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No versículo anterior, vimos que Tiago se dirige àqueles irmãos que não conseguem
seguir seu conselho de encontrar sabedoria nas provações. Não conseguem ter essa
visão que precisa de maturidade e sabedoria, então ele exorta que, se existe alguém
assim na comunidade cristã, essa pessoa deve pedir a Deus sabedoria, que concede de
forma abundante a todos que o pedem, sem discriminação.
“Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda
do mar, impelida e agitada pelo vento”.
(Tiago 1:6)
I. Peça-a, porém,...
II. com fé,...
III. em nada duvidando;...
IV. pois o que duvida é semelhante...
V. à onda do mar,...
VI. impelida e agitada pelo vento.
I. Peça-a, porém,... (gr.: αἰτείτω δὲ): Se você voltar o versículo 5, verá que Tiago já
usou a palavra “porém”, mas se você ler atentamente, a mesma palavra tem um
significado levemente diferente. No v. 5 ele diz “se, porém”, em outras palavras, “caso
haja entre vós”, o que aponta para uma possibilidade, significando algo como: “caso
haja dentre nós alguém que falta sabedoria, peça a Deus.” Aqui o “porém” tem o
sentido de “condição”. Ou seja, a pessoa sem sabedoria pode e deve pedir sabedoria,
mas tem um “porém” quando ele for pedir, há uma condição para que seu pedido seja
recebido.
II. com fé,... (gr.: ἐν πίστει): Este é o porém. Ninguém pode pedir algo a Deus sem fé.
Agora, todos nós temos uma ideia básica do que significa “fé”. De forma simplória,
pode significa “crença” em algo. A palavra “fé” é derivada do latim. Sua origem vem
do termo FIDELITAS, que significa de maneira ampla “adesão”, por sua vez, se
originou da palavra FIDELIS, “fiel”. Nesse sentido, “fé” tem um sentido de “adesão”,
ou “aceitação a um conjunto de crenças”, e depois da adesão, uma atitude de
fidelidade a ela. Em grego, a palavra πίστις tem a ideia de “convicção constante a
algo”. A próprio Bíblia, quase que de forma dicionarística, tem uma definição, em
termos gerais, sobre o que é fé em Hebreus 11:1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que
se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” 1 (Hebreus 11:1) Em termos
simples, pedir com fé significa pedir e esperar com a convicção de que Deus nos ouve
e nos dará sabedoria. E essa sabedoria será concedida por Deus, ela não vai brotar do
nada, mas irá germinar como uma semente, seja por um ocorrido, um conselho, um
versículo, uma intuição, e todas as diversas formas que Deus pode falar conosco.
IV. pois o que duvida é semelhante... Na carta de Tiago há muitas analogias, figuras
de linguagem, comparações com coisas do cotidiano para simplificar seu ensino. Aqui
ele vai fazer uma comparação com uma imagem bem comum aos judeus,
especialmente aqueles com familiaridade com o Mar da Galileia. O ponto de
comparação entre o cristão duvidoso é a palavra “semelhante”. Mas, semelhante ao
quê? Tiago diz:
V. à onda do mar,... Qual a semelhança entre uma onda do mar, e uma pessoa que
pede a Deus sabedoria e ao mesmo tempo duvida? Uma onda no mar não é constante.
Ela possui três estágios: Ela cresce, atinge o apogeu, que é o máximo de sua altura,
depois quebra, arrebenta-se em uma explosão de espuma. A onda não tem constância.
Do mesmo jeito que ela vem, ela vai. As ondas também são formadas por forças
aleatórias, ventos, o sobe e desce das marés. A pessoa que não tem fé é assim
semelhante. No início ela cresce na empolgação, de longe parece ser um exemplo de
fé, até que, ao chegar no seu clímax, seu apogeu, o máximo da sua altura, cai e se
arrebenta, porque, como a onda, ela não é uma pessoa constante.
VI. impelida e agitada pelo vento. Aqui Tiago complementa sua analogia tirada do
mar. A onda, em sua formação, possui esses dois fatores que determinam sua
instabilidade. Ela é “impelida” pelo vendo. O verbo “impelir” significa, a grosso
modo, “causar o movimento de algo”. Os ventos são uma das forças que fazem nascer
as ondas. Ou seja, aquilo que cria a onda (comparado ao homem sem fé) é o vento e o
vento é algo inconstante, incerto. Jesus diz em João 3:8 que o vento sopra, e ninguém
nem de onde vem, nem para onde vai. Em Hebreus 4:14 se diz: “para que não mais
sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo
vento de doutrina.” E Eclesiastes 1:14 diz “e eis que tudo era vaidade e correr atrás
1
Definições antagônicas entre Ciência e Religião sobre “fatos”.
do vento”. Sem dúvida, o “vento” possui uma analogia oposta a constância, salve
exceções. Depois Tiago diz que a onda é “agitada” pelo vento. Talvez você se lembra
de Lucas 8:22-25 quando Jesus e os discípulos estavam no mar, e uma tempestade os
abateu. Jesus com uma palavra acalmou os ventos que sacudiam o barco que
provavelmente iria naufragá-los.
Enfim, há muitas coisas que agitam o coração de um homem quando ele está em
tribulação e agonia, muitos pensamentos o impelem e o agitam, é apenas a fé no Deus
da Paz, no Deus que dá ordens aos ventos e estes o obedecem, que podemos encontrar
a mentalidade correta em nosso clamor a Deus por sabedoria.
Shalom!
VÍDEO 6:
Bom, vamos começar, nessa introdução explicando o contexto: Tiago escreve as doze
tribos que estavam espalhadas, e diz que quando eles passassem por provações,
deveria considera-las com alegria por serem uma oportunidade para a perseverança.
Se tivesse pessoas passando por isso, elas deveriam pedir sabedoria a Deus, apenas
com um “porém”, não deveriam pedir duvidando, mas com fé. Tiago depois faz uma
analogia dizendo que a pessoa que ora a Deus sem fé, é como uma onda do mar,
impelida pelo vento e agitada pelas circunstâncias.
7 Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; 8 homem de ânimo
dobre, inconstante em todos os seus caminhos.
Suposições
I. Não suponha esse homem... (μὴ γὰρ οἰέσθω ὁ ἄνθρωπος) Como sempre
mencionamos, ao ler a Bíblia reflita o porquê de uma palavra, ou porque essa e não
outra palavra. Aqui no texto da ARA se usa o verbo “supor”. O verbo “supor” significa
“imaginar algo” oiomai (gr.: οἴομαι); quando alguém supõe alguma coisa, ele cria uma
afirmação hipotética na cabeça, achando e acreditando que aquela realidade vai
corresponder aquilo que ele imagina. Tiago diz que o homem que ora e ao mesmo
tempo duvida que Deus possa conceder seu pedido não deve sequer “supor”, não deve
nem imagina que Deus vá conceder seu pedido, que é exatamente o que lemos no ponto
II
II. que alcançará do Senhor... (ἐκεῖνος ὅτι λήμψεταί [...] παρὰ τοῦ Κυρίου. )
Interessante aqui o segundo verbo. O orante, aquele que ora duvidando de Deus não
alcançará nada do Senhor. O verbo grego λαμβάνω (lambanoo) significa “receber”,
porém gosto da tradução em português “alcançar” porque coloca aquele que pede em
uma posição rebaixada diante de alguém que está acima. Deus abita luzes inacessíveis, e
ninguém que ora duvidando dele pode sequer supor que irá receber algo, por mais nobre
que seja seu pedido.
III. alguma coisa;... (τι) Como mencionado nas outras aulas, Tiago está sendo
específico, se dirigindo a alguns dentro da comunidade que não tem sabedoria para
enfrentar as provações. O sujeito é específico, ou seja, aquele que não tem sabedoria,
agora mesmo que o pedido seja por sabedoria, Tiago amplia o pedido da oração para
qualquer coisa além da sabedoria, porque ele diz que esse homem duvidoso não deve
imagina que receberá “alguma coisa”, ou seja, “qualquer coisa”. Isso termina se
estabelecendo como uma regra que vai além do sentido primário. Invertendo a ordem:
nada será concedido por Deus para uma pessoa que pede em oração e ao mesmo tempo
duvida no coração.
IV. homem de ânimo dobre,... (ἀνὴρ δίψυχος) Eis aqui o motivo dele não alcançar
nada de Deus. Vimos nas aulas anteriores que Deus é abundante e liberal (no sentido de
que não é restrito). Deus é infinito e absoluto, logo seus recursos não possuem fim.
Deus não censura ninguém que se aproxima dele, pois um homem, por mais pecador
que seja, mas que se dobrar em oração para pedir algo a Deus, já demonstra nesse ato
sua posição rebaixada de pecador. Aqui Tiago mostra que Deus não concederá nada a
uma pessoa assim, porque, notem, a própria pessoa está fechando ou impedindo que
Deus conceda seu pedido. Tiago explica que essa pessoa que duvida de Deus, tal como
a onda do mar, é um homem de “ânimo dobre”. Supondo que você só tenha a Bíblia, e
nem mesmo um dicionário, pense no que seria a palavra “dobre”; ela soa como a
palavra “dobro”, ou “dobra”, e até mesmo o número “dois”. Dobre é qualquer coisa que
possua suas características. Em grego, a palavra que Tiago usa é δίψυχος (depsorós) que
significa literalmente “dois corações”, algumas traduções vertem por “duas mentes”.
Bom, biologicamente todos nós temos apenas um coração e uma mente. Mas aqui,
claro, é algo simbólico. Uma pessoa de duas mentes, ou de dois corações, é alguém que
que faz uma coisa e pensa outra, ou pensa uma coisa e faz outra. É uma pessoa dividida.
As vezes ela tem dúvida até mesmo se deve ou não orar a Deus. E isso não se refere,
como já explicado, a uma pessoa que tem um momento ou outro de dúvida, ou por um
instante não saiba o que pedir. Tiago está descrevendo uma característica que define a
pessoa. O duvidoso é sempre indeciso, e é indeciso exatamente porque duvida. Daí
Tiago conclui dizendo que por ter um “ânimo dobre”, essa pessoa é:
No próximo vídeo, nós iremos analisar, o quarto tema que Tiago aborda.
Chegamos assim ao final de nossa consideração. Agradeço sua paciência de ouvir essa
aula. Em breve postaremos os próximos versículos.
Abraços e Shalom!
VÍDEO 7:
Coloco agora na tela um pequeno resumo, nas aulas anteriores onde vimos a
introdução, saudação, conselho sobre as provações, pedido de sabedoria, e as
condições para que Deus ouça nossa oração.
Divisão analítica:
Tema da Carta:
Caso já tenha lido, ou mesmo relido a carta de Tiago, já deve ter percebido que ele
aborda o tema sobre ricos e pobres como algo quase central da carta. Tiago também tem
uma linguagem semelhante à de Jesus, porque ele entregar analogias da natureza e do
cotidiano. Nos versículos 9 ao 10, ele contrasta pobres e ricos dentro da comunidade
cristã, e ele inverte a visão que geralmente vemos no mundo de maneira superficial.
II. glorie-se na sua dignidade,... Geralmente quando alguém pensa em pobreza, tudo
vem à mente, menos dignidade. A pessoa de condição humilde sofre muitas provações,
sofre privações, sofre humilhações, isso é tudo, menos dignidade. A pessoa de condição
humilde precisa de auxílio, ajuda dos demais, e por causa disso, muitas vezes é
humilhado, escarnecido, visto como um peso. São muitas as humilhações que uma
pessoa na pobreza tende a passar. Tiago, que já havia nos versículos 2 em diante,
invertido a percepção das provações, pra ao invés de se lamentar, se alegrar com os
sofrimento, diz agora que o irmão de condição humilde deve se gloriar na sua
dignidade. Isso é exatamente o oposto da visão mundana. O mundo material colocou um
preço nas pessoas e elas valem o que tem. Tiago diz que para os cristãos a coisa é o
contrário. O ser humano possui um valor inalienável, ou seja, um valor que ninguém
pode tirar, seja rico, pobre, alto, baixo, porque Deus não faz acepção de pessoas. O que
Tiago começa a argumentar aqui é um problema do mundo e que estava se infiltrando
dentro da comunidade cristã, que é rebaixar, excluir, e até humilhar irmãos de condição
humilde. O verbo “glorie-se” é como se Tiago dissesse aos irmãos carentes para
erguerem a cabeça, porque eles receberão a coroa tanto quanto aquele que perseverar até
o fim. Esse irmão carente, humilde, deve se gloriar, se alegrar na sua “dignidade”. Essa
palavra sempre deve ser destacada. Pobreza nenhuma pode remover nossa dignidade. Só
o pecado, os vícios, as paixões é que podem degradar o ser humano e lhe roubar a
dignidade de ser a imagem de Deus.
Antes de prosseguir, lembre-se que Tiago usou a palavra “porém”, exatamente porque
ele vai fazer um grande contraste, porque enquanto o irmão carente deve se gloriar na
sua dignidade, Tiago continua
IV. porque ele passará como a flor da erva. Fazendo uma analogia da natureza, ele
explica que as riquezas são passageiras. Mercados financeiros sobem e descem, hoje
vale uma fortuna e amanhã pode não valer nada. Nesse sentido, ela é transitória,
transitório é aquilo que passa e passa rápido.
V. Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e
desaparece a formosura do seu aspecto;... Continuando a analogia, Tiago diz que as
riquezas materiais são tão frágeis como a flor da erva, o sol seria as circunstância do
mundo que estão sempre mudando, seja uma crise, uma guerra, uma mudança de lei, e
tudo pode desaparecer do dia para a noite. Tiago descreve a sequência em quatro
verbos: “se levanta”, “seca”, “cai” e “desaparece”. De forma poética, vemos aqui que
toda beleza, toda a atratividade que a riqueza pode oferecer e tornar alguém soberbo,
toda a “formosura do seu aspecto” é banal, é transitório, incerto. Basta vermos como os
ricos investidores vivem correndo pra lá e pra cá tentando proteger seus investimentos
exatamente dessas incertezas do mundo, tentando preservar algo que vai ficar, quando
ele se for. Tiago então conclui:
VI. assim também se murchará o rico em seus caminhos. Por isso que o irmão rico
deve se gloriar antes em sua insignificância diante de Deus, porque nada que ele possui
pode lhe favorecer diante do Criador. Nem mesmo se ele der tudo que tem em obras de
caridade será isso garantia em barganhar com Deus, como Paulo diz em 1 Coríntios 13,
nada adianta se o rico não se der conta de sua insignificância e dependência de Deus.
Tudo que Tiago diz aqui é quase um comentário ao Salmo 1 que aconselho a leitura em
paralelo.
No próximo vídeo, nós iremos analisar o quarto tema que Tiago aborda.
Chegamos ao final de nossa consideração. Agradeço sua paciência de ouvir essa aula.
Em breve postaremos os próximos versículos.
Abraços e Shalom!