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Contabilidade Pública

4º Aula

Despesa pública

Vamos iniciar mais uma aula, na qual iremos


aprender sobre as despesas públicas, seus conceitos, a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF) e o estágio de despesa.
As despesas públicas podem ser divididas segundo as
categorias econômica, despesa orçamentária e despesa
extra-orçamentária.
Lembramos que se ao final desta aula permanecerem
dúvidas, vocês poderão saná-las através das ferramentas
“fórum” ou “quadro de avisos” e “chat”.
Comecemos, então, analisando os objetivos e
verificando as seções que serão desenvolvidas ao longo
desta aula.
Bom trabalho!
Boa aula!

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, o aluno será capaz de:

• perceber quais são os tipos de despesa pública;


• saber sobre as despesas correntes e de capital;
• compreender sobre os estágios da despesa;
• refletir sobre a despesa e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
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• material de consumo;
Seções de estudo • serviços de terceiros;
• encargos diversos.

b) transferências correntes: também de acordo com


1 - Conceitos da Despesa Pública a Lei nº 4.320/64, são dotações para despesas às quais não
2 - Estágio de Despesa corresponda contraprestação direta em bens ou serviços,
3 - Despesa Pública E LRFP inclusive para contribuições e subvenções destinadas a
atender à manutenção de outras entidades de direito público
1 - Conceitos da despesa pública ou privado. São divididas em:

• subvenções sociais;
Por despesa pública entendem-se gastos fixados na lei • subvenções econômicas;
orçamentária destinados à execução dos serviços públicos. Podem • inativos;
ser despesas orçamentárias (cuja realização depende de autorização • pensionistas;
legislativa) e despesas extra-orçamentárias (cuja realização • salário-família e abono familiar;
independe de autorização legislativa), como veremos mais a frente. • juros da dívida pública;
Segundo Araújo (2004), “a despesa é conceituada como o • contribuições de previdência social;
consumo de um bem ou serviço, que, direta ou indiretamente, • diversas transferências correntes.
contribui para a geração de receitas”. Ela se refere à redução
As despesas de capital são aquelas realizadas com o
do ativo sem correspondente redução do passivo. A despesa
propósito de formar e/ou adquirir ativos reais, envolvendo o
pública, todavia, é definida em duas acepções:
planejamento e a execução de obras, a compra de instalações,
• Financeira: desembolso de recursos voltados para o equipamentos. Materiais permanentes, títulos representativos
custeio da maquina pública, bem como para investimentos do capital de empresas ou entidades de qualquer natureza, bem
públicos, que são denominados gastos de capital; como as amortizações de dívida e concessão de empréstimos.
• Econômica: gasto ou promessa de gasto de recursos Representam os gastos realizados pela administração pública
em função da realização de serviços que visam atender às com a finalidade de criar novos bens de capital, ou mesmo
finalidades constitucionais do Estado. adquirir bens já em uso, como é o caso, respectivamente, dos
investimentos e das inversões financeiras, e que constituirão, em
A despesa pública pode ser definida como sendo gasto última análise, incorporações ao patrimônio público de forma
ou o compromisso de gasto dos recursos governamentais, efetiva ou por meio de mutação patrimonial ou formará bens
devidamente autorizados pelo poder competente, com o de uso comum. Dividem-se em:
objetivo de atender às necessidades de interesse coletivo a) Investimento: as dotações para o planejamento e
prevista na Lei do Orçamento, elaborada em conformidade a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de
com o plano plurianual de investimentos, com a Lei de imóveis considerados necessários à realização destas últimas,
Diretrizes Orçamentárias e com a LRF. Em outras palavras, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição
representa desembolso efetuado pelos agentes pagadores do de instalações, equipamentos e material permanente, e
Estado, ou mesmo a promessa desse pagamento, em face de constituição ou aumento de capital de empresas que não
serviço prestado ou bem consumido. sejam de caráter comercial ou financeiro. Dividem-se em:
1.1 - Tipos de despesa pública • obras públicas
• serviços em regime de programação especial
As despesas púbicas são classificadas, conforme a Lei
• equipamento e instalações
nº 4.320/64, segundo a categoria econômica, em despesas
• participação em constituição ou aumento de capital de
orçamentárias e despesas extra-orçamentárias.
empresa ou entidades industriais ou agrícolas;
As despesas orçamentárias são as despesas públicas que,
para serem realizadas, dependem de autorização legislativa e não b) inversões financeiras: as dotações destinadas à
podem se efetivar sem crédito orçamentário correspondente. aquisição de imóveis ou bens de capital de empresas ou
Ainda seguindo a categoria econômica (art. 13), elas podem ser entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a
subdivididas em despesas correntes e despesas de capital. operação não importe aumento de capital e constituição
As despesas correntes são de natureza operacional ou aumento do capital de entidade ou empresas que visem
realizadas para a manutenção dos equipamentos e para o a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações
funcionamento dos órgãos governamentais; dividem-se em: bancárias ou de seguros. São divididas em:
a) despesas de custeio: de acordo com a Lei nº 4.320/64,
são as dotações para manutenção de serviços anteriormente • aquisição de imóveis;
criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação • participação em constituição ou aumento de capital de
e adaptação de bens imóveis. São divididas em: empresas ou entidades comerciais ou financeiras;
• aquisição de títulos representativos de capital de
• pessoal civil; empresas em funcionamento;
• pessoal militar; • constituição de fundos rotativos;
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• concessão de empréstimos; a) Empenho ordinário – para garantir o pagamento
• diversas inversões financeiras. das despesas com montante previamente conhecido e cujo
pagamento deve ocorrer de uma só vez.
c) transferência de capital: as dotações para b) Empenho por estimativa – é utilizado nos casos em que
investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de não se pode determinar previamente o montante da despesa,
direito público ou privado devam realizar, independentemente geralmente de base periodicamente não – homogêneo.
de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo Exemplo: água, luz, telefone, etc.
essas transferências auxílios ou contribuições, segundo c) Empenho global – para atender as despesas com
derivem diretamente da Lei de Orçamento ou lei especial montante também previamente conhecido, tais como os
anterior, bem com as dotações para amortização da dívida contratuais, e outras sujeitas a parcelamentos. Exemplos:
pública. São divididas em: alugueis, vencimentos, salários, etc.
• amortização da dívida pública; Liquidação
• auxílios para obras públicas; Consiste em verificar se o contrato feito com o credor foi
• auxílios para equipamento e instalações; realmente cumprido, para conferir-lhe o direito ao pagamento.
• auxílios para inversões financeiras; Isso pressupõe verificação In loco para assegurar que a
• outras contribuições. obrigação foi cumprida: se a obra foi concluída segundo as
especificações, se o material foi realmente fornecido, etc.
As despesas extra-orçamentárias são aquelas pagas
à margem do orçamento. Portanto, elas independem de Pagamento
autorização do Poder Legislativo, pois se constituem em Ocorre quando a autoridade competente autoriza o
saídas do passivo financeiro, compensatórias de entradas no pagamento da despesa, após sua comprovada liquidação e
ativo financeiro, oriundas de receita extra-orçamentárias, que recebe sua quitação correspondente. É o ato de entrega do
correspondem à restituição ou à entrega de valores recebidos numerário ao credor pela prestação do serviço ou entrega de
como cauções, depósitos, consignações, entre outros. São material solicitado.
exemplos de despesas extra-orçamentárias os pagamentos
de restos a pagar de exercício anterior, depósito (de diversas 3 - A despesa pública e a LRF
origens, retenções, cauções e garantias).
Para conseguir o desejado equilíbrio fiscal, a Lei de
São exemplos de despesas extra-orçamentários: Responsabilidade Fiscal (LRF) tratou da receita pública, como
vimos no capítulo anterior, assim como reservou três capítulos
• Depósitos; (IV, V e VI) para estabelecer regras de gestão no que diz
• Cauções; respeito ao controle da despesa pública.
• Pagamentos de restos a pagar; Nos ditames da LRF, serão consideradas não autorizadas,
• Resgates (pagamento) de operações de crédito por antecipação da irregulares e lesivas ao patrimônio público a geração de despesa
receita; ou assunção de obrigação que não atendam às regras descritas,
• Quaisquer saídas para pagamento das entradas de recursos a seguir.
transitórios, etc. Primeiro, a criação, a expansão ou o aperfeiçoamento
de ação governamental que acarrete aumento da despesa será
Essas contas relacionadas acima (depósitos, cauções
acompanhado de:
etc.) são contrapartidas da receita extra-orçamentária. É a
obrigação de devolver o valor arrecadado transitoriamente. ▪ estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes;
Segundo a lei 4.320/64, existem dois grandes grupos ou tipos de ▪ declaração do ordenador da despesa de que o aumento
despesas: tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária
anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de
• Despesa orçamentária; e
diretrizes orçamentárias.
• Despesa extra-orçamentária.
Segundo, os atos que criarem ou aumentarem despesa
obrigatória de caráter continuado – despesa corrente derivada
2 - Estágios da despesa pública de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo
Toda e qualquer despesa orçamentária deve passar, que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por
obrigatoriamente, por três estágios: período superior a dois exercícios – deverão ser instruídos
com a estimativa do impacto orçamentário – financeiro no
Empenho exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes,
O empenho é o primeiro estágio da despesa e consiste e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio, não se
em emitir uma nota, em que o governo assume a obrigação aplicando esta regra, contudo, às despesas destinadas ao serviço
de pagar a despesa na data especificada. Neste documento, da dívida nem ao reajustamento de remuneração de pessoal de
constam nome do credor, o valor e o histórico da despesa, que trata o inciso X do art. 37 da Constituição Federal.
podendo classificar-se em: Como um dos principais gastos do Estado é com o
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funcionalismo, a LRF estabeleceu que as despesas com pessoal, b) dívida fundada, que compreende todos os
para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, compromissos de exigibilidade superior a doze meses.
em cada período de apuração, não poderão exceder os
percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: Restos a pagar
• União: 50% São despesas empenhadas que não foram pagas até o
• Estados: 60% final do exercício financeiro, vencido em 31 de dezembro, ou
• Municípios: 60% seja, não cumpriram o 3º estágio da despesa.

A repartição dos limites globais descritos não poderá Conceito


exceder os seguintes percentuais:
De acordo com Kohama (1998, p. 173):
• na esfera federal:
Entretanto, embora empenhada, a despesa
a) 2,5% para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas não paga será considerada restos a Pagar,
da União; constituindo-se uma operação apenas de caráter
b) 6% para o Judiciário; financeiro, uma vez que, orçamentariamente,
c) 40,9% para o Executivo; a despesa deve ser liquidada e executada,
d) 0,6% para o Ministério Público da União. consequentemente, compor o montante da
despesa realizada, para efeito de encerramento
• na esfera estadual: de exercício.
a) 3% para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas
do Estado; Portanto, ainda temos que observar a exigência legal,
b) 6% para o Judiciário; que determina a distinção entre despesas empenhadas como
c) 49% para o Executivo; “Processados” e das “Não Processados” por ocasião dos
d) 2% para o Ministério Público dos Estados. restos a pagar.

• na esfera municipal: Processados


a) 6% para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Este tipo de resto a pagar passou pelo 1º e 2º estágio da
Município, quando houver; despesa (empenho e liquidação), isto é, a despesa não foi paga
b) 54% para o Executivo. pelo órgão público, ficando a obrigação de pagar no exercício
seguinte.
3.1 - Dívida ativa
Conceito
Constitui dívida ativa os valores devidos à União, aos
Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal que, na data No dizer de Kohama (1998, p. 173-174):
fixada pela repartição pública, para o pagamento, não foram
Entende-se por restos a Pagar de despesas
liquidados pelos devedores. Esses valores constituirão créditos
processadas aqueles cujo empenho foi entregue
a receber.
ao credor, que por sua vez forneceu o material,
A inscrição de valores na dívida ativa só deverá ser feita prestou o serviço ou ainda executou a obra, e a
por circunstâncias de créditos exigíveis e vencidos, podendo ser despesa foi considerada “liquidada” por ter sido
de natureza tributária ou de natureza não-tributária. cumprido o segundo estágio correspondente
De natureza tributária são os créditos provenientes à liquidação, estando na fase do pagamento.
de obrigação legal relativa aos tributos mais os respectivos Verifica-se que a despesa processou-se até
adicionais e multas. a liquidação e em termos orçamentários foi
De natureza não-tributária são os créditos provenientes de considerada “despesa realizada”, faltando
obrigação legal relativa a outras receitas, como as provenientes apenas o processamento do pagamento.
de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas
em lei, multas de qualquer origem, exceto as tributárias, foros, Não Processados
laudêmios, alugueis, taxa de ocupação, custas processuais, Constituem os restos a pagar que não foram liquidadas
indenizações, reposições, etc. até o final do exercício financeiro, foi concretizado apenas o
empenho (1º estágio da despesa).
3.2 - Dívida passiva
Conceito
Entende-se, por dívida passiva, toda e qualquer obrigação
devida pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, ou seja, Julião (2001, p. 29) assevera que:
os compromissos assumidos, exigidos a curto e a longo prazo. Restos a pagar não processados são despesas
A Lei nº 4.320/64 classifica a dívida passiva em: legalmente empenhadas, que não cumpriram
com o segundo estágio da despesa, ou seja,
a) dívida flutuante, a que representa obrigações até o não foram liquidadas nem pagas até 31 de
término do exercício social seguinte, assim compreendidos os dezembro do mesmo exercício.
restos a pagar, os serviços da dívida a pagar, os depósitos, os
débitos em tesouraria, etc.; Verificamos então, que na administração pública é
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muito importante o papel do orçamento no que se refere ao
controle e execução, bem como ainda a previsão das receitas CARVALHO, Deusvaldo. Orçamento e Contabilidade
e a fixação das despesas para melhor controlar os numerários Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
que a todos nós pertence. KOHAMA, Hélio. Balanços públicos. São Paulo: Atlas,
2000.
Suprimento de Fundos JULIÃO, Edílson Oliveira. Entendendo a contabilidade
Consiste na entrega de numerário para o servidor para pública. Campo Grande: Sólivros, 2001.
cobrir uma despesa, sempre precedida de empenho, para
a realização de despesas que não possam subordinar-se
ao processo normal, e são de inteira responsabilidade do Minhas anotações
ordenador de despesa. Mas, mesmo assim, o Suprimento
de Fundos deverá respeitar os estágios da Despesa Pública.
Os Suprimentos de Fundos devem se aplicar para atender
despesas eventuais, que exigem o pagamento em espécie,
como viagens, serviços especiais, de caráter sigiloso, para
atender despesas de pequeno vulto, que não ultrapassar o
limite estabelecido pela Portaria MF nº. 95, de 19/04/2002.
Os Suprimentos de Fundos não poderão ser concedidos
a uma pessoa responsável por dois suprimentos, ou também
aquele que não prestou contas de sua aplicação.
Finalizamos mais uma aula! Procurem fazer uma análise
crítica sobre os conteúdos estudados e as estratégias que
utilizamos. Lembrem-se de que vocês são personagens
principais de sua aprendizagem. Até a nossa próxima aula!

Retomando a aula

Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar


essa aula, vamos recordar:

1 - Conceitos da despesa pública.

Precisamos entender bem a diferença entre os tipos


de receita corrente e de capital. E que as receitas podem ser
orçamentárias e extra-orçamentárias.

2 – Estágio de Despesa

O estágio da receita é um ciclo obrigatório e não pode


ser quebrado, obrigatoriamente iniciando pela previsão
passando pelo lançamento e terminando na arrecadação e
recolhimento.

3 - Despesa pública e LRF

Aqui vimos a importância da Lei de Responsabilidade


Fiscal para o fiel cumprimento das normas técnicas.

Vale a pena

Vale a pena ler

ARAUJO, Inaldo P. Santos; ARRUDA, Daniel.


Contabilidade Pública da Teoria a Prática. São Paulo: Saraiva,
2004.

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