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XV EBRAMEM - Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira

09-11/Mar, 2015, Curitiba, PR, Brasil

EFEITO DA TERMORRETIFICAÇÃO NA ESTABILIDADE DIMENSIONAL DA MADEIRA


DE ANGELIM PEDRA

Mayra D. Ferreira (mayradaniela90@gmail.com), Rafael R. Melo (rrmelo2@yahoo.com.br)


1Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Av. Alexandre Ferronato, 1200, Sinop (MT), CEP 78557-267

RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da termorretificação na estabilidade dimensional
da madeira de angelim pedra (Hymenolobium petraeum Ducke). Para isso, foram confeccionadas 50
peças com dimensões de (25,0 x 10,0 x 1,7 cm), e divididas aleatoriamente em cinco grupos sob
diferentes temperaturas e tempo de exposição. Utilizaram-se duas temperaturas de 180°C e 200°C,
com o tempo de exposição variando de 2 as 4 horas. Após o tratamento térmico de cada repetição,
foram retirados diferentes corpos-de-prova para a realização dos ensaios físicos (perda de massa
específica e estabilidade dimensional). O tratamento térmico proporcionou uma perda de massa da
madeira de Angelim pedra, sendo que os tratamentos de maior temperatura apresentaram maior
porcentagem de perda. Para estabilidade dimensional, o tratamento térmico se mostrou eficaz visto
que este melhorou esta propriedade.

Palavras Chave: Termorretificação, Estabilidade Dimensional, Madeira tropical, Madeira da Amazônia.

EFFECT OF THE HEAT TREATMENT ON DIMENSIONAL STABILITY OF THE


Hymenolobium petraeum

ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the effect of heat treatment on the dimensional
stability of the Hymenolobium petraeum Ducke wood. For this 50 pieces were fabricated with dimensions
(25.0 x 10,0 x 1.7 cm) and randomly divided into five groups at different times and temperatures. They
were used of temperatures of 180 ° C and 200 ° C with exposure times ranging from 2 to 4 hours. After
the heat treatment of each repetition were withdrawn different bodies of the test piece to carry out the
physical tests (weight loss specific and dimensional stability). Hymenolobium petraeum, and the higher
temperature treatments showed may loss percentage. For dimensional stability heat treatment was
effective as this improved this property. The ultrasound method proved effective to correlate the dynamic
elastic modulus with the MOR and MOE obtained in bending test static. Thermal treatment did not affect
significantly the mechanical properties of wood Hymenolobium petraeum, since there was no significant
reduction of MOR and MOE found in the bending test and compression parallel fibers.

Keywords: Term rectification, Stability Dimensional, Wood tropical, Wood Amazon.


1. INTRODUÇÃO

A termorretificação é um dos tratamentos físico-químicos atualmente mais utilizados, onde


a madeira é submetida a um processo de termodegradação, na ausência ou forte deficiência
de oxigênio assim impedindo que a mesma entre em combustão, sendo considerado o
produto de uma pirólise controlada onde os constituintes químicos se degradam, este
processo é interrompido antes que ocorram reações exotérmicas as quais se iniciam a uma
temperatura de 280°C, nesta temperatura é iniciada a combustão espontânea da madeira
assim o tratamento térmico é eficiente, pois este degrada a hemicelulose assim diminuindo a
interação da madeira com água (BRITO et al., 2006).
Outra vantagem da modificação superficial de peças de madeira pela ação do calor tem
forte apelo técnico, econômico e ambiental, já que esta técnica de termorretificação além de
exigir baixo investimento tecnológico e de mão de obra, pode ser realizada uma única vez e
ainda pode eliminar a aplicação de produtos químicos como vernizes e tintas que demandam
aplicações anuais, tornando assim um processo moroso e mais caro.
O tratamento térmico que visa além do aumento da durabilidade a melhoraria na aparência
por meio da alteração de sua cor. Segundo estes autores, madeiras submetidas a este
processo adquirem colorações similares as madeiras tropicais, que apresentam maior valor
de mercado. Destacam-se ainda a melhoria na estabilidade dimensional devido à baixa
higroscopicidade, e consequentemente, a maior resistência aos fungos xilófagos que
necessitam de umidade para se desenvolverem (MOURA et al., 2012)
Neste sentido o tratamento térmico surge como alternativa para melhorar a utilização que
é dada para madeiras problemáticas do ponto de vista tecnológico, ou ainda como é o caso
deste estudo de ser trabalhado com madeira de média densidade quem sabe ser destinada
para o uso de fabricação de pisos maciços sendo que para este é importante que haja uma
boa característica tecnológica e ainda um bom acabamento da madeira, como é o caso da
melhora do aspecto físico do material que tal tratamento proporciona. Deste modo, o presente
trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da termorretificação na estabilidade dimensional
da madeira de Hymenolobium petraeum Ducke (Angelim Pedra).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram obtidas junto ao comércio local peças de madeira com dimensões de (25 cm x 9,0
cm x 1,7 cm), tendo como matéria-prima a espécie Hymenolobium petraeum Ducke (Angelim-
Pedra). Estas foram divididas de forma aleatória em 5 grupos, sendo que cada um destes foi
composto por 10 repetições, onde quatro grupos foram submetidos aos tratamentos térmicos
em estufa de circulação de ar forçado, utilizando diferentes temperaturas e tempo. Após os
tratamentos as peças foram redimensionadas de acordo com a necessidade de cada ensaio
que as mesmas foram submetidas.
Para compor os diferentes tratamentos, as amostras foram selecionadas aleatoriamente
em cinco grupos, com dez repetições para composição dos diferentes tratamentos térmicos.
As amostras foram levadas para a estufa de circulação de ar forçada, onde foram utilizadas
temperaturas de 180ºC e 200ºC, com os tempos dos tratamentos variaram de duas a quatro
horas, com objetivo de se comparar o efeito desses tratamentos sobre as peças de madeira,
considerando ainda, as amostras testemunhas.
Para avaliação das amostras tratadas e as não tratadas (testemunhas), foram feitos
ensaios físicos (massa específica; estabilidade dimensional e fator anisotrópico), adotando as
recomendações da Norma Panamericana COPANT. Após o tratamento as amostras foram
redimensionadas de acordo a necessidade e adequações de cada ensaio.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos de massa específica da madeira de Hymenolobium petraeum


variaram entre 0,69 e 0,71 g/cm³ antes da termorretificação, e de 0,67 e 0,70 g/cm³ após o
tratamento, de acordo com a (Tabela 1). Não houve diferença significativa na massa
específica da madeira de Angelim Pedra. Homan et al. (2000) observaram que o aquecimento
da madeira em altas temperaturas degrada alguns constituintes químicos, sobretudo as
hemiceluloses que são menos estáveis termicamente e se degradam mais rapidamente em
comparação com outros constituintes primários (celulose e lignina), e em consequência,
provocando a perda de massa.
Ainda na Tabela 1 observa-se a média de perda de massa para os diferentes tratamentos
térmicos empregados. As maiores porcentagens de perda de massa ocorreram nos
tratamentos com os maiores tempos e temperaturas. Pode-se constatar que houve diferença
significativa entre os tratamentos, onde quanto maior a temperatura utilizada maior à redução
de massa. A maior redução correu nos tratamentos de duração de 4 horas e 200 °C onde
5,55% e no tratamento de 2 horas e 200°C onde apresentou 3,47% de perda de massa. Isso
pode ser explicado porque nas maiores temperaturas ocorrem maiores degradações dos
componentes da madeira, principalmente a volatilização dos extrativos e a degradação das
hemiceluloses (ROWELL, 2012).

Tabela 1. Valores médios de massa especifica antes e depois do tratamento de Angelim


Pedra em função dos tratamentos, e avaliação de perda de massa (%).
Tratamentos (min-°C) Antes (g/cm³) Após (g/cm³) Perda de Massa (%)
Testemunha 0,71 a 0,71 a -
2 – 180 0,69 a 0,68 a 1,93 c
2 – 200 0,71 a 0,70 a 3,47 b
4 – 180 0,70 a 0,70 a 2.04 c
4 – 200 0,69 a 0,67 a 5,55 a
Valores com a mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (5% de significância).

Na Tabela 2, podem ser observados os valores de inchamento lineares para a madeira de


Angelim pedra, submetidas aos diferentes tratamentos térmicos. Com relação ao inchamento
e contração longitudinal não foi encontrada diferença significativa entre os tratamentos
avaliados. Já para os inchamentos e contrações tangenciais, radiais e volumétricos foi
constatado que houve diferença significativa, onde os tratamentos que foram submetidos à
temperatura de 180°C e duração de 2 horas e 4 horas, apresentaram os menores valores,
sendo estes considerados os melhores em relação a testemunha.

Tabela 2. Valores médios de inchamento inchamento longitudinal (αL), inchamento radial


(αR) e inchamento tangencial (αT).
Trat. (horas/°C) αl (%) αr (%) αt (%)
0-0 0,49 a 5,10 a 6,86 a
2 – 180 0,43 a 2,98 c 4,97 b
2 – 200 0,41 a 3,86 bc 5,38 ab
4 – 180 0,52 a 3,38 bc 5,16 b
4 - 200 0,36 a 4,49 ab 5,52 ab

Neste trabalho, percebe-se a redução da higroscopicidade o qual pode ser resultado de


modificações químicas, em especial a degradação parcial das hemiceluloses, assim como
Poncsak et al. (2006), no tratamento térmico ocorre uma redução no número de grupos OH
hidrofílicos, que são substituídos por grupos hidrofóbicos O-acetil. Esses grupos são formados
pela degradação das hemiceluloses e liberados da madeira na forma de ácido acético.
Observa-se que a madeira termicamente tratada apresentou menor umidade/
higroscopicidade em relação a madeira não tratada.
Os resultados obtidos para as variações dimensionais da madeira indicaram uma melhoria
significativa na estabilidade dimensional da mesma, dessa forma comparando as variações
dimensionais nas diferentes direções estruturais, observa-se que os valores de contração e
inchamento na direção tangencial são maiores que na direção radial, os quais, por sua vez,
são maiores que na direção longitudinal. Isso ocorre, em decorrência da anisotropia da
madeira. As variações dimensionais no sentido transversal (tangencial e radial) são maiores
que no sentido longitudinal, já que a maioria das células está orientada longitudinalmente. No
sentido radial, as variações dimensionais são menores que no sentido tangencial devido à
orientação transversal dos raios e da presença de pontoações areoladas predominante nas
paredes radiais das traqueídeos, causando um desvio das microfibrilas de celulose na
camada S2.
Segundo Boonstra; Tjeerdsma (2006), a diminuição da umidade ocorre devido a menor
quantidade de água absorvida pelas paredes das células como consequência da mudança
química, no caso a diminuição de grupos hidroxílicos, e além a diminuição da acessibilidade
devido o aumento da cristalinidade da celulose e aumento das ligações cruzadas na lignina.

4. CONCLUSÕES

O tratamento térmico acarretou uma pequena perda de massa de acordo com o aumento
da temperatura e tempo de exposição. Termorretificação resultou em melhorias significativas
na estabilidade dimensional da madeira de Angelim pedra, sendo que os melhores resultados
foram observados na aplicação da menor temperatura (180°C e tempo de exposição de 2
horas e 4 horas).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOONSTRA, MICHIEL J. et al. Propriedades de resistência de resinosas modificados


termicamente e sua relação com poliméricas constituintes estruturais de Madeira. Anais
Ciência Florestal, v. 64, n. 7, p. 679-690, 2007.
BRITO, J. O.; GARCIA, J. N.; BORTOLETTO JUNIOR, G.; PESSOA, A. M. C.; DA SILVA, P.
H. M. Densidade básica e retratibilidade da madeira de Eucalyptus grandis submetida a
diferentes temperaturas de termorretificação. CERNE, v. 12, n. 2, p. 182-188, abr./jun.
2006.
HOMAN, W., TJEERDSMA, B., BECKERS, E., & JORISSEN, A. Propriedades
estruturais e outras de madeira modificada. Conferência Mundial sobre Engenharia de
Madeira (Vol. 5), julho de 2000.
MOURA, L. F.; BRITO, J. O.; BORTOLETTO JUNIOR, G. Efeitos da termorretificação na
perda de massa e propriedades mecânicas de Eucalyptus grandis e Pinus caribaea var.
Hondurensis. FLORESTA, v. 42, n. 2, p. 305 - 314, abr./jun. 2012.
PONCSÁK, S. et al. Efeito do tratamento de Alta temperatura sobre as propriedades
mecânicas do Bisch (Betula papyrifera). Wood Sci Tecnhol, v.1, v.40, p. 647-663, 2006..
Ponta Delgada. Repositório. Ponta Delgada - Portugal: Repositório do Instituto Politécnico de
Viseu, 2009. p. 1 – 10..
ROWELL, Roger M. Handbook of Wood Chemistry and Wood Composites. 2. ed. Estados
Unidos: Taylor & Francis Group, 2012. Cap. 6, p. 151.

6. NOTA DE RESPONSABILIDADE

Os autores são os únicos responsáveis pelo que está contido neste trabalho.

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