Você está na página 1de 9

Neurociências: as novas

rotas da educação
Fgª. Lana Bianchi e Fgª. Vera Mietto

Imagem: http://teens.drugabuse.gov/blog/tag/neuroscience/
Os avanços e descobertas na área da neurociência ligada aos processos de
aprendizagem é sem dúvida, uma revolução para o meio educacional. A
Neurociência da aprendizagem é o estudo de como o cérebro trabalha com as
memórias, como elas se consolidam, como se dá o acesso ás informações e
como elas são armazenadas.

Quando falamos e pensamos em Educação e Aprendizagem, falamos em


processos neurais, redes que estabelecem conexões e que realizam sinapses.

Mas como entendemos Aprendizagem?

Aprendizagem nada mais é do que esse maravilhoso e complexo processo


pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, e ativa suas sinapses
(ligações entre os neurônios por onde passam os estímulos), tornando-as mais
“intensas” e velozes. A cada estímulo, cada repetição eficaz de
comportamento, torna-se consolidado, pelas memórias de curto e longo prazo,
as informações, que guardadas em regiões apropriadas, serão resgatadas para
novos aprendizados.

A Neurociência vem-nos descortinar o que antes conhecíamos sobre o cérebro,


e sua relação com o Aprender. O cérebro, esse órgão fantástico e misterioso, é
matricial nesse processo. Suas regiões, lobos, sulcos, reentrâncias tem cada
um sua função e importância no trabalho conjunto, onde cada área necessita e
interage com o desempenho do hipocampo na consolidação de nossas
memórias, com o fluxo do sistema límbico (responsável por nossas emoções)
possibilitando desvendar os mistérios que envolvem a região pré-frontal, sede
da cognição, linguagem e escrita ecompreender as vias e rotas que norteiam a
leitura e escrita (regidas inicialmente pela região visual mais específica
(parietal) que reconhece as formas visuais das letras e depois acessa outras
áreas para a codificação e decodificação dos sons para serem efetivadas.

Imagem: http://www.psiquiatriainfantil.com.br/biblioteca_de_pais_ver.asp?codigo=58
Faz-se mister entender os mecanismos atencionais e comportamentais de
nossas crianças padrão das crianças TDAH e estudar suas funções executivas
e sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal, hoje muito relevante na
educação.
Compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e escrita (regidas
inicialmente pela região visual mais específica (parietal) que reconhecem as
formas visuais das letras e depois acessa outras áreas para a codificação e
decodificação dos sons para serem efetivadas.

Penetrar nos mistérios da região temporal relacionado à percepção e


identificação dos sons onde os reconhece por completo (área temporal verbal)
possibilitando a produção dos sons para que possamos fonar as letras. Não
esquecer a região occipital, que abriga como uma de suas funções o coordenar
e reconhecer os objetos, assim como o reconhecimento da palavra escrita.

Assim, cada órgão se conecta e interliga-se no processo, onde cada estrutura


com seus neurônios específicos e especializados desempenham um papel na
base do Aprender.

Estudos na área neurocientífica centrados no manejo do aluno em sala de aula


nos esclarece que o processo aprendizagem ocorre quando dois ou mais
sistemas funcionam de forma inter relacionada (conectada). Assim podemos
entender como é valioso aliar a música, os jogos, e movimentos em atividades
escolares e ter a possibilidade de trabalhar simultaneamente mais de um
sistema: auditivo, visual e até mesmo o sistema tátil com atividades lúdicas,
esportivas, e todos os movimentos surgindo de dentro para fora (psico-
motricidade), desempenho este que leva-nos ao Aprender

Podemos então eferir, desta forma, que o uso de estratégias adequadas em


um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará conseqüentemente
alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas melhorando
assim o funcionamento cerebral, de forma positiva e permanente, com
resultados satisfatórios e eficazes.

Os games (adorados por crianças e adolescentes) ainda em discussão no


âmbito acadêmico são fantásticos na forma de manter os alunos “plugados” e
podem ser mais uma ferramenta mediadora que possibilita estimular o
raciocínio lógico, atenção, concentração, conceitos matemáticos através de
atividades como: cruzadinhas, caça-palavras e jogos interativos que
desenvolvem a ortografia, de forma desafiadora e prazerosa para alunos.

O grande desafio dos educadores é viabilizar uma aula que “facilite” esse
disparo neural, este gatilho, a sinapse e o funcionamento desses sistemas,
sem que necessariamente o professor tenha que saber como lidar
individualmente com cada aluno. Quando ciente da modalidade de
aprendizagem do aluno, (e isso não está longe de ser inserida na grade de
formação de nossos educadores) o professor saberá quais e melhores
estratégias utilizar e certamente fará uso desse meio facilitador no processo
Ensino – Aprendizagem.

Outra descoberta é que através de atividades prazerosas e desafiadoras o


“disparo” entre as células neurais acontece mais facilmente: as sinapses
fortalecem-se e as redes neurais são estabelecidas com mais rapidez
(velocidade sináptica).
Sinapse

Rede neural

comunicação entre neurônios

Mas como desencadear isso em sala de aula? Como o professor pode ajudar
nesse “fortalecimento neural”?

Todo ensino desafiador ministrado de forma lúdica tem esse efeito: aulas
dinâmicas, divertidas, ricas em conteúdo visual e concreto, onde o aluno não é
um mero observador de o seu próprio saber o deixam “literalmente ligado”,
plugado, antenado.
Imagem: http://neurosci.umin.jp/e/sensory_motor_neuroscience.html
O conteúdo antes desestimulador e cansativo para o aluno é substituído por
um professor com nova roupagem que propicia novas descobertas, novos
saberes; é dinâmico e flexível, plugado em uma área informatizada, aonde a
cada momento novas informações chegam ao mundo desse aluno. Professor e
aluno interagem ativamente, criam, viabilizam possibilidades e meios de fazer
esse saber, construindo juntos a aprendizagem com todas as rotas: auditivas,
visuais, táteis e neste universo cheio de informações, faz-se a nova Educação
e um novo modelo de Aprender.

Uma aula enriquecida com esses pré-requisitos é envolvente e dinâmica: é o


saber se utilizar de possibilidades onde conhecimento Neurocientífico e
Educação caminham lado a lado.

Mas como isso é possível? O que fazer em sala de aula?

A seguir algumas sugestões adotadas:

(1) Estabelecer regras para que haja um convívio harmonioso de todos em sala
de aula, onde alunos sejam responsáveis pela organização, limpeza e
utilização dos materiais. Ao opinar e criar regras e normas adotadas, eles se
sentirão responsáveis pela sala e espaço escolar.

(2) Utilizar materiais diversificados que explorem todos os sentidos. Visual:


mural, cartazes coloridos, filmes, livros educativos; Tátil: material concreto e
objeto de sucata planejado. Há uma riqueza de sites na internet que nos
disponibilizam atividades produtivas e prazerosas. A criatividade aflora e a aula
torna-se muito divertida; Auditivo: música e bandinhas feitas com material de
sucata, sempre com o conteúdo pedagógico inserida nelas. A criação de
músicas e paródias sobre conteúdos é uma forma muito divertida de aprender.
Talentos apareceram em salas de aula. E quem não gosta de cantar? Aulas
com dinâmica treinam as memórias de curto prazo e a auditiva (elas são
trabalhadas em áreas hipocampais) e assim retidas em memória de longo
prazo, efetivando o Aprendizado!
3) O cantinho da “leitura” é um pedaço de criar idéias, deixar o “Novo” entrar na
mente, através dos signos e símbolos. (Significados e significante)

4) Estabelecer rotinas onde possam realizar trabalhos individuais, em dupla,


em grupos (rotinas estabelecidas reforçam comportamentos assertivos e
organização). Crianças com TDAH, que apresentam mal funcionamento das
funções executivas se beneficiam com rotinas e regras pré estabelecidas. O
trabalho em equipe é relevante, ativa as regiões límbicas (responsáveis pelas
emoções) e como sabemos o aprender está ligado à emoção, e a consolidação
do conteúdo se faz de maneira mais efetiva. (hipocampo)

(5) Trabalhar o mesmo conteúdo de várias formas possibilita aos alunos “mais
lentos” oportunidades de vivenciarem a aprendizagem de acordo com suas
possibilidades neurais. Dê aos mais rápidos atividades que reforcem ainda
mais esse conteúdo, mantendo-os atentos e concentrados para que os alunos
com processos mais lentos não sejam prejudicados com conversas e agitação
do outro grupo de crianças.

A flexibilidade em sala de aula permite uma aprendizagem mais dinâmica e


melhor percebida por toda a classe. O professor que administra bem os
conflitos em sala de aula possui “jogo de cintura” e apresenta o conteúdo com
prazer, mantendo seus alunos “plugados”, com interesse em aprender mais,
movidos pela novidade: o prazer faz uma internalização de conceitos de
maneira lúdica e eficaz.

Desta forma, somos sabedores deste mecanismo neural que impulsiona a


aprendizagem, das estratégias facilitadoras que estimulam as sinapses e
consolidam o conhecimento, da magia onde cada estrutura cerebral interliga-se
para que todos os canais sejam ativados. Como numa orquestra afinadíssima,
onde a melodia sai perfeita, de posse desses conhecimentos e descobertas,
será como reger uma orquestra onde o maestro saberá o quão precisamente
estão afinados seus instrumentos e como poderá tirar deles melodias
harmoniosas e perfeitas!

A Neurociência veio para ser grande aliada do professor na atualidade, em


identificar o individuo como ser único, pensante, atuante, que aprende de uma
maneira pessoal, única e especial. Desvendar os segredos que envolvem o
cérebro no momento do Aprender, facilita nosso professor.

Surge um novo professor (neuroeducador), a buscar conhecimento sobre como


se processam a linguagem, memória, esquecimento, humor, sono, medo, como
interagimos com esse conhecimento e conscientemente envolvido na
aprendizagem formal acadêmica. Em posse desses novos conhecimentos é
imprescindível desenvolver uma pedagogia moderna, ativa, contemporânea,
que capacite novos professores, para formar novos alunos às exigências do
aprendizado em nosso mundo globalizado, veloz, complexo e cada vez mais
exigente.
Conceitos como neurônios, sinapses, sistemas atencionais, (que viabilizam o
gerenciamento da aprendizagem), mecanismos mnemônicos (consolidação das
memórias), neurônios espelho (que possibilitam na espécie humana
progressos na comunicação e compreensão no aprendizado), plasticidade
cerebral (ou seja, o domínio de como o cérebro continua a desenvolver-se e a
sofrer mudanças) serão discutidos por neurocientístas, neuropedagogos e
família. A sala de aula será palco da ciência e neurociência, onde o educador
domina os processos do cérebro para Aprender, e assim possibilita criar novas
estratégias para Ensinar.

Através desta neurociência, os transtornos comportamentais e de


aprendizagem passam a ser vistos e compreendidos com clareza pelos
educadores, que aliados a esta novidade educacional encontram subsídios
para a elaboração de estratégias mais adequadas a cada caso. Um professor
qualificado e capacitado, com método de ensino adequado e uma família
facilitadora dessa aprendizagem são fatores para que todo o conhecimento que
a neurociência nos viabiliza seja efetivo, interagindo com as características do
cérebro de nosso aluno e do professor. Esta nova aliada habilita o educador a
ampliar suas atividades educacionais, abrindo uma nova rota no campo do
aprendizado e da transmissão do saber, cria novas faces do Aprender,
consolida o papel do educador, como um mediador e o aluno como participante
ativo do pensar e aprender.

Bibliografia

ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente.


Petrópolis: Vozes, 2001.

CAPOVILLA, F. C. (2002). Neuropsicologia e Aprendizagem: Uma


abordagem multidisciplinar. São Paulo, SP: SBNp, Scortecci.

CAPOVILLA, A. G. S., & CAPOVILLA, F.C. (2000). Problemas de leitura e


escrita: como identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São
Paulo, SP: Memnon-Fapesp.

CAPOVILLA, F. C. (2002). Neuropsicologia e Aprendizagem: Uma


abordagem multidisciplinar. São Paulo, SP: SBNp, Scortecci.

CAPOVILLA, F. C., & CAPOVILLA, A. G. S. (2001). Compreendendo a


natureza dos problemas de aquisição de leitura e escrita: Mapeando o
envolvimento de distúrbios cognitivos de discriminação fonológica, velocidade
de processamento e memória fonológica. Cadernos de Psicopedagogia, 1(1),
14-37.

CAPOVILLA, F. C., & CAPOVILLA, A. G. S. (no prelo). Avaliação de cognição


e linguagem da criança.
FONSECA, Vítor (2004). Dificuldades de Aprendizagem, Abordagem
Neuropsicológica e Psicopedagógica ao Insucesso Escolar. Editora Âncora.
Lisboa

FONSECA, V. da. Aprender a Aprender: a educabilidade cognitiva. Porto


Alegre: Artmed, 1998.

FRASSON, M.A. – Programa de Prevenção e Identificação Precoce dos


Distúrbios da Audição. In SCHOCHAT, E. – In: In: SCHOCHAT, E. (org.) - In:
Processamento Auditivo - Série Atualidades em Fonoaudiologia, Vol II. São
Paulo, LOVISE, 1996. p. 65-105.

KANDEL,E.R. Princípio da Neurociência. Ed.Manoele.2002.

LENT, Roberto.Cem bilhões de neurônios. São Paulo: Ed Atheneu-2006

LURIA, A. R. (1974). EL CEREBRO EN ACCÍON. (P.127-140). Barcelona:


Fontanella. Marcilio, L. F. (no prelo) Relações entre Processamento
Auditivo, Consciência Fonológica, Vocabulário, Leitura e Escrita.

MIETTO ,Vera e BIANCHI, Lana. http://www.projetogatodebotas.org.br/-


artigo: “Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno
na Escola”,2010 acesso em 03-01-2010

PANTANO, Telma e Zorzi, Jaime Luiz. Neurociência Aplicada á


aprendizagem. São José dos Campos: Pulso,2009.

PEREIRA, L. D., NAVAS, A. L. G. P., & SANTOS, M. T. M.


(2002). Processamento auditivo: uma abordagem de associação entre a
audição e a linguagem. Em M. T. M. Santos, & A. L. G. P. Navas (Ed.),
Distúrbios de Leitura e Escrita: teoria e prática. São Paulo, SP: Ed. Manole.

PEREIRA, L.D. - Processamento Auditivo Central: Abordagem Passo a


Passo. In: PEREIRA,L.D., SCHOCHAT, E. - In: Processamento Auditivo
Central - manual de avaliação, São Paulo, LOVISE, 1997. p. 49-59.

ROTTA, Newra Tellecha…[et al.] Transtornos da Aprendizagem: Abordagem


Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed,2006

ZORZI,J.L. – Aprendizagem e Distúrbios da Linguagem escrita – questões


clínicas e educacionais. Porto Alegre, Artmed, 2003

Revista Cérebro & Mente – O livro do cérebro – no 1 e 2 – São Paulo-SP:


Dueto, 2009
http://pt.photaki.com/picture-ativa-as-celulas-nervosas-sinapses-sinapse-
sinapses-as-sinapses_150205.htm
Vera Lucia de Siqueira Mietto, Fonoaudióloga, Psicopedagoga,
Neuropedagoga, atuação em fonoaudiologia e neurociências em crianças e
adolescentes com Distúrbios da Aprendizagem- CFfa 3026-1979-UESA - Rio
de Janeiro- RJ e Tutora EAD do www.chafic.com.br e docente da UNICEAD na
pós graduação de Monte Claros-MG.

Lana Cristina de Paula Bianchi, Fonoaudióloga, Pedagoga, Psicopedagoga,


Atuação em Neurociências em Crianças e Adultos na FAMERP- FUNFARME-
São Jose Rio Preto- SP- Especialista em linguagem no Projeto Gato de Botas-
Distúrbios de Aprendizagem;www.projetogatodebotas.org.br; CRFª: 2907-
1982- PUCC- Campinas-SP- Profª na Disciplina de Psicologia-UNILAGO- São
Jose Rio Preto-SP- Linguagem e Cognição- 2010- Orientadora em monografias
no curso de pós-graduação de Psicopedagogia- Famerp- 2010- Campo de
pesquisa: Linguagem infantil e adulto-

Lana Cristina de Paula Bianchi


Rua Orsini Dias Aguiar nº410-Jardim Alvorada- São José do Rio Preto SP -
Tel: 17-32357001

Vera Lúcia de Siqueria Mietto


Rua Dr Waldir Cabral nº 22 apto 1503- Vital Brasil –Niterói RJ
Tel: 21-27196529

http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2012/05/neurociencias-as-novas-
rotas-da.html

http://www.psiquiatriainfantil.com.br/biblioteca_de_pais_ver.asp?codigo=58

https://www.aprendercrianca.com.br/neurociencias-da-educacao

https://www.researchgate.net/publication/
285413881_ESCOLAS_CONFESSIONAIS_PROTESTANTES_ASPECTOS_DAS_PRATICAS_PEDAGOG
ICAS

http://psicoterapiabahia.blogspot.com/2012/01/

Você também pode gostar