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Os povos

germânicos e o
fortalecimento
da Igreja
Professora Beatriz Souza Oliveira
Disciplina: História
Reinos Germânicos
No início do século V, o território que compunha o Império
Romano do Ocidente – onde hoje se localizam vários países
europeus – foi invadido por diversos povos, principalmente
pelos germânicos (também chamados de germanos): visigodos,
ostrogodos, burgúndios, anglos, saxões, francos, hérulos,
vândalos e outros. Esses povos tinham crenças, idiomas,
valores culturais e formas variadas de organização política.
Eles criaram diversos reinos, a maioria teve curta duração.

Segundo o historiador inglês Perry Anderson, em termos


político-administrativos ocorreu nesses novos reinos um lento
processo de integração de elementos romanos e germânicos.
Em termos sociais, o resultado desse processo foi a formação
de dois grupos distintos e sobre os quais se estruturou a
sociedade: a aristocracia rural (composta de grandes
proprietários) e o campesinato (completamente dependente dos
donos de terra). Devido à miscigenação cultural entre romanos
Fonte:https://static.todamateria.com.br/upload/po/v e germânicos, nasceu um novo tipo de sociedade, que se
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tornaria a base dos atuais povos europeus
Relações de dependência
Os soberanos germânicos consideravam que seus reinos
eram propriedade pessoal. Por isso, entendiam que tinham
direito de reparti-los entre os filhos ou de doar extensões de
terras a pessoas que lhes prestavam serviços importantes.

Para manter seus povos unidos em torno de sua autoridade,


procuravam mobilizá-los em constantes campanhas militares.
As guerras permitiam que os nobres mais poderosos
organizassem seus próprios exércitos, recrutando guerreiros
aos quais ofereciam um soldo ou a garantia de subsistência.

Em troca de proteção, muitos guerreiros doavam suas


pequenas propriedades a um chefe poderoso, que lhes
assegurava o direito de continuar trabalhando em suas antigas
terras. Embora livres, essas pessoas tornavam-se dependentes
dos senhores aos quais se ligavam, de modo que a linha que
separava a servidão da liberdade passou a ser muito tênue. Aos
Fonte:https://images.educamaisbrasil.com.br/content poucos, o poder desses nobres cresceu em detrimento do
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do-feudalismo.jpg poder real
Fuga para o campo
No século VI, um surto de peste
bubônica assolou a Europa, reduzindo
drasticamente sua população.
Assustadas, muitas pessoas
abandonaram as cidades, onde a
mortalidade era maior, e foram para o
campo. Em ruínas, embora nunca
totalmente despovoadas, as cidades
passaram a ganhar ocasionalmente
comerciantes e peregrinos durante
festas religiosas. Com a ruralização, o
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comércio declinou.
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A Igreja Católica se fortalece
Com o processo de enfraquecimento do poder real, de
fortalecimento da nobreza rural, de desaparecimento e
surgimento de reinos, uma instituição conseguiu superar as
adversidades, permanecer unida e se fortalecer: a Igreja
católica.

Religião oficial do Império Romano do Ocidente desde o


ano 380, o cristianismo foi pouco a pouco adotado pelos
reinos germânicos surgidos na Europa ocidental a partir do
século V. Com o tempo, a Igreja acumulou vastas
extensões de terra e outros bens materiais transformando-
se na mais rica e poderosa instituição da Europa ocidental.
As propriedades da Igreja – diferente do que ocorria com
os nobres, cujos bens eram repartidos após a morte devido
ao direito de herança – não podiam ser divididas, pois não
pertenciam a seus membros, mas à própria instituição.
Dessa forma, além do poder espiritual, a Igreja passou a
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deter um amplo e sólido patrimônio material.
O poder terreno (também chamado de
poder temporal) e o poder ideológico da
instituição religiosa na sociedade começaram
a se firmar quando alguns reis germânicos se
converteram ao cristianismo. Foi o caso de
Clóvis, rei dos francos, cuja conversão em
496 abriu caminho para uma sólida aliança
entre a Igreja católica e o poder real. A união
mostrou-se vantajosa para ambas as partes.
De um lado, a Igreja obtinha apoio de uma
força política e militar capaz de garantir sua
sobrevivência; de outro, o rei amparava-se
na Igreja como forma de legitimar seu poder
e usufruía da organização administrativa do
Fonte:https://1.bp.blogspot.com/- clero para governa
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Os francos e o império carolíngio
No início do século V os francos invadiram a
região da Gália (atual França). No final do século,
já dominavam grande parte da Europa central.
Essa política expansionista era muito bem vista
pela hierarquia eclesial, pois o crescimento do
Reino Franco significava também a difusão da fé
cristã.

Em 732, já governados pela dinastia Carolíngia,


um forte exército de cavaleiros couraçados
francos impediu o avanço dos muçulmanos na
Europa, na batalha de Poitiers. Após essa vitória,
os carolíngios passaram a ser vistos como os
grandes defensores do mundo cristão.
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Posteriormente, os laços entre a Igreja e os reis
content/uploads/2009/02/clovis-rei-dos-francos.jpg francos iriam se fortalecer ainda mais.
Os francos e o império carolíngio
Carlos assumiu o reino Franco em 771 e iniciou um período de conquistas
territoriais e de expansão do cristianismo. Em dezembro do ano 800, durante as
celebrações do Natal, o papa Leão III coroou Carlos como imperador dos
romanos, com o título de Carlos Magno. O episódio representava o
fortalecimento da união entre o reino e a Igreja e uma tentativa de restaurar o
antigo Império Romano do Ocidente, tornando o rei um representante de Deus
na Terra.

No plano político-administrativo e jurídico, Carlos Magno assumiu o controle


dos tribunais, padronizou o sistema de cunhagem de moedas e passou a fazer
uso crescente de documentos escritos.
O vasto território carolíngio foi organizado e dividido em partes. Cada
segmento ficou sob o governo de um nobre. Foi criada uma estrutura
hierárquica que seria, posteriormente, utilizada na formação de outros reinos e
perpetuada: os condados eram governados por condes; as marcas eram
administradas pelos marqueses; e vários condados reunidos formavam um
ducado, sob o comando dos duques.
Fim do império Carolíngio
O processo de renascimento cultural do
Império Carolíngio entrou em crise após a
morte de Carlos Magno, em 814. Uma geração
depois, a unidade do reino se desfez e o
império foi dividido entre seus três netos.

Posteriormente, disputas internas e invasões


estrangeiras, como a dos normandos (também
chamados de vikings) provenientes da
Escandinávia, levaram ao enfraquecimento do
poder central. A falência da centralização
político-administrativa desses reinos deu
origem à sociedade feudal.
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A Igreja no início do século XI
No período medieval, a Igreja católica estava
organizada em províncias e dioceses comandadas,
respectivamente, por um arcebispo ou por um patriarca,
de acordo com o lugar, e por um bispo. Abaixo deles
vinham os diáconos, que lhes davam assistência e
também socorriam os doentes. As comunidades rurais
de cada diocese eram assistidas por padres.

Os membros da Igreja (também chamados de


eclesiásticos) junto com o patriarca de Roma (chamado
de papa a partir do século V) formavam o clero.
Segundo a doutrina da Igreja, o patriarca de Roma,
instalado no palácio de Latrão (no atual Vaticano), era
sucessor direto de São Pedro, apóstolo a quem Cristo
teria confiado a missão de edificar sua Igreja na Terra.
Status social e poder
No início do século XI, a Igreja era uma instituição da
sociedade medieval e, em seu interior, reproduziam-se
características desse sistema. O alto clero, por
exemplo, tinha o mesmo status da nobreza, com acesso
à terra e a outros bens materiais. Com isso, estava
sujeito aos mesmos defeitos que outros membros da
sociedade, inclusive, vulnerável à corrupção.

A fim de corrigir esses desvios, alguns clérigos


decidiram realizar uma profunda reforma moral e
religiosa na instituição. Em 910, foi aberto um mosteiro
beneditino em Cluny, cidade da França atual, cujos
monges reformaram radicalmente o modo de vida
monástica. Outros mosteiros beneditinos foram criados
então por quase toda a Europa, todos eles submetidos à
autoridade do abade de Cluny.
Status social e poder
Posteriormente, em 1059, durante o concílio de Latrão,
o papa Nicolau II estabeleceu outras mudanças: confirmou o
celibato dos padres, proibiu a indicação de bispos por reis
sem autorização papal (prática conhecida como investidura)
e definiu que os papas seriam eleitos por cardeais. Até
então, eram reis e imperadores que selecionavam os papas.
Essas mudanças contribuíram para restaurar durante algum
tempo a dignidade da Igreja, do papado e do clero.

Outro importante momento de ampliação do poder


eclesiástico ocorreu em 1075. Naquele ano, o papa Gregório
VII publicou uma bula (documento com ordens do papa), na
qual assegurava o direito papal de derrubar imperadores,
reafirmava a infalibilidade da Igreja e estabelecia a pena de
excomunhão (que, segundo a Igreja, privava o penitente da
salvação divina após sua morte) para quem desobedecesse
às determinações da instituição.
As cruzadas
O movimento das Cruzadas – expedições de caráter
religioso e militar organizadas com o objetivo de retomar
Jerusalém do domínio muçulmano – teve início em 1095,
quando o papa Urbano II convocou os cristãos prometendo
a salvação da alma a todos que participassem do
movimento.

O aspecto religioso foi apenas um pretexto; muitos outros


interesses estavam em jogo. Com as Cruzadas, o papa
pretendia recuperar o prestígio e a unidade da Igreja,
abalados pela corrupção e pelo Cisma do Oriente, em
1054. Os nobres estavam interessados em pilhar riquezas
e conquistar novas terras; já os mercadores da península
Itálica esperavam que as Cruzadas promovessem a
reabertura do comércio no Mediterrâneo, dominado pelos
Fonte: https://www.clashroyaledicas.com/wp- muçulmanos. Os camponeses, por sua vez, ingressaram
nas Cruzadas sonhando com a conquista da liberdade.
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As cruzadas
Entre os séculos XI e XIII, foram
organizadas oito dessas expedições militares,
algumas sob o comando de reis e da alta
nobreza. Embora o ponto de chegada fosse
Jerusalém, na região da Palestina, o lugar de
origem de cada Cruzada era bem variado,
assim como as rotas traçadas, passando por
toda a Europa.

Antes mesmo da Primeira Cruzada (oficial),


um número expressivo de pobres e miseráveis
marchou para Jerusalém; essa expedição ficou
conhecida como “Cruzada dos Mendigos” e foi
destruída antes de chegar a Jerusalém.
As cruzadas
A Primeira Cruzada (1095-1099), composta
principalmente por grande contingente de
cavaleiros, foi a única que conquistou
Jerusalém, o que ocorreu em 1099. Os
muçulmanos, porém, reconquistaram a cidade,
sob a liderança do sultão Saladino, em 1187.
Depois dessa primeira expedição, nenhuma das
outras Cruzadas alcançou o objetivo de
recuperar a Terra Santa definitivamente. No
entanto, elas contribuíram para estimular o
comércio entre o Oriente e o Ocidente,
trazendo riqueza para muitas cidades da
península Itálica, como Veneza e Gênova. Outra
Fonte:https://www.clashroyaledicas.com/wp-
consequência foi o fortalecimento da figura do
content/uploads/2016/02/cavaleiro-troop-clash-royale-
knight.png cavaleiro.
A Inquisição (tribunal do santo Ofício)
A Igreja católica levou vários séculos para
consolidar sua doutrina religiosa como um credo único
e universal. Durante o período de estabilização, ideias
divergentes sobre questões dogmáticas suscitaram
diversas polêmicas entre os dirigentes da Igreja e até
entre os fiéis.
A partir do século XII, todos os que divergissem ou
levantassem dúvidas sobre os dogmas (os chamados
hereges) passaram a sofrer forte repressão. Em 1184,
uma bula papal determinou que os bispos
excomungassem não apenas os hereges, mas também
as autoridades que se omitissem ou que se negassem
a puni-los. A opressão tornou-se mais rigorosa a
partir de 1233, quando o papa Gregório IX criou o
Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como
Fonte:https://www.clashroyaledicas.com/wp-
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Inquisição para investigar, perseguir e punir os
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hereges.
A Inquisição (tribunal do santo Ofício)

Durante sua vigência, a Inquisição


aterrorizou a Europa, pois qualquer
pessoa podia ser acusada de heresia e
condenada à morte na fogueira. Em
1252, o papa Inocêncio IV autorizou os
inquisidores a utilizarem a tortura
como método de extrair confissões
dos acusados.
Crise do poder religioso
O renascimento do comércio e das cidades
europeias a partir do século XI favoreceria aos
poucos a centralização do poder político nas
mãos dos reis, provocando o enfraquecimento
da autoridade religiosa e do poder temporal do
papa.

Para esse declínio contribuiriam também as


denúncias cada vez mais frequentes contra o
luxo e a corrupção do alto clero. A crise
chegaria a tal ponto que, no início do século
XV, a Igreja seria comandada por três papas ao
mesmo tempo. A reação a tudo isso viria no
início do século XVI com a Reforma
protestante.
Bibliografia
Livros:
AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. História: passado e presente. v. 1,
1.ed. São Paulo: Ática, 2016.
COTRIM, Gilberto. História global 1. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
MEDEIROS, Daniel Hortêncio de. Extensivo Modular: história. Curitiba:
Positivo, 2004.
PELLEGRINI, Marco César; DIAS, Adriana Machado; GRINBERG, Keila. 1. ed. -
São Paulo: Quinteto Editorial, 2016. (Coleção #contato história)

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