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Detecção e Gestão de Surtos no Distrito

Técnicos de Medicina Geral


Juvenaldo Amós, MD, MTH
Especialista em Saúde Pública
Contactos: 86 40 92 140 / 82 50 92 140
E-mail: juvenaldoamos@gmail.com
Detecção e Gestão de Surtos no Distrito
Ate ao fim das três aulas, o aluno deve ser capaz de:
• Definir surto e epidemia.

• Descrever como os surtos podem ser detectados (ou quando se deve suspeitar
de um surto).

• Descrever e executar os passos da investigação e do controlo de um surto:


• Explicar como verificar a existência de um surto;
• Descrever o processo de notificação da doença;

• Descrever o processo de notificação às autoridades locais, incluindo a pessoa que deve


ser notificada e a informação a ser transmitida;
Detecção e Gestão de Surtos no Distrito
• Epidemia - é a ocorrência em uma comunidade ou região de casos de natureza
semelhante, claramente excessiva em relação ao esperado.

• Uma epidemia envolve grande número de pessoas afectadas ou extensas áreas geográficas
(cidade, distrito, província, país, região).

• Um exemplo duma epidemia é a actual COVID-19, que começou da China e finalmente


está afectar todo, o mundo, tomando a denominação de Pandemia.

• Surto – é aumento localizado de casos duma determinada doença em relação ao número


esperado numa área limitada.

• Tipicamente um surto é limitado a um bairro, vila aldeia, instituição (como escola, quartel,
lar estudantil, etc.)

• Em outras palavras, um surto é uma pequena epidemia restrita a uma área limitada
Detecção e Gestão de Surtos no Distrito
• As definições dum surto e duma epidemia são muito parecidas, mas muitos
epidemiologistas preferem a palavra surto para evitar provocar pânico na
população.

• O número de casos que determina um surto ou epidemia varia dependendo:


• Da doença/agente
• Do tipo e tamanho da população em risco
• Da existência prévia da doença na população
• O tempo e o local da ocorrência.

• Um único caso duma doença que não existe normalmente na população pode
ser denominada surto (por exemplo, 1 único caso de ébola ou 1 caso de
meningite meningocócica seria considerado um surto com necessidade de
investigação.
Porquê investigar surtos?
• Identificar o agente causador e a sua fonte/meio de transmissão para:
• Limitar o alcance, a propagação ou a severidade do problema de saúde.
• Os efeitos podem ser limitados ou reduzidos através de intervenções como tratamento rápido
de casos, métodos de prevenção de transmissão, profilaxia, remoção duma fonte de infecção
e outros.
• Prevenir futuros surtos.

• Identificar novos meios de transmissão;

• Identificar novos agente causador ou agente causador que normalmente não


existem num determinado local;

• Monitorar o sucesso de programas de prevenção de doenças;

• Formar investigadores de surtos.


Quando pensar num surto ou epidemia?
• Quando há um rumor ou um informe que há muitos óbitos ou doentes
numa determinada zona/bairro/aldeia.

• Quando os números de uma doença conhecida começa a aumentar mais


do que o esperado.
• Para detectar isso é preciso preencher atempadamente os BES (Boletins
Epidemiológicos Semanais) e analisar regularmente (todos as semanas). Pode ser
através da construção de canais endémicos

• Quando há muitos casos duma doença endémica numa época inesperada


(p.ex. muitos casos ou óbitos de malária em Chimoio no tempo frio).

• Quando todos os casos duma doença ou determinadas apresentações


clínicas aparecem numa área geográfica limitada (todas no mesmo bairro,
mesma zona, no mesmo local de trabalho, na mesma escola, na mesma
igreja, etc.).
Quando devemos pensar num surto ou epidemia?
• Sempre que aparece um caso suspeito de uma doença endémica que
normalmente ocorre em surtos como:
• Cólera (diarreia com apresentação típica de cólera ou diarreia com óbito ou
desidratação grave num adulto);
• Sarampo (3 casos confirmados ou 5 casos suspeitos em 30 dias);
• Meningite meningocócica.

• Sempre que aparece um caso com apresentação (sinais e sintomas)


de doenças raras com alta fatalidade:
• Febres hemorrágicas (p.ex. Ébola, Febre Amarela, Marburg);
• Dengue;
• Peste bubónica.
Quando devemos pensar num surto ou epidemia?

• Sempre quando aparece um caso com apresentação (sinais e


sintomas) de uma doença de erradicação: Paralisia flácida aguda
(PFA), Poliomielite, Lepra.

• Quando uma doença conhecida aparece em formas anormais:


• Graves, ou seja, quando facilmente leva à gravidade e ou à morte;
• Afectando uma idade que normalmente não afecta.

• Sempre quando aparece uma doença que é raramente encontrada na


região ou com apresentação desconhecida.
O que fazer quando suspeitar de um surto?
• Informar ao clínico sénior do distrito.

• Se o clínico mais sénior do distrito for você, ou se estiver ausente, deve


informar ao médico chefe da província imediatamente por telefone ou SMS.

• O informe deve se basear nas perguntas de epidemiologia descritiva (o quê?


Quem? Quando? Onde?) e se possível, da epidemiologia analítica (Como?
Porquê?) e inclui os seguintes aspectos:
• O que lhe fez suspeitar da ocorrência do surto;
• A doença se for conhecida, (e também se o diagnóstico for suspeito ou confirmado);
• Se não conhece a doença descrever a apresentação clínica (sinais sintomas);
• O número de pessoas afectadas (e qualquer distinção se for possível nessa fase);
• Deve informar imediatamente mesmo se não tiver toda a informação disponível.
O que fazer quando suspeitar de um surto?
• Confirmar se devem investigar o surto ou executar medidas de controlo e prevenção
imediatamente ou esperar pela equipa do nível provincial ou central

• Esta acção dependera de vários factores, incluindo o motivo de suspeita e o provável


agente causal envolvido).

• Juntar a equipa para iniciar o processo de conferir a existência do surto e preparar para
o trabalho de investigação do surto.

• No mínimo a equipa inicial deve incluir: Um clínico (TM ou Médico), um técnico/agente


de medicina preventiva, um técnico de laboratório.

• Para além desses membros chaves a equipa deve incluir um motorista, uma secretária
(ou pessoa que pode ajudar com o preenchimento de formulários e arquivamento dos
dados).
Preparação para o trabalho de campo
• Os aspectos que devem ser incluídos são:
• Informar as autoridades locais e aos quadros de saúde locais sobre a proposta de investigação;

• Orientação / Formação rápida do pessoal que se vai deslocar ao local, que inclui os aspectos teóricos
ligados ao problema de que se suspeita;

• Deve-se consultar uma pessoa com mais experiência para obtenção de informação importante a ter
em conta no local;

• Verificação de todo o material e dos suprimentos que devem ser levados ao local;

• Preparação da equipa do laboratório de modo a garantir que todo o material necessário seja levado,
incluindo os meios apropriados para o transporte e armazenamento de amostras;

• Preparação e aprovação dos meios para deslocação e permanência no local (inclui acomodação,
alimentação e comunicação);

• Deve-se deslocar ao local com indicações claras do papel de cada membro da equipa para garantir um
trabalho rápido e de qualidade.
INVESTIGAÇÃO DE UM SURTO (OU DE UMA EPIDEMIA)
• A investigação dum surto é um trabalho muito intensivo e irá deslocar pessoas
das outras responsabilidades que têm.

• É difícil que a equipa envolvida na investigação do surto continue com as suas


tarefas ou responsabilidades habituais durante a investigação do surto.

• Por isso, é importante analisar se há necessidade de fazer a investigação.

• É sempre importante solicitar apoio do nível superior (provincial ou de nível


central), se o surto for:
• Duma doença rara, ou
• Doença desconhecida, ou
• Doença com efeitos anormais.
INVESTIGAÇÃO DE UM SURTO (OU DE UMA EPIDEMIA)
Em geral, a investigação dum surto compõe os seguintes passos:
1. Confirmar a existência do surto (Números de casos reportados ou encontrados
devem ser comparados com os BES’s das semanas anteriores e para a mesma
época nos anos anteriores para confirmar de que estão realmente mais
elevados;
2. Definir um caso;
3. Contar casos (busca activa de casos);
4. Analisar a informação orientada por pessoa (Quem?), lugar (Onde?) e tempo
(Quando?) e notificar;
5. Identificar quem está em risco de adoecer (população em risco);
6. Elaborar uma hipótese acerca da fonte de infecção (como foram expostos ao
agente patogênico);
7. Comparar as hipóteses com factos ou características do surto;
INVESTIGAÇÃO DE UM SURTO (OU DE UMA EPIDEMIA)
7. Solicitar uma equipa especializada para ajudar fazer um estudo mais
aprofundado, SOS;

8. Executar medidas de controlo e prevenção (ver especificidades de


cada uma das doenças;

9. Notificação (oral e escrita) – Importante continuar com a notificação


rotineira do BES

10. Elaborar um relatório.


Definição do Caso
Meningite meningocóccica:
• Paciente ≥ 1 ano com início súbito de febre (>38,5◦C rectal) ou (38◦C axilar) e um dos seguintes
sinais: rigidez da nuca, alteração da consciência, ou qualquer outro sinal meníngeo.
• Criança menor de 1 ano que apresente abaulamento de fontanela ou convulsões ou pelo menos
dois destes sintomas: vómitos, sonolência, irritabilidade aumentada”

Cólera:
• Após confirmação laboratorial da existência do vibrião numa amostra de fezes de um doente
suspeito com diarreia:
• Paciente com idade ≥2 anos, com início súbito de diarreia aguda, dor abdominal, fezes líquidas
profusas (tipo água de arroz e por vezes com cheiro a peixe), ocasionalmente com vómitos e
desidratação rápida.
• A partir da altura que há um caso de Cólera positivo, confirmado pelo Laboratório, considera-se que
o distrito está perante um surto, pelo que:
• Todos os casos de diarreia grave, profusa, de início súbito, acompanhada ou não de vómitos, sem
febre e com sinais de desidratação (principalmente se moderada ou grave) deve-se suspeitar de
Cólera.
• Os óbitos por diarreia grave em adultos com as características anteriormente descritas, por não
serem comuns também devem ser notificados como Cólera.
Definição do Caso
Sarampo:
• Todo o doente com rash máculo – papular e febre, acompanhado por
um ou mais sintomas como, tosse, coriza (corrimento nasal) ou
conjuntivite ou qualquer pessoa com doença eruptiva, em que o clínico
suspeite de sarampo”.
PFA:
• Deve ser considerado suspeito, todo o doente com menos de 15 anos
apresentando PFA, ou qualquer pessoa de qualquer idade com doença
paralítica, em quem o clínico suspeite poliomielite.
Que informação precisamos de colher
• Os dados devem ser colhidos através de um questionário que será
administrado aos doentes que se encontram internados, ou na
comunidade.

• O questionário deve colher a seguinte informação:


• Nome;
• Idade;
• Sexo;
• Residência;
• Profissão;
• O local de trabalho/estudo;
• Data e hora do início da doença (ou das sintomas);
• Prognóstico (tempo de cura, morte, outros efeitos).
Que informação precisamos de colher?
• Também deve procurar-se informação específica sobre a possível via de transmissão
dependendo do provável modo de transmissão do agente patogénico. Por exemplo:

• Se for uma doença conhecida e transmitida principalmente pela água e comida, p.ex. a
cólera, faça perguntas referentes ao consumo da agua e/ou comida.

• Se for uma doença transmitida directamente por contacto de pessoa para pessoa (p.ex.
a meningite) procure informações acerca da natureza, frequência, e duração dos
contactos entre pessoas.

• Se for uma doença desconhecida é necessário fazer uma mistura de perguntas ligadas a
possíveis fontes de exposição ou factores de risco.

• O conhecimento da HISTORIA NATURAL DA DOENCA e muito importante para


prosseguir com a pesquisa.
Sumário
• Qualquer país do mundo pode registar uma epidemia ou um surto

• Em Moçambique, a maior parte das epidemias resultam doenças infecto-


contagiosas, em que se deve adoptar medidas de controlo, por exemplo, o
isolamento de todos os casos, para evitar o seu alastramento.

• O primeiro profissional de saúde a suspeitar a ocorrência de uma epidemia é


àquele que está na triagem.

• A comunicação interna atempada é importante para o inicio danotificas medidas


de controlo.

• A definição de “CASO” é muito importante, para evitar a sub-notificação de casos


ou facilitar a identificação de mais casos nas comunidades, durante a busca activa.
O QUÊ?

O quê que o
Chefe etá a ver?

Estar a frente
ESTAR SEMPRE dos acontecimentos
À FRENTE DOS ACONTECIMENTOS
02/08/2021 20

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