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HISTOPATOLÓGICA, IMUNOFLUORESCÊNCIA E
REVISÃO DE LITERATURA
São Paulo
2015
Yana Lya de Almeida Léda
HISTOPATOLÓGICA, IMUNOFLUORESCÊNCIA E
REVISÃO DE LITERATURA
São Paulo
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Assinatura do Autor:
E-mail da autora:
nanokinha@hotmail.com
Folha de aprovação
REVISÃO DE LITERATURA
de residência médica.
Área: Dermatologia.
Avaliadores:
_______________________________________________________________
Avaliador 1
_______________________________________________________________
Avaliador 2
_______________________________________________________________
Avaliador 3
Dedico este trabalho a
meus pais e a meu
namorado pelo apoio
incondicional que venho
recebendo para realizar
minha formação
profissional.
Agradecimentos
A Deus, pelo dom da vida, por me permitir realizar mais uma conquista.
Aos meus pais, Djalma Pinheiro Léda e Maria das Graças de Almeida Léda, pelo
amor incondicional.
Às minhas amigas de residência pelo apoio nos momentos difíceis e por todos
os momentos de alegria.
Municipal.
INTRODUÇÃO: Alopecia frontal fibrosante é uma variante do líquen plano pilar que afeta
placas circulares irregulares com pouco inflamação, difere da forma clássica da doença
MÉTODOS: Foi feita análise clínica, exame físico das pacientes e coletados dados do
fibrosante.
estava nos pós menopausa. A idade média de apresentação da doença foi de 41 meses.
Em relação aos sintomas, 7 pacientes referiram prurido local (58,3%) e 3(25%) pacientes
doença sem eritema perifolicular. Não houve diferenças histológicas do quadro clássico
negativas.
CONCLUSÃO: A imunofluorescência nesse estudo foi útil nesse estudo para afastar
retardar o tratamento.
Eritematoso Discóide.
ABSTRACT
alopecia area, linear and progressive, predominantly in the frontotemporal regions but
eventually all the edge of the scalp and eyebrows. It is observed perifollicular erythema
and hyperkeratosis in the active transition areas between the affected area and not yet
affected. In regions where the process has already occurred, this perifollicular
inflammation ceases and the affected skin become atrophic, without the presence of hair
follicles. We present six patients with alopecia in frontal and temporal areas presented in
circular patchs with little sign of perifollicular inflammation, with progressive evolution. The
infiltrate, and in some cases vacuolar degeneration of the basal layer with peripilar
fibrosis, compatible with lichen planopilaris. However, the clinical presentation of these
patients differs clinically and in its evolution from classical form of the disease itself, with
less inflammatory circular patches. The differential diagnosis can yet be made with lupus
discoid and brocq pseudopelade which can have the same clinical presentation. The
METHODS: Clinical analysis was performed, physical examination of the patients and
data collected from medical record. All patients underwent direct immunofluorescence to
differential diagnosis with other types of scarring alopecia, and were made
immunofluorescence in other six patients with classic case of frontal fibrosing alopecia.
RESULTS: All patients were female. The patients had an average of 58 years and only
one patient was not in post menopause. The average age at onset of disease was 41
months. For symptoms, 7 patients reported local itching (58.3%) and 3 (25%) patients
reported dysesthesia. As for autoimmune diseases, 5 patients were being treated for
hypothyroidism (41.6%), one patient had already presented discoid lupus erythematosus
on the scalp. Patients with alopecia patches had hyperkeratosis more discrete than
patients with classical form of the disease and less perifollicular erythema. There was no
histological differences of the classic picture of the disease in relation to atypical. All
with previous studies. We believe that patients have a atypical form of frontal fibrosing
alopecia, whose importance in the description and recognition is essential to avoid the
Keywords: Lichen planopilaris, frontal fibrosing alopecia, scarring alopecia, Discoid Lupus
Erythematosus.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3
2 OBJETIVOS .................................................................................................... 5
3.3 Epidemiologia.......................................................................................... 10
3.4.2 Líquen Plano Pilar (LPP), Alopecia Frontal Fibrosante (AFF) e Síndrome
de Graham-Little-Piccardi. .......................................................................... 11
4 METODOLOGIA............................................................................................ 15
1
8 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................... 31
APÊNDICE I ..................................................................................................... 35
ANEXO I ........................................................................................................... 42
2
1-INTRODUÇÃO
3
histológico também pode ser difícil, principalmente para fazer o diagnóstico diferencial
entre líquen plano pilar/alopecia frontal fibrosante e lúpus discoide, que podem ser muito
semelhantes em suas características clínicas e inclusive histologicamente.
Em alguns casos publicados na literatura, líquen plano pilar e lúpus eritematoso
discoide ocorreram em síndromes de sobreposição8.9, não sendo possível distinguir qual
o tipo de doença acometida apenas pelo exame histopatológico.
Nestes casos podemos lançar mão de outro exame adicional, como a
imunofluorescência. Este método diagnóstico é útil em casos duvidosos de alopecias
linfocíticas, e mostra depósito granulares de imunoglobulina G , M e complemento C3 ao
longo da membrana basal da epiderme e do folículo, em casos de alopecia causada pelo
lúpus discoide, diferente do líquen plano pilar em que a imunofluorescência pode ser
inespecífica ou negativa10 alopecia frontal fibrosante, em que os casos estudados na
literatura se mostraram negativas.
O objetivo deste trabalho é de descrever o caso de 6 pacientes com áreas
irregulares de alopecia frontal e parietal sem alterações de pigmentação e com poucos
sinais de inflamação perifolicular, quadro clínico que apresenta algumas características
de líquen plano pilar, lúpus eritematoso discoide e até de alopecia areata. O exame
histopatológico mostrou infiltrado linfocitário perifolicular e perivascular, com dermatite
de interface do folículo e presença de tratos fibrosos, compatível com alopecia frontal
fibrosante ou líquen plano, porém a apresentação clínica difere do quadro clássico da
doença. Para fazer o diagnóstico diferencial e excluir lúpus eritematoso discoide foi
realizado imunofluorescência das 6 pacientes com quadro atípico e de 6 pacientes com
quadro clássico da doença, para melhor descrever o quadro e corroborar a hipótese de
apresentação atípica da alopecia frontal fibrosante.
4
2-OBJETIVO
2.1-Objetivo principal:
2.2-Objetivos específicos:
5
3- REVISÃO DE LITERATURA
6
3.2 Etiologia e patogênese das alopecias cicatriciais:
7
antigênicos poderiam iniciar uma resposta inflamatória, como a luz ultravioleta no lúpus
discoide e infecção por S. aureus na foliculite decalvante 15.
Outras teorias como a inibição da comunicação epitélio-mesenquimal, disfunção
da glândula sebácea2 e supressão do PPAR-y19 na área do bulge estão em estudo.
Nenhuma hipótese necessariamente exclui a outra e é possível que diferentes hipóteses
acabem ligadas a diferentes apresentações clínicas das alopecias cicatriciais.
Para fazer a distinção entre as várias formas de alopecia cicatricial é necessário
avaliar as características clínicas, dermatoscópicas, histopatológicas e evolutivas.
A forma de classificação mais usada na literatura divide as alopecias cicatriciais
em primárias e secundárias de acordo com o padrão de destruição folicular 3. As
alopecias cicatriciais secundárias levam à destruição folicular por acometimento de
epiderme e derme secundária à outra doença cujo alvo principal não é o folículo. Nas
alopecias cicatriciais primárias o folículo piloso é o alvo principal da destruição
inflamatória, microscopicamente evidenciada pela preferência do epitélio folicular e/ou
de sua adventícia, poupando a derme reticular.
Para tentar facilitar a compreensão e melhor classificar as alopecias cicatriciais
primárias, foi realizado um workshop em 2001 e revisado em 2003 pela Sociedade Norte-
Americana de Pesquisadores de Cabelo (“NARHS”) que resultou no desenvolvimento
em uma classificação cujo objetivo foi padronizar os subtipos de alopecias cicatriciais 3.
Cada doença foi classificada de acordo com a célula inflamatória predominante
envolvida (neutrofílico, linfocítico e misto) presente no exame histopatológico do couro
cabeludo de lesões clinicamente ativas:
8
Lúpus eritematoso discóide
Líquen plano pilar
Pseudopelada de Brocq
Alopecia frontal fibrosante
Síndrome de Graham-Little-Piccardi
Queratose folicular espinulosa decalvante
Neutrofílicas
Foliculite decalvante
Foliculite dissecante
Mistas
Acne queilodiana
Acne necrótica
Dermatose pustular erosiva
Alopecia cicatricial primária não específica.
3.3 Epidemiologia:
9
reportaram o lúpus eritematoso discóide como o principal diagnóstico (33,9%), seguido
pela pseudopelada de Brocq (24,1%) e pelo líquen plano pilar (22,3%).
Na população, o líquen plano pilar causa alopecia cicatricial em 1,25% dos
pacientes20. A variante alopecia frontal fibrosante afeta em sua maioria mulheres,
principalmente após a menopausa, a e sua epidemiologia na população é desconhecida,
provavelmente por ser uma doença descrita pela primeira vez em 1994 20 e ainda de difícil
diagnóstico por muitos médicos dermatologistas. No entanto, há um consenso geral que
o número de casos diagnosticado aumentou consideravelmente nos últimos anos 21.
10
imunofluorescencia direta positiva está presente em 63-100% dos casos, que podem
variar de acordo com o tipo de lesão, idade e atividade da doença22.
3.4.2 Líquen Plano Pilar (LPP), Alopecia Frontal Fibrosante (AFF) e Síndrome de
Graham-Little-Piccardi.
11
do lúpus discoide, pode ocorrer ocasionalmente no líquen plano pilar25. No estágio final
vai mostrar perda de fibras elásticas na derme superficial.
A imunofluorescência direta mostra a presença de depósitos de IgM e mais
raramente IgG, IgA e complemento C3 no epitélio peri-infundibular e istmo. Pode haver
uma banda linear ou salpicada de depósitos de fibrinogênio ao longo da membrana basal
dos folículos, porém sem acometimento epidérmico10. mas pode ser inespecífica ou
negativa.
A alopecia frontal fibrosante, considerada um subtipo do líquen plano pilar 4, em
sua forma clássica, se apresenta como áreas de alopecia definitiva com demarcada,
linear e progressiva perda de cabelos na linha de implantação do couro cabeludo,
predominantemente na região frontotemporal mas eventualmente de toda a borda do
couro cabeludo e sobrancelhas. É comum a perda de pelos em outras regiões do corpo
como braços, pernas, axilas e virilhas, sugerindo que, de fato, seja na verdade uma
doença sistêmica. Alguns pacientes apresentam pápulas faciais, como evidência de
acometimento de folículos pilosos (pelos vellus) em outras áreas do corpo26.
Observa-se eritema e hiperqueratose perifolicular nas áreas ativas de transição
entre a região acometida e ainda não acometida da doença, na maioria dos casos essa
transição é bem definida. Nas regiões onde o processo já ocorreu, essa inflamação
perifolicular deixa de ser vista e a pele já acometida tem aspecto brilhante e atrófico, sem
a presença de folículos pilosos.
Apesar da forma clínica diferir do líquen plano pilar, a histopatologia não mostra
diferença entre as duas apresentações. Poblet e cols. fez um estudo comparativo entre
as duas formas clínicas de apresentação e sugeriu que maior presença de figuras
apoptóticas na bainha folicular externa da AFF enquanto no LPP observa-se mais
infiltrado inflamatório, outro fator seria o acometimento de pelos vellus pelo processo
inflamatório e cicatricial27. A imunofluorescência encontra-se negativa na maioria dos
estudos, todos baseados em relatos de casos28,29.
Já a Síndrome de Graham-Little-Piccardi é caracterizada pela tríade: alopecia
cicatricial do couro cabeludo, alopecia não cicatricial das regiões axilares e pubianas, e
presença de pápulas foliculares ceratósicas agrupadas, lembrando Líquen Espinuloso
ou Ceratose Pilar no tronco e extremidades está provavelmente relacionada ao LPP. Foi
12
descrita por Piccardi em 1913 e publicada por Graham Little em 191517,30 e é uma
condição rara
13
A alopecia central centrífuga(CCP) caracteriza-se por alopecia da linha média do
escalpo que lentamente, progride de forma centrífuga pelo topo do couro cabeludo
formando tratos cicatriciais, ocorrendo exclusivamente em pessoas de cabelos crespos 33
e de fototipos mais altos.
14
importante do que o inflamatório, e pode ter infiltrado neutrofílico no início do quadro, que
o difere do líquen plano pilar
4-Metodologia
4.1-Desenho do estudo:
4.2-Duração:
Seis meses.
4.3-População e amostra:
População do estudo:
4.4-Critérios de inclusão
15
-Assinaram do termo de consentimento livre e esclarecido.
4.6-Variáveis analisadas
4.6.1-Variáveis independentes:
4.6.2-Variáveis dependentes
Sintomas:
Prurido local;
Dor e queimação local;
Exame físico:
16
Perda parcial de pelos do corpo: Perda de pelos velos região frontal;
Hiperpigmentação facial;
Aumento do diâmetro da placa visível por avaliação fotográfica num tempo
mínimo de 6 meses.
4.6.2.3- Dermatoscopia:
Eritema perifolicular;
Hiperqueratose perifolicular;
Perda de óstios foliculares.
4.6.2.4- Histopatologia:
Diminuição no número de folículos;
Presença de infiltrado perivascular;
Infiltrado perifolicular;
Dermatite de interface na epiderme;
Dermatite de interface no folículo;
Presença de tratos fibrosos;
Aumento de mucina;
Espessamento da membrana basal;
Degeneração prematura da bainha folicular;
Atrofia assimétrica da bainha radicular externa;
Hastes pilosas soltas na derme com reação granulomatosa de corpo
estranho;
Goggles: folículos com bainhas radiculares externas fundidas no nível do
istmo ou abaixo;
Tratos cicatriciais foliculares substituindo folículos terminais;
Perda de glândulas sebáceas e folículos.
17
Foi avaliada a presença de depósito granulares de imunoglobulina G, M e C3 ao
longo da membrana basal da epiderme e do epitélio folicular.
4.7-Procedimento do Estudo:
Grupo 2: seis participantes com forma de alopecia frontal fibrosante de padrão clássico.
Pareados uma a um por idade, sexo, presença de doenças autoimunes e idade de início
de menopausa.
A pele foi limpa de forma metódica com solução alcoólica de clorexidine 0,5%,
colocado campo estéril e uma pequena injeção de anestésico local com injeção de
lidocaína 2% com epinefrina na proporção 1:100.000, realizada para anestesiar a região
de pele a ser incisada.
Uma amostra de pele foi retirada da área anestesiada com punch 4mm e um
curativo foi colocado sobre o local. Foi realizada uma sutura com fio nylon 4,0 para o
fechamento da ferida e colocado curativo. Os pontos foram retirados com uma média de
10 a 14 dias.
18
4.7.2-Técnicas de imunofluorescência:
O tecido, assim que excisado, foi colocado em uma solução própria, conhecida
como meio de Michel, e levado ao laboratório, onde foi congelado no criostato. Foram
feitos cortes de 4mm de espessura, que são incubados, em lâminas separadas, com
anticorpos anti-IgG, anti-IgM, anti-IgA, anticomplemento C3 marcados com fluoresceína.
O material então foi analisado em microscópio de fluorescência.
4.7.3- Avaliador:
19
5.3 Informação e Consentimento do Participante
20
6- RESULTADOS
Todos os pacientes eram do sexo feminino, a idade média era de 58 anos, a
paciente mais jovem tinha 51 anos e a mais velha tinha 76 anos e 11 das 12 pacientes
já tiveram a menopausa (91,6%) com idade média de 45 anos. Metade das pacientes
eram da cor branca (50%), 4 pacientes eram pardas (33%) e 2 pacientes eram negras
(16,6%). Os dados demográficos estão distribuídos na tabela 2.
21
Tabela 3- Sintomas e presença de hipotireoidismo.
22
Figura 3- Paciente com placa de alopecia irregular em margem de região frontal.
23
Tabela 4- Aspecto clínico das pacientes.
Paciente Envolvimento Pápulas Perda de Perdas pelos Aumento da
occipital faciais sobrancelhas no corpo Placa
1 - - - - Não
2 - - Total - Sim
3 - - Parcial - Sim
4 Sim - Parcial - Não
5 - - - - Sim
6 - - - - Sim
7 - - Total Sim x
8 - Sim Parcial Sim x
9 Sim - Parcial Sim x
10 - - Total Sim x
11 - - Parcial - x
12 - - Parcial - x
X= não possível de avaliar
Todas as pacientes apresentavam dermatoscopia com hiperqueratose folicular,
presença de lonely hairs e ausência de óstios foliculares no centro das lesões. O eritema
folicular foi visto apenas em 3 pacientes (25%), que tinham o quadro clássico da doença,
porém duas pacientes eram negras, dificultando a distinção do eritema folicular. As
pacientes com alopecias em placas apresentaram hiperqueratose mais discretas do que
as pacientes com forma clássica da doença sem eritema perifolicular.
24
1 Sim - Sim Sim
2 Sim - Sim Sim
3 Sim - Sim Sim
4 Sim - Sim Sim
5 Sim - Sim Sim
6 Sim - Sim Sim
7 Sim - Sim Sim
8 Sim Sim Sim Sim
9 Sim - Sim Sim
10 Sim Sim Sim Sim
11 Sim Sim Sim Sim
12 Sim - Sim Sim
25
Figura 6- Paciente com quadro de AFF em placas.
26
Na histopatológico, as pacientes apresentaram alopecia cicatricial compatível com
líquen plano pilar, com todas as pacientes apresentando infiltrado linfocitário perifolicular,
11(96,6%) das pacientes com folículos substituídos por tratos fibrosos, 11(96,6%) com
diminuição dos folículos pilosos, 10(83,3%) com infiltrado perivascular e 9(75%) com
dermatite de interface no folículo. Não foi encontrado dermatite de interface na epiderme
e espessamento da membrana basal nos exames histopatológicos.
27
e M de fração do complemento C3 negativos, o que reforça a excluir lúpus como etiologia
das alopecias cicatriciais circulares e irregulares apresentadas por 6 pacientes.
7. DISCUSSÃO
A Alopecia Frontal fibrosante é uma doença rara, considerada subtipo do líquen
planopilar, de etiologia desconhecida, e, que causa alopecia cicatricial principalmente em
mulheres após a menopausa. Na sua forma clássica, atinge a margem frontotemporal e
alguns casos até occipital, formando uma banda marginal simétrica de perda de cabelos.
Apesar de ter sua incidência desconhecida, o número de casos vem aumentando
marcadamente nos últimos anos21.
O perfil demográfico das pacientes do estudo é semelhante ao da literatura, com
média de idade de 58 anos, e, entre as pacientes estudadas, apenas uma não estava no
período pós-menopausa. Encontramos menopausa precoce em 4 pacientes (33,3%), o
que também foi encontrado em outros estudos como Galván e cols., sugerindo que possa
haver alguma relação com a queda hormonal, embora possa afetar raramente mulheres
antes da menopausa e homens. Não foi encontrado até o momento nenhuma relação
com alteração com níveis hormonais que suportem essa evidência21,29.
O tempo médio encontrado foi de 41 meses de evolução até o diagnóstico,
provavelmente por ser uma doença de evolução lenta e por dificuldade no diagnóstico
por dermatologistas menos experientes, já que é uma doença de descrição recente com
primeira descrição apenas em 1994 por Kossard e cols.
A maioria das pacientes eram brancas, o que corrobora com os achados
demográficos na literatura, mas pode afetar pacientes pardas e negras. Em pacientes
negras o diagnóstico diferencial do líquen planopilar deve ser feito com alopecia central
centrífuga, pois podem ter características clínicas muito parecidas, porém essa doença
é caracterizada por afetar o vértice do couro cabeludo, e as duas pacientes negras
apresentadas apresentavam alopecia nas margens do couro cabeludo, o que foi
confirmado como AFF depois pelo exame histopatológico.
Por conta de sua provável origem ser relacionada com distúrbio da imunidade, a
associação com outras doenças autoimunes foi investigada. A relação com
hipotireoidismo encontrada de 41,6% é considerada alta, outros estudos encontraram
28
uma alta prevalência como Galván e cols. com 14%, MacDonald e cols. com 23% e
Bakan e cols. com 21%. A AFF também foi associada com vitiligo, líquen plano, anemia
perniciosa e colagenoses36. Uma paciente estava em investigação de dermatomiosite e
outra paciente teve um episódio prévio de alopecia cicatricial por lúpus eritematoso
discoide. Del Rei e cols. relata o quadro de 7 pacientes com LED em couro cabeludo e
concomitante AFF e aventa a possibilidade de uma via patogênica autoimune comum.
Clinicamente o quadro atípico de AFF apresentado pode fazer diagnóstico
diferencial com dois tipos de alopecia não cicatriciais como alopecia areata e alopecia
tracional e duas cicatriciais, LED e LPP. A dermatoscopia tem um papel fundamental
esclarecimento e conduta. Tipicamente a alopecia areata apresenta placas circunscritas,
perda súbita de cabelos e sinais dermatoscópico típicos como pontos amarelos, pontos
pretos e pontos de exclamação, que podem ser úteis para fazer o diagnóstico diferencial
entre AFF e placas de alopecia areata em região marginal do couro cabeludo. Na
alopecia por tração, a dermatoscopia mostra presença de pelos velos, “hair casting” e
não mostra eritema e hiperqueratose perifolicular, além de história clínica consistente
com quadro crônico de tração dos cabelos.
Shigeki e cols. descreveu um caso em que uma alopecia areata do tipo ofiácea
que mimetizava quadro clínico de AFF, com diagnóstico sugerido por dermatoscopia e
confirmado por histopatológico36. A apresentação clínico atípica de AFF das pacientes
foi recentemente descrito em 16 pacientes por Pirmez e cols., o primeiro relato de
descrição do quadro clínico semelhante ao das pacientes desse estudo37. Foi atribuído
a denominação “pseudo-fringe sign” ao achado de placas de alopecia cicatricial na
margem do couro cabeludo sem a perda de pelos velos na margem de transição, uma
alusão ao “fringe sign” encontrado na alopecia de tração.
Outro relato de apresentação atípica foi feito por Ramaswamy e cols. onde dois
pacientes do sexo masculino iniciaram quadro de AFF com placas de alopecia em
margens de região temporal , e pré-auricular, perda de pelos tronco, membros e
sobrancelhas, e histopatológico compatível com líquen plano pilar38.
No estudo histológico das pacientes deste estudo, foram encontradas
características clássicas do líquen plano pilar, que apesar da AFF diferir deste em sua
forma clínica, não mostra diferenças no exame microscópico. Apenas um trabalho, feito
29
por Poblet e cols. sugere haver diferenças histopatológicas entre as duas doenças, mas
outros estudos precisam ser realizados para suportar essa evidência 28. Entre as
pacientes estudadas, não foram encontradas diferenças histopatológicas entre o quadro
clássico e o quadro atípico, sugerindo tratar-se da mesma doença. Não foi encontrado
dermatite de interface na junção dermo-epidérmica da pele interfolicular nem
espessamento da membrana basal, o que iria sugerir o diagnóstico de lúpus, o principal
diagnóstico diferencial de líquen planopilar.
Em poucos estudos nos quais a imunofluorescência foi realizada, mostrou-se
negativa em todos os casos. Este resultado também foi encontrado em todas as
pacientes deste estudo, tanto na forma clássica quanto na forma atípica28,29 . O fato do
alopecia frontal fibrosante ter o mesmo quadro histológico do líquen plano pilar porém
afetar apenas a margem do couro cabeludo permanece intrigante e desconhecido 39, e,
o fato da imunofluorescência ser negativa sempre na AFF pode ser um indício de que
sejam doenças com alguns mecanismos imunes parecidos porém divergentes, e que
possuem peculiaridades ao atingir locais distintos do couro cabeludo.
O quadro clínico de placas de alopecia irregulares na margem do couro cabeludo
pode ser difícil de definir como uma entidade específica. Acreditamos que seja um
quadro atípico de AFF, corroborando a hipótese de Pirmez e cols., talvez refletindo um
processo de agressão autoimune parcial e menos agressivo. Por ser uma doença rara e
pouco identificada, é necessário melhor reconhecimento da doença e outros estudos
para caracterizar melhor suas apresentações.
A apresentação atípica mostrada, pode, ainda, evoluir para a forma clássica da
doença ou estagnar, maior acompanhamento a longo prazo das pacientes será feito para
esclarecimento de como a doença pode evoluir e a resposta aos tratamentos disponíveis.
30
8- CONCLUSÃO E CONSEIDERAÇÕES FINAIS
A Alopecia frontal fibrosante é uma doença recentemente descrita, rara,
considerada um subtipo do líquen plano pilar e que apresenta desafio de diagnóstico e
tratamento. O objetivo deste estudo foi demonstrar 6 pacientes do sexo feminino com
quadro clínico de placas circulares irregulares em margem de couro cabeludo que
histopatologicamente eram compatíveis com líquen plano pilar.
Para auxiliar no diagnóstico diferencial com LED, fizemos um estudo de
imunofluorescência direta de todas as pacientes e de 6 pacientes com quadro clássico
de AFF. As imunofluorescências de todas as pacientes mostraram-se negativas.
Além disso, fizemos uma revisão dos aspectos clínicos das pacientes.
Clinicamente, as pacientes com quadro atípico apresentaram menos eritema e
descamação na dermatoscopia, que pode levar a suspeita de alopecias não cicatriciais
como alopecia areata e alopecia de tração, pois também podem se apresentar como
placas alopécicas em margem do couro cabeludo. Não houve diferenças
histopatológicas nos dois grupos de pacientes, tratando-se, portanto, da mesma doença.
O estudo nos revela uma nova forma de apresentação de alopecia frontal
fibrosante, com descrição de fundamental importância para evitar diagnósticos errôneos
e retardar o tratamento de uma alopecia que causa perda permanente de folículos
pilosos.
31
9 – REFERÊNCIAS
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33
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29. Chew A-L, Bashir SJ, Wain EM, Fenton DA, Stefanato CM. Expanding the
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30. Brar B, Khanna E, Mahajan BB. Graham little piccardi lasseur syndrome: a rare
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32. Silvers DN, Katz BE, Young AW. Pseudopelade of Brocq is lichen planopilaris:
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Dermatol. 3 de julho de 2015;
34
APÊNDICE I
Título do protocolo:
Introdução
Justificativa
35
A alopecia frontal fibrosante é uma doença rara, ainda representa um desafio para
diagnóstico e tratamento clínico a longo prazo. Caracteriza-se por perda de cabelos em
região de implantação dos cabelos, de forma simétrica e progressiva, e às vezes de
sobrancelhas. Porém, há outras doenças que podem acometer o couro cabeludo que
podem ter apresentação clínica semelhante fazendo com que o diagnóstico seja difícil.
Nestes casos a biopsia clássica não é suficiente para esclarecer o diagnóstico e precisa
de exame de imunofluorescência. Esta, não tem padrão específico para a alopecia frontal
fibrosante, mas afasta outros diagnósticos.
Dia 0: Sua participação no estudo iniciará imediatamente depois que assinado este termo
de consentimento. Se você concordar, seu médico preencherá o formulário de coleta de
dados do estudo com as informações referentes a sua idade e a presença de doenças
prévias. Seu médico realizará um exame físico para observar alguns dados referentes a
queda de cabelos, presença de sobrancelhas, presença de pelos no corpo,
hiperpigmentação facial e outros dados relevantes para a análise da doença. Como
acostumado em este tipo de procedimento, seu médico realizará foto da área de queda
de cabelos e comparar com a foto prévia para comparar a evolução. Esta pratica faz
parte do acompanhamento de rotina da avaliação de queda de cabelos.
Dia 1: o pesquisador fará uma marcação no couro cabeludo da paciente e este será
submetido a um procedimento cirúrgico de biópsia no couro cabeludo conforme descrito
abaixo:
36
colocado campo estéril e uma pequena injeção de anestésico local com injeção de
lidocaína 2% com epinefrina na proporção 1:100.000, é realizada para anestesiar a
região de pele a ser incisada.
Uma amostra de pele é retirada da área anestesiada com punch 4mm e um curativo é
colocado sobre o local. Será realizada uma sutura com fio nylon 4,0 para o fechamento
da ferida. É colocado curativo. Os pontos são retirados em 10 dias. Geralmente, a pele
cicatriza em 2 semanas.
Dia 10: Será feita retiradas de pontos da biopsia e avaliação de complicações locais.
Visita intermedia: Caso houver uma reação na área tratada ou algum agravo a sua saúde,
você deverá avisar seu médico e marcar um retorno com ele o quanto antes. Seu médico
realizará um exame físico, perguntas relacionadas à sua saúde e se necessário poderá
solicitar algum exame.
37
Inerentes ao procedimento:
Esses riscos, incluem: sangramento, infecção, dano aos tecidos ao lado, vasos e
nervos e após o procedimento, alteração da pigmentação, perda de cabelos no local e
cicatrizes.
Pode haver toxicidade sistêmica quando em doses muito altas, os sintomas são
diminuição da temperatura do corpo, tontura, zumbido, gosto e metal na boca, visão
dupla, confusão, alterações da fala. No coração pode dar arritmia, baixos batimentos
cardíacos, pressão baixa. No entanto as doses utilizadas são mínimas, não sendo
esperado efeitos adversos na maioria dos casos.
Pagamentos e compensações.
Durante o estudo, você não deverá assumir nenhum custo pelo procedimento,
nem pelas visitas de acompanhamento. Considerando que você procurou
voluntariamente atendimento dermatológico para tratar a queda de cabelos, o custo do
transporte para comparecer as visitas durante o estudo será assumido por você, já que
fazem parte do acompanhamento de rotina após a biópsia para esclarecer o diagnóstico.
O exame de imunofluorescência não gerará nenhum custo para você, assim como o
acompanhamento.
38
Cobertura por complicações.
Se você decidir participar, terá liberdade para retirar seu consentimento a qualquer
momento. Se for o caso, por favor não esqueça de avisar ao médico investigador e
comparecer a uma última visita.
Razões pelas quais você poderá ser excluído do estudo sem seu consentimento.
39
Confidencialidade
Dúvidas
Se você tiver qualquer dúvida a respeito deste estudo poderá entrar em contato
com a Dra. Yana Lya de Almeida Léda, endereço Rua Castro Alves 60 quinto andar sala
52 telefone (11)991778709 ou (11)38641816 ou com o Comitê de Ética em Pesquisa,
endereço Rua Castro Alves 60 telefone (11) 3397-8069 / (11) 3208-1015.
Autorização:
40
for meu desejo poderei solicitar os resultados do estudo quando finalizado ao
pesquisador ou ao CEP.
ASSINATURA NOME RG
Paciente
Investigador Principal
Testemunha 1
Testemunha 2
41
ANEXO I
Visita 1
1- IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE:
INICIAIS:
2- DADOS DEMOGRAFICOS:
IDADE:
4- História pessoal:
Outra
doença:_______________________________________________________________
8- Histopatologia:
Número médio de folículos; ( )sim ( )não
Presença de infiltrado perivascular; ( )sim ( )não
Dermatite de interface na epiderme; ( )sim ( )não
Dermatite de interface no folículo; ( )sim ( )não
Presença de tratos fibrosos; ( )sim ( )não
Aumento de mucina; ( )sim ( )não
Espessamento da membrana basal.
Degeneração prematura da bainha folicular ( )sim ( )não
Atrofia assimétrica da bainha radicular externa ( )sim ( )não
Hastes pilosas soltas na derme com reação granulomatosa de corpor estranho ( )sim
( )não
Goggles: folículos com bainhas radiculares externas fundidas no nível do istmo ou
abaixo ( )sim ( )não
Tratos cicatriciais foliculares substituindo folículos terminais. ( )sim ( )não
Perda de glândulas sebáceas e folículos. ( )sim ( )não
Resultado:_____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Imunofluorescência negativa
43
Resultado:_____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________
Visita 2 Dia 1:
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
__/__/__
Complicações locais:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
__/__/__
Comentários:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
________________________________
ASSINATURA DO INVESTIGADOR
44