casa e enquanto vigiavam, receberam a visita de alguém
familiar:
- Frisdan! – Hellen foi a primeira a vê-la e correu junto
com Vénië até a amiga.
A amiga se aproximou e todos perguntavam várias coisas
juntos e antes dela responder, Ruan percebeu uma criança anã ao
lado deles:
- E esse garotinho, quem é?
- Ele - O garoto se escondeu atrás de Frisdan – É meu
filho.
Nem tiveram tempo de formular uma frase pois um grande
tremor se fez sentir. Frisdan abraçou seu filho e todos correram
para a saída mais próxima.
Ao saírem da Minas Rustar eles viram uma montanha
próxima ruir, era como se algo de dentro dela tentasse se libertar.
Logo o motivo se revelou: um imenso monstro que, ao sair do
chão, simplesmente destruiu a montanha que se encontrava no
seu caminho. A seguir, usou as rochas e selou o buraco que havia
ficado para trás.
Ele olhou para os lados e pareceu se decidir por uma
direção seguindo em frente e sem permitir que qualquer coisa
ficasse em seu caminho.
- Esse monstro parece estar a caminho de...
- Serenidade!
A Tropa Relâmpago se despediu de Frisdan e junto com
os outros guerreiros foram para Serenidade.
- Hora de acordar, Ruan. – Vénië chamava o amigo de
volta à realidade – E veja quem se juntou a nós.
Ele olhou a sua direita e viu alguém se aproximar montada
num leão alado.
- Eu não poderia deixar a segurança de Serenidade e o
futuro do meu filho apenas em suas mãos, não é?
E enquanto todos se dirigiam para aquela que parecia ser
a pior luta de suas vidas, do alto de um morro próximo:
- Então o momento final se aproxima... - Shayla se
exaltava vendo que seu plano final seguia para o sucesso
- Hoje toda a vida nessa ilha maldita acabará!
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
 Capítulo 9 - Tome cuidado com o Ruan, Vénië, ele é que não parece
muito bem!
- Washun, deus dos ventos e da vida, proteja a
Nesse momento Joriander viu duas figuras conhecidas
mamãe e o papai...
no alto de um morro próximo e se lançou na direção deles. Hellen,
que estava cuidando da retaguarda do elfo, o seguiu prontamente.
A oração simples parte de uma garotinha se perde entre
Yalliras, Tronter e Frisdan foram em seguida. Vénië, atendendo
as vozes de todos que estão ao seu lado. Os refugiados que se
a um pedido de Ruan, se aproximou de Kronem e avisaram-no
encontram na praça central de Serenidade oram a seu deus por
que ia para o solo investigar o que os inimigos estavam fazendo.
uma salvação. Suas vozes, porém, são encobertas pelo som
Mesmo a contragosto, ele permitiu que os dois acompanhassem
de um trovão ao longe. Infelizmente esse barulho não é de uma
os demais:
tempestade que se aproxima.
- E tentem descobrir algo mesmo, pois estou perdendo as
O monstro é lento, avançando muito devagar apesar
esperanças de uma vitória.
de seu tamanho. Poucos Guerreiros do Céu caíram sob seus
desajeitados ataques mas também não conseguiam detê-lo. A
Quando eles alcançaram seus colegas, reconheceram
batalha já durava horas e o comandante Kronem estava quase
de imediato Shayla e Nekrun. Ela empunhou suas armas, mas
esgotando todos os seus planos de ataque. As Espadas do
seu companheiro permanecia impassível com a espada fincada no
Firmamento não cortavam a carne do monstro e os escudos
chão. Eles desmontaram e logo se puseram de frente aos inimigos
sequer eram notados ao atingi-lo.
com suas armas nas mãos. Shayla deu um sorriso e:
Isso foi algo que Ruan percebeu quando, desajeitadamente,
- Logo Flaistor chegará a Serenidade e seu falso Deus
pegou seu escudo que voltava depois de um arremesso. Vénië
será finalmente destruído. Seria melhor vocês correrem para seus
quase caiu e perguntou o que estava acontecendo com o guerreiro.
entes queridos e aceitarem a morte com resignação...
Sentindo gotas de suor brotando de seu rosto ele respondeu:
- Desista mulher, logo os Guerreiros do Céu irão dar um
- Estamos lutando há muito tempo. – Ele passou as costas
jeito de destruir esse monstro maldito.
da mão na fronte – Mesmo tentando manter a concentração estou
sentindo certa tontura...
- Estou contando com isso pequenino... Ataquem
queridos!
- Essa não, talvez seja melhor descermos e...
Uns punhados de criaturas negras e disformes se
- Não! Não irei abandonar a batalha. – ele assobiou e
aproximavam lentamente. Joriander se colocou à frente dos
seu falcão se aproximou – Vá Rapnun! Tente distrair o monstro.
colegas se preparando para dar o primeiro golpe. Foi quando um
- E o falcão albino se lançou contra o monstro tentando achar um
dos monstros rasgou o próprio peito caindo a poucos metros do
ponto fraco.
elfo. Mesmo sofrendo, a criatura se ergueu e do ferimento saiu
- Tentem atacar pelo flanco direito! Vocês! Tentem cortar
algo como um líquido negro de odor forte.
as costas do monstro.
Joriander só não foi atingido direto pela intervenção
Os Guerreiros continuavam a obedecer às ordens de
rápida de:
Kronem, porém sem resultados animadores. Tudo no caminho do
monstro era destruído, suas pegadas formavam enormes sulcos
- Hellen!
negros no solo, árvores próximas ficavam retorcidas e mortas,
peixes apareciam boiando nos rios e até o ar parecia estar sendo
O grito de Vénië não foi resultante apenas da surpresa de
afetado. A criatura exalava um odor fétido que tornava ainda mais
ver a amiga saltar na frente do elfo, mas de vê-la cair agonizando.
penoso à aproximação para um ataque mais eficiente. Ainda assim
Frisdan foi a primeira a tomar a jovem humana nos braços e notou
o Exército Celeste continuava sua corajosa tentativa de deter o
que a pele de Hellen ardia em febre:
monstro.
- Parece o primeiro sintoma da Morte das Trevas, mas é
Os membros da Tropa Relâmpago se mantinham juntos
impossível, se ela tivesse sido contaminada há dias já teria ficado
e protegiam um ao outro. Tronter tirou Frisdan da frente da criatura
doente e...
por duas vezes, salvando sua vida.
Nesse momento os Guerreiros do Céu entenderam o
- Acorda Frisdan! Seu filho não me perdoaria se, por
significado das palavras da inimiga.
minha culpa, ele perdesse a mãe!
- Hahahahahahahahahahahahaha! Então finalmente
- Obrigado e Cuidado!
entenderam de onde veio a doença que aflige os
Habitantes dessa ilha amaldiçoada?
Ela fez seu leão alado arrastar o anão e sua montaria para
longe de um golpe do monstro. Esse acabou acertando outros três
As criaturas na verdade eram receptáculos. Uma vez
guerreiros menos afortunados:
destruídos, a névoa mal cheirosa que soltavam, que parecia
inofensiva, levava pelo ar esporos da doença. E agora sua forma
- Mais atenção Tronter! Não queremos perder ninguém
líquida parecia mais perigosa. Todos olharam para o imenso
aqui!
monstro ali perto e imaginaram o que aconteceria se ele fosse
destruído.

75
 - Pelo visto a mais afortunada entre vocês é essa idiota
caída no chão e...
A frase de Shayla se perdeu diante do grito de Joriander
que se jogou contra Nekrun caindo com ele morro abaixo. Quando
ela voltou seus olhos para os demais oponentes não conseguiu se
esquivar de Yalliras, que a arrastou para onde os outros haviam
caído.
Os demais Guerreiros do Céu se encontravam encurralados
pelas criaturas restantes. Elas avançavam devagar forçando os
guerreiros a recuar até que ficaram de costas para uma elevação.
Ruan olhou para o topo e depois para seus oponentes, uma idéia
se formou e ele disse aos seus companheiros:
- Abaixem-se e aguardem o ataque. Quando eles saltarem
sobre nós rolem por baixo.
- E como você sabe que eles vão saltar?
Ruan lançou um olhar severo para o anão e esse se calou,
abaixando-se em seguida. As criaturas foram se aproximando
e seguindo a intuição do guerreiro, saltaram sobre eles. Com
um movimento rápido todos rolaram pelo chão e a situação se
inverteu, com as criaturas batendo violentamente contra a parede
do morro.
Ruan Jogou seu escudo contra umas pedras no topo da
elevação e estas rolaram morro abaixo soterrando os inimigos.
Enquanto a poeira abaixava, Frisdan cumprimentava o amigo:
- Genial Ruan! Assim não corremos o risco de sermos
atingidos pelo líquido negro.
76
- Sim. E agora vamos ajudar Jor...
Um grito de mulher não deixou o guerreiro terminar sua
frase e logo todos estavam na beirada por onde Joriander, Yalliras
e os inimigos haviam caído. Nada os teria preparado para o que
eles viram: Deitada e com a espada de Joriander trespassada
pelo ventre, estava Yalliras. Perto dela Shayla e Nekrun sorriam
desafiando os guerreiros a descer. Não havia qualquer outro sinal
de Joriander.
Repletos de ódio Ruan, Vénië, Frisdan e Tronter se
lançaram ao ataque. A luta em solo começou ao mesmo tempo em
que, no ar, o comandante Kronem percebia algo:
- O mostro procura de todo modo proteger aquele tipo
de jóia dourada! – E se voltando para seus companheiros – Me
cubram! Acho que encontrei um ponto fraco!
Enquanto o comandante se lançava contra o alvo
escolhido, a Tropa enfrentava seus inimigos. Ruan cruzava
espadas com Nekrun enquanto seus amigos tentavam superar
Shayla. Tronter acabou recebendo um grande corte na barriga,
distraindo Frisdan que foi a nocaute depois de um golpe certeiro
no rosto. Vénië ficou só, mas lutava de modo imprevisível e
conseguia dar trabalho para a inimiga. Ruan tentou derrubar seu
oponente com uma rasteira, mas errou e recebeu uma espadada
certeira. Se não fosse seu escudo ele teria perdido o braço e com
sua outra mão ele acertou o rosto do inimigo com o cabo de sua
espada. Nekrun deu alguns passos para trás e seu capacete foi ao
chão revelando seu rosto.
Confusão total. Nesse momento Kronem acertava a
gema dourada de Flaistor que, uma vez partida, lançou um líquido
viscoso e negro que cobriu imediatamente o comandante. Esse
caiu de sua montaria no exato momento em que o enorme monstro
explodia em milhares de jorros do estranho líquido, forçando
os Guerreiros do Céu a dispersar. O som da explosão atraiu a
atenção dos membros restantes da Tropa, Vénië acabou abrindo
a guarda e caiu depois de um chute no rosto.
Ruan voltou seu olhar para Nekrun, mas antes de
qualquer reação ele foi atingido na nuca por Shayla. Ela se voltou
para seu companheiro dizendo:
- Vamos! Quero saborear a vitória enquanto a Morte das
Trevas se espalha.
- E eles?
- Deixe-os, estão mais mortos do que vivos. Que a
vergonha os acompanhe até o fim...
Eles se afastaram deixando para trás dor, morte e vergonha.
Ruan ainda esticou seu braço na direção deles e balbuciou:
- Joriander... Não...
E desmaiou em seguida.
 Capítulo 10 Ruan se dirigia para casa com o corpo moído e a alma
dolorida. Yalliras morta, Hellen vítima da Morte das Trevas e
Joriander... Ele cerrou os punhos ao pensar no traidor. Como ele
Enquanto faz mais uma checagem nos suprimentos, o
pôde? A raiva e a frustração eram quase insuportáveis quando
Guerreiro Nimbus ouve seu antigo nome sendo chamado do lado
ele entrou na casa dos pais. Procurou por todos os lugares e
de fora de sua Nau Aérea. Ele guarda as últimas sacas de farinha
encontrou seu pai na mesa da cozinha. Estava abatido, com os
no pequeno armário da despesa e enquanto sobe para o convés,
olhos vermelhos e cabisbaixos.
sua mente volta a algum tempo atrás.
Logo os dois estavam ao lado da cama em que a mãe
Hellen lutava contra a doença que se espalhava pelo seu
de Ruan estava deitada. O salão onde os clérigos cuidavam
corpo em velocidade impossível, Tronter, Frisdan, Vénië e Ruan
das vítimas da doença estava lotado. Se não fosse o tal milagre
estavam desacordados depois da luta com Shayla e Nekrun.
esmeralda, seriam muito mais. O rapaz tomou as mãos da mãe
Flaistor, o imenso monstro que ameaçava Serenidade, ia se
nas suas, estavam tão geladas. Mesmo sentindo muita dor a velha
desfazendo em vários jorros do líquido negro que trazia a Morte
senhora tinha apenas uma sorriso para seu filho, seu Ventinho do
das Trevas.
Céu.
Na cidade todos comemoravam a “vitória” do Exército
Aquilo foi demais para Ruan, sua tristeza era enorme
Celeste. Sem saber que logo todos estariam contaminados.
e ele não suportava mais a dor em seu peito. Caiu de joelhos
A felicidade se espalhava e todos se uniam numa prece de
abraçado com o pai, suas lágrimas se misturando. Dias depois
agradecimento a Washun.
ele se afastou para as montanhas dos anões e lá ficou durante
cinco dias tendo como companhia apenas Rapnun, seu falcão. Ao
Yalliras abriu um de seus olhos que já apresentava seu
voltar ele se dirigiu até o palácio onde de reunia o Conselho da
característico brilho esverdeado. A dor que vinha de sua barriga
Regência.
era imensurável, porém ela havia escutado a explicação de Shayla
e sabia o que aguardava toda a Ilha da Brisa Suave.
- Estou diante de vossas excelências pedindo permissão
para sair da Ilha da Brisa Suave em missão
Ela tinha nascido com um dom. O dom de encontrar quem
pessoal.
estivesse perdido apenas tocando seus objetos pessoais. Seu olho
emitia um brilho e ela conseguia ver o rastro da aura das pessoas.
- E qual seria essa missão? – Mas antes do rapaz
Era como ver uma versão verde dos desaparecidos realizando suas
responder, Durak continuou – Afinal, o motivo deve ser
últimas ações. Assim ela simplesmente seguia a imagem espectral
forte para que possamos dispor de um de nossos melhores
até o local onde se encontravam. Quando criança ela usava essa
guerreiros em momento tão crítico.
habilidade para surpreender seus amiguinhos, mas quando foi
amadurecendo resolveu entrar na Academia Arcana e desenvolver
- Sei tão bem quanto vossa excelência da situação em
seus dons. depois de formada, ela fez fama como a melhor pessoa
que nos encontramos. Por isso venho humildemente pedir vossas
a quem se recorrer em caso de desaparecimentos.
permissões para sair em busca de uma cura para esse terrível mal
que nos aflige.
Mas esse dom não seria útil agora e segurando a espada
que a atravessara ela fez uma última prece a Washun:
- Muitos magos já estão estudando uma possível cura,
meu rapaz. Depois dos últimos acontecimentos, o que precisamos
- Deus dos ventos... E-eu... - Ela sentiu o gosto de
é de guerreiros para nos proteger e...
sangue invadir a boca e cuspiu – Permita... Que minha... Minha
morte não... Seja em vão... Permita-me... - Mais sangue saia de
- Com todo o respeito excelência – Ruan respirava fundo
sua boca fazendo-a engasgar – Salvar... Mais algumas vidas... – E
para tentar se controlar
seu corpo parou de se mexer.
- Eu estava na batalha, não é preciso me lembrar o quão
Silêncio. Os jorros negros se aproximavam dos guerreiros
ela foi terrível.
caídos como corvos em busca de carniça. Pouco antes de Tronter
ser atingido, Yalliras despertou gritando. O brilho esmeralda agora
- Calma, meu rapaz... Sabemos o quanto sofreu.
saída dos dois olhos e foi aumentando de intensidade. Formavam
Partilhamos de sua dor, mas...
raios de energia que destruíram o que ameaçava seus amigos.
Depois a energia foi na direção do que restava de Flaistor e o
- Regente Sallas, nas atuais condições eu não serei de
cobriu numa redoma, impedindo que mais jorros escapassem.
real utilidade na defesa de nossa ilha, mas acredito que conseguirei
achar uma cura. Pelo menos preciso tentar... Não conseguirei lutar
A redoma começou a se contrair até desaparecer por
enquanto minha própria mãe e uma das minhas melhores amigas
completo eliminando assim a ameaça. No chão, com lágrimas
estão morrendo com essa maldita doença. Tudo o que eu quero no
caindo de seus olhos, finalmente Yalliras deu seu último suspiro.
momento é lutar por essas pessoas. Sei que soa egoísta, mas...
Estava feliz, pois na morte ela conseguiu salvar muitas vidas.
Sem perceber Ruan havia elevado a voz. Quando viu
A Tropa Relâmpago foi resgatada horas depois. Quando
os rostos dos regentes, abaixou a cabeça e nesse momento o
acordaram ouviram o relato do milagre da luz verde que salvou a
regente Hullari finalmente falou:
Ilha. Boatos davam conta que poderia ter sido uma ajuda enviada
da Cidadela das Chamas Esmeraldas, mas Ruan e seus amigos
- Eu sei bem que, se você quisesse poderia sair da Ilha
suspeitavam da verdade.
com sua próprias forças – Vendo que o rapaz concordava ele
continuou – Portanto, sabendo como é a dor de se perder entes

77
queridos, eu aceito sua petição e desejo, do fundo de minh’alma, - A vida de um guerreiro Nimbus é tão...
que logre sucesso em sua empreitada.
- Eu sei Minha querida... - Ele abraçou a amiga
Vendo a dor nos olhos do colega, Sallas e Durak se
calaram e deram suas permissões para que Ruan se tornasse um - Mas preciso fazer algo além de lutar contra
Guerreiro Nimbus. os inimigos da Ilha. Vou ficar bem. – Os anões se afastaram um
pouco quando Ruan se voltou para Vénië.
Antes de ir para o porto ele se encontrou uma última vez
com seus pais. O velho Runald tinha os olhos vermelhos depois Ela vestia um comportado vestido longo e
de abraçar o filho e sua mãe, branco. Depois da morte
Othilia, pediu para que o rapaz dos irmãos ela decidiu
se aproximasse de seu leito. Ela que deveria voltar para
sussurrou algo e ele ergueu a casa e se preparar para,
cabeça. Onde antes havia um um dia, assumir o posto
rosto desanimado, um sorriso do pai no Conselho da
triste se formou. Ele levou o pai Regência. Tinha o rosto
até sua antiga casa e depois se sério e contemplativo das
dirigiu ao porto. No caminho foi boas filhas dos nobres
até a casa da mulher responsável elfos, não lembrando em
por confeccionar as roupas nada a guerreira que tinha
dos Guerreiros do Céu e pediu sido da Tropa Relâmpago.
que essa lhe fizesse uma nova Ela abraçou com carinho
roupa. Graças à habilidade da comedido o amigo.
costureira e a gratidão que sentia
pelo guerreiro, horas depois ele -Então
já estava cuidando dos últimos escolheu seu novo nome?
detalhes para partir em seguida. Eu gostei particularmente
Foi quando ouviu chamarem seu da nova roupa... – Ela
antigo nome. sussurrou em seu ouvido
e depois de ouvir o nome,
O Guerreiro olhou continuou:
para fora da nau e reconheceu
imediatamente quem o chamava. - Espero
Seus amigos tinham vindo se que voltemos a nos
despedir. Um a Um eles se encontrar um dia.
aproximaram e o primeiro foi:
- Assim
Tronter. Ele se tornou também espero minha
o líder da Tropa Relâmpago, senhora. – Ele fez uma
agora uma divisão especial reverência exagerada.
do Exército Celeste. Seria sua
responsabilidade preparar os - Tenho
melhores formandos da Academia certeza de que os Elfos
Aeriun. Finalmente recebeu a jamais terão uma melhor
benção de seu pai, que agora sempre contava nas tavernas o regente.
orgulho de ter um filho guerreiro.
A elfa sorriu e então soltou as alças do vestido que
- Se prepare amigo. Quando voltar, e eu sei que cobriam seus ombros revelando um tecido quase transparente que
será em breve, a Tropa será a maior força de elite que a Ilha já deixava à mostra seus seios. Então ela deu um beijo na boca do
viu. amigo tão longo quanto o primeiro que havia trocado. Depois ela
lhe deu um beliscão e se afastou com seu sorriso característico.
- Eu sei meu amigo. Confio plenamente em
você. – E o guerreiro se voltou para: - Nisso você tem razão, meu lindo. Nunca haverá
uma regente como eu.
Frisdan. Depois de provar para si mesma e para seus
compatriotas que uma anã podia ser uma guerreira, ela decidiu Então ele subiu em sua Nau Aérea, tendo como
enfrentar outro desafio. Ser uma mãe. Ela não se sentia preparada companheiro apenas seu falcão. Enquanto se afastava, dando
para essa tarefa, mas depois de ver a tantos amigos serem feridos adeus aos amigos que deixava para trás, ele pensava naqueles
e morrerem, sua maternidade falou mais alto. Pediu baixa do que não estariam lá.
Exército Celeste e tendo recebido um bom soldo em dinheiro,
voltaria para as minas Rustar. Yalliras. Sua última ação jamais seria conhecida. Em seu
túmulo, que estava ao lado do Cristal de Washun, foi erguida uma
- Você tem certeza disso, Ruan? – Ela tinha os estátua da maga. Sob essa estátua uma placa trazia os seguintes
olhos cheios de lágrimas. dizeres: “Ela sempre lutou na batalha mais digna. A batalha pela
Vida”.

78
 Hellen. Permanecia em coma, mas os clérigos e
curandeiros acreditam que ela só não morreu por causa de
Hallarin, o espírito que habitava o corpo da guerreira.

Quando pensou em Joriander suas mãos apertaram mais

forte o timão.

Enquanto isso, em outro lugar.

Shayla e Nekrun/Joriander andavam por um corredor

escuro.

- Ainda acho que deveríamos ter matado a

todos.

- Cale-se, estamos entrando em local sagrado.

Ela estava nervosa. Seus planos não tinham dado certo e

ela apenas teria um Guerreiro caído para oferecer ao seu senhor.
Ela lembrava de como havia sido fácil dominar o elfo no labirinto
e colocar em suas costas o mesmo tipo de verme com o qual
controlara o dragão. Ela fez com que ele Lutasse contra seu amigo
e aos poucos seu controle foi se fortalecendo. Quando o Guerreiro
do Céu saltou sobre “Nekrun” a armadura revelou apenas um
demônio. Quando chegaram ao chão, logo Shayla e Yalliras os
acompanharam. Pega de surpresa, a maga foi presa fácil para o
Guerreiro caído.

Eles chegaram a um enorme salão e foram recebidos por

uma voz que parecia preencher todo o local:

- Não falem nada. Eu sei de tudo o que aconteceu O COMEÇO...

e não se preocupem. Tudo corre como o planejado. Mas preciso
que se tornem mais fortes. Entrem nesse poço que está diante
de vocês. – Os dois guerreiros ficaram parados apreensivos –
AGORA!
João Steve
Sem escolha eles obedeceram e depois de alguns
minutos os dois saíram totalmente mudados.
Shayla estalou um chicote que disparou fagulhas negras
no ar e Nekrun sentiu algo pesado nas costas, ele olhou para trás
e com um sorriso nos lábios abriu duas longas asas negras.

- Agora estão prontos de verdade...

De volta aos céus, o Guerreiro Nimbus sentia o vento em

seu rosto. Apesar da tristeza ainda tocar seu coração, ele sorria o
lembrar das últimas palavras de sua mãe:

- Eu te amo, Ventinho do Céu, eu te amo.

Apenas isso. Nenhuma cobrança ou pedido de socorro.

Ele sabia que fosse qual fosse o resultado de sua missão, o mais
importante havia sido dito pelos dois:

- Eu também te amo, minha querida mãe.

Abrindo as velas da Nau Aérea e aumentando a

velocidade, ele ergueu sua voz como se quisesse que todos que
ficavam para trás ouvissem suas palavras:

- De agora em diante, meu nome será Vento

Celestial!

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NOSSO OBJETIVO:

“Ser uma revista digital independente, de qualidade, comercialmente neu-

tra, e com objetivo de desmistificar e difundir o RPG em todo o território
Nacional.”

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