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O livro infantil

O livro infantil é pensado, inventado, criado pelo adulto. Ao escrever, o adulto tem uma intenção a partir de sua visão de
mundo, utilizando seus critérios, que considera úteis e adequados à formação das crianças.

Cecília Meireles (1979) enfatiza:

Uma das complicações iniciais é saber-se o que há, de criança, no adulto, para poder comunicar-se com a infância, e o que há
de adulto, na criança, para poder aceitar o que os adultos lhe oferecem. Saber-se, também, se os adultos sempre têm razão, se,
às vezes, não estão servindo a preconceitos, mais que à moral; se não há uma rotina, até na Pedagogia; se a criança não é mais
arguta e sobretudo mais poética do que geralmente se imagina... (p. 27).

Pergunta-se sempre se a finalidade da literatura infantil é instruir ou divertir; se ela está inserida no contexto da arte literária ou
pedagógica. Isso parece gerar polêmica quando se fala de literatura infantil.

Na verdade, pertence, simultaneamente, tanto à arte como à Pedagogia. Enquanto emociona, dá prazer, diverte e modifica a
consciência de mundo do leitor, é considerada arte. Mas é também um instrumento manipulado com uma

intenção educativa e, por isso, pode-se dizer pedagógica (Coelho, 2000b).


A literatura infantil é formadora de mentes infantis. O livro infantil é entendido como uma “mensagem” (comunicação) entre
um autor-adulto (o que possui a experiência do real) e um leitor-criança (o que deve adquirir tal experiência). Nessa situação, o
ato de ler (ou de ouvir), pelo qual se completa o

fenômeno literário, transforma-se em ato de aprendizagem (Coelho, 2000b). Quando a criança está diante de livros, sua escolha
não se dá apenas pelo conteúdo do livro que, muitas vezes, ainda nem conhece. O que vai chamar a atenção é o formato, a capa,
o título, as imagens/ilustrações, o colorido, as letras (se pequenas ou grandes)... E, a partir disso, a criança adentra o universo de
um

conto de fadas, de uma história... (Almeida, 2006). Sabiamente, Benjamin (2002) escreve:

Não são as coisas que saltam das páginas em direção à criança que as vai imaginando — a própria criança penetra nas coisas
durante o contemplar, como nuvem que se impregna do esplendor colorido desse mundo pictórico. Diante de seu livro
ilustrado, a criança coloca em prática a arte dos taoistas consumados: vence a parede ilusória da superfície e, esgueirando-se
por entre tecidos e bastidores coloridos, adentra um palco onde vive o conto maravilhoso... Nesse mundo permeável, adornado
de cores, em que a cada passo as coisas mudam de lugar, a criança é recebida como participante. Fantasiada com todas as cores
que capta lendo e contemplando, a criança se vê em meio a uma mascarada e participa dela... Ao elaborar histórias, as crianças
são cenógrafos que não se deixam censurar pelo “sentido”... De repente as palavras vestem seus disfarces e num piscar de olhos
estão envolvidas em batalhas, cenas de amor e pancadarias. Assim as crianças escrevem, mas assim elas também leem seus
textos (p. 69-70).

É muito importante que se escolha bem o livro a ser oferecido para a criança, respeitando sua idade, seu desenvolvimento
cognitivo e afetivo- emocional, além de seu nível social e cultural. O livro pode ser um recurso de grande riqueza para que a
criança entre em seu universo, com prazer, mesmo que se depare com situações conflitantes que possam trazer-lhe certo
desconforto. É no imaginário que a criança poderá refletir — a seu modo — sobre seu mundo real e encontrar na imaginação
maneiras de enfrentá-lo e transformá-lo.

Bowden (1993) afirma que os adultos devem inicialmente analisar os livros infantis de maneira crítica para depois oferecê-los à
criança.

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