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Este trabalho deve ser visto como uma pequena contribuição à discussão e tem
com o propósito de anunciar o tema deste evento. Em resumo, o texto da professora Kathrin
comum entre o grego Sófocles e filósofos modernos como Hobbes, Hegel e Nietzsche no
que toca à reflexão sobre as condições próprias da vida política e, sobretudo, de sua gênese,
conceitos, idéias ou princípios da razão. Esse ponto comum é anunciado como o avesso
sombrio da violência originária da qual emerge a vida política e sob o qual ainda pairam, no
morte, a disputa pelos bens, pela manutenção da vida ou satisfação dos desejos, ou ainda,
esfera da instituição política. A questão que se coloca para o pensador de nossa tradição,
para aquele que de fato se compromete tanto com a reflexão sobre os fundamentos
filosóficos, como com a inspeção cuidadosa de nossa iconografia mítica e seu ordenamento
determinada tradição, a esfera anterior da violência? Ou ainda, uma outra questão, é porque
humana. Ou seja, o jogo que se desenvolve sob o pano de fundo da morte violenta acaba
por revelar certas características absolutamente humanas, entre outras, a carência, o desejo,
o orgulho, o medo, a coragem que podem ser resumidas sob a égide de uma existência
domínio ou aniquilamento do outro. Neste jogo são reveladas as condições próprias para
fundamentação do político.
as suposições racionais – a finitude dos bens, a igualdade, etc. – acabam por engendrar uma
situação de disputa radical na qual cada um dos agentes percebe mais ameaçado aquilo que
desejam preservar: a própria vida. Deve-se salientar que a liberdade ilimitada de cada
agente, racionalmente autorizada, os compõe como soberanos dos seus desejos e de suas
ações neste domínio pré-político, não havendo, portanto, restrições externas a manifestação
da vontade pela ação. A instituição do Estado político aparece como uma máxima da razão
frente a esta cena paradoxal: aquilo que cada um está legitimamente autorizado a buscar (a
preservação da vida e a segurança) segundo seu próprio juízo se encontra mais ameaçado,
incrementa o risco da morte violenta, e, assim nos dita a prudência, devemos abandoná-la,
condição de soberanos de nossas ações, transferindo o direito à todas as coisas para esta
desenvolve no conflito entre consciências que se negam sob a forma da ação violenta; mas
a natureza impõe suas condições, a saber: revela um primado natural, o ser para a morte,
uma consciência que assim se percebe, e uma praxis que se orientará para a preservação de
toda a solvência que a morte anuncia pela e na aparição do outro. O outro, para cada
consciência, é pura ameaça de dissolução e que, pela força, deverá se tornar utensílio, i.e.,
um objeto para atenuar as próprias mazelas que a natureza impõe para aquele que vive. A
propriamente humano.
do outro é o que move a batalha pelo domínio de uma consciência sobre a outra. A luta à
morte, neste contexto, assume o significado para a consciência, através da ação violenta, da
luta pela conquista da liberdade, pois através deste expediente ela impõe ao outro o
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dissolução, como consciência para si – pela verdade que a vida representa para a unidade
qualquer outro ser aí. Esta forma de embate imporá os termos da nova relação e estes –
senhor e escravo – não são externos às consciências, mas passam a constituí-las, a formatá-
las, isto é a determinar o seu modo de ser no mundo, não mais natural, mas humano ou
histórico. Esta figura se caracteriza por uma primeira aparição da liberdade, pois nela se
produz um reconhecimento unilateral, do servo para com o senhor. A sua consciência está
presa ao servir, ou por-se como utensílio frente ao outro que o contempla como um objeto
uma recusa ao mundo, como uma recusa ao trabalho, ao esforço e a tudo o que lhe aparece
como uma forma negativa de seu regozijo e do seu deleite. Ou seja, o senhor acaba retido à
esfera da coisidade, pois ao renegar o que lhe é externo - pelo temor da dissolução de si à
sombra da morte -, termina por reificar esta mesma esfera, o que equivale a recusar ao
ordenamento, pois isso aparece como um suplício ao exercício de sua vontade e de seu
desejo. O servo com o seu trabalho - em um processo que não iremos aqui detalhar - e nesta
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Hegel, G.W.F. A Fenomenologia do Espírito.
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imperfeita.
Hegel da igualdade e, por fim, da liberdade. Estas categorias são fundamentais para a sua
filosofia política, pois o Estado para Hegel é o domínio da relação entre vontades livres que
se reconhecem por intermédio do direito nas instituições que conformam a sociedade civil
Apesar das grandes diferenças entre estes filósofos, tanto para Hobbes como para
a natureza dos homens, na sua luta por prestígio e por conforto, atuar em prol do
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desenvolvimento da boa vida. Pois esta é, segundo Hobbes, a melhor forma de suscitar a
adesão dos homens ao seu compromisso com a ordem política, dando maior coesão ao
corpo do Estado.
para a manutenção da sociedade civil e o jogo de carecimentos que nela se desenvolve, seja
determinações que travejam as relações que estes mantém entre si. Há aqui uma forma de
como um cidadão, i.e. portador de direitos para com o qual o Estado deve manter uma
da violência como possibilidade do agir humano não foi dissipado. A luta pelo
política. A natureza humana não foi alterada e, em ambos os casos, a violência originária
pode se repor. Hegel alerta, na sua Filosofia do Direito, que no horizonte da sociedade
civil se descortina a violência, bem como Hobbes, na sua obra intitulada Beemoth, que
supressão da sociedade civil e das garantias individuais. Refiro-me aqui ao terror e à sua
parição na forma do Estado totalitário. Sobre isto, Hegel faz referência à possibilidade da
usurpação da esfera política por uma forma de consciência de si que ao querer a realização
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de uma forma política universal, não tolera para si os limites que qualquer forma de
ordenamento impõe e requer. A vontade desta consciência rege-se por uma liberdade
negativa que Hegel descreve como aquela que representa o objeto do querer como para
No século passado, as referências do terror são óbvias. Entretanto, este apareceu sob
uma nova forma, o terror da consciência utópica. Esta forma de terror encontra a
necessidade de sua existência não em qualquer forma de reciprocidade com uma esfera
autônoma da sociedade civil, ou em uma ordem universal de direitos, mas na sua própria
vocação, a saber: a vocação para a realização de um projeto que prescreve, para além do
Política e da História.
si mesmo e na sua relação com os homens no presente, a sua própria fundamentação, mas
realização de algo que lhe é externo, seja uma utopia com conteúdos de esquerda ou de
direita. A necessidade enunciada por aqueles que defendiam ou ainda defendem esta forma
de instituição provisória se fundamenta tão somente nas diretrizes simbólicas de sua utopia.
o futuro e nele encontra sua forma de justificativa, mesmo quando castas e nomenclaturas
do medo e da destruição.