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CONCEITUAL ILUSTRAÇÃO: MERIEN RODRIGUES / CORES: FERNANDO CALEGARI

A liderança em mutação
Existe um estilo de liderança mais adequado que outro? Quem estava
mais certo na maneira de comandar as suas seleções na Copa do Mundo,
Parreira ou Felipão? Descubra o que as empresas esperam de seus
líderes e como cada estilo depende da maturidade da equipe e do
diagnóstico da situação. Por Loraine Calza

A
derrota da Seleção Brasileira na Copa da Ale- nizações e os estudos sobre a inteligência emocional —
manha não suscitou apenas o debate sobre a capacidade de lidar com as pessoas no ambiente de
a qualidade do futebol apresentado no cam- trabalho — fizeram surgir novos tipos de líderes, em um
po. O estilo de liderança (racional e focado em resulta- processo que tem passado por constantes mutações.
dos) do técnico Carlos Alberto Parreira passou a ser con- "Hoje, os líderes mais valorizados são aqueles que
testado, tendo como contraponto o jeito "paizão" de têm uma visão de futuro, são mais ágeis, mais apaixonados
Felipão, que já havia dado certo na Copa de pelo que fazem do que preparados, têm cora-
2002, com dose repetida à frente da seleção gem e trabalham com a sensibilidade e a
portuguesa neste ano. Nada mais simbóli- intuição", analisa a consultora sênior da
co que a cena de um Parreira atônito à consultoria Franquality, Rosa Argolo. "Nor-
beira do gramado, no vexame diante da malmente, ao assumir o poder, a pessoa se
França, em oposição a um vibrante baseia, no início, nos modelos mais arcai-
Felipão, apesar da derrota para a mesma cos de liderança que conhece, por exemplo,
equipe francesa. militar ou religioso. Elafaz isso porque
Discussões futebolísticas à parte, encon- tem medo do desconhecido,
trar um estilo certo de liderança é algo que do que não domina, mas essa
sempre preocupou as empresas. Logica- postura pode e deve ser
mente, até umas décadas atrás, havia mudada", salienta.
um predomínio do estilo tradicio- De acordo com ela, as
nal. Era a época do "manda empresas também têm va-
quem pode, obedece quem lorizado muito o amor pelo
tem juízo", em que o chefe trabalho, a motivação. A
centralizava o poder e con- própria escolha do novo
seguia seus objetivos por meio técnico da Seleção Brasilei-
da ameaça, em uma relação ra, o ex-jogador Dunga, é
ganha-perde (veja quadro um exemplo disso. "Os di-
na pág. 40). A evolução dos rigentes buscaram um si-
negócios, a necessidade de nônimo de garra e amor à
competitividade das orga- camisa, alguém que jogou

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CONCEITUAL

sempre com motivação." vidades, se preocupando mais com a tarefa do que com
O consultor Carlos Alberto Pescada, que atua junto ao os relacionamentos. No momento em que a equipe já
Idort- Instituto Racional do Trabalho, entidade voltada para aprendeu a execução, é hora de orientar, levando mais
o treinamento corporativo, concorda: "A liderança hoje é em conta os relacionamentos. O compartilhar entra quan-
o processo de estimular as pessoas no sentido de se moti- do a situação é quase conhecida e é hora, então, de me-
varem para alcançar determinado objetivo ou finalidade". xer com a auto-estima e dividir as responsabilidades. Por
último, nos momentos de total domínio das atividades,
TAREFAS X PESSOAS vem o delegar, que trabalha com a auto-realização do
Na opinião do consultor, o estilo de liderança deve ser indivíduo. Nesse estágio, o profissional precisa ser logo
determinado pelo nível de maturidade da equipe e promovido, entrarem um plano sucessório para
pelo diagnóstico da situação. É o que se chama não perder a motivação.
de liderança situacional, um processo de É claro que os estilos e conceitos não
administração de pessoas por meio do qual são param por aí. Um dos livros mais vendidos
efetuadas a análise e identificação das caracterís- no Brasil, O Monge e o Executivo (Editora
ticas situacionais (maturidade funcional) visan- Sextante), de James Hunter, falado líder servi-
do a aplicar um estilo de gerenciamento adequado dor, aquele que tem como virtudes indispen-
a uma determinada situação. "O líder da atual idade sáveis o respeito, a responsabilidade e o
precisa ter essa capacidade de adaptação às cuidado com as pessoas e está, funda-
necessidades do momento, traba- mentalmente, disposto a servir. Se
lhando com duas dimensões: a esse é um modismo ou um
Orientação para as Tarefas, estilo que vai predominar
com ações voltadas para a nas empresas, é difícil sa-
produção ou para a realiza- ber. Mas há uma certeza:
ção do trabalho; e a Orien- o chefe mandão e pou-
tação para as Pessoas, com co preocupado com os
ações voltadas para o bem- relacionamentos está
estar e desenvolvimento extinto ou condenado à
das pessoas." extinção. Que o técni-
Quando, por exemplo, co Dunga se lembre dis-
uma equipe assume um so quando assumir, no
trabalho desconhecido, o campo, o comando da
líder deve determinar as ati- nossa Seleção...

Fonte: Feira & Cia, ano 9, n.70, p.38-40, 2006.

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