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Uma história dos povos árabes

Working Paper · May 2016


DOI: 10.13140/RG.2.1.3537.1125

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Fichamento da parte I do livro de Albert Hourani


Uma história dos povos árabes

Antonio Sergio Ackel Barbosa

2016
A SUCESSÃO DE MAOMÉ

A figura do khalifa

A primeira questão que se levantou com a morte de Muhammad foi a razão de se continuar com as
comunidades. Alguns homens defendiam que aqueles que aceitaram o Islã, deveriam seguir seu
próprio caminho na obediência a Deus. Outros, do contrário, defendiam que o Islã era um todo
formado por muçulmanos que seguiriam o modelo de vida que Muhammad instituiu e que este modelo
será mantido por aqueles que eram mais próximos ao Profeta. Esta diferença de crenças deu início à
guerras apóstatas, Riddah, um rápido e vasto poder de conversão e coerção religiosa que os coraixitas
(tribo de Muhammad) se estabeleceram. “Nos anos seguintes, a liderança que havia em Medina tinha
dois objetivos: (i) espalhar da maior forma a seriedade do Islam por todas as tribos; (ii) organizar
ataques nos impérios para expressar o poder muçulmano” (p.199). (HODGSON,1974).

Abu Bakr, o Sucessor do Mensageiro de Deus e o califado de Quraysh. (634-632)

Abu Bakr, antes mesmo da morte de Muhammad, já nutria uma ambição pessoal de tornar-se Seu
sucessor. Entendeu que, sem uma nomeação do Profeta, ele precisaria convencer a oposição para
alcançar seu objetivo. Elaborou manobras políticas para evitar votações e fez alianças com outros clãs,
que fizeram com que Abu Bakr se tornasse o primeiro califa. Há teorias controversas a respeito do
direito que um coraixita tem sobre o cargo de sucessão do Profeta. (MADELUNG, 1996)

Umar Ibn Abd-al-Khattab (634-644)

'By God, we did not find any case stronger than for the oath of allegiance to Abu Bakr.’ Umar Ibn Abd-
al-Khattab in Madelung (1996)

Após a morte de Abu Bakr, ‘Umar foi reconhecido como seu sucessor. Seu califado foi decisivo para
as conquistas árabes, do Egito ao Irã. Ainda que seu governo tenha tido alguns deslizes, Umar reforçou
o Islã como base da vida Árabe. Muhammad deixara ainda muitas questões sobre o desenvolvimento
de Medina. Pouco depois de sua morte, toda a Arábia, o Império Sassânida, a província síria e a
egípcia e o Império Bizantino haviam sido conquistados. HODGSON, 1974)

A aceitação do domínio árabe

O fato do Islam ser jovem entre tantas religiões e estar à frente do seu tempo, permitiu-lhe agir com
rigidez. (Lévi-Strauss apud DJAÏT, 1985)
A busca pela expansão religiosa, os muçulmanos iam de vilarejo em vilarejo propagando sua fé. Em
alguns acampamentos se estabeleciam como Basra e Kufa, no Iraque e Fustat, no Egito. Em 711,
quando a maioria dos espanhóis se converteu ao Islã, toda a população europeia-ocidental: Itália,
partes da França, estrangeiros da Alemanha, Polônia, ainda praticavam o politeísmo. (BULLIET,
2016)
Para alguns, a substituição de gregos e iranianos por árabes até trazia vantagens, pois aqueles
contrários, portanto dissidentes, ao governo religioso bizantino, podiam achar mais fácil viver sob um
governo de uma nova religião imparcial e alheia à fé cristã. (HOURANI, 2007)
‘Uthman Ibn ‘Affan (644-656)

Até ser esfaqueado em Medina por um prisioneiro de guerra persa em 644, Umar governou teve um
califado com fama bélica e violenta. Uthman, eleito por seis companheiros do Profeta, o terceiro
khalifa teve um reinado próspero com invasões desde o Chipre até as terras Bizantina e desde o leste
do Mediterrâneo até o norte da África, atual Líbia. No leste, tropas muçulmanas ocuparam parte da
Armênia, chegaram no Cáucaso, e estabeleceram suas regras em parte do Irã, do Afeganistão e da
Índia. (ARMSTRONG, 2002)

Ali Ibn Abi Talib (656-661)

Em 656, Uthman é assassinado por rebeldes muçulmanos que aclamaram Ali o quarto khalifa. Alguns
acreditavam que Muhammad teria querido que seu sucessor fosse Ali ibn Abi Talib, seu parente mais
próximo. Estabeleceu-se em Kufa e seus dissidentes em Basra. Por conta de alianças mal feitas e não
aprovadas por seus defensores, Ali foi assassinado. (HODGSON, 1974)

Rashidun é o grupo dos quatro califas que, além de seus sucessores imediatos, foram seus
companheiros em vida.

O CALIFADO DE DAMASCO

Mu’awiya

O assassinato de ‘Ali em 661 e o estabelecimento do califado de seu rival Mu’awiya, primo de


‘Uthman e governador Árabe da Síria, é geralmente visto como advento da dinastia Omíada, o
primeiro estado islâmico construído explicitamente sobre reivindicações de uma família (Banu
Umayya) do direito de governar. (BERKEY, 2003)

Omíadas

Os Omíadas não se referiam a eles como um “regime muçulmano”. Ao invés, concebiam-se eles
mesmos como um regime de “crentes” - muʾminūn - liderado por seu comandante, amīr al-muʾminīn.
(DONNER, 2016)

diz que, sob o governo dos Omíadas o Islã nunca conseguiu manter seus elementos constitutivos:
política, cultura, religião e economia, equilibrados. Tinha uma visão puramente religiosa. (DJAÏT,
1985)

‘Abd al-Malik (685-705)

Como com qualquer outra insígnia de autoridade - como a construção do Domo da Rocha em
Jerusalém e a cunhagem omíada - este califado utilizou-se da poesia para consolidar sua autoridade.
(DONNER, 2016)
Masjid - mesquita

O termo ‘muçulmano’ também refere aquele que se reune com o seus. A reunião entre homens
muçulmanos para oração e exortação em grupo e nas sextas-feiras, ao meio-dia, reunião nas masjid.
Salat (orações cinco vezes por dia). (HITTI, 1970)

Domo da Rocha

O uso da escrita como a única imagem em moedas foi uma inovação ousada, que a população, no
entanto, aceitou, mostrando sua confiança no novo poder. Em outros lugares públicos, um simbolismo
comparável de poder muçulmano foi exibido: no Domo da Rocha, construído em Jerusalém, para
garantir a continuidade do Islã. (HITTI, 1970)
(i) os textos corânicos mais antigos que existem, são versos inscritos no Domo da rocha;
(ii) o Domo mostra a um importante estágio de cristalização de uma identidade islâmica;
(iii) a construção do Domo representa também uma reconstrução do templo antigo, afirmando que
Maomé e seus seguidores aceitaram a lei judaica. (BERKEY, 2003)

Mawali

O governo dos Omíadas teve uma característica singular: a conversão um não-árabe à sua
religião. Houve uma adesão pequena destes convertidos mawali mas rapidamente assumiram
papéis fundamentais no exército, no governo e na administração, até mesmo no ensino
religioso. (BERKEY, 2003)

Shi’at ‘Ali - Xiitas

Defendiam que o Profeta havia designado seu sobrinho Ali como herdeiro político, pois o
líder da umma deve ser da família do Profeta. Estes seriam conhecidos como os partidários de
Ali, shi’at Ali, ou simplesmente Shia, Xiitas. (SONN, 2010)

O CALIFADO DE BAGDÁ

Abu’l ‘Abbas (749-754)

O movimento Abássida foi uma resposta direta - um entre muitas - à turbulência religiosa de que
permeava do século VIII, mas o seu próprio êxito gerou tensão entre seus califas desequilibrando o
terreno religioso,, de forma que tiveram que buscar novas justificações para a suas regras.
A família Abássida tomou o nome tomou seu nome de al ‘Abbas, um tio paterno de Maomé. the
Abbasids (who were called caliphs) adopted the pre-Islamic Persian model of kingship in which the
monarch was considered “the shadow of God on earth.”
A invasão Mongol marcou o fim da unidade política islâmica e do califado abássida.
Diwan

O caráter religioso da comunidade Árabe foi pressuposto no exército de ‘Umar, um departamento


governamental chamado diwan, que deu um status social a todos os muçulmanos, mesmo aqueles que
perderam nas guerras Riddah. Junto com as comunidades de Medina e Mecca, um status social
baseado nano na descencia mas na fé. (NOLDEKE, 2013)

Kharaj e Jizya

Em 640, ‘Umar, o segundo califa, expulsou os judeus e os cristãos da Arábia, cumprindo assim o
desejo expresso pelo Profeta: "Duas religiões não deve co-existir na Arábia." Um século após a morte
de o Profeta do Islã, juristas muçulmanos determinaram o princípio da «protecção» traduzido em
impostos que os judeus e os cristãos tinham de pagar o impostos individual (jizya) e um imposto sobre
a propriedade (kharaj). Estes impostos asseguravam o direito que não-muçulmano, agora dhimmi,
poderia obter para de viver na terra do Islã. Para ele não haveria recurso contra um muçulmano; um
muçulmano não seria executado pelo assassinato de um infiel, enquanto que um infiel que, pelo
contrário, ser executado pelo assassinato de um muçulmano. Muito longo, de fato, a lista de proibições
e humilhações resultantes deste acordo de protecção-resgate. Para o não-muçulmano, é proibido de
possuir livros religiosos muçulmanos, para discuti-los com os muçulmanos, ter criados muçulmanos,
para um muçulmano não pode apresentar à autoridade de um não-muçulmano. Casamento ou relações
sexuais entre um judeu ou um cristão e uma muçulmana seria punida com a morte. E a mesma punição
está prevista para um muçulmano que se tornasse cristão. (DELCAMBRE, 2005)

Autoridade divina, o Alcorão - sunna e hadith

Em meados do século VIII havia um grupo de estudiosos cuja autoridade para identificar e interpretar
as fontes da lei islâmica era reconhecida por todos. Em Medina, por exemplo, havia uma escola de
pensamento legal islâmico desenvolvida com base em práticas locais e tendo em conta as
interpretações das escrituras e relatórios, os hadiths, das pessoas locais sobre o que o Profeta disse ou
fez (sua normativa ou prática exemplar ou sunna). (SONN, 2010)

Sunismo

Ainda que o Xiismo acreditava que Ali era o primeiro sucessor legítimo do Profeta, a maioria
dos muçulmanos, os Sunitas, acreditava que os primeiros califas eram apenas o rashidun.
A FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE

O fim da unidade política

Várias dinastias autônomas, por exemplo, Tulunidas, (868-905), Ibn-Tulun, e eus filhos eram
praticamente os governantes independentes do Egito; Samanidas, no Curasão (819-1005), governantes
persas que cultivaram a cultura e língua persa que viria a ser o meio para um crescimento do grande
movimento de misticismo sufi na era medieval do Islã. O Buyids, xiitas originários da região sul do
Mar Cáspio, em meados do século X e, embora com posições reconhecidas pelos califas, governaram
as províncias centrais do império islâmico por mais de um século e desenvolveram sua própria forma
doutrinária. A fragmentação do poder político representava a ameaça mais séria à unidade islâmica, e a
última autoridade dos califas, no regime Fatímida. (MADELUNG, 1997)

UNIDADE DE FÉ E LINGUAGEM

Alto califado (692-945) A sociedade islamizada formou um único estado vasto, o califado, com um
único idioma cada vez mais dominante da ciência e da cultura árabe. A religião islâmica estava sendo
formulada por um movimento múltiplo criativo de Muçulmanos, cristãos, judeus implantaram
tradições de várias origens pré-islâmicas
Período Islâmico médio (945-1258) Estabelecimento de uma civilização internacional espalhando para
além das áreas Irano-semitas. A grande expansão da sociedade islamizada, acontece com base em uma
descentralização do poder e da cultura de duas línguas principais, persa e árabe.
A língua Árabe pôde ser preservada por causa do Alcorão, os Árabes mantiveram, mesmo entre os
turcos e iranianos, uma língua culta da elite e esta é a mesma lígua usatilizada para orações até hoje.
(DJAÏT, 1985)
A poesia arabe

No período pré-islâmico, durante o período de conquista religiosa, para qualquer lugar que os
missionários cristãos ou judeus fossem, era inconcebível que não levassem consigo algum tipo de
literatura religiosa, seja em hebraico, aramaico, etíope e, de vez em quando, provavelmente também,
em grego. Os rabinos e o clero eram, portanto, obrigados a traduzir orações, liturgias, hinos e homilias
para o árabe. É bastante improvável que eles nunca tenham expressado seus próprios escritos
teológicos em árabe, como pode ser visto a partir obras siríacas existentes de antigos clérigos de
árabes. Como a arte de escrever entre os habitantes de Meca e de Medina na idade de Muhammad era
incomum, o islamismo traz um único documento pré-islâmico que é o Alcorão, a Palavra de Deus. Um
discurso que se impõe como discurso pela própria força. Muhammed, em sua pregação, convence
muitas pessoas e vence contestações retóricas e poéticas contrárias.(NÖLDEKE, 2013)
O MUNDO ISLÂMICO

O conceito de nacionalismo

Absorvendo as principais características de cultura persa e helênica, o Islã perdeu a maior parte de seu
próprio caráter original, ainda que com latente espírito do deserto, tinha o carimbo do nacionalismo
árabe, com isto, tomou um lugar importante na unidade cultural que ligava o sul da Europa com o
Próximo Oriente. (HITTI, 1970)

A ARTICULAÇÃO DO ISLÃ

A busca de conhecimento religioso

todos os campos de investigação religiosa e especialmente o de memorização Alcorão constituía o


‘ilm, o conhecimento do que é certo. A recolha, elaboração e transmissão de tais ‘ilm era a principal
atividade dos piedosos.

Califado versus Imanato

Assim como os Sunitas, os Xiitas queriam experimentar Deus tão diretamente quanto os muçulmanos
da primeira comunidade, que haviam testemunhado a revelação do Alcorão ao Profeta. O símbolo da
divindade inspirada era o imã, querefletia todos os sentimentos dos xiitas. A doutrina do imanato
também demonstrou extrema dificuldade impor a divindade em meio às condições trágicas da vida
política normal. Os Xiitas acreditavam que cada um dos imãs tinha sido assassinado pelo califa de sua
época. (ARMSTRONG, 2002)

O PODER E A JUSTIÇA DE DEUS,

O pensamento a partir do Alcorão, a Charia

Para o islamismo, a charia é a não separação entre religião e direito, todas as leis são fundamentadas
na religião e baseadas nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos. O Alcorão, que é a
revelação do Profeta, Sunna, que são os textos e os hadith que são os dizeres do Profeta,, ijma é o
processo de consenso e o itjihad, o raciocinio independente.

O CAMINHO DOS MÍSTICOS

Sufismo, movimento religioso, criado por ‘Abdallah ibn al-Mubarak e Ibrahim ibn Adham que
cristalizou uma tradição ascética islâmica. (HODGSON, 1974)
O CAMINHO DA RAZÃO

A visão cientista, a tradução e a filosofia

Com efeito, embora o poder político inevitavelmente desapareceria, mas as realizações intelectuais
seriam um legado duradouro do império islâmico. Mesmo antes da época de Harun al-Rashid,
traduções de textos clássicos já haviam sido feitas. Eram textos que haviam permanecido em
bibliotecas egípcias após o declínio da Grécia clássica e Roma, e incluia as obras médicas de Galeno e
Hipócrates e Ptolomeu. O valor dos textos foi imediatamente reconhecido no mundo islâmico, e o
trabalho de tradução foi considerado tão importante que uma família de tradutores cristãos, Hunayn b.
Ishaq (d. 873) e seu filho e sobrinho, alcançou a fama generalizada pelo seu trabalho. Eles melhoraram
traduções anteriores e expandiram as obras disponíveis em árabe para incluir as de Aristóteles e Platão.
(SONN, 2010)
Referências Biliográficas

ARMSTRONG, K. (2002) Islam - A Short History. Modern Library: New York.


BERKEY, J. (2003) The Formation of Islam Religion and Society in the Near East, 600–180.
Cambridge University Press: Cambridge.
BORRUT, A & DONNER, F. (2016) Christian and others in the Umayyad State. The Oriental
Institutte of the University of Chicago: Chicago.
BULLIET, R. (2004) THE CASE FOR Islamo-Christian Civilization. Columbia University Press:
New York.
DELCAMBRE, A. (2005) Inside Islam. Marquette University Press: Wisconsin .
DJAIT, H. (1985) Europe and Islam. University of California Press: Berkeley.
HITTI, P. (1970) The History of Arabs - From the Earliest Times to the Present. Macmillan
Education UK: London.
HODGSON, M. (1974) The Venture of Islam. The University of Chicago Press: Chicago.
HOURANI, A. (2007) Uma História dos Povos Árabes. Companhia das Letras: São Paulo.
MADELUNG, W (1997) The succession to Muhammad - A study of the early Caliphate.
Cambridge University Press: Cambridge.
NÖLDEKE, T. (2013) The History of Qur’an. Brill: Boston.
SONN, T (2010) Islam - A Brief History. Wiley-Blackwell: Sussex.

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