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ACOMPANHANTE
Copyright©21 by Natasha Said
Copyright©21 by Editora Building Dreams Ltda.
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ÓTIMO.
Como se não bastasse casar com meu ex, minha irmã ainda
tem a audácia de me mandar as duas passagens de avião, como se
eu não tivesse dinheiro para comprá-las. Mas, também, quem
mandou falar que levaria alguém?
Idiota.
— Ai, Alice. Não tem como cancelar ou falar que está passando
mal? Do jeito que sua irmã é, se falar que está resfriada, com
certeza ela te libera.
— Não posso fazer isso. Por mais que as coisas tenham dado
errado no passado, ainda sou a irmã mais velha. — Tomo um gole
da minha cerveja e suspiro fundo.
— Sim.
— Não faz nem 3 anos que nos separamos, como podem ter
sido tão rápidos?
— Amiga, essas merdas acontecem. — Carla passa o braço pelos
meus ombros e tenta me confortar. - Ainda bem que sou filha única,
imagina, ter que ver minha irmã mais nova casando com meu ex?
Deus me livre.
— Não é nem por isso, quero pelo menos levar alguém bom,
sabe? Para esfregar na cara daqueles dois que tenho alguém muito
melhor.
— Vou pensar.
◆◆◆
Chego em casa por volta de três da manhã. Cantarolo
baixinho uma música qualquer que ouvi na rádio enquanto voltava
de Uber, jogo meus sapatos em qualquer canto da sala e me dirijo
ao banheiro.
— Ok... — diz receosa — Tem certeza que não quer deixar para
fazer isso mais tarde?
Acordo por volta de duas da tarde com uma dor horrível de cabeça,
o som de alguém batendo na porta faz com que eu saia da cama e
vá atender. Quem em sã consciência acordaria uma dama com
ressaca em pleno sábado?
— Entra.
Caminho até a cozinha, deixando Erick com as honras de
fechar a porta e me seguir. Procuro algum remédio em uma caixa
em cima da geladeira e enfio duas aspirinas na boca.
Estou acostumada.
— Aff.
— Obrigada.
— Alô?
— Senhorita Oliveira?
— Sim?
— Boa tarde, me chamo Natalia. Você me ligou na
madrugada de sábado contratando nossos serviços, está disponível
para conversar?
— Sim.
— Tudo bem.
— Sim, claro.
— Perfeito.
— No momento não.
◆◆◆
Suspiro.
— Eduarda e Maurício.
Observo sua letra fazer um “o” redondo perfeito, até nisso ela
é boa. Estou fascinada com sua postura e profissionalismo.
— Bom, vamos ao casamento dela com o meu ex, acho que vai
preencher as lacunas sozinha.
— Amanhã?!
Não tenho escolha, preciso dela o tanto quanto sei que ela
precisa de mim, ou pelo menos do meu dinheiro.
— Hum... não.
— Sério?
— Sem problemas.
— Alice!
— Jesus.
— Papai e mamãe não puderam vir por causa da vovó, você
sabe, ela criou um caso enorme porque não deixamos ela vir te
buscar.
— Entendo.
Mariana me solta.
— Não é ele.
— Quando ia me contar?
— Contar o quê?
— Chata.
— Chegamos!
— Oi, mãe.
— Vejam só, está magrinha — diz apertando minhas
bochechas — em São Paulo eles não têm comida não?
— É um prazer te conhecer.
— MÃE!
—Tudo bem.
— Sim.
— Hãn?
Vaca!
Ou melhor. Gostosa.
Ela faz um pequeno gesto para trás, sigo com o meu olhar, e
um homem bebericando o que provavelmente é um Whisky pisca
para mim. Ele com certeza era o que eu estava esperando para ser
meu acompanhante, lindo e muito bem vestido, mas estou gostando
desse lance de ter que fingir namorar uma mulher.
— Estou de toalha.
— Mesmo assim.
— Te incomoda?
Olivia ri.
Ela se vira.
— Obrigada.
— Ela é uma graça, fez sua avó comer. Aquela véia tá dando
trabalho. Nem o cafézin com queijo durante a tarde ela aceita,
semana passada tive que enfiar pela goela um pouco de chá.
— Já a levou ao médico?
— Talvez possa fazer algo que ela goste, quem sabe isso
ajude.
— Ah, mãe...
◆◆◆
— Por?
— É sério.
— Em quase dormir?
— Prima Alice!!
— Por favoooooor...
— Ana! — repreendo.
— Só acredito vendo.
Juro por tudo quanto é mais sagrado nesse mundo que por
um minuto, o sorriso em seus lábios foi tão perverso que até mesmo
o chão tremeu de medo, ao invés de me acertar ou tentar jogar a
bola por cima de mim, ela a chutou para Olivia, por pouco consigo
pegar, mas já era tarde demais, minha acompanhante já estava com
a bola em mãos. Não consigo me afastar e sinto o impacto em
minha perna antes mesmo de conseguir me desviar.
Arregalo meus olhos ao ver sua barriga lisa e seios com bicos
rosados.
— Desculpa!
— Pronto.
— Certo.
Ficamos em silêncio nos encarando por um tempo, troco o
peso de um pé para o outro sem saber o que fazer. A imagem de
poucos segundos atrás não sai da minha cabeça, noto que Olivia
está um pouco corada e isso é tudo que preciso para me motivar a
caminhar até o banheiro, fechar a porta e respirar aliviada.
— O que é isso?
— Um subgênero do rap.
— Claro.
— Claro.
— Então...
Olivia saca rápido seu celular e tira uma foto do homem, ele
aproveita que as portas do ônibus estão abertas e saí.
— É melhor sair mesmo, babaca. Vou te denunciar. — Olivia
grita com o miserável que some entre a multidão do lado de fora do
ônibus.
— Tudo bem.
— E... Obrigada.
— Ela pode ser super linda assim, mas tem quase quarenta
anos. — Olho para os meus pais. — Não se deixem enganar.
— Pare! — Gargalho.
— Eu sou velha, né. Vou te mostrar.
— Oi?
— Sua prima quem falou isso para mim, também não entendi. —
Olivia retira uma mecha de cabelo do meu rosto. — Tem certeza de
que está bem?
— Eu estou bem.
Ao ouvi-la dizer que está tudo bem com o serviço e que está
adorando Belo Horizonte, volto a realidade de que ela é apenas
alguém que contratei para fazer algo.
— Por favor...
— Me fode!
◆◆◆
— Alice, acorda!
Sento-me na cama rapidamente, Olivia está sentada ao meu
lado, sua mão está em meu ombro esquerdo e seu olhar demonstra
preocupação.
— Não...
— Ahaaaam...
— Safadinha.
Capítulo 13
— Idiota.
— Eu vou junto.
Minha irmã nos segue com o seu carro até o nosso destino.
Para chegar a Cidade Administrativa pode passar por dentro, pelos
bairros e atalhos, ou então seguir pela MG-10 e pegar o desvio.
Papai opta por passar por dentro, indo pelo bairro Mantiqueira até o
fim e descendo por Vespasiano.
— Você... gostaria?
— Topo.
Velha fofoqueira.
— Me chamou de fofa?
Volto minha atenção, que estava direcionada a mamãe e
papai conversando, para minha acompanhante.
— Han?
— Prometo te compensar.
— Moça, Moça...
— Quero.
Quando Bruno decide tocar forró, sorrio com o que ele está
tentando fazer. Isso é um teste.
Olivia gruda o seu corpo no meu, e depois giramos. O ritmo
do forró se eleva, rápido e incandescente. Combinamos nossos
passos de forma única, ao mesmo tempo que nossas mãos estão
em partes do corpo uma da outra, não estão. Ao mesmo tempo que
estamos em um lugar, não estamos.
— Pai?
Ouvir isso faz com que abra meus olhos e me sente na cama,
coço meu olho esquerdo para interromper meu sono. Olivia está
andando de um lado para o outro, a única coisa que a ouço dizer é:
sim, não, ok, aham.
— Tudo bem.
Olivia deixa as roupas que irá usar até semana que vem e
decide levar o restante.
— Temos tempo.
Fecho meus olhos ao sentir seu toque, sua mão é tão macia
e quente.
— Em dia de semana?
— O que te assusta?
— Certeza? — pergunto.
— Certeza.
Capítulo 16
Olivia
— Olivia?
Quase não consigo ouvir o que disse, de tão baixo que foi o
tom de sua voz.
Balanço a cabeça.
Alice
Não faz nem 24 horas que ela se foi e já sinto sua falta, não é
a mesma coisa sem ela. Abraço seu travesseiro, inspirando o seu
doce cheiro e sinto meu corpo estremecer. Ouço alguém bater na
porta e deixo que entre.
— O que aconteceu?
— Ok.
Olivia
— Oi.
Digito:
Alice
— Pode deixar.
— Claro que não, depois vou sair com a sua namorada para
encontrarmos o terninho.
— Tudo bem.
— Tudo bem.
— Devo convidar Olivia também ou você acha que ela vai se
dar bem com Arthur e os padrinhos? Soube que o primo babaca do
meu noivo falou umas besteiras na pré-festa de casamento, não
quero que ela se sinta desconfortável.
— Ai!
— Sim...
Sinto que minha irmã tem algo a mais a dizer, fico esperando
e quando ela não o faz, termino de comer.
Chegamos em casa por volta das oito da noite, aconteceu um
acidente na Cristiano Machado e ficamos horas aguardando para
sair do estacionamento.
— Olivia já chegou?
Olivia
Mas com o tempo aprendi que ter minha paz é melhor que
qualquer rancor que eu poderia guardar de alguém.
— Obrigada, pastor.
Alice
— O que houve?
— Tudo bem.
— Obrigada, pai.
— Olivia também é ótima.
— Vamos, então.
Capítulo 22
Olivia
Olivia,
Com carinho,
Mamãe.
Eu a perdoo, mãe.
Capítulo 23
— Sim.
Olivia ri baixinho.
— Sim.
— Algum problema?
— Não.
— A vovó comeu?
— Sim.
— Sim.
— Sim.
— Quer me beijar?
— Sim.
— Sim.
— Me desculpa.
— Idem.
— Então...
— Leia a carta.
— Desculpe? — Ergo uma sobrancelha.
— Assim como?
— Tão... neutra.
— Você entendeu.
— Entendi sim. — Ela pega a bandeja e coloca em seu colo.
— Agora que resolvemos isso, vou te alimentar.
— Eles são.
Faltam seis dias para o casamento, Mariana está cada vez mais
insuportável e minha vontade de enfiar a cara dela numa privada
não está ajudando. Ás sete da manhã ela entra no meu quarto e
acorda Olivia para saírem a procura do terninho.
Ainda bem que dormi igual uma pedra na noite passada, caso
contrário, provavelmente minha irmã teria visto o que não deveria e
eu não pararia mesmo que minha vida dependesse disso.
◆◆◆
Estou no céu.
— Alice, acorda.
— Humm... o quê?
O riso baixo que solta emite ondas de calor por todo o meu
corpo. Agarro seus cabelos quando sua língua entra em contato
com o meu clitóris e apoio minhas costas na parede atrás de mim.
— Já vamos!
— Amei.
— Obrigado, Alice.
— O quê?
— Eu queria contar.
A dor em seus olhos faz meu peito ficar vazio, eu sei que a
culpa não é dela, sei que não era o dever dela me contar. Mas algo
dentro de mim se parte, tenho vontade de gritar, chorar, quebrar
toda a mobília da casa.
— Por que dizer, não é mesmo?! Você foi paga para fingir ser
minha namorada, não contar merdas como essa.
— Alice...
— Alice...
◆◆◆
Alice.
Com amor,
Olivia.
Capítulo 28
— Sabia que esse aí não era flor que se cheire — diz Nadine.
— Tanto faz, eu só... sinto falta dela. — Deito minha cabeça no colo
de Carla.
Olivia
Alice
— Obrigada.
— Houve uma reunião essa manhã sobre a abertura de uma
nova empresa fora do pais, mais especificamente na Europa, as
suas habilidades tem se mostrado bastante notáveis e estamos
interessados em saber se gostaria de pensar a respeito sobre a
possibilidade de morar fora por um tempo.
— Erick...
— É o suficiente.
Olivia
Não nos falamos tem seis meses, toda vez que tento criar
coragem para ligar ou mandar mensagem, desisto. Pergunto-
me se a carta a assustou demais ou se ela apenas desistiu de
mim. Doeu no início pensar sobre essa possibilidade, mas uma
pequena parte de mim acredita que ela ainda pensa em nós.
Tomamos quatro garrafas de cerveja antes de decidir
dançar, Nicole me puxa e juntas fazemos alguns passos de
samba.
— Alice.
— Alice!
Alice
Sabia que sair com minhas amigas era uma péssima ideia, na
verdade, a ideia mais estúpida do mundo. Meu celular toca pela
quinta vez e decido desligá-lo. Não preciso ver a tela para saber que
é Olivia.
Olivia
— Ela se foi.
Quando Carla fechou a porta na minha cara naquele dia,
chorei por uma semana inteira.
◆◆◆
Acordo por volta das oito e vou até o centro, passo nos
devidos lugares que preciso e vou até o hospital. Enquanto espero o
coordenador voltar com o contrato e mando uma mensagem para
vovó perguntando sobre Alice.
— Sim.
Alice
— Vá se ferrar.
— Escroto!
Olivia
É a sexta vez que ligo para Alice só hoje, pensei que trocando de
número haveria uma remota possibilidade de ela me atender, ainda
mais estando fora do país. Queria mandar mensagens, mas não
seria apropriado, eu preciso ouvir a sua voz.
◆◆◆
— Entre.
Abro a porta.
Alice vai voltar. Minha garota vai voltar e eu preciso fazer algo
a respeito.
Capítulo 36
Alice
— Tudo bem.
— Ah.
Até tentei sair com alguém, mas foi em vão. Não consegui
sequer ir ao primeiro encontro. Toda vez que pensava em outra
pessoa me tocando ou me beijando, Olivia me vinha a cabeça. Isso
era motivo suficiente para desistir e ficar no apartamento.
— Me desculpa.
— Sim, podemos.
Olivia
— Vim conversar.
— Não.
— Aconteceu algo?
Abro a boca para dizer algo, mas ele levanta as duas mãos.
Alice
Abro minhas pernas para lhe dar passagem até meu sexo. A
ponta de sua língua vai de encontro ao meu clitóris inchado e sinto o
mundo explodir. É como se Olivia tivesse andado por um longo
tempo em um deserto e estivesse com muita sede, e eu fosse sua
fonte inesgotável de água.
Muito mais.
◆◆◆
— E eu senti a sua.
Alice
— Vamos.
As duas somem pela porta de saída e respiro aliviada.
Nesse momento a barwoman aparece com sete copos e duas
garrafas de cerveja. Voltamos para nossa mesa.
— Nada demais.
— Alice...
— Sim.
Por fim.