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Um Romance na Neve

CAPÍTULO 1

Jannochka olhava para os dois irmãos,


sentados na frente dela.

— Isso foi inadmissível


— Ela falou, séria.
— Eu concordo, mãe. Ekaterina fica se
metendo...

— Você mandou espancarem o


Bernardo!

— Ekaterina se levantou e Pyotr não


ficou atrás.
Ambos estavam com marcas de
agressão.
Pyotr pior do que ela.

— Ele é um maricas se não aguenta!


— Maricas?
— Ekaterina riu debochada
— Deu para tirar os outros por você?

Pyotr avançou contra Ekaterina, mas


Santiago segurou o rapaz pelo pescoço e o
fez se sentar, olhando feio também para
Ekaterina, que também sei que você
queria apenas machucar o Bernardo.
— Mãe, eu escolhi o mais fraco de nós
para ele treinar! O que mais eu poderia
fazer? - Pyotr deu de ombros, com um
meio sorriso, que logo morreu com a
forma como Jannochka olhou para ele.

— Bernardo não nasceu na máfia. Ele


não foi treinado na máfia. O que você fez
foi injusto e covarde - Jannochka se
aproximou mais de Pyotr, ficando com o
nariz quase colado ao dele - E eu não criei
filho covarde.

Covardes não tem vez nessa


Organização.
Pyotr franziu a sobrancelha.

Mas eu sou seu filho, o herdeiro. Vai me


matar?

Jannochka inspirou fundo, sem tirar os


olhos do filho.

— Se você for um covarde, Pyotr, não


há lugar pra você aqui. Como meu filho, a
cobrança é dobrada Ela falou e se sentou
atrás da mesa dela - Podem sair. E da
próxima vez, eu mesma vou dar uma
surra nos dois. Como Don.
Assim que os dois saíram, Santiago foi
para trás de Jannochka, que deixou o ar
sair e fechou os olhos, cansada. Santiago
massageou os ombros dela.

— Esses dois são fogo - Ele falou. -


Você precisa relaxar um pouco.

— Hmmm...
— Santiago deu um beijo na lateral do
pescoço de Jannochka e desceu a mão
para um dos seios dela, apertando ali.

— Não, não relaxar. Você precisa ser


bem fodida. - Ele puxou a cadeira dela
com a outra mão e Jannochka engoliu em
seco - Levanta.

— Dando ordens? - Ela perguntou,


provocando, levantando-se bem devagar.
Mas ao invés de ficar de pé, Jannochka
se colocou de joelhos e Santiago sorriu.

— E quem sou eu pra dar ordens na


mulher mais poderosa da Rússia? -
Santiago perguntou - Eu não passo do seu
cachorro, não é?

Jannochka, sem tirar os olhos do


marido, abriu as calças dele.
— Não, Santiago. Você é o único capaz
de mandar em mim Ela abaixou a cueca
do marido, segurando o membro dele -
Gostoso.
Sem esperar que ele dissesse nada,
Jannochka o engoliu e Santiago grunhiu e
enfiou a mão nos cabelos de Jannochka.
- Que delícia, amor!

Santiago sempre agradecia por terem


feito aquele escritório à prova de sons.
Subindo as escadas, Ekaterina estava
furiosa, Pyotr logo atrás dela.
— Bernardo precisa crescer!
Ela se virou com raiva.

— Você sabe que fez merda! - Ela o


acusou E ele vai crescer! Primeiro que
Bernardo veio pra cá pra estudar! Nem
sabemos se ele vai ser um de nós!

Pyotr revirou os olhos.

— Não sou tão otário! Sei que você e


ele andam de putaria, Ekaterina. Então,
ele VAI casar com você.

— Não vejo você casando com as


garotas com quem dorme.
— Eu não fodo nenhuma da máfia,
fodo? - Ele perguntou

— Todas sabem bem que não tem


nada sério. Já você, printsessa (princesa),
por mais liberais que sejamos, isso não
diminui o seu status.

— Bernardo não tem que casar


comigo só porque fodemos! - Ela falou e
Pyotr torceu o nariz.

— Não vou deixar ele se aproveitar de


você! - Pyotr rangeu os dentes.

— Ele não está! - Ela respondeu no


mesmo tom.
— Bom, mesmo, Ekaterina. Eu acho
ele um cara maneiro, mas ninguém vai
fazer você sofrer. Eu mato! - Pyotr trincou
os dentes.

— Não, Pyotr. Eu mesma faço isso -


Ela soltou o ar - Obrigada por se
preocupar, irmão, mas eu sei de mim. E
homem nenhum vai brincar comigo. Eu
por acaso tenho cara de lírio do campo,
Pyotr?
Pyotr levantou a sobrancelha e negou
com a cabeça.
— Você está mais pra "bast de Wolf"
do que para um lírio - Pyotr fez chacota e
Ekaterina mostrou a língua para ele.
(Bast de Wolf ou Daphne, é um tipo de
arbusto de até 1,5m que cresce na zona
intermediária da Rússia. Seus frutos são
vermelhos e atraentes, porém, mortais. A
morte ocorre por parada cardíaca e até
mesmo o suco da baga, na pele, pode
causar queimaduras graves e feridas).

— Você é o meu irmão e eu o amo,


Pyotr, mas não se meta mais com o
Bernardo.
— Você quem vai treiná-lo? Ekaterina,
se ele não ficar forte, vão fazer piada dele
e você sabe disso. Não sei como eram as
coisas no México, mas aqui, ele vai ser
devorado.

— Eu cuido disso - Ela falou - E é


melhor você colocar gelo nesse olho. Ou
todos vão ver o estrago que eu fiz em
você.

Ele deu um empurrão no ombro da


irmã e entrou no quarto dele.
Ekaterina tomou um banho e foi falar
com Bernardo.

— Posso entrar? - Ela perguntou após


bater na porta.

— Entra.
Ela abriu a porta e viu Bernardo
aplicando pomada nos machucados, já
limpos.

— Desculpe por isso - Ela falou e


fechou a porta.

— Melhor deixar aberta –Bernardo


disse.
— Não tem motivo - Ela respondeu e
se aproximou, mas Bernardo negou com a
cabeça e passou por ela, com expressão de
dor, e deixou a porta encostada - Você
tem me evitado desde que chegou aqui. Te
meaçaram? Pyotr?

— Eu só não quero desrespeitar você.


Menos ainda aqui. - Ele falou. Santiago
conversou com ele e, entre meias
palavras, deixou claro que se Bernardo
desejava se manter um homem funcional,
era melhor guardar as coisas dele muito
bem dentro das calças.
Ekaterina sabia que não era só isso e se
aproximou mais de Bernardo, colocando a
mão no peito dele por sobre a blusa. Ele
inspirou fundo.

— Amor, assim fica difícil - Ele disse


mais baixo.

Só porque você tá fazendo ser assim -


Ekaterina passou a língua pelos lábios e
desceu a mão, mas Bernardo a segurou
pelo pulso.

— Você ainda vai fazer dezessete


anos, Ekaterina. E eu já tenho quase vinte
anos. Eu já fui muito irresponsável.
Ela estreitou os olhos para Bernardo.

— Eu não tô sendo forçada a nada -


Ekaterina começou a desabotoar a
blusa e Bernardo engoliu em seco - Um
ano passa rápido.
CAPÍTULO 2

Bernardo segurou as mãos dela.

— Então a gente espera um ano -


Ekaterina abriu a boca, indignada - Passa
rápido.
Ekaterina puxou as mãos.

— Eles ameaçaram você.


Certeza! - Ekaterina andou de um lado
para o outro - Você não parecia
preocupado quando me beijou na
faculdade. Ou quando brincávamos nas
chamadas de vídeo!
— Shh! - Ele fechou a porta e passou a
mão pelos cabelos loiros, afastando-se de
Ekaterina e indo para perto do banheiro -
Ekaterina, vamos com calma, okay?
Ela negou com a cabeça.

— Você não se sente atraído por mim,


não é? - Ela suspirou e mudou de
expressão - Certo. Não vou insistir.
Desculpe.

— Ela se empertigou e foi em direção


à porta. Ekaterina não iria se humilhar.
Bernardo xingou mentalmente, andou
até ela rapidamente e segurou-lhe a mão,
fechando a porta que ela já tinha aberto
um pouco e a puxou para a parede.

— Não me sinto atraído? - Ele segurou


o rosto de Ekaterina com uma mão e a
beijou. Foi como se o corpo dele entrasse
em chamas, deliciosas e dolorosas ao
mesmo tempo - Eu quero você o tempo
todo!

Bernardo beijou Ekaterina de novo, os


dois gemendo e a levantou do chão e a
levando para a cama, onde a depositou e
se deitou por cima. Ela passou as pernas
pelo torso dele.

Ekaterina levantou a barra da blusa de


Bernardo, que a retirou e jogou a peça
para o lado. A russa passou a mão pelo
peito do loiro e ao descer o olhar, notou
que ele estava roxo no abdômen.

"Maldito Yenin!", ela amaldiçoou.


Bernardo, apoiando as duas mãos ao lado
de Ekaterina, projetou os quadris para
frente e ela gemeu ao sentir o volume
dele.
— Vê como eu te quero? – Ele
perguntou e repetiu o movimento, com
mais força - E me dói ter que protelar o
momento em que eu finalmente vou ter
você toda, Ekaterina.

Ele a beijou de novo.


Ekaterina mordeu o lábio inferior de
Bernardo, que acelerou os movimentos
dos quadris.

— Castillo?
Uma voz masculina soou do outro lado
e Bernardo e Ekaterina pararam de se
mexer, respirando pesado - A Don quer
falar com você.

— Ah... - Bernardo olhou para


Ekaterina e saiu de cima dela - Eu já vou.
Obrigado!

Passos se afastando e Bernardo cobriu


o rosto com uma das mãos. Ekaterina se
ajoelhou atrás dele, passando as mãos
pelos ombros de Bernardo.

— É melhor você ir. Minha mãe não


gosta de esperar - Ela falou e Bernardo se
virou, Puxando Ekaterina para o colo dele.
— Você é uma tentação, Ekaterina -
Bernardo a beijou de novo e se levantou -
Seja boazinha e coopere.

Ele ajeitou as calças, mas estava difícil


de esconder o estado dele. Ekaterina riu e
ele apertou os olhos para ela.

— O que fizemos aqui... Pode?


Bernardo colocou uma blusa comprida,
mas não era o suficiente.
Ele amarrou um casaco na cintura,
ainda que odiasse aquilo.
Vamos ver - Ele a beijou rapidamente -
Espera um pouco pra sair.
Ela concordou com a cabeça e assim
que ele se foi, Ekaterina deitou na cama
de Bernardo, sorrindo e abraçou um dos
travesseiros.
- Ele me quer, mesmo!
Bernardo estava com o coração à mil. E
se Jannochka soubesse que ele e
Ekaterina estavam quase transando no
quarto dele?
Ele chegou ao escritório dela e respirou
fundo, antes de apertar no botão na
parede e se anunciar.

— Pode entrar -
Jannochka soou pelo interfone e
desligou.

Bernardo abriu a porta, que foi


destrancada e viu a russa sentada atrás da
mesa dela - Sente- se.

— Com licença - Ele disse e se sentou


ali. Bernardo ainda se sentia nervoso na
presença da mulher que tanto se parecia
com Ekaterina.

"Ekaterina é mais bonita", ele sorriu


para si mesmo e Jannochka, que levantou
os olhos para o rapaz, o olhou com
interesse.

Se ainda pode sorrir, não deve ter sido


uma surra tão ruim - Ela disse e Bernardo
despertou das lembranças de minutos
antes, com Ekaterina, Jannochka se
recostou na cadeira - Eu peço desculpas
pelo comportamento dos rapazes,
incluindo o de Pyotr.

Bernardo negou com a cabeça.

— Eu só não tenho condicionamento


suficiente. Apanhei por isso - Bernardo
disse - Pyotr não está errado. Se eu vou
ficar, preciso ser capaz de ao menos
proteger a mim mesmo.

— Você não faz parte da máfia,


Bernardo - Jannochka disse, olhando nos
olhos verdes do rapaz

— Sua vinda para cá está relacionada


aos seus estudos.

— É... É possível que eu seja um de


vocês? Ele perguntou e Janna inspirou
fundo.

— Você tem idéia do que fazemos,


Bernardo? Você consegue compreender
onde estaria se metendo? - Ela manteve o
olhar no dele - Não é algo que você pode
entrar e sair quando quiser. Uma vez
dentro, você só sai morto.

Bernardo não respondeu e Jannochka


ficou satisfeita que ao menos ele não era
impulsivo o suficiente para ir em frente e,
depois, se rrepender.

— Vamos fazer assim: você vai


treinar, vai ver como são as coisas e, caso
deseje ficar conosco, passaremos aos
testes e, finalmente, se você passar, a
cerimônia - Ela propôs - Espero que não
tenha problemas com tatuagens.

Pelo menos uma delas é obrigatória.

— Combinado
— Bernardo disse
— E não tenho problemas com
tatuagens.

Jannochka anuiu com a cabeça.

— Começaremos amanhã. E você vai


entrar num curso de russo.

— Vou?
Ela levantou a sobrancelha.

— Nem todos falam inglês. A Rússia é


grande, Bernardo. Você não vai querer
estar necessitando se comunicar e não
poder. Às vezes disso depende a sua vida
ou de alguém caro a você.
Ele já sabia uma coisa ou outra, que
Ekaterina havia ensinado.

— A senhora está certa – Ele


respondeu.

— Okay. Esteja pronto às seis da


manhã.
Pode ir - Ela falou e Bernardo
concordou com a cabeça, se levantando e
andando até a porta - E Bernardo? - Ele se
virou para ela - Nada de netos, por hora.

Entendido?

Ele arregalou os olhos e ficou vermelho


como um tomate.

Ah...
— Você sabe do que estou falando.
Ainda não. E não se atrase, amanhã. Odeio
atrasos.

Ele concordou com a cabeça e saiu do


escritório, encostando-se à porta com as
costas e soltando o ar.

"Porra, ela sabe!".

Ao abrir a porta do quarto dele, pegou


Ekaterina dormindo na cama.
Bernardo fechou a porta com cuidado e
se aproximou dela, com a intenção de a
acordar, mas não teve coragem.

Bernardo nunca tinha visto Ekaterina


tão relaxada e ela lhe parecia um anjo. Ele
não era ignorante, sabia que aquela moça
era uma mafiosa, filha de uma Don e
compartilhava daquela genética, sem
esconder nada.

Ele se sentou na beirada da cama e tirou


os fios de cabelo que estavam no rosto da
russa, sorrindo.
Uma vez que ele ficasse na Rússia, ele
faria parte daquele mundo e teria que
abdicar de muitas coisas, incluindo da
convivência fácil com os pais. Máximo era
um excelente pai, aceitava Osvaldo e os
outros, mas isso não queria dizer que ele
ficaria feliz com um filho metido naquele
mundo. Clara já foi um baque bruto no
mais velho dos Castillo.

— Mas eu não posso ficar longe de


você- Ele sussurrou e trocou de roupa,
vestindo uma calça de moletom e uma
camisa de algodão.
Depois, Bernardo se deitou na cama, de
frente para Ekaterina.

Os machucados dela estavam cuidados,


mas já estavam arroxeados. Bernardo
inspirou fundo, pois a vontade era de ir
até Pyotr e bater no rapaz.

"Ele vai terminar de me quebrar e, no


fim, vai sobrar para Ekaterina, porque eu
sou um fraco", ele suspirou irritado com
ele mesmo. "Mas eu vou ficar mais forte!".

Mesmo indo para a academia,


Bernardo não era páreo para aquilo.
Quando o celular dele tocou às cinco,
Ekaterina estava nos braços de Bernardo.

Ela resmungou com o barulho, mas


Bernardo levantou a mão para tocar no
rosto dela, que segurou o pulso dele com
força e abriu os olhos.
CAPÍTULO 3

Por um momento, Bernardo sentiu o


sangue gelar. Aquela Ekaterina parecia
outra.

Porém, durou apenas alguns segundos.


Ela rapidamente piscou algumas vezes e
sorriu para ele.

— Desculpe... Eu não estou


acostumada a acordar com ninguém

— Ela falou sem graça e Bernardo


sorriu.
— Eu fico realmente aliviado — Ele
disse e então, rolou por cima de Ekaterina
— Depois que casarmos vai se acostumar.

Um leve rubor apareceu nas bochechas


dela, que mordeu os lábios.

— Já pensando em casamento, senhor


Castillo?

— Claro! Eu sou um homem sério —


Ele deu um selinho nela

— Quero você todinha pra mim. De


todas as formas.
Ele se inclinou para beijá-la novamente,
mas alguém bateu à porta.

— Acorda. loiro! — Era Pyotr. Ele


bateu novamente com um só soco — Vai se
atrasar no primeiro dia?

— Merda! — Bernardo falou baixinho


— Já tô acordado! Vou só tomar uma
ducha!

— Você tem vinte minutos! — Mais


um soco na porta e Pyotr se foi. Bernardo
pulou da cama.

— Você não precisa ter medo dele —


Ekaterina falou e Bernardo, que já estava
a meio caminho do banheiro, a olhou com
incredulidade.

— Sério? Ele vai me matar se pegar


você aqui! Sue mãe e seu pai também!
Seus tios. E eu não duvidaria dos seus
primos. Pelo menos o Aleksey... Ele é
estranho.

Ekaterina não podia negar. Aleksey era


o mais novo, porém,o mais cruel e sádico.

Ela saiu da cama, também e se


espreguiçou, o que fez a blusa dela subir e
Bernardo fechou os olhos. Qualquer
pedaço a mais de Ekaterina que ficava à
mostra era como um convite para que ele
corresse não só as mãos, mas a boca.

"Não!", ele brigou consigo e entrou no


banheiro de uma vez.

Quando ele saiu, depois de ter que se


aliviar, Ekaterina já não estava ali.

Bernardo se vestiu rapidamente e, ao


chegar ao primeiro andar, Ekaterina já
estava ali, com os cabelos úmidos, toda de
preto, conversando com o irmão.
— Bem na hora, loirinho — Pyotr
brincou, olhando para o relógio e sorrindo
de lado — Parece que você dormiu bem.

— Não poderia me atrasar no meu


primeiro dia oficial, não é? Eu... Eu dormi
cedo. Foi isso.

— Acabou a moleza!
— Miguel interrompeu Pyotr, que
estava pronto para comentar sobre
Bernardo dormir cedo. Miguel estava
saindo da cozinha com duas garrafas de
água e jogou uma para Bernardo, que a
pegou com uma só mão — Boa!
— Vamos, hora de treino — Fyódor
falou. Os olhos azuis, como os de Aleksey,
varreram todos, até chegar a Bernardo —

Você vai para o escritório. A Don


espera.

— Sim, senhor — Bernardo disse e se


virou, encaminhando- se para onde
Jannochka esperava por ele.

Aleksey estava passando, a fim de ir


para a porta de saída, já que tinha um
curso do colégio antes da aula.
— Se eu fosse você, teria cuidado em
trancar a porta — O garoto disse em
inglês e Bernardo parou de se mover e
olhou o garoto, que já estava na porta.

— O que você disse?


Aleksey não se virou, mas sorriu.

— Imagino o que pensariam ao saber


que a princesa dormiu na sua cama

— Aleksey soltou uma risada — Pode


me agradecer depois por tirar o tio Yuri
de perto.
Aleksey saiu pela porta e Bernardo
estava se sentindo estranho. Ele andou
rápido até o escritório e Jannochka notou
que ele não parecia bem.

— Aconteceu alguma coisa?


— Huh? — Bernardo perguntou,
avoado.

— Você parece assustado. O que


houve?

Ele piscou algumas vezes e balançou a


cabeça.

— Nada... Eu só... Nada. Perdão.


Jannochka não ia forçar o rapaz a falar,
apenas fez sinal para que ele se sentasse
ao lado dela e a aula começou.

Diferente do que Bernardo imaginava,


Jannochka era extremamente paciente e
explicava com calma. Em nada se parecia
com uma Chefe de máfia perigosa, como
ele ouvia dizerem que ela era.

Mais tarde, no quarto dele, ele


conversava com os pais por vídeo
chamada. Quando Carolina viu os
machucados de Bernardo, ela quase
chorou

— O que diabos estão fazendo com


você, aí?

— Máximo perguntou e Bernardo


balançou a cabeça.

— Eu que me meti onde não devia.


Além disso, pai, eu quero treinar. Ficar
mais forte.

— Você não precisa treinar com


esses... —Máximo soltou o ar — Respeito
os Sigayev, mas... Eu não quero você
nisso!
— A escolha é minha, pai.
— Eles são criminosos!
— Máximo falou baixo, mas ríspido.
Carolina colocou a mão no ombro dele

— Eles não são de brincadeira,


Bernardo. Osvaldo e companhia, perto
deles, são fichinha!

— Eu sei me cuidar! Não vou fazer


nada errado!

— Se se tornar um deles, vai! Porque a


sua chefe vai te mandar roubar, matar! E
você vai! —Máximo levou uma mão ao
peito e Carolina arregalou os olhos —
Vocês ainda me matam!

— Querido, seu pai só está


preocupado. E acho que ele precisa
descansar um pouco

— Carolina falou — Por favor, cuide-


se.
Pense em tudo com carinho.

— Obrigada, mãe — Bernardo disse e


em seguida, a ligação foi finalizada.
Ele suspirou e olhou para o teto,
cansado.
"Mas eu sei o que eu quero!", ele disse,
seguro de si.

Antes de dormir, ele e Ekaterina


conversaram por mensagens e eles como
antes, os dois acabaram "passando dos
limites".

Os dias passaram e Bernardo, por mais


que tentasse não colocar as mãos em
Ekaterina, perdia a força de vontade com
apenas um olhar mais atrevido dela.

Eles evitaram os quartos, mas viviam


pelos cantos se beijando.
— Vou sentir a sua falta — Ekaterina
disse, apoiada no batente da porta,
enquanto Bernardo estava arrumando as
malas para voltar ao México, para o Natal.

— Eu também vou sentir a sua — Ele


respondeu, fechando a pequena mala —
Mas, logo estarei de volta.

— Mamãe disse que o seu treino físico


vai começar — Ekaterina sorriu — E
adivinha quem vai te treinar?

Bernardo balançou a cabeça.

— Quem?
— Euzinha! Ele sorriu.
— Opa! Com uma professora dessas,
eu fico até mais animado

— Ele se aproximou dela, olhou para o


corredor e então, beijou Ekaterina.

Passos no corredor e vozes fizeram os


dois se separarem e ele piscou pra
Ekaterina, pegou a mala dele e saiu pelo
quarto, dando de cara com Yuri e Maksim.
YA slezhu za toboy (Eu estou de olho em
você)! — O pai falava para o filho, que
mantinha a cabeça baixa — Ah, Bernardo!
O Fyódor já está te esperando no carro.
Boa viagem!

— Obrigado, senhor Sigayev! —


Bernardo falou e o russo voltou a fechar o
rosto, passando sermão em Maksim, que
apenas deu um sorriso tímido para
Bernardo e Ekaterina, antes de seguir o
pai.

— Maksim é bem na dele — Bernardo


falou.

— Sim. Ele é... Doce


— Ekaterina falou, andando atrás de
Bernardo — Tio Yuri quer endurecê-lo.
— Por quê? — Bernardo perguntou
— Eu o vi lutar. Ele me parece muito
bom.

— Não para o patamar da Organização


— Ekaterina disse e Bernardo a olhou de
boca aberta — Maksim tem coração mole.
Ele não é dado a torturas.

Bernardo franziu o cenho.

— E você é? — Ele riu, mas Ekaterina o


olhou, séria.

— Eu não nego as minhas origens, o


meu sangue, Bernardo — Ela falou
— Sou filha da minha mãe.
Bernardo, apesar de ouvir muito falar
que Jannochka Sigayeva era uma mulher
cruel, pior que o próprio diabo, não
acreditava. Sim, ela era durona, rígida,
mas também educada e, de certo modo,
amável.

— Aposto que sim — Ele sorriu para


Ekaterina, que sentiu um aperto no
coração.

— Aposte. Porque eu sou pior do que


você imagina — Ela falou. Era melhor que
Bernardo sempre soubesse quem e como
ela era.

Ele parou ao pé da escada e acariciou o


rosto de Ekaterina.

— Você tem uma casca dura, mas por


dentro, é um amor.

Uma gargalhada debochada e os dois


viram Pyotr chorando de tanto rir, com
Miguel atrás dele.

— Um amor? Ekaterina? — Pyotr


perguntou e colocou a mão no ombro de
Bernardo. O russo tinha crescido alguns
centímetros e estava do tamanho do loiro

— Pobre iludido. Abre o olho, loiro.


Essa daí é pior que a aranha Karakurt!

— Você está enganado — Bernardo


disse e Pyotr parou de rir, confuso.

— Como eu disse, iludido. Boa viagem


— Pyotr falou — E vê se acorda desse
seu mundo de fantasia. A teia dela é
viscosa e você vai acabar preso e ela vai te
matar.

— Cala a boca, Pyotr!


— Ekaterina falou e o rapaz não
gostou do tom, fechando a cara. Miguel se
colocou no meio.
CAPÍTULO 4

— Época de Natal, amor nos corações!


— Ele disse e puxou a manga da
camisa de Bernardo — Tá na hora da
gente ir, Bernardo. Tchau, galera!
Comportem- se!

Ele deu uma piscada para os gêmeos e


foi com Bernardo para o carro que os
levaria ao jatinho.

— Pyotr às vezes é insuportável! —


Bernardo falou e entrou no carro.
— Mas... Você sabe que a Ekaterina
não é uma flor, né? — Bernardo olhou
feio para Miguel — Não tô falando mal
dela. Só tô dizendo que ela parece com a
tia Janna.

— Essa também não é esse demônio


que vocês pintam.
Miguel soltou uma risada.

— Realmente, você tá iludido. Não


sabia que você era desses que se
derretem por mulher, Bernardo.
O loiro apontou para Miguel.
— Não ouse me julgar! Você fica de
quatro facinho!

— Eu? — Miguel riu com desdém —


Tive um lapso. Já passou.

— Pensei que estivesse com a Gemma.


Gemma? Ficou louco?

— Miguel negou com a cabeça — Não


nego que ela é bonita, está menos chata.
Agora... Ela e eu, juntos, um casal? Nem
louco.

— Eu te vejo de papo com ela... Achei


que estivesse rolando algo.
— Não! Amizade! — Miguel falou —
Não curto mulher tão novinha.

— Ah, nossa, você é tãaao velho!


— Gosto de mulher da minha idade
pra cima — Miguel disse e sorriu de lado
— As de vinte e cinco, por aí. Nossa, que
delícia.

Bernardo balançou a cabeça


negativamente.

— Você é um galinha. Junto com o


Pyotr.

— Não nego. E você, é um romântico.


Bernardo suspirou.

— Eu prefiro me manter fiel ao que eu


sinto e a quem eu quero. Se eu gosto de
uma mulher, por que eu iria querer outra?
Nem entra na minha cabeça a
possibilidade de outra me tocar.
Ele torceu o nariz e Miguel levantou as
sobrancelhas.

— Vai ver não encontrei o amor da


minha vida, ainda.

A viagem de volta para o México foi


longa e Bernardo não conseguia parar de
pensar que estava adorando ficar
pertinho de Ekaterina, além de estudar o
que ele adorava.

Assim que o período iniciasse, ele


entraria para a faculdade na área da
computação.

Naquele ano, Tonny passou o Natal com


os Castillo, para que Clara não precisasse
escolher.

— E então, como estão as coisas na


Rússia? — Tonny perguntou a Bernardo,
quando os dois estavam organizando os
talheres.
— Bem... Alguns russos são mais
legais do que outros — Bernardo riu —
Acho que tem uns que não me suportam.

— Você não é nascido no meio.


Normal — Tonny disse — Além disso,
você está "roubando" a princesa deles.
Muitos ali sonham em ter algo com
Ekaterina.

Bernardo trincou o maxilar.

— Pois eles que sonhem! Ela é minha!


Tonny sorriu.
— Tenho certeza que sim. E, um
conselho:

Ekaterina não é do tipo que se dobra


por homem, que abaixa a cabeça. Nunca
tente subjugá-la, Bernardo. Nunca.

— Manterei isso em mente — O loiro


disse.

A noite de Natal foi regada a conversas,


brincadeiras e, claro, muito amor.
— Eu nem acredito que elés já estão
crescidos — Carolina reclamou, fazendo
beicinho enquanto terminava de guardar
a louça, com Máximo. Eles haviam
insistido em dar conta de tudo sozinhos.

Máximo a abraçou por trás e apoiou o


queixo no ombro da esposa.

— Parece que foi ontem que Bernardo


era um bebê — Ele falou e sorriu,
lembrando do bebê que ele viu pela
primeira vez através da tela de um
celular.
Aquilo sempre fazia Máximo se
arrepender de como muitas coisas
aconteceram na vida deles, e de como ele
quase colocou tudo a perder.

— Obrigada por me dar esses filhos


maravilhosos — Carolina disse, se
encostando mais em Máximo e passando a
mão pelo rosto dele.

A pele estava melhor, com o tempo. Mas,


se olhasse direito, ainda era possível ver
que não era perfeitamente lisa.
Máximo apertou mais a cintura de
Carolina e olhou em volta.

— Acho que estão todos dormindo —


Ele sussurrou e ela mordeu os lábios.

— Mas é perigoso! —
Apesar de dizer isso, Carolina já estava
sorrindo e adorando a atenção que uma
das mão de Máximo estava dando para a
coxa dela e subindo pelo tronco, indo em
direção ao seio.

— Adoro um perigo
— Ele mordeu o lóbulo da orelha dela,
que gemeu e se esfregou mais em
Máximo.

Sem pensar mais, Máximo a levantou,


para que Carolina se sentasse no balcão.

Ele se colocou no meio das pernas dela


e atacou-lhe os lábios.

— Você tá cada vez mais deliciosa! —


Ele beijou o pescoço de Carolina, se
enterrando nela, que abafava os gritinhos
e gemidos no ombro dele.
No próprio quarto, Bernardo estava em
chamada de vídeo com Ekaterina, como
sempre.

— Quero saber qual vai ser o meu


presente — Ela brincou e Bernardo
sorriu, safado, passando a mão por cima
da calça.

— O que você quiser.


— Hmm... Perigoso você dizer isso —
Ela passou as mãos pelos seios, por cima
do suéter.
— Temos que esperar... — Bernardo
respondeu, a boca seca — Você precisa
completar dezoito anos.

Ekaterina revirou os olhos.

— Não preciso... Nossa diferença de


idade é de menos de três anos!

— Mesmo assim. E... Não quero fazer


besteira e estragar a minha chance de
casar com você.

Ekaterina negou com a cabeça.


— Aqui as coisas não são assim. Eu
não preciso casar virgem

— Ela falou e olhou bem para


Bernardo

— E você tem tanta certeza assim de


que vamos nos casar?

Ele fechou a expressão na hora.

— É claro que vamos! Eu não estou


namorando você por brincadeira!

— Ah, estamos namorando... — Ela


disse lentamente e, ao ver a boca dele
aberta, em confusão e ofensa, ela
Ekaterina continuou — Você nunca pediu.

Bernardo ainda levou alguns segundos


para se recompor.

— Não seja por isso. Eu gostaria de


fazer isso ao vivo, mas também não quero
perder mais tempo

— Ele respirou fundo


— Ekaterina, você quer ser a minha
namorada?
Oficialmente?

Ela virou a cabeça para o lado, fazendo


um biquinho. O coração de Bernardo
bateu mais forte, porque ela não estava
dando uma resposta.

"Porra... Será que não é isso o que ela


quer?"

— Eu sou muito jovem. — Ela falou e


Bernardo pensou que morreria ali
mesmo. Ekaterina percebeu como o rosto
dele parecia contorcido em dor e
decepção.
CAPÍTULO 5

— Ei! Eu tô brincando! Claro que eu


quero!

Bernardo fechou os olhos, levando a


mão ao peito.

— Você... Diaba! — Ele soltou e


Ekaterina jogou a cabeça para trás, numa
gargalhada que aqueceu Bernardo todo
por dentro.

— Desculpe, desculpe. Não sabia que


você ficaria desse jeito!
— Isso não é jeito de tratar o seu
namorado... — Ele a repreendeu, mas já
sorrindo. Ela era a namorada dele.

De acordo com a máfia, ela poderia


estar noiva dele, sem qualquer problema.
Ele esperaria mais um pouco e a pediria
em casamento. Não tinha qualquer dúvida
dentro dele quanto a quem ele queria
para a vida.

— E como eu posso me retratar? —


Ela abriu mais o sorriso
— Meu querido namorado? Alguém
bateu na porta de Ekaterina, antes de
abrir a mesma. Era Pyotr, que olhou para
a tela, vendo Bernardo sem camisa e
apertou os olhos, se aproximando com
raiva.

— Que merda é essa?


— Ele perguntou e fuzilou Bernardo
pela tela do computador.

— Sai do meu quarto!


— Ekaterina bateu o pé e puxou o
braço do irmão, que apontou com o dedo
para Bernardo.
— Eu vou quebrar você... Porra, eu
vou te matar! — Ele gritou e Ekaterina
deu um empurrão nele. Pyotr segurou os
braços dela

— Ficou maluca?
— Ei! Solta ela! — Bernardo gritou,
colocando-se de pé, como se ele pudesse
fazer algo, uma vez que estava a muitos e
muitos quilômetros de distância dos
gêmeos.

— O que tá havendo aqui? — Santiago


apareceu no quarto e olhou para os dois
irmãos, sem nem olhar para o
computador de Ekaterina.

Isso é, até que Pyotr apontou.

— Ekaterina tá de putaria com o


Bernardo, online!

A expressão de Santiago escureceu e ele


olhou para Ekaterina e, então, para onde
Pyotr estava apontando..

— A gente tava só conversando! —


Ekaterina disse, sem gaguejar — Qual o
problema?
— Por que ele tá sem blusa? —
Santiago perguntou e só então Bernardo
se lembrou que poderia parecer que ele
estava nu. Ele se afastou um pouco da tela
para que Santiago visse que ele estava
vestido.

Não que aquilo tenha ajudado muito, já


que o volume nas calças dele ainda estava
ali.

— Ele tomou banho e veio falar


comigo. Não é como se não víssemos os
rapazes sem blusa — Ekaterina disse,
calmamente — E eu estou bem vestida,
não?

Santiago olhou para ela e concordou


com a cabeça.

— Vamos conversar quando você


voltar, Bernardo — Ele disse para o loiro,
que concordou com a cabeça, pela tela do
computador. — Quanto a vocês dois...
Vamos conversar agora!

Abaixando a tela do computador, dando


uma piscada de olho e um sorriso para
Bernardo, Ekaterina se virou em seguida
e seguiu o pai para fora do quarto.

Eles foram para o escritório.

— Sentem-se! — Os dois se sentaram


e Santiago cruzou os braços, soltando o ar
e se escorando na mesa com as duas
mãos, cabeça baixa, antes de olhar para os
meninos — Essas brigas tem que parar.

— Ele invadiu a minha privacidade —


Ekaterina disse e Santiago concordou com
a cabeça e olhou para Pyotr, que parecia
ofendido.
— Eu só fui chamar Ekaterina para
tomar a droga do chocolate quente que eu
fiz pra ela!

— Pyotr cruzou os braços na frente do


peito, enquanto Santiago olhou com
surpresa para o filho, levantando a
sobrancelha — O quê?

— Você fez chocolate quente para


Ekaterina?

— Eu só quis ser legal! É manhã de


Natal!
— E desde quando você é legal... Na
manhã de Natal, Pyotr? — Ekaterina
perguntou e cruzou os braços.

Pyotr revirou os olhos.

— Foi a primeira e última vez — Ele


retrucou — Mas não mude o foco! Você
tava se insinuando para aquele... Aquele...

— O que você viu, Pyotr? — Santiago


perguntou e Ekaterina agradeceu por não
ter tirado a blusa.
— Ela estava passando a mão pelo
corpo. Eu vi! E eu tenho certeza que ela
tava levantando o suéter!

Santiago olhou para Ekaterina.

— Pai, o senhor nao faz esse tipo de


cobrança com Pyotr, por que comigo? Por
que ele pode dormir por aí com quem
quiser e eu, não?

— Você dormiu com ele? — Pyotr


perguntou, mais irritado.

— Não é da sua conta!


— Ei. ei, ei! — Santiago deu um tapa
forte na mesa.

— Sorte de vocês que Jannochka teve


que sair, ou ela teria dado aquela surra
que ela prometeu! Porra... — Ele suspirou
— Só quero que se cuide, não vou matar
Bernardo, ainda. Ok?

— O senhor vai deixar? — Pyotr


perguntou, levantando-se.

— Como ela disse, se você pode, ela


pode.

— Mas.
— Está dito, Pyotr! —Santiago falou e
olhou para Ekaterina — Mas tenha
cuidado.

Porque assim que estiver claro para os


outros que Bernardo anda com você, eles
vão querer a morte dele. Você sabe como
os rapazes são competitivos.

— Dane-se eles! — Ekaterina soltou e


Santiago a olhou feio

— Perdão.
— E você, Pyotr, não quero saber de
você se metendo onde não deve. Sua irmã
não é nenhuma desmiolada. Ela nunca
deu trela para rapaz nenhum e Bernardo
é alguém que eu aprovo.

— Ele é fraco! Incapaz de proteger


Ekaterina!

— E quem disse que EU preciso de um


homem me protegendo? — Ekaterina o
olhou indignada — Eu posso dar conta de
mim. Melhor do que você dá conta de si!

— Quer testar? — Pyotr se levantou e


Santiago segurou os dois pelo pescoço e
olhou de um para o outro.
— Último aviso — A expressão dele
ficou bem diferente e os gêmeos sabiam
que, apesar de ser muito paciente, quando
o pai deles resolvia que a brincadeira
havia acabado, ele era terrível

— Entendido?

Os dois concordaram como dava, com a


cabeça, antes de Santiago os colocar para
fora.
Ekaterina foi em direção a cozinha.

— Hey! — Pyotr a chamou, mas ela o


ignorou. Ele se colocou na frente dela
— Pra onde tá indo?
— Quero saber se você fez mesmo
chocolate ou aquilo foi papo furado! —
Pela forma como Pyotr fechou a boca,
Ekaterina já sabia a resposta — Você é
um puta mentiroso!

— Eu ia fazer o chocolate, mas tinha


que saber se era com ou sem canela — Ele
falou, mas Ekaterina sabia que aquela era
outra mentira e o olhou, esperando que
ele falasse a verdade.
Pyotr jogou as mãos para o alto — Tá!
Eu só queria saber se você podia me
ajudar com uma coisa.

— Não me sinto muito interessada


nesse momento, não. — Ekaterina
respondeu, dando a volta e indo para as
escadas.

— Calma aí, irmãzinha Ekaterina


continuou andando

— Tem essa menina...


Ekaterina parou de subir os degraus e
se virou para Pyotr.
— Você tentou estragar o meu
relacionamento e ainda tem a cara de pau
de querer que eu ajude com o seu?
Ela negou com a cabeça e continuou a
subir, mas Pyotr segurou a mão dela.

— Seguinte, ela é boazinha.


— É da máfia?
Ele negou com a cabeça.

— Do colégio.
— Você estuda num colégio para
meninos
— Ekaterina respondeu, cruzando os
braços.
CAPÍTULO 6

— Eu não disse que era o meu colégio,


disse? — Pyotr tentou desconversar, mas
Ekaterina continuou encarando o irmão,
que soltou um suspiro de derrota — Ela
estuda num outro colégio, óbvio.

— Pyotr, se não vai me contar isso


direito, eu não tenho como ajudar em
nada.

— Certo! Hmm... — Ele passou a mão


pela nuca e Ekaterina imaginou que ele
estava preparando outra mentira — Eu
fui fazer um trabalho na casa de um
colega e eu a conheci. Vizinha dele.

— Desisto — Ela abanou a mão na


direção do irmão e voltou a subir a
escada.

— Não, pera aí! — Pyotr seguiu


Ekaterina — Eu não tô mentindo!

— Você não vai na casa de ninguém


fazer trabalho. Os professores sabem que
você faz trabalhos sozinho, Pyotr. Então,
pense melhor e, quando tiver uma
mentira mais elaborada, você fala comigo!
— Só... Só me diz o que eu posso fazer
pra uma garota legal me dar bola!
Ekaterina já estava no topo e se virou
novamente, mas não completamente.

— Se ela for legal, mesmo, não vai te


dar bola, Pyotr — Ela então olhou bem
para o rosto do irmão, que parecia
chocado e machucado com as palavras
dela — Vai ver que ela consegue sentir o
quão mentiroso você é e, por isso, ela está
sendo esperta e mantendo distância.

Depois disso, Ekaterina voltou a andar


e, dessa vez, Pyotr não a seguiu. Ele
fechou os olhos, irritado, e foi para o
próprio quarto.

Aquele era um dos poucos dias no ano


em que eles não tinham treino e
poderiam aproveitar o dia para eles.
Exceto se houvesse alguma emergência.

Jannochka estava olhando para o


homem sentado na cadeira, com pouco
interesse.

— E-eu juro, Parkhan... — Ele falou,


com dificuldade — Não fui... Eu.
— Além de tudo, ainda tenta me
passar de imbecil — Ela murmurou,
revirando os olhos e se aproximando do
homem.

— Parkhan... Por favor...


Jannochka fez sinal para o outro
soldado, que segurou o pescoço do
homem, pela nuca e apertou, fazendo-o
abrir a boca por reflexo. Ela enfiou a mão
na boca do homem e puxou a língua dele
para fora, vendo-o arregalar os olhos e se
debater.
— Eu odeio mentirosos. Odeio
estupradores... E pedófilos. Você
conseguiu ser os três

— Quando o homem olhou dentro dos


olhos dela, foi como se visse o próprio
inferno. — Vou tirar tudo de você.

Ela tirou a pequena faca do cinto e


cortou lentamente a língua do homem.
Depois, enfiou a mão na bacia de sal, já
preparada e colocou um punhado na boca
dele, que tentava gritar.
— Adrenalina — Ela pediu e o médico
que trabalhava com ela injetou uma
seringa no homem — Você não vai
morrer. Não ainda.

Ela olhou para o meio das pernas dele e


sorriu diabolicamente.

Ao chegar em casa, Santiago já a


esperava. Ela tinha dito que trataria de
um problema, e não precisaria que ele
fosse. Na verdade, ela queria que ele
descansasse um pouco, já que Santiago
vinha trabalhando mais do que o normal.
— Pela sua cara, foi divertido,
Santiago falou, sorrindo de lado.

— Um aquecimento
— Ela falou e foi para o banheiro — A
diversão vai começar agora — Ela piscou
para o marido, que entendeu e a seguiu
para o banho.

Na cama, ela beijou o peito de Santiago e


o acariciou.

— Como as crianças se comportaram?


— Brigaram, de novo, mas nada grave.
Besteira — Ele passou a mão pelo seio
de Jannochka. Ela tinha voltado a colocar
os piercings depois que os gêmeos já não
estavam amamentando.

Santiago deitou por cima dela e passou


a língua no mamilo — Não canso de
chupar essas gostosuras.

Ele sugou forte em um, enquanto


apertava o outro. Enquanto isso, a mão
livre dele foi para o clitóris de Jannochka.

— Ah, Santiago! — Ela gemeu e


passou as unhas pelas costas dele.
Quando ele se posicionou na entrada
dela, sorrindo de maneira safada e
começou a entrar, bateram à porta com
urgência.

— Ah, não, porra! — Santiago


resmungou com raiva e olhou por sobre o
ombro, para a porta — O que foi?

— Senhor, é uma emergência!


Santiago rosnou e olhou de novo para
Jannochka, que já se afastava dele.
Santiago fechou os olhos e grunhiu de
novo, antes de pegar os shorts e ir para a
porta, abrindo um pouco, apenas para
olhar para o soldado, que estava de lado, a
fim de não olhar para o quarto.

— É bom alguém ter morrido! —


Santiago falou entre dentes e o soldado
engoliu em seco.

— Pyotr está na delegacia, senhor.


Jannochka, que já tinha colocado um
roupão por cima do corpo, apareceu por
trás de Santiago, com os olhos faiscando.

— O que disse? — Ela perguntou


calmamente, baixo, mas foi o suficiente
para o soldado tremer. Quanto mais
calma por fora, mais furiosa ela estava por
dentro. Todos ali sabiam daquilo.

— Ele foi... — O soldado respirou


fundo. Ser o mensageiro de más notícias
pesava como uma tonelada — Ele foi
detido e o delegado não quis entrar em
detalhes, mas pediu a presença dos pais.

— Já vamos resolver isso. Pode ir.


Obrigado — Santiago falou e fechou a
porta. Jannochka já estava trocando a
roupa, o rosto vermelho de raiva.

— Esse moleque! — Ela apertou os


lábios.
— Dependendo do que houve, eu
mesmo vou dar a porra de uma surra
nesse garoto!

Quando eles chegaram lá, Pyotr estava


sentado na sala do delegado e, pela
expressão dele, não havia um pingo de
vergonha ou arrependimento.

— Senhores Sigayev
— O delegado, um homem de meia
idade, com os cabelos já brancos nas
têmporas, os recebeu.
— Delegado Petrovich — Santiago
falou e apertou a mão do homem, que não
se atreveu a tocar em Jannochka,
limitando-se a um aceno de cabeça
respeitoso — O que houve aqui?

O delegado suspirou, como se tentasse


encontrar as palavras certas.

— Pyotr Sigayev estava com um outro


rapaz... Bom, eles estavam com drogas.

O delegado sabia muito bem sobre os


negócios da família Sigayev, porém, era
estritamente proibido aos membros
consumirem drogas ou serem pegos perto
de quem as estava consumindo.

Santiago olhou para Pyotr, que não


podia vêlos, uma vez que estava fechado
na sala. Mas só de ver como o garoto
parecia tranquilo, até um pouco enfadado,
fez o sangue de Santiago ferver.
CAPÍTULO 7

A porta da sala do delegado se abriu e


Pyotr virou o pescoço, dando de cara com
Petrovich. O rapaz o olhou com as
sobrancelhas erguidas.

— Meus pais já chegaram, Delegado?


— Ele perguntou, com falsa gentileza.
Pyotr odiava ser interrompido, não
importava o que ele estava fazendo.

— Sim — Petrovich disse e deixou a


porta aberta, fazendo sinal com a mão que
Pyotr deveria segui-lo.
Pyotr se levantou e sorriu de lado,
porém, quando ele tentou ir para a saída,
um policial se colocou na frente e ele
franziu o cenho.

— Com licença — Ele pediu, mas o


policial não se moveu.

— Senhor Sigayev, por aqui, por favor


— Petrovich pediu e Pyotr o olhou com
confusão.

— Mas a saída é por aqui, não? —


Pyotr perguntou, sentindo que algo estava
errado.
— Os seus pais me pediram que o
senhor usasse um caminho diferente.

Pyotr apertou os olhos para ele, mas


decidiu seguir. Não tinha jeito de
Petrovich tentar qualquer coisa contra
ele, afinal, ninguém brincaria com os
Sigayev sem esperar retaliação.

Ao entrar num corredor com a primeira


cela, Pyotr parou de andar.

— Com respeito, mas... Que merda é


essa? Pra onde está me levando?
— Para a sua cela — Petrovich
respondeu, sem muita emoção.

Pyotr ficou calado por uns segundos,


antes de gargalhar, mas Petrovich não
esboçou qualquer reação. Ele estava
acostumado a lidar com jovens como
Pyotr.

— Eu não sabia que o senhor tinha um


senso de humor tão bom! — Pyotr
enxugou as lágrimas dos olhos, mas ao
perceber que o delegado não disse nada,
ele foi ficando mais sério — Isso é sério?
— Totalmente, senhor Sigayev.

Pyotr estalou a língua e cruzou os


braços.

— Quero falar com meus pais. Agora.


Petrovich finalmente mudou a
expressão e sorriu de leve.

— Com prazer — Ele discou o número


de Santiago e esticou o telefone para que
Pyotr o pegasse — Aqui.

Pyotr levou o telefone ao ouvido.


— Delegado — A voz de Santiago soou
do outro lado.

— Pai, esse delegado quer me colocar


em uma cela — Pyotr disse com um certo
toque de deboche — Por isso pedi para
falar com o senhor. Para resolver esse mal
entendido.

— Qual mal entendido, Pyotr? —


Santiago perguntou e o sorriso triunfante
de Pyotr começou a esmorecer

— Você fez merda, eu conversei com o


delegado e, infelizmente, você vai ter uma
curta estadia na prisão.
Pyotr abriu a boca, sem acreditar. Ele
ficou na dúvida se o pai tinha usado o
"infelizmente" para ele ir preso ou se por
ficar pouco tempo lá.

— Pai... Eu vou ficar fichado! — Pyotr


disse e arregalou os olhos — Isso vai
foder tudo!

Apesar de gostar da máfia, Pyotr tinha


intenção de ir para a faculdade!

— Você fodeu com tudo, Pyotr.


Conversaremos quando você sair.
Agora, uma dica: não cave mais fundo a
sua cova.

E o telefone ficou mudo. Pyotr engoliu


em seco e olhou para a mão estendida do
delegado, que pedia pelo aparelho dele de
volta.
Por mais que Pyotr tivesse força e
competência para imobilizar o delegado,
seria um tiro no próprio pé dele, pois se
ele saísse dali, seria um fugitivo. E depois
do que os pais fizeram com ele, Pyotr
duvidava que eles o ajudariam.
Apertando o maxilar, ele seguiu o que o
delegado falou e entrou na cela, olhando
em volta com desgosto.

Não era sujo. Mas ele não queria ficar


ali.

— Delegado! — Ele chamou e


Petrovich parou de andar, voltando-se
para Pyotr, esperando que o rapaz falasse
— E o Kazimir Semenov?

O rapaz estava com Pyotr. Na verdade,


era ele quem estava fazendo a merda!

— Os pais dele já o levaram.


A resposta do delegado chocou Pyotr,
que nem teve reação, antes de ser deixado
sozinho ali.

Na mansão dos Sigayev, Ekaterina


estava olhando para o pai, piscando.

— Pyotr...Foi preso?
— Sim, ele fez merda, quebrou as
regras, e foi preso — Santiago disse,
calmo. Por dentro, ele estava morrendo.
Deixar Pyotr ali foi como se ele
estivesse enfiando uma barra de ferro
quente dentro dele mesmo.

Mas ele não podia demonstrar aquilo.

Pyotr tinha que aprender e Ekaterina


era a gêmea. É claro que ela ficaria de
coração mole para o irmão. Santiago
precisava demonstrar que eles não
podiam fazer o que bem entenderem e
agirem como se não houvesse punição.

— Eu vou visitá-lo — Ela falou e


Santiago não a proibiu.
Bufando, Ekaterina subiu, pegou o
celular dela, algumas facas e armas e se
arrumou toda. Ao se virar, viu Aleksey
escorado no batente da porta.

— O que foi? — Ela perguntou. O


garoto conseguia tirá-la do sério, mesmo
sem falar nada.

— Parece até que você está indo


resgatar alguém — Ele disse, as mãos nos
bolsos.

Apesar do sorriso nos lábios, os olhos


do garoto eram vazios.
Ekaterina era dura, mas ela sentia
calafrios com Aleksey Isso não é da sua
conta, priminho.

Ele levantou as mãos, como se estivesse


se rendendo.

— Claro que não — Ele falou — Mas


como eu gosto muito de você, vim falar
mesmo assim.

Se você for resgatar alguém, contra as


ordens dos tios, você vai apenas condená-
lo. Lembre-se que vocês dois não são os
únicos capazes de subir ao trono.

Na possibilidade de Pyotr e Ekaterina


morrerem, Maksim os substituiria e,
depois, Aleksey. E Ekaterina tinha a
sensação de que o mais novo esmagaria o
outro primo dela. Maksim era "bonzinho"
demais.

— Eu vou apenas visitar Pyotr. Mas


estou pronta para qualquer encontro
desagradável, só isso — Ela falou,
colocando o casaco pesado por sobre o
corpo e indo em direção à porta —
Obrigada pelo... Conselho.

Ela passou por Aleksey, que a olhou


com um sorrisinho no rosto. Ele adorava
provocar os primos.

Pyotr estava andando de um lado para


o outro, quando a grade que separava a
delegacia da parte das celas fez barulho.
Ele ficou em alerta.

— Rina! — Ele disse e se aproximou


da grade, mas não a tocou.
Ekaterina cruzou os braços na frente do
corpo e olhou bem para o irmão.

— O que você fez, Pyotr? — Ela


perguntou, com um tom de decepção.
Pyotr normalmente não se importava
com o que os outros pensavam dele, mas
os pais e, principalmente, Ekaterina, eram
os únicos que ele queria sempre agradar
— Não mente, ou eu vou embora e juro
que vou passar um tempão sem olhar na
sua cara!

Ele suspirou e passou a mão pelos


cabelos.
— Kazimir me ligou e disse que tava
numa enrascada. Eu estava de saco cheio
de ficar em 'casa e fui ajudar, afinal, ele é
meu amigo — Pyotr apertou a mandíbula.
Ele se entenderia com Kazimir depois —
Quando eu cheguei lá, ele tinha enfiado a
porrada num outro cara.

— Só uma surra? — Ela perguntou,


incrédula.

Ela conhecia Kazimir e aquele rapaz era


problema.
— Kazimir tava usando drogas, Rina.
O cara descobriu e Kazimir quis dar um
jeito nesse problema. Bom, ele não matou
o desgraçado.

— Ainda bem! Você ser pego com um


assassinato assim não teria nem como os
nossos pais fazerem algo, Pyotr!

— Eu não matei ninguém! Pyotr


respondeu e soltou um suspiro de
frustração

— Eu liguei para a ambulância, eles


ligaram para a polícia, que chegou junto.
— Daí você tava ali e rodou junto com
o Kazimir, né? — Ekaterina perguntou e
Pyotr levantou os ombros. Ela balançou a
cabeça — Você é muito imbecil, às vezes!
E cadê ele?

Ela olhou ao redor e as celas estavam


quase vazias, com exceção de um homem
deitado num canto.

— O delegado disse que os pais dele o


levaram.

— Pyotr deu de ombros.


— E... E você tomou a culpa? —
Ekaterina apertou os punhos — Eu vou
resolver isso. Kazimir já está morto!

— Rina! — Pyotr a chamou quando


ela já tinha virado na direção da saída —
Não. Ainda não. Deixa que eu lido com ele.
Kazimir vai me pagar por ter jogado a
bomba da merda dele em cima de mim!

— É bom mesmo, Pyotr, porque se


não, eu vou fazer aquele merdinha se
arrepender de ter nascido! Ela se
aproximou da cela e estendeu a mão, ao
que Pyotr segurou-a e ela sorriu — Você
logo vai sair daí.
Ekaterina foi para o carro e segurou o
volante, com raiva.

— Se Kazimir pensa que vai ficar


assim, não vai. Eu posso não matar, mas
sem punição por ter mexido com o meu
irmão, ele não fica!
CAPÍTULO 8

Ekaterina estava a caminho da casa de


Kazimir, mas encostou o carro quando ela
viu o nome na tela do celular.
Teoricamente, ela não poderia dirigir, já
que era menor de vinte e um anos, mas,
ela tinha conseguido uma "autorização
especial".

— Oi, amor! - Ela atendeu, sorridente.


— Hmmm, de bom humor, minha
rainha? - Bernardo abriu um sorriso
imenso.

— Nem tanto... - Ela não sabia se


deveria ou não contar a ele sobre Pyotr,
mas então, ele era o namorado dela. O
futuro marido dela - Pyotr está preso.

O sorriso de Bernardo morreu ali


mesmo. Ele, que antes estava deitado
preguiçosamente na cama, deu um pulo.

— O quê? Como assim? - Bernardo


sabia que a máfia não era uma
organização de caridade, mas ele esquecia
das coisas quando estava rodeado dos
"amigos" dele. Era assim que ele
considerava os Sigayev, os Herrera...

Mesmo Pyotr querendo a morte dele.


— Um filho da puta armou pra ele-Ela
disse e suspirou, contando tudo-E é por
isso que eu vou dar um corretivo nesse
merda.

— Não, você não vai! - Bernardo disse


e Ekaterina levantou a sobrancelha. Se
Bernardo pudesse ver o olhar perigoso
dela...

— Como é?

Bernardo soltou a respiração.

— Não estou tentando controlar você,


amor. É só que... Ainda que você seja
muito competente, eu não acho que os
seus pais vão te deixar sair ilesa disso.
Eles deixaram o Pyotr preso...

Ekaterina remexeu a boca, pensativa.

— E o que me sugere? Deixar pra lá?


— Não. Mas...-Na verdade, era
exatamente o que ele queria. Até porque
Bernardo tinha certeza de que Pyotr
saberia se vingar à altura -Não é melhor
pensar com mais calma?

Ela apertou os olhos e sorriu.


— Muito bem. Eu vou pensar bem. E
vou foder com o Kazimir!

— Não, você vai foder comigo-


Bernardo brincou e Ekaterina ficou
surpresa com a ousadia de Bernardo. Ele
mesmo se surpreendeu, pois ele não
falava daquele jeito. Bernardo não queria
desrespeitar Ekaterina - Perdão.

— Por quê?
— Huh?
— Por que está pedindo perdão, Bê? –
Ela perguntou e se recostou melhor no
banco – Já sei. Por você não estar aqui pra
me foder?

— Ekaterina!
— Eu sei! Não vamos fazer isso até eu
ter dezoito anos — Ela revirou os olhos
— Mas não significa que não podemos
brincar.

— Eu não posso. Não agora — Ele


falou — Vamos ter almoço em família.

— Preciso terminar de me arrumar.


Ele olhou para a própria bermuda.
Começar a falar aquele tipo de coisa com
Ekaterina sempre o deixava pronto para
ela.

— Quando você volta? — Ela


perguntou.

— Em três dias, amor. Vou passar o


ano novo com você — Os pais queriam
que ele ficasse ali, mas Bernardo queria
ficar com Ekaterina na virada do ano.
Seria o aniversário dela.

— E vamos começar a contagem


regressiva, pra valer. Um ano!

— Vai ser a nossa prova, amor —


Bernardo disse e ouviu Carolina
chamando por ele — Tenho que ir. Não
faça nada que vá te colocar em enrascada.
E… Espero que o Pyotr saia logo da
cadeia.

— Te amo — Ekaterina disse e


Bernardo ficou sorrindo como bobo.

— E eu amo você — O coração dele


batia loucamente — Assim que eu estiver
livre, vou te avisar. Até mais, amor.

Bernardo respondeu à mãe, colocou


uma blusa, arrumou os cabelos e desceu.
— Pelo sorriso, você tava falando com
a Ekaterina, né? — Artur perguntou e
Bernardo percebeu uma certa tristeza no
irmão mais novo.

— Sim… E você. Por que tá assim?

Artur negou com a cabeça.

— Assim como?
— Não tenta disfarçar. Você anda
meio triste — Bernardo passou o braço
pelo ombro do irmão — É por causa do
Lucas?
Artur deu um pulo para trás, com os
olhos arregalados. Bernardo notou como
o menino ficou com as bochechas coradas.

— O… O que o Lucas teria a ver com


alguma coisa?

— Sei lá... Talvez porque ele anda


distante?

Artur abaixou os ombros e concordou


com a cabeça.

— Ele praticamente nem fala mais


comigo. Ele só… Nem parece mais com ele
mesmo.
Bernardo viu como meninos novos
treinavam na Rússia e, por mais que lá
fosse mais cruel e pesado, ele podia
imaginar o que estava se passando com
Lucas. Não era de admirar que o menino
estivesse mais distante de Artur.

— Eu tenho certeza de que ele está


apenas passando por um momento
complicado, Artur.

— Mas eu sou o melhor amigo dele! —


Artur se afastou de Bernardo, bufando,
antes de se virar e os olhos dele estavam
cheios de lágrimas — Ele me evita como
se eu fosse a própria peste negra!

— Olha, eu tô vendo como os meninos


são tratados na máfia. As coisas devem
estar difíceis para o Lucas — Bernardo
ofereceu um sorriso simpatético ao irmão
mais novo — Mas acredito que se você
mostrar que entende e respeita o espaço
dele, vai ser de muita valia para o Lucas.
Ele vai precisar do melhor amigo dele
mais do que nunca.

Artur entortou a boca, como se


mordesse os lábios por dentro e
finalmente, sorriu. Ele correu para
Bernardo, abraçando-o.

— Você é o melhor irmão do mundo


— Artur apertou um pouco mais
Bernardo, antes de olhar para cima,
sorrindo.

Bernardo bagunçou os cabelos


dourados de Artur, que reclamou.

— Irmãos mais velhos são para isso.

Máximo estava descendo as escadas


quando ouviu a conversa dos filhos e não
pôde deixar de sorrir.
“Meus orgulhos!”, ele suspirou e
continuou o caminho dele assim que
percebeu que os meninos já não estavam
mais falando sobre aquele assunto.

— Tonny e Clara já chegaram? — Ele


perguntou e ambos Bernardo e Artur
negaram com a cabeça. Máximo olhou no
relógio e estranhou — Vamos esperar
mais um pouco, então.

Vinte, trinta minutos e nenhum sinal


dos dois.

— Eu vou ligar — Carolina anunciou.


— Talvez seja o trânsito — Bernardo
disse, mas Carolina negou com a cabeça.

— Tonny e Clara são pontuais. Com


tudo. Eles não se atrasariam assim sem
dizerem nada — Carolina insistiu e ligou
para a filha.

— Mãe! — Clara atendeu e Carolina


notou que a moça estava nervosa.

— O que aconteceu?
— Ah… Bateram no nosso carro —
Clara disse, num sussurro — Eu ligo
depois, mãe. Acho que podem comer sem
a gente.
— Clara… Maria Clara! — Mas o som
do bip-bip tomou conta da linha e
Carolina bateu o pé no chão, frustrada e
olhou para os três homens à frente dela
— Ela está mentindo!
CAPÍTULO 9

Máximo estava ao telefone com


Osvaldo, enquanto Carolina batia o pé,
irritada, no sofá.

— Deve ser coisa da máfia — Artur


sussurrou para Bernardo, que concordou
com a cabeça.

Uma onda de culpa e vergonha tomou


Bernardo. Clara tinha se casado com
Tonny e passou a pertencer àquele
mundo. E, por conta disso, os pais deles
viviam preocupados. Ekaterina, além de
ser da máfia, estava na Rússia e ele
duvidava muito que uma Sigayeva
deixaria o lar para se mudar para o
México.

Máximo se despediu de Osvaldo e


caminhou até onde a família estava.

— Alguém bateu mesmo no carro


deles, mas não qualquer um.
Aparentemente, agora que os Herrera
estão em acordo com a Cosa Nostra,
Camorra e Outfit, os membros da ‘Ndrang
alguma coisa…

— ‘Ndrangheta — Bernardo corrigiu


o pai.
— Isso. Essa — Máximo deu uma
pausa, antes de falar e olhar novamente
para Carolina — Foi um ataque deles. Mas
está tudo bem. Tonny se machucou um
pouco, nada grave. Osvaldo pediu que nós
não fôssemos visitar nesse momento.

O tom de Máximo denotava claro


cansaço.

— Mãe, a Clara está bem. Depois ela


deve passar aqui — Artur disse e colocou
a mão no ombro da mãe, que sorriu.
— Mais tarde eu vou ligar pra ela.
Tonny não se machucou muito, não é?

— Ele está bem. Foi mais um susto —


Máximo falou, porém, Bernardo percebeu
que o pai parecia estar colocando panos
quentes. Ele não falaria nada, pois
Carolina pareceu aceitar o que o marido
disse.

O restante do almoço em família foi


tranquilo. Artur estava mais relaxado e
participou mais das conversas, afinal, não
estava grudado no aparelho celular, como
antes.
Bernardo queria que o irmão ficasse
feliz e que Lucas falasse mais com ele.
Porém, ele não negaria que era muito
bom ter Artur interagindo mais com eles.

Assim que se retirou para o próprio


quarto, a fim de descansar, já que em
algumas horas o jatinho dos Sigayev o
buscaria, Bernardo ligou para Ekaterina.
Já passava das seis horas, no México.

— Alô… — Ekaterina atendeu,


sonolenta e Bernardo percebeu a
mancada que tinha dado. Já era
madrugada em Moscou!

— Amor, perdão! Eu não me atentei


ao horário!

— Não, tudo bem! — Ela respondeu,


mais desperta e se sentou na cama, com
um sorriso — Foi bom o seu dia em
família?

Ela soube do que houve com Clara e


Tonny, mas esperou que Bernardo
contasse a ela, o que ele de fato fez.
— Mas eles estão bem, ou foi o que
nos disseram. Clara ainda não falou
conosco, depois disso.

— Notícia ruim se espalha rápido. Fica


tranquilo — Ekaterina falou — Você em
breve vai chegar aqui.

— Sim. E vou encher você de beijos.


Tô morrendo de saudade.

Ekaterina era do tipo que mantinha


sempre uma carranca no rosto, mas o
jeito amoroso de Bernardo a derretia
toda.
As pessoas imaginariam que ela iria
querer alguém mais sério, mais frio. Ela
mesma pensava isso. Até que ela
despertou para Bernardo e agora, não
havia qualquer possibilidade de ela olhar
para outro homem que não ele.

— E eu de você. Quero que você


chegue logo.

A forma manhosa de Ekaterina fez


Bernardo sorrir, mas mais safado.

— Ah, Ekaterina… Você não sabe


como eu quero você.
— Se for como eu quero a você… —
Ela soltou um risinho, algo incomum
vindo dela — Raiva de não ter nascido um
ano antes!

Bernardo não se aguentou e soltou uma


boa risada.

— Esse vai o ano! — Ele disse —


Agora, vai dormir. Amanhã nos falaremos
melhor. Eu te amo.

— Eu também amo você.


Bernardo passou mais um tempo com
Artur e depois, foi dormir. Em duas horas
ele teria que estar indo para o aeroporto.

Aquelas mais de vinte horas de viagem


— eles precisaram parar na França para
reabastecer — foram um inferno para
Bernardo. Ele odiava viajar de avião e,
ainda por cima, a ansiedade de ver
Ekaterina o estava consumindo.

Ao chegar na mansão, ele viu Pyotr


chegando quase junto com ele. O rapaz
estava com olheiras terríveis e um mau
humor de matar.
— Como você está, Pyotr? —
Bernardo perguntou, ao que o russo
apenas o olhou com uma carranca,
balançou a cabeça de leve e subiu a
escada para o próprio quarto.

Quando Pyotr estava de péssimo


humor, ele preferia não falar nada, em vez
de ser grosseiro com as palavras.
Bernardo tinha aprendido aquilo e não
levou a mal o comportamento do futuro
cunhado dele.
Ekaterina abraçou o irmão no meio da
escada, falou algumas coisas no ouvido
dele e olhou para Bernardo, sorrindo
mais abertamente.

Não havia ninguém por perto e


Ekaterina correu para os braços de
Bernardo. Aquele era o primeiro contato
físico deles depois que oficializaram o
namoro.

Bernardo segurou o rosto dela com


uma das mãos e a beijou.
— Quando sai o casório? — Aleksey
perguntou, fazendo Bernardo soltar
Ekaterina imediatamente. Ela se virou
lentamente para o primo.

— Você não deveria estar treinando?


Ele deu de ombros.

— Me disseram que você me ajudaria


hoje — O rapaz deu um sorriso de lado —
Mas eu posso avisar ao pessoal que você
está de namorico e…

Ele apontou para trás dele, já dando um


passo naquela direção.
— Aleksey, um dia desses eu ainda
vou arrancar essa sua língua — Ekaterina
falou com um sorriso nada amigável.

— Mas sem ela, como é que eu vou


poder dar um beijo desses na minha
futura namorada? — Aleksey fez
beicinho.

— Você é confiante. Quem é que vai


querer beijar você? — Pyotr perguntou,
descendo as escadas — Minha irmã está
ocupada. Eu mesmo vou te treinar,
priminho.
— Bom… — Aleksey começou a falar,
mas um olhar de Pyotr e ele levantou as
mãos e se retirou.

— Fedelho atrevido! — Pyotr


resmungou e, ao ver Bernardo e
Ekaterina o olhando com curiosidade, ele
deu de ombros — O que foi? Eu não posso
ser legal de vez em quando?

— Eu só me pergunto o que você


espera ganhar com isso — Ekaterina
disse e Pyotr sorriu.

— Bernardo aqui é quem vai pagar —


Ele piscou para o loiro, que fez uma careta
— Relaxa, não vou te espancar. Vamos
apenas conversar coisas de homem.

Ekaterina revirou os olhos.

— Eu já vou para o centro de


treinamento. Deixa só eu falar um pouco
com Bernardo.

— Beleza — O gêmeo respondeu —


Vejo vocês mais tarde.

Depois que Pyotr sumiu no corredor,


Bernardo olhou para Ekaterina, que
começou a puxá-la na outra direção.
— Para onde vamos?
— Privacidade! — Foi a resposta dela,
além de um sorriso travesso.
CAPÍTULO 10

Ekaterina levou Bernardo até uma das


salas que eram usadas para dar aulas.
Uma vez lá dentro, ela trancou a porta e
olhou para o loiro.

— Quero meu presente de Natal —


Ela disse e Bernardo sorriu, passando a
mão pela cintura de Ekaterina.

— Certeza que não vai entrar


ninguém aqui? — Ele perguntou, num
sussurro, perto do ouvido dela.

— Sim… — A russa já estava com os


olhos fechados.
Bernardo se afastou um pouco apenas
o suficiente para poder olhar o rosto de
Ekaterina.

“Minha namorada!”, ele pensou,


orgulhoso e feliz, antes de passar a língua
pelos lábios dela. Ekaterina gemeu e
passou os braços pelo pescoço de
Bernardo.

Ele a levantou, sentando-a em cima da


carteira mais próxima e ficando entre as
pernas dela.
Ekaterina estava vestindo uma calça
preta e blusa de gola, já que mesmo com o
aquecedor, a casa ainda estava um pouco
fria. Mas não naquele momento.

Bernardo enfiou a mão pela blusa dela


e apertou um dos seios, arrancando
suspiros da russa.

— Tira, amor — Ela pediu e Bernardo


o fez, jogando a blusa dela em cima de
uma das cadeiras e, em seguida, começou
a retirar o próprio casaco e, por fim, a
primeira blusa.
As mãos de Ekaterina foram para o
cinto de Bernardo, mas ele a parou.

— Não.
— Mas… Ele deu um beijo rápido nela.
— Não vamos poder ir longe, então, é
melhor deixar as minhas calças fechadas.

— Não precisamos transar


— Ela falou e mordeu o lábio. Ver
Ekaterina com as bochechas vermelhas
por estar com uma certa vergonha era
difícil. Bernardo sorriu.

— E o que você tem em mente?


— Eu queria… Provar você.

O rosto dela estava mais do que


vermelho, porém, o olhar era decidido.
Bernardo não estava diferente dela. Ele
sorriu de lado e colocou a mão no meio
das pernas de Ekaterina, que soltou um
gemido baixo.

— Só depois que eu te provar. Além


disso, eu passei horas num avião, meu
bem.

— Podemos tomar banho juntos…


Bernardo negou com a cabeça e se
inclinou, mordiscando o pescoço de
Ekaterina.

— Paciência, meu amor — Ele tomou


novamente os lábios da namorada e a
retirou de cima da carteira — Eu vou
tomar um banho, vou me apresentar à sua
mãe e, mais tarde, eu vou no seu quarto.

Ele falou baixinho no ouvido de


Ekaterina, que concordou. Bernardo
olhou para baixo e viu o soutien preto
dela, meia-taça e com algumas rendas.
— Gostou? — Ela perguntou,
passando a mão no tecido.

— Adorei, mas… Eu gosto mais do que


está dentro.

A vontade de Bernardo era tirar a peça


do corpo de Ekaterina e chupar os seios
dela, porém, ele precisava se controlar.
Eles ainda tinham um pouco mais de um
ano até poderem fazer avançar o sinal. E,
além disso, ele precisava mesmo ir até
Jannochka.
Ele pegou a blusa de Ekaterina e a
ajudou a vestir, todo carinhoso. Apesar de
mais bruta, Ekaterina adorava aquele
jeito de Bernardo. Na verdade, ela amava
e era justamente por isso que ela o queria
tanto.

— Eu te amo — Bernardo disse,


passando a mão pelos cabelos de
Ekaterina.

— Eu também amo você — Ela


respondeu genuinamente.

Alguém bateu à porta e Bernardo


arregalou os olhos.
— Bernardo, a tia está te esperando
— Era Maksim.

— Ah, eu já vou — Ele respondeu, mas


Maksim já não estava mais do outro lado
— Vamos, minha rainha. Eu tenho que
falar com a sua mãe.

Ekaterina abriu a porta e olhou ao


redor. O corredor estava vazio. Bernardo
estava terminando de colocar o casaco e a
seguiu para fora.

— Eu vou cuidar de algumas coisas,


nos vemos mais tarde — Ela disse a
Bernardo, que beijou-lhe os lábios e
piscou para ela, antes de se afastar.

Após bater à porta do escritório de


Jannochka, Bernardo passou a mão pelos
cabelos e pela roupa.

— Entre!

Ele inspirou fundo e entrou.

Jannochka olhou para as roupas dele e,


então, para o rosto do rapaz, que estava
com as bochechas coradas.
— Vai ficar de casaco dentro de casa?
Pensei que já tivesse ido se trocar…

— Eu… Hmmm… Estava falando com


Ekaterina — Bernardo manteve as mãos
atrás do corpo, olhando para baixo.

— Ah… Da próxima vez, a primeira


coisa que deve fazer é se reportar a mim
e, depois, se trocar, tomar banho… — Ela
disse — Ainda mais quando está frio
demais lá fora.

Bernardo não comentou que frio era


tudo o que ele não tinha sentido, com
Ekaterina nos braços dele. Ele ainda não
tinha perdido o juízo.

— Farei isso. Desculpe


— Certo… Hoje você pode tirar o
restante do dia de folga. Amanhã, esteja
no centro de treinamento às seis e meia.
Vamos começar seus treinos físicos.
Ekaterina vai te ajudar. E, de tarde, você
ficará comigo aqui no escritório. Pode se
retirar.

— Sim, senhora. Com licença.


Assim que Bernardo se foi, Jannochka
olhou para o computador, que tinha as
câmeras da casa conectadas ali.

— Eles acham mesmo que eu não sei


quando dão uma escapada… — Ela
suspirou.

Se fosse outro rapaz, Jannochka não


caria tão tranquila, mas Bernardo era um
homem correto e claramente gostava
muito de Ekaterina. A única preocupação
da Parkhan era o fato de ele ser doce
demais e ainda não conhecer como as
coisas funcionavam. E, o mais importante,
como Ekaterina realmente era, em campo.

Após o jantar, no qual Pyotr lançou


vários olhares a Bernardo, que os
ignorou, Ekaterina tomou um banho e se
preparou. Ela se depilou e escolheu uma
linda camisola. Normalmente ela dormia
de pijamas, mas havia comprado aquela
camisola preta especialmente pensando
em Bernardo.

Os dois se falaram por mensagens e,


quando o relógio marcou onze horas,
Bernardo saiu do quarto dele em direção
ao dela.

A porta já estava encostada e, quando


ele entrou, tudo estava escuro, mas com o
abajur de cabeceira ligado.

O coração dele quase parou no peito, ao


ver Ekaterina de camisola, com alças
finas, rendas que delinearam bem os seios
dela e as pernas torneadas à mostra. —
Caralho… — Ele soltou, baixinho, em
espanhol.
— Caralho… — Ele soltou, baixinho,
em espanhol.

Ekaterina se levantou, os cabelos


soltos, e começou a andar na direção de
Bernardo, que engoliu em seco. Ele
agradeceu por estar com uma calça de
moletom, pois um tecido mais rígido seria
doloroso.

Bernardo sabia que estar ali, com ela,


era muito perigoso, mas ele precisava
estar perto dela.
Sem tirar os olhos dos dele, Ekaterina
cou bem na frente do loiro e passou a mão
pelo abdômen dele, coberto por uma
camiseta de algodão, e desceu, até
chegarcà beira da calça.
CAPÍTULO 11

— Você tem certeza disso, Ekaterina?


— Bernardo perguntou, segundo o pulso
de Ekaterina com carinho e passando o
polegar pela pele dela.

— Bernardo, por mim, nós dois já


teríamos feito muito mais do que beijos e
carícias… — Ela falou e sorriu — Eu
quero tudo com você. E aqui dentro é
seguro. Não é como se a polícia fosse
baixar aqui.

Ele suspirou.
— Eu vou saber. Sei que o negócio da
família, em si, já não é dentro da lei. Mas
ao menos isso eu quero tentar manter
mais certo — Bernardo acariciou o rosto
de Ekaterina — Quero você como minha
esposa.

Ekaterina abriu um sorriso mais largo

— Podemos adiantar a lua de mel.


— Muito espertinha, você, senhorita
Sigayeva. Mas não. Tentador, mas não —
Ela abaixou um pouco mais a mão que
segurava o elástico da calça dele — Como
eu disse, primeiro eu vou te provar.

Ekaterina subiu a sobrancelha e


colocou um sorriso safado nos lábios.

— Todo mandão. Vai mandar em


mim?

Bernardo enfiou a mão nos cabelos dela


e Ekaterina gemeu.

— Eu sei que você gosta — Ele falou e


passou a língua pelo pescoço dela —
Gostosa demais!
— Você… Aaah, você tem que provar
aqui… — Ekaterina levou a mão de
Bernardo até a bainha da camisola dela.

Bernardo nunca gostou de mulheres


atiradas, mas Ekaterina não o era. Ela era
daquele jeito com ele e isso sim ele
aprovava. Saber que ela se sentia
confiante e à vontade o suficiente com ele,
para falar daquele jeito.

— Amei a camisola. Ficou maravilhosa


em você — Bernardo olhou nos olhos de
Ekaterina — Mas acho que não há nada
que não fique, em você, meu amor.
Ele tomou os lábios dela com paixão e a
levou até a cama. Bernardo abaixou uma
das alças da camisola e beijou o ombro de
Ekaterina, dando uma mordidinha e uma
lambida. Ele sugou e Ekaterina
choramingou. Não de dor, mas de tesão.

Enquanto isso, a mão de Bernardo


subiu pela coxa de Ekaterina, apertando-
a. Ja a língua, ia descendo, até chegar ao
mamilo dela.

— Ah, Ber… Aah! — Ele passou o dedo


por cima da calcinha de Ekaterina. Ao
mesmo tempo que ele mordiscou o
mamilo, ele colocou o dedo por dentro do
tecido que cobria a intimidade dela e
Ekaterina gritou mais alto.

Bernardo não levantou a cabeça para


falar.

— Vão escutar você, amor.


— Não… Ah… Isola… Assim, amor —
Ela enfiou a mão nos cabelos dele e
passou a outra perna por cima do ombro
de Bernardo.
Ele sorriu e levantou a camisola de
Ekaterina, olhando a calcinha dela: era
uma tanga, na verdade, com pequenas
rendas na borda.

Bernardo beijou a tira da calcinha e a


abaixou, fazendo o mesmo com o outro
lado, até retirá-la e deixar Ekaterina nua,
ali.

— Você é… — Ekaterina nunca tinha


mostrado aquela parte dela a ninguém e
ficou insegura, mas a adoração nos olhos
de Bernardo mostrou que ela não tinha
que sentir aquilo. O loiro levantou o olhar,
encontrando o dela — Como você
consegue ser tão linda?

Ekaterina quis perguntar se Bernardo


já tinha feito aquilo, mas preferiu por não
fazê-lo.

“Dane-se. Ele agora é meu e só fará


comigo”, ela pensou a passou a própria
mão pela fenda dela, subindo, passando
pelo seio e, finalmente, enfiando o dedo
na boca. Bernardo parecia hipnotizado.

Ele a beijou nos lábios rapidamente e


se voltou para a intimidade dela,
novamente. Bernardo abriu as pernas de
Ekaterina e passou a língua na coxa dela,
que estava melada com os fluidos dela.
Ele gemeu de prazer e fechou os olhos,
repetindo o movimento, na outra coxa.

No momento em que Bernardo passou


a língua pelo clitóris de Ekaterina, ela
segurou os cabelos dele, de novo e gemeu
alto. Ela já tinha passado por muitas
coisas na vida, mas aquilo. Bernardo era o
que ela mais queria e cada vez que ela
sentia esse amor por ele, também crescia
o medo de ele deixá-la.
“Ele me ama”, ela afastou os maus
pensamentos e se concentrou apenas em
Bernardo, naquele quarto, naquele
momento.

Ekaterina ainda estava tendo espasmos


nas pernas quando Bernardo terminou de
lambe-la inteira e se deitou ao lado dele.

— Eu… Eu quero… — Ela estava com


pouco ar e colocou a mão no abdômen
dele, mas Bernardo pegou a mão dela e a
beijou nos nós.

— Descansa, meu amor. Temos muito


tempo.
Enquanto Ekaterina dormia nos braços
dele, Bernardo ficou admirando-a. Não
havia nada que ele não achasse lindo,
nela.

— Minha Ekaterina — Ele beijou o


topo da cabeça dela e se deixou fechar os
olhos.

Cinco da manhã, o despertador de


Ekaterina tocou e Bernardo acordou com
ela, confuso.

— O quê…?
— Acorda, lindão. Hora de treinar —
Ekaterina disse e deu um beijinho na
ponta do nariz de Bernardo, que só se deu
conta de que tinha cochilado de novo,
quando Ekaterina o sacudiu.

Ela já estava vestida e secando os


cabelos.

— Oh, droga…
— Você tem quarenta minutos para
tomar banho e se arrumar. Ah, e para sair
do meu quarto.
Bernardo arregalou os olhos e levantou
de pronto. Ele não deveria ter dormido
ali!

Sair do quarto demorou mais do que


ele esperava. Toda vez que ele abria a
porta, ouvia passos e alguma outra porta
abrindo. No fim, ele teve apenas quinze
minutos para se lavar e colocar uma
roupa, antes de se apresentar no centro
de treinamento.

— Parece que tá fugindo — Pyotr


comentou e Bernardo engoliu em seco.
— É que eu pedi a ele para me ajudar
com umas coisas — Maksim falou e se
colocou ao lado de Bernardo — Obrigado,
Bernardo.

Pyotr levantou a sobrancelha, mas não


questionou nada. Aleksey apenas
observou. Porém, outros recrutas
olharam estranho para Bernardo e, em
seguida, para Maksim.

Ao passar por um grupo deles,


Bernardo ouviu algumas risadinhas.
— Eu vou pegar as luvas e já venho —
Ekaterina disse a Bernardo e se afastou.

— Fazendo amizades, Castillo? — Um


dos recrutas perguntou e Bernardo o
olhou sério — Quer entrar na família de
qualquer jeito, não é?

Bernardo franziu o cenho.

— Do que está falando?

O recruta riu, olhando os outros três


que estavam com ele.
— Só que, caso não saiba, cortar pra
esse lado vai te render apenas uma bala
na testa — O rapaz de cabelos vermelhos
disse, debochadamente — Na sua e na
dele.
CAPÍTULO 12

— Fazer amizade com um dos de


vocês me renderia uma bala na testa? —
Bernardo perguntou, fingindo não ter
compreendido o sentido nas palavras do
recruta — Ainda mais com um Sigayev.

O rapaz parou bem na frente de


Bernardo, com um sorriso que nada mais
era do que mostrar os dentes.

— Não se faz de desentendido — O


recruta olhou os cabelos de Bernardo,
olhou o corpo e riu baixo — Aqui não é
lugar pra viado.
— Então, o que você tá fazendo aqui?
— Aleksey perguntou, com um biquinho.
O recruta avançou sobre o menino, que
não pareceu se incomodar. Mas Bernardo
se colocou na frente —
Deixa ele, Bernardo. Quero ver o que
ele pensou em fazer.

— Que merda tá rolando aqui? —


Pyotr perguntou, com

Ekaterina ao lado dele. Olhando para os


três e, depois, para o grupinho atrás do
recruta, Pyotr voltou a falar — Eu
perguntei, Yankovich, o que merda tá
rolando aqui?!

Lev Yankovich sorriu de lado, dando


dois passos para trás, antes de torcer a
boca de leve, indicando que não sabia ao
certo.

— Estávamos apenas falando de


amizades, cervos… Nada de mais.

— Sei… Vamos treinar, então. Chega


de fofocas — Todos se encaminharam
para o local de treino, mas Pyotr passou
por Lev e sussurrou — Yesli ty
posmotrish' na odnogo iz moikh lyudey ili
skazhesh' chto-nibud' smeshnoye, ya
otorvu tvoy issokhshiy chlen i zasunu
yego tebe v zadnitsu, ponyal (Se olhar feio
pra um dos meus, ou falar qualquer
gracinha, eu arranco esse seu pau murcho
e enfio no seu rabo, entendeu)?

Lev parou de andar, mas Pyotr


continuou, como se não houvesse dito
absolutamente nada.

“Proklyatyy Pyotr! Tak ne ostayetsya


(Maldito Pyotr! Isso não vai ficar assim)!”,
ele pensou, amargurado, mas seguiu para
o treino.
Ekaterina estava a um canto, de frente
para Bernardo, mas a expressão passava
longe de apaixonada.

— Vamos lá, Bernardo. Hoje o seu


treino sério começa.

A postura do corpo da russa indicava


que ela não estava brincando e Bernardo
sorriu de lado.

— Você fica muito sexy toda durona,


sabia?
— Então você pode me mostrar o
quanto me quer, mais tarde.

Agora, — Ela posicionou as mãos, como


se estivesse se preparando para lutar,
uma perna na frente da outra, levemente
flexionada — nós vamos treinar.

— Não duvido que vá me dar uma


surra.

— Eu compenso depois, prometo. Mas


a intenção é que você não apanhe no
futuro — Ekaterina suspirou — Eu
odiaria ter que matar quem encostar
nesse seu lindo rostinho.

Por mais que Ekaterina usasse uma voz


suave, Bernardo sentiu um leve calafrio
ao ver o brilho nos olhos da garota, como
se ela achasse aquilo divertido, poder ter
uma desculpa para torturar e matar
alguém.

“Ela não é assim. Só é boa no que faz,


mas Ekaterina é boa”, ele disse a si
mesmo e se posicionou, imitando a pose
de Ekaterina.
Ela balançou a cabeça e foi até ele,
ajeitando a posição de Bernardo.

— Você precisa apoiar o seu corpo


aqui, ou no primeiro impacto, vai se
desequilibrar e o seu oponente te come
vivo.

Dependendo de quem for, você pode


não ter a chance de recuperar o controle.

Bernardo apenas concordou com a


cabeça, admirando como Ekaterina ficava
bonita ao explicar as coisas.
“Mulher linda da porra!”.

Ekaterina foi para a frente de Bernardo


e se posicionou de novo.

— Me ataque.

Ele franziu o cenho.

— O quê?
— Me ataque, Bernardo!

O loiro olhou em volta e viu os outros


treinando, alguns de dupla como eles dois
e só havia outra mulher ali, uma grandona
que estava dando uma surra em um
homem com quase o dobro do tamanho
dela.

— Eu não posso…

Ekaterina respirou fundo.

— Pode e deve. Pense que eu não sou


a Ekaterina, sua namorada. Eu sou alguém
querendo te matar.

— Rina…
— Eu vou acabar com você e, depois,
vou atrás da sua família
— Ekaterina falou e um sorriso de
lado crispou os lábios dela — Vou te fazer
assistir enquanto eu arranco, osso por
osso, da sua mãe.

O sangue de Bernardo gelou e ele


começou a ficar em conflito.

— Você não faria isso…

Ekaterina apertou os lábios.

— Acha que não, Bernardo? Quem me


impediria? O seu pai? Ele vai ser
derrubado primeiro. O seu irmãozinho vai
ver como a mãe dele agoniza, chora e
você… Você não poderá fazer nada!

Ela viu que Bernardo estava mais


pálido e resolveu dar o primeiro passo,
para que ele sentisse a ameaça e, talvez,
despertasse de vez.

Ekaterina deu um passo em direção a


Bernardo, que prendeu a respiração. Ela
foi rápida e levantou o braço para atacá-
lo, ao que ele colocou o braço dele na
frente, porém, Ekaterina não o atacou ali,
e sim nas pernas, dando-lhe uma rasteira
que o colocou ao chão imediatamente.

Sem perder tempo, Ekaterina prendeu


a perna direita de Bernardo com as dela,
antes de apoiar-se nas mãos e se
impulsionar para trás, soltando–o, apenas
para agarrar o pescoço dele com as mãos
e “montar” nele.

Bernardo segurou na cintura de


Ekaterina e, em vez de atacá- la, ele
acariciou a pele dela.
— Porra, vocês dois! — Pyotr gritou e
largou o peso que estava segurando, indo
até os dois — Ekaterina, saia de cima
dele!

Ela sorriu para Bernardo e o beijou nos


lábios. Ele ainda estava confuso quanto ao
que sentiu ao ouvi-la falar aquelas
ameaças, porém, o sorriso que ela lhe deu
ao beijá-lo rápido fez com que o coração
dele derretesse.
“Ela só queria me fazer lutar”, ele sorriu
para ela, enquanto Pyotr parecia a ponto
de ter um AVC.

— Cala a boca, Pyotr. Vai cuidar da


sua vida — Ekaterina falou, estendendo a
mão para Bernardo, mas o irmão dela foi
mais rápido e tomou a mão de Bernardo
antes que este encostasse na de
Ekaterina.

Pyotr apertou com vontade a mão de


Bernardo que, mesmo com dor, manteve
o rosto impassível. O russo sorriu.

— Não é tão frouxo, no fim das contas.


— Bernardo não é frouxo! —
Ekaterina defendeu o loiro — Nós
estamos treinando, não se meta!

— Você montou nele! Se eu não


interrompo, era capaz de vocês…

Bernardo franziu o cenho e se colocou


na frente de Ekaterina.
CAPÍTULO 13

— Não fale assim de Rina. Ela não é


desse tipo.

Por mais que o tom de Bernardo fosse


baixo, o corpo dele deixava claro que ele
estava ali por Ekaterina.

Pyotr estalou a língua e apontou para


Bernardo.

— Mantenha as suas coisas dentro das


calças, Castillo! Ou vai treinar comigo e eu
te garanto, não vai sair inteiro!
Pyotr se foi, voltando ao treino dele.
Ninguém ficou observando
descaradamente, pois sabiam que era
melhor não se meterem quando os
gêmeos começavam a brigar.

Ekaterina colocou a mão no braço de


Bernardo.

— Muito fofinho você me defendendo


— Ela falou com um sorriso travesso.

— Principalmente quando você


mesma pode dar uma surra em Pyotr que
eu mesmo não vou conseguir.
Ekaterina acariciou a pele do braço de
Bernardo.

— Por isso devemos treinar. Se vai


viver conosco, Bernardo, você precisa
aprender a se defender. Pyotr ladra, mas
ele gosta de você. Já não posso dizer o
mesmo dos outros ou dos nossos
inimigos.

— Os seus inimigos iriam querer o


que comigo? Não sou importante, aqui.

— Você e eu ficaremos juntos. E isso


vai chegar aos ouvidos deles — Ekaterina
respirou fundo — Se vai ser um Sigayev
no futuro, estará mais do que na mira
deles.

Dentro e fora do país. Bernardo engoliu


em seco.

— Eles irão atrás da minha família?


— Cuidaremos da segurança deles.
Não se preocupe. O tio Osvaldo sempre
cuidou e isso não vai mudar.

— Cuidou? — Bernardo perguntou


enquanto levantava a garrafa de água
para tomar um gole.
— Você acha mesmo que a sua família
está inteira por conta de quê? Sendo tão
amigos dos Herrera? — Ekaterina soltou
uma risadinha — Não nos envolvemos
com civis por isso, meu bem. Caso
contrário, precisamos cuidar da
segurança.

Aquilo deixou um gosto amargo na


boca de Bernardo. Ele pensou que, por
eles não serem da máfia, ninguém se
incomodava de fato com eles. Então, se
lembrou de que Clara era esposa do
subchefe da La Cicuta. Os Castillo eram
quase como os Associados, sem serem.

Ekaterina mostrou mais algumas


posições e treinou os socos e chutes de
Bernardo.

— Agora que sabemos no que você é


melhor e no que tem mais dificuldade, eu
vou poder te direcionar melhor — Ela
falou e Bernardo inflou o peito — O que
foi isso?

— Eu sou sortudo pra cacete, né? Uma


mulher linda e poderosa, toda minha —
Ele falou quando voltavam para o
segundo andar.

— Serei todinha sua quando você


resolver consumar as coisas

— Ekaterina falou e soltou os cabelos,


que antes estavam presos em um rabo-
de-cavalo, andando na frente de
Bernardo, que a segurou pela cintura e a
abraçou — Bernardo, eu tô suja!

— Então eu vou te dar banho — Ele


falou, o que fez o Ekaterina arregalar os
olhos e, então, sorrir.
— Vai? — Ela o provocou ao se
encostar nele, movendo-se e se
esfregando nos shorts de Bernardo, que
rosnou baixo — Ou vai dar pra trás?

Ele se inclinou para frente, para


sussurrar no ouvido da namorada.

— Eu não preciso tirar a sua


virgindade pra me deliciar em você, Rina.
Pra te fazer gozar gostoso — Ele beijou a
pele atrás da orelha de Ekaterina,
arrancando suspiros dela.
Ela se soltou dele e começou a correr
escada acima, dando uma olhadela para
trás, por cima do ombro. Bernardo sorriu
safado e seguiu atrás dela.

Quando ele entrou no quarto de


Ekaterina, que estava com a porta
entreaberta, ele a viu de costas, tirando o
top. O corpo de Bernardo reagiu na hora e
ele passou a mão pela frente do short.

— Vai tomar banho de roupa? —


Ekaterina perguntou e ele apenas sorriu
de lado, enquanto o coração do loiro
disparava. Ele estava quase surdo, exceto
pelo sangue bombeando nas veias.

Ekaterina abaixou o short, ainda de


costas para Bernardo, que nem se deu
conta de que estava andando em direção
a ela, até que a mão dele encostou no
bumbum da russa.

— Gosta? — Ela perguntou, ainda


empinada, e Bernardo usou a outra mão
para acariciar um dos mamilos dela.
Ele se ajoelhou, segurando então a
cintura dela com as duas mãos e a puxou
para ele. Ekaterina se segurou na cômoda.

— Banho, amor…
— Você é gostosa demais, Ekaterina.
Puta merda! — Ele se levantou rápido e a
pegou no colo, no estilo noiva — Vou te
dar um belo banho e te devorar!

Bernardo nem tirou a própria roupa,


levando Ekaterina para debaixo do
chuveiro e abriu o registro, encharcando
os dois, enquanto atacava os lábios da
morena.
Ele sabia que aquilo era arriscado, pois
podia não conseguir se segurar e acabaria
por querer estar dentro de Ekaterina, mas
cada dia era mais difícil não querer se
unir a ela completamente.

Ekaterina estava pegando fogo. Ela


ajudou Bernardo a se ver livre das roupas
e logo, ambos estavam nus.

Ele pegou o sabonete e o esfregou o


líquido nas mãos, antes de começar a
ensaboar Ekaterina.
— Perfeita — Ele murmurou, absorto
na figura da russa. Bernardo deixou que
ela lavasse as partes íntimas dela,
enquanto ele faria o mesmo consigo,
ensaboando-se rápido.

Assim que ambos estavam enxaguados,


Bernardo colocou Ekaterina no colo,
apoiando as costas dela na parede,
enquanto inclinava a cabeça e ia do
pescoço para um dos seios dela, sugando-
o com força, mordiscando e, claro, ele
movia os quadris.
Sentir o membro de Bernardo no
abdômen dela fez Ekaterina se remexer e
abaixar uma das mãos, buscando segurá-
lo.

Assim que passou os dedos ao redor do


comprimento do loiro, ele moveu os
quadris mais rápido, emitindo sons pela
boca, como um animal.

— Porra, Rina! — Ele olhou nos olhos


dela, as pupilas dilatadas. Ekaterina o
masturbava, os lábios entreabertos.

— Deixa eu chupar você… — Ela


pediu, baixo e Bernardo concordou com a
cabeça, mas não a colocou no chão. Ele
sorriu de lado e a virou de ponta cabeça,
com cuidado.

Apesar de não ser da máfia, ele ia


regularmente à academia e mantinha um
bom físico.

— Confortável? — Ele perguntou com


um sorriso, mas a resposta dela foi passar
a língua pela glande dele — Ah!

Bernardo abocanhou a fenda de


Ekaterina, que estava molhada. Ela soltou
um gritinho, e fez o mesmo com ele. O
loiro precisou apoiar as próprias costas,
dessa vez, na parede, enquanto sugava,
lambia e mordiscava Ekaterina.

— Vamos… Vamos pro quarto — Ele


disse e a colocou de pé no chão. Ekaterina
se sentiu um pouco zonza, mas estava
completamente inebriada com Bernardo,
para se preocupar com aquilo.

Ele a pegou no colo novamente, mas


dessa vez, para que ela enrolasse a
cintura dele. Andando até a cama, ele a
depositou ali e ficou por cima, descendo
uma mão pelo corpo dela, apertando o
seio no caminho e descendo mais.

— Quero você gozando, tesuda — Ele


lambeu os lábios de

Ekaterina, descendo pelo pescoço dela,


lambendo e chupando um pouco cada um
dos mamilos dela, antes de seguir mais
para baixo e segurar as duas pernas dela
para cima, expondo-a completamente.

— Amor…
— Linda… — Ele aproximou o nariz
da intimidade de Ekaterina, inspirou
fundo e sorriu — Tão suculenta, porra!

E lambeu, a entrada dela, subindo para


o clitóris e enrolando a língua ali, antes de
fechar a boca sobre a pele inchada dela.

— Me come, Bernardo! — Ela pediu, a


mão nos cabelos dele, rebolando os
quadris.

Bernardo sorriu e colocou o dedo na


entrada de Ekaterina, entrando um pouco,
com cuidado e olhou para cima. Ela
revirou os olhos e começou a
choramingar.

— Goza pra mim. Goza, tesuda — Sem


parar de olhar para ela, Bernardo voltou a
lamber o clitóris de Ekaterina, ainda
enfiando apenas a ponta do dedo
indicador dele.

As pernas dela começaram a tremer e


ele sabia que ela estava gozando.

Enquanto Ekaterina ainda estava tendo


espasmos, Bernardo ficou novamente em
cima dela e colocou o membro dele na
entrada dela, pincelando a cabeça. Ele se
posicionou.
CAPÍTULO 14

— Ôh, Ekaterina! — A voz de Pyotr


soou do outro lado da porta, antes de
esmurrar a mesma — Tô mandando
mensagem!

Almoço!

Ekaterina rosnou, frustrada.

— Já vou! Acabei de sair do banho!

Pyotr deu mais uma batida, indicando


que tinha ouvido e então, começou a se
afastar.
Bernardo encostou a cabeça no ombro
de Ekaterina, respirando pesado, ainda
segurando o membro dele.

“Essa foi por pouco!”, ele engoliu em


seco. Se não fosse por Pyotr, Bernardo
teria entrado, teria feito o que disse que
não faria. “Como resistir a essa mulher?”.

Ekaterina era uma mulher, não uma


menina e Bernardo estava mais do que
louco por ela.
— Deixa eu fazer você gozar — Ela
disse, acariciando as costas de Bernardo.
Ele negou com a cabeça.

— Se chamarem a gente de novo…


— Relaxa.

E Ekaterina colocou a mão sobre a de


Bernardo, que retirou a mão dali e a
beijou, enquanto a jovem o masturbava.

Ele se sentou na cama e ela ficou


inclinada, de quatro. Vê-la naquela
posição, ainda que Bernardo não
estivesse por trás, era alucinante.
Ekaterina não era experiente, mas
claramente sabia como interpretar a
linguagem corporal do namorado e fazê-
lo chegar ao ápice rápido.

— Pera, amor, eu vou…

Ekaterina negou com a cabeça e afastou


a mão de Bernardo, continuando a
chupar, até ele segurar os cabelos dela e
se derramar dentro da boca de Ekaterina.
Ela passou o dedo indicador pelo canto
do lábio, sorrindo. Bernardo estava com a
cabeça mais leve.

— Vamos nos vestir. Você ainda


precisa sair daqui.

Com um último beijo, Bernardo pegou a


toalha e abriu um pouco a porta, espiando
o corredor, antes de sair e correr para o
quarto dele. Claro foi necessário ele se
lavar rapidamente, de novo. O mesmo
com Ekaterina.
Os dois desceram para o almoço juntos,
de mãos dadas e Santiago olhou para
aquilo, fazendo bico. Jannochka o olhou e
balançou a cabeça, indicando que ele não
deveria dizer nada.

Pyotr apenas estalou a língua em


desagrado. Não é que ele não gostasse de
Bernardo, mas ele não queria dividir a
irmã gêmea dele. Eles brigavam, mas ela
era o que ele tinha de mais precioso. Além
disso, Pyotr considerava Bernardo fraco
e, por mais que Ekaterina fosse forte e
capaz, ele queria um homem que pudesse
segurar qualquer problema e garantir que
Ekaterina ficaria segura. Ela iria casar,
um dia, e teria filhos. Se Bernardo não
demonstrasse ser qualificado, Pyotr
nunca o aprovaria.

— Desculpe o atraso — Ekaterina


falou, sem dar explicações.

— Sim, perdão — Bernardo disse e


também, apenas isso.

Ekaterina havia avisado que era melhor


ele não dizer nada do que tentar arranjar
desculpas. Jannochka ficaria com raiva se
ele pensasse em enganá-la.
Bernardo puxou a cadeira para
Ekaterina, como sempre fazia e a ajudou a
se sentar, indo então para a cadeira ao
lado de Pyotr, do outro lado da mesa.

— Quero você no escritório depois de


uma da tarde, Bernardo

— Jannochka falou e ele concordou


com a cabeça.

Os membros da organização que viram


o casal descendo as escadas, não
gostaram nada. Bernardo não só era um
estrangeiro, como um mero civil, aos
olhos dele. E, agora, estava ali, ocupando
o lugar que um dos filhos de algum
membro do alto escalão deveria se sentar.
Ekaterina e Pyotr eram os principais
candidatos ao posto de Don, portanto, se
ela se casasse com Bernardo Castillo, ele
seria um dos chefes e, para alguns, aquilo
era ofensivo.

Mais tarde, Bernardo foi para a aula


dele com Jannochka, enquanto Ekaterina
cuidou de alguns assuntos relacionados à
máfia, bem como Pyotr e, ao final do dia, o
rapaz resolveu pedir novamente a ajuda
da irmã.
— Rina? — Ela, que estava bebendo
água na cozinha, virou-se para ele e, ao
notar como Pyotr parecia sem jeito, ela
levantou a sobrancelha.

— O que foi?

Pyotr queria reclamar do tom dela, no


entanto, ele precisava que ela o ajudasse,
portanto, o melhor a fazer era ser
agradável.

Ele se recostou no batente da porta, os


braços cruzados.
— Lembra da garota que eu
mencionei antes? — Ele coçou a ponta do
nariz e Ekaterina sabia que o irmão
estava mais nervoso do que queria
demonstrar.

— O que tem ela? Finalmente te deu o


pé?

Pyotr apertou os olhos para a irmã.

— Ela é educada comigo, mas… Eu


não sei se ela quer algo ou não.

— Ela não quer — Ekaterina disse a


Pyotr a olhou, pedindo explicações.
Ekaterina revirou os olhos — Se ela
quisesse, você saberia. Está apaixonado,
Pyotr?

— Claro que não!


— Então, deixa ela pra lá — Ekaterina
deu de ombros e voltou a beber a água.

— Custa você me dizer como eu me


aproximo dela?

— Eu nem conheço a garota! —


Ekaterina suspirou — Cada pessoa é
diferente. Não tem uma receita única para
lidar com todo mundo, Pyotr. Você tem
que, primeiro de tudo, entender a garota.
Ele concordou com a cabeça.

— Certo… Eu vou tentar fazer isso.


Então, Ekaterina estreitou os olhos.

— Pyotr, o tal amigo que ela é vizinha


dele… Não é o Kazimir, é?

Que, por sinal, ainda nem levou a coça


que ele merece!

— É, é a vizinha dele, sim — Pyotr


mordeu o canto do lábio — Eu não fui
ainda dar um coro no Kazimir justamente
porque ela é vizinha dele e, pelo visto, são
um pouco amigos.
Ekaterina fez uma careta.

— Essa garota é problemas, Pyotr.


Fique longe dela — Ekaterina apontou
para o irmão, ainda segurando o corpo,
antes de o colocar em cima da pia.

— Você tá com o fracote do Castillo e


eu não posso sair com a garota que eu
quero?

— Não se trata disso! Kazimir não é


boa companhia. Pelo amor de Deus, ele
andava com você! E olha só o que
aconteceu! —

Ekaterina colocou as mãos na cintura


— Ela não é da máfia. Você falou. Já
pensou se ela é alguma espiã? Heim?

— Você desconfia de todos.


— Sim, desconfio. E você deveria,
também! Mas não, só quer pegar no pé do
Bernardo! — Ekaterina se aproximou do
irmão

— Quem é essa garota?


Pyotr deu um passo para trás.
— Não é da sua conta. Obrigado pela
ajuda.
Ekaterina não queria render com Pyotr
e acabar brigando com ele, mas ela
descobriria quem era a tal moça. Algo
dentro da russa lhe dizia que aquela
garota era um problemão e Pyotr tinha
muito a perder.

— Isso é tudo por hoje — Jannochka


disse — Você está muito bem, Bernardo. E
aprende rápido, o que é ótimo. Não sou
muito paciente para ensinar quem é lento.
O loiro sorriu para ela.
— Obrigado! — Ele fez uma
reverência com a cabeça — Eu quero
poder aprender o máximo possível e
poder começar a trabalhar.

— Vai ficar conosco? — Jannochka


cruzou os braços e se recostou na
poltrona — Ekaterina não vai sair da
Rússia, já te aviso.

— Eu vou para onde Ekaterina for —


Ele sorriu apaixonado e Jannochka sorriu
por dentro. Era claro o quanto o garoto
gostava da filha dela.

— Certo. A aula está acabada, então.


Bernardo pegou as coisas dele e acenou
com a cabeça, mas Jannochka fez sinal
com a mão para que ele esperasse,
enquanto ela abria uma gaveta e colocava
algo em cima da mesa. Quando ela tirou a
mão de cima, Bernardo viu do que se
tratava e arregalou os olhos.
CAPÍTULO 15

— É só pra garantir que vocês dois


não vão fazer de mim avó, por hora — Ela
falou e Bernardo abriu a boca, mas ela o
interrompeu

— Eu sei de tudo o que se passa por


aqui, Bernardo Castillo. Não estou
proibindo vocês, até porque não acho que
isso vá adiantar de algo.

— Quero apenas que se cuidem,


entendido? Ekaterina tem muito o que
fazer e, quem sabe, não será ela a Don? Os
treinos dela irão se intensificar.
Bernardo apertou os lábios, pegou o
maço de camisinhas e, com outro aceno
de cabeça, saiu do escritório.

Ao caminhar para o salão de entrada,


onde ficavam as grandes escadas,
Bernardo foi empurrado para frente, e
quase caiu no chão.

— Olha por onde anda, maricas!

Bernado olhou e reconheceu o ruivo de


mais cedo, o mesmo que insinuou que ele
e Maksim estavam tendo mais do que
apenas amizade. Lev Yankovich.
Mesmo tendo uma boa resposta na
ponta da língua, Bernardo optou por
apenas endireitar a roupa e sair dali,
porém, o ruivo parecia ter outras ideias.

— Ne ignoriruy menya, chert voz'mi!


(Não me ignora, caralho!) Pede desculpas!

— Pelo que ele tem que pedir


desculpas?

Miguel perguntou. Ele havia ficado


algumas horas a mais no México, depois
do atentado a Tonny e Clara. Mas em
seguida, embarcou de volta para a Rússia.
Ele tinha acabado de chegar na mansão e
estava retirando as luvas.

— Esse merda esbarrou em mim de


propósito — Lev mentiu e Bernardo
inspirou fundo.

— Não foi nada disso!


— Tá me chamando de mentiroso, seu
mexicano de merda?

Ao ouvir isso, Miguel se colocou ao lado


de Bernardo, um passo à frente. Ele
precisou segurar a mão para não puxar a
arma.
— Algum problema com sermos
mexicanos? Lev olhou para os dois, com
desdém.

— Vocês não passam de intrusos.


Você, pelo menos é sobrinho da Don, mas
esse aí? — Lev varreu Bernardo de cima a
baixo, com a boca entortada — Um
viadinho que nem deveria pisar aqui!

Miguel segurou a gola de Lev, que riu


debochado, mas Bernardo colocou a mão
no ombro do amigo.
— Qual é, Bernardo! Esse filho da mãe
tá…

— Não disse para deixá-lo ir. Mas sim


para deixar que eu me resolvo com ele.

Miguel sabia que Bernardo não tinha


chance, fisicamente, contra Lev, mas,
aquela era uma questão de honra. Então,
ele soltou o ruivo e deu um passo para o
lado.

— A bicha vai me bater? É isso? — Lev


fez pouco — Anda, quero ver!
Bernardo apertou o punho e Miguel,
apesar de querer pará-lo, sabia que seria
uma humilhação. Melhor que o loiro
apanhasse, do que ser constantemente
defendido pelos outros. Ainda mais
quando ele era o namorado de Ekaterina.

— O que você quer ver, Yankovich? —


A voz de Jannochka soou e Lev remexeu a
boca, incomodado.

— Esse rapaz vem me provocando.


Pela manhã, e agora. Ele até esbarrou em
mim de propósito.
Jannochka cruzou os braços e
concordou com a cabeça.

— Entendi.
— Eu não…
— Bernardo — Jannochka olhou para
o loiro, séria — Isso é algo sério. Não
podemos ter brigas aqui. A melhor forma
de resolver isso, seria no ring. E, claro…
— Ela se virou para Lev — É isso o que
você quer?

— Sim — O ruivo disse, o olhar


predador em cima de Bernardo.
— Eu não fiz nada disso! — Bernardo
se defendeu, mas Miguel segurou o braço
dele e balançou a cabeça.

— Ofensas são levadas muito à sério,


aqui. Por isso, vamos ter uma luta. Vão,
durmam e, pela manhã, eu quero os dois
no ringue — Ela olhou os dois e se fixou
em Bernardo — Não gosto de mentiras.

— Sim, senhora — Lev respondeu,


seguido por Bernardo e Miguel.

— Miguel, falaremos depois. Tenho


uma missão para você, daqui a uns dias.

— Sim, tia.
Assim, ela passou por eles e saiu dali.
Miguel já estava convivendo com a tia há
algum tempo, na Rússia, e podia dizer que
ela agiu estranho.

— Amanhã eu vou esfolar você — Lev


disse e sorriu com deboche. Bernardo
socou a parede e Miguel segurou o braço
do loiro.

— Vai começar a se quebrar agora,


Bernardo? — Ele perguntou.
— Ela nem me ouviu. Ela só levou em
consideração o que aquele filho da… O
que o Yankovich falou!

— Escuta, não fica assim…


— Como eu não vou ficar assim,
Miguel? — Bernardo perguntou,
frustrado.

— Eu confio que a Tia Janna vai fazer


o certo — Miguel colocou a mão no
ombro de Bernardo — Eu nunca a vi
errar. É sério.
Confia que vai dar tudo certo. E, se você
tiver que lutar, fica tranquilo que eu te
ajudo depois a treinar pra dar um pau
naquele merda.

Bernardo sorriu de lábios colados.

— Valeu.
— Somos família, não é? — Miguel
disse, sorrindo, porém, dessa vez, ele já
não parecia tão feliz. Porém, Bernardo
notou, não tão amargurado.
“Talvez ele esteja aceitando que Clara
realmente está casada com Tonny e não
tem qualquer chance dela voltar pra ele.”

Aleksei estava descascando uma maçã,


quando Lev passou por ele. Este sentia
calafrios ao olhar para o garoto que,
mesmo com apenas quatorze anos,
parecia o próprio diabo, pronto para levar
a alma de alguém. O rosto bonito não
encobria o que tinha por dentro de
Aleksei, e este não fazia a menor questão
de esconder sua natureza.
— Amanhã vai ser interessante —
Aleksei disse, levando um pedaço da fruta
à boca, com a ajuda da faca. Ele mastigou
e manteve o olhar em Lev.

— É… — Lev respondeu, querendo


logo se ver livre do olhar do jovem. Ele só
avançou sobre Aleksei mais cedo porque
não estavam sozinhos.

— Você deveria fazer os preparativos


— Aleksei falou assim que engoliu o
pedaço da maçã e apontou para Lev com a
ponta da faca — É o mais inteligente que
você pode fazer, apesar de que… Esse não
é bem o seu forte, não é mesmo?

O sorrisinho de canto de Aleksei fez Lev


inspirar fundo, querendo partir para cima
do menino.

— Digo o mesmo. Você não passa de


um garotinho, e fica aí pelos cantos, como
um rato, querendo meter medo nos
outros. Mas não passa de uma criancinha
— Lev falou e Aleksei levantou as
sobrancelhas, debochadamente — Meta-
se com alguém do seu tamanho, fedelho.
— Como eu disse, inteligência não é o
seu forte.
Aleksei deu as costas e se afastou,
entrando na cozinha e vendo Ekaterina
preparando dois sanduíches gordos.

— Ele não precisa de tanto — Aleksei


falou e a garota apenas o ignorou — Às
vezes acho que você não gosta de mim,
prima.

Ela parou de preparar os sanduíches e


olhou para Aleksei, com descrença.
— Você acha? — Ela soltou um
risinho — Aleksei, você não faz questão
de ser legal com ninguém.

Ele deu de ombros.

— Eu preciso? — O adolescente
perguntou.

— De vez em quando, tenho certeza


de que isso não vai te matar — Ekaterina
se virou novamente para os sanduíches
— Você já tem quatorze anos. Em dois
anos, vai fazer o juramento e, então, aos
dezoito, já pode se preparar para começar
a procurar uma noiva.

— Pyotr não tá procurando. Ele é mais


velho — Aleksei estalou a língua — Só
porque eu sou sobrinho, a tia Janna não
vai me arranjar uma porcaria de
casamento, né?

— Ela não daria esse castigo à filha


dos outros.

— Ha, ha… — Aleksei se sentou numa


das cadeiras da mesa da cozinha — Você
sabe que eu não sou muito bom em ser…
“Legal”. Nem sei como fazer isso.

Ekaterina olhou para ele, com um


biquinho.

— Awm… Talvez você precise de


aulas — Ela balançou a cabeça — Esse
tipo de coisa sai naturalmente, Aleksei.
Você tem uns bons momentos, mas
parece que sempre está tirando sarro de
alguém.

— Mmm… Eu acho engraçado como


vocês ficam confusos com algumas poucas
palavras. É divertido.
— Tenho pena da sua futura noiva. Ou
ela te coloca nos eixos, ou a pobrezinha
vai ser infeliz.

Ekaterina pegou os pratos e saiu da


cozinha, deixando o jovem ali, pensativo.

“Eu não preciso de uma noiva”, ele


falou para si mesmo, pensando nas
garotas da escola dele. Bonitas, mas não
muito espertas, ou fúteis demais. E as da
máfia não eram muito diferentes.
Como Jannochka não estaria em casa
para o jantar, ela sairia com Santiago num
encontro, todos foram liberados para
jantarem à mesa ou em seus quartos. Por
isso, Ekaterina foi para o quarto de
Bernardo, com os sanduíches. Ela tinha
deixado uma garrafa de refrigerante no
quarto dela, antes de descer para
preparar o que comer.

Ao abrir a porta, viu Bernardo de


toalha na cintura, secando os cabelos
enquanto olhava para o guarda-roupa.

— Deixa eu escolher.
CAPÍTULO 16

Bernardo se virou, já sorrindo e viu


Ekaterina colocando dois pratos em cima
da cômoda, antes de fechar a porta e
caminhar até ele.

— Fica pelado — Ela falou, sem


censura e Bernardo negou com a cabeça.

— Da última vez nós quase


transamos. Temos que ter mais cuidado.
Ela revirou os olhos e se jogou na cama,
sentada.

— Não sei qual o seu medo! — Ela


reclamou — Não temos as frescuras de
virgindade…
— Você ainda é menor de idade,
lindeza. Daqui a três dias, fará dezessete,
Ekaterina. Eu já tenho vinte.

— Quatro anos não são nada! Nem


chega a ser quatro…

Ele caminhou até ela e segurou-lhe o


rosto.

— Nós convivemos pouco, antes. Não


quero que a gente já comece transando e
pronto.
— Só falta você me dizer que vai casar
comigo quando eu zer dezoito e só aí vou
finalmente sentar em você.

Ele soltou uma gargalhada.

— Não é má ideia — Ele falou e


aproximou a boca do ouvido de Ekaterina
— Mas não sei se aguento… Quero sentir
você quicando na minha rola.

Ela bateu no braço dele. — Fica me


provocando e depois não quer me comer.
— Ah, querer eu quero. Em cada canto
dessa casa. Você não faz ideia, Ekaterina.

— Por que não me mostra?

Ele beijou os lábios dela e se afastou,


indo até os sanduíches.

— Obrigado — Bernardo pegou um e


deu uma mordida — Mmm! O que vamos
beber?

Ela se levantou e ao parar na frente do


loiro, puxou a toalha dele. Sempre que
Bernardo estava perto de Ekaterina,
ainda mais se falassem alguma safadeza,
ele cava duro. E aquela vez não foi
diferente. Quando ele falou sobre ela por
cima dele, aquilo o ativou.

Ekaterina se ajoelhou e segurou no


membro dele.

— Pra mim, leite — Ela sorriu,


passando a língua pelos dentes de cima e
lambeu a extensão do membro de
Bernardo, que precisou se segurar na
cômoda. Mas ele se recuperou rápido,
deixou o sanduíche de lado e logo sua
mão estava nos cabelos de Ekaterina.
— Então me chupa gostoso, meu amor
— Ele falou — E eu vou encher essa sua
boquinha.

Lá no fundo, Bernardo brigava consigo


mesmo, por ser tão molenga com ela. Do
que adiantava não transar e fazer aquelas
coisas? Mas ele não conseguia resistir de
todo àquela russa.

Os movimentos de Bernardo foram


ficando cada vez mais brutos. Ekaterina
precisou a boca ao máximo, para aguentar
e os dentes dela não machucarem o loiro.
— Caralho! Eu vou… — Ele segurou a
cabeça dela com as duas mãos e levantou
um pouco uma das pernas — Porra,
amor… Ah! Eu amo você, Ekaterina. Puta
que o pariu, eu te amo pra cacete!

As lágrimas desciam pelos olhos de


Ekaterina, mas estavam longe de ser de
tristeza. Simplesmente, era um reflexo
natural do corpo. Quando Bernardo
gozou, ela quase se engasgou, mas não o
fez.
Assim que o último jato dele saiu,
Ekaterina o tirou da boca e o beijou,
masturbando-o.

— Leite quentinho. Que delícia — Ela


falou, a voz um pouco rouca.

— E eu… Eu quero mel — Bernardo


sorriu e levantou Ekaterina, beijando os
lábios dela, sem nojo.
Ao levá-la para a cama, ele a colocou de
quatro, abaixando a calça de Ekaterina e
vendo como ela estava toda melada.
Ele se abaixou e lambeu da calcinha de
Ekaterina até a entrada dela, passando
pelas coxas e então, Bernardo subiu.

— O que…Amor!
— Eu quero tudo — Ele falou e passou
a língua pela outra entrada dela — Vai
dar pra mim?

Ekaterina revirou os olhos, porque


enquanto Bernardo a lambia ali, ele
passava o dedo pela fenda encharcada
dela, enfiando de leve.
— Aaah! Isso… Ai, eu vou… Vou dar
tudo! — Ekaterina rebolou, se empinando
mais para Bernardo.

Ele deu uma palmada com vontade no


bumbum dela e apertou, chupando ela
por inteiro, até que ela gozasse. Então, ele
se levantou e a virou, deitando Ekaterina
na cama.

— Vou pedir sua mão pros seus pais.


Bernardo beijou o pescoço da russa,
apertando o seio dela, mas ele parou de se
mexer e se deixou cair na cama, ao lado
dela.
— Um ano de noivado? — Ela
perguntou, passando a perna por cima do
tronco de Bernardo, mas deitando-se no
braço dele, que a puxou para mais perto.

— Sim — Ele engoliu com dificuldade


— Assim que você fizer dezoito anos, nos
casaremos. Se você quiser, claro.

Ekaterina levantou um pouco a cabeça.

— Depois de me abrir pra você desse


jeito, literalmente, acha mesmo que eu
não estou pensando em casamento? —
Ela soltou uma risada.
— Eu te amo — Bernardo acariciou o
rosto dela — Eu amo tudo em você.

Ekaterina suspirou e umedeceu os


lábios.

— Tem certeza? Tudo?

— Não há nada para não gostar em


você, Ekaterina.

— Bernardo… — Ela se sentou —


Você entende o que eu faço, não é? Você
sabe que eu não saio de casa para ir
conversar com as pessoas.

Ele também se sentou e a olhou nos


olhos.

— Não vou discutir seu trabalho.

— Você disse que faria parte do nosso


mundo. Bernardo, beleza, você vai ser
mais voltado para a parte tecnológica,
mas isso não vai te livrar de ter que matar
alguém. E às vezes, não só puxando um
gatilho, mas arrancando informações.
— Eu não…

— Vai, sim. Não como eu, mas não vai


poder se recusar. Você vai servir um
Parkhan. Um Don. Não é um emprego que
você decide, um belo dia, que não quer
mais e sai andando de cabeça erguida.
Ainda mais se estiver casado comigo. Se
eu
for a subchefe do meu irmão, você
estará em um alto cargo. E se eu for a
Don, Bernardo, você vai estar no comando
comigo.
Ele não queria pensar naquilo. Em ele
ter que lidar com mortes. Com torturas.
Com atividades ilegais. Mas… Aquelas
pessoas não eram ruins. Isso deixava
Bernardo muito confuso.
Enquanto isso, ele conheceu gente que
seguia as leis e não eram nada boas.
Ekaterina era uma deusa, para ele.
Como ele poderia ligá-la à imagem de um
assassino cruel? Era impossível para ele.
Ainda mais que ela era doce, divertida.
Um pouco mandona, sim, mas não má.
— Eu te amo. E, seja lá o que estiver
no futuro pra gente, eu vou estar do seu
lado. Sempre.
Bernardo beijou docemente os lábios
de Ekaterina e os dois se deitaram.
Conversaram um pouco sobre os planos
do futuro, sobre coisas para fazerem
como casal, até que finalmente dormiram.

No dia seguinte, quando a notícia do


que aconteceria chegou aos ouvidos de
Ekaterina, ela foi direto falar com a mãe.
CAPÍTULO 17

— Mãe, como pode colocar o


Bernardo para lutar contra o Yankovich?

Jannochka, que estava de costas para a


filha, olhou por sobre o ombro.

— Está questionando a minha decisão,


Ekaterina? A moça respirou fundo antes
de falar.
— Mãe, sabe que eu a respeito. Mas
Bernardo não tem condições de lutar
contra o Lev, por mais que me doa
admitir. Ele mal começou a treinar! Ser
grande e forte não é o suficiente!
— Apenas confie na decisão da sua
mãe e Don — Jannochka se virou para a
filha — Eu não colocaria a vida de
Bernardo em jogo, se eu não soubesse o
que estou fazendo.

Ekaterina soltou o ar e apenas


concordou com a cabeça, mas por dentro,
ela estava se preparando para subir no
ringue e acabar com a raça de Lev.

Na sala de treinamento, todos já


estavam ali, incluindo Bernardo, Miguel e
Pyotr. Este estava olhando para Lev como
se pudesse matá-lo ali mesmo.

— Filho da puta! — Pyotr murmurou


e Bernardo o olhou estranho.

— Pensei que ficaria feliz por me ver


levando uma surra. Pyotr revirou os
olhos.
— Eu só não gosto de você com a
minha irmã, loiro.
Praticamente crescemos juntos. Somos
amigos, além de, agora, família. Sua irmã
casou com meu primo, lembra? — Pyotr
soltou, surpreendendo Bernardo, que
olhou para Miguel. Este apenas sorriu.

— O que eu perdi? — Aleksei


perguntou, ao se aproximar, seguido de
Maksim.

— Nada, ainda. Estamos esperando a


Don chegar. Foi ela quem ordenou isso —
Miguel respondeu.

— Bernardo, eu sei que você quer


limpar a sua honra, mas… — Maksim
começou a falar e então, apenas suspirou
— Eu te desejo boa sorte. O Yankovich é
bom na luta. Por isso ele se acha tanto.

— Ele não é melhor do que você,


primo — Pyotr disse — Se você lutasse de
verdade, sem ficar com medinho de
quebrar o seu oponente, seria magnífico.

Maksim sorriu e olhou para baixo.


Bernardo percebeu as
bochechas avermelhadas do rapaz.
Aleksei apenas balançou a cabeça.

Jannochka apareceu, com Santiago e


Ekaterina. A moça ficou perto de
Bernardo, enquanto Santiago seguiu
Jannochka até o ringue.

— Bom dia! — Ela falou e todos


responderam — Hoje estamos aqui para
ensinar uma lição em uma pessoa.

Os olhos se voltaram para Bernardo.


Jannochka continuou.

— Sabemos que criar confusões


dentro da Organização não é permitido.
Podemos massacrar os outros, mas
devemos nos tratar com respeito e
fraternidade. Se não formos unidos,
seremos quebrados facilmente pelos
nossos inimigos.

Lev sorriu debochado para Bernardo.

— Por favor, Lev Yankovich, suba aqui


— Ela pediu e o rapaz o fez — Diga o
motivo de estar aqui.

— Vim para limpar a minha honra! O


estrangeiro, Bernardo Castillo,
desrespeita a nossa Organização!

— Diga o que houve — Ela pediu,


calmamente, e Yankovich o fez. Bernardo
estava se sentindo mais injustiçado ainda,
pois Jannochka havia dado a
oportunidade de Lev mentir, para todos,
enquanto ele nem foi chamado para subir
no ringue — Terminou?
— Sim, Parkhan!

— Muito bem, agora é a vez da outra


parte falar — Jannochka disse e olhou
para Bernardo — Eu também vim limpar
a honra da Organização.

Todos a olharam, sem acreditar.


Bernardo abriu a boca, sem entender
nada.
— Eu sabia que ia ser divertido —
Aleksei tirou uma barrinha de chocolate
do bolsa, sorridente — Aqui, trouxe pra
você.
Presente por sua vitória — Ele esticou
o doce para Bernardo. O loiro pegou a
barrinha, ainda anuviado.
— Parkhan? — Lev perguntou. Os pais
dele estavam ali, e a palidez do casal só
não ganhava da do próprio rapaz.

Jannochka se virou para ele.


— Você mentiu sobre o que houve
pela manhã. Você mentiu sobre o que
houve esta tarde. Achou mesmo que eu
sou tão desinformada que vou acreditar
em qualquer coisa que me contarem?
Acha que eu não verifico as câmeras
desse lugar?
— Jannochka se aproximou de Lev,
que sentiu as pernas
falharem — Você chamou a mim de
incompetente, de idiota, burra,
inconsequente, injusta!

— Don, eu…
— Você atacou um membro, jurado ou
não, sem motivos. Apenas por interesses
próprios, que eu não sei são apenas inveja
ou algo mais. No entanto, Lev Yankovich,
isso é o de menos. O que importa é o que
você fez. E por isso, eu, Jannochka Yarina
Sigayeva, Don da Tambovskaya, vou lavar
a minha honra, da única forma que a
nossa Organização aprova. Um combate
limpo. Sem armas. Corpo à corpo.

Santiago olhava para Jannochka com


um brilho de clara idolatração. Ele a
amava e a admirava. Quando ela contou o
que faria, ele apenas a beijou com mais
paixão.

— Posicionem-se — Ele disse. Como


Jannochka estava como uma oponente,
ali, cabia a ele servir de juiz. Yuri e Fyodor
não estavam presentes, tendo viajado em
missão.

Ela retirou o casaco e revelou a roupa


de treino, por baixo. Lev
tremeu os lábios, mas não abaixou a
cabeça. Ele sabia que podia nem sair vivo
dali, mas pelo menos não morreria sem
lutar. Ainda que o oponente dele fosse a
própria Don. Ninguém ganhava dela.
Ninguém.

A mãe de Lev, Domka, escondeu o rosto


no peito do marido, que engoliu em seco e
desviou os olhos, parando em Bernardo. O
homem parecia envergonhado e apenas
olhou para baixo, já sofrendo em
antecipação.

— Comecem! — Santiago soltou.

Pyotr sorriu com crueldade, bem como


Aleksei. Ekaterina
estava séria, sem qualquer emoção no
rosto e, para Bernardo, aquilo parecia
ainda mais aterrorizador. Maksim, por
sua vez, também olhou para baixo.

— Não tem isso de “primeiro as


damas” — Jannochka falou
para Lev, com um sorriso de lado e ele
a atacou — Eu disse que pode começar,
garoto.

Lev respirou fundo e começou a atacar


Jannochka, mas não acertava de forma
alguma. Ela apenas se esquivou, sem
bater nele, deixando-o se cansar.
“Esse idiota…”, ela pensou, mais do que
desapontada. “Foi só ficar com medo para
começar a fazer merda”.

Ela o chutou nas costelas, ao mesmo


tempo em que socava o outro lado dele,
no rosto. Jannochka girou, praticamente
passando a perna pelo tronco de Lev,
que caiu no chão. normalmente, ele
levantaria rápido, mas Jannochka não deu
chance, colocando um joelho no pescoço
dele, enquanto o outro estava no baixo
ventre dele, muito perto da região íntima.
Ela não bateria ali, mas chegar perto já
era o suficiente para ele sentir medo e
dor.

Os dois braços dela desceram sobre ele,


com socos, de frente, pelos lados. Lev
usou a perna para tentar “abraçar”
Jannochka, enquanto os braços tentavam
defender o rosto e a cabeça.

Jannochka já estava com quase


quarenta e dois anos, mas parecia muito
mais jovem. Lev sempre a achou bonita e
era o modelo de mulher bonita. Quando
Ekaterina cresceu mais, por se parecer
com a mãe, ele pensou que teria a chance
dele.
Porém, Bernardo apareceu e ele perdeu
totalmente a oportunidade de tentar algo
com a garota.
Olhar a primeira paixonite dele, por
baixo, ainda que atacando- o, foi o
suficiente para que Lev sentisse medo e
excitação ao mesmo tempo.

Santiago notou que o rapaz parecia


estar desconcentrado na luta e, como
usava um short leve, o volume dele não
foi despercebido.
“Mas que… Cretino de merda!”,
Santiago pensou. “Se ela não o quebrar, eu
vou! Como ele se atreve a olhar pra minha
mulher?””
Lev respirou fundo e usou um dos
braços para agarrar a cintura de
Jannochka, junto com a perna dele, para
ficar por cima.

Ela permitiu, dando esperança a ele,


apenas para finalizar o garoto.

Ele os girou e, ao se ver por cima dela,


ficou ainda mais excitado por ela passar
as pernas ao redor dele.
“Caralho!”, ele pensou, sem conseguir
bater nela. “Como é que se bate nessa
gostosa?”

Em vez de atacá-la com força, ele se


pressionou contra ela, como se estivesse
tentando imobilizá-la, mas Jannochka não
era burra e percebeu. Ela sorriu suave
para Lev e viu as pupilas dele dilatarem
ainda mais. Ela mordeu o lábio e o puxou
para ela com as pernas.
— Um último desejo, Yankovich? —
Ela sussurrou para ele, subindo os braços,
indo para os ombros dele.
CAPÍTULO 18

— Você… — Ele falou, embriagado.


Jannochka sorriu e, quando Lev se deu
conta do que ela fazia, já era tarde. As
pernas dela começaram a estrangulá-lo,
forte, tirando o ar dos pulmões dele.

Lev tentou bater nas pernas dela, mas


Jannochka segurou o pescoço dele. Se ela
forçasse um pouco mais, o quebraria.

Não demorou para que o ruivo ficasse


sem ar e os pontos pretos na visão dele
tomassem tudo, deixando-o apagado.
Santiago contou até três e, após dar a
vitória a Jannochka, ela finalmente soltou
o rapaz.

O pai de Lev e um outro soldado o


tiraram do ringue, enquanto Santiago
segurou a mão de Jannochka e a levantou,
gerando uma onda de aplausos.

— Você pegou leve com aquele bosta!


— Santiago reclamou — Ele tirou uma
puta casquinha de você!
— Eu quis dar a ele a chance de lutar.
Ou teria matado o garoto nos primeiros
vinte segundos de luta.

— Que matasse — Santiago reclamou


e a levou para fora, depois de fazer sinal
com a mão de que o “evento” tinha
acabado. Ele levou a esposa para o
escritório e a empurrou para dentro.

Jannochka soltou uma risadinha. Uma


que era reservada apenas para Santiago.
Ele trancou o escritório e começou a
desabotoar a blusa.
— Mmmm…
Ela deu alguns passos para trás, sem
tirar os olhos dos de Santiago.

— O único que pode se esfregar em


você sou eu — Santiago chegou a
Jannochka rápido, puxando o top dela
para cima e apreciando os seios da esposa
— Cada vez mais gostosos. Como você faz
isso?

Ele tomou um na boca, passando a


língua pelo piercing.
— Ah!
— Mmm, geme pra mim, porra! — Ele
falou com o mamilo dela ainda na boca,
levando-a para o sofá que tinha ali. Ele se
afastou, apenas para virá-la e fazer
Jannochka se ajoelhar no móvel —
Empina esse rabo!
O tapa dele foi estalado e Jannochka
gemeu mais alto, se remexendo.

Santiago começou a abaixar o short


dela, mordendo a pele de Jannochka.

— Já tá molhada, puta — Ele bateu


nela de novo e tirou o membro da calça,
masturbando-se e passou pela entrada de
Jannochka — Eu quero isso aqui.

Ele subiu e deu uma leve empurrada no


ànus de Jannochka.

— O… Lubrificante…

Ele deixava um dentro de uma das


gavetas, com fundo falso. O escritório era
um local que eles transavam bastante, no
meio do expediente. Em todos os locais da
casa em que os dois
costumavam aproveitar para terem
relações sexuais, Santiago
mantinha vidros de lubrificante. Ele
adorava pegar Jannochka de surpresa.

— Quer dar essa boceta gulosa


primeiro? — Ele sorriu safado e começou
a entrar, antes dela responder — Ah!
Sempre deliciosa!

“Como ela com carinho mais tarde”,


Santiago pensou. Naquele momento, a
vontade de sobrepor o cheiro dele sobre o
de Lev, que estava ali, era maior.
Jannochka sabia que Santiago estava
“marcando” dominância, mas ela não se
importou. Ela adorava quando ele ficava
todo possessivo. O único que podia fazer
isso com ela, o único que podia ter
controle total sobre ela.

Santiago colocou um dos pés em cima


do sofá, segurou com força os quadris da
esposa e se perdeu nela, agradecido por
ter isolamento acústico nas paredes e
porta.

No quarto de Bernardo, Ekaterina,


Pyotr, Maksim e Aleksei comemoravam.
— Aquele otário! — Pyotr debochou
— Ele deve ter se achado muito esperto
por mentir pra Don!

— Pode respirar, loirinho — Aleksei


disse e Pyotr o olhou feio.

— Respeito, Aleksei. Assim que ele


casar com Ekaterina, vai estar com um
status acima do seu — Maksim falou
sorrindo.
— E ele vai casar com ela? — Aleksei
perguntou. Pyotr apontou com o copo
para Bernardo.
— Depois de ficar se agarrando com a
minha irmã, é bom ele se tornar digno e
casar!

— Ele já é digno, seu idiota! —


Ekaterina falou e mostrou a língua para o
irmão.

— Ah, se vão começar com isso eu tô


caindo fora — Aleksei se levantou da
cadeira da escrivaninha.
— Não é como se fizesse falta — Pyotr
disse e, por mais que não demonstrasse,
Aleksei ficou magoado. Ele caminhou para
a porta, passando por Pyotr, calmamente,
como se estivesse apenas entediado.

— Qual é, Pyotr. O garoto tem só


quatorze anos — Bernardo falou e Pyotr
apenas revirou os olhos.

— Ele se acha pra cacete. E vai dizer


que você gosta dele por perto? Ninguém
gosta.

Maksim se levantou da cama.


— Eu vou ver como ele está.

Aleksei, que estava ainda do lado de


fora, ao ouvir isso, saiu dali e foi para o
quarto dele. Não demorou até Maksim
bater na porta.
— Quem é?
— Sou eu, Aleksei!
— Cai fora! — O garoto respondeu,
mas Maksim ignorou isso e entrou — Eu
disse pra cair fora! Eu podia tá pelado.

— Não é como se a gente já não


tivesse se trocado no vestiário. Não tem
nada novo, aí. Como disse aquela garota lá
naquela novela mexicana… Não quero ver
suas misérias — Maksim falou e Aleksei
sorriu de lado.

— Desde a última vez, eu cresci,


priminho. Não quero ficar mostrando as
minhas intimidades por aí.

— Não precisa fingir que não liga,


sabia? — Maksim falou, calmamente e
Aleksei deu as costas a ele, voltando a
mexer em algo que Maksim não conseguia
ver — Ficar aí fingindo que tá fazendo
algo não muda nada.
— Não tô fingindo.
Maksim se aproximou do primo e o
abraçou. Aleksei ficou paralizado.

— Você é o chato mais amado, Aleksei


— Ele soltou o mais novo e o virou para
ele.

— Eu não preciso de pena! — Aleksei


falou e deu um passo para trás — E não
fica me abraçando!

— Não é pena.
— É o que, então? — Aleksei respirou
fundo — Sou seu primo e não tô
interessado em comer você. Maksim abriu
a boca, sem acreditar no que Aleksei tinha
acabado de falar. Este, se arrependeu do
que falou. Num ímpeto, ele falou para
machucar, mas sabia que tinha passado e
muito dos limites.

— Fica bem — Foi tudo o que Maksim


falou, os olhos marejados.

Aleksei atirou o controle do videogame


que ele estava segurando, na parede. Em
seguida, se sentou na beirada da cama e
colocou a cabeça entre as mãos.
— Desculpa, Maksim — Ele falou
baixinho, mas o orgulho era maior, de ir
atrás do primo e se desculpar olhando na
cara dele.

Aleksei se levantou e foi se trocar, para


ir ao centro de treinamento. Ele ia socar
algum saco de areia como se fosse a
própria cara.

“Mas que porra!”, ele disse, depois do


primeiro soco. “Você é um imbecil,
Aleksei! Um imbecil!”.
— O Maksim não voltou mais —
Bernardo disse, olhando para a porta.

— Deixa ele — Ekaterina falou —


Aleksei deve ter falado alguma merda.
Maksim não vai querer ficar perto de
ninguém.

— Ele é delicado demais — Pyotr


disse, bebendo todo o conteúdo do copo
dele e fazendo uma careta — Tá sem gás!

— Maksim é apenas mais sensível —


Ekaterina defendeu o primo — É por
conta de você e Aleksei fazerem pouco
dele que os outros se sentem no direito de
fazer o mesmo!

— Ah, pára!

— É sério, Pyotr! — Ekaterina se


levantou da cama, onde os três estavam
sentados — Maksim é o nosso primo, um
Sigayev! Ele merece mais consideração de
vocês dois, bundas-moles!

— Minha bunda é durinha — Puytr


respondeu, cínico.
— Você é babaca demais! — Ela falou,
balançando a cabeça — Por isso não
arranja uma garota maneira.

Foi a vez de Pyotr se levantar. Bernardo


não ficou parado e se colocou do lado de
Ekaterina.
CAPÍTULO 19

— Cuida da sua vida amorosa e eu


cuido da minha.

— Quando você tiver uma —


Ekaterina provocou.

— Na moral, chata pra caralho! — Ele


olhou para Bernardo — Você tá é fodido!

Ele passou para a porta e foi para o


quarto dele, apenas para pegar a chave do
carro e sair.
Pyotr passou rápido pelo salão e foi
direto para a garagem. O Gordon Murray
T.50 preto foi o carro escolhido da noite.
Se tinha uma coisa que Pyotr adorava,
além de mulheres e poder, eram os
carros. Aquelas máquinas velozes eram
capazes de animá-lo quase que
imediatamente.

Jannochka olhou pela janela e viu o


carro saindo da garagem subterrânea.
Pegando o celular, ela apenas disse:

— Quero que o sigam.


Por mais que confiasse na capacidade
de Pyotr atrás de um volante, Jannochka
viu o rapaz passando quase que correndo
para o andar inferior, com cara de poucos
amigos. A
preocupação dela era que a cabeça
requentada do filho o colocasse em mais
algum problema.

Pyotr sorriu enquanto sentia a


velocidade do carro e, quando deu por si,
estava estacionando próximo à casa de
Kazimir. Ele não havia mentido quanto a
isso, para Ekaterina.
“O que porras eu tô fazendo aqui?”, ele
se questionou, pois não faria nenhum
sentido ir até a casa dela e, quem sabe,
convidá- la para um passeio.

No entanto, não foi preciso Pyotr ir


muito longe nas possibilidades, pois a
bela garota de cabelos dourados estava
saindo da casa dela. E, pelo que Pyotr
pode ver, era mais como uma fuga. Ele
sorriu de lado e dirigiu devagar até quase
parar ao lado dela e rolou os vidros para
baixo.
— É perigoso andar sozinha — Ele
falou e a moça deu um pulo, levando a
mão ao peito e olhando para dentro do
carro. Após estreitar um pouco os olhos,
ela pareceu reconhecê-lo.

— Ah, você é o amigo do Kaz, não é?


— Ela perguntou, olhando para trás.

— Isso. E posso ser seu amigo


também — Pyotr respondeu — Por que
não sobe no carro e eu te levo?

— Hmm, não precisa — Ela limpou a


garganta — Eu só estava…
— Não tem comércio aqui, princesa. E
pelo seu jeito furtivo, duvido que os seus
pais saibam que você deu uma escapa —
Pyotr passou a língua pelos lábios — Seja
lá para onde esteja indo, eu te levo. Nosso
segredinho.

A piscada de Pyotr era sinal de que ele


estava, de fato,
“flertando pesado”, como dizia
Ekaterina, toda vez que via o irmão fazer
aquilo para alguma mulher.
A garota mordeu o lábio e, finalmente,
decidiu entrar no veículo.

— E então, para onde vamos?


Ela sorriu de leve e abriu o casaco,
revelando um vestido preto brilhoso.
— Eu estava indo me encontrar com
umas amigas — Ela admitiu — Mas meus
pais não são muito… Abertos a esse tipo
de coisa.
— Compreendo — Pyotr começou a
mover o carro — E eu posso te fazer
companhia essa noite?
Ela sorriu para ele e concordou com a
cabeça.
— Claro! — A loira não parecia ter
compreendido que Pyotr se

referia a ficar a noite toda com ela.


Toda — Seu nome é Pyotr,
não é?

O fato de ela lembrar do nome dele fez


o coração de Pyotr bater mais rápido.

— Isso aí, princesa. E o seu… — Ele


lembrava muito bem, mas ainda não
queria parecer “fácil” demais. Pyotr não
gostava de dar esse tipo de poder às
pessoas.
— Lisa — Ela coloca uma mecha de
cabelo atrás da orelha, senta–se direito no
banco e atraca o cinto.

— Chama as suas amigas pra boate


que vou te levar — E Pyotr pisou no
acelerador. Ele a levaria na boate da
família, assim, ele não estaria fora do
território dele, a “крах” (krakh, ou seja,
Colapso).

Lisa deu um gritinho quando o carro


começou a correr, mas logo tratou de
começar a mandar mensagens no
telefone.

— Hmm, eu acho que elas não querem


vir aqui — Lisa disse e franziu o cenho —
Parece que fica longe pra elas.

Pyotr fez um biquinho.

— E você? Quer que eu te leve pra lá


ou… — Ele se virou para a loira e fixou os
olhos escuros nos azuis dela — Vai se
divertir comigo, essa noite?
Dentro do clube, Pyotr entrou como se
não fosse quem ele era. Ao negar de leve a
cabeça para o segurança da portaria, esse
compreendeu que a identidade de Pyotr
deveria ser mantida em total sigilo.

— Caramba, como você conseguiu


entrar tão fácil, aqui? — Lisa perguntou,
olhando ao redor, a boca entreaberta,
enquanto era conduzida por Pyotr para a
escada — O que tem lá em cima?

— A área V.I.P., linda — Pyotr


respondeu, feliz por ter decidido sair
naquela noite.
— Mas… Não deve ser qualquer um
que pode subir ali — Pyotr se virou para
Lisa e acariciou o rosto dela.

— Essa noite, nós podemos tudo.

Os dois se sentaram no sofá de uma das


cabines, a que era exclusiva dos Sigayev,
com a melhor visão e duas saídas de
emergência.

Pyotr não queria embriagar a garota,


pois se tinha uma coisa que ele odiava,
era transar com garotas bêbadas. Qual era
a graça, se elas não estariam
completamente cientes quando ele
entrasse nelas e desse uma noite
inesquecível de sexo?

Apesar de novo, Pyotr não era nada


recatado e no último ano, ele vinha
ganhando fama na cama das mulheres. E
ele não se importava nem um pouco se ela
fosse mais velha. Junto com Miguel, eles
aprontaram bastante desde que o primo
foi para a Rússia, participando até mesmo
de diversões à três.
— Eu conheço uns drinks maneiros
aqui, sem álcool.

— Talvez eu queira álcool — Lisa


sorriu, mas Pyotr, ainda que com ar
brincalhão, apenas balançou a cabeça.

— Nada disso, princesa. Quero você


consciente dessa noite maravilhosa que
terá.

Mesmo na penumbra, Pyotr podia


afirmar que as bochechas dela coraram.
Eles conversaram, riram, e, a cada hora
que passava, Pyotr sabia que aquela
garota era diferente.

Ele se levantou e estendeu a mão para


ela.

— Do que vale vir até uma boate e não


dançar?
CAPÍTULO 20

Lisa colocou a mão na de Pyotr e os


dois desceram para a pista, onde ele fez
questão de colocar a mão na cintura dela
e seduzi-la, ainda que sem beijá-la,
inicialmente.

— Você é bom nisso! — Lisa falou,


próxima a Pyotr, que precisava se inclinar
para frente toda vez que a garota queria
lhe dizer algo.

— Sou bom em muitas coisas — Pyotr


puxou Lisa mais para ele, louco para
encostar-se todo nela, arrastar a loira de
volta para a área V.I.P. e devorá-la lá
mesmo.

Lisa tinha um corpo magro, mas com


“tudo no lugar”, como Pyotr disse a
Miguel, quando comentou que tinha visto
uma das garotas mais bonitas da vida
dele.

“Duvido que ela seja mais gata que a


Clara.”, Miguel havia falado.
“Ah, ela é! Porra, um tesão! E com um
rostinho que mistura inocência e
safadeza… Cara, é surreal!”
“Tá apaixonadinho, Pyotr?”, Miguel riu.
“Eu não me apaixono, Don Juan. Mas
gosto mais de umas que de outras.”
Pyotr manteve uma mão na cintura de
Lisa e a outra segurou o rosto dela,
levantando um pouco o queixo da moça,
antes de beijar os lábios dela.

Ela tinha gosto de morangos, com leite


condensado. A última bebida que ela
havia consumido, ali. Pyotr sentiu o corpo
explodindo com um tesão diferente. A
vontade era de possuíla, mas também, de
abraçar Lisa.
Nas vezes em que ele a viu, quando
eventualmente Kazimir e ele saíam pela
vizinhança, eles trocaram poucas
palavras. E foi o suficiente para ele ficar
com ela na cabeça. O sorriso de Lisa era
lindo, para Pyotr. Apesar de ser calma, ela
não era lerda ou “boazinha demais”. Pyotr
não gostava desse tipo de mulher. Na
verdade, ele ficava entediado, não
importava o quão bonita ela fosse.

O beijo terminou, com alguns selinhos


no final, e ambos estavam respirando
descompassado, principalmente Lisa.
— Vamos sair daqui — Pyotr sussurrou
no ouvido dela e a loira apenas
concordou, seguindo-o. Ela pensou que
eles fossem voltar para o segundo andar,
mas Pyotr os estava levando para a saída.
— Já vamos embora? — Ela perguntou
e ele sorriu e abriu a porta do carro.

— Por quê? Quer ficar aqui, ainda?

— Hmm, não, tudo bem — E ela entrou.


Pyotr deu a volta e sentou-se no banco do
motorista — Obrigada, eu realmente
adorei! Ainda não é tão tarde, acho que
meus pais não notaram a minha falta.
Assim espero!

Pyotr franziu de leve a testa,


compreendendo que Lisa não estava com
planos para continuar o que eles tinham
começado na pista de dança.

— Foi um prazer! — O herdeiro da


Tambovskaya falou, sorridente, mas por
dentro, decepcionado.
Após deixar Lisa perto de casa, ele deu
um beijo apaixonado nela e esperou um
pouco, para o caso dos pais dela terem
notado a falta dela e brigarem com ela.
Não, ele não os conhecia e temeu que
houvesse mais do que um sermão.

Ao chegar em casa, Pyotr subiu as


escadas com cuidado para não fazer
barulho. Não que ele tivesse feito algo
errado, mas para que ele iria querer
acordar os outros?

Ele ligou a luz, de cabeça baixa, e


fechou a porta do quarto.

— Ah! — Ele se jogou na cama,


sorrindo — Aquela loirinha…
Nos poucos meses que Pyotr ficou
observando Lisa, ela nunca tentou se
aproximar dele, não importa quantos
sorrisos ele desse na direção dela. E,
diferente de outras moças, ela não parecia
interessada nos carros dele, que,
claramente mostravam o poder aquisitivo
da família dele. E isso foi um atrativo para
Pyotr.

Pyotr dormiu na mesma posição,


sonhando com Lisa e com o que ele
gostaria que eles tivessem feito.
No dia seguinte, Pyotr estava com um
semblante mais calmo e Ekaterina
levantou a sobrancelha, mas nada disse.
Mas mais surpresa ela ficou ao perceber
que Aleksey ficou quieto, também.

— O que será que mordeu esse


menino? — Ela cochichou para Bernardo.
Este levantou os ombros.

— Não faço ideia, meu amor.


Santiago olhava para o loiro. Ele sabia
muito bem que Ekaterina e o rapaz
andavam fazendo mais do que deviam, na
opinião dele. E sim, ele se sentia hipócrita,
porque na idade de Bernardo, Santiago
era o terror dos pais, passando o rodo em
tudo o que era mulher. Mas Ekaterina era
filha dele e, claro, ele se incomodava.

“Deve ser karma”, ele balançou a


cabeça e olhou Pyotr, comendo satisfeito.
“Esse daí teve uma noite boa”.

Jannochka ficou sabendo que o filho


havia apenas ido a uma boate, da máfia,
com uma menina. Ela pediu, claro, que lhe
dessem todos os dados dela. Como tinha
que cuidar de outros afazeres, Jannochka
não poderia fazer isso ela mesma.
Ela só esperava que não houvesse
problemas com a garota. E se tivesse,
Pyotr não poderia mais vê-la.

— Bernardo, hoje você e eu vamos ter


que sair — Jannochka avisou e Bernardo
levantou a cabeça — Iremos resolver um
pequeno problema.

— Que problema, mãe? — Ekaterina


perguntou. Bernardo não estava
treinando para ser um soldado,
exatamente. Não seria a função dele.
— Quero que Bernardo veja de frente o
que o espera. Aos poucos, claro —
Jannochka sorriu e bebeu do copo dela.

— Mas isso não tem nada a ver com o


que o Bê vai fazer aqui?

— A moça continuou.

— Tem. Ele vai ver quando chegar lá —


Jannochka moveu a boca para baixo e
Ekaterina sabia que a mãe estava ficando
irritada com as perguntas, por isso, ficou
quieta.
CAPÍTULO 21

Bernardo nunca tinha saído sozinho


com Jannochka. Havia mais dois soldados
com eles, mas ele estava no carro com ela,
dirigindo.

— Não precisa ter medo de mim,


Bernardo. Não estou te levando para o
matadouro — Jannochka disse e sorriu,
olhando para a estrada — Não o seu
matadouro.

Bernardo engoliu em seco.

— Estamos indo matar alguém?


Jannochka deu de ombros.

— Isso não depende de mim. Talvez eu


só arranque alguma parte, afinal, ele
precisa se lembrar de não fazer merda, de
novo.

O semblante dela ficou mais pesado e


Bernardo olhou pela janela.

Até o momento, ele ainda não tinha


visto esse lado da máfia.

Os Herrera nunca o introduziram


àquilo. Sim, ele sabia muito bem que a
máfia era algo a se temer, mas ouvir falar,
ler em algum lugar, é uma coisa; ver, ou
pior, participar, era bem diferente.

O carro parou e Bernardo começou a


hiperventilar. Uma mão acariciou as
costas dele. Ao levantar os olhos, ele viu

Jannochka encarando-o com um olhar


que ele só poderia comparar com uma
mãe.

— Se acalma. Não estou fazendo isso


pra te torturar — Ela balançou a cabeça
— Acho que foi uma má ideia.
— Não! — Ele falou rapidamente e a
Don levantou as sobrancelhas — Eu… Eu
posso fazer isso.

Tudo o que Bernardo pensava era que,


se ele não conseguisse fazer aquilo, não
poderia fazer parte dos Sigayev. Isso
significaria não poder ficar com
Ekaterina, o que era completamente fora
de questão.

— Muito bem — Jannochka falou e


desligou o carro — Pode sair.
Bernardo havia ido vestido como os
outros: calça preta, blusa preta, um
sobretudo preto e luvas de couro. Pretas,
claro.
Fyodor estava lá, esperando por eles e,
ao vê-los, ele deu uma última tragada no
cigarro, antes de jogar a bituca fora e
pisar nela.

— Cadê ele? — Jannochka perguntou.

O russo mais velho apenas fez sinal


com a cabeça, para dentro do que
Bernardo julgou ser um tipo de galpão.
Normalmente, Fyodor era firme, mas
sempre falava com o loiro de forma mais
gentil. Mesmo quando era visto em treino.
Não naquele momento. Ali, Bernardo
conseguiu ver que Aleksey era mesmo
filho daquele homem imenso.

Eles entraram pela porta que Fyodor


abriu e, após descerem as escadas, bem
no meio, uma cadeira, onde um homem
estava sentado. Ou melhor, amarrado.

— O que ele fez? — Bernardo


perguntou baixinho.
— Roubou. Mas eu quero que você,
Bernardo, vistorie o computador dele —
Jannochka apontou para o laptop aberto
em uma mesinha num canto. Bernardo
concordou com a cabeça, aliviado por não
se aproximar do homem.

O alívio durou pouco, porque na mesma


mesa onde estava o computador, os
instrumentos de tortura se dispunham
enfileirados.

— Eles não vão te morder — Fyodor


disse e Bernardo quase deu um pulo — Se
acalma, segura a onda. Não quer que o
nosso cliente sinta o seu estado, não é?

— Cli-cliente?
Fyodor soltou uma risadinha rouca que
fez um arrepio correr pela espinha de
Bernardo.

— Garoto, isso aqui não é fácil. Sugiro


que comece a colocar isso na cabeça —
Fyodor virou a cabeça para Bernardo,
enquanto segurava um alicate — Tente
não vomitar.
Com um tapinha nas costas de
Bernardo, Fyodor se afastou e foi para
perto de Jannochka. Ela estava encarando
o homem sentado.

“Concentre-se no computador!”,
Bernardo falou para si mesmo e abriu a
máquina, apenas para franzir a testa.

— Esse computador tá corrompido —


Ele falou mais alto, sem virar a cabeça.
— Por isso você está aqui — Jannochka
respondeu, seca — Vasculhe essa
máquina.
Uma coisa que Jannochka havia dito a
Bernardo era que, fora ela, que já era
conhecida, ela não mencionaria o nome
dele.

Eles evitavam dar esse tipo de


informação aos presos.

“Eles é quem devem nos fornecer


dados, não o contrário”, ela havia dito,
antes de saírem de casa. Por isso, ele
deveria prestar atenção ao falar com
quem estivesse com ele, ali.

— Sim, senhora — Ele respondeu.


Bernardo ouviu o primeiro grito e se
sentiu empalidecer, mas não se virou.
Fyodor falava algo, em russo, e o homem
capturado respondia com dificuldade.
Apesar de não compreender, Bernardo
conseguia ouvir como não era um pedido
de clemência, mas havia um quê de
atrevimento.

“Que homem burro! Não vê que isso só


vai piorar as coisas para ele?”, Bernardo
balançou a cabeça e pensou que seria tão
bom se ele tivesse um fone, para colocar
uma música bem alta e abafar aqueles
gritos.

O computador havia passado pelas


mãos de algum hacker, que tentou
configurar paredes para impedir que os
dados fossem acessados por estranhos.
Bernardo sorriu de lado. Se tinha uma
coisa que ele adorava era quebrar essas
barreiras.
Ao abrir os arquivos, ele apenas o fez
para poder ver se estava tudo certo, não
esperando que os olhos dele pegassem
alguns dados que suscitassem-lhe a
curiosidade.
Depois de ler parte do que tinha ali,
Bernardo compreendeu o que o homem
sentado tinha feito: tráfico de pessoas.
Não. De crianças. Não para serem
adotadas, mas para serem vendidas para
bordéis e para pessoas doentes que as
queriam como escravas…

Bernardo sentiu o embrulho no


estômago, na hora. O homem atrás dele
gritou e, dessa vez, o loiro não sentiu um
pingo de pena.
— Terminou, aí? — Jannochka
perguntou e Bernardo se virou, não
preparado para a cena em frente a ele.
O homem estava com pelo menos três
dedos faltando. O braço esquerdo, com a
pele pendurada, expondo os músculos.

O rosto, de um lado, todo arroxeado.

O vômito veio com força e Bernardo


não conseguiu se segurar, tendo tempo
apenas de se virar e despejar o café da
manhã todo ali.
Jannochka fez sinal para Fyodor, que
passou por Bernardo e pegou o
computador.

— Você passou os dados? — Ele


perguntou a Bernardo, que conseguiu
apenas concordar com a cabeça — Okay.

Eles estavam falando em inglês com


Bernardo.
— Esse merdinha… É o mexicaninho
civil? — Ele olhou para a morena, com
deboche, mesmo naquele estado —
Fazendo…
Caridade, Sigayeva? Vai foder com ele,
como a boa.. Vadia que é?

Jannochka socou o homem. Pelo visto, a


notícia de quem civil 0estrangeiro estava
com eles havia se espalhado. Mas como?

“Eu vou descobrir quem abriu a boca”,


Jannochka pensou.

— Ele tá em contato com os Chiarello

— Fyodor disse e rangeu os dentes.


CAPÍTULO 22

Já no carro de volta, Fyodor foi com


eles e sentou-se na frente, com Jannochka.
Pelo que Bernardo agradeceu. Ele não
estava em condições de nada.

Assistir um filme de terror é muito


diferente de ver um homem em pedaços,
na vida real. Jannochka havia mandado
tirarem Bernardo dali, antes de dilacerar
o prisioneiro, mas isso não significava que
o mexicano já não tivesse visto e ouvido o
suficiente.
— Os malditos italianos da
N’drangheta. continuam a tentar
prejudicar o nosso território! —
Jannochka deu um soco no volante.
Bernardo nunca a tinha visto daquele
jeito, o rosto vermelho de raiva.

— Acho que já deixamos que esses


malditos ficassem livres por tempo
demais, prima — Fyodor disse
entredentes — Eles merecem queimar!

— Eles vão! — Ela inspirou o ar — Meu


pai matou vários deles, mas o maldito do
Aronne continuou livre… Bem o suficiente
para ter dois filhos.

— O que faremos?
Bernardo fechou os olhos e tentou pensar
em Ekaterina, mas então, a cena de
Jannochka com um olhar matador
apareceu na mente dele. Seria Ekaterina
daquele jeito?

“Não. Jannochka é a Don, é mais dura e


cruel. Ekaterina não é assim”, ele sorriu e
procurou de ficar se lembrando apenas
dos bons momentos com a namorada.
Ao chegarem na mansão, Ekaterina
esperava por Bernardo, ansiosa. E, ao ver
o rapaz, ela soube que aquilo foi demais.

— Amor! — Ela falou baixinho.

— Pode falar alto, menina! Não é como


se não soubéssemos!

— Fyodor disse, rindo e passou por


eles.

— Vem pro quarto — Ekaterina falou e


subiu com Bernardo.
Aleksey observou, e, novamente, não
teceu qualquer comentário.

— Esse moleque tá esquisito — Pyotr


comentou com Miguel, que estava
encostado na parede.

— Acho que ele e Maksim brigaram —


Miguel cochichou.

— Aleksey briga com todo mundo, mas


não o Maksim. O que será que houve?

— Eu não sei. Mas eu vi o seu primo


super pra baixo. Ele se recusou a dar
detalhes — Miguel levantou os ombros —
Agora, me conta… E a sua gatinha?

Pyotr revirou os olhos, mas sorriu.

— Não vou falar nada, pra não


estragar! — Ele sorriu — Mas acho que
vai rolar mais do que rola normalmente.

Miguel sorriu de lado.

— Ah, apaixonadinho?
— Não exagera! — Pyotr passou a mão
pelo cabelo curto — Se fosse a Gemma…
Quem sabe?

Pyotr falou para provocar e, como o


esperado, o sorriso falhou nos lábios de
Miguel.

— Gemma? Como que ela veio parar na


conversa?

— Ué… Estamos falando de gatinhas.


Ela me veio à mente.
Sim, Pyotr achava Gemma bonita, mas
não era o tipo dele.

Além disso, ele desconfiava que Miguel


tinha uma queda pela garota, só não
admitia porque ainda insistia que o
coração pertencia à Clara.
Miguel estalou a língua.

— Pode esquecer, Pyotr. Aquela ali só


vai transar quando casar

— Miguel disse e, de certa forma, as


palavras desceram ruins para ele mesmo.
Não que ele estivesse apaixonado, claro
que não! Mas… Ela era bonita e, tinha
charme. Porém, eles eram amigos.

“Só amigos”, ele repetiu para si.

— Ué, e quem disse que eu não casaria


com ela, antes de dividirmos a cama? —
Pyotr piscou para Miguel e começou a
se afastar — Inclusive, ela tá em idade
de casar, mesmo. Fiquei sabendo que já
está sendo cobiçada. Daqui a pouco vão
começar a me encher com casamento…
Quem sabe?
Pyotr não esperou resposta de Miguel,
apenas saiu dali, deixando o mexicano
irritado.

Miguel subiu as escadas e foi pegar o


celular dele, que havia ficado lá. Havia
uma mensagem de Gemma, por
coincidência e ele passou a língua pelos
lábios.

GEMMA: Miguel! Preciso de um


conselho!

MIGUEL: Sobre o quê?


Ele suspirou e se apoiou em uma das
pernas, esperando a resposta dela. A foto
de Gemma havia mudado e Miguel clicou
para olhar. Ela estava com uma regata
preta, colada. Apesar de não ter seios
imensos, Gemma era proporcional e
Miguel não conseguiu não notar as formas
dela. Os cabelos estavam soltos,
levemente ondulados nas pontas,
enquanto ela mandava um beijo para a
câmera, sorrindo.

GEMMA: Então, o papai tá falando


sobre casamento e parece que o novo sub
da Camorra tá mesmo querendo me
conhecer, entende? Mas eu não sei… Ele é
mais velho.

Sem perceber, Miguel pressionou o


botão de áudio.

“Boca suculenta”, ele falou.

GEMMA: Quem tem a boca suculenta?

Miguel arregalou os olhos e


amaldiçoou.

MIGUEL: Uma garota que eu vi aqui…


É… Quanto ao Moscatelli.
Ele é velho. Diga não.

GEMMA: Mas ele é bonito.

Miguel franziu o cenho.

MIGUEL: E daí? Ele é VELHO. Você


precisa de alguém mais da sua idade. O
cara tem o quê? Uns trinta?

GEMMA: Não! Ele tem vinte e um. Bom,


vinte e dois em um mês. E eu ainda tenho
dezesseis, Miguel. Mas já querem me
comprometer.
Miguel começou a digitar, mas Gemma
foi mais rápida.

GEMMA: Dalila tá me chamando. Já


volto!

Ele ficou ali olhando para o telefone.


Olhou para a foto de Gemma de novo e
balançou a cabeça.

“Isso deve ser falta”. Guardou o telefone


no bolso e desceu as escadas.
No quarto, Ekaterina acariciava os
cabelos de Bernardo.

— Amor, tem certeza de que você quer


mesmo ser da máfia?

Eu entendo…

Bernardo segurou o pulso de Ekaterina


e o beijou, carinhosamente.

— Foi a primeira vez. E eu… Argh! Eu


coloquei o café pra fora, Rina.

— É normal. A maioria faz isso.


— Você?

Ekaterina sorriu para ele.


— Pyotr e eu somos diferentes. Digamos
que o sangue dos nossos pais,
principalmente da mamãe, são resistentes
a isso.

Bernardo fez beicinho e Ekaterina o


beijou.

— Você é maravilhosa.
— E você, bobo — Ela respondeu,
aninhando-se nos braços de Bernardo. O
loiro a abraçou — Mas temos que descer.
Bom, eu tenho. Preciso treinar.

Ela o beijou novamente, mordendo o


lábio inferior de Bernardo, o que o atiçou,
mas Ekaterina se levantou da cama.

— Que maldade!

— Eu sou a pura maldade, lindão!

Soprando um beijo para ele, Ekaterina


saiu do quarto, sorridente e esbarrou em
Miguel.
— Opa! — Ele segurou a cintura dela
para impedi-la de cair.

— Ai, queria que as coisas fossem como


aqui, lá no México — Miguel falou e olhou
para a porta do quarto de Bernardo. Ele e

Ekaterina começaram a andar juntos.

— Como assim?

— Ah, você pode ficar no quarto com


Bernardo. Livremente.
Mas eu, por exemplo, não poderia ficar
com uma garota e esperar que ela fosse a
minha esposa, depois.

Ekaterina soube que ele ainda estava


remoendo Clara. Por isso, suspirou.

— As coisas são como são, Miguel. Meu


conselho pra você é: abra os olhos e o
coração.

Ele olhou para baixo, sorrindo triste.


— Queria que fosse fácil. Realmente
queria.
— Ela não vai casar com você —
Ekaterina resolveu ser mais direta e
Miguel a olhou, assustado — Nem adianta
fazer essa cara. Sabemos bem de quem
você tá falando. Ela é casada, com seu
irmão. Desencana. E não é pra ficar
pegando todas.

Tenta se conectar com você mesmo.

Miguel soltou uma risada.

— Você pareceu agora aquelas pessoas


que falam de filosofia, paz e amor.
Ekaterina deu de ombros.

— Não me importo. Não mudo o que


falei. Você, Miguel, precisa largar do
passado e parar de ficar chorando. Sim,
mais fácil falar do que fazer. Mas tente.
Um dia de cada vez.

O Ano Novo chegou, bem como o


aniversário dos gêmeos Sigayev.
CAPÍTULO 23

Jannochka nunca foi de comemorar o


Ano Novo, mas, dezessete anos antes, os
gêmeos nasceram e a vida dela ficou com
mais um motivo para comemorações.

— Nem acredito que eles já estão com


dezessete, Santi!
Santiago abraçou a esposa por trás,
apoiando o queixo de leve no ombro dela,
enquanto observava o reflexo dos dois.

— Sim, dezessete anos que eles


nasceram. Quase dezoito que eu fodi você
bem gostoso e te engravidei.
Jannochka olhou para Santiago por
sobre o ombro e ele sorria, safado.

— Você…

— É meu charme. E você ama, que eu


sei — Santiago beijou o pescoço de
Jannochka — Quer lembrar como a gente
fez os meninos?

— Como vamos… Aaah! — Jannochka


gemeu ao sentir Santiago apertando o
seio dela e lambendo a pele sensível atrás
da orelha — Nós não fizemos só uma
vez…
— Então, é melhor a gente fazer em
todos os lugares, em posições diferentes
— Santiago a inclinou para frente, na pia
do banheiro — Não importa quanto
tempo passe, meu tesão por você só
aumenta!
No outro quarto, Ekaterina e Pyotr
estavam olhando pela janela, sentados na
varanda. Eles sempre esperavam o dia
amanhecer para fazer isso, juntos.
— Pensei que comemoraria esses
primeiros minutos com o Bernardo — A
forma como Pyotr falou o nome do loiro
fez Ekaterina sorrir e balançar a cabeça.
— Mas você é ciumento! — Ela brincou,
dando um empurrão com o ombro, no
irmão — Esse aqui é o nosso momento. E
você é o meu irmão, Pyotr. Ninguém
jamais vai substituir você.
Ele olhou para o outro lado, fazendo
bico.
— Sei… Ano que vem você se casa e eu
vou ser esquecido!
— Aaah, que dramático! — Ekaterina
passou os braços pelos ombros de Pyotr
— Amo você, Pyotr. Posso amar
Bernardo, os filhos que eu vier a ter com
ele, mas você sempre vai ser o meu
gêmeo. O meu Pyotr.
Eles dois ficaram ali até que o dia
começasse a clarear. Aquele era o dia
trinta e um de dezembro e a neve caía
pesadamente.
Ekaterina saiu do quarto do irmão e foi
para o dela, onde Bernardo a aguardava
com flores, chocolates e uma caixa de
veludo, esta dentro do bolso da calça.
— Bernardo! — Ela correu para ele,
que largou tudo na cama e a tomou no
colo — Que horas…?
— Vim aqui à meia-noite, mas você não
tava. Então fiquei de olho e… Bom, Pyotr
me avisou que você já ia sair do quarto
dele.
Ekaterina sorriu. Pyotr era ciumento,
encrenqueiro, mas a queria feliz.
— Hmmm… — Ela olhou para a cama
— Meu presente tá na cama?
Bernardo sorriu de lado, colocando as
mãos no bumbum da russa.
— Sim — Ele a deitou na cama de uma
vez e os dois riram — Eu amo você, meu
amor. Feliz aniversário! Esse será o
primeiro de muitos que passaremos
juntinhos.
O coração de Ekaterina se derreteu.
Não só pelas palavras de Bernardo, mas
pela intensidade com a qual ele as
pronunciou e o amor que era palpável
entre eles.
— Um ano… Hoje começamos a
contagem regressiva — Ela o lembrou,
acariciando os fios loiros que caiam por
sobre a testa dele.
— Sim — Bernardo a beijou de leve —
Seu presente, ano que vem, vai ser
diferente.
Ekaterina fez um beicinho. Só com ele
era possível ela mostrar esse lado mais
doce e manhoso.
— E que tal uma amostra? Um ano é
muito tempo, amorzinho
— Ekaterina enlaçou as pernas ao
redor de Bernardo.
— Amostra… Assim? — Ele empurrou
os quadris para baixo e ela fechou os
olhos, sorrindo e balançando a cabeça —
Mais?
Bernardo começou a se mover, tomou
os lábios de Ekaterina e não demorou
para eles estarem sem blusa, ele com a
boca em um dos mamilos dela, sugando
com força.
Ekaterina impulsionou o corpo e trocou
a posição deles, ficando por cima.
Bernardo a olhou, as pupilas dilatadas,
enquanto ela se esfregava nele.
— Porra, eu vou gozar desse jeito —
Bernardo falou baixinho, segurando a
cintura de Ekaterina.
— Goza. Mas… Não é melhor na minha
boca?
Ela sorriu de lado, travessa, e saiu de
cima dele, deslizando para baixo e, como
Bernardo vestia uma calça esportiva, o
volume dele era bem visível naquele
tecido.
— Caralho… — O loiro olhou para
baixo, Ekaterina com o rosto ali pertinho
do membro dele.
— Vou ser a ciumenta e dizer que não
quero você com essa calça, andando por
aí — Ela passou a mão pelo membro de
Bernardo — Eu sei que é difícil
disfarçar, mas… Assim não dá pra ser.
Isso aqui é só meu.
Ekaterina puxou a calça dele para baixo
e Bernardo subiu os quadris, a fim de que
o pano pudesse rolar para as coxas dele.
Com a língua, sem usar as mãos,
Ekaterina lambeu a extensão
de Bernardo, que jogou a cabeça para
trás, soltando alguns palavrões.
— O aniversário é seu… E eu que ganho
presente? — Bernardo perguntou e
Ekaterina, sem tirar os olhos dos dele,
abocanhou a cabeça pulsante — Puta que
o pariu!
— Hmmm… Fode a minha boca —
Ekaterina sugou mais forte, movendo a
língua ao redor, como podia.
Após um rosnado, Bernardo se sentou e
colocou Ekaterina deitada, de barriga
para cima, na beirada da cama.
— Quer que eu foda essa boquinha
linda? — Ela concordou com a cabeça e
abriu a boca — Encher sua garganta de
porra!
Bernardo apoiou os braços nas laterais
de Ekaterina e se inclinou para frente,
lambendo-a na intimidade. Ela levantou
as pernas para dar mais acesso a ele.
Mais tarde, quando os dois saíram do
quarto dela, todos estavam à mesa e
parabenizaram os gêmeos.
— A festa vai começar que horas? —
Maksim perguntou a Miguel, que passaria
a virada do ano com os primos.
— Acho que às sete — Ele respondeu e
olhou bem para Maksim
— Você tá bem?
Maksim levantou as sobrancelhas, mas
logo relaxou e apertou os lábios, com um
sorriso tímido.
— Sim, tô.
— Não somos primos de sangue e nem
amigões, mas… Tô aqui, se precisar pelo
menos desabafar.
Miguel deu um tapinha no ombro do
russo e se afastou.
Aleksey viu e se aproximou do primo,
que, ao vê-lo, limpou a garganta e
começou a se virar.
— Maksim…

— Eu preciso ir. Com licença.


Aleksey ficou ali, parado, sem saber o
que falar. Se deveria ir atrás de Maksim
ou não. Mas se fosse, o que diria? Ele era
péssimo com aquilo.
— Você deveria ir — Uma voz feminina
falou atrás dele.
— Ir pra onde, mãe? — Aleksey
perguntou, mais sério.
Agafia Sigayeva sorriu e se aproximou
do filho.
— Eu sei que você é fechado e… Tem
seu jeito, Ale, mas às vezes é preciso sair
da sua zona de conforto — Ela olhou na
direção para onde Maksim havia saído —
Ele é seu primo e eu sei que você gosta
dele. Não sei o que você fez, mas peça
desculpas. O orgulho…
Aleksey sorriu com desdém e se virou
para a mãe.
— O orgulho deve correr nas minhas
veias por conta de alguém, não é? — Ele
olhou feio para ela — Antes de me dar
conselhos, siga-os!
— Aleksey! — Ele não deu atenção e
começou a se afastar — Aleksey Vitomir!
— Ele já foi — Fyodor disse,
desinteressadamente.
— O seu filho…
— O seu filho, — Fyodor disse, sério —
Puxou total à você.
A boca de Agafia se abriu e Fyodor
limpou a garganta. Ele havia pensado em
algo muito atrevido, mas decidiu que era
melhor não falar. A loira na frente dele já
tinha deixado claro o desgosto que sentia
por ser casada com ele.
— Ha! Eu não…
— Orgulhosa!
— Melhor do que infiel!
— Tudo bem, aqui? — Jannochka se
aproximou e os cada um olhou para um
lado, Agafia de braços cruzados e Fyodor
com a mão no bolso.
Agafia suspirou.
— Sim, Don. Com licença — Ela fez uma
reverência e se afastou. Fyodor suspirou e
Jannochka balançou a cabeça.
— Ainda não contou a verdade?
CAPÍTULO 24

— Ainda não — Fyodor disse, olhando


para baixo e chutando o chão com a ponta
do sapato social.
— Então não reclame por ela estar te
tratando assim — Jannochka bebeu do
copo de vodka dela — Agafia é uma boa
mulher. E… Ela gosta de você, Fyodor.
Não sei o motivo, mas gosta.
os olhos estreitados. Ele olhou para a
prima, com
— O que está insinuando? — As mãos
dele foram para a cintura.
— Que você é idiota e vai perder aquela
loirinha por besteira —
Jannochka sorriu — E lenbre-se: a
nossa máfia permite divórcio.
Fyodor soltou um suspiro rápido e
vasculhou o salão, avistando Agafia
conversando com outras pessoas.
Os lábios dele se apertaram em uma
linha fina.
“Etot chertov Urvan! (Esse maldito do
Urvan!)”, Fyodor fechou o punho com
força e começou a caminhar na direção do
grupo.
—...I togda drugogo puti ne bylo! (... e
então, não teve mais jeito!) — A risada
que Agafia soltou por conta do que Urvan
Severinov havia dito, fez o sangue de
Fyodor ferver.
Ele passou o braço pela cintura da
esposa, puxando-a para ele com
delicadeza, um sorriso nos lábios.
— Razgovor otlichnyy, vidimo! (A
conversa está ótima, pelo visto!) —
Fyodor falou e se inclinou para Agafia,
sussurrando:
YA khochu s toboy koye-chto
pogovorit'. Eto ochen'
ser'yezno (Quero conversar algo com
você. É muito sério).
A voz dele saiu sedutora, mas séria e
Agafia se sentiu tremer de leve. Por mais
irritada e com raiva que estivesse com
Fyodor, ela era muito afetada por ele.
— Proshu proshcheniya! (Com licença!)
— Ela pediu, sorriu para todos e se virou.
Urvan não tirou os olhos escuros de cima
dela, nem mesmo percebendo que Fyodor
o observava. Um sorriso de lado apareceu
em seus lábios.
Fyodor queria puxar a arma e matar o
abusado, mas ele não estragaria a festa
dos gêmeos, e nem arrumaria mais um
problema com Agafia. Ela e o referido
homem eram amigos de infância.
Agafia seguiu para fora do salão, séria,
mas dando um sorriso aqui e ali, educada
como sempre. Ao passarem pela porta
maior, ela se virou, mas não esperava que
Fyodor segurasse o braço dela e
continuasse andando.
— Calma aí! — Ele continuou e Agafia
enfiou as unhas na mão dele, o que,
obviamente, não surtiu qualquer efeito —
Fyodor!
— Ele se virou e enfiou a mão nos
cabelos perfeitamente penteados dela.
— Adoro quando grita o meu nome,
mas não assim, meu amor.
Agafia franziu o cenho e tentou
empurrá-lo.
— Eu quero o divórcio!
Silêncio. O peito de Fyodor se contraiu
imediatamente.
— Não.
Agafia segurou a mão dele, na tentativa
de afastá-lo.
— Não pode me prender a você. Eu não
quero…
— É pra ficar com aquele filho da puta?
Ela soltou uma risada de desdém.
— Um filho da puta que não seja infiel
já está bom!
Fyodor a beijou e, nos primeiros
momentos, Agafia resistiu, batendo no
ombro dele, mas logo, ela começou a
derreter nos braços do marido.
— Eu…Eu não te traí, ok? — Fyodor
sussurrou.
— Eu vi! — Agafia retornou à fúria e
conseguiu afastá-lo — Te dou um mês pra
finalizar os papéis.
Ela deu meia volta e retornou para a
festa, enquanto Fyodor fechou os olhos e
escorou a testa na parede.
Meses antes, ele havia ido para uma
missão e não podia falar nada para
ninguém, além de Jannochka e Santiago.
Nem mesmo Yuri sabia — quem, por
sinal, estava muito irritado com a
“traição” do irmão frente à Agafia.
Quando retornou, ele precisou tomar a
decisão de envolver sentimentalmente a
mulher de quem ele precisava arrancar
informações. E foi quando Agafia, por azar
dele, testemunhou o tal beijo.
Desde então, ela não dormiu mais com
ele no mesmo quarto, na verdade, nem na
mesma casa. Agafia agora ficava em uma
casa anexo ao casarão Sigayev, enquanto
Aleksey permaneceu ali com o pai.
Ela se sentiu traída pelo filho, mas
então, ele sempre foi mais próximo a
Fyodor, mesmo que ninguém acreditasse
que ele fosse chegado a ninguém, no fim
das contas. Mas Agafia sabia que sim.
Risadinhas puderam ser ouvidas e
Fyodor levantou a cabeça, vendo
Ekaterina e Bernardo se esgueirando por
ali.
“O, no ya ni za chto ne ostanus' zdes',
chtoby uvidet' eto! (Ah, mas eu não vou
ficar pra ver isso de jeito nenhum!)”, ele
balançou a cabeça e se afastou. Sim, ele
desejava felicidades ao casal, mas
Ekaterina ainda era criança, na cabeça
dele. A vontade que ele tinha era de dar
um chega pra lá no loiro mexicano, mas
sabia que era excessivo. Além de que
Ekaterina não aceitaria ninguém se
metendo no relacionamento dela.
“Ne otritsayte, chto ona doch' Janna!
(Não nega que é filha da Janna!)”.
— Não podemos nos demorar aqui —
Ekaterina falou, sorrindo, se deixando
apoiar as costas na parede.
— Não vamos. É tentador demais —
Bernardo a beijou rapidamente — Hmm…
Eu queria te dar isso, aqui.
Ele retirou do bolso uma caixinha e os
olhos de Ekaterina brilharam.
— Isso…
Bernardo se colocou de joelhos, limpou
a garganta, o que fez Ekaterina rir e olhou
bem nos olhos dela.
— Ekaterina Valya Sigayeva, meus dias
com você são os melhores. Seu sorriso,
seu olhar, sua voz… Não consigo imaginar
não ter você ao meu lado. Se você se sente
como eu me sinto, então, aceite ser a
minha esposa e eu vou te fazer feliz, cada
dia mais. Essa vai ser a maior missão da
minha existência.
Os lábios de Ekaterina tremeram.
CAPÍTULO 25

Ekaterina sentiu o peito apertar, ela


não podia respirar.
Bernardo a olhava com brilho, com
amor.
Sem pensar mais, ela se atirou nos
braços dele, levando os dois ao chão e
enchendo-o de beijos.
— Sim, sim! — Ela respondeu e quando
Bernardo olhou para ela, notou como
havia lágrimas no rosto da russa. Ele as
limpou com o polegar e beijou o rastro
molhado.
—Obrigado, meu amor! Eu prometo
que vou te amar para sempre. E por mais
que você seja mais do que capaz de cuidar
de si mesma, eu vou te proteger com a
minha vida.
Ekaterina colou os lábios deles com
mais emoção do que nunca.
— E eu te prometo o mesmo, Bernardo.
Eu amo você com tudo o que tenho. Não
importa o quê, eu sempre vou amar você.
Aquelas palavras tinham um peso
muito grande. Ekaterina não era do tipo
que falava o que não sentia. Bernardo
sabia daquilo, na verdade, era um dos
motivos para ele amá-la tanto.
Portanto, quando ela dizia que o amava,
que sempre o faria, ele sabia que não
havia um pingo de incerteza nas palavras
dela.
— Finalmente! Achei que você ia só
ficar de lenga-lenga com a minha irmã! —
Pyotr falou, saindo da um canto escuro e
Bernardo franziu o cenho, enquanto
Ekaterina revirou os olhos.
O gêmeo dela tinha um sorrisinho no
rosto — Eu fico muito feliz por não
precisar colocar uma arma na sua cabeça,
loirinho.
— Ha, ha… Nem em cem anos, Pyotr —
Ekaterina se levantou, seguida de
Bernardo, que a segurou pela cintura.
— Eu jamais brincaria com a sua irmã,
Pyotr — Bernardo estava ofendido. Pyotr
levantou os ombros.
— Você tem cara de safado — Ele disse
e Ekaterina estreitou os olhos para o
irmão.
— Veja só quem fala! O Don Juan da
Rússia!
— Opa, opa, eu não engano ninguém.
Todas sabem que eu não vou ficar sério
— Pyotr se defendeu e chegou perto de
Bernardo, estendendo a mão. O loiro a
segurou e Pyotr o puxou para um abraço
— Bem-vindo á família. Agora, só tem que
passar pela mamãe e pelo papai.
Os três voltaram para o salão e não
perceberam Maksim a um canto, se
esgueirando pela parede. Mas Aleksey,
sim.
O mais novo seguiu o outro, vendo
naquela uma oportunidade para
conversar com o primo e pedir desculpas
por ter falado o que não devia, o que não
sentia, só porque ficou na defensiva.
Foi quando ele notou que Lev fez sinal
com a cabeça e um grupinho de rapazes
começou a seguir Maksim.
Lev estava ainda sem poder andar
muito bem, mas ainda assim, não havia
aprendido a lição.
Maksim foi para a garagem, bem como
os outros rapazes.
Estes mantinham uma distância
razoável do loiro, o que, para Aleksey,
deixava clara a intenção de aprontar algo
ruim.
O rapaz pegou um dos veículos, o que
fez Aleksey fazer uma careta, pois ele
sabia bem que aquilo não daria certo. Ele
ficou na dúvida se deveria avisar o pai, ou
ao menos os tios… Talvez até mesmo
Pyotr, mas então, e se aquilo colocasse
Maksim
em encrenca maior?
“Depois do que falei, não posso fazer
isso com o Mak”, ele pensou, decidido a
apenas seguir o grupo e ver o que se
daria.
Caso necessário, ele avisaria os mais
velhos.
Aleksey levou a mão à cintura,
verificando a arma ali, bem como a
munição no bolso lateral da calça e pegou
uma das motos. Sim, ele era muito novo,
não tinha autorização para pilotar na rua,
mas não significava que ele não soubesse,
ou que não fosse excelente com aquele
meio de transporte. Segundo o pai, era
sempre bom ele estar preparado.
Com cautela, Aleksey seguiu os carros e
viu quando Maksim virou em uma rua
que daria em uma área mais isolada e isso
o preocupou. O que o primo poderia ir
fazer ali? Em plena virada do ano?
Claro, a cidade não estava cheia de
comemorações, já que as pessoas
comemoravam aquela data no dia
quatorze de janeiro. O Natal, na verdade,
seria ainda celebrado no dia sete
de janeiro. Jannochka apenas dava o dia
vinte e cinco a por causa de Santiago, pelo
que Aleksey era grato: ele podia
comemorar duas vezes.
O carro dos outros recrutas estava
parado a alguns metros do de Maksim.
Aleksey estacionou a moto em um beco, a
fim de não ser visto e se aproximou,
furtivamente.
Maksim estava parada, mas não
sozinho por muito tempo. Um outro
jovem, de cabelos castanhos claros, meio
arrepiados, com uma jaqueta de couro e,
Aleksey notou por conta do reflexo das
luzes, alguns brincos nas orelhas, se
aproximou dele.
Não era possível ouvi-los, mas era
óbvio que Maksim e o rapaz tinham mais
do que amizade, ainda mais quando eles
se abraçaram e, em seguida, deram um
selinho rápido, após olharem em volta.
“Caralho!”, Aleksey pensou, levando a
mão à cabeça. Apesar de encher o saco de
Maksim, ele não se importava de fato com
o primo ser gay. Ele sabia porque havia
pego o mesmo com um rapaz, atrás da
escola, e aquele tinha sido o motivo da
briga no dia em que Miguel chegou à
Rússia. Aleksey havia deixado no ar que
espalharia aos quatro ventos — o que ele
jamais faria — e Maksim o bateu, pela
primeira vez.
Então, Aleksey entendeu a gravidade do
problema. Aqueles recrutas estavam ali
para criar problemas e o fariam. Ainda
que já não fosse mais crime ser gay, na
Rússia, as pessoas ainda não aceitavam
aquilo muito bem. O próprio governo
vivia implantando novas leis para coibir o
que eles consideravam imoral. E mesmo
sendo Sigayev, Maksim, até que fizesse
valer seu status, poderia ser ferido
gravemente.
Com a mão na arma, Aleksey se
aproximou mais e viu quando os amigos
de Lev seguraram o outro rapaz e
acertaram um soco nele. Outros dois
imobilizaram Maksim, que lutava, mas era
difícil com dois, ainda mais quando eles
estavam armados.
“Esse idiota saiu sem arma?”, Aleksey
se perguntou, já fervendo de raiva.
Ele apontou para um dos recrutas.
— Larga ele!
— Calma aí, Aleksey. A gente só tá
dando uma lição nesse veado! — O rapaz
de cabelos escuros falou, como se o mais
novo dos Sigayev estivesse do lado deles.
Aleksey inspirou fundo e apertou o
cano da arma mais forte contra a pele do
recruta.
— Eu mandei largar a porra do meu
primo, Llyich! — Ele engatilhou a arma.
— A gente só tá fazendo o certo! —
Timofei Danilovich defendeu, apontando
a arma para Aleksey — Essa bicha suja o
nosso nome, o nome da organização!
— Cala a porra da boca! Que
organização? — Aleksey cuspiu no chão
— Eu não vou falar de novo.
— Vai pro inferno! — Maksim gritou —
Soltem o meu amigo e abaixa a porra da
arma da cara do Aleksey!
Timofei deu uma bofetada em Maksim,
com a arma, mas este não caiu porque
estava sendo segurado.
Aleksey não pensou em mais nada. Ele
apenas viu vermelho.
Com um movimento rápido, ele atirou
na perna de Faddei Llyich, que soltou
Maksim imediatamente.
— Svyatoye der'mo, chert voz'mi! (Puta
merda, droga!) — Faddei gritou,
enquanto Aleksey puxou Maksim para ele.
A briga começou e Aleksey disparou
novamente. A arma dele tinha silenciador,
já que ele não era imbecil de disparar
num local de civis e chamar mais atenção
do que o necessário.
— Corre, Maksim!
— Não! — O loiro disse e foi para cima
de Korney Beriya, que segurava o amigo
de Maksim. Este ficou surpreso com o tiro
e demorou a reagir, mas logo, apontou a
arma para a cabeça do outro jovem, que
tremia de medo e Maksim parou de se
mover.
— Mais um passo e eu espalho os
miolos do seu namoradinho!
— Korney ameaçou
CAPÍTULO 26

— Porra! — Aleksey puxou Maksim


para trás de uma lata de lixo junto com
ele — Eu mandei você correr!
— Eles vão…
— Foda-se! O que vai fazer? Morrer
junto? Liga pro Pyotr!
Um tiro atingiu a testa de Korney e
todos os recrutas pararam de se mover.
Silêncio.
— Fomos seguidos, debandar! —
Faddei gritou, mas, antes de correr para o
carro, um sorriso diabólico apareceu no
rosto dele. Aleksey sabia que aquilo era
péssimo, mas não conseguiu agir rápido o
suficiente e impedir que a arma do jovem
disparasse na direção do amigo de
Maksim.
O loiro empurrou Aleksey e correu para
o outro.
— Não, não!
Aleksey se levantou e viu o outro
sangrando. Ele respirou fundo e verificou
o pescoço do rapaz.
— Ele precisa do hospital — Aleksey
olhou em volta e não havia sinal de quem
havia atirado em Korney, que olhava para
cima, estático, sem vida — Acorda,
Maksim! — Ele deu um tapa no primo —
Coloca ele no carro e eu vou dirigir pro
hospital! Anda logo ou ele VAI MORRER!
Maksim piscou algumas vezes e
concordou com a cabeça, mas se sentia
pesado.
Aleksey voltaria depois para buscar a
moto. Ele mandou mensagem para
Miguel, que era mais discreto e menos
inflamado de ódio. Avisou o que se
passava, enquanto abria a porta do carro
e ajudava Maksim.
Miguel estava conversando por
mensagem com Gemma, que já tinha
ligado para os gêmeos. Ele tinha o dedo
em cima do ícone de chamada de vídeo,
quando a mensagem de Aleksey apareceu
por cima.
Ao ler o conteúdo, o sorriso dos lábios
dele sumiram, substituídos por uma linha
na.
— Tá tudo bem? — Pyotr perguntou —
O que foi? Gemma te deu um pé na bunda
de vez? — Quando Miguel apenas virou
de costas e começou a se afastar, Pyotr
parou de gargalhar — Ou, calma aí!
— Eu preciso resolver um problema —
Miguel respondeu e Pyotr já estava do
lado dele.
— Que problema? O que houve?
— Coisas minhas. Fica aqui, ou a tia vai
desconar — Miguel disse e Pyotr levantou
a sobrancelha — Você é o aniversariante!
Pyotr estalou a língua.
— Vai ter que me contar quando voltar.
Vou te dar cobertura.
— Valeu!
Miguel não perdeu tempo e foi para
onde Aleksey disse que a moto estava.
Chegando lá, ele viu um carro de polícia já
em volta de um corpo, que ele sabia ser o
de Korney Beriya.
“Merda!”, ele praguejou. Com cuidado,
ele pegou a moto e começou a movê-la. A
sensação de estar sendo vigiado era
grande, ele olhou em volta, mas não viu
nada.
Como a polícia estava envolvida, não
tinha como esconder de Jannochka e
Miguel já conseguia prever desgraças
acontecendo no futuro.
Assim que virou a esquina, Miguel
subiu na moto e foi para o hospital. Ao
chegar lá, Aleksey estava abraçando um
Maksim apático.
— Como tá o rapaz?
— Eu não sei — Maksim respondeu,
lentamente e levantou os olhos para
Miguel — Lukyan…
Maksim escondeu o rosto com as mãos
e Aleksey abraçou o primo. Uma
enfermeira apareceu para dar uma olhada
em Maksim e, assim, Aleksey fez sinal
para Miguel segui-lo, enquanto
observavam o rapaz de longe.
— O Yankovich mandou os putos dele
seguirem Maksim. E deu no que deu —
Disse Aleksey, com raiva.
— E aí você matou o Beriya? A polícia
tava lá quando eu cheguei.
Aleksey olhou para Miguel e negou com
a cabeça.
— Não fui eu. Alguém atirou. E que
bosta! A polícia é bem inconveniente!
— Como assim? Alguém de fora? —
Miguel engoliu em seco — A polícia vai
ligar pra tia.
Aleksey passou a língua pelos lábios
ressecados.
— Sim. Pensei até que fossem um de
vocês. Mas ninguém apareceu. Depois
disso, os covardes meteram o pé. E a tia
vai ficar uma fera. Tomara que meta uma
bala no rabo daqueles malditos. É o
melhor pra eles, porque eu vou acabar
com eles!
— Ela não vai deixar por isso e,
Aleksey, — Miguel colocou a mão no
ombro do mais jovem — não faça nada
que possa deixá-la mais furiosa. Sabe que
ela não gosta dessa brigas internas.
— Que se foda! Eles iam matar o Maksim!
— Aleksey passou a mão pelo rosto e
Miguel viu como o jovem, que sempre
aparentava ser frio e sem sentimentos,
estava preocupado com Maksim.
— Pensei que não se importasse.
Aleksey olhou para Miguel como se ele
fosse imbecil.
— Eu não preciso ficar de sorrisos e
abraços para me importar com as pessoas
que amo.
Aquilo pegou Miguel de surpresa e ele
sorriu de lado.
— Veja só… O lobo mau não é tão
malvado, assim.
Aleksey revirou os olhos.
— Vocês é que me pintam de demônio.
Miguel encolheu os ombros.
— Você fica por aí andando como uma
ave agourenta, falando umas coisas
esquisitas e parece sempre pronto para
criar intriga.
Aleksey abriu a boca, mas nada disse,
pois viu a enfermeira se afastando de
Maksim.
O celular de Miguel começou a tocar e
ao olhar o visor, ele suspirou. Era
Jannochka.
— Oi, tia…
— Onde você está? Cadê o Aleksey e o
Maksim?
Ela havia notado a ausência deles, mas
pensou que poderiam estar pelos cantos,
flertando ou coisa do tipo. A mansão era
mais como um castelo.
— Ah…
— Não mente!
— Jamais! Estamos no hospital. Um
amigo do Maksim sofreu um acidente.
Miguel podia ouvir os dentes de
Jannochka trincando.
— Qual hospital?
Nem quinze minutos depois, Santiago
chegou lá, com cara de poucos amigos.
Ele olhou para os três, as mãos na
cintura.
— Certo, porque estou aqui e não com a
minha mulher? — Ele perguntou.
Aleksey esfregou o ombro de Maksim, o
que não passou despercebido por
Santiago.
— Eu vou te contar, tio. Podemos ir
para um local mais afastado?
Santiago concordou com um leve aceno
e os dois se afastaram. Miguel ficou com
Maksim.
— Desembucha, Aleksey. Vi minha
moto lá fora, bem como um dos carros do
Pyotr. E nem pense em ocultar nada, ou
eu ligo pro seu pai. Foi um custo
convencê-lo a ficar na mansão, depois que
ele ouviu o seu nome e a palavra hospital.
Aleksey inspirou fundo e começou a
contar o que viu, incluindo o beijo. Ele
sabia que o tio era mais maleável.
Inclusive, o rapaz desconfiava que
Jannochka havia mandado Santiago e não
outra pessoa, por isso mesmo.
— Mas que porra! Os Yankovich vão
começar a fazer outro herdeiro, porque
Lev vai pra debaixo da terra!
— Eu posso? — Aleksey perguntou e
Santiago olhou para o garoto, de cima a
baixo.
— Você é muito novo. Nem mesmo fez
o juramento, Aleksey.
— Eu faço agora mesmo, se quiser —
Aleksey apertou os olhos de forma rápida
— Eles iam matar o meu primo! Eles
desrespeitaram a nossa família!
— Sei disso — Santiago olhou para
baixo e balançou a cabeça — Eu vou falar
com Jannochka, mas cabe a ela decidir
como será feito o acerto de contas.
Aleksey concordou e os dois voltaram
para a ala de espera, onde um médico já
falava com Maksim e Miguel. O loiro
seguiu o médico.
— O rapaz está fora de perigo —
Miguel explicou — Eu posso ficar aqui
com o Maksim.
— Tudo bem, Miguel. Vou levar Aleksey
para casa. O teu carro ficou onde?
— Deixei duas quadras de onde estava
a moto — Miguel respondeu.
— Certo. Aleksey e eu vamos no meu
carro. Pedirei que venham buscar a moto
aqui e o teu carro, lá. Qualquer coisa me
liga.
A viagem de carro foi silenciosa e
Aleksey olhava pela janela, cheio de ódio.
Santiago não precisava olhar para o
adolescente para saber que este estava
fumegando.
Assim que pararam na garagem,
Santiago não destravou as portas
imediatamente.
CAPÍTULO 27

— Nem pense em ir atrás daqueles


rapazes. Jannochka vai decidir o destino
deles.
— Eu sei, tio. Pode deixar.
Santiago destravou a porta e Aleksey
saiu em disparada.
— Hora de falar com meu chuchuzinho
— Ele suspirou e saiu do carro, indo atrás
da esposa, que estava no escritório. Ele
conseguiu ouvir os choros de dentro,
provavelmente da mãe de Korney.
Santiago bateu à porta e ao receber o
aval, entrou.
— Isso é um absurdo! Nosso filho foi
covardemente morto! — Lubomir deu um
tapa na mesa, o rosto todo vermelho.
— Seu filho era um merda e nem teve o
que mereceu. Saiu barato — Santiago
falou e Lubomir Beriya se virou
lentamente, os olhos cheios de fúria.
— O que disse?
Santiago, com o rosto sério, deu alguns
passos à frente.
Jannochka apenas observou, enquanto
Jereni Beriya chorava.
— O que você ouviu. Está surdo,
Beriya? — Santiago perguntou
— Eu sinto muito como pai, por você
ter perdido o seu filho.
Mas não sinto a mínima empatia por
Korney Beriya. O seu filho estava com
uma arma apontada para a cabeça de um
civil, um amigo de Maksim…
Lubomir soltou uma risada de desdém,
interrompendo Santiago.
— Tinha que ser coisa daquele veado!
Santiago segurou Lubomir pelo
colarinho e o homem engoliu em seco.
— Maksim Sigayev merece respeito!
Ele se dedica a essa família, e não falo dos
Sigayev, mas da Tambovskaya!
— Ele é… Uma bicha! Como isso é se
dedicar? — Lubomir retrucou, mesmo
com medo — Ele anda por aí dando…
— Isso não é da sua conta! Nem da sua
e nem de ninguém! O seu filho e os
amiguinhos dele atacaram Maksim! Isso
por si só já é o suficiente para que ele
fosse punido!
— Aquela bicha matou meu filho!
Santiago deu um soco em Lubomir, que
voou. Jereni chorou mais alto, mas não se
aproximou do marido.
Lubomir levantou e levou a mão à cintura,
mas Jannochka foi mais rápida e apontou
a arma para a nuca dele.
— Se não quiser se juntar ao seu filho,
eu sugiro que pegue a sua esposa e saia
daqui. Eu vou providenciar o funeral de
Korney e investigarei o que houve.
— Meu filho foi assassinado! Foi isso o
que houve!
Jannochka se colocou na frente do
homem, ainda apontando a arma para ele,
agora, para o rosto.
— Está me enfrentando, Beriya?
Ele tremeu os lábios e negou com a
cabeça, finalmente.
— Não, Parkhan. Perdão.
Jannochka não disse nada, apenas deu
um passo para o lado.
Lubomir segurou o braço da esposa e
os dois saíram dali.
Jannochka soltou o ar, cansada e
sentou-se na poltrona dela olhando então
para Santiago.
— O que caralhos aconteceu?
A festa, claro, já havia terminado e os
gêmeos, acompanhados de Bernardo,
estavam no quarto deste.
— Você vai fazer um buraco no chão,
Pyotr — A gêmea falou.
Pyotr a encarou com os olhos
castanhos.
— Aqueles dois se meteram em
encrenca. E o puto do Miguel não me
responde!
Eles ouviram passos no corredor, já
que a porta estava aberta.
Pyotr correu e viu que era Aleksey,
sozinho. Ele puxou o jovem para dentro e
fechou a porta, encurralando o primo
contra a parede.
— Abre o bico! Cadê o Maksim?
Aleksey estava com os olhos mais frios
do que nunca.
— No hospital.
Ekaterina e Bernardo se aproximaram
rápido. Aleksey contou por alto o que
aconteceu. Pyotr xingou, mas Ekaterina
permaneceu em silêncio. Bernardo a
olhou e viu que a moça compartilhava do
olhar de Aleksey, o que fez um arrepio
passar pela coluna dele.
— Eu vou matá-los! — Pyotr colocou a
mão na maçaneta, mas Aleksey o afastou
— Sai da frente, pirralho!
— A tia vai decidir. Você não quer
ganhar um tiro de presente, né?
Pyotr praguejou mais uma vez,
passando a mão pelos cabelos e indo em
direção à janela.
O silêncio de Ekaterina estava
começando a preocupar Bernardo.
— Maksim vai ficar bem, amor — Ele
tentou acalmá-la, acreditando que ela
estava apenas preocupada com o primo.
— Eu sei — Ela respondeu, seca — Eu
vou falar com a mamãe.
Já volto.
— Acho que o meu pai e o tio Yuri estão
lá com ela e o tio Santiago.
Eles sabiam que quando os quatro
ficavam juntos, em reunião, não deveriam
ser interrompidos, a não ser em caso de
vida ou morte.
As horas pareciam se arrastar. Miguel
deu notícias, informando que Maksim
estava mais tranquilo, já que o namorado
dele não estava mal.
MIGUEL: Os pais do rapaz chegaram
aqui e, aparentemente, estão desgostosos.
Pyotr ligou para o mexicano. Assim que
este atendeu, foi possível ouvir ao fundo
uma mulher histérica, amaldiçoando
Maksim.
— Puta que o pariu! O que essa mulher
quer? — Pyotr perguntou, irritado.
— Ela tá acusando Maksim de
“desvirtuar” o filho dela — Miguel soltou
uma risada — Me poupe!
A ligação estava em viva-voz.
— Faz essa mulher calar a porra da
boca, ou eu farei isso! — Ekaterina soltou,
ríspida. Pyotr não pareceu surpreso, mas
Bernardo engoliu em seco.
“Ela só tá nervosa”, ele disse para si
mesmo e acariciou o braço da amada.
— Farei isso — Miguel disse. Eles
trocaram mais algumas palavras e a
ligação foi finalizada.
Jannochka chamou os pais dos rapazes
envolvidos e, claro, Lev Yankovich não
ficou de fora.
— Parkhan, por favor, meu filho nem
saiu da festa! — O pai de Lev falou,
nervoso. O suor na testa dele evidenciava
seu estado.
— Eu mando exterminar pessoas e não
preciso sair daqui, preciso? — Jannochka
perguntou — Se eu mandasse dizimar
todos os seus parentes e queimar a sua
casa… Eu ainda estaria aqui, Yankovich.
O homem tremeu de leve.
— Eu sei, Parkhan, mas…

— Eu vou ouvir os rapazes. Mas já


deixo aqui registrado que ninguém sairá
impune. Maksim é filho de um dos
subchefes, é um Sigayev, é membro dessa
Organização e foi covardemente tratado.
— Perdão, Parkhan, mas… — O pai de
Timofei falou, olhando para os outros —
O seu sobrinho não é nenhum santo! Não
podemos ter uma bic…
Yuri, que até então se manteve calado,
segurou Semyon Danilovich pela nuca e
apertou.
— Não ouse falar do meu filho, seu
verme! — Yuri sacudiu o homem, que
nem conseguia gritar — Seu lho apontou
uma arma pro Maksim e pro Aleksey!
— Aleksey apontou uma arma pro
Oleg! — Abran Llyich retrucou — Aquele
moleque esquisito!
Foi a vez de Fyódor agir, puxando os
cabelos de Abran, que choramingou.
— Seu filho não vale nada! Aleksey
estava defendendo o primo, que foi
encurralado por uma gangue de malditos
traidores! —
Fyódor olhou para Jannochka — Eu
quero um duelo, Parkhan.
Odeio traidores!

Jannochka concordou com a cabeça.


— O que eles fizeram foi traição. E os
pais defendem… — Ela falou e suspirou
— Acho que teremos que procurar novos
chefes para as áreas cuidadas por esses
homens.
Todos os pais dos rapazes envolvidos
contra Maksim arregalaram os olhos.
— Não, Parkhan!
— Prendam-nos no calabouço. Ele não
é usado faz tempo.
A mansão tinha um calabouço, já que
era muito antiga.
Jannochka não costumava usá-lo,
deixando-o como uma opção para casos
mais graves. Quando alguém era levado
para lá, não havia escapatória e todos já
sabiam que a ofensa havia sido imensa.
Ela fez sinal para que os homens
fossem retirados dali imediatamente.
— Vai matar todos eles? — Santiago
perguntou, massageando os ombros de
Jannochka, que estava sentada atrás da
mesa dela.
— Sim. Não posso deixar que os rapazes
permaneçam. Eles são cobras traiçoeiras
e vão nos morder, mais cedo ou mais
tarde. Os pais já demonstraram estar ao
lado deles. Vão nos trair, com certeza. Não
posso arriscar.
— Aleksey queria ele mesmo dar um
corretivo nos rapazes.
Jannochka sorriu.
— Ele é mais sensível do que parece.
Aleksey gosta muito de Maksim e é fiel
como um cão à nossa família.
— Eu sei. Fyódor deve estar orgulhoso.
Jannochka suspirou.
— Aleksey não é jurado. Não pode dar
conta dos rapazes, ainda. E não vou deixar
que ele jure antes dos dezesseis, Santiago.
Jannochka foi buscar Miguel e Maksim,
além de falar com a família de Lukyan,
que, diante dela, abaixaram a cabeça. Eles
sabiam quem ela era, já que eles se
livraram de um problema, anos antes,
quando o pai de Lukyan arranjou uma
briga feia com um policial e Jannochka foi
quem o livrou de ir preso.
— Maksim, vá descansar. Miguel, você
também. Obrigada por essa noite.
— Não há o que agradecer, tia —
Miguel respondeu, sincero — Vou tomar
um banho, certo?
— Claro — Jannochka respondeu. Ela
decidiu pegar uma pasta com
documentos, antes de ir para o quarto,
quando viu Ekaterina esperando por ela,
na porta — O que houve, agora?
— Aleksey não é jurado. Eu sou —
Ekaterina começou a falar — Quero pedir
o direito de punir quem machucou meus
primos.
Jannochka já imaginava aquilo. Pyotr
era mais inflamado, porém, Ekaterina era
muito mais cruel e vingativa.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Mãe, aqueles moleques atormentam
Maksim há tempos. Eu fiquei quieta, não
parti para a violência e olha só no que
deu.
Não quero mais ficar parada. Eles
precisam aprender, mesmo que antes de
morrer, que um Sigayev não permite que
a família seja tratada dessa forma!
— Não prefere aproveitar o seu
noivado? — Jannochka perguntou e
quando Ekaterina abriu a boca, ela
levantou a mão — Bernardo falou comigo
e com Santiago, antes. Ele é um rapaz
sério.
CAPITULO 28

Ekaterina sorriu de leve.


— Ele é perfeito.
— Eu só espero que ele realmente
esteja pronto para ser um Sigayev,
Ekaterina.
— Confio nele.
Jannochka concordou com a cabeça. Ela
ainda tinha as dúvidas dela quanto ao
“estômago” de Bernardo para a
verdadeira natureza de Ekaterina. A Don
sabia que o rapaz havia criado uma ilusão
a respeito da flha dela.
— E eu, em você — Jannochka suspirou
— Mas não quero você e Pyotr torturando
os rapazes. Isso não seria apenas para
mostrar o que fizeram de errado, minha
filha. É vingança. E aqui temos uma
excelente oportunidade para que você e
seu irmão se controlem.
Jannochka sabia que era necessário,
mas ela não queria os gêmeos torturando
pessoas à torto e à direita.
— Mas…
— Eu já falei.
Ekaterina não voltou a discutir. Ela
sabia o lugar dela.
Uma semana se passou e ninguém
comentou sobre a morte daquelas
famílias. Foi explicado o motivo: traição.
Isso bastou.
Porém, havia uma pessoa que não havia
aceitado aquilo muito bem.
— Ainda não descobriram quem atirou
no Beriya? — Jannochka perguntou e a
resposta foi o silêncio — Mas que porra!
Alguém está no seguindo!
— Pelo visto, está do nosso lado, ou não
teria defendido um Sigayev — Yuri disse
e Jannochka o olhou feio.
— Não sabemos disso! — Ela passou a
mão pelos cabelos escuros — Não gosto
de estar sendo vigiada. Eu quero malditas
câmeras em toda Moscow!
— Pode deixar. Bernardo já está
ajudando a cuidar disso — Fyódor
respondeu.
— Ótimo.
Pyotr ficou muito ocupado aqueles dias
e, no dia sete de janeiro, ele finalmente
veria Lisa. Ele a esperava dentro do carro
e, assim que ela apareceu, um sorriso
brotou nos lábios do rapaz.
— Oi! — Ela falou, entrando no carro e
Pyotr não esperou para puxá-la para um
beijo — Hmmm…
Ele queria dizer que estava morrendo
de saudade, mas não o fez. Pyotr era
cauteloso.
— Foi mal demorar a te encontrar. Tive
problemas em casa.
— Pensei que estava comemorando seu
aniversário, ainda — Lisa sorriu para ele
e remexeu na própria bolsa, retirando
uma pequena caixa e entregando-a a
Pyotr — Feliz Aniversário!
Pyotr demorou a pegar a caixinha.
Quando o fez, optou por usar de bom
humor.
— Então, isso é um pedido de
casamento? — Ele perguntou e sorriu de
lado — Nem me levou pra um jantar e já
tá querendo me amarrar?
Lisa soltou uma gargalhada.
— Você é bobo! Abre, abre!
A verdade é que Pyotr estava
emocionado. Ele sentia algo diferente por
Lisa e, ela lhe presenteando, em vez de
pedir algo a ele, como as outras, o fez se
sentir ainda mais conectado a ela.
Dentro da caixinha, havia uma peça de
xadrez: o Rei.
— Ah… Obrigado — Pyotr falou. Ele
não tinha dito abertamente que jogava
xadrez, apenas comentou a respeito de
uma jogada, mas pensou que Lisa não
compreenderia.
O coração dele palpitava.
— Imaginei que gostasse — Lisa falou
— Olha…
Ela mostrou a parte de baixo da peça,
onde o nome de Pyotr estava gravado. A
peça claramente era de um jogo muito
antigo e valioso.
— Você desfalcou o jogo? — Ele
perguntou, rindo e Lisa corou.
— Na verdade, eu embrulhei ele
todinho pra você. Mas não sabia se você ia
mesmo querer.
Pyotr segurou o rosto de Lisa e a beijou
ternamente.
— Eu vou querer qualquer presente
que você me dê.
Ele dirigiu para um local mais afastado,
um pouco longe da cidade, a fim de ter
mais privacidade com Lisa. Pyotr buscaria
o tabuleiro na volta.

Apesar do tesão que sentia dela, ele


queria conhecê-la mais, estar com ela, e
não apenas transar.
“Ela é diferente”, ele sorriu para si
mesmo, enquanto admirava a bela moça
contar sobre os planos dela sobre
universidade e trabalho.
— Você mudaria os seus planos, se
necessário, para casar com alguém que
não poderia te seguir?
Lisa mordeu o lábio.
— Esse alguém exigiria isso?
— Não. Ele não exigiria. Mas talvez
você precisasse adequar seus planos.
Você o faria?
Lisa olhou bem para Pyotr.
— Sim. Desde que ele também se
esforçasse para se adequar a mim.
— E se fosse uma vida perigosa? Tipo…
— Tipo na polícia?
Pyotr pensou, debochado, que era
justamente o contrário.
— Sim, tipo polícia.
Lisa deu de ombros.
— Sim, claro. Eu amando a pessoa e ela
me amando, eu topo!
Enquanto os dois estavam ali, Maksim
estava saindo de uma loja de roupas, após
ter ido visitar Lukyan.. Ele havia ido
comprar um casaco novo, de couro, mas
quando virou a esquina, deu de cara com
Vaniamin Grankin.
— Se divertiu, viadinho?
CAPÍTULO 29

Bernardo resolveu comprar um


presente para Ekaterina. Sim, ele já havia
dado algo de aniversário, mas ele queria
mais.
“Tudo para a minha rainha”, ele sorriu,
contente, enquanto dirigia.
Um carro o fechou, dirigindo como
louco e Bernardo reconheceu o motorista
como um dos recrutas e amigo de Lev.
— Maluco! — Bernardo balançou a
cabeça e estacionou o carro. Ele suspirou
e enquanto colocava a chave do veículo
no bolso, viu um carro que não lhe era
estranho: o de Maksim.
Ele olhou em volta e nada viu, então,
continuou caminhando em direção a uma
loja de armas. Teoricamente, apenas
caçadores e pessoas que vivem em local
com alto risco de ataques de animais,
podem portar armas livremente. No
entanto, aquilo não valia quando se
tratava dos Sigayev, os maiores
exportadores de armas entre as máfias.
Bernardo Castillo estava na lista de
autorizados a comprar armas, portanto,
ele estava livre. Não que o loiro quisesse
uma para ele, no entanto, ele sabia que
Ekaterina gostava dos objetos e quis
comprar algo especial para ela.
As ruas de Moscou estavam um tanto
quanto vazias, devido ao frio. Bernardo
ainda não havia se acostumado àquele
clima, por isso, tinha dois suéteres e um
longo sobretudo no corpo.
— Aqui, senhor — O dono da loja disse,
quase uma hora depois da chegada de
Bernardo — O produto ficará pronto em
alguns dias e eu entrarei em contato.
— Obrigado — Bernardo respondeu
em inglês, pois ainda não falava russo
(Ekaterina havia ensinado algumas coisas,
mas ele ainda estava aprendendo).
Contente com o presente
encomendado, Bernardo saiu da loja e
caminhou para o carro dele, só então
notando uma sacola de roupa jogada a um
canto, com algo escuro saindo dela. Ele se
aproximou e viu um casaco.
— Eita, quem teria deixado isso cair? —
Ele olhou para os dois lados da rua e nada
viu. Pela neve em cima do casaco e da
sacola, era óbvio que não tinha sido algo
de poucos segundos ou minutos.
Quando Bernardo se levantou e olhou
para o beco, que estava escuro, ele
apertou os olhos, pois parecia que havia
alguém ali.
Primeiro, ele pensou que poderia ser
um morador de rua, porém, o sapato era
social e, claramente, era um homem.
Sem mais, ele se aproximou com
cautela, olhando ao redor e colocando a
mão na faca que estava na cintura dele —
Bernardo não sabia ainda atirar muito
bem, então, ela não lhe deu uma arma de
fogo, mas sim uma faca, para qualquer
emergência.
O coração de Bernardo batia forte, pois
ele tinha um pressentimento ruim e, ao se
aproximar mais, ele sentiu como se a
garganta estivesse fechando.
Maksim estava jogado entre algumas
sacolas de lixo.
Bernardo usou a lanterna do celular
para ver melhor e o rapaz estava cheio de
sangue.
O mexicano correu para ajudar e já
tirou o celular do bolso, ligando para
Ekaterina.
— Teu celular não para de tocar! —
Pyotr reclamou, pois o aparelho da irmã
estava em cima do banco de madeira,
dentro do centro de treinamento. Como
Ekaterina estava lutando, ela pediu ao
irmão que o atendesse. Pyotr virou o
telefone e viu o número de Bernardo —
Alô?
— Pyotr? — Bernardo disse, mas logo
se recuperou — O Maksim foi atacado!
Pyotr inalou o ar e segurou o celular
com força.
— Onde vocês estão?
Bernardo não sabia se podia ou não
mover Maksim e optou por esperar o
socorro. Ele sabia que se o rapaz estivesse
com ossos quebrados, mover de forma
errada ocasionaria não só em mais dor,
mas poderia causar danos.
Pyotr deixou o aparelho em cima do
banco e se levantou, saindo correndo.
Ekaterina viu aquilo e pediu tempo no
treino, indo atrás do irmão.
— O que foi?
— Maksim foi atacado. Estou indo até a
nossa mãe — Pelo tom dele, Ekaterina
sabia que Pyotr estava segurando a raiva.
— Foi o maldito do Lev?
— Não sei.
Os olhos de Ekaterina se tornaram
frios.
— Quem quer que tenha sido, está
morto — Ela falou, entre dentes.
Jannochka, assim que avisada, mandou
ambulância privada deles e Maksim logo
foi socorrido.
Bernardo foi levado para a mansão e já
encontrava-se sentado em frente à mesa
de Jannochka.
— Conte o que houve — Ela pediu,
olhando sério para o loiro.
— Eu estava saindo da loja e… —
Bernardo contou tudo o que viu.
— Você viu alguém suspeito?
Até o momento, ele havia esquecido
completamente do recruta.
— Sim! Assim, suspeito, eu não sei se é,
mas eu vi um dos recrutas. Ele trancou
meu carro quando eu estava ali perto.
Tava dirigindo apressado.
— Sabe o nome? — Ela perguntou,
ainda muito séria e Bernardo negou com
a cabeça — Consegue descrevê-lo?
Quando Bernardo saiu do escritório, foi
recebido por três jovens Sigayev de
braços cruzados e fúria no olhar.
Ekaterina parecia outra, mas Bernardo
compreendia que era porque o primo dela
havia sido gravemente ferido.
— Sabe quem foi? — Pyotr perguntou.
— Não sei o nome. Mas descrevi e sua
mãe disse que sabia quem era, mas não
me disse nenhum nome — Bernardo
engoliu em seco.
— Descreve aqui pra gente — Aleksey
trincou o maxilar.
— Não acho que a sua tia vá querer que
vocês vão atrás dele — Bernardo disse.
— Eu não te perguntei isso, loiro —
Aleksey respondeu e Bernardo apertou os
olhos para o rapaz.
— Deixa — Ekaterina falou, dando um
tapinha com o dorso da mão, no peito de
Aleksey — Ele vai pagar. De um jeito, ou
de outro.
Miguel apareceu no corredor, os
cabelos bagunçados.
— Me contaram. Quem foi o filho da
puta?
Pyotr repetiu monotonamente o que
Bernardo havia dito.
Ekaterina estava mais calada. Pyotr
conhecia a gêmea e sabia que ela não
estava nada calma. Na verdade, quanto
mais quieta Ekaterina ficava, mais
turbulenta ela estava por dentro.
Jannochka pediu que ninguém fosse
visitar Maksim, por hora.
Apenas o pai dele. A mãe de Maksim
havia morrido anos antes e, desde então,
Yuri não voltou a se relacionar sério com
ninguém.
— O que estão fazendo? — Ela
perguntou, quando saiu do escritório.
— Estávamos…
— Fofocando? Perdendo tempo? — Ela
olhou ríspida para os quatro — Vão
aproveitar melhor o dia. Ekaterina e
Pyotr, as provas de vocês não vão
demorar. Aleksey, digo o mesmo.
Miguel, seu pai pediu que ligasse pra
ele. E você, Bernardo, tem aula de russo
em uma hora. Vá se arrumar!
Os quatro concordaram com a cabeça e
foram cuidar do que era necessário.
Em quarenta minutos, Ekaterina
passou no quarto do Bernardo apenas
para lhe dizer que teria que sair e que,
talvez, ele não conseguisse falar com ela
ao telefone.
— Nossa, é alguma missão? — Ele
perguntou, terminando de colocar as
botas.
CAPÍTULO 30

A aula dele tomaria lugar dentro da


mansão. Jannochka preferiu que ele
tivesse um professor particular da máfia,
do que Ekaterina. Não que ela duvidasse
da capacidade da filha, mas ela também
sabia que aqueles dois fariam tudo,
menos estudar.
— Tipo isso. Mas fica tranquilo, não
precisa fazer essa cara — Ela cruzou os
braços — Não tem perigo.
Por algum motivo, Bernardo teve a
impressão de que a frase estava
incompleta. “Não para mim”, era o que
Ekaterina diria.
Mas ele afastou o pensamento.
— Tudo bem. Mesmo assim, cuidado —
Ele a segurou pela cintura e notou como
ela estava tensa — Amor, o Maksim vai
ficar bem.

O sorriso de Ekaterina não alcançou os


olhos e Bernardo achou melhor não
pressioná-la com nada. Apesar de não ter
primos, Bernardo considerava Pyotr,
Miguel e Tonny como se da família de
sangue dele fossem, e ficaria muito mal
caso algo lhes ocorresse.
Eles se despediram e enquanto
Bernardo foi para a aula dele, Ekaterina
bateu à porta de Pyotr.
— Tô pronta — Ela avisou.
Pyotr saiu do quarto, uma aura negra
em volta dele.
— Como você descobriu quem era?
— Ele era o único que não estava na
sala de treinamento. Eu verifiquei e não,
ele não foi mesmo — Ela respondeu.
— Esse filho da puta!
— Só não sei porque esse ódio todo…
Maksim nunca machucou ninguém! —
Ekaterina falou com raiva, descendo as
escadas com o irmão.
— Eu tenho minhas dúvidas se alguns
deles não são encubados — Pyotr soltou
uma risada de desdém — Lev é outro que
curte mulher, mas eu já o vi bebendo e ele
me parece muito observador de homem.
— Seja como for, ninguém mexe com
nosso primo e sai ileso.
Ele se safou de morrer porque não
participou abertamente.
Mas vai pisar na bola de novo.
— O único amiguinho dele que sobrou
foi o Vaniamin Grankin.
Os outros todos morreram, junto com
os pais deles — Pyotr estalou a língua —
Por hora.
Aleksey estava encostado na parede,
com um palito de dentes na boca. O rapaz
nem parecia um adolescente, mas sim
uma versão adulta mais nova do pai,
quando pronto para combate.
— Ele tá aí? — Pyotr perguntou ao
jovem, que concordou com a cabeça e deu
um empurrão na parede, com o pé que
estava apoiado ali — Excelente.
Eles entraram no antigo estábulo, que
foi transformado em uma espécie de
galpão de tortura, dentro da propriedade
dos Sigayev. Porém, quem fosse ali,
pensaria que era apenas uma oficina para
trabalhos manuais com madeira.
Vaniamin estava preso a uma cadeira,
nu. Dentro do galpão era frio, mas não
excessivamente. Porém, o russo estava
suando.
— Posso? — Ekaterina perguntou.
Pyotr e Aleksey se encararam e
concordaram.
— Primeiro as damas — Aleksey
respondeu, um sorriso diabólico nos
lábios.
O prisioneiro levantou os olhos e viu
Ekaterina se aproximando. Ela ficou bem
perto e levantou a mão, o que o fez se
retrair.
— Calma… Eu ainda não fiz nada —
Ekaterina falou, com um meio sorriso e
arrancou a fita que cobria a boca de
Vaniamin, arrancando junto alguns fios da
barba do rapaz e pele dos lábios
ressecados.
— Porra!
Ele não disse mais do que isso, pois
Ekaterina segurou o rosto dele e
aproximou o dela.
— Já tá chorando só com isso, Grankin?
— Ela sorriu e Vaniamin engoliu em seco
ao olhar dentro dos olhos de Ekaterina.
Ali, ele enxergou o próprio destino: uma
dolorosa morte.
Já fazia duas horas desde que a aula de
Bernardo tinha terminado e Ekaterina
não atendeu o telefone. Ele suspirou e
decidiu ir até a cozinha.
No caminho, viu Fyodor e Yuri
conversando.
— Ele vai sair dessa — Fyodor falou
com a mão no ombro do irmão.
— Eu sei… É que… Eu deixei o meu
filho meio de lado, depois que Adeliya…
— Você não o deixou de lado, Yuri. Não
foi culpa sua.
— Se eu fosse mais presente, talvez ele
não tivesse passado por isso! — Yuri se
afastou, passando a mão pelos cabelos
escuros.
— Teria, porque esses merdas
arrumariam um jeito — Fyodor se
aproximou do irmão.
— Eu quero acabar com o desgraçado!
— Acho que é tarde pra isso — Fyodor
falou e Yuri olhou para ele, sem entender
— Os meninos pediram permissão. Eles
não vão matar de vez, porque essa honra
é sua, mas… Digamos que o galpão vai
ficar bem sujo.
Bernardo franziu a testa.
— Qual?
— O daqui, mais no fundo da
propriedade.
— Ah… O antigo estábulo — Yuri sorriu
de lado — Vou já dar uma passada lá.
Creio que os garotos já se divertiram o
suficiente.
Bernardo se escondeu atrás de um dos
pilares e viu quando os irmãos Sigayev
passaram. Ele já tinha ouvido falar do tal
galpão, mas nunca tinha ido lá.
“Pelo visto, chegou a hora”, ele pensou
e seguiu de longe.
Fyodor e Yuri continuaram a andar,
falando, mas eles sabiam que estavam
sendo seguidos. Bernardo não era muito
bom em se esgueirar silenciosamente.
Bernardo esperou alguns momentos
antes de entrar. A porta não estava
trancada e ele mordeu o lábio, pensando
se deveria ir ou não. Quando viu
Jannochka torturar o outro homem, ele
passou mal.
“Se quero ser da máfia, tenho que me
acostumar com isso!”, ele disse a si
mesmo, respirou fundo e entrou.
Porém, Bernardo não estava pronto
para o que veria.
O mesmo rapaz que ele viu em alta
velocidade, mais cedo, estava sentado em
uma cadeira, as pernas tremiam, havia
sangue pelo chão.
Um grito agudo escapou da garganta do
jovem. Bernardo sabia que não era a
primeira vez, visto que era claro o quão
rouco o prisioneiro estava.
Mas aquele não foi o pior. Quando Yuri
deu um passo para o lado, Bernardo viu o
que estava havendo: Ekaterina, com o que
parecia um bisturi em uma mão,
puxava algo do ombro do rapaz. Bernardo
não era especialista em anatomia, mas ele
sabia que aquela não era a pele. Esta já
não estava ali em parte do braço do
homem.
— Belo ligamento que você tinha,
Grankin — Yuri disse debochado —
Adrenalina!
As pernas de Bernardo falharam e ele
esticou a mão para se apoiar, não vendo
que havia ali alguns utensílios para corte
de madeira, o que fez barulho.

Todos se viraram para ele, mas tudo o


que ele via era Ekaterina, coberta de
sangue, com uma expressão no rosto que
ele sabia reconhecer bem: puro prazer.
Isso é, até ela reconhecer o namorado e
ficar mais séria.
Ekaterina deixou o bisturi e parte de
Grankin em uma mesinha, andando então
até onde Bernardo estava. Os olhos
verdes dele se arregalaram de puro
terror.
— Bê? — Ela perguntou, preocupada —
É melhor irmos…
CAPÍTULO 31

Ekaterina parou de se mover, assustada


com a reação de Bernardo.
— Tudo bem, eu vou ficar bem aqui —
Ela falou, as mãos levantadas. O fato de
que as mesmas estavam cobertas de
sangue, definitivamente não ajudava
muito e ela, ao se dar conta daquilo, as
abaixou.
Fyodor se colocou entre os dois.
— Bernardo, tá tudo bem. Eu te
acompanho até lá na mansão, sim?
— E-eu posso ir sozinho — Bernardo
conseguiu falar e se endireitou, evitando
olhar novamente para o prisioneiro.
Então, uma risada rouca foi ouvida.
— E é… Com esse frouxo… — Vaniamin
começou a falar — Riridículo…
— Tio, por favor, leva o Bernardo —
Pyotr pediu, com a voz o mais calma
possível, enquanto tentava não trincar os
dentes.
Fyodor não encostou em Bernardo, mas
o acompanhou para fora e, durante o
caminho de volta para a mansão, houve
apenas silêncio, até que chegaram à porta
de trás.
— Não sei o que se passa na sua cabeça,
mas pensei que soubesse o que fazemos.
Bernardo não respondeu, manteve a
cabeça baixa e Fyodor não insistiu,
afastando-se em seguida e voltando para
o galpão.
— Bernardo? — Santiago perguntou,
quando fechou a geladeira e viu o rapaz
— Parece que viu um fantasma…
Caramba, tá tudo…
Quando Santiago tentou tocar em
Bernardo, este se esquivou e Santiago viu
não apenas medo, mas um certo nojo, ali.
Por isso, apenas se afastou e deixou que o
loiro seguisse caminho e, em seguida, foi
atrás de Jannochka.
— Temos um probleminha, eu acho —
Ele falou após entrar no escritório da
esposa.
— O que houve, agora?
— Bernardo tá esquisito. Ele veio da
porta de trás e, pela mensagem de
Fyodor, o garoto parece ter ficado nesse
estado depois de ver o que Ekaterina e os
meninos faziam com o Grankin.
Jannochka suspirou e esfregou os olhos
com uma das mãos.
— Eu não entendo… Ele te viu torturar
o outro homem e só deu uma
vomitadinha… — Santiago continuou.
— Ele é iludido quanto à Ekaterina,
Santi — Jannochka disse e encarou os
olhos castanhos do marido — Bernardo
Castillo estava jurando que a nossa filha
era um anjinho e que apenas se fazia de
durona.
Santiago soltou uma risada, mas ao ver
o semblante sério da Don, ele parou.
— É… Qual é! Ekaterina nunca se fez
passar por dócil — Santiago disse e
balançou a cabeça — Ele pediu a nossa
filha em casamento e, agora, está
chocado?
— Pelo menos isso aconteceu antes do
casamento. Imagine se fosse depois —
Jannochka falou — Vamos dar o tempo
dele, ver o que Bernardo irá fazer. Eu não
quero me meter nisso.
— Mas, amor! Ele andou se agarrando
com a Ekateri…
— Santiago, Ekaterina não é uma
garotinha indefesa e nem ingênua. Creio
que poderá tomar as próprias decisões.
Eu não vou forçar casamento nenhum.
Santiago passou a mão pelos cabelos.
— Todos aqui sabem que eles estavam
de namoricos, passando noites juntos! Eu
não falei nada, porque pensei que ele
amava a nossa filha! Mas pelo visto, ele
nem a conhece!
— Isso é assunto deles. Eu sei que pode
parecer difícil, mas você vai manter a sua
língua dentro da boca.
— Janna…
— É uma ordem, Santiago.
Jannochka raramente usava o status
dela de Don com Santiago, mas naquela
situação, ela preferia que Ekaterina
tivesse liberdade e independência.
— Sim, Parkhan.
Ela se levantou e foi até o marido,
colocando as mãos nos ombros dele.
— Agora, como mãe e sua esposa: deixa
a nossa filha ter essa experiência. E
Bernardo também precisa se resolver. Se
ele não se sentir apto ao nosso mundo, é
melhor que ele se vá.
— Ekaterina vai sofrer…
— Mas vai superar — Jannochka disse
e Santiago sabia que era verdade. Quando
ele mesmo havia deixado a mulher da
vida dele voltar para a Rússia, ainda que
sofrendo, ele sabia que Jannochka jamais
se deixaria enfraquecer e Ekaterina era
como a mãe.
Santiago abraçou a cintura da esposa e
ela encostou a cabeça no peito dele.

— Vamos ver se Pyotr vai ser tão


imparcial quanto a gente.
— Não deixe ele matar Bernardo.
— E como eu vou prometer isso? Pyotr
é uma praga — Jannochka levantou a
cabeça e Santiago, os ombros — E eu
menti? Ele gosta do loirinho, mas
ninguém mexe com a irmã dele.
O sorriso que se formou nos lábios de
Santiago misturava orgulho e sadismo.
— Depois dizem que a “ruim” sou eu.
— Mas você é ruim, amorzinho. E eu,
sou o doce na relação.
Jannochka desceu a mão pelo abdômen
do marido.
— Hmmm, mas aí, eu acho que vou ter
que provar de novo pra ver se concordo
ou não.
— Como eu sou sortudo!
No quarto, Bernardo tomou um longo
banho e depois, sentouse na cama,
apoiando as costas na cabeceira.
Ele estava tendo uma dificuldade
enorme em conciliar a imagem de
Ekaterina, a noiva dele, com Ekaterina, a
mafiosa torturadora.
“Ela nunca mentiu”, a voz interna de
Bernardo falou e ele concordou com a
cabeça. “Eu sei. Mas mesmo assim… Ela
parecia outra”.
Ele tinha os joelhos próximos ao corpo
e abaixou a cabeça apoiando a testa ali.
Ekaterina não foi falar com ele, pois
não sabia se deveria.
Preferiu dar espaço ao noivo.
Jannochka não o chamou para treinar
no dia seguinte, e Bernardo não apareceu,
de todo jeito.
Três dias depois, uma batida na porta
fez Bernardo levantar da cama e, ao girar
a maçaneta, deu de cara com Yuri.
— Pensei que tinha morrido aí dentro.
Só não tinha certeza porque não subiu
cheiro ruim — Yuri falou. Bernardo deu
um passo para o lado, a fim de deixar o
mais velho entrar, mas este apenas
balançou a cabeça — Eu só vim perguntar
se quer ir ao hospital comigo, ver Maksim.
Afinal, foi você quem o encontrou e ele
quer te agradecer.
— Sim, claro. Eu vou me trocar —
Bernardo falou, a voz rouca.
Yuri percebeu que os olhos verdes do
rapaz estavam inchados.
— Eu quero te agradecer. Já agradeci
uma vez, mas… Foi muito rápido — Yuri
fez uma reverência, inclinando o tronco
para frente e levando a mão direita ao
peito — Obrigado por ter socorrido o meu
filho. Você salvou a ele e a mim, porque eu
morreria se…
— Não precisa me agradecer, senhor
Sigayev — Bernardo falou
— E fico feliz que o Maksim esteja se
recuperando.
Yuri levantou o rosto e havia uma
vermelhidão nos olhos, mas as lágrimas
não caíram.
— Vou esperar por você lá embaixo —
Ele disse e ia se virar, mas parou e olhou
para Bernardo — À propósito, acho bom
falar com Jannochka. Ela sabe que eu vim
aqui, mas… Quando voltarmos, eu não
viria para o quarto, se fosse você. Relaxa,
ela não vai te engolir.
Bernardo fechou a porta e se trocou.
Ele se sentia estranho, cansado. E ao
mesmo tempo que queria ir até Ekaterina,
ele se lembrava do que tinha visto e não
conseguia sair do quarto. O medo de
esbarrar com ela era imenso.
Não era medo de que ela o atacasse,
mas medo de como ele mesmo reagiria.
Mas, não houve qualquer encontro entre
eles, enquanto Bernardo ia até a garagem
e entrava no carro de Yuri.
Após alguns minutos dirigindo, Yuri
resolveu falar.
— Não quero sair me metendo, mas…
Você não pode se esconder pra sempre,
da Ekaterina.
— Não estou me escondendo.
“Mentiroso!”, ele disse para si mesmo.
— Tudo bem. Não vou discutir isso. Só
estou dando um conselho: não espere que
ela vá até você. Ekaterina é como
Jannochka e, se ela sentir que não é bem
vinda ao seu lado, vai se manter longe.
— Certo.
Maksim estava pálido, mas muito
melhor. Bernardo se sentiu aliviado ao
ver o estado do rapaz.
— Obrigado, Bernardo — Ele disse —
Te devo a minha vida.
Nunca vou poder agradecer o
suficiente!
Os dois conversaram um pouco e logo,
Bernardo precisou sair do quarto e dar
lugar a Yuri.
Ao cruzar a porta, ele podia jurar que
havia visto Ekaterina passando pelo final
do corredor e virando na esquina.
CAPÍTULO 32

A vontade foi de ir até ela, mas os pés


dele não se moveram e, logo, Miguel se
aproximou dele.
— Eu te dou uma carona.
Bernardo concordou e seguiu Miguel.
— Bernardo, eu vou jogar a real, valeu?
Não que eu seja o mais adequado para dar
conselhos amorosos, mas… — Miguel
olhou de relance para o loiro, enquanto
dirigia — Você conviveu, bem ou mal,
com a máfia. Desde que nasceu, bem
dizer. Beleza, você nunca viu a gente “em
ação”, mas… Sabia do que se tratava.
Silêncio. Miguel suspirou e continuou.
— Ekaterina sempre foi como ela é,
desde pequena. Cara, ela enfiava a
porrada em quem mexesse com um de
nós. Eu tô tentando compreender se você
tá com medo de ela te torturar ou quê…
— É só que… — Bernardo apertou os
lábios, antes de suspirar e voltar a falar —
Eu acho que ela nunca foi mais assim
comigo, entende? Nunca tinha visto esse
lado dela e, mesmo lá no fundo eu
sabendo que Ekaterina é forte, eu nunca
tinha visto ela ser cruel.
Miguel encostou o carro. Ele sabia que
por ordens de Jannochka, ninguém
deveria se meter na relação de Bernardo
e Ekaterina, mas ele preferiu arriscar.
— Você viu a Ekaterina brigando, viu
ela treinando… E você soube que ela
torturava. Você viu a tia torturando, por
isso eu sabia que o problema não era o
banho de sangue — Miguel olhou bem
nos olhos de Bernardo — Me fala, qual o
seu medo?
Bernardo soltou uma risada triste.
— Esse é o problema. Eu não sei. Por
mais imbecil que isso soe, eu não sei! —
Ele soltou o ar pela boca — É só que… Sei
lá, parece que eu estava namorando outra
pessoa.
— Você criou uma Ekaterina diferente
na sua mente… Mas Bernardo, ela é
diferente com você. Ekaterina não é doce,
exceto com você. Ou com os pais e
eventualmente, com o Pyotr, se ele estiver
doente, por exemplo. Mas com você?
Sempre.
— E como você acha que eu vou
conseguir aceitar que esse doce de
mulher é a mesma que tava lá arrancando
um pedaço do cara que treinava com a
gente! Ele não era um estranho!
— Grankin quase matou o Maksim,
primo da Ekaterina. O que você faria se
estivesse no lugar dela? Ekaterina e os
primos por parte da mãe praticamente
cresceram juntos, como irmãos.
— Miguel levantou as sobrancelhas —
Eu duvido que você não iria querer
acabar com a raça de quem tocasse na
Clara ou no Artur.
— Dar uns socos, pela raiva? Sim, com
certeza. Mas… Fazer aquilo? — Bernardo
fechou os olhos — Ela tava se divertindo,
Miguel! Eu vi no rosto dela a satisfação!
Miguel suspirou.
— Olha, eu espero que você nunca
tenha que passar por essa situação, mas
pensa bem sobre o que você quer da vida.
Reflete se você acha que a Ekaterina é
um monstro ou não. Se você achar que
sim, e que isso vai te fazer mal, não fique
com ela. Isso vai doer, mas no futuro,
poupará os dois de sofrimento. Agora, se
você acha que ela é uma boa pessoa e que
vale a pena estar com ela, corre atrás!
Miguel não falou mais, apenas deu
partida no carro e dirigiu em silêncio,
deixando Bernardo com seus botões.
Quando o carro foi estacionado, Miguel
olhou para Bernardo.
— Por sinal, você não tá sabendo
porque sumiu em Nárnia, mas… Eu vou
ser tio!
Bernardo piscou algumas vezes.
— Calma… Quem vai ter filho? Tonny
ou Bia?
Miguel o olhou com cara de “sério?”.
— Bia, é claro! — E revirou os olhos.
Não que ele não fosse ficar feliz com
Tonny tendo um filho, mas o problema
era que a mãe seria Clara.
— Nossa, meus parabéns! — Bernardo
falou, sinceramente — Ela deve tá muito
feliz. E o Samuel também!
— Sim! Bia queria esperar mais um
pouco, mas aí aconteceu e ela tá pulando
de felicidade! Daqui a uns três meses, por
aí, eu vou lá pros Estados Unidos. Não
quero perder esse momento.
Meu primeiro sobrinho!
— Ou sobrinha.
Miguel fez careta.
— Tomara que seja menino. Vou
estragar o moleque!
— Como você é ruim… — Bernardo
brincou e Miguel gargalhou.
— E se for menina, vai estragar
também. Eu sei que vai. Mimar até não
poder mais.
Miguel fez bico, rindo.
— Não posso negar — Ele esfregou as
mãos — Mal posso esperar!

Por um momento, parecia que o clima


estava mais leve e Bernardo não se sentiu
sufocado, mas assim que colocou os pés
dentro da mansão, ele se viu envolto
novamente em uma nuvem negra.
— Pensa sobre o que conversamos —
Miguel estava com uma mão no ombro do
loiro e falou bem ao pé do ouvido dele,
dando uma piscadinha depois e se
afastando.
Bernardo concordou com a cabeça e
olhou para o corredor que dava para o
escritório de Jannochka.
“Tenho que falar com ela”, ele disse e se
arrastou para lá. Ao chegar em frente à
porta, bateu nela e esperou pela
autorização de Jannochka.
— Bernardo — Ela o olhou, expressão
neutra — Sente-se, por favor.
— Com licença — Bernardo falou baixo
e se sentou em frente à Don.
— Como se sente?
Não era aquilo que Bernardo esperava,
mas sim que Jannochka falasse sobre ele
não treinar, ter simplesmente sumido e,
claro, sobre Ekaterina.
Ele se remexeu na cadeira.
— Melhor — Ele falou, sentindo a
garganta arranhar.
— Bernardo, eu chamei você para a
Rússia para que treinasse suas
habilidades digitais. Não coloquei uma
condição de que você teria que ser da
máfia, para isso — Jannochka pousou as
duas mãos em cima da mesa — Não
vou discutir o seu relacionamento com
Ekaterina. Quero apenas saber se você
deseja continuar aqui, para aprender, ou
se não se sente mais à vontade e prefere
voltar ao México.
Ele inspirou fundo e remexeu os lábios.
— Há a possibilidade de eu pensar
sobre isso, no México?
— Sim, sem dúvida. Talvez seja melhor,
mesmo. Você mudar de “ares” e poder
pensar com mais clareza é uma boa ideia
— Ela pegou a caneta de cima da mesa —
Pode preparar as suas coisas. Amanhã
mesmo eu pedirei que o levem de volta. E,
caso deseje voltar, basta me avisar.
Jannochka deu o sinal de que a
conversa estava acabada.
Bernardo já compreendia o jeito dela.
— Obrigado. Com licença.
Ao sair do escritório, ele viu Pyotr, que
o olhou e não disse nada, apenas seguiu o
próprio caminho. E não havia sinal de
Ekaterina.
A noite pareceu passar rápido demais e
Bernardo se viu ao lado do carro que o
levaria ao jatinho, quase como num piscar
de olhos.
Ele passou os olhos pela mansão e,
mais uma vez, não viu Ekaterina.
“Eu queria vê-la, só uma vez”, ele
pensou, mas então, como seria? “Eu
preciso ir. E pensar. Desse jeito, vou só
machucar a ela e a mim mesmo”.
Com um último suspiro, ele entrou no
carro.
Ekaterina viu os veículos saindo da
mansão, pela janela do quarto dela.
— Ele deve voltar — Pyotr falou,
docemente. Ele não achava que Bernardo
servia para a irmã, mas antes de tudo, ele
a queria feliz — Detesto te ver triste.
A russa fechou a cortina e olhou para o
irmão.
— E quem disse que eu estou triste?
CAPÍTULO 33

O aperto no peito de Bernardo só


aumentava. Na hora de subir no avião, ele
estava quase sem conseguir respirar.
Ele já havia ido ao México, dias antes,
mas naquele momento, ele sabia que ao
sair da Rússia, Ekaterina também seria
deixada para trás e, o pior, ele sentia que
poderia nunca mais conseguir vê-la.
“Tem as festas de família…”, ele se
lembrou e então soltou uma risadinha
desdenhosa para si mesmo. “Não vai ser a
mesma coisa, nem como antes de
namorarmos”.
Porém, ele precisava de tempo. Pensar
se ele de fato queria aquela vida dentro
da máfia. Conhecer e conviver com
mafiosos era uma realidade
completamente diferente de ser um deles.
Ainda que Bernardo não fosse se tornar
um soldado, não fosse para missões nas
quais torturaria e mataria pessoas,
sempre haveria essa possibilidade.
A questão era: valia a pena?
Máximo o havia alertado para isso,
pedido ao filho que pensasse direito.
“Coloque na balança o que é mais
importante pra você”, haviam sido as
palavras do pai. E agora, Bernardo usaria
o tempo dele longe de Ekaterina para
pensar sobre aquilo.
Enquanto a aeronave tomava
velocidade, Bernardo se sentia mais e
mais pesado.
Aquelas horas dentro do jatinho foram
torturantes, mas ao olhar pela janela,
após o pouso, e reconhecer o México, ele
se sentiu ainda pior. Ekaterina estava a
mais de dez mil quilômetros de distância.
“A distância física é a de menos”.
— Maninho! — Clara o recebeu, dando
um abraço no loiro. Ele esteve tão
pensativo que não se deu conta de que já
havia saído do jatinho e caminhado até
uma sala de desembarque V.I.P. Era mais
segura para pessoas como ele.
“Como eu, não”, ele abraçou Clara de
volta. A irmã dele era casada com o
subchefe da La Cicuta. Ele, Bernardo, não
era parte da máfia. Nem mexicana, nem
russa.
Clara percebeu o estado de ânimo do
irmão e sabia bem o motivo. Ela era
agradecida por ter uma família
fofoqueira.
— A mamãe fez buñuelos (massa frita
coberta de açúcar e canela. Parece
bolinho de chuva) pra você.
Era uma das sobremesas favoritas de
Bernardo e ele não pôde deixar de sorrir.
— Mamãe sempre pensa nas coisas.
— Óbvio. O neném voltou — Clara
brincou e se agarrou ao braço do irmão.
Bernardo balançou a cabeça e olhou
para frente, vendo Tonny perto do carro,
com um casaco escuro.
— Hoje tá meio abafado, aqui.
— Não tá. É que você agora é um
menino acostumado a outro clima —
Clara suspirou — Eu tirei uns dias do
trabalho e vou levar você pra passear.
— Claro, não precisa…
— Precisa sim! — Ela o interrompeu e
eles pararam em frente a Tonny.
— Se ela diz… — Tonny falou.
— Você nem sabe do que ela tá falando
— Bernardo o acusou, estreitando os
olhos de leve.
— E preciso? — Tonny sorriu amoroso,
enquanto lançava a Clara um olhar terno.
— Posso ver os corações voando —
Bernardo falou e mais uma vez, foi
lembrado do olhar que Ekaterina tinha
para ele. E, também, do olhar que ela
tinha, segurando uma parte do corpo de
Grankin.
Um leve tremor passou pelo corpo de
Bernardo.
— Vamos pra casa — Tonny falou e
todos entraram no carro.
— Ah, Tonny, parabéns pelo sobrinho,
ou sobrinha, à caminho.
Tonny abriu um sorriso imenso e olhou
para Bernardo através do retrovisor.
— Obrigado! Nem acredito que a minha
irmãzinha vai ter um filho — Ele soltou o
ar.
— Você fala como se ela fosse
pequenina. Tonny, A Bia não é nem dois
anos mais nova.
— Ela sempre vai ser meu bebezinho
— Tonny falou, sorridente
— E agora, vamos ter mesmo um bebê
na família. Só fico chateado por ela morar
tão longe.
Bernardo ia brincar que era só Tonny e
Clara fazerem um bebê, mas ele torceu o
nariz. Além disso, ele sabia bem que a
irmã não queria crianças naquele
momento. Ela estava focada nos estudos e
nas empresas.
— Como anda o trabalho? — Ele
perguntou e eles foram conversando até
chegarem à casa dos Castillo.
Artur quase se jogou nos braços de
Bernardo, que o suspendeu e o girou no
ar.
— Você parece que cresceu mais desde
o Natal! Como pode isso?
Artur sorriu.
— Sou um rapaz.
Clara revirou os olhos.
— Menino presepeiro — Ela falou.
— Bernardo! — Carolina apareceu com
um pano de prato nas mãos e correu para
o filho. Máximo estava logo atrás.
Após os beijos e abraços, Bernardo
subiu para o quarto dele, antes de descer
para o jantar.
Um toque na porta e logo, a mesma se
abriu, revelando Máximo.
— Posso? — O pai perguntou e
Bernardo concordou com a cabeça,
deixando o casaco sobre a cadeira e se
sentando na cama — Como se sente?
— Bem.
Máximo levantou a sobrancelha.
— Eu estou feliz e triste de te ver aqui
— Máximo falou — Adoro ter você por
perto, mas… Eu sei que não é aqui onde
queria estar.
— Claro que é aqui. Ou eu estaria lá…
Bernardo não olhava para o pai
enquanto falava. Máximo levantou o
queixo do filho, lentamente, e o encarou.
— Eu não sei dos pormenores, apenas
que você e Ekaterina se afastaram — Ele
disse — Sei da natureza dela, mas jamais
a vi levantar a voz pra você. E você não é
de brigas. Me diz, isso aí foi por conta do
que eles fazem?
Bernardo soltou uma risadinha de
tristeza.
— É incrível como o senhor sempre
sabe das coisas — O loiro mais novo falou
— Eu não acho que sirva para a máfia.
Máximo franziu um pouco a testa.
— Muito brutal? — Ele cruzou os
braços.
— Acho que sim. Não entendo como a
Clara não se sentiu..
Sufocada!
— Pelo que o Osvaldo me disse, as coisas
aqui são diferentes.
Os russos são mais… Barra pesada.
— Eles são bem cruéis. Eu não achei
que as coisas fossem daquele jeito.
Quando ouvia falar nos filmes e séries,
achei que fosse exagero.
— Mas meu filho… Você sabia o que
eles faziam. Independente da intensidade
com a qual fazem o que fazem, você sabia.
Bernardo se deixou deitar na cama e
olhou para o teto.
— Só que ela nunca mostrou esse lado
pra mim. E é diferente eu saber que o
Pyotr, por exemplo, faz aquilo. A
Ekaterina vai dormir do meu lado e…
Ele cobriu o rosto com o braço e soltou
um rosnado de frustração.
— Você achou que ela fazia o quê?
Sentava e trançava o cabelo dos
prisioneiros deles?
CAPÍTULO 34

Bernardo tirou o braço do rosto e


ergueu o tronco, apoiando-se nos
cotovelos, encarando o pai.
— Pai!
— Ué, Bernardo! Achei que você
soubesse o que estava fazendo! —
Máximo, que antes estava sentado na
beirada da cama, se levantou — A garota
é filha da Jannochka. A DON da
Tambovskaya, sei lá como fala.
— É assim mesmo…
— ENFIM! E aí você esperava que ela
fosse mansa? A menina tem um olhar
penetrante. Ela dá mais frio na espinha do
que muito homem barbudo e forte por aí.
Ela é mais amedrontadora que o irmão
dela, e ele não é moleza! Aí você vira pra
mim e diz que, — Máximo entortou a boca
— “Ain, eu não esperava por isso”.
Ele fez uma voz mais infantil.
— Me poupe, Bernardo! — Disse
Máximo, por fim.
— Mas ela podia mudar, sei lá… Uma
coisa é ela ser intimidadora, outra é ela
arrancar a pele e o que tem por baixo, de
um cara que treinava com a gente, como
se não fosse nada! — Bernardo
finalmente falou e fechou os olhos,
fazendo careta — Ela estava gostando de
fazer aquilo, pai.
— Então, seu encanto por ela acabou?
— Máximo perguntou.
— Por que o senhor fala como se me
recriminasse? Não está feliz que eu não a
quero?
Máximo suspirou.
— Não quero você na máfia e isso não é
nenhum segredo.
Porém, eu não posso dizer que não
estou… Surpreso, de um jeito negativo,
com o fato de que você jurou amar a
garota, comprou um anel de noivado para
ela e, no fim, está largado ela de lado
como se não soubesse no que estava se
metendo!
Bernardo piscou algumas vezes. Ele
não tinha deixado de querer Ekaterina,
apenas não conseguia conciliar as duas
versões dela na mente e no coração dele.
O loiro mais velho continuou.
— Ela não te enganou, não haja como
se ela tivesse feito isso.
— Máximo olhou diretamente nos
olhos do filho, que eram iguais aos dele
mesmo — Ekaterina é uma moça de fibra.
Ela sempre foi assim. Sempre soubemos o
ramo dos negócios da família dela. E você
fez questão de ir atrás dela e a cortejar.
Depois, a descartou, porque ela não era
como você se enganou que ela era. Espero
que tenha ao menos explicado as coisas
para ela.
Com isso, Máximo saiu do quarto e deixou
Bernardo sozinho com seus próprios
pensamentos.
“Eu não falei com ela. Não expliquei
nada”, ele suspirou. “Eu não a descartei”.
Com os olhos fechados, ele pegou o
travesseiro e o pressionou contra o rosto,
abafando um grito.
Minutos depois, Bernardo desceu para
o jantar. Os olhos dele não paravam de se
fixar em Tonny e em Clara.
A refeição foi regada de conversas e
tentativas de fingir que não havia um
problema. Mais tarde, Bernardo viu
Tonny voltando do jardim, com o telefone
na mão. Eles estavam sozinhos, ali.
— Hmm, Tonny?
O mais velho levantou os olhos do
aparelho e encarou Bernardo.
— Oi!
— Podemos conversar?
— Claro — Tonny ofereceu a Bernardo
um sorriso gentil e fez menção para que o
rapaz o acompanhasse ao jardim. Uma
vez em um dos bancos de pedra, Tonny
sentou-se — Sobre o que quer conversar?
Bernardo inspirou fundo, remexendo
os dedos. Depois, levantou o olhar e
encarou o cunhado.
— Você… Você tortura pessoas?
Tonny desviou o olhar para baixo e riu
baixinho. Balançou a cabeça e voltou a
levantar o rosto. Apesar do sorriso nos
lábios, os olhos dele não estavam no
mesmo estado de espírito.
— O que você acha, Bernardo?
O loiro franziu a testa.
— Mas… Eu sei que você é da máfia, um
subchefe, só que… — Bernardo levantou a
mão e apontou para Tonny — Olhando
assim, você tão educado, maneiro… Não
parece que…
— Eu soube o que houve na Rússia. Sei
que você ficou chocado em ver a minha
prima em ação — Bernardo engoliu em
seco.
Ele havia esquecido,
momentaneamente, que Ekaterina era
prima de Tonny — Sei que pode parecer
esquisito, já que você diz que não
parecemos esse tipo de gente.
Com isso, Máximo saiu do quarto e
deixou Bernardo sozinho com seus
próprios pensamentos.
“Eu não falei com ela. Não expliquei
nada”, ele suspirou. “Eu não a descartei”.
Com os olhos fechados, ele pegou o
travesseiro e o pressionou contra o rosto,
abafando um grito.
Minutos depois, Bernardo desceu para
o jantar. Os olhos dele não paravam de se
fixar em Tonny e em Clara.
A refeição foi regada de conversas e
tentativas de fingir que não havia um
problema. Mais tarde, Bernardo viu
Tonny voltando do jardim, com o telefone
na mão. Eles estavam sozinhos, ali.
— Hmm, Tonny?
O mais velho levantou os olhos do
aparelho e encarou Bernardo.
— Oi!
— Podemos conversar?
— Claro — Tonny ofereceu a Bernardo
um sorriso gentil e fez menção para que o
rapaz o acompanhasse ao jardim. Uma
vez em um dos bancos de pedra, Tonny
sentou-se — Sobre o que quer conversar?
Bernardo inspirou fundo, remexendo
os dedos. Depois, levantou o olhar e
encarou o cunhado.
— Você… Você tortura pessoas?
Tonny desviou o olhar para baixo e riu
baixinho. Balançou a cabeça e voltou a
levantar o rosto. Apesar do sorriso nos
lábios, os olhos dele não estavam no
mesmo estado de espírito.
— O que você acha, Bernardo?
O loiro franziu a testa.
— Mas… Eu sei que você é da máfia, um
subchefe, só que… — Bernardo levantou a
mão e apontou para Tonny — Olhando
assim, você tão educado, maneiro… Não
parece que…
— Eu soube o que houve na Rússia. Sei
que você ficou chocado em ver a minha
prima em ação — Bernardo engoliu em
seco.
Ele havia esquecido,
momentaneamente, que Ekaterina era
prima de Tonny — Sei que pode parecer
esquisito, já que você diz que não
parecemos esse tipo de gente.
Tonny se levantou e colocou a mão no
ombro de Bernardo. Os dois eram quase
da mesma altura, mas Bernardo era um
pouco mais alto.
— As aparências enganam, Bernardo.
Se os mafiosos parecessem mafiosos, não
acha que já estaríamos presos? — Ele
sorriu — Pessoas com cara de boazinhas
podem não ser, assim como o contrário.
Eu odiava isso aqui, mas não vou negar
que é muito bom poder punir os
desgraçados que fazem merda.
— Pra isso temos a Justiça.
— A Justiça nem sempre é justa, ou
eficaz. Além disso, quando você sabe que
um maldito tentou matar alguém da sua
família, não é tão fácil pedir que apenas o
entreguemos a um julgamento que, no
fim, ainda pode deixá-lo livre — O rosto
de Tonny mudou, ficando mais sério —
Dar uns bons socos, ver o sofrimento de
quem machucou quem amamos, ou
mesmo inocentes desconhecidos, dá uma
satisfação indescritível.
Espero que você nunca tenha que
passar por isso, pra sentir, mas talvez, só
assim para entender, Bernardo.
Tonny deu um tapinha no ombro do
loiro e começou a se afastar.
— A Clara é de boas com isso? —
Bernardo perguntou, sem se mover.
— Deveria perguntar isso a ela,
Bernardo — Tonny voltou para ficar em
frente ao loiro — E já que estamos
falando sobre o que houve na Rússia… Se
voltar a machucar a minha prima, eu
mato você. Tive consideração porque
você é meu cunhado, o irmão amado da
Clara e eu também te amo. Mas não vou
fazer vista grossa.
Bernardo inspirou fundo. Mas em vez
de focar na ameaça de morte, ele se
concentrou em outra coisa.
— Ela… Ela está sofrendo muito? — A
voz de Bernardo ficou embargada. Pensar
em Ekaterina chorando, ou triste, era de
cortar o coração.
Tonny sorriu de maneira macabra.
— Se espera pelas lágrimas dela,
aconselho que arranje uma cadeira e se
sente. E se prepare, porque se isso
acontecer… —
Tonny levou o indicador e o dedo
médio até a própria têmpora, como se
fosse uma arma.
Depois disso, ele se afastou.
A noite passou e Bernardo não parava
de olhar o telefone. Ele escrevia uma
mensagem, mas não enviava. Ele a
apagava.
“E o que eu posso dizer?”, ele colocou o
telefone de lado.
“Dizer que sou um medroso de merda,
mas que eu a quero. Só não quero essa
vida?”
Bernardo não se sentia confortável em
pedir a Ekaterina que deixasse tudo para
trás e ficasse com ele. havia casos em que
a máfia russa deixava um dos membros
sair e viver, porém, ele duvidava que a
própria moça fosse querer ficar longe da
família dela.
— E quando chegar aqui, ainda estará
perto da máfia. Tonny é um deles. Ela vai
acabar trabalhando para o tio!
Pela manhã, Bernardo tomou café,
conversou um pouco. Não, ele não
conversou, ele apenas respondia o que
falavam.
Ninguém se atreveu a forçá-lo a
interagir, afinal, ele precisava de tempo.
Depois de uma semana, Clara soube
pela mãe que o irmão continuava apático.
Assim, ela resolveu conversar com ele.
— Filha… — Carolina mordeu o lábio.
— Mãe, pelo amor. Bernardo é um
homem, não um menino! E ele vai me
ouvir, como um homem!
CAPÍTULO 35

Ao ouvir uma batida mais urgente na


porta, Bernardo colocou o celular ao lado
do corpo e se sentou na cama. Ele só
voltaria para a faculdade na semana
seguinte.
— Pode entrar! — A porta se abriu e
Clara apareceu. O sorriso que ela ofereceu
não era dos melhores, Bernardo sabia —
Aconteceu algo?
Clara andou até o irmão, parando ao
lado da cama, as mãos na cintura.
— Você não tem vergonha, não? — Ela
perguntou, o cenho franzido.
Bernardo se sentou melhor e a encarou.
— Do que está falando?
— Larga de ser sonso! Acha certo o que
anda fazendo com a Rina?
— O que… Clara, ela e eu…
— Você nem sequer teve a decência de
terminar com ela!
Simplesmente a ignorou e, depois, foi
embora! Eu pensei que tivessem
conversado!
Bernardo fechou os olhos e suspirou.
— Clara, as coisas são complicadas.
— Você só tinha que falar que estava
terminando! — Clara disse e balançou a
cabeça — Isso não se faz. Ou você ficou
com tanto medo que não conseguiu nem
falar com ela?
Bernardo se levantou rápido.
— Eu não… Eu não fiquei com medo!
Clara levantou uma sobrancelha e
estalou a língua, com um sorriso
debochado nos lábios e cruzou os braços.
— Pois o que chegou aos meus ouvidos
foi que você se urinou de medo.
Bernardo abriu a boca, incrédulo.
— Isso é mentira!
Clara deu de ombros.
— Você virou chacota, Bernardo — Ela
disse e o tom de Clara foi mais ameno —
O civil que não aguenta ver um
sanguinho.
Bernardo já sabia que não era bem
visto, mas também não era para tanto.

— Ekaterina falou que eu me urinei?


Clara encarou o irmão por alguns
segundos.
— Ela não menciona você. Na verdade,
pelo que soube, ninguém nem toca no seu
nome, perto dela. Como se você não
existisse.
— Ah…
Clara ainda tinha os braços cruzados e
abaixou um pouco a cabeça, tentando
encarar os olhos do irmão, que miravam o
chão.
— Não fique aí como se fosse o
ofendido.
O loiro franziu o cenho.
— Se você tivesse visto…
Clara levantou a mão, pedindo que o
irmão parasse de falar.
— Bernardo, eu não só vi o Tonny em
ação. Eu participei. Mais de uma vez.
Os olhos esmeralda de Bernardo se
arregalaram.
— Você…
— Nunca vi Tonny cometer uma
injustiça. Eu mesma cuidei de uma
maldita mosca que andava me
infernizando e agiu para me matar —
Clara levantou o queixo, com orgulho — E
se alguém se meter com a minha família,
com os meus, eu não vou ter um pingo de
pena.
O tom de Clara era diferente. Bernardo
sabia que a irmã tinha o “sangue quente”,
mas não imaginou que ela fosse daquele
jeito.
— Não sentiu medo? Nunca? Quero
dizer… Tonny é gentil — Ele lembrou da
conversa deles no jardim e limpou a
garganta — Parece, pelo menos.
— Tonny é um cavalheiro. Um doce de
pessoa. Sempre foi — Clara olhou séria
para o irmão mais velho — Não confunda
isso com ser tonto. Ou ter sangue de
barata. Aquele rapaz ia matar Maksim,
primo de Ekaterina. Quase um irmão para
ela. Nem todos reagem assim, mas dado o
mundo dela, esperava que ela fosse
diferente?
Bernardo arqueou as sobrancelhas por
alguns segundos, pensando.
— Maksim é diferente. E ele nasceu
naquele meio.
Clara sorriu de leve para o irmão.
— E olha o que isso causou a ele. Se faz
parte desse mundo, Bê, não pode ser
passivo demais. Doce demais.
Infelizmente, essa é a realidade — Ela
colocou a mão no rosto do loiro — Eu
respeito se não quer fazer parte disso.
Mas pelo menos fale com a Ekaterina.
— Okay…
Clara virou-se para sair, mas voltou a
ficar de frente para o irmão.
— Amo você, Bê — E o abraçou, antes
de sair saltitando do quarto. Bernardo
coçou a nuca e sorriu, até olhar para o
próprio celular.
— Preciso falar com ela.
Mas ele não o fez naquele dia. E nem no
outro.
No domingo, um dia antes de ele voltar
para a faculdade, uma caixa foi deixada na
residência dos Castillo.
— O que é isso? — Máximo perguntou
e Carolina estendeu o objeto para o
marido.
— É pro Bernardo. Veio da Russa.
A caixa era razoavelmente pequena e
Máximo puxou o ar pelos dentes. Ele
imaginava o que era aquilo.
— Eu vou entregar pro Bernardo,
depois do café.
Carolina abraçou o marido, enlaçando-
lhe a cintura com os dois braços,
enquanto o rosto dela descansava no
peito do loiro.
— Por mais que eu queira nosso filho
aqui, eu acho que ele vai se arrepender
por ter saído da Rússia.
— Eu concordo, amor — Máximo
acariciou os cabelos de Carolina —
Bernardo gosta da garota. Mas… Ele é
jovem. Às vezes a gente tem que passar
por certas coisas para amadurecer.
Carolina levantou o rosto, apoiando de
leve o queixo no marido, enquanto o
encarava.
— Só espero que não seja tarde demais.
Nem todo erro dá pra voltar atrás.
Máximo suspirou.
— As coisas serão como tem que ser.
Na mesa, Máximo olhou para o filho.
— Preparado para voltar às aulas aqui?
Bernardo engoliu o suco.
— Pronto ou não, eu vou voltar. Não
posso perder o ano.
Máximo concordou com a cabeça.
— Certo.
Artur apenas observava e lhe doía que
o irmão mais velho estivesse tão mal. Até
peso Bernardo havia perdido. Os cabelos
pareciam sem brilho, a pele, ressecada.
“Eu só queria saber como ajudar…”, ele
pensou, triste.
Assim que todos terminaram de comer,
Carolina avisou que levaria Artur para
passear. Em realidade, ela ia na casa de
Osvaldo. Enquanto o mais novo dos
Castillo ficaria um pouco com Lucas,
Carolina conversaria com Emília. Máximo
iria falar com Bernardo.
Carolina havia chegado à conclusão,
junto com Máximo, que o filho iria querer
ficar sozinho, depois de abrir aquela
caixa.
Máximo bateu na porta com dois dedos
e abriu-a.
— Posso entrar?
— Claro, pai — Bernardo estava
arrumando o material dele para o dia
seguinte.
Máximo estendeu a caixa para ele.
— Isso chegou para você.
Bernardo franziu a testa e pegou a
caixa.
— Pra mim? — Ele perguntou, confuso,
pois não havia comprado nada. Ao virar a
caixa e ver que estava com o nome dele
escrito com a caligrafia de Ekaterina, o
coração dele parou por um segundo.
Como não havia selo, a caixa havia sido
entregue por um dos russos.
— Ekaterina veio deixar isso aqui? —
Ele perguntou e Máximo levantou uma
das sobrancelhas, como se devolvesse a
pergunta. Bernardo soltou uma risada
triste — Claro que não.
— Eu vou descer e, qualquer coisa,
pode me chamar — Máximo deu um beijo
na testa de Bernardo, antes de sair.
Este olhou para a caixa, virando-a
algumas vezes antes de decidir abri-la.
Ao puxar as abas de papelão para cima,
ele viu o que estava ali.
CAPÍTULO 36

As mãos do loiro tremeram, mas ele


inspirou fundo e retirou a pequena caixa
de veludo de dentro da de papelão. Ele
sabia o que era aquilo.
Por alguns minutos, ele apenas olhou
para a caixinha. A mesma que ele havia
apresentado a Ekaterina, de joelhos,
enquanto a pedia para se casar com ele.
Ele pegou o celular, mas não havia
nenhuma mensagem dela.
Bernardo abriu o app de mensagens e,
para a surpresa dele, a foto de Ekaterina
havia sumido.
“Ela…”, ele engoliu em seco, ficando
momentaneamente cego pelas lágrimas
que se acumulavam nos olhos dele e que,
em seguida, rolaram por seu rosto.
A mensagem era clara: Ekaterina não o
queria mais. Ela havia devolvido a caixa
com o anel de noivado e, inclusive, havia
bloqueado o número dele.
Em todos aqueles dias, Bernardo
apenas se sentia vazio, sem vontade de
viver e, por isso, não conseguia chorar.
Ao não falar com Ekaterina, era como
se ele tivesse tempo. Era como se as
coisas não tivessem acabado, mas apenas
estavam “congeladas”, esperando um
desfecho e, então, tudo voltaria ao
normal.
Não mais. Ele sabia que não. Apesar do
silêncio dele, Ekaterina não era do tipo
que esperava para as coisas acontecerem.
Finalmente, Bernardo se deixou cair na
cama e chorou.
Apertou o travesseiro, desejando que
fosse Ekaterina, mas por mais fofo e
confortável que o item de cama fosse, não
era ela.
— Ah! Rina…— Ele olhou para a caixa
preta e se levantou da cama, indo até a
escrivaninha e pegando-a, abrindo-a em
seguida. O anel estava ali.
Ekaterina não era muito chegada a
jóias, mas ela mencionou que preferia
outro branco e, por isso, Bernardo
escolheu aquela peça. Não era grossa
demais, mas ainda era forte e delicada, ao
mesmo tempo. Como Ekaterina. E um
diamante sozinho estava no topo,
imponente, mas não espalhafatoso.
Exatamente algo que Ekaterina usaria.
Dentro, havia um pequeno pedaço de
papel e Bernardo o pegou imediatamente,
mas precisou de alguns segundos para o
abrir.
“Não costumo devolver presentes, mas
este possui um significado que não mais
nos liga. Sendo assim, estou devolvendo-
o.
E.S.”
Uma nota curta e fria.

Bernardo passou os dedos pelas letras


e fechou os olhos, imaginando Ekaterina
sentada escrevendo. Porém, não com o
sorriso que ela sempre mostrava quando
estava com ele, mas com os lábios
crispados, o maxilar trincado e os olhos,
sérios.
“Ela me odeia?”, ele se perguntou e
voltou a se deitar.
Máximo não havia descido. Ele ficou do
lado de fora e ouviu o choro do filho,
sentindo a dor nele mesmo.
— Oh, meu filho… — Máximo suspirou.
Ele só queria poder impedir que o filho
sentisse aquilo, mas era impossível. E, no
fim, fazia parte do crescimento dele.
No dia seguinte, Bernardo desceu com
o rosto mais digno possível. Ele não
estava choroso, mas sério. Máximo sabia
o que era aquilo: uma tentativa de
parecer forte.
— Boa aula, meu amor — Carolina
falou, beijando a testa do filho.
— Obrigado, mãe.
Na faculdade, muitos ficaram surpresos
com o retorno de Bernardo, mas como ele
parecia mais distante, não parecia certo
perguntar absolutamente nada.
Juliana Belfonte observou o loiro. Ela
mordeu o lábio ao vê-lo com uma aura
diferente.
— Oi! — Ela sentou-se ao lado dele.
Bernardo a olhou rápido e voltou-se
para o caderno dele.
— Hmm… Bem-vindo! — Ela falou.
— Obrigado.
— Que tal a gente sair. Sabe,
comemorar o seu retorno?
O maxilar de Bernardo se apertou. Ele
se virou lentamente para a moça de olhos
castanhos profundos e cabelos longos e
lisos. O sorriso dela falhou um pouco.
— Obrigado pela sua tentativa de ser…
Simpática — Ele sorriu sem muita
vontade — Mas eu não tenho nada a
comemorar.
Agora, com licença.
Ele se voltou para o que estava fazendo
antes e Juliana fez um bico.
— Toda. Eu dou pra você — Ela disse,
num tom insinuante, mas se levantou e se
afastou.
Bernardo suspirou, mas não desviou o
olhar.
Um mês passou rápido e ele apenas se
concentrava nos estudos, rejeitando
qualquer convite para sair. Fora a
faculdade, Bernardo ia para a academia.
Academia de muay thai.

Domingo, todos iriam almoçar na casa


de Osvaldo. Bernardo se sentia um pouco
desconfortável, mas negou o fato, quando
Carolina se ofereceu para ficar com ele
em casa.
— Tá tudo bem, mãe.
Ele não queria atrapalhar a amizade
entre as famílias. Por mais que Ekaterina
não fosse uma Herrera, ela ainda era
sobrinha de Osvaldo.
Bernardo entrou na casa,
cumprimentou a todos e, claro, foi muito
bem recebido por Emília.
Ao levantar os olhos, ele viu que Bianca
e o marido estavam ali, bem como Miguel.
Este olhou para Miguel e apenas
balançou a cabeça, de maneira educada,
mas rígida. O recado foi dado a Bernardo:
estou falando com você apenas para não
fazer desfeita aos seus pais.
— Parabéns pela gestação! — Bernardo
disse a Bianca, que o abraçou. Ela era a
mais doce dos Herrera.
“Herrera, não. Lowell”, ele se corrigiu.
— Obrigada, querido! — Bianca falou e
sorriu, mais do que feliz.
Samuel a olhava com admiração e
amor.
Osvaldo foi educado, nem tão frio,
porém, não era o normal dele.
Após o almoço, Bernardo se viu
sozinho, a um canto, olhando pela janela
da sala de música. Ele suspirou,
lembrando de Bianca, tão feliz.
“Ekaterina ficaria feliz assim, se
fôssemos ter um bebê?”, ele se perguntou
e sorriu. Sim, ele sabia que ela ficaria.
Bernardo, que estava escorado na
parede, a impulsionou com o ombro, a fim
de se afastar e, ao virar-se, viu Miguel
observando-o.
— Veio me quebrar a cara? — Ele
perguntou, após alguns momentos de
silêncio.
CAPÍTULO 37

— Não. Pyotr me mataria — Miguel


respondeu, as mãos nos bolsos — Ele
estava fumegando.
Bernardo concordou lentamente com a
cabeça.
— E Ekaterina. Como ela está?
Miguel estreitou os olhos.
— Se quer saber sobre ela, deveria
perguntar a ela — Miguel respondeu —
Quanto à saúde dela, eu posso te dizer
que está ótima. Mas de resto…
Miguel apenas levantou os ombros e
Bernardo suspirou.
— Ela me odeia?
— Cara, só quem sabe dos sentimentos
dela, é ela mesma — Miguel se aproximou
— Mas posso te dizer que alguns ali não
se sentem muito inclinados a te deixar em
um pedaço, se você aparecer em Moscow.
Acho que o único que não se sente assim é
o Maksim.
— Ele está bem, por sinal?
— Está em casa. Vai ficar cem por cento
em breve.
— Ele é um bom rapaz.
— É, sim.
Silêncio.
— Você não parece bem — Bernardo
comentou e Miguel o olhou surpreso.
— Eu? Por que diz isso? Eu tô ótimo.
— Certeza? Sei lá… — Bernardo fez um
círculo imaginário em frente ao próprio
rosto, olhando para Miguel — Você tá
com uma expressão diferente.
— Talvez seja tristeza por não poder te
quebrar.
— Eu duvido.
Miguel suspirou.
— Não vou discutir sobre isso.
Bernardo soube que era algo referente
ao coração.

— Ah, vocês tão aqui! — Bianca disse,


sorrindo para os dois — O chocoflan
(bolo de chocolate em baixo, com um
pudim de baunilha por cima e coberto
com doce de leite) tá pronto!
Emília era muito boa naquela
sobremesa e quando eles se reuniam na
casa dos Herrera, ela sempre a preparava.
Assim que chegaram na sala, Osvaldo
conversava com Samuel.
— … E ela vai aceitar casar com ele? —
Osvaldo perguntou, bebendo um gole do
suco de laranja.
— Eles parecem se dar bem. Gavin
jamais obrigaria Gemma a casar —
Samuel respondeu e Bernardo notou
Miguel inspirando forte. Pelo canto do
olho, viu o rapaz tenso.
“E depois diz que não gosta dela…”,
Bernardo pensou. “Mas aí, quem sou eu
pra dar pitaco?”
Emília olhou para o filho e balançou de
leve a cabeça.
— Aqui, Miguel, um pedaço pra você —
Ela disse e Miguel precisou de um cutucão
de Bernardo para “voltar à realidade”.
— Bom, o rapaz é um subchefe. E muito
bom, pelo que eu soube — Osvaldo falou
— Se ela gosta dele, fico feliz com a união
da sua sobrinha.
Samuel sorriu.
— Eu também. Sávio Moscatelli tem se
mostrado cada vez mais honrado. Sei que
todos esperavam que ela casasse com
um Don, mas se Gemma quer o rapaz…
— Samuel levantou os ombros e Osvaldo
concordou com um aceno de cabeça.
— Bom rapaz uma ova! — Bernardo
ouviu Miguel murmurar e teve que
segurar o riso.
Miguel comia o chocoflan como se
pudesse matar a sobremesa a cada
colherada.
Não demorou até que os Castillo
voltassem para casa e Bernardo não
parava de olhar para o celular. Ele
entrava no app de mensagens e olhava a
conversa com Ekaterina, como se a foto
dela pudesse aparecer a qualquer
momento.
Os dias passaram e para ele, era como
se fossem apenas uma repetição de um
sonho. Ele acordava, tomava banho,
comia, ia para a faculdade, voltava para
casa, trabalhava com o pai, ia para a
academia, estudava, dormia.
Juliana, bem como outras moças,
insistiam em convidá-lo para sair, mas
Bernardo continuava recusando.
— Por que só diz “não”? — Juliana
perguntou, um dia, enquanto Bernardo
comia um sanduíche. Ela segurou o pulso
dele, impedindo-o de dar outra mordida e
ignorar a pergunta dela.
Bernardo olhou para a mão dela, frio —
Qual é, loirinho! A gente não precisa
namorar…
— Solta o meu pulso — Ele falou por
entre dentes e suspirou — Por favor.
Bernardo engoliu em seco. Apesar de
ainda apático, ele se sentia um tanto
quanto explosivo e alguns momentos. E a
última coisa que ele queria era gritar com
a garota no meio da faculdade.
— Só se você aceitar sair comigo — Ela
acariciou a pele dele com o dedão e aquilo
foi a gota d’água para Bernardo.
— Estou sendo educado. Não vou pedir
de novo — Ele virou o olhar para ela, que
sentiu um frio na espinha e o soltou.
— Nossa… — Ela comentou e se
levantou — Eu só quero sair com você.
— Não toque em outra pessoa sem o
consentimento dela — Bernardo deu uma
mordida no sanduíche, olhando para
frente e Juliana entendeu que a
“conversa” tinha acabado.
Ela se afastou, irritada.
“Será que ele é gay?” , ela se perguntou.
Havia o rumor de que Bernardo Castillo
havia ido embora estudar, mas por conta
de uma garota. Alguns lembraram de tê-lo
visto com uma moça bonita, mas
amedrontadora. No entanto, estava óbvio
que, fosse qual fosse o nível do
relacionamento dele com a tal jovem, este
havia findado.
Juliana não queria desistir. Ela era uma
moça bonita e cobiçada. Isso só a fazia
sentir ainda mais vontade de sair com o
que ela considerava o melhor naquela
faculdade. E, claro, Bernardo Castillo era o
filho mais velho de uma família
prestigiada e rica. De jeito nenhum ela
desistiria fácil!
Os almoços de domingo continuavam
acontecendo e Bernardo se sentia cada
dia mais confortável. Ekaterina não
estava ali, mas aquela era parte da família
dela e, de algum jeito, ele se sentia
próximo a ela.
Mais três meses se passaram.
— Eles virão para a Paixão de Cristo de
Iztapalapa? — Carolina perguntou e as
orelhas de Bernardo, se ele fosse um cão,
teriam se levantado.
— Sim, sim! Jannochka não é muito
religiosa, mas digamos que eles vão usar a
desculpa para passar uns dias aqui —
Emília respondeu — Acho que os
meninos nunca vieram nessa época, pra
cá.

Por “meninos”, Bernardo sabia que se


tratava dos gêmeos. O coração dele
parecia ter dificuldade em bater.
— Quem vem? — Lucas perguntou e
Artur lhe deu um cutucão por baixo da
mesa. Os dois se olharam, como se
pudessem se comunicar sem palavras.
— Os meninos — Emília respondeu,
notando a expressão de Bernardo —
Parece que Aleksey virá, dessa vez.
— O menino do Yuri?
— Não, do Fyódor — Bernardo
respondeu e sorriu sem graça — Estou
surpreso com a vinda dele.
— Parece que… — Emilia olhou para
Carolina e suspirou — Parece que ele vai
passar um tempinho aqui. Para se
acalmar.
Bernardo olhou para Emília.
— Ele tá com algum problema?
CAPÍTULO 38

— Ele só está um pouco aborrecente —


Osvaldo respondeu e todos sabiam que o
assunto estava encerrado.
Depois disso, Bernardo não prestou
muito mais atenção em nada. Só o que ele
conseguia pensar era que Ekaterina
estaria no México, perto dele, em breve.
Os dias se arrastavam. Ao mesmo
tempo que ficava nervoso e ansioso com o
fato de que estaria frente a frente com
Ekaterina novamente, Bernardo tinha
medo da reação dela.
Ekaterina não era escandalosa, não era
explosiva, como Pyotr.
Não que por dentro ela não ficasse com
raiva, porém, normalmente ela se
mantinha quieta e observava. Bernardo
havia pensado que ela não era de muitas
brigas, mas ele passou a repassar tudo o
que tinha visto e ouvido, desde que a
conheceu, e se deu conta de que ela
apenas não era impulsiva.
Pyotr era o fogo que queimava rápido.
Ekaterina era o veneno, que matava
lentamente.
Um prato com buñuelos apareceu na
frente de Bernardo e ele viu Artur
segurando-o, com um sorriso gentil nos
lábios.
— Obrigado — Ele agradeceu ao irmão
mais novo.
— Pra você não ficar mais tão triste —
O menino disse e Bernardo não pode
deixar de sentir aquele calor no peito,
aquele “quentinho” — As coisas dão certo
no final, sabia?
Bernardo olhou para o prato e
suspirou.
— Nem sempre.
A mão de Artur foi para os cabelos de
Bernardo, acariciando.
— Eu sou novo, mas sei que as pessoas
complicam muito as coisas. Tem vezes
que basta a gente falar o que pensa e
sente, que já resolve muita coisa.
Com isso, Artur sorriu mais
abertamente e se afastou.
Bernardo remexeu os lábios. Será que
se ele falasse com Ekaterina, se
explicasse, ela ao menos não o odiaria?
“Por favor, não me odeie”, ele sentiu
que choraria de novo. As lágrimas caíram.
Bernardo passava alguns momentos no
jardim, pela noite. E naquela em
específico, ele passou mais tempo do que
o habitual.
Os Sigayev chegariam naquele dia e
Bernardo acordou com uma energia
diferente. Todos na casa perceberam
quando ele desceu as escadas.
— Ainda bem que hoje não teve aula,
não é? — Artur cochichou e Bernardo o
olhou, sem entender — Você vai poder se
preparar melhor.
— Me preparar?
Artur apenas sorriu, não dizendo mais
nada e voltando-se para o prato de frutas,
dele.
— Você já tem a roupa para o
aniversário da Jade, filho? — Carolina
perguntou e Bernardo negou com a
cabeça.
— Vou sair para comprar — Na
verdade, ele tinha muitas roupas, mas
nenhuma delas lhe parecia boa o
suficiente.
Bernardo queria estar impecável.
— Precisa de ajuda? Hoje eu não vou
ter nenhuma reunião — Máximo falou e
Bernardo negou.
— Hmm, obrigado, pai. Mas eu posso ir
sozinho.
Máximo entendeu que o filho queria ir
sozinho. Era diferente.
— Tudo bem.
— Eu vou com a Em e com a Clarinha
— Carolina falou, contente.
— Pelo visto, Artur, somos só você e eu
— Máximo falou e viu o garoto fazer uma
cara estranha — O quê?
— É que… O Tonny vai levar Lucas e eu
para comprarmos as roupas e os
presentes.
Máximo franziu a testa.
— Mas que coisa! Vamos ver se o
Osvaldo vai comigo. Estou me sentindo
desprezado! — Carolina colocou a mão na
coxa de Máximo, por baixo da mesa, e a
apertou — Bom, talvez não seja tão ruim.
Carolina sorriu de leve, mas Máximo
sentiu o olhar dela, cheio de promessas.
Depois de tomar banho, Bernardo se
arrumou e passou o perfume que
Ekaterina mais gostava. Lá no fundo, ele
tinha esperanças de que a encontraria na
rua, no shopping, mesmo sabendo que ela
provavelmente ainda estava no avião.
Cada vez que o carro parava em um
sinal vermelho, Bernardo olhava em volta.
Mas, óbvio, nenhum sinal da russa.
Ekaterina gostava quando ele vestia
roupas pretas, dizia que realçava a beleza
de Bernardo. Mas ela adorava quando ele
usava algo na tonalidade vinho, uma das
cores favoritas dela.
O loiro foi atrás de roupas dessas cores.
Ultimamente, ele usava mais preto, de
todo jeito. Era uma forma de se sentir
mais próximo a ela.
“E ainda assim, você não falou com ela…
Podia ter ligado!”, aquela voz da
consciência dele voltou a falar.
Ele sabia que era verdade. Ele poderia
ter ligado. Maksim, por exemplo, não
havia bloqueado o número dele. Pyotr o
restringiu. Aleksey não era tão próximo e,
nem em cem anos, Bernardo ligaria para
Santiago ou para Jannochka, a fim de
pedir para falar com Ekaterina, depois de
tudo.
Ao sair de uma das lojas, satisfeito com
a escolha da camisa,
Bernardo quase esbarrou em alguém.
— Opa, desculpa! — Ele disse e a
garota levantou a cabeça.
— Bernardo! — Juliana falou,
sorridente — Nossa, que coincidência!
Deve ser o destino!
O rosto de Bernardo ficou mais sério.
— Com licença.
Ela segurou-lhe o braço.
— Calma aí! Você sempre recusa sair
comigo, mas hoje, já nos encontramos
aqui! Vamos aproveitar!
Bernardo retirou a mão dela do braço
dele.
— Eu não estou disponível.
— Como assim? — Ela perguntou,
soltando uma risadinha — Todo mundo
sabe que você terminou o namoro… Qual
é, vai dizer que eu não te agrado?
O sorriso de lado de Juliana poderia
conquistar muitos rapazes, mas Bernardo
não sentia absolutamente nada além de,
talvez, um pouco de repulsa.
— Todo mundo? — Ele perguntou e o
rosto dele ficou mais sombrio. Bernardo
aproximou-o de Juliana — Eu só gosto de
uma mulher. E você, pelo visto, gosta de
se humilhar. Ser mais claro que isso é
impossível: nem você e nem nenhuma
outra faz o meu tipo. Não me agrada de
forma alguma. Nem se nascesse em um
corpo igual ao dela, já que por dentro,
jamais poderia chegar aos pés.
Com isso, Bernardo se afastou e Juliana
estava com os olhos cheios de lágrimas.
Porém, não de tristeza.
“Ele não pode me humilhar desse
jeito!”, ela apertou os punhos. “Vou
descobrir os podres dessa vadia!”. “Se ela
tivesse falado mal de Ekaterina, nem sei
como eu me seguraria!”. Ele deu um tapa
no volante. “Merda!”
Enquanto dirigia de volta para casa, ele
não conseguia parar de pensar em como
seria o encontro com Ekaterina.
Ao chegar na casa, ele recebeu a notícia,
por Máximo, de que haveria um jantar na
casa dos Herrera e eles haviam sido
convidados.
— Se não quiser ir, tudo bem. O
Osvaldo sempre fez esses jantares quando
o irmão dele vem pra cá.
— Eu vou!
No carro, Bernardo segurou o volante e
o apertou com força, buscando se
controlar. A vontade que ele teve foi de ser
muito mais rude.
CAPÍTULO 39

Ao chegarem na casa dos Herrera,


Bernardo precisou respirar fundo algumas
vezes. Ele foi no próprio carro.
— Bem-vindo, maninho! — Clara falou e
beijou o rosto do irmão
— Vai dar tudo certo — Ela cochichou,
enquanto o abraçava.
— Ela tá aqui?
Clara concordou com a cabeça e
Bernardo puxou o ar, mas parecia que os
pulmões dele não conseguiam se encher
completamente.
“Nada é suficiente”, ele pensou, entrando
e vendo Santiago perto de Osvaldo. O olhar
que o pai de Ekaterina lhe lançou deixava
claro que Bernardo havia perdido o
respeito de Santiago.
— Boa noite — Ele cumprimentou a
todos. Aleksey, que estava mais próximo,
apenas o olhou, sem nada dizer.
Emília o havia conhecido apenas
pequenino, mas sentiu um frio na espinha
ao ver o olhar do rapaz para Bernardo.
— Boa noite, querido! Venha, seus pais
já chegaram… — Ela disse, tentando
apaziguar o clima tenso.
— Obrigado, tia — Ele falou. No
caminho, Jannochka e Pyotr estavam
voltando da cozinha. Ela olhou para
Bernardo como se ele fosse um estranho.
Não havia raiva, apenas indiferença.
Ela fez um leve aceno com a cabeça,
como faria para qualquer pessoa que
encontrasse em um evento. Já Pyotr, muito
provavelmente não pulou em cima do loiro
porque a mãe não permitiria.
“Eu fodi com tudo”, Bernardo pensou.
Ele logo chegou perto dos pais e de
Artur, que conversava com um Lucas nem
tão empolgado. O menino parecia ter
envelhecido anos, depois dos meses de
treinamento.
Não havia sinal de Ekaterina. E nem de
Miguel. Bernardo franziu a testa.
— Tonny, cadê o Miguel? — Ele
perguntou e Tonny olhou em volta, antes
de levantar os ombros.
— Não sei — Ele respondeu — Faz
mesmo um tempinho que não o vejo.
Bernardo nunca havia sentido ciúmes de
Miguel e Ekaterina, afinal, eram primos.
Mas a ausência dos dois, por quase uma
hora, o estava deixando aflito.
“Melhor eu ir procurar. Pode ter
acontecido alguma coisa”.
Bernardo se viu subindo as escadas,
depois de ter dado uma volta pelo andar de
baixo.
— Acha que alguém vai notar? —
Ekaterina perguntou e Bernardo parou de
se mover, amaldiçoando os batimentos
fortes dele mesmo, que quase o estavam
deixando surdo.
— Acho que não — Miguel respondeu e
Bernardo ouviu barulho de tecido —
Talvez, porque demoramos muito. Será?
— Mas que droga, Miguel! — Ela parecia
irritada — Eu te disse que era melhor ter
tirado. Agora, amassou tudo!
— Ah, por favor! Fica melhor sem,
mesmo. Muito melhor.
Bernardo inspirou fundo. Ele pensou
que tinha parado de andar, mas não. Ele
estava perto da porta de onde as vozes
saíam. Era um dos quartos de hóspede.
Sem pensar, a mão de Bernardo
empurrou de leve a porta e ele viu
Ekaterina ajeitando os cabelos, enquanto
Miguel fechava o punho da blusa de manga
comprida.
A russa notou a presença do loiro e o
encarou, pelo espelho. O olhar penetrante
dela era perigoso, mas Bernardo não
conseguia desviar.
— O que foi, Bernardo? — Miguel
perguntou, o cenho franzido —
Procurando algo?
Ekaterina se virou, agora de frente para
Bernardo. O vestido dela era preto, mais
para um tubinho, Os sapatos pretos de sola
vermelha eram bem altos, deixando-a
elegante. Os olhos com um simples
delineado, cílios com máscara e um batom
vinho lindíssimo, realçando os lábios dela.
Bernardo queria beijá-la. Arrastá-la para
longe de Miguel e beijá-la.
— Eu vou ficar com meus pais —
Ekaterina anunciou e caminhou até a
porta. Bernardo não se moveu. Ela o olhava
com indiferença — Com licença, senhor
Castillo.
“Senhor Castillo”. A voz dela soou como
facas entrando nos ouvidos de Bernardo e
caminhando até o coração dele.
— Podemos conversar? — Ele pediu e
ela manteve a expressão fria.
— Não tenho tempo, agora. Talvez em
outro momento. Por gentileza, arrede para
o lado, pois eu preciso passar por essa
porta.
— O que fazia com Miguel? — Ele soltou
e Ekaterina inspirou fundo, usando as
mãos para empurrá-lo. Bernardo não
ofereceu resistência, mas ao tentar segurar
as mãos dela, não conseguiu.
Miguel segurou o pulso de Bernardo.
— Não encoste nela!
Bernardo puxou o braço, mas o aperto
de Miguel era forte.
— Me solta! — O loiro quase rosnou.
Ekaterina olhou para o primo.
— Estarei lá embaixo.
Miguel fez um leve aceno com a cabeça e
se voltou para Bernardo.
— Eu tenho paciência com você,
Bernardo, mas não me teste!
— O que você fazia aqui, sozinho, com
ela? Por que estava fechando a sua blusa? E
os cabelos dela…
Miguel sorriu de lado.
— Não sei onde isso é da sua conta —
Ele respondeu, debochado — O que eu faço
ou deixo de fazer com as mulheres, não te
diz respeito. E o mesmo se aplica à minha
prima.
— Miguel, você sabe que…
— Sei o quê? Que você é um maldito
covarde? Que é um otário que foi embora
sem nem falar com a garota, abandonando-
a depois de prometer amá-la para sempre?
Sim, eu sei disso muito bem — Miguel
estava ameaçador — Esteja feliz que sou
eu, aqui, e não Pyotr. Ele vai arrancar a sua
bela pele bronzeada se pegar você tocando
em Ekaterina novamente.
Miguel deu um empurrão em Bernardo e
passou por ele.
— Vocês estavam se pegando?
— Vou te deixar pensar sobre essa
pergunta e chegar a uma conclusão por si
só.
Quando desceu, Miguel foi parado por
Ekaterina, que estava escorada na parede.
— Obrigada, mas não precisa me
defender assim — Ela falou.
— Eu sei que não precisa ser defendida.
É mais perigosa do que eu — Miguel sorriu
— Mas ainda é a minha priminha. Mais
nova.
Ela revirou os olhos.
— E sobre o que conversamos…
— Rina, por favor.
— Não espere o dia do casamento pra
admitir o que sente.
Ela se afastou e Miguel fez uma careta.
“Não estou apaixonado!”, ele disse para
si mesmo, mas não havia convicção ali.
Tirando o telefone do bolso, Miguel viu o
que não queria: não havia mensagem
alguma de Gemma.
Pyotr se aproximou e passou o braço
pelo ombro do primo.
— Você vai pros Estados Unidos no mês
que vem? — Ele perguntou e Miguel
concordou com a cabeça — Mais viaja que
tudo…
— Minha irmã está grávida, seu cabeção!
Papai e eu vamos pra lá, enquanto Tonny
permanecerá aqui e cuidará das coisas. Ele
foi pra lá mês passado.
— Pois eu acho que você quer ir pra lá
por outro motivo, também. E esse motivo
começa com G…
Miguel empurrou Pyotr, que sorria.
— Você fica inventando historinha na
sua cabeça. Não sabia que era fanfiqueiro,
Pyotr.
— Eu? — Pyotr apontou com o indicador
para si mesmo, as sobrancelhas levantadas.
— Vai ver que é porque está
apaixonadinho.
Pyotr deu de ombros.
— Não admito e nem nego.
Bernardo passou por eles e o olhar de
Pyotr ficou mais escuro.
— Calminha, Pyotr.
— Que ódio desse loiro cretino!
— Eu acho que ele tá arrependido.
— Foda-se! Minha irmã nunca ofereceu
o coração a ninguém.
Ele foi o sorteado, mas jogou no chão e
pisou na Ekaterina.
— Não acho que ela vá aceitar de volta.
Não facilmente. Mas…
Ainda é escolha dela.
— Não se ele estiver debaixo da terra —
Pyotr tinha um olhar e um sorriso
assassinos.
— Se criar confusão aqui, sua mãe te
mata.
Pyotr não deu um passo, mas estava se
corroendo por dentro.
Ele sabia que Bernardo estava indo atrás
de Ekaterina.
CAPÍTULO 40

Santiago viu Ekaterina passar para o


jardim e sabia que a garota andava mais
reclusa. Se antes não gostava de festas,
depois de Bernardo, ela passou a evitar a
todo custo. Levá-la para o México acabou
sendo uma forma de “ou ela volta pra ele,
ou larga de vez”.
Quando Bernardo passou por ali,
Santiago quis ir atrás, mas Jannochka
colocou a mão no peito do marido.
— Amor, ele…
— Deixa eles. Eu sabia que era melhor
eu estar aqui do que o Yuri.
Santiago se virou para a esposa.
— O que quer dizer com isso?
— Você convence o Yuri bem facinho a
fazer o que você quer…
— Jannochka estreitou os olhos — Se
não tivesse certeza de que você me ama e
de que ele não curte homens, ficaria com
ciúmes.
Santiago revirou os olhos.
— Deixa essa festa acabar que eu te
mostro como eu te amo.
Jannochka aproximou a boca do ouvido
de Santiago.
— Adoro quando late pra mim.
No jardim, Ekaterina se sentou no
pequeno balanço que havia ali. Ela
detestava festanças e Bernardo ali… Tudo
era sufocante!
— Vai ficar aí me olhando? — Ela
perguntou e ouviu passos.
Bernardo ficou quase em frente a ela —
O que quer?
— Acho que precisamos conversar.
Ela inspirou fundo e soltou o ar,
balançando a cabeça.
— Não acho. O silêncio pode dizer
muitas coisas, Bernardo. E você, nesse
aspecto, falou bastante e mais do que o
suficiente.
Ekaterina se levantou, pronta para
voltar para dentro, mas Bernardo se
colocou na frente dela.
— Desculpe ter ficado calado. Desculpe
ter ido embora sem conversar com você. É
que… — Ele olhou para baixo e Ekaterina
permaneceu calada, sem se mover.
Bernardo levantou o olhar
— Eu fiquei chocado com o que vi.
— E o que você viu?
— Você estava… Torturando. Não, você
estava gostando de despedaçar uma
pessoa e…
Ekaterina endureceu o olhar.
— Qualquer um que atacar a minha
família, vai ter uma morte dolorosa. E sim,
Bernardo, eu vou ter muito prazer em ver
o cretino estrebuchando — Bernardo
segurou a respiração — Ficou com medo
de mim? Medo de eu te atacar?
Era possível sentir a mágoa nas palavras
de Ekaterina.
— Não. Me atacar, não. Mas…
Ekaterina negou com a cabeça.
— Você realmente não serve para a
máfia — Ela deu um passo para trás —
Ainda bem que você não nasceu nesse
meio. E ainda bem que você e eu não nos
casamos, Bernardo.
— Você nunca pensou em viver
diferente?
Ekaterina soltou uma gargalhada, mas os
olhos dela permaneceram frios.
— Acho que você realmente não
compreende… Se não fosse a máfia, eu
ainda teria o gênio que tenho. Eu ainda
seria eu mesma. Talvez eu não matasse?
Talvez. Afinal, eu não estaria “amparada”
pela máfia para cometer esse tipo de crime
— Ela olhou diretamente nos olhos do
loiro — Mas eu foderia sim com a vida de
quem quer que tocasse em quem eu amo.
Essa sou eu, Bernardo. E eu NÃO VOU
mudar. Nem por você, nem por ninguém.
Os dois se encararam por alguns
segundos, mas que pareceram horas.
Bernardo tirou a caixinha com o anel, do
bolso. Ekaterina estreitou os olhos, de leve.
— Eu comprei pra você. É seu.
— É uma jóia tão bonita. Seria uma pena
se se perdesse dentro das entranhas de
alguma das minhas vítimas — Ekaterina
soltou, com desdém.
— Rina, eu realmente sinto muito por
ter agido como agi.
— É, você já disse isso. Mais algo?
— Não precisamos ser inimigos.
Ela riu, cruzando os braços e dando um
passo na direção de Bernardo.
— Se você fosse meu inimigo, estaria
morto.
— Não quero perder você… Podemos ser
amigos, pelo menos?
Ele não queria ser só amigo, mas
Bernardo iria se agarrar ao que podia.
Ainda mais depois de vê-la na frente dele
novamente.
— Você me via como se eu fosse outra
pessoa, logo, nunca me teve, para poder
perder. E eu não sou amiga de ex. Serei
educada, mas evite falar comigo. Não sou
muito fã de ficar falando com estranhos.
— Eu pedi desculpas. Perdão!
Bernardo queria abraçá-la, beijá-la.
— Okay. Eu ouvi, não sou surda. Mas o
que espera de mim?
Que eu largue tudo por você? — Ela
levantou o queixo — Levo a vida que me
corresponde. Eu gosto de como vivo.
— Deixaria o homem certo por isso? —
Bernardo perguntou.
— O homem certo não me pediria para
largar a minha vida. Ele me aceitaria como
eu sou, por quem eu sou — Ela apertou o
maxilar — Assim como eu o aceitaria do
jeito que ele é.
Com isso, Ekaterina se virou e Bernardo
caiu de joelhos.
“Eu não sou o homem certo pra ela, não
é?”, ele se perguntou e a cena de Ekaterina
com Miguel brotou na mente dele. Ele não
a queria com outro.
Antes de Ekaterina entrar, Bernardo se
levantou rápido e chegou perto dela e a
puxou para ele, encostando as costas
dela na parede.
— Ficou maluco? — Ela perguntou, os
olhos queimando.
— O que tava fazendo com Miguel?
— Ah, me poupe! — Ekaterina colocou
as mãos nos braços de Bernardo. Ela era
forte, boa em camuflar os sentimentos, mas
a proximidade dele era intoxicante — Não
é da sua conta!
— Não suporto a ideia de outro
homem… — Bernardo apertou os dentes e
deu um soco na parede, com a lateral do
punho.
— Pois é bom se acostumar. Porque
pode ser que eu me case e tenha a certeza
de que a última coisa que vai rolar, é eu
ficar longe da cama do meu futuro marido.
Ekaterina não pretendia casar com
ninguém, a não ser que não houvesse jeito.
Ou que viesse a se apaixonar.
“Mas Bernardo tem que aprender o lugar
dele!”.
— Ekaterina!
— Me. Solta!
— Tudo bem aqui? — Osvaldo apareceu
e olhava de um para o outro. Ambos com
os rostos vermelhos.
Bernardo soltou Ekaterina, que fez uma
reverência para o tio e se foi.
— Tio… Ah! — Osvaldo segurou
Bernardo pela parte de trás do pescoço e
começou a falar, baixinho.
CAPÍTULO 41

— Ekaterina ainda é boazinha, ou ela


teria arrancado os seus braços — Osvaldo
apertou mais — Tenho um carinho imenso
por você, como se fosse meu filho de
sangue, Bernardo. E é por isso mesmo que
eu vou te tratar como tal. Se não tem
colhões para a nossa vida, então fique
longe da minha sobrinha.
Ele soltou Bernardo, que já estava vendo
pontos pretos.
— Último aviso.
Osvaldo passou por Máximo, que
estranhou o semblante do amigo e, ao
olhar mais adiante, viu Bernardo se
apoiando na parede. Ele entendeu o que
houve.
— Você tá bem?
— Tô — A voz de Bernardo saiu rouca
— Tio Osvaldo tem um puta aperto.
Máximo soltou uma risada rápida.
— Se Ekaterina fosse minha filha, eu já
teria quebrado você todinho — Bernardo
olhou para o pai, boquiaberto — O quê?
Quando tiver filhos, você vai saber. Você
ficou uma fera, com toda a história da
Clara…
Bernardo engoliu em seco. Sim, ele tinha
ficado com ódio, mesmo. E então, ele se
colocou no lugar do Pyotr.
“Não é de admirar que queira a minha
morte”.
Bernardo saiu dali com Máximo e
voltaram para onde as pessoas estavam.
Alguns poucos membros da máfia
apareceram ali, a fim de dar as boas vindas
a Santiago e aos herdeiros da
Tambovskaya, bem como conhecer
Aleksey.
Ao olhar para um dos cantos, percebeu
um rapaz, perto demais de Ekaterina, que
parecia entediada.
“Aquele filho da puta!”, Bernardo
apertou os dentes e começou a andar em
direção aos dois.
— E então… — O rapaz de cabelos
castanhos falava entusiasmado, quando
percebeu a presença de Bernardo —
Pois não? — Ele perguntou, com a
sobrancelha levantada.
Ekaterina olhou para Bernardo e ele a
encarou.
— Preciso falar algo com você. É
urgente.
Ela apertou a sobrancelha e sabia que
Bernardo estava mentindo.
— Certo. Com licença — Ela falou
educadamente para o rapaz, que pareceu
desolado.
— Mas…
— É urgente! — Bernardo insistiu, e
estava prestes a colocar a mão na cintura
de Ekaterina, mas pensou melhor.
Os dois se afastaram e Ekaterina
suspirou.
— Por que mentiu? — Ela perguntou e
Bernardo estava com o rosto vermelho.
— Como assim? Não viu que ele tava
dando em cima de você?
Descarado de uma figa!
Ela pegou a bebida de cima da mesa,
disfarçando a carranca.
— E daí?
Bernardo a olhou, e apertou os lábios.
— Estava gostando? Quer a atenção
dele? — O loiro engoliu em seco.
Ainda sem olhar para Bernardo,
Ekaterina tomou um gole da bebida.
— Talvez sim, talvez não… — Ela
suspirou falsamente — O que eu gosto, o
que eu quero… Nada disso diz respeito a
você, Bernardo Castillo.
— Rina…
— Senhorita Sigayeva — Ela o corrigiu
— Eu sou prima do seu cunhado. Não
temos uma relação próxima. Não pode me
chamar pelo primeiro nome e, muito
menos, por um apelido.
Bernardo sentiu o peito dele contrito,
nem a saliva queria descer. Ekaterina
estava rompendo qualquer laço
sentimental com ele.
— Não faz isso, Rina.
Os olhos dela ficaram mais duros
quando o encararam.
— Eu não dou segundas chances, Senhor
Castillo. Detesto andar com problemas
pendurados no meu pescoço —
Bernardo viu algo perigoso nos olhos de
Ekaterina — Dirija-se a mim apenas se
estritamente necessário. Não sou sua
amiga.
Não sou nada sua além de uma parente
por casamento familiar. Mantenha o
decoro, e eu manterei meu espírito
assassino guardado.
Sem mais, ela se afastou, indo para perto
do irmão, que observava a cena e, ao ver
como Ekaterina foi dura com Bernardo,
deixou um sorriso de escárnio tomar-lhe
os lábios.
Todos foram chamados para jantar, na
enorme mesa na ala da mansão que
Osvaldo deixava para eventos com mais de
vinte pessoas.
Bernardo não parava de lançar olhares a
Ekaterina que, ao que parecia a ele, não o
notava.
Após irem para casa, Bernardo não falou
nada e Máximo decidiu que não iria
“perturbar” o filho tão tarde da noite.
— Eu fico preocupada… Ultimamente o
Bernardo parece mais dentro de si e se
irrita tão fácil — Carolina comentou,
deitandose nos braços de Máximo.
— Sim, eu percebi. Acho que todos já
falamos o suficiente e agora, cabe a ele
tomar a decisão certa — Máximo acariciou
a pele da esposa — Ele vai ter que ter
muita força de vontade e colocar os
neurônios pra funcionar, se quiser que a
menina Sigayeva o aceite de volta.
— Ele a abandonou — Carolina falou
baixo e Máximo sabia que a esposa tinha
uma impressão terrível sobre abandono.
Ele a abraçou.
— Eu sei, meu amor. Eu sei — Máximo a
beijou na testa e se inclinou mais, para
beijar os lábios — Deve ser mal de família.
Carolina sabia que Máximo nunca se
perdoou por tê-la abandonado quando
grávida e ficou por cima dele, beijando-o.
— Mas no fim as coisas se ajeitam.
No dia seguinte, seria a festa de Jade.
— Eu tenho mesmo que ir? — Aleksey
reclamou para Santiago.
— Sim. Todos nós vamos.
— Vai tá cheio de policiais! — O rapaz
insistiu e Santiago o olhou feio — Olhar
assim pra mim não muda esse fato, tio.
— Aleksey, Eduardo não vai armar pra
gente. Tá tudo sobre controle. Relaxa.
— Tenho um pressentimento ruim.
Santiago sorriu de lado e soltou uma
risadinha.
— E desde quando você é supersticioso?
— Não sou. Mas às vezes as pessoas
sentem que algo está errado. Não é
superstição. É autopreservação!
— Seja como for, nós vamos. Vá tomar o
seu banho e se prepare.
Aleksey não respondeu, mas pensou que
não era uma criança pequena para ser
tratado daquela forma.
“Eu tenho quinze anos!”, ele reclamou
internamente, mas fez o que Santiago
mandou.
Duas horas depois, os Herrera e os
Sigayev estavam na porta dos Romero.
Jade abriu a porta, radiante.
— Oi! — Ela falou e cumprimentou a
todos — Ah, que prazer em vê-los!
— Feliz aniversário! — Santiago falou e
Aleksey, que soube pelo tio Yuri a respeito
de o marido da Don ter arrastado asa para
a tal ruiva, logo olhou para Jannochka, que
não parecia incomodada.
— Obrigada!
— Eduardo está tentando um “churrasco
brasileiro” — Ela apontou para a parte de
trás da casa e então, quando se virou, os
olhos dela bateram em Aleksey.
— Nosso sobrinho! Aleksey! — Osvaldo
falou.
— Que olhos lindos! — Ela disse —
Prazer, Aleksey. Não temos muitas
crianças, aqui. Mas a Anna tem idade
próxima!
Aleksey abriu a boca, indignado.
CAPÍTULO 42

O cutucão de Pyotr o manteve calado.


“Eu não sou criança!”, ele apertou os
punhos e, ao entrar na casa, se olhou no
reflexo do espelho imenso na entrada. “E
nem pareço com uma! Que absurdo!”.
Eles entraram na festa e estava cheio de
pessoas desconhecidas. Aleksey falava
espanhol, bem como outros idiomas, já que
Jannochka acreditava ser essencial falar
várias línguas. Para os negócios.
Lucas estava ao lado de Aleksey, e,
então, o menino foi quase derrubado.
— Ai, vai me sufocar! — Lucas reclamou
e Aleksey notou braços em volta do primo.
Então, uma garota surgiu quase em frente
a eles.
Os cabelos loiro-avermelhados da
menina eram longos e Aleksey podia jurar
que, com certeza, também eram sedosos.
O castanho dos olhos dela eram um
pouco esverdeados, mas quentes.
— Lucas! Eu achei que nunca mais veria
você! — A menina fez
uma carinha triste, como se fosse chorar,
mas tinha um sorrisinho nos lábios e deu
um pequeno tapa no braço do garoto —
Como se atreve a sumir desse jeito?
— Ai! Vim aqui pra ser agredido? —
Lucas brincou e Aleksey revirou os olhos.
Anna o encarou.
— Quem é esse?
Lucas fez cara de desdém e, em seguida,
um sorriso de lado se formou nos lábios
dele.
— Por que, Anninha? Interessada? — Ele
perguntou, provocativo. Anna fez uma
careta e mostrou a língua — Agindo tão
infantil não vai conquistar meu primo.
— Deixa de ser ridículo, Lucas! — Ela
passou a mão pelos cabelos e depois, a
estendeu a Aleksey — Eu sou a Anna!
Prazer!
O russo sabia que seria de mau gosto
não apertar a mão da garota, afinal, ela era
filha da dona da casa.
— Aleksey — Ele respondeu e Anna
sorriu.
— Nossa, que diferente! A forma como
você fala…
— Ele é russo, sua tonta! — Lucas falou e
Anna o recriminou com o olhar.
“Pelo visto, eles são muito amigos. Lucas
é mais calado do que isso…”, Aleksey
pensou.
— Eu não sou tonta!
Lucas e Anna começaram a discutir.
Aleksey apenas balançou a cabeça de um
lado para o outro, pensando que estava
lidando com criancinhas.
— Ah, olha, o Artur chegou! — Anna deu
um pulinho e se afastou.
— Achei que depois de começar a
treinar, você ficaria mais maduro —
Aleksey cochichou para Lucas. Este franziu
a testa.
— Anna é minha amiga. Quase uma irmã
— Lucas respondeu e olhou para a garota
— E ela é fofinha. Como é que eu vou ser
grosso com ela?
Aleksey levantou a sobrancelha.
— Acho que quem tá interessado aqui, é
você — Ele disse e olhou a garota — Nela.
Lucas fez uma careta.
— Ai, tá doido?
O russo deu de ombrots.
— É o que parece. Mas se não se
espertar, aquele ali vai passar na sua
frente.
Anna estava pendurada em Artur.
Aleksey viu a mão do garoto na lombar da
menina e achou que aquilo era muito
abuso.
— O Artur? — Lucas soltou uma
risadinha de incredulidade — Olha, eu
duvido muito!
— Por quê? Você se acha melhor?
Lucas negou com a cabeça.
— Não. Mas… Bom, eu não acho que a
Anna faça o estilo dele.
Só isso.
Quando falou isso, Lucas olhou para
baixo. Aleksey mirou o rosto do Castillo
mais novo e levantou as duas sobrancelhas,
abrindo a boca em um “ah!”.
— Entendi.
— E o seu? Ela faz? — Lucas perguntou
— Só pra saber, mesmo.
— Ela é uma criança. Eu, não.
— Ah, certo, senhor adulto.
— Você é muito confiado, garoto.
Lucas sorriu de lado.
— E você, rabugento!
Com isso, Lucas se afastou, deixando
Aleksey sozinho. Este olhou em volta e
suspirou.
“Mas que droga!”, ele caminhou até a
mesa de doces e pegou um, mas alguém
bateu na mão dele. Aleksey virou o rosto
lentamente na direção do agressor.
— Não pode comer isso, ainda! — O
menino de aproximadamente dez anos
falou, com um olhar reprovador.
Aleksey estendeu a mão e pegou o doce,
sem quebrar o contato visual com o
menino, que engoliu em seco.
— Se tocar em mim de novo, fedelho,
vou fazer você comer esses doces, mas não
pelo buraco convencional! — O tom de
Aleksey foi baixo, mas causou arrepios
no garoto. O russo jogou o doce na boca e
se afastou.
Aleksey foi para perto dos Herrera e
Pyotr, que tinha observado tudo, o olhava
com deboche.
— Já tá causando terror? É período de
Páscoa, priminho.
— Esse bostinha tem sorte em estarmos
rodeados de policiais.
E a sua mãe ter me proibido de matar
alguém.
— O que vocês dois cochicham? — Lucas
perguntou.
— Achei que estaria com sua
namoradinha — Aleksey devolveu e Pyotr
olhou imediatamente para Lucas.
— Como assim? Você tá namorando e
não contou nada?
— Quem tá namorando? — Miguel
perguntou.
— Namorando? Quem? — Santiago se
meteu.
Lucas abriu a boca, como bobo. Então,
olhou para o primo russo.
— Eu não… Eu não tô namorando! — Ele
acabou falando alto demais. Algumas
pessoas em volta o olharam e ele apertou
os lábios, o rosto todo vermelho.
— O Aleksey disse que ele tá — Pyotr
insistiu.
— Qual é, conta pra gente. Eu sou o tio
legal… — Santiago sorriu simpático.
— Vocês parecem um grupo de
fuxiqueiras! — Osvaldo os repreendeu.
— E você aquela velha chata que sempre
acaba com a diversão! — Santiago
devolveu. Os rapazes seguraram o riso.
— Você não cresce, Santiago!
— Cresci onde importava — Santiago
sorriu de lado e Osvaldo jogou as mãos pro
alto, afastando-se e resmungando um
“francamente!”.
Enquanto isso, Ekaterina se mantinha
calada, ao lado deles.
Pyotr suspirou e colocou o braço pelos
ombros da irmã.
— Eu sei que você não fala nada, mas
aquele loiro desgraçado tá te afetando
ainda, não é? — Ele sussurrou.
— Não se deixa de amar do dia pra noite,
Pyotr. Mas fique tranquilo, irmão — Ela
olhou para o rapaz — Eu não vou sofrer
pra sempre. Sofrer por quem não me quer,
por quem eu sou, não está nos meus
planos.
Pyotr ofereceu um sorriso carinhoso à
irmã.
— Eu sei. Mas ainda estou fulo da vida!
— Ele passou a mão pelos cabelos.
Ekaterina sorriu ao olhar mais pra frente.
Pyotr seguiu o olhar dela, confuso — O que
foi?
— Acho que alguém está ficando gamada
— Ekaterina não encarou muito, para não
constranger a garota.
— Quem? — Ele olhou em volta e só
uma menina o olhava de vez em quando,
com o rosto vermelho — Tá brincando, né?
Ela é…
CAPÍTULO 43

— Ela é bonita… Só não é pra agora. Ou


por alguns bons anos, se a pobrezinha
ainda estiver apaixonadinha. Espero que
ela crie juízo e caia fora — Ekaterina deu
um tapinha de consolo no peito do irmão.
— Eu não sou maluco! A Anna é uma
criança! E… O que quer dizer com “crie
juízo”?
— Como eu disse, não é pra agora —
Ekaterina respondeu — E você sabe muito
bem do que estou falando. Nenhuma
garota, em sã consciência, iria se meter
com você. A Anna é tão boazinha. Ainda
bem que ela é novinha e você, um crush.
— Na boa, eu aqui tentando consolar
você, e você me joga uma dessas! Eu sou
muito bom rapaz, tá? Além disso, eu já
ten… — Ele se calou.
— Sei bem que tem uma namorada,
Pyotr. Eu estou só brincando com você.
Não sou maluca. É óbvio que a filha do
policial tem uma quedinha por você. Desde
menorzinha ela tem esses olhinhos pro seu
lado. Coitada, péssimo gosto pra homens
— Ekaterina suspirou e sorriu para o
irmão — Agora, me diz, quem é?
— Eu não…
— Vai mentir pra mim?
Pyotr suspirou.
— Não estamos namorando.
— Ainda — Ekaterina falou e Pyotr
acabou sorrindo.
— Ainda.
— Mamãe vai investigar a vida dela
todinha, se já não o fez.
Você sabe disso, né?
Pyotr deu de ombros.
— Lisa não tem o que esconder.
— Lisa… Esse nome não me é estranho…
— A vizinha do Kazimir.
— Ah… — Ekaterina ficou mais séria.
— O que foi?
— Nada — Ela sorriu, disfarçando —
Tenha cuidado. Você sabe o passado dela?
Pyotr revirou os olhos.
— Ela é só uma garota comum.
— Você a investigou? — A gêmea
insistiu.
— Claro que sim. Me acha tão burro?
— Certo.
Jannochka chamou Ekaterina, que foi
para junto da mãe. Pyotr mordeu a
bochecha internamente. Não, ele não havia
investigado nada.
“Como se tivesse algo pra investigar. A
garota é só uma civil! O que poderia ser tão
horrível? Ela ser da máfia?”, ele riu
sozinho.
Bernardo estava calado, apenas
observando tudo. Quando Rômulo, que
chegou mais tarde, começou a
cumprimentar a todos, Bernardo não deu
atenção. Isto é, até que o rapaz quase
albino se aproximou de Ekaterina e
colocou a mão nas costas dela, ao beijar-lhe
o rosto.
O copo na mão de Bernardo se espatifou.
Clara, que estava mais próxima, correu até
o irmão. Ekaterina apenas o olhou, com o
que o loiro entendeu ser desinteresse. Isso
o fez ficar com mais raiva.
Rômulo foi até ele.
— Caramba, Bernardo! Peraí que eu vou
buscar o kit médico!
— Não precisa — Bernardo falou entre
dentes, tentando não ser grosseiro. Rômulo
o olhou, confuso.
— Claro que precisa. E tem que lavar…
— Eu ajudo o meu irmão, Rômulo. Muito
obrigada! — Clara usou um tom gentil e
educado. Rômulo sorriu para ela.
— Tudo bem, Clara.
Bernardo, então, se deu conta de que
Rômulo ficaria ali, longe dos olhos dele,
mas perto de Ekaterina.
— Tudo bem, Clara. O Rômulo me
acompanha. Fica aqui.
Clara ia insistir, mas a mão no ombro
dela, de Tonny, e o olhar dele, a fez apenas
concordar com a cabeça. Assim que os dois
rapazes se afastaram, ela olhou para o
marido.
— Mantenha os amigos perto e os
inimigos mais perto ainda, meu amor —
Tonny cochichou, dando um beijo no rosto
da loira.
— Hmmm… — Ela franziu a testa —
Inimigo?
— Ai, meu amor… Rômulo colocou a
mão e a boca, na Ekaterina.
— Eu juro que não vi isso…
Tonny beijou o maxilar de Clara, que
fechou os olhos, se segurando para não
morder os lábios.
— Mas Bernardo viu, quando Rômulo a
cumprimentou.
Nenhum homem gosta que encostem na
sua mulher, ainda mais quando ela está “de
mal” com ele.
— Ekaterina e ele não estão juntos. Mas
eu entendo — Clara levou a mão ao
pescoço de Tonny — Não gosta quando eu
cumprimento os outros homens?
Tonny apertou a cintura de Clara.
— Eu odeio. Mas eu sou um rapaz
crescido e que sabe se controlar. Só os
mato na minha cabeça.
Clara riu.
— Que marido ciumento!
Alguns policiais sabiam quem era
Osvaldo Herrera, mas nada fizeram.
Rômulo era amigo da família, ainda que
não se envolvesse com o “limpar os
rastros” e, por isso, ninguém se metia nos
assuntos deles.
Pyotr olhou em volta, depois que haviam
comido e se aproximou do pai.
— O que vai me pedir?
— Credo, eu nem falei nada! — O rapaz
se defendeu e Santiago o olhou com
descrença — Certo! Só quero saber se
podemos ir na boate…
— Não.
— Pai! Qual é! — Pyotr aproximou mais
o rosto — Talvez a Rina se divirta.
Santiago estreitou os olhos.
— Você, rapazinho, é muito
manipulador.
Pyotr fez beicinho.
— Tá funcionando?
Com o dedo indicador e o médio
segurando a ponta do nariz, Santiago
suspirou.
— E quem iria?
— Rina, Miguel, Aleksey…
— Não.
— Pai…
— Aleksey é menor de idade. Muito
menor de idade. Ele não vai.
— Mas…
Santiago negou com a cabeça.
— Ele não parece ter quinze anos,
quando olha pra gente daquele jeito. Mas
dá pra ver que é novinho. Vamos evitar
estresse, sim? Osvaldo vai ficar muito puto
se receber qualquer ligação da polícia. Ele
é o Don, aqui.
Pyotr suspirou.
— Podemos ir?
Após alguns segundos encarando o filho,
Santiago concordou.
— E nada de Aleksey!
Ao se aproximar de Miguel e Ekaterina,
Pyotr tinha um sorriso no rosto e anunciou
a ida à boate.
— Você não vai — Ele deu a notícia a
Aleksey. O sorriso deste murchou.
— Mas por quê?
— Ordens do papai. Vai reclamar com
ele?
Aleksey soltou o ar, bufando.
— Não.
— Boa noite, então, priminho! Não
esqueça de escovar os dentes antes de
dormir.
— Você só sabe fazer chacota de mim!
Nem sei porque me mandaram pra cá! —
Aleksey virou o rosto.
Ele desconfiava do real motivo, mas
esperava que, quando
retornasse à Rússia, os pais tivessem se
acertado. Fyódor
havia explicado ao filho seus motivos e o
garoto compreendeu.
Bernardo viu quando os jovens se
despediram e franziu o
cenho.
— Pra onde eles tão indo? — Ele
vocaliza sem querer.
— Boate — Tonny respondeu.
O loiro se virou para o cunhado.
— Sabe qual?
CAPÍTULO 44

Ao chegar à boate, Bernardo olhou o


apinhado de pessoas e torceu o nariz.
Houve um tempo em que ele gostava de
sair e se divertir, paquerar, mas depois que
se decidiu por Ekaterina, qualquer lugar
sem ela, era sem graça.
“Mas que inferno! Onde eles estão?”
Não demorou até Bernardo avistar
Ekaterina, um copo de bebida na mão,
sugando no canudo. Bernardo engoliu em
seco. O olhar de Ekaterina pousou nele,
mas apenas por alguns segundos.
“Ela é linda demais!”, o loiro pensou.
Ekaterina e os outros subiram para a
área V.I.P. Bernardo sabia que eles não
iriam ficar ali, no meio do povo. Exceto os
meninos, mas apesar de Ekaterina poder se
cuidar sozinha, os dois não iriam querer
deixá-la no meio daqueles estranhos
bêbados.
— Senhor, aqui é a área V.I.P. — O
segurança disse, ao pé da escada.
— E como eu posso obter autorização?
— Bernardo perguntou
— Eu devo pagar onde?
— Aqui, por favor.
Após fazer o pagamento e receber uma
pulseira — Bernardo não viu Miguel fazer
nada além de sorrir para o segurança, para
subir — ele subiu as escadas.
Bernardo queria estar perto de
Ekaterina, mas não sabia se aguentaria
ficar na máfia. O mais certo, na mente dele,
era deixá-la ir e, assim, ela poderia
encontrar alguém compatível.
Imaginar Ekaterina com outro fez
Bernardo sentir como se estivessem
enfiando ferro quente na garganta dele,
apertandolhe o coração.
“Eu só preciso vê-la, só isso”, ele repetiu
algumas vezes.
Ele decidiu manter uma certa distância
e, por isso, sentou-se num dos sofás. Isso
garantia a ele uma boa visão sobre
Ekaterina.
— Mas é muito cara de pau! — Pyotr
resmungou, olhando para o lado.
Miguel colocou a mão sobre o ombro do
primo.
— Se acalma.
— Ele não dá um passo à frente, mas fica
rondando!
— Deixa ele, Pyotr — Ekaterina falou,
colocando a bebida no balcão — Basta a
gente ignorar.
Uma mão passou pelo peito de Bernardo
e ele segurou o pulso.
CAPÍTULO 45

— Matou ele? Devo pedir que alguém limpe


a sujeira?
— Não. Ainda não — Os dois ficaram alguns
segundos em silêncio — Cadê a minha irmã?
— Foi tomar um ar na outra varanda —
Miguel respondeu e então, sorriu de lado — O
que tava fazendo no banheiro? Com quem?
Era gostosa?
Pyotr o olhou feio.
— Fofoqueiro.
— Só tô curioso. Você parecia gamadinho
na loirinha, lá — Pyotr o olhou, de boca aberta
— O que foi? Achou que eu era idiota?
Pyotr estalou a língua.
— Eu estava com ela, no banheiro. Vídeo
chamada.
— Você tava de sacanagem com ela, por
video chamada.
Pyotr sorriu de lado, como se relembrasse,
mas então, ficou mais sério.
— Pare de pensar nisso! Ela é minha!
Miguel levantou as mãos.
— Fica de boa. Todinha sua — Ele encarou
Pyotr — Pelo visto, ela te laçou, mesmo. Tá
apaixonado?
Pyotr levantou os ombros.
— Acho que sim. Mas ela ainda não sabe o
que fazemos.
— Entendi. Conta pra ela, aos poucos. Vai
soltando… Por sinal, você tem certeza de que
ela não sabe?
Pyotr revirou os olhos.
— Eu já investiguei. Ela tá limpa.
Miguel apenas concordou com a cabeça. Ele
não iria ficar se metendo.
O celular dele vibrou no bolso e ele pegou o
aparelho.
— Por que essa cara? — Pyotr perguntou.
— Nada! — Miguel voltou a enfiar o
aparelho no bolso da calça — Vou pegar uma
bebida!
— Vamos!
Eles eram menores de idade, mas quem iria
negar bebida a Miguel? A não ser que
Osvaldo houvesse proibido, o que não
aconteceu.
Bernardo procurou por Ekaterina, mas não
a viu em lugar algum.
“Vou olhar nos balcões e varandas”, ele
decidiu, Ao chegar em uma das varandas, ele
ouviu o que não queria e seu rosto ficou
sombrio.
*MINUTOS ANTES*
Ekaterina se afastou da briga e foi tomar
um ar. Miguel a seguiu, depois que Pyotr saiu
com Bernardo.
— Rina?
— Hmmm?
— Aquele bosta tocou em você? Sei que
sabe se defender, mas você ainda é a minha
priminha.
Ekaterina revirou os olhos.
— Me poupe. Você não é muito mais velho.
Ela estava com os braços cruzados, olhando
para a rua iluminada.
— Posso… Posso te pedir um conselho? —
Miguel perguntou e mordeu o lábio. Ekaterina
se virou para ele e levantou a sobrancelha.
— Amoroso? — Ele concordou com um
aceno rápido — Talvez eu não esteja numa
boa posição para isso.
— Mesmo assim? — Miguel sorriu meigo e
Ekaterina balançou a cabeça.
— Você é muito fofinho quando quer.
Parece um filhotinho.
— Sou seu primo favorito, não é?
— O Lucas é mais fofinho.
Miguel fez careta.
— Eu aqui me abrindo pra você e você
falando de outro. Que absurdo!
— Fala logo o que é!
Miguel mostrou a língua para ela e remexeu
as pernas.
— Então… Eu sei que gosto de uma pessoa.
Mas aí… Tem uma outra pessoa que eu acho
maneira, mas não sou apaixonado. Só que
ela tá se aproximando de outro e eu não tô
gostando disso.
— O cara é perigoso? É por isso? Ou pelo
fato de que ela pode ficar íntima dele?
Emocional e fisicamente? — Os olhos de
Miguel ficaram mais escuros e ele apertou os
lábios — Segunda opção, pelo que posso
ver.
— Eu… — Ele fechou os olhos, respirou
fundo, antes de os abrir e voltar a falar — Eu
só acho que ela tá se precipitando! Mas como
eu falo isso, sem parecer que eu tô com
ciúmes?
— Ela gosta de você?
— Não sei. Acho que sim — Miguel
suspirou — Não quero dar falsas esperanças.
Ekaterina concordou com a cabeça.
— Compreendo. É bom mesmo, não iludir.
Observe, veja se ela está indo rápido demais
ou não. O amor não tem velocidade, Miguel —
Ela estreitou um pouco os olhos — Só espero
que a pessoa de quem você gosta não seja a
sua cunhada. Esse é caso perdido.
Miguel engoliu em seco.
— Certo. Obrigado.
Ele sorriu sem graça, antes de se afastar.
Ekaterina fechou os olhos, mas ouviu
passos A mão de Bernardo começou a
levantar e chegou perto dos cabelos de
Juliana, que esperava ou um carinho ou que
Bernardo a “pegasse de jeito”. Os dedos dele
se enfiaram nos cabelos escuros e sedosos
dela, fixando-se atrás da cabeça dela, o rosto
dele se inclinando na direção dela.
— Você quer foder, não é? — Ele falou e
Juliana abriu a boca, surpresa com o
palavreado dele, então, sorriu, concordando
com a cabeça, mas Bernardo apertou os dedos
— Você é uma putinha?
— S-sou… — Ela passou a língua pelos
lábios, sorrindo — Eu sou o que você quiser.
Bernardo os virou, caminhando rápido para
frente, o que fez as costas de Juliana baterem
na parede. Ela arfou por ar.
— Calma…
Bernardo puxou mais os cabelos dela.
— Não sou nada a favor de agressão contra
mulher, mas se você voltar a abrir essa sua
boca imunda pra falar da minha noiva… —
Bernardo abriu um sorriso que causou
calafrios na espinha de Juliana. O rosto dele
estava bem próximo ao dela — Ela mesma
pode te quebrar inteirinha, mas eu vou fazer
questão de assistir!
— B-Bernar… Ai!
Ele sacudiu um pouco a cabeça dela, com
um puxão.
— Você tem sorte de eu não ser um filho da
puta descontrolado. Por hora — Bernardo
inspirou fundo — Ninguém pode falar dela,
tá entendendo? Se você nascesse cem vezes,
ainda assim, não seria digna de lamber o chão
por onde ela passa!
nada de especial em você — A voz feminina
falou. Ekaterina se virou aos poucos e
reconheceu a garota.
— Eu não estou com humor para te
entreter. Mete o pé.
— Bernardo é meu. Não sei o que rolou com
vocês, mas é melhor você largar dele! —
Juliana disse e sorriu de lado — É comigo
que ele dorme. Não adianta ficar jogando
charme pra ele.
Ekaterina soltou uma risada de desdém.
— Não vou ficar discutindo por causa de
homem. Com licença — Ela falou e tentou
passar, mas Juliana se colocou na frente, com
metade do corpo.
— Você não passa da vadia com quem ele
se divertiu na Rússia. Mas ele voltou e não
demorou pra ficar comigo — Juliana mostrou
um anel bonito, no dedo, dando a entender
que era um anel de noivado — Volta pra sua
terra fria e deixa o meu homem em paz.
Ekaterina odiou quando a garota se
aproximou de Bernardo, no sofá. Porém, ele a
recusou. Duas vezes. A vontade de Ekaterina
foi de escalpelar a atrevida, porém, ela se
lembrou de que Bernardo e ela não tinham
nada um com o outro e aquilo seria descabido.
— Você me dá pena. Um conselho de
mulher pra mulher: pare de se humilhar —
Ekaterina falou e continuou andando, dando
um esbarrão em Juliana.
— Sua puta russa! Aposto que ele nem te
comeu! — Ekaterina deu uma parada, mas
não olhou para trás — Ele gosta de garotas
mais amorosas, como eu. Você não tem nada a
oferecer!
*AGORA*
Ekaterina não respondeu nada e voltou a se
afastar. Ela queria matar a garota, mas aquele
não era o país dela e agir daquele jeito só a
faria parecer uma louca ciumenta. Bernardo
não merecia aquela satisfação!
Ela foi direto para onde os outros rapazes
estavam, enquanto Bernardo entrou na
varanda.
CAPÍTULO 46

— Voltou pra… — Juliana começou, mas


parou de falar quando viu que era Bernardo.
Ela sorriu, mordendo o lábio — Oi, gatão! Veio
aproveitar a varanda comigo?
Bernardo caminhou até ela, silencioso. O
barulho vindo de dentro da boate, combinado
com a penumbra da varanda, conferiam a ele
um ar feroz e sexy. Juliana sentiu o coração
batendo rápido.
“Será que ele finalmente vai me dar uma
chance?”, ela estava esperançosa.
Ele parou bem na frente dela, o que deu a
Juliana a chance de colocar as mãos no peito
dele, brincando com os botões da blusa dele,
de um jeito sedutor.
— A gente podia aproveitar melhor fora
daqui — Ela falou e olhou para cima.
Bernardo ainda estava calado, olhando-a de
uma maneira fria. Juliana se sentiu intimidada
imediatamente, mas engoliu em seco e
continuou — Um local mais discreto… Com
uma cama, de preferência. Garanto que você
vai amar.
Ele a soltou. Juliana soltou um gritinho e
escorregou pelo chão. As veias das têmporas
de Bernardo e do pescoço estavam
proeminentes. O rosto vermelho e os punhos
tremiam.
Quando Juliana olhou para cima, as
sombras que dançavam no rosto de Bernardo
lhe faziam parecer um demônio.
— Acredito que eu tenha sido claro —
Bernardo endireitou a blusa e saiu dali.
Ele olhou em volta e não havia sinal de
Ekaterina, nem de Miguel ou Pyotr.
“Merda!”, ele rosnou internamente, indo
para fora da sala V.I.P. e escaneando a pista de
dança. Ainda assim, não viu nenhum deles.
Bernardo soltou o ar, irritado, passou a mão
pelos cabelos e saiu dali.
Ao chegar em casa, Máximo o esperava na
sala.
— Filho, vem aqui, por favor — Ele pediu e
Bernardo, que planejava dar um “boa noite” e
subir, respirou fundo e concordou,
aproximando-se do pai.
— O que houve, pai?
— Senta — Máximo deu um tapinha no
sofá. Bernardo olhou em volta e não havia
sinal nem de Carolina e nem de Artur. Após se
sentar, ele encarou o pai — Filho, eu não
gosto de ficar de rodeios. Seguinte: quando
você pretende falar com Ekaterina e, claro,
com os pais dela, e voltar pra Rússia?
— Mas do que…?
— Não se faça de desentendido, Bernardo.
Eu aturo muita coisa, sonsice, não — Máximo
o olhou muito sério e finalmente soltou o ar
que estava prendendo — Desde que os russos
chegaram, você está outro. Fica seguindo
Ekaterina. Eu observo de longe, mas não sou o
único. O pai e a mãe dela tem os olhos em
você.
— Não estou seguindo… — Bernardo
tentou desconversar, mas o olhar do pai o fez
abaixar a cabeça — Certo. Eu só quero vê-la.
Só isso. Tentei conversar, ela não quer falar
comigo.
— E dá pra julgar? Você não falou com ela,
agora, é a sua vez de receber o tratamento de
gelo. Na realidade, ela é até muito educada e
comedida — Máximo balançou a cabeça —
Você foi na boate, atrás dela. Eu tive medo
que ela conhecesse outro rapaz e você
perdesse…
Bernardo se colocou de pé, rangendo os
dentes.
— Ela não vai conhecer rapaz nenhum!
Máximo se levantou junto.
— Ah, vai, sim! Ela tem dezessete anos, é uma
moça bonita, cheia de vida e num meio em
que, na maioria das vezes, casamentos
arranjados são necessários — Máximo
colocou a mão no ombro do filho — Essas
moças casam quando fazem dezoito anos,
muitas vezes.
Ekaterina é inteligente, Jannochka jamais a
obrigaria, mas… A garota pode decidir por um
casamento de conveniência, Bernardo.
— Não vai — Ele negou com a cabeça,
apertando os lábios — Eu sei que não.
Ekaterina não é assim!
— Vai pagar pra ver? Filho, você anda
esquentado, de mau humor. Vi como você
ficou olhando pro mafioso lá na casa do
Osvaldo — Máximo coçou atrás da cabeça —
Eu não era muito diferente de você. E eu
quase me ferrei bonito.
— A mamãe e você terminaram, não foi?
Ela mencionou algo sobre um “período
separados”, mas vocês não falam muito…
— Eu me deixei levar pelo ciúmes, duvidei
da sua mãe, duas vezes — Máximo engoliu em
seco e o olhar dele ficou sombrio — Ela estava
grávida. Ela foi embora e eu quase fiquei sem
vocês.
Bernardo franziu o cenho.
— Grávida? O senhor… Abandonou a
mamãe, grávida?
Máximo se sentou no sofá e concordou com
a cabeça, apoiando os braços nos joelhos,
olhando para baixo.
— Eu pedi o divórcio. Nós nos separamos
mesmo, Bernardo — Máximo olhou para o
filho, que o encarava, chocado —
Praticamente a joguei na rua. E eu nunca vou
me perdoar por isso. Agi impulsivamente, fui
imbecil, burro mesmo. E eu tive que perdê-la
pra poder tomarjeito. Não desejo isso a você.
Bernardo se sentou ao lado do pai e os dois
ficaram em silêncio, cada um em seu próprio
mundo, por um tempo.

— Mas Ekaterina não me quer mais.


— Sua mãe estava noivo de outro —
Máximo sorriu para o filho — E me aceitou de
volta. A questão é: você vai aguentar a máfia?
CAPÍTULO 47

— Ao mesmo tempo que sinto que poderia


matar qualquer infeliz que levantasse um
dedo pra Ekaterina, eu não sei se realmente
vou ter estômago pra ver certas coisas, de
gente que não a ameaçou, diretamente.
Máximo fez bico, pensativo.
— Eu não sou da máfia, mas pelo que eu
entendo, se alguém ameaça a Organização,
ameaça os membros. E Ekaterina é a filha
da Don — Máximo olhou o filho — Isso não é
ameaçar indiretamente? Se essa pessoa
tivesse a chance, com certeza mataria
Ekaterina, a faria refém, essas coisas.
Bernardo franziu o cenho. Jannochka já
havia dito algo parecido pra ele, lá no início.
Porém, Bernardo não conseguia lembrar
daquele ensinamento até aquele momento.
— É verdade…
— Eu me sinto péssimo pai por estar
jogando você pra esse meio — Máximo fez
careta — Só que eu quero você feliz. E por
experiência, eu sei muito bem que nem tudo é
ou preto ou branco. Sim, eles fazem coisas
erradas, mas também fazem coisas boas.
Máximo se sentia em conflito quando
aquele assunto surgia, já que Osvaldo era um
amigo para ele e a família. Sempre esteve lá
para ajudar, mesmo quando ele podia ter
dado um fim em Máximo, se quisesse ter
Carolina para ele. Ou ter fingido que os
problemas dos Castillo não existiam, já que
não estavam relacionados a ele.
— Vai dormir, filho. E pensa direito. A
Páscoa tá aí e logo os russos vão embora.
Bernardo deu um beijo no rosto do pai,
antes de subir para o próprio quarto. Ele
tomou um banho e praticamente se jogou na
cama, sem colocar qualquer roupa.
Os olhos dele foram para o notebook, em
cima da escrivaninha e ele sorriu, triste,
lembrando dos dias em que ficava
conversando com Ekaterina. De quando a
pediu em namoro.
Ele olhou o celular dele e, pelo que parecia,
continuava bloqueado. Bernardo mandou um
único ponto, a fim de conferir e, por mais que
já esperasse, a confirmação doeu.
— Ah, que droga! — Ele reclamou,
fechando os olhos e pensando no que fazer.
Não que ele tivesse superado Ekaterina, mas
Bernardo pensou que talvez sem ter contato
com ela, ele poderia acabar conseguindo levar
a vida.
“A quem você quer enganar? Está malhando
pra ficar mais forte, faz luta e ainda está
aprendendo russo!”, ele falou para si mesmo e
sorriu, sem abrir os olhos.
— Eu sou muito burro, mesmo! — Ele
cobriu o rosto com o outro travesseiro.
“Como é que eu vou falar com ela? Pedir pra
voltar?”, ele se perguntou e começou a
imaginar as opções. Assim, ele adormeceu.
Pela manhã, Bernardo acordou convicto do
que queria: Ekaterina.
— Bom dia! — Ele disse, sorridente e
sentou-se à mesa.
— Bom dia, filho! — Carolina respondeu,
alegre.
Máximo olhou para o filho, que apenas
devolveu o olhar, sorrindo e começou a
comer.
Quando Bernardo foi para a faculdade e
Artur para a escola, Máximo comentou com
Carolina que o filho mais velho deles tinha
tomado uma decisão com certeza.
— Espero que dê tudo certo.
O dia foi cheio e Bernardo não conseguiu
falar com Miguel. Ele queria poder conversar
sem interrupções, mas nem mesmo na hora
de almoço, foi possível.
— A Ju não veio. Será que tá doente? —
Uma garota perguntou a outra, passando
perto de Bernardo, de propósito. As duas
olharam sorridentes para ele, que não deu
atenção e se voltou para o caderno dele.
“Tomara que não volte nunca mais”, ele
pensou e então, sorriu de leve. “Ekaterina…”
No caderno, ele escreveu “Ekaterina
Castillo”, bem como “Bernardo Sigayev”. A
segunda opção parecia a mais plausível, se ele
tomasse Santiago como exemplo.
O sinal tocou e Bernardo saiu como uma
flecha, indo para o carro e ligando para
Miguel.
Porém, o aparelho do rapaz deu fora de
área. Um medo invadiu Bernardo e ele
imediatamente tentou mandar mensagem
para Miguel. Apesar de não receber o que foi
enviado, a foto de Miguel ainda estava ali.
“Ele deve tá fora de área, só isso”, Bernardo
tentou se acalmar. Ele não seria louco de
tentar falar com Pyotr.
O número de Aleksey estava ali e Bernardo
apertou os lábios, incerto. O menino não era
bem humorado e, após o que houve, não
parecia inclinado em engajar em conversas
com o loiro.
“A esperança é a última que morre”.
BERNARDO: Oi!
A mensagem foi recebida, o que o deixou
esperançoso. Bernardo olhava para a tela,
cheio de expectativas.
Aleksey ficou online e saiu. Alguns minutos
depois, novamente, mas não leu a mensagem
de Bernardo.
“Será que ele tem aquele negócio que não fica
azul quando lê?”, Bernardo mordeu a
bochecha internamente, balançando as
pernas, ansioso. “E se eu ligar?”
Mais cinco minutos e Bernardo decidiu
arriscar. Primeira tentativa, ninguém atendeu;
segunda tentativa, idem.
— Só mais uma…
Respirando fundo, Bernardo clicou em
“ligar” de novo e a ligação foi atendida no
primeiro toque.
— Quando alguém não te atende logo e não
lê ou responde suas mensagens, tem duas
opções: ou não quer ou não pode! — Aleksey
falou, irritado. Bernardo sorriu com o jeito
mau humorado do garoto.
— Preciso falar com Ekaterina — Bernardo
soltou. Pra quê ficar dando voltas?
— Então ligou pro número errado! —
Aleksey ainda estava se acostumando aos
horários do México e, para ele, já era muito
tarde — Tchau!
— Calma aí! Ela me bloqueou!
— Não é problema meu.
— Aleksey! Qual é… É sério. Eu quero
acertar as coisas com ela.
— Mais um motivo pra não falar comigo.
Não vou ajudar!
— Olha…
— Até eu sei que o tratamento de silêncio
que você deu foi escrotice! — Aleksey falou
mais baixo ao falar aquilo, o que fez Bernardo
imaginar que o garoto devia estar próximo a
Osvaldo ou Emília — Ekaterina merece
alguém no nível dela!
— Eu vou estar ao nível que ela quiser que
eu esteja! — Bernardo devolveu e Aleksey
levantou as sobrancelhas, ainda que
Bernardo não pudesse ver — Por favor, eu
preciso falar com ela.
— Só lamento.
— Aleksey…
— Ela voltou pra Rússia — Silêncio — Se
não vai dizer mais nada, tô desligando!
— Hey! Por que ela voltou? O que houve?
CAPÍTULO 48

“Não seja por não querer mais me ver,


por favor!”, Bernardo pediu em
pensamentos.
Aleksey soltou o ar, como se estivesse
cansado.
— Teve um problema. Todos meteram
o pé e me deixaram aqui — Bernardo
podia
imaginar Aleksey trincando o maxilar.
— Que problema? — Bernardo
perguntou, franzindo a testa.
— Problema de máfia! Ora, mas que
pergunta! Olha, eu não quero ser
estúpido, mas tô de péssimo humor e não
posso ajudar, de todo jeito. To indo nessa.
A ligação foi encerrada.
Bernardo olhou o relógio. Só Maksim
poderia ajudá-lo, mas era muito tarde.
Ele não ia ligar para o rapaz durante a
madrugada.
— Aaargh! — Bernardo dirigiu de volta
para casa.
Ao abrir a porta de entrada, viu Artur
com um balde de pipoca, subindo as
escadas.
— Credo, que cara é essa? — O menino
perguntou.
— Ekaterina viajou! Ela foi pra Rússia!
Artur desviou os olhos por um
momento, e voltou a focá-los no irmão.
— Mas ela mora lá, né?
Bernardo soltou outro grunhido de
insatisfação.
— Só que eles iam passar a Páscoa
aqui! E agora, ela se foi!
— Vocês não namoram. Nem se falam…
Estalando a língua, Bernardo manteve o
olhar em Artur, que levantou de leve os
ombros,
sem entender.
— É exatamente esse o problema,
Artur!
O menino fez uma careta.
— Eu não tô entendendo é mais nada…
Bernardo sacudiu a cabeça, indicando
que o assunto estava encerrado e subiu as
escadas na frente do irmão. Ele ainda
tinha aula de luta, naquele dia, mas não
estava nem um pouco interessado. A
cabeça dele estava a mil, pensando em
Ekaterina.
RÚSSIA
O avião já estava em solo russo e
Ekaterina se sentia estranha. Ver e falar
com Bernardo a havia afetado mais do
que ela gostaria de admitir.
— Não entendo o motivo da gente ter
voltado! — Pyotr resmungou, antes de
descerem.
Santiago e Jannochka já estavam
entrando no carro.
— Não sei, mas deve ter sido algo sério
— Ekaterina respondeu, olhando para
frente.
Pyotr ligou o celular dele e o aparelho
vibrou, minutos depois. Várias mensagens
de Lisa.
No carro, Ekaterina viu o irmão sorrir e
ela sorriu junto.
— Quando vou conhecer a minha
futura cunhada?
Pyotr franziu o cenho.
— Já tá querendo me acorrentar?
— Meu querido, se você estiver mais do
que apaixonado por ela, já está
“acorrentado”.
Ele fez um beicinho.
— Tenho medo de ela não me querer,
por ser da máfia.
— Vai ter que falar com ela, com
jeitinho.
Ekaterina não comentou nada, mas
quando ela fez uma “visitinha” a Kazimir,
viu a tal garota e algo não lhe desceu. E, à
época, yotr não tinha absolutamente
nada com a garota.
— Ela é sensível, sabe?
— Sensível tipo… Atenciosa ou
chorona?
— Rina! — Ela riu — Lisa se atém aos
detalhes. Acredita que ela compreendeu
que eu gosto de xadrez só porque eu
mencionei uma vez?
Ekaterina sorriu, mas por dentro, a
informação soou errada aos ouvidos dela.
Pyotr não gostava de sair falando que
gostava do tal jogo para não parecer
“careta”, como ele mesmo dizia. Então,
nas raras ocasiões em que falava algo, não
era bem com muito amor ao esporte.
— Nossa, realmente… — Ela comentou
— Ela deve gostar muito de você, pra
prestar tanta atenção.
Pyotr sorriu, depois, ficou mais sério e
fechou o rosto, olhando para a gêmea.
— Está insinuando que eu não sou
alguém interessante?
— Se a carapuça serve… — Ekaterina
deu de ombros e Pyotr abriu a boca,
ofendido.
— Sou seu irmão favorito ou não?
— Você é o meu único irmão, tonto.
— E daí?
— Você é boboca assim, com ela? Se
for, ela é mais tonta do que você.
— Ei, ei, calma aí. Não pode falar assim
dela… — Pyotr apertou os lábios e
Ekaterina riu.
Mesmo irritadiço, ele não pôde deixar
de ficar feliz. A irmã dele quase não
sorria, depois do que houve com
Bernardo.
— Desculpe, desculpe — Ela falou e
abraçou Pyotr.
Eles estavam para chegar na casa,
quando houve um barulho de estouro e o
carro pendeu
para um dos lados. Atingiram o pneu.
Pyotr e Ekaterina tiraram as armas e se
abaixaram, esperando o veículo parar.
O motorista se abaixou, antes de usar o
retrovisor para olhar em volta.
— Meninos, eu vou levá-los para a
mansão — Ele falou e os gêmeos
concordaram.
Por mais que quisessem ser úteis, no
caso de uma briga, a ordem era que os
gêmeos, herdeiros de Jannochka,
deveriam ser levados a um lugar seguro.
Principalmente quando eles eram
menores de idade.
Assim que a porta se abriu, tiros.
— Malditos! — O motorista falou. O
carro de Jannochka com Santiago vinha
mais atrás e, claro, eles já estavam a
postos.
Santiago fez cobertura para que
Jannochka pudesse entrar na mansão. Ela
era uma Sigayev por sangue e, claro,
esposa dele. Apesar de durona, Santiago
havia dito que não abriria mão de
protegê-la em um embate e, no fim, a Don
cedeu.
O primeiro a sair do carro foi Pyotr.
— Você vai na frente e eu te protejo —
Ele falou para a irmã.
— Eu posso…
O olhar severo do rapaz deixou claro
que ele não queria discutir. Pyotr discutia
muito com a irmã, mas em certas
ocasiões, principalmente quando se
tratava da segurança dela, ele não
aceitava que ela ganhasse.

— Você é minha irmã e eu vou te


proteger, Ekaterina. Agora, vá na frente!
Ou quer que eu eve uma bala na cabeça,
por ficar preocupado com você?
Ela estreitou os olhos para o irmão,
mas fez como ele pediu.
“Só porque eu sei que ele realmente
ficaria nervoso”, ela disse para si mesma.
Eles estavam atrás da porta traseira,
aberta. Pois saíram pela porta dianteira e
usaram ade trás como escudo.
O motorista estava na frente de
Ekaterina, portanto, ela tinha a proteção
na frente e atrás.
Mas, como ela bem sabia, a cabeça
estava desprotegida de um tiro à
distância, do alto.
Uma das balas passou raspando pelo
rosto dela e atingiu o motorista, que
rosnou baixo,mas continuou. Pyotr atirou
na direção e um homem caiu, morrendo
quando o crânioatingiu o chão.
Eles entraram pela lateral da mansão e,
assim que estavam passando pelo
caminho deplantas, estrategicamente
posicionadas ali, chegar até a construção
foi o mais fácil.
— Mas que filhos da puta! — Pyotr
gritou, assim que a porta se fechou atrás
dele. Então,segurou Ekaterina pelos
braços e a revistou rápido com os olhos.
— Não tô ferida!
Ele a puxou para um abraço e ergueu os
olhos para o motorista. O médico de
plantão na casa chegou rápido e começou
a cuidar do ferimento do homem.
Pyotr ainda não tinha soltado a irmã,
que colocou as mãos na cintura dele e
empurrou, para afastá-lo. Ele a apertou
mais.
— Eu odeio quando você passa por
esses perigos, Rina.
Ekaterina relaxou mais e abraçou o
irmão.
— Digo o mesmo. Relaxa, tá tudo bem.
Só precisamos agora saber quem fez isso.
Como o esperado, Santiago e Jannochka
entraram furiosos na casa. Ela olhou para
os meninos e, assim que eles deram um
leve aceno de cabeça indicando que tudo
estava bem, a Don passou rápido para o
escritório.
Santiago abraçou os filhos e xingou.
— Sua mãe vai vasculhar o inferno, mas
vai descobrir quem fez isso!
CAPÍTULO 49

Jannochka olhava para o computador, séria e,


quando Santiago entrou, ela não levantou o
olhar.

— Feche a porta.

Ele levantou a sobrancelha, porque sabia que


a situação deveria ser bem séria.

Eles haviam retornado à Rússia justamente


porque parecia estar havendo muito mais
ataques aos seus carregamentos de armas,
porém, não parecia que queriam apenas
roubar, mas sim invadir as salas dos
depósitos. Salas estam que continham cofres.
Como muitos ataques surpresas foram feitos,
inclusive apenas para matar, sem roubar
absolutamente nada, Jannochka preferiu estar
no próprio território. Ela e os filhos. No
México, por mais que Osvaldo tivesse grande
controle, a fortaleza da Tambovskaya era em
Moscow.

— Quem são?

— Os calabresa. O maldito do Chiarello quer


guerra! — Ela deu um soco na mesa —
Desgraçado! Eu é quem deveria atacar a porra
da família dele, depois do que o pai dele fez…

Santiago colocou as mãos nos ombros da


esposa, por trás.
— Mas porque ele está fazendo isso só agora?
Que eu saiba, Ildebrando Chiarello já está no
poder há muitos anos. Quase vinte anos, o
mesmo tempo que você, meu amor.

— Sim… Mas apesar de serem muito ricos, os


cretinos da N’drangheta tiveram muitos
conflitos internos — Ela remexeu a boca —
Ele começou a brigar com os italianos dos
Estados Unidos. Agora, pelo visto, mudou o
foco.

Santiago foi sentar-se na cadeira em frente à


mesa de Jannochka.

— Acha que é porque estamos ligados à La


Cicuta, que se uniu em casamento com a Máfia
de Atlanta?
Jannochka suspirou.

— Não sei se é isso. Você é irmão do Osvaldo,


certo. Mas ainda assim, eu acho que essa não é
a razão para os ataques. Eles não foram tão
brutais com os italianos, sendo que são
inimigos há tempos. E não estão atacando a
Camorra ou a Cosa Nostra como estão
atacando a gente.

— Vamos ficar espertos. Aumentar a


segurança. Pyotr e Ekaterina não podem mais
sair juntos.

Jannochka concordou com a cabeça.


— Não quero os dois saindo por aí,
livremente. Não até que eu descubra como foi
que esses cretinos conseguiram invadir nosso
território. Tem que ter alguém de dentro…

Ekaterina colocou o celular para carregar,


tomou banho e foi deitar-se. Ela olhou para o
aparelho, pensando que adoraria que o objeto
vibrasse com mensagens de Bernardo, como
antigamente.

“Mas não vai. Você o bloqueou”, ela se


lembrou e suspirou.

Lembrar das palavras do loiro, e da oferta de


“amizade” que ele fez, a encheram de nova
raiva.
Ela se sentou e jogou uma das almofadas da
cama longe.

— Como ele se atreveu?! Bernardo Castillo,


seu cachorro miserável!

Ekaterina deixou-se cair na cama e ficou


olhando para o teto, após bufar umas tantas
vezes.

A imagem da garota na boate, se esfregando


em Bernardo e ele apenas a censurando, fez o
sangue de Ekaterina borbulhar ainda mais.

— Eu devia encher a sua cara de socos,


Castillo! — Ela socou o ar — Deve andar se
divertindo muito com aquela vadia!
As palavras de Juliana, apesar de Ekaterina
não ter dado grande importância aparente, na
verdade, ficaram ecoando no juízo dela.

“Será que ele andou com aquela garota,


mesmo? Isso justifica ele ter se mantido
calado!”.

— Preciso parar de ficar pensando nesse


garoto idiota! — Ela se virou de bruços e
encostou a testa no colchão — Ele só estava
com uma paixonite e eu fui burra em acreditar
que um garoto doce como ele se interessaria
por alguém como eu.

Ela ficou em silêncio por uns minutos.


— Amigos! Que ódio!

O sono demorou, mas chegou, para Ekaterina.

Pela manhã, Maksim foi falar com a prima,


logo depois que o café da manhã terminou.

— Rina?

Ela se virou para o loiro.

— Oi!
— Hmmm… Eu quero falar com você, pode
ser?
Ekaterina franziu o cenho, mas concordou,
levando-o para uma das salas.

— Aconteceu alguma coisa? É sobre o


Lukyan?

Maksim negou com a cabeça.

— Não. É sobre… — Maksim levantou o olhar


— Bernardo.

Primeiro, Ekaterina ficou tensa, parada.


Depois, ela inspirou fundo e olhou para o lado.
— Eu não tenho nada a ver com ele.

— Rina, ele veio falar comigo — Maksim disse


e os olhos de Ekaterina se voltaram para ele,
cheios de raiva.

— E por que isso me diz respeito?

— Por que você bloqueou o cara e ele quer


falar com você — Maksim colocou as mãos
nos bolsos — Eu não justifico ele ter te dado o
gelo, mas acho que ele tá arrependido.

— Problema dele — Ekaterina cruzou os


braços — Se era só isso, eu…
— Pera! — Maksim ficou na frente da prima
— Bernardo ama você. Eu sei que sim. E você
o ama, prima!

— Às vezes, Maksim, o amor não é o


suficiente.

— E às vezes, uma boa conversa, é — Ele


falou, dando o sorriso gentil tão típico dele —
Só quero você bem e sei que, apesar de não
ficar choramingando, você sente a falta dele.

Os olhos de Ekaterina quiseram encher de


lágrimas e ela virou o rosto, mas Maksim
segurou de leve o queixo dela, fazendo-a
encará-lo.
— Amo você como a uma irmã muito, muito
querida, Rina. Não perca o que te faz feliz por
orgulho. Pode não perdoá-lo logo, mas… Pelo
menos conversa e vê o que o seu coraçao te
diz.

Maksim beijou o rosto de Ekaterina e saiu da


sala, deixando-a sozinha.

Ekaterina tirou o celular do bolso e foi para os


contatos, desbloqueando Bernardo.

— Espero não me arrepender disso… — Ela


falou para si mesma e colocou o aparelho de
volta no bolso e saindo da sala.
Mesmo depois de chegar de viagem, ela iria
treinar. Com ataques ocorrendo, era melhor
se preparar cada vez mais.
Por estar na bolsa, o celular vibrou várias
vezes, mas Ekaterina não viu. Não até que já
estivesse quase na hora de dormir.

Ela pegou o aparelho, finalmente, e havia pelo


menos vinte mensagens de Bernardo.
Ekaterina franziu o cenho, preocupada.

Ao abrir o app de mensagens instantâneas, ela


percebeu que Bernardo havia pedido
desculpas de várias formas, mandou alguns
vídeos com mensagens feitas por ele e com
algum toque de humor, o que fez Ekaterina
rir. No fim, ele pedia para que ela aceitasse
falar com ele por vídeo.
CAPÍTULO 50

Pela hora, ele devia estar na faculdade, ainda.

EKATERINA: ok.

Foi a resposta dela.

O celular dela vibrou segundos depois.

BERNARDO: Vou pra casa!

EKATERINA: Não, você vai assistir a sua aula.


Nos falaremos no fim de semana. Até.
Bernardo soltou um muxoxo. Ele precisava
falar com Ekaterina. E ela ter aceitado a vídeo
chamada já o deixou muito feliz e
esperançoso.

“Ela vai voltar a ser minha, só minha!”.

O restante do dia parecia se arrastar e


Bernardo estava impaciente.

— O sistema… — Alguém bateu à porta,


interrompendo o professor e ele foi ver quem
era — Sim?

— Ah, professor Telles, preciso do Senhor


Castillo — Uma das moças que trabalhava na
secretaria do curso pediu e o professor olhou
para Bernardo.

— Senhor Castillo, por gentileza, poderia


acompanhar a senhorita Braga?

— Sim, claro — Ele se levantou e a moça


olhou o material dele.

— Acho que é melhor o senhor trazer as suas


coisas.

A sala toda ficou em completo silêncio.


Bernardo se sentiu um pouco constrangido
com os olhares, mas fez como lhe foi pedido.
Os passos dele ecoavam pelos corredores, que
estavam mais vazios, já que as aulas estavam
ocorrendo.

— Sobre o que é isso? — Bernardo perguntou


e a secretária parecia nervosa.

— Eu não sei exatamente, mas… Tem


policiais, lá.

— Policiais? — Isso deixou Bernardo ainda


mais confuso.

— Sim. Eu nem deveria ter dito isso, eu acho…


— Milena respondeu, mais para ela do que
para Bernardo. Ele não perguntou mais nada.
Assim que entrou na sala do Diretor de Curso,
o Reitor estava lá, juntamente com mais dois
homens.
— Senhor Castillo? — Um dos homens
perguntou. A careca dele brilhava sob a luz da
lâmpada. Ele mostrou o distintivo — Sou o
policial Josué Obregón, este é meu colega,
Kevin Ureña, e gostaríamos de conversar com
o senhor.

O outro policial, de cabelos curtos e


levemente espigados, Ureña, o olhava com
frieza, mas não desprezo. Bernardo tomou
aquilo como uma forma de se manter
profissional.

— Tudo bem — Bernardo então sentiu um


arrepio na espinha — Aconteceu algo com
meus pais? Meus irmãos?
“Clara é casada com Tonny!”, ele logo sentiu o
peito apertando.

— Não. Não é com a sua família — Obregón


suspirou — Se importa de ir conosco até a
delegacia?

— Eu só queria saber o que tá acontecendo…


— Bernardo olhou para o Diretor e o Reitor,
que o encaravam estranho.

— Nos acompanhe. Pode ir no seu carro.

Bernardo os acompanhou e, alguns alunos do


lado de fora que viram o distintivo de Ureña,
começaram a cochichar.
No carro, Bernardo avisou ao pai.

Carolina, que estava lendo ao lado do marido,


enquanto este ouvia a mensagem do filho pelo
fone bluetooth, levou um susto quando
Máximo se levantou de pronto.

— O que foi?

— Uns policiais levaram Bernardo pra


delegacia.

Ela se levantou.
— Mas, como assim?

— Não sei. Vamos saber disso agora!

No caminho, pelo qual Máximo dirigia como


louco, Carolina avisou Emília, por mensagem.
Esta falou com Osvaldo.

— Eu avisei os Herrera — Ela anunciou e


Máximo suspirou.

— Amor, se estiverem acusando o Bernardo


de alguma coisa, ele ter contatos com os
mafiosos não vai ser lá de muita ajuda, não
acha?
— Eles vão pensar duas vezes antes de acusar
nosso filho de algo. Algo que ele não fez, tenho
certeza, seja lá o que for.

Na sala de interrogatório, o policial colocou


uma pasta na mesa e a empurrou para
Bernardo. Ele olhou a foto.

— Essa é… Essa garota estuda na faculdade…

— Juliana Belfonte. O senhor é amigo dela?

Bernardo negou com a cabeça.

— Não. Ela fala comigo, eventualmente. Mas


não somos amigos — Ele achou melhor não
comentar, pelo menos ainda, sobre Juliana
ficar tentando ter algo romântico com ele.

O policial Obregón passou a língua pelos


dentes da frente.

— Namorados?

— Não, senhor. Eu tenho uma noiva, mas ela


mora na Rússia. A senhorita Belfonte e eu não
temos absolutamente nada nesse sentido.

— Mas vocês saiam juntos. Foram ao


shopping…
— Não — Bernardo negou com a cabeça — Eu
fui ao shopping e tive o desprazer de topar
com ela. Só isso.

— Desprazer… Então, havia animosidade


entre vocês.

Bernardo suspirou.

— Pode-se dizer. Ela queria sim algo comigo.


E não aceitava muito bem o fato de eu rejeitá-
la e ter alguém.

— Vocês brigaram? — Obregón perguntou,


como se estivesse apenas curioso, mas
Bernardo não era burro. Ele sabia muito bem
que a pergunta não era à toa.
— Ela abordou a minha noiva, numa boate, há
alguns dias. Falou algumas coisas
desagradáveis. Depois, eu conversei sim, com
ela, pedindo que parasse de nos atormentar.
Depois disso, eu saí do local e fui atrás da
minha noiva, que estava irritada.

— E passou a noite com sua noiva? Qual o


nome dela? Talvez fosse bom ouvir o lado
dela da história.

— Minha noiva, como eu falei, é da Rússia. Ela


já voltou pra lá. No dia seguinte, mesmo.
Problemas familiares que eu não sei quais são
exatamente — Bernardo suspirou de novo —
Quanto a passar a noite com ela, não. Eu fui
para a minha casa, já que não consegui falar
com ela.
— Qual o nome dela? — O homem encarava
Bernardo fixamente.

— Ekaterina.

— Ekaterina de quê?

— O senhor não a conhece. Ela não mora


aqui…

— Senhor Castillo! — O policial falou um


pouco mais ríspido, olhou para baixo com um
meio sorriso, como se estivesse se
controlando — Qual o nome dela?
Vendo que era melhor não ocultar nada,
Bernardo resolveu falar.

— Ekaterina Sigayeva.

Obregón não era o policial mais importante


dali, mas o sobrenome Sigayev não era
desconhecido.

— Sobrinha de Osvaldo Herrera?

— Sim, senhor. Osvaldo Herrera é como um


tio, pra mim. Ele é o padrinho da minha irmã.
E sogro dela.
O rosto de Josué empalideceu um pouco, mas
ele não se deixou intimidar. Assim que abriu a
boca para falar, alguém bateu à porta.

— Ah, delegado Romero! — Josué falou e


Eduardo olhou para dentro da sala, vendo
Bernardo ali.

— Senhor Castillo… — Eduardo olhou para


Josué — Policial Obregón, podemos
conversar?

— Estou quase terminando aqui, delegado…

— Por favor.
O tom incisivo de Eduardo deixou claro que
aquele não era um pedido. Josué olhou para
Bernardo, antes de seguir Romero para fora.

Máximo e Carolina estavam na recepção,


esperando notícias. Eles viram quando
Eduardo passou por dentro.

Osvaldo havia ligado para Eduardo e pedido


que o mesmo verificasse o que estava
acontecendo. Como Eduardo tinha um carinho
pelo garoto, ele o fez sem qualquer cerimônia.

— O que o jovem Castillo faz aqui?


CAPÍTULO 51

— Ele é suspeito da morte de Juliana Belfonte


— Josué falou sem rodeios — Não me dê esse
olhar! Tenho provas de que ele a encontrou e
eles brigaram feio!

— Ele a agrediu? A ameaçou? — Eduardo


perguntou, ainda que não acreditasse naquela
possibilidade. Ele soube que Bernardo havia
viajado para a Rússia, para ficar com os
Sigayev e aquilo só podia significar que o loiro
faria parte da máfia. Mas ainda assim… — Que
provas são essas?

— Fotos deles juntos. Fotos numa boate, uma


que pertence aos Herrera — Obregón passou
a mão pela careca — Não sei como ainda não
estão presos!
— O que o senhor Castillo fez, Obregón?

Josué moveu a mandíbula, irritado.

— Ele a agrediu fisicamente. Depois, saiu da


boate. Ela saiu um pouco depois. A câmera da
rua não conseguiu pegar muito bem, mas o
carro parece ser o do garoto aí dentro —
Josué engoliu em seco — A garota entrou,
sumiu.

— Quando foi isso?

— Tem uns dois, três dias.

— E ninguém deu falta dela, antes?


— Ela tem um apartamento e os pais não
ficam em cima. Porém, quando ela não
apareceu na aula, algumas amigas entraram
em contato com eles, já que a garota não
atendia as ligações. Elas pensaram que Juliana
estava doente e ficaram preocupadas.

— Onde ela foi encontrada? — Eduardo


perguntou — E por que raios eu não fui
informado disso antes?

— É que coincidiu de recebermos a denúncia


do desaparecimento com encontrarmos o
corpo. Numa lixeira, não muito longe da
boate.

— E as fotos?
— Recebemos anonimamente — Josué
respondeu, desviando de leve o olhar.

— Anonimamente? — Eduardo soltou um


suspiro — Você não acha isso estranho, Josué?

— Pode ser. Mas temos as fotos. O Castillo


esteve com ela. O carro que a pegou parece
ser o dele! O que mais você quer? Agora só
precisamos das digitais e do DNA.

— Como ela morreu?

— Estrangulada. Mas não com dedos, e sim


com uma corda.
— Violência sexual?
— Sim, mas não há vestígio de semem.
Cortaram os dedos dela, provavelmente para
que não ficasse pedaço de pele do agressor
debaixo das unhas. Mas encontramos algo na
boca dela, quando foram fazer o exame da
arcada dentária…

Eduardo sacudiu a cabeça.

— Termine de conversar com o senhor


Castillo, e a não ser que ele confesse ou você
tenha provas contundentes, não o prenda. Eu
vou verificar os exames da senhorita Belfonte.

Josué meneou com a cabeça e entrou na sala.


Bernardo olhava para baixo, para a mesa de
metal.
— Senhor Castillo, vamos direto ao ponto:
você matou Juliana Belfonte?

Bernardo ficou olhando para o policial por um


tempo, como se o cérebro dele fosse incapaz
de compreender o que tinha sido dito.

— Desculpe… Matar? Ela tá… Morta? —


Bernardo olhava com surpresa e Josué pensou
que, ou ele era inocente, ou um excelente ator!

— O que fez com ela depois que ela entrou no


seu carro?

— Huh? No meu carro? Quando isso? Juliana


Belfonte nunca entrou no meu carro!
Josué pegou as cópias das fotos e as colocou
na frente de Bernardo. A foto do carro dele
parado perto da saída dos fundos da boate,
depois, Juliana entrando no mesmo, o carro
dando partida.

A câmera do lado de fora não era a da Boate,


mas do prédio em frente. Havia uma lixeira
bem na frente da dianteira do veículo, o que
impossibilitava da placa ser vista, apenas o
final dela.

Bernardo olhou bem e o último número da


placa da foto coincidia com a dele, mas ele
sabia muito bem que foi direto para casa,
depois da boate. Certo, ele havia ficado alguns
minutos em uma rua mais vazia, apenas para
se acalmar. Mas não saiu do veículo e
ninguém entrou no mesmo. Depois, ele só
parou em casa.

— Esse carro não é meu.

Josué mostrou a foto do carro de Bernardo e a


colocou do lado da foto anterior.

— Pois me parece ser o mesmo. E esse carro


não é o tipo que a gente vê muito pela rua,
senhor Castillo. Uma Ferrari Spider não é o
tipo de veículo que qualquer um possa ter.
Ainda mais nessa cor, azul cintilante — Josué
apoiou as duas mãos na mesa e encarou
Bernardo — Você a matou porque ela ficava
te perseguindo, ou era o contrário? Ela te
rejeitou?
Bernardo puxou o ar e ia se levantar, mas se
controlou.

— Eu não matei ninguém! — Ele disse


entredentes.

Mais fotos na mesa.

— Mas a ameaçou! Você a prensou numa


parede, de maneira agressiva, enquanto
segurava os cabelos da garota!

— Não a matei! Isso não prova que eu fiz isso!


— Bernardo levantou a voz — E sim, ela me
perseguia, mas eu não quis nada. Quando ela
faltou com o respeito com a minha noiva, eu
acabei sendo mais bruto, porém, eu não fiz
nada além disso!

— Não a queria? Então, por que a estuprou? A


enforcou com uma corda. Fetiche? — As
narinas de Josué estavam infladas — Vamos
fazer um exame de DNA, senhor Castillo. Ou
vai se recusar?

Bernardo só podia dizer que ou era um


terrível mau entendido, ou alguém estava
armando para ele. E isso o colocava em uma
situação complicada. Se ele fizesse o exame e
fosse coincidência, ele se livraria do
problema; Se fosse armação, ele estaria
ferrado, bem como se ele se negasse a realizar
o DNA.
— Pode fazer.

Eduardo olhava para as provas. Ele suspirou,


esfregando os olhos com as pontas dos dedos,
sentado em sua cadeira.

— Eu duvido que Bernardo tenha feito isso…


Esse DNA não pode ser dele.

Na boca de Juliana, havia cabelo, Mas Eduardo


não notou qualquer falta de cabelo em
Bernardo. Nenhum arranhão nos braços ou
pescoço. Dois dias não seriam suficientes.

— Se fosse o caso, por que tirar os dedos, mas


não os dentes? Por que não queimar a vítima?
Jogar ácido?
Havia formas de se livrar de um corpo.

— Ninguém anda com um alicate, ou uma faca


amolada o suficiente para cortar dedos. Ainda
mais em um carro… Não, seria um alicate. O
crime teria que ser premeditado.

Josué pediu também o celular de Bernardo, a


fim de ler as conversas dele. O rapaz ficou
desconfortável, mas permitiu, afinal, não
havia nada ali que o incriminasse.
— Seus pais estão lá fora. Pode ficar com eles
e aguardar. Verificaremos seu celular e, caso
seja necessário mais tempo com o mesmo,
avisaremos. Não saia da delegacia, garoto!

Josué estava em dúvida. O jovem pareceu


realmente falar a verdade, porém, muitos
loucos conseguiam até mesmo enganar o
bolígrafo, portanto, as provas eram o que
ditariam o futuro de Bernardo Castillo.
CAPITULO 52

— Meu filho! — Carolina abraçou Bernardo,


chorosa. Depois, levantou o rosto e o olhou de
cima a baixo — O que foi que aconteceu?

Bernardo olhou para trás e fez sinal para que


os pais se sentassem e, assim, eles ficariam
mais distantes da recepção e de outras
pessoas.

— Uma garota da faculdade, que vinha


tentando me convencer a sair com ela… —
Bernardo olhou para as próprias mãos — Ela
morreu. Ou melhor, mataram ela.

— E o que você tem a ver com isso? —


Máximo perguntou e, pela cara de Bernardo,
ele compreendeu — Estão acusando você?
— Sou o suspeito principal, pelo que parece
— Bernardo apoiou os braços nos joelhos e
cobriu o rosto — Eu não sei como isso!

— Me conta o que… O que houve — Carolina


tremia os lábios — Eu sei que você não fez
isso.

Bernardo olhou para a mãe, o rosto dele todo


vermelho.

— Eu fui bruto com ela. Quando eu a ouvi


falando de Ekaterina… — O loiro desviou o
olhar e Máximo viu um pouco de si, ali —
Aquela… — ele soltou o ar, cansado — Me
descontrolei e dei uma prensa nela.
— Você bateu nela? Encostou nela? —
Máximo estava com os olhos fechados.

— Sim. Eu enfiei as mãos nos cabelos dela e a


empurrei contra uma parede. Mas eu tentei
não ser bruto demais! Isso não a matou! —
Bernardo balançava as pernas, os braços em
cima e as mãos entrelaçadas — Quando eu saí
daquela varanda, Juliana Belfonte estava viva!

— E quais provas eles têm?

— Aparentemente, fotos. Fotos de quando ela


e eu nos encontramos por acaso no shopping,
a gente na boate…
— A boate é do Osvaldo! — Máximo se
lembrou.

— Sim, mas tiraram do outro lado da rua, pelo


ângulo — Bernardo soltou o ar em uma
baforada cansada — Falaram que ela entrou
no meu carro, mas a foto não mostra a placa!

— A porra de uma armação… — Máximo


conclui — Mas por quê? Você não fez nada a
ninguém.

Carolina estava calada, pensativa. Ela só


conseguia pensar que tinha algo a ver com a
máfia. O que não fazia sentido era o motivo de
estarem com Bernardo como alvo.
— Senhor Bernardo Castillo? — A policial da
recepção chamou e Bernardo se levantou,
caminhando até o local — Por favor, o
delegado deseja falar com o senhor.

Com um último olhar para os pais, Bernardo


passou pela catraca..

Ele foi levado até a sala de Eduardo, que


estava perdido em pensamentos, quando
bateram à porta.

— Entre! — Ele disse e se ajeitou na cadeira.

— O senhor Castillo — A policial anunciou e,


com um aceno de cabeça de Eduardo, a
entrada de Bernardo foi autorizada — Sente-
se, Bernardo.
Eduardo o encarou por alguns momentos,
antes de voltar a falar.

— Foi você?

— Não — Bernardo respondeu


imediatamente.

— Você machucou Juliana Belfonte?

— Provavelmente. Mas não desse jeito! —


Bernardo engoliu em seco e relatou
novamente o que aconteceu na boate — Eu
sei que fui bruto, mas eu fiquei com raiva! Só
que eu não a matei!
— Tinha alguém com você? Alguém que possa
afirmar que você foi da boate para casa, sem
que Juliana tenha entrado em seu carro?

Bernardo negou com a cabeça.

— Não —O loiro suspirou — Eu fiquei


pensando na vida. Sabe que Ekaterina e eu
estávamos…

Brigados , não é?

Eduardo sabia. As mulheres que ele conhecia


fofocavam e ele sempre acabava ouvindo tudo
o que Jade tinha a dizer, ao fim do dia. Como
ele não saberia?
— Você disse que ela é sua noiva, para o
policial Obregón. Isso não é verdade.

— Nós vamos nos entender. Ela e eu voltamos


a nos falar — Bernardo disse com convicção e
Eduardo sorriu de leve.

“Jovens…”

— Olharam o seu telefone. Realmente, não há


nada ali que te ligue à Juliana. Porém… —
Eduardo mirou Bernardo — O telefone dela
não diz o mesmo.

Bernardo franziu a testa.


— Eu nunca troquei mensagens ou ligações
com ela. Não era próximo a ela.
Eduardo tirou um papel da impressora e o
entregou a Bernardo.

— Segundo esse registro aqui, você tem um


outro número. Número esse que andou sim de
conversas com ela.

Bernardo negou com a cabeça.

— Impossível…

— Bernardo, você pediu que ela te


encontrasse atrás da boate.

— Não…
— E tem imagens do que parece ser o seu
carro…

Bernardo se levantou.

— Eu NÃO a matei!

Eduardo permaneceu quieto.

— Sente-se — Bernardo o fez, ainda


fumegando — Não estou acusando você. Eu te
conheço quase que desde que nasceu,
podemos dizer assim. Ainda que você tenha
andado com uma galera pesada, Bernardo, eu
sei que não faria isso.
“Galera pesada” era uma referência aos
integrantes da máfia, em especial, aos russos.

— Podem revistar meu carro. Eu não o


aspirei, desde que fui pra boate. Estive
ocupado e eu mesmo gosto de limpar o meu
veículo — Bernardo falou — Não tenho nada
a esconder.

— Excelente.

— Eu posso ir pra casa? E ter meu celular de


volta?

Eduardo apertou os lábios.


— Nós temos um pequeno problema,
Bernardo: havia cabelo seu na boca de Juliana.
Ou melhor, já indo pra garganta.

— Como é? — Bernardo riu, nervoso — Vão


dizer que eu a fiz comer meus cabelos, é isso?

— Não. Numa luta, isso pode ter acontecido.


Mas… Eu não vejo sinais de briga, em você.
Poderia levantar mais a sua blusa, por favor?
As mangas?

Havia câmeras ali na sala dele, é claro.


Bernardo levantou a manga e havia alguns
poucos hematomas.

— Eu faço luta — Ele se justificou.


— Eu vou pedir que o nosso médico dê uma
olhada em você. Sem a blusa.

Bernardo fechou os olhos. Ele tinha uns


arranhões no peito, quando se coçou durante
o sono e havia deixado a janela aberta. Algum
inseto, provavelmente.

— Tenho arranhões, se é isso que quer saber


— Bernardo falou — Eu me arranhei!
Dormindo!

Eduardo soltou o ar.

— Tá ficando difícil, Bernardo.


— Eu já disse que…

— E eu já disse que não duvido de você. Mas


não sou eu o julgador. E as provas estão se
fechando contra você.

Bernardo olhou para baixo por alguns


segundos e ergueu o rosto para Eduardo.

— Eu quero um advogado.
CAPITULO 53

Osvaldo andava de um lado para o outro, no


escritório. Ele sabia muito bem que estavam
armando para Bernardo. Mas quem? E por
quê?

A porta se abriu e ele viu Emília entrando.

— Eu bati, mas você não respondeu — ela


falou e entrou, fechando a porta atrás dela e
caminhando até o marido — Já tem ideia de
quem pode estar armando pro Bê?

Osvaldo suspirou fundo e se apoiou na mesa,


de braços cruzados.
— Bernardo não tem inimigos, que eu saiba.
Soube que houve algumas intercorrências na
Rússia, mas ainda assim… Talvez estejam
envolvidos, não descarto a possibilidade —
Osvaldo coçou o queixo, pensativo — Mas
algo me diz que pode ter dedo da Máfia
Vermelha ou…

Emília mordeu o lábio e passou os braços pelo


pescoço de Osvaldo, que lhe enlaçou a cintura.

— A ‘Ndrangheta? — ela perguntou e Osvaldo


concordou com a cabeça — Eles foram os
responsáveis pela morte da mãe da Janna, não
é?

Osvaldo concordou novamente com a cabeça.


— Eles se mantiveram mais quietos com
relação à Tambovskaya, porém, ataques mais
frequentes começaram e por isso mesmo que
eu não deixei Miguel voltar, nesse momento
— Osvaldo acariciou as costas da esposa,
enquanto ela apoiava a cabeça no peito dele
— Depois do que houve com Clara, ficou óbvio
que nós estamos sendo alvo, mas… Talvez não
sejamos o alvo principal, e sim os Sigayev.

— Por que toda ess abriga entre eles? Digo, eu


sei que muitas máfias tem problemas por
conta da concorrência. Entendo os da Máfia
Vermelha, mas o que houve para que os
calabresa se envolvessem desse jeito na vida
dos Sigayev?

Osvaldo olhou para a esposa e a pegou no


colo, arrancando um gritinho dela. Ele se
sentou na larga poltrona de couro marrom,
com ela em suas pernas.

— Nessa época, eu estava afastado da máfia.


Mas, pelo que eu soube, Aronne Chiarello, pai
do atual Don de lá, era um homem muito,
muito cruel. E ele nunca superou o fato de que
Stella preferiu ser uma Sigayev do que uma
Chiarello.

Emília ficou de boca aberta.

— Tá me dizendo que a mãe da Jannochka foi


cortejada pelo antigo Don da ‘Ndragheta?

— Sim. Ele era louco por ela. Os Sigayev e os


Chiarello tinham uma boa relação. Stepan e
Aronne eram amigos. Stella era uma mulher à
frente do tempo dela, não abaixava a cabeça
facilmente e Aronne se apaixonou. Porém,
Stepan também e ela correspondeu ao russo,
não ao italiano. Começaram as brigas aí.
— Mas pelo que eu li sobre as máfias, Aronne
Chiarello casou quase na mesma época…

— Eu não sei os pormenores. Só sei que


quando a esposa do Chiarello morreu, ele foi
atrás de Stella. Recebeu mais um “não” e ficou
louco. E deu no que deu. Ele tentou arruinar
os Sigayev, mas no fim, quem perdeu a vida
foi Stella. Ele ficou instável, depois disso e o
filho dele assumiu.

Emília soltou um suspiro.


— Mas que história complicada. Só que… Por
que Ildebrando Chiarello se meteria com os
Sigayev? Deveria ser o contrário, já que os da
Tambosvskaya foram os ofendidos.

— Isso eu não sei, meu amor. Mas lembre que


eles estavam junto com os japoneses. Podem
ser só negócios agora. Clara é irmã de
Bernardo e esposa de Tonny. Seria como
acertar dois dois lados, porque nós temos
conexões com os italianos e com os russos.

— Estamos no meio do fogo cruzado, Osvaldo!


O que vamos fazer? Como vamos ajudar o
Bernardo? Ele não tem culpa de nada disso!

— Bernardo não jurou, mas ficou com os


Sigayev, tem um relacionamento com uma
Sigayeva e, portanto, faz parte do nosso meio.
Ele é cunhado do meu sub-chefe, Emília.
Infelizmente, quando estamos nisso, não há
inocente.

Emília olhou para baixo, triste. Bernardo


ainda era uma criança, aos olhos dela. A
primeira-dama da La Cicuta ainda podia ver o
bebê loirinho, com bochechas rosadas e um
sorriso lindo, balançando os pés descalços e
as mãozinhas gorduchas.

— Ele vai pra cadeia? Carolina me disse que o


advogado da família foi chamado. Estão
acusando o garoto de assasinato.

— O nosso advogado já entrou em contato


com os dos Castillo. Não podemos nos
envolver abertamente, para não terem mais
algo contra o rapaz.

— E se o acusarem?

Osvaldo olhou para frente, os olhos faiscando


de raiva.

— Não vão. Nem que eu queime a maldita


delegacia e o prédio da Justiça, Emília.
Bernardo é como um filho pra mim e você
sabe.

Ela sorriu.
— Eu sei, meu amor — Ela beijou-lhe o
pescoço e Osvaldo suspirou, apertando a
cintura da esposa.

— Te amo demais, Emília — Ele tomou os


lábios da esposa e a fez se sentar em cima
dele, uma perna de cada lado.
— Estamos, bem dizer, sozinhos na casa…
Podemos ir para a piscina coberta…

— Gosta de ser comida na água, né? — Ele


perguntou, com um sorriso safado no rosto.

— Eu gosto de ser comida por você, seja onde


for.
Emília adorava ter Osvaldo nela, e, naquele
momento, ela queria distraí-lo um pouco dos
problemas. Pelo menos por uma hora.

Enquanto isso, Bernardo estava em uma das


celas da delegacia. O advogado conversava
com Eduardo e, por mais que este quisesse
liberar Bernardo, não podia. As provas
apontavam para ele.
“— O fato de eu conhecer a sua família vai
exigir ainda mais das minhas ações.” , Eduardo
havia dito isso, como se pedisse desculpas a
Bernardo, quando fechou a grade da cela.

Sozinho, o loiro estava sentado no catre,


balançando as pernas nervosamente,
enquanto arruinava as unhas ao puxá-las do
canto.
Aquela situação acabaria com as chances dele
na universidade e em conseguir um bom
emprego. Claro, ele queria voltar para a
Rússia. Não pelo local, mas porque Bernardo
já tinha se decidido: Ekaterina era o que mais
importava e ele não queria perder mais tempo
longe da moça.

“Se eles me aceitarem de volta”, ele sorriu,


amargo. Depois de ter abandonado tudo,
talvez nem mesmo Ekaterina o quisesse. Ela
era educada e madura. Ter aceitado falar com
ele não significava perdoá-lo. “Eu vou provar
a ela que a amo e que fui um babaca por ter
dado o gelo”.

A ansiedade de estar longe daquelas grades e


poder se declarar para Ekaterina, olhando
para ela através da câmera, o estava
consumindo. Antes, ele queria ao menos
manter o contato com ela, porém, naquele
tempo ali na delegacia, Bernardo não teve
mais dúvidas. Agora, ele só precisava falar
com a russa e lamber o chão, se ela quisesse.

Uma sensação ruim se espalhava dentro de


Bernardo, como se ele tivesse pouco tempo.
Não era exatamente sobre Ekaterina não
aceitá-lo, mas sobre não vê-la nunca mais.

— Vai ficar tudo bem… Eu não matei ninguém,


vou sair daqui e vou atrás da mulher da minha
vida — Ele sorriu, bobo, cheio de esperanças,
imaginando o momento em que teria
Ekaterina novamente nos braços.
Na Rússia, Ekaterina soube o que aconteceu e
estava no escritório, olhando para a mãe,
esperando a resposta da mesma.
CAPITULO 54

— Você não vai para o México — Jannochka


respondeu, ainda com os olhos nos
documentos à frente dela.

— Mãe, Bernardo não fez nada! — Ekaterina


quase rosnou, mas se controlou, afinal,
Jannochka era a Don.

— Eu sei — Foi a resposta tranquila da russa.

Ekaterina soltou um ar de frustração.

— E não vai fazer nada? Estão acusando o


Bernardo de assassinato! Isso é injusto!
— Eu não sou uma super-heroína que fica
indo pra cá e pra lá salvar pessoas que nada
tem a ver com a minha família — Jannochka
colocou o documento na mesa e olhou para a
filha — Bernardo Castillo é sobrinho do
Osvaldo Herrera, não meu. E nós estamos com
as mãos cheias, aqui, para que eu procure
mais sarna pra me coçar.

— Mãe… — Ekaterina havia colocado o


orgulho dela de lado, para pedir permissão a
fim de ir ajudar Bernardo. Como, ela não
sabia, mas estar ao lado dele já seria o
suficiente.

— Não. A resposta não vai mudar. Seja lá


quem armou tudo isso, pode querer que você
vá atrás dele. Bernardo não ficaria nada feliz
com isso. Seria mais uma preocupação na
cabeça dele que, nesse momento, está numa
cela dentro da delegacia.

Ekaterina colocou as mãos sobre os joelhos e


os apertou, sentindo as unhas machucarem a
pele, ainda que por cima da calça.

— Eu o amo, mãe.

— Eu sei disso. Ele está vivo por isso,


Ekaterina — Jannochka colocou as mãos em
cima da mesa — Depois do que ele fez e de
como saiu daqui, se não fosse pelos seus
sentimentos por ele, eu mesma o teria
executado. Porém, isso te machucaria e eu
jamais faria isso com você. Apenas numa
situação extrema.
Ekaterina sabia que a mãe não estava
mentindo. Bernardo entrou na Tambovskaya
e, ainda que não tivesse jurado lealdade e
pudesse sair quando quisesse, ao menos, ele
deveria ter dito algo. O loiro simplesmente
pediu para ir ao México e não mais retornou.
Além disso, ele havia ferido Ekaterina e isso
Jannochka não perdoava.

— Ele pediu pra falar comigo. Acho… Acho


que ele quer voltar.

— Não.

Ekaterina levantou os olhos e franziu a testa.

— Não?
— Bernardo Castillo não é mais bem-vindo
aqui, Ekaterina. Como Don, não posso
permitir que uma pessoa instável de decisões
se infiltre no meu ninho; Como mãe, não
posso fechar os olhos para o que ele fez com
você. Tudo devido à indecisão do que ele
realmente quer — Jannochak suspirou — Ele
é um adulto. E deve lidar com as
consequências dos atos dele.

Ekaterina fechou os olhos e respirou fundo.

— Mas e se eu o quiser de volta? — Ekaterina


perguntou e abriu os olhos.

— Eu me oponho. Até eu ter certeza de que


Bernardo Castillo não vai virar as costas pra
você, novamente, eu não permitirei isso. E, aí
sim, Ekaterina, ele estará condenado caso
você decida ir contra mim.

— Ele…

— Nem tente justificar. Durante esses meses,


você foi em missões que te colocaram em
perigo. Você se machucou e, por mais que nós
não tenhamos contado nada a ele, em nenhum
momento ele buscou saber de você. Ele podia
ao menos ter perguntado a Osvaldo, ou à
própria irmã. Mas não. Ele se manteve
afastado e silente.

— Eu entendo… — Ekaterina não ia discutir.


Não adiantaria e Jannochka só ficaria com
mais raiva — Posso me retirar?
Jannochka observou a filha por mais alguns
segundos, antes de tirar uma pasta de dentro
da gaveta.

— Fique de olho nessa pessoa.

Ekaterina abriu a pasta e piscou algumas


vezes.

— Mas ela…

— Sim, eu sei. Fique de olho. E mantenha a


discrição.

A jovem sabia o que aquilo significava.


— Sim, senhora. Se tiver algo errado…?

— Eu sei parte do que tem errado com ela.


Mas, preciso que alguém da minha inteira
confiança mantenha os olhos nela. Só assim eu
vou decidir se ela vive ou se morre.

Um bolo na garganta de Ekaterina se formou,


mas ela concordou.

— E filha? — A Parkham chamou, fazendo


Ekaterina se virar à caminho da porta — Não
tente entrar em contato com ele.

Ekaterina acenou e saiu dali.


No caminho para o quarto, ela se deu conta de
que Bernardo talvez estivesse melhor preso
na delegacia do que solto, podendo levar um
tiro na cabeça. Eduardo Romero era delegado
e ela tinha certeza de que o homem cuidaria
para que o jovem Castillo não sofresse danos
enquanto sob vigilância da polícia.

“É melhor eu ficar longe. Se estiverem indo


atrás de Bernardo por ele ter se envolvido
comigo… “, ela inspirou fundo. “Vou ficar
longe”.

Jannochka esperava ter dado a ideia para a


filha. Sim, ela ficou muito magoada com as
atitudes de Bernardo, mas ela não odiava o
rapaz, muito menos desejava o mal dele. Ela
sabia que, enquanto a Tambovskaya fosse o
alvo, o melhor para Bernardo era ficar longe
deles.

— Vamos ver quanto tempo os cretinos da


‘Ndrangheta vão demorar pra mudar de rumo.

Os italianos aparentemente melhoraram


muito na questão de sistemas operacionais,
pois Jannochka estava tendo mais trabalho
para invadi-los. Ela conseguiu algumas
informações, porém, algo lhe dizia que
estavam ou incompletas ou eram falsas.

Pelo que ela havia de informação, o filho de


Illdebrando, Tiziano, era muito bom com
computadores. Já sobre Leontina, não havia
muita informação, apenas de que era uma
moça pura italiana.
— A Máfia Vermelha está com eles… Eu sei
disso. Os japoneses deram pra trás. Mas os
franceses… Eles sempre foram parados e
estão crescendo sem justificativa — Ela
passou a língua pela ponta de um dos caninos
superiores — Não é apenas sobre armas.

No dia seguinte, Jannochka recebeu uma


ligação que ela definitivamente não esperava.

— Acho que nossas famílias já passaram da


hora de se entenderem — a voz rouca do
outro lado da linha disse — Se nos unirmos,
seremos a maior máfia do mundo.
CAPITULO 55

— Zinon Tchekhov… Que surpresa a sua


ligação — Jannochka respondeu — A que
devo a honra do contato?

Zinon soltou uma risada do outro lado, o que


fez Jannochka ficar ainda mais séria.

— Adoro o seu senso de humor, Jannochka…


Gosto como o seu nome é pronunciado.
Jannochka Sigayeva — Ele tamborilou os
dedos no tampo da mesa em frente a ele —
Ekaterina também soa muito bem. Porém,
vejamos… Ekaterina Tchekhov. O que lhe
parece?

— Se ligou procurando um casamento de


negócios, esqueça.
Zinon passou a língua pelos lábios. Ele era um
homem paciente.

— Acredito que a sua filha deva ter um dizer


nisso, não?

— Eu sou a Don.

— Eu sei. Ou não estaria falando com a


senhora, não é mesmo?

Jannochka havia recebido uma ligação do pai


de Zinon, anos antes, quando este queria
juntar as duas máfias. Mas Stepan se recusou,
deixando à cargo de Jannochka a decisão final.
Ela, claro, negou. Já sabia que Zinon era um
homem astuto e inteligente, porém, com um
péssimo caráter. Ele casou com outra assim
que Jannochka disse “não”.

— Você vem nos atacando. E não negue. eu sei


que sim. Agora pede um acordo… Por quê? —
Santiago colocou a cabeça para dentro do
escritório e Jannochka fez sinal para que ele
entrasse. Ela colocou a chamada em viva-voz.

— Você teve baixas. Eu tive baixas… Somos os


líderes e devemos pensar de maneira
racional. Se nos unirmos, seremos mais fortes
e nossos membros ficarão mais seguros.

— Poderia ter pedido isso antes de nos atacar


de maneira ferina, como tem feito. Tentou
matar meus filhos!
Jannochka estava sem muita paciência, o que
Zinon percebeu.

— Ossos do ofício. Não leve à mal — Ele deu


de ombros, mesmo que Jannochka não
pudesse ver — Agora, Don da Tambovskaya…
Por que não faz como o seu pai e permite que
a sua filha decida?

— Eu era maior de idade…

— Por favor, Janna…

— Não sou sua amiga para que me chame por


apelidos — Santiago já estava com os olhos
queimando de ódio, querendo pegar o
aparelho e dizer umas poucas e boas para
Zinon. Jannochka percebeu e apontou para o
telefone.
— Nós quase nos casamos e…

— E não casaram! — Santiago esbravejou —


Peço que seja mais respeitoso, Don Zinon! —
Santiago mordeu a língua para não xingar o
homem.

— Ah, você deve ser o cachorrinho mexicano!


Que maravilha! Por que não se senta, como
um bom menino, e espera a sua dona tratar de
negócios?

— Ora, seu filho da…!


Jannochka pegou o telefone de Santiago, que
continuou xingando, mas agora, não estava
mais em viva-voz. Zinon ria do outro lado.

— Vou caçar você e os seus — Jannochka


desligou e se levantou da cadeira, indo até
Santiago e abraçando-o.

— Esse maldito desgraçado filho de uma puta!


— Santiago estava todo vermelho — Só você
pode me chamar de cachorrinho!

Ela segurou o rosto do marido e o beijou.


Santiago foi se acalmando aos poucos e
jogando a raiva no beijo. Ele a colocou em
cima da mesa e começou a abrir as calças de
Jannochka.
— Você… Ah! Queria falar sobre o quê? —
Jannochka perguntou, tentando colocar as
responsabilidades em primeiro lugar.

— Nada tão urgente quanto eu te foder


gostoso agora mesmo!

Ele tirou a blusa da esposa, e mais outra,


jogando-as para trás e puxando o soutien para
baixo em um dos lados. Quando enfiou um dos
seios de Jannochka na boca, bateram à porta e
ele grunhiu, chupando o seio com um estalo,
ao tirá-lo da boca.

— O que foi?! — Pelo tom irritado, a pessoa já


entendeu que não era bem-vinda.
— Ah… É que o senhor Pyotr saiu, tentamos
contato e nada!

Santiago respirou fundo, os olhos fechados.

— Já vamos! — Ele respondeu, irritado e deu


um passo para trás — Vou ficar com as bolas
roxas…

Jannochka soltou uma risadinha, levantando


da mesa e pegando a blusa mais próxima, em
cima de uma das estantes.

— Continuaremos isso depois. Prometo.

Santiago passou a mão pelos cabelos.


— O que aquele maldito queria, afinal? Ele
falou sobre a Ekaterina decidir algo. O quê?

— Casar — Jannochka respondeu, passando


os braços pela outra blusa — Ele quer casá-la
com o filho dele, Konstantin. Eu fui contra.

Santiago concordou com a cabeça, furioso.

— Nem a pau! Ekaterina não vai se misturar


com essa escória!

Jannochka beijou o rosto do marido e andou


na frente.

— Vamos ver o que Pyotr andou arrumando.


O casal foi para a garagem, onde dois soldados
esperavam por eles.

— E como assim ele sumiu de vista? —


Jannochka perguntou — Eu mandei ficarem
de olho!

— Perdão, Parkhan! — Um deles pediu, a


cabeça baixa — O senhor Pyotr parecia estar
indo visitar um rapaz que ele conhece. Já o
vimos por lá, antes. Porém, foi uma moça
quem entrou no carro. Depois disso, ele
acelerou e nos despistou.

Jannochka estalou a língua, balançando a


cabeça.
— Não é possível que… — Um carro entrou na
garagem, cantando pneus.

— A donzela chegou! — Santiago jogou as


mãos para cima, antes de cruzar os braços.
Pyotr desceu do veículo e, quando viu os
quatro olhando para ele, engoliu em seco.

— Oi, mãe! Oi, pai! — Ele os cumprimentou.


Pyotr pensou que os soldados estavam apenas
sendo implicantes, mas vendo os pais ali, ele
entendeu que estava sendo mesmo seguido,
com ordens oficiais.

— Escritório. Agora!
Jannochka ordenou e se virou, andando para
dentro da casa.

Pyotr olhou para o pai, que apenas balançou a


cabeça e estendeu o braço, como que abrindo
passagem para o filho.

— Depois de você — Santiago falou para o


filho e olhou por sobre o ombro — Obrigado!
— Ele disse para os soldados.

Jannochka entrou no escritório e estava


bufando. Pyotr entrou e ela o segurou pela
orelha.

— Aaaah! — Ele reclamou e levantou o olhar.


Jannochka estava furiosa.
— O que foi que eu falei? Heim? — Ela
perguntou e apertou mais a orelha do filho,
que dessa vez, não soltou qualquer som —
Estamos numa porra de uma guerra! Eu falei
para não saírem se não fosse extremamente
necessário!

— Eu… Eu tive que…

— Teve que ir galinhar? É isso? — Ela


perguntou e Pyotr segurou o gemido de dor.

— Eu gosto dela. Não fui galinhar.

Jannochka aproximou o rosto do de Pyotr.


— Gosta? — Jannochka tirou a arma da
cintura e puxou o gatilho. Santiago arregalou
os olhos, mas não se mexeu — Acha que isso é
bom ou ruim pra ela? Heim? Os seus inimigos
vão te seguir, vão te ver com essa linda garota
loira e…

A arma foi para a testa de Pyotr.

— Janna… — Santiago estava sentindo a


garganta seca.

Jannochka soltou Pyotr, mas a arma ainda


apontava para o rapaz, que foi ao chão. A
arma disparou.
CAPITULO 56

Pyotr olhava para a mãe, os lábios tremendo.


Ele sentiu a bala passando por ele e o
deixando surdo daquele lado, exceto pelo
zumbido.

Com um olhar rápido, ela indicou a Santiago


que não se metesse. Ele confiava nela e sabia
que jamais machucaria os filhos, por isso,
mesmo que o corpo dele tenha tido o impulso
de se colocar na frente, esbravejar, ele não o
fez.

— Você é meu filho, Pyotr, mas não vai


colocar ninguém em perigo!

— Li-lisa…
— FODA-SE a Lisa! Sua irmã, seu pai, seus
companheiros! Todos eles dão as vidas uns
pelos outros, pra que um moleque mimado e
inconsequente como você jogue-os no colo
dos inimigos! Eu fui muito complacente com
você.

— Amor…

— Santiago, agora não! — Ela pediu,


respirando pesado, sem tirar os olhos de
Pyotr — Você vai ficar na droga dessa mansão
até eu dizer que pode sair, nem que eu tenha
que te acorrentar, me ouviu? — Jannochka
deu um passo à frente e segurou o colarinho
do filho, erguendo o rapaz — Se você pensa
em ser o próximo Don, ou mesmo um sub-
chefe, é melhor você começar a criar colhões e
pensar no conjunto, e não só em si!
Ela o soltou com força e apontou para a porta,
com a arma ainda em punho. O rapaz não se
atreveu a dizer nada, apenas engatinhou um
pouco e se levantou, saindo dali.

Não havia viva alma do lado de fora do


escritório. Se alguém ouviu o tiro, sabia que
era melhor não ficar pelo caminho. Pyotr
subiu as escadas, ainda lívido, pálido.

— Não precisava ter quase acertado a cara do


nosso filho! — Santiago reclamou e Jannochka
o olhou feio.

— Ele puxou a você — Ela retrucou, dando de


ombros, e Santiago soltou uma risada de
desdém.
— Então, ele ser um idiota ele puxou a mim?

— A quem mais, Santiago? Quem é o


impulsivo, aqui?

Santiago apenas remexeu a boca, pois sabia


que Jannochka estava certa.

— Ele só é emocionado.

Ela se sentou na cadeira, soltando a arma em


cima da mesa, acompanhado de um longo
suspiro.
— Se a emoção dele ceifar vidas
desnecessariamente, então é bom ele ficar
apático, Santiago. Esse garoto não é um mero
soldado. Ele é o nosso herdeiro! Se, Deus nos
livre, acontecer algo aos Herrera, você e,
depois ele, são os próximos no poder — Ela
sacudiu a cabeça — E essa garota!

As palavras saíram por entre os dentes.

— Você sabe quem é ela? Lembro que


comentou algo sobre uma espiã. É ela?

— Não tenho total certeza, mas algo não me


cheira bem. A vida dela é… Perfeitinha
demais.
— Informações plantadas? — Santiago
perguntou e Jannochka concordou com a
cabeça.

— Não tem nada. Nem nela e nem nos pais


dela. E pelo que andei observando, quando
pude, é que ela envolveu Pyotr muito
facilmente — Jannochka olhou Santiago de
cima a baixo — Sabemos que ele herdou mais
isso de você: ser safado.

Santiago apertou os olhos na direção da


esposa.

— Safado? Eu? — Ele caminhou até onde


Jannochka estava sentada e colocou as mãos
nos braços da cadeira, inclinando-se na
direção da esposa — Vamos pro quarto e eu
vou te mostrar o que é ser safado!

Pyotr entrou no quarto e fechou a porta com


força, chutando a cômoda que ficava próxima.

— Mas que caralho! — Ele tirou a jaqueta e,


depois, a blusa. Ao se olhar no espelho,
acabou sorrindo quando seus olhos
vislumbraram a marca no pescoço.
Instintivamente, ele a tocou com a ponta dos
dedos — Lisa…

Pyotr suspirou pesado. Ele não iria mais ficar


negando nada. Estava sim apaixonado pela
garota. Ela era perfeita! Doce, mas não
grudenta; Linda, mas bem natural; Inteligente,
sem ser arrogante; sexy, mas nada vulgar.
Ele se jogou na cama, os braços abertos.

— Eu não vou ficar sem vê-la. De jeito


nenhum — Ele mordeu o lábio e pegou o
celular — Pelo menos a mamãe não confiscou!

Esse foi um dos medos dele, quando ela


estava bufando.

“Como um dragão!”, ele riu sozinho, abrindo o


app de mensagens.

PYOTR: Cheguei em casa, amor!

Ele ficou olhando o aparelho, como se isso


fosse fazer Lisa ver a mensagem. Ela ficou
online e o coração dele bateu mais rápido.
Toda vez que ele falava com ela, que ele a via,
que a tocava, Pyotr se sentia muito mais
abalado do que uma arma apontada pra ele.
LISA: E ficou tudo bem? Você disse que seus
pais tinham pedido pra você ficar em casa.
Não quero que se meta em problemas por
minha culpa.

PYOTR: Meu problema é se eu não puder te


ver.

LISA: (emoji de coração): Você é tão fofo!


(emoji de ursinho).

PYOTR: Ursinho?
LISA: Hahaha! Sim! Meu ursinho!

PYOTR: Isso não é lá muito másculo (emoji


com uma lágrima no rosto).

LISA: Ursos são fortes. Mas também fofos. Eles


protegem e são abraçáveis! Totalmente!

Pyotr sorriu de lado.

PYOTR: Quer me abraçar, Lisa?

Ela digitou, parou. Começou novamente e


Pyotr começou a ficar nervoso. Os dois não
tinham chegado aos finalmentes, mas naquela
mesma noite, eles haviam passado muito do
“beijar”. Lembrar de como Lisa encaixava no
colo dele, e como ela o chupou no pescoço,
enquanto ele se ocupava dos seios dela…

LISA: Quero. Muito.

O ar ficou preso na garganta de Pyotr.

PYOTR: Quero te ver.

LISA: Quando?

PYOTR: Agora.
Ele sabia que era um erro e que não deveria
mais sair. Porém, a vontade de estar com Lisa
era absurda! As palavras de Jannochka
apareceram em sua mente. E se os inimigos
tivessem seguido o carro dele e, agora,
soubessem de Lisa?

LISA: Hoje, não. Já aprontamos muito e sua


família vai brigar.

PYOTR: Eu aguento o castigo.

LISA: Não. E eu preciso dormir. Amanhã tenho


um teste na escola.

PYOTR: (emoji triste) Poxa, amor… Já tô


morrendo de saudade.
LISA: Amanhã vemos sobre isso. Tenho que ir,
agora (emoji de coração e de beijo). Boa noite!
PYOTR: Boa noite!

Os dedos dele coçaram para escrever um “Te


amo”, porém, ele ainda sentia que era cedo
demais. E se fosse amor?

— Eu tô fodido!

Bernardo estava morrendo de fome, cansado,


com frio e nervoso por não saber qual seria o
futuro dele.
CAPITULO 57

Som de passos ecoaram no chão de linóleo e


ele se levantou, ainda que sentindo uma leve
tontura.

— Bernardo! — Era Carolina, que correu


assim que viu o filho.

— Mãe! — Ele estendeu os braços pelas


grades, deixando-se ser abraçado, ainda que o
metal frio se interpusesse entre eles.

— Meu amor! Seu pai está falando com


Eduardo, como você tá?

Bernardo não queria preocupar Carolina.


— Bem, na medida do possível. Estaria
melhor fora daqui — Ele fungou — Eu não
entendo como é que tudo chegou a isso…

— As coisas vão se resolver… — Ela falou.


Carolina queria contar sobre o que Osvaldo
havia dito a eles, através de Clara, porém, e se
alguém os escutasse? — Tudo será resolvido e
você vai sair daqui. Limpo!

Bernardo sorriu, triste.

— Espero que sim, mãe. Eu sei que só pode


ser gente… grande, fazendo isso. Meu medo é
irem atrás de você, do papai, do Artur…
— Seu irmão está em casa. Pedimos uma
licença no colégio — Carolina explicou — Seu
pai só está trabalhando de casa. Eu tinha que
ir à fazenda, para verificar algumas coisas
sobre a escola, mas… Bástian compreendeu a
situação. inclusive, está vindo pra cá.

— Não, mãe! — Bernardo negou com a cabeça


— É perigoso!

— Por que é perigoso, menino? — Josué


Obregón perguntou, saindo da escuridão.
Bernardo engoliu em seco — Vamos, fale!

— Não grite com o meu filho! — Carolina


franziu o cenho e Josué respirou fundo.
— Senhora, por favor!

— Cuidado com o seu tom! — Bernardo quase


rosnou. Ninguém falaria num tom como
aquela com a mãe dele!

— Está me ameaçando, senhor Castillo? —


Josué perguntou, as sobrancelhas levantadas.
Carolina sentiu que o homem queria apenas
uma desculpa para manter Bernardo ali.

— Filho, não… — Ela o alertou.

— Não. Não é uma ameaça. Afinal, eu estou


aqui, atrás das grades, pela porcaria de um
crime que eu NÃO COMETI!
Josué puxou o ar por entre os dentes e
segurou a língua, apenas por respeito a
Carolina. A mãe não tinha culpa das ações do
filho.

— Isso é a Justiça quem dirá! Mas, pelo andar


da carruagem, meu jovem… – Josué sorriu de
lado — Você logo será transferido.

Bernardo sentiu o gosto amargo na boca.

— A Justiça, se correta, vai me liberar. Eu não


tenho medo disso. Tenho a consciência limpa!

— Meu filho não é assassino!


— Quem anda com assassinos, traficantes,
bandidos! — Ele olhou bem para Carolina —
Bandido é! Só porque não dispara uma arma,
não significa que não tem as mãos sujas do
sangue de inocentes!

— Não liga pra ele, mãe — Bernardo disse e


segurou a mão de Carolina, mesmo que
apenas com os dedos, já que ela havia se
afastado um pouco — Por que não vai pedir
pro papai passar aqui?

Carolina compreendeu que Bernardo queria


que ela se fosse, para que não lidasse mais
com o policial e, possivelmente, o loiro queria
falar sozinho com o homem.
— Farei isso, meu amor — Ela deu um beijo
na bochecha do rapaz e deu uma última
olhada, feia, em Josué.

“Uma mulher tão bonita e metida nisso…”,


Josué pensou, olhando para Carolina se
afastando. Bernardo estalou os dedos,
chamando a atenção do homem.

— Não fique olhando a minha mãe!

— Parece até que é o marido dela, garoto!

Bernardo sorriu debochado.

— Sorte sua que não sou.


“Só não quero que ele faça isso na frente do
papai porque isso o levaria pra cadeia. Mas
que esse filho da puta merecia uma surra,
merecia! Tarado maldito!”.

Josué levantou uma das sobrancelhas.

— Eu não sou seu inimigo, garotinho. Não


mesmo — Josué se aproximou das grades e
Bernardo recolheu as mãos — Acredite, você
está mais seguro aqui dentro do que fora.

Bernardo franziu a testa.


— O que está dizendo?
— Eu não sei de tudo, mas por algum motivo,
eu não acho que um toupeira como você seria
capaz de matar aquela garota — Josué coçou a
barbicha — Mas eu sei bem das suas
conexões, menino. Como dizem, com quem
porcos anda, farelo come.

— Não a matei! Por que diabos eu faria isso?


Eu estava apenas tentando me acertar com a
minha garota. E se não fosse por essa
sacanagem toda…

Josué suspirou e olhou em volta, as mãos nos


bolsos da calça. Apenas Bernardo estava
preso ali.

— Como eu disse, não sou seu inimigo. E


francamente, se sair daqui, espero que
repense com quem anda. A sua mãe, o seu pai,
o seu irmão… Eles vão pagar por isso. A sua
irmã já foi pro lado errado. Não faça o mesmo.

Josué não esperou resposta de Bernardo e


começou a se afastar.

— Pedirei que tragam comida! — Ele avisou,


sem se virar. Máximo apareceu no fim do
corredor — Senhor Castillo.

Máximo apenas acenou com a cabeça e foi até


Bernardo.

— Pai!
— Filho! — Máximo abraçou o rapaz — Achei
algo no seu carro que, talvez, possa te ajudar.

— O quê? — Bernardo o olhou, esperançoso.

— Você arranhou seu maldito carro,


Bernardo. Pela primeira vez, estou feliz que
seja barbeiro na rua.

— Eu não sou… Calma aí, como isso vai me


ajudar?

Máximo sorriu.

— De acordo com as câmeras de casa, o seu


carro está com tinta de onde você o arrastou.
Isso antes da sua saída, antes da morte da
garota — O sorriso de Máximo cresceu — E
ainda tá lá. Me diz que a prova contra você
não tem isso!

Os olhos verdes dos dois brilharam.

— Não! Eu arrastei o carro no estacionamento


do mercado. Mas esqueci de olhar… A
gravação não mostra nada disso! Espero que
sirva!

Osvaldo estava no escritório, quando alguém


bateu à porta.
— Entre!
Os fios de um castanho com um toque de loiro
apareceu. No escuro, eram como os cabelos de
Carolina, porém, em determinadas luzes,
Clara ficava loira. Ele preferia dizer que era
castanha, como a mãe. Mas Tonny insistia que
era loira.

— Senhor Herrera…

Ele sorriu.

— Entre, querida. E não me chame assim. Sou


seu padrinho e sogro.

Ela parecia contente e isso deu esperanças a


Osvaldo.
— Acho que Bernardo vai conseguir se livrar
dessas acusações. Tonny foi cuidar de
algumas coisas e eu quis deixar o senhor
saber.

Após conversarem, Osvaldo se sentia mais


aliviado, porém, algo ainda o incomodava.
Assim que Clara saiu, ele resolveu ligar para
um dos soldados e pediu que seguissem
Obregón de perto. Trocassem turnos, mas não
o deixassem sem vigilância em nenhum
momento.

Três dias se passaram e Pyotr não se


aguentava mais.

— Onde vai? — Maksim perguntou, quando


pegou Pyotr tentando escapar durante a noite.
— Porra! — Pyotr soltou baixinho, com a mão
no peito — Você parece assombração!

Maksim estava sério.

— A tia disse que não podemos sair assim,


Pyotr. Coloca os outros em perigo.

Pyotr revirou os olhos.

— Eu sei me cuidar!
— Todos aqui sabem se cuidar — Maksim
suspirou — Mas a nossa Don disse para
ficarmos em casa.

Pyotr apertou os olhos.

— Vai me dedurar?
CAPITULO 58

Maksim levantou o queixo.

— Vou.

Pyotr olhou o primo de cima a baixo.

— Pensei que sem o Aleksey aqui, eu teria


paz. Mas pelo visto, você resolveu tomar o
lugar dele…

— Estou apenas seguindo as ordens dadas.


Você deveria fazer o mesmo — Maksim
mantinha um tom educado, mas sério —
Entendo você…
— Não, não entende!

— Acha que eu não quero ver meu namorado?


— Maksim perguntou, irritando-se — Mas o
pior é ele virar um alvo! Ou me pegarem e me
usarem para ferir quem eu amo!

Pyotr odiava estar errado. Era orgulhoso


demais.

— Como eu disse, sei cuidar de mim!

— Vou avisar a tia, assim que você colocar os


pés para fora dessa mansão, Pyotr!
Apertando os lábios e os punhos, Pyotr deu
meia volta e foi para o próprio quarto.

— Delator do caralho! — ele reclamou, com


vontade de bater a porta com força, mas não
podia, ou acordaria a casa — Intrometido!

Pyotr precisou dizer a Lisa que não teria como


ir. Foi pego.

LISA: Tá tudo bem. Já disse para não se meter


em confusão!

Ele estava chateado. Da última vez que se


viram, Lisa acabou esbarrando na peça de
xadrez que ele carregava com ele e a coitada
rolou pelo bueiro. Pyotr gostava de carregar
aqui por onde ia. Dormia com o objeto.

PYOTR: Não tenho nem nada seu pra abraçar!

LISA: (emoji revirando os olhos) Como tá


dramático… rs. Mas sério, nos veremos
quando der. Não vou ser engolida pela terra.
Nem você.

Ele suspirou e os dois continuaram


conversando até tarde, ou melhor, até quase o
Sol raiar, com direito a nudes.

Na manhã seguinte, Lisa acabou sendo


acordada cedo, tendo dormido por menos de
duas horas. Ao descer as escadas, o coração
dela quase parou ao ver quem estava ali.
— Bom dia, lindinha! — O homem falou,
sentado à mesa, na cozinha — Não vou
perguntar, porque a sua cara já diz que não
dormiu nada bem. Venha, sente-se.

Lisa engoliu em seco e continuou a andar, as


pernas tremendo. Ela se sentou.

— Temos um probleminha… Já tem dias que a


escuta com rastreador não funciona. E,
adivinha! Ela mostra que Pyotr está nos
esgotos — O homem bebericou a xícara de
café que ele mesmo havia feito e fez sinal para
que Lisa bebesse da outra, em frente a ela —
Sabemos que isso está longe da verdade.
Explique-se. Beba e explique-se.
Ela levou a xícara aos lábios, tentando
controlar o nervosismo. Suas mãos tremiam.
O homem a observava, um leve sorriso nos
lábios, como se estivesse despreocupado com
a vida. Mas ela sabia muito bem que isso não
passava de uma atuação.

Ao colocar a xícara em cima da mesa, ela


inspirou fundo. O café estava horrível.

— Eu esbarrei no Pyotr — Lisa sentiu como se


sua língua estivesse mais solta. Ela sabia o que
era aquilo! Se havia algo que o pai dela havia
ensinado bem a ela era como não ser levada
pelo soro da verdade — A peça caiu no bueiro.
O homem moveu a cabeça, vagarosamente,
para cima e para baixo, como se estivesse
pensando.

— E o que diabos você está fazendo que não


providenciou outra?

— Estou… — O suor começava a descer pelas


costas dela — Estou pensando no que
substituirá a peça.

A xícara do homem foi colocada


delicadamente no pires, em cima da mesa. Ele
sorriu para Lisa e esticou a mão, chegando a
quase tocar-lhe na bochecha, fazendo o
movimento de uma carícia.
— Um rostinho tão bonito… Seria uma pena
se virasse cinzas.

Lisa sentiu as entranhas embrulharem.

— Não irá.

Ele se levantou.

— Faça o seu trabalho. Lembre-se que a sua


mãezinha está te esperando — Ele se inclinou
e se aproximou da orelha de Lisa — E nem
pense em pedir ajuda. Ah, e nem em
engravidar, sua vadia. Eu mesmo vou arrancar
qualquer bastardinho russo de dentro de
você!
O homem saiu dali. Lisa estava tão apavorada
que, para ela, foi como se ele tivesse
desaparecido no ar.
“Não posso fazer isso com ele… Meu Deus, o
que eu faço?”

Ela riu de si mesma, por ter se apaixonado


pelo alvo dela.

Ekaterina mantinha os olhos em Lisa e, então,


viu quando um homem saiu pela porta dos
fundos. Ela tirou fotos e as enviou para a mãe.

EKATERINA: Não sei quem é. Mas o carro,


como a senhora pode ver, não tem placa. Essa
garota está metida em alguma merda! E, por
sinal, não vi os pais dela até agora. Parece até
que mora sozinha!
Jannochka apertou o aparelho. Ela precisava
manter controle sobre Pyotr. Mas ela sabia
que, se não tivesse provas concretas de que a
garota era espiã, o rapaz apenas se inflamaria
e, com a vontade de ser “do contra”, ele ficaria
contra tudo e todos.

— Esse idiota está apaixonado! Realmente,


não nega de quem é filho! — Jannochka se
lembrou de como Santiago era cego com Jade,
na época em que o casamento entre as duas
máfias era apenas um acordo — Se Pyotr não
se emendar, vou eu mesma dar um corretivo
bem dado nele!

Zinon não havia ligado novamente, o que


deixava Jannochka ainda mais nervosa. Ela
estava impressionada em como o homem
tinha conseguido fazer aliança com os
inimigos russos: os calabresa e os japoneses.

“Burro ele não é… E confiável, menos ainda”.


A proposta de casamento para Ekaterina
havia sido uma prova disso. Os da
‘Ndrangheta detestavam os Sigayev. Como o
aliado deles poderia querer juntar as duas
máfias russas? E ela sabia sim que eles
estavam juntos, porque o tipo de barreira que
ela estava enfrentando nos sistemas italianos
era a mesma dos da Máfia Vermelha.

Jannochka precisava de mais aliados na


Europa, principalmente na Rússia. Se Zinon se
unisse às demais — que por sinal, o
detestavam — ela ficaria em menor número.
Há algum tempo, Anton Kravtsov, Don da
Uralmash de Ecaterimburgo, havia tentado
casar Ekaterina com o filho dele, Daniil.
Jannochka não aceitou de imediato. O rapaz
era um mulherengo de primeira, além de já
ter vinte e cinco anos.

— Mas eu estou ficando sem opções. O que


diabos eu devo fazer?

A Don ficou perdida em pensamentos quando


ouviu uma batida na porta e Ekaterina se
anunciou. Jannochka permitiu a entrada.

— O que houve? — Jannochka perguntou.

— Mãe… Eu ouvi algo e queria saber se é


verdade — Ela falou e se aproximou da mesa.
— Sobre o quê?
— Ouvi papai reclamando com alguém, ao
telefone, sobre um “idiota pretencioso” que
ofereceu uma aliança por casamento. Comigo.

Jannochka suspirou.

— Fique tranquila. Não vai ser necessário.

— Quem são?

Jannochka encarou a filha.

— Por que quer saber?


Ekaterina umedeceu os lábios com a língua.

— Pelo que entendi, eles estão envolvidos nos


ataques. Isso formaria uma boa aliança.

— Você me disse, há menos de uma semana,


que queria ficar com Bernardo. Mudou de
ideia?

Ekaterina respirou fundo.

— Bernardo não precisa passar por isso. Está


sendo alvo por ter se envolvido conosco… —
Ela olhou para baixo — Comigo. E eu não
posso deixá-lo se machucar.
CAPITULO 59

Jannochka olhou bem para a filha.

— Vai casar com outro, amando Bernardo? —


Ela franziu o cenho — Acha que ele vai aceitar
isso? Como acha que Bernardo vai se sentir?

Ekaterina levantou o rosto, encarando a mãe.

— E a senhora se importa com os sentimentos


dele? Pensei que não quisesse nem saber mais
dele.

A Don suspirou.
— Bernardo me decepcionou demais, porém,
eu vi esse garoto crescer, mesmo que de
longe. Não sou indiferente a ele, Ekaterina.
Além disso, eu te conheço e sei que não vai se
dar bem casando com alguém que não ama,
ainda mais se seu coração já tiver dono.

— Mãe…

— Vai se arrepender se casar com outro,


minha filha.

Ekaterina sabia que as palavras da mãe eram


verdadeiras.

— Eu farei o que for necessário, não só pela


Organização, mas para garantir que Bernardo
vai ficar seguro — A moça engoliu em seco —
Mesmo que isso o faça me odiar.

Jannochka não iria impedir a filha. Ela sempre


deu liberdade para que os filhos fizessem as
escolhas que quisessem, desde que isso não os
colocasse em perigo, ou aos membros da
Tambovskaya.

— Antes que aceite essa união, recomendo


que converse com o rapaz. Ele pode ser
aceitável, ou ele pode ser odioso. Se for como
o pai dele…

— O Don da Máfia Vermelha é um homem


ruim, eu ouvi dizer. Muito ruim.
— Ruim é apelido carinhoso, minha filha —
Jannochka suspirou e estalou a língua —
Converse com ele.

Mais tarde naquele mesmo dia, Ekaterina


estava esperando pelo filho de Zinon, em um
restaurante que mantinha a “bandeira
branca”, ou seja, servia de local de encontro
para mafiosos, onde não era permitido brigas.
Existiam alguns estabelecimentos assim, a fim
de permitir que inimigos discutissem sobre
seus assuntos, inclusive tratados de paz, sem
o perigo de serem assassinados de surpresa.
Pelo menos, ali dentro.

Um homem loiro, com olhos azuis claros que


podiam ser vistos de longe, entrou na ala mais
reclusa do restaurante. Apesar do terno bem
alinhado ao corpo, as tatuagens eram visíveis
no pescoço e no dorso das mãos. Ele era um
dos homens mais altos que Ekaterina já tinha
visto, mesmo não sendo o mais forte,
aparentemente.
Ele se aproximou da mesa de Ekaterina e
sorriu levemente, de lado.

— Senhorita Sigayeva? — Ele perguntou e


Ekaterina concordou com a cabeça, sem se
levantar — Sou Konstantin Tchekhov.

O loiro estendeu a mão, ao que Ekaterina


apenas olhou.

— Vejo que a senhorita não é de amenidades.


— Qual seu interesse real nesse casamento?
— Ela perguntou, séria. Ainda que fosse um
suposto jantar para tratarem de laços
matrimoniais, Ekaterina se vestiu toda de
preto, com calça e jaqueta de couro.

Konstantin sorriu, sentando-se e a encarando.


Ele fez sinal ao garçon, que lhe serviu um copo
de uísque, sem que o loiro precisasse dizer
nada. Isso indicava que ele era um cliente
rotineiro.

Após tomar um gole da bebida, Konstantin


inspirou fundo.

— Não tenho interesse em dormir com uma


menor de idade, se é isso o que quer saber —
Ele falou, um ar de desdém nos lábios — Por
mais bonita que seja. Eu quero apenas…
Formar alianças.

— Vocês nos atacaram. E agora, quer aliança…


Interessante como atuam.

Ele soltou uma risadinha e concordou com a


cabeça, olhando brevemente para baixo, antes
de encarar Ekaterina.

— Não sou o meu pai — O jeito que ele


mencionou o progenitor fez Ekaterina sentir
uma animosidade vinda do jovem. Konstantin
ficou mais sério — Eu não concordo com o
que é feito, quero mudanças. Porém, para
assumir e conseguir aliados, dentro da
própria Organização, eu preciso de um
suporte forte. E você, bela Ekaterina, vai me
providenciar isso.

— E o que eu ganho, além de uma trégua,


senhor Tchekhov? — Ekaterina perguntou e
Konstantin sorriu.

— Gosto do seu jeito de pensar. Acho que


podemos ser menos informal. Você pode me
chamar de Krutov, meu nome do meio e é
como meus amigos me chamam. Será que eu
posso chamá-la de… Rina?

Os olhos de Ekaterina se estreitaram.

— Não abuse da sorte, senhor Tchekhov!


O homem levou a mão ao peito e riu.
— Definitivamente, vamos nos dar muito
bem!

Bernardo estava sentado no catre, quando


alguém se aproximou. Ele levantou a cabeça e
viu Josué.

— Senhor Castillo, tenho uma boa notícia — O


policial retirou um molho de chaves do
cinturão e começou a abrir a cela. Bernardo se
levantou imediatamente, descrente — Não me
olhe assim. Vamos, hora de ir pra casa.

— Não tô reclamando, mas… — Bernardo


sorriu — O que aconteceu para me soltarem?

Josué suspirou.
— Aparentemente, provas insuficientes — O
policial olhou bem para Bernardo, colocando-
se na frente deste — Você estava mais bem
protegido aqui, menino.

O loiro franziu o cenho.

— Está insinuando que prefere que eu fique


preso, sem ter culpa?

— Tive um irmão de idade próxima a sua. Ele


também se meteu com as pessoas erradas —
Josué suspirou — Mantenha os olhos bem
abertos. Não fique zanzando pelas ruas. Não
procure confusão.
Apesar da antipatia que Bernardo sentia pelo
homem, era possível notar a sinceridade
naquelas palavras. Os olhos de Josué não
demonstravam raiva ou rancor, ou mesmo
deboche. Ele estava de fato buscando ajudar.

— Obrigado. Farei isso.

Josué tirou um cartão do bolso e o estendeu a


Bernardo.

— Qualquer coisa, pode me ligar — Ele olhou


em volta — Se notar qualquer coisa suspeita,
me avise. Eu sei bem que esse jogo não
acabou aqui.

Carolina e Máximo esperavam pelo filho, do


lado de fora. Quando o rapaz saiu da
delegacia, a mãe quase derrubou Bernardo, ao
pular nele.
— Meu filho! — Ela chorava e Máximo se
juntou a ela, em um abraço.

— Vamos pra casa — O pai falou, segurando


as lágrimas.

Eduardo enviou dois carros de polícia para


acompanhá-los, enquanto Osvaldo fazia o
mesmo, só que a uma certa distância. Assim
que os Castillo entraram na mansão, Osvaldo
ligou para Máximo.
— Está tudo bem, Osvaldo. Obrigado por tudo.
— Sabe que não foi coisa minha, Bernardo
estar livre.
— Foi por conta do arranhão no carro?
Osvaldo soltou uma risada e Máximo já sabia
que a resposta era negativa.
— Bernardo nunca esteve preso apenas por
isso, Máximo — Osvaldo suspirou do outro
lado da linha — Simplesmente o outro lado
conseguiu algo que queria.

— E o que seria isso? Tirar a nossa paz?

Máximo conversava com Osvaldo, enquanto


Artur abraçava Bernardo, junto com Carolina.
— Não…

O rosto de Máximo ficou pálido após ouvir o


que o amigo lhe contou. Carolina percebeu e,
assim que a ligação foi finalizada, ela passou a
mão pelo braço do marido.
— O que aconteceu?

Máximo olhou para ela e, então, para


Bernardo, que o encarou, percebendo que
algo estava muito errado.

— Pai?

— Eu sinto muito, meu filho.


CAPITULO 60

Bernardo olhava para o teto, o coração


pesado.

“Ela não me quer mais”, era o que ficava


rondando a cabeça dele. “Ekaterina vai casar
com a porra de um russo!”.

Ele se levantou, sentando-se na cama e as


lágrimas desceram pelo rosto dele. Por um
momento, Bernardo pensou que não tinha
mais nenhuma para derramar, porém, ele
havia se enganado.

“De novo… Eu a deixei e, agora, ela tem


outro!”.
Por horas, ele não teve coragem de pegar o
celular e enviar uma mensagem a ela, para
confrontar a moça. Mas, respirando fundo, ele
decidiu que tinha que começar a “criar
colhões”.

— Se eu ficar nessa, vou perder a mulher da


minha vida de vez.

BERNARDO: Oi, amor!

Bernardo finalmente enviou, após escrever e


apagar diversas formas de abordagem.
Ekaterina ficou online. Era manhã, lá.

EKATERINA: Pelo que posso ver, está livre.


Parabéns.
Ele segurou o aparelho com mais força.

BERNARDO: Posso te ligar?


Ekaterina está digitando…

Bernardo passou a mão pela testa, suando


mesmo no ar-condicionado.
Ekaterina está digitando…
Visto por último hoje às 01:22.

— Não! — Ele reclamou baixinho, quase


chorando.
O celular de Bernardo começou a vibrar. Os
dedos dele pareciam incapazes de se mover e
a ligação caiu.

— Pera! Ai, que imbecil!

Bernardo ligou para Ekaterina, que atendeu


no primeiro toque.

— Amor!
— Bernardo, esse tratamento é impróprio.
— Eu sei que você aceitou casar com um
russo. Amor, não faz isso! Olha, eu sei que fui
imbecil, babaca..
— Bernardo…
— Não! Eu não posso… — Ekaterina podia
ouvir Bernardo chorando e aquilo partia o
coração dela — Eu amo você. Por favor, não
faz isso…

A voz dele saiu como um sussurro.


— Já está feito. Não posso quebrar uma
aliança. Estamos em guerra, aqui.

— Você não ama esse cara!


— Isso é irrelevante. Agora, eu preciso ir.
Estou no meio do treino.

— Rina… — Linha muda — Rina! Amor, fala


comigo!
Bernardo abaixou a mão, se deixando chorar
livremente.

— Fala comigo, por favor…

O dia seguinte foi horrível. O seguinte, a


mesma coisa. Bernardo não queria comer, não
se interessava por nada. Depois de mais de
uma semana, Carolina não pode mais esperar.

— Máximo, nós temos que fazer alguma coisa!


— Carolina reclamou com o marido, entrando
no escritório e se sentando no colo dele.

— Eu concordo — A voz de Máximo saiu


rouca e Carolina deu um tapa no braço dele —
Ai!
— Estou falando sério! Bernardo parece um
zumbi!

Máximo soltou o ar.

— O remédio dele é Ekaterina. Mas


infelizmente, o mercado está em falta — Ele
abraçou a esposa — Se ele não apresentar
nenhuma melhora, eu vou interná-lo. Nem
que ele vá ser alimentado por sonda. E… Vai
precisar de tratamento psicológico.

Enquanto isso, Ekaterina batia no saco de


areia.
— Isso, bate como se fosse a cara daquele
nojento! — Pyotr disse e Ekaterina o olhou,
desferindo mais um soco.

— Qual… Deles?

— O seu noivinho, quem mais? — Pyotr fez


uma careta — Não acredito que aceitou casar
com aquele imbecil!
— Mas aceitei…— Outro soco — As coisas
são… Como são!

— Por mais que me doa dizer isso… — Pyotr


suspirou — Você ama o molenga do Bernardo.
Eu soube que ele tá péssimo.
Ekaterina socou mais e mais, até Pyotr ver
que ela estava chorando. Ele a abraçou forte,
arrastando-a para longe do saco.

— Shhh… Calma, calminha…

Pyotr tirou Ekaterina dali. Por sorte, ela tinha


resolvido treinar sozinha e não havia ninguém
ao redor. Os dois foram para o quarto dela.

— Eu não… Não quero machucar o Bernardo,


Pyotr.

— Eu sei — Pyotr acariciou as costas da irmã


— Por que aceitou?
— Konstantin me prometeu que tiraria
Bernardo da cadeia. E não o atacariam.

— Você acreditou nessa balela? — Pyotr


balançou a cabeça — Os malditos Vermelhos
fizeram isso só pra você casar com o idiota do
Konstantin?

Ekaterina negou e enxugou as lágrimas, após


tirar as luvas.

— Konstantin sabia que os calabresas


armaram tudo, junto com o Zinon. O objetivo
era nos enfraquecer. A nós e aos Herrera, já
que Bernardo é cunhado do futuro Don — Ela
inspirou fundo — Eu aceitando a aliança,
Konstantin mexeria os pauzinhos para
controlar os malditos da ‘Ndrangheta!
— Ele não é o Don. Não ainda e nem acho que
o pai dele vá ceder tão cedo. Aquele lá adora o
poder, pelo que fiquei sabendo — Pyotr
segurou o rosto da gêmea — Acha mesmo que
o loiro grandalhão vai cumprir a promessa?

— Se não cumprir, eu mesma castro o infeliz


— Ekaterina entortou a boca.

Pyotr sentiu que tinha mais naquilo, porém,


ele não iria pressionar a irmã, não naquele
momento.

— Eu vou nessa, agora..

Ekaterina segurou o braço dele e balançou a


cabeça.
— É melhor você ficar na sua.

— Já fiquei por tempo demais… Eu… — Pyotr


mordeu a bochecha internamente — Acho
que amo a Lisa, sabe?
— Pyotr, mamãe sente que tem algo de errado
com essa garota.

— Não tem! — Ele jogou as mãos para o alto


— Rina, ela é maravilhosa! Eu nunca me senti
tão vivo e livre como com ela!

Pelo sorriso de Pyotr, Ekaterina sabia que o


rapaz não estava mentindo.
— Pelo seu bem, e pelo dela, eu espero
mesmo que ela não esteja metida em
nenhuma merda, Pyotr.

— Ela não está — O semblante de Pyotr ficou


mais sério.

— Você vai fazer o que for necessário?

Os dois se encararam e Pyotr concordou com


a cabeça.

— Sempre — Ele respondeu e, então, sorriu


— A começar por receber meu futuro
cunhadinho. Você deveria tomar um banho e
se arrumar.
Ekaterina revirou os olhos.

— Eu não sei se ele é burro ou muito


convencido.

Os gêmeos se entreolharam e começaram a


rir.

— As duas coisas! — Falaram juntos.

Pela hora do almoço, Ekaterina estava mais do


que pronta. Ela respirou fundo e desceu as
escadas. A voz de Konstantin foi a primeira
coisa que ela ouviu.
O loiro estava muito bem vestido, como da
outra vez e ao vê-la, o sorriso que brincava
tímido no rosto dele se abriu mais.
— Ah, a minha adorável noiva! — Ele falou e
estendeu a mão para que Ekaterina a tomasse.

— Eu sei descer as escadas sozinha — Ela


respondeu e o loiro apenas sorriu ainda mais.

— Adoro o seu jeitinho — Ele enrugou o


nariz, como se indicasse que Ekaterina era
fofa. Jannochka levantou uma sobrancelha
enquanto mirava as costas do rapaz. Já
Santiago, parecia querer matar o homem.

— Sim, claro — Foi a resposta de Ekaterina —


Podemos ir comer? Estou faminta.

Konstantin ofereceu a ela o braço.


— Eu devo ter tirado a sorte grande. Uma
mulher bonita, inteligente, forte e que gosta
de comer, sem vergonha — Ele olhou para a
Don e o marido — Parabéns, a filha de vocês é
adorável.

— Corta o papo-furado… — Pyotr murmurou,


revirando os olhos.

— Pyotr… — Jannochka o olhou sério.


Konstantin se virou para o rapaz.

— Eu não distribuo elogios ao vento, cunhado.

Maksim, Fyodor e Yuri já estavam na sala


onde a refeição ocorreria. Assim que
Konstantin entrou, ele varreu com os olhos o
local.

— Creio que estes são meus futuros tios, meu


primo e… — Ele olhou para Ekaterina — Falta
um, não é?

— Aleksey está viajando — Maksim


respondeu e Konstantin o olhou de cima a
baixo, o que fez o rapaz desviar o olhar, as
bochechas corando.

Pyotr olhou de um para o outro e balançou a


cabeça.

— Se trair a minha irmã, arranco as suas


bolas! — Ele ameaçou, baixo, ao passar pelo
visitante, que apenas passou a língua pelos
lábios, sem nada dizer.

Após Jannochka e Santiago tomarem seus


lugares, Yuri e Fyodor fizeram o mesmo,
seguidos por Pyotr e Maksim. Konstantin
puxou a cadeira para Ekaterina.

— Querida…

Pyotr revirou os olhos de novo.

— O outro era menos meloso — Ele cochichou


para Maksim, que mordeu o lábio —
Contenha-se!
Maksim engoliu em seco e concordou com a
cabeça. Ele não tinha contado para ninguém
que Lukyan o havia largado. Enquanto
pensassem que eles estavam juntos, o
protegeriam.

— Bem-vindo, Konstantin — Jannochka


levantou a taça de vinho — Espero que essa
aliança seja forte e duradoura.

O loiro levantou a taça.

— Definitivamente, Don Sigayeva.

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— Como caralhos eles estão noivos? —
Illdebrando deu um soco na mesa, olhando
duro para Tiziano.
— Estando — O rapaz respondeu, sem muita
emoção.

— Se fosse pra alguém se casar com aquela


fedelha, esse alguém deveria ser você!

Enquanto Tiziano nem se moveu, Leontina


tremeu com o timbre zangado do pai.

— E por que eu deveria ser castigado dessa


maneira? Não estou fazendo tudo o que me
pediu, pai?
Ildebrando estalou a língua, levantando-se e
se aproximou do rapaz, quase encostando o
nariz no rosto do filho, que não se moveu e
continuou olhando para a frente.

— Aquela vagabundinha seria uma ponte para


os nossos objetivos! — O italiano passou as
mãos pelo cabelo — Impura como
provavelmente o é… Duvido que já não tenha
dormido com o maldito Mexicano!

Os olhos do Don recaíram sobre a jovem de


cabelos castanhos, que olhava para baixo.

— Espero que você cresça logo, Leontina. E


me dê orgulho!
CAPITULO 61

O edredom foi arrancado de cima de


Bernardo, que olhou em volta, desnorteado.
Máximo o olhava ao pé da cama.

— Vamos. Faça as malas.

Os olhos verdes do rapaz expressaram


esperança.

— Ela veio…?

— Ninguém veio. Nós vamos.

Bernardo se levantou de uma vez e começou a


preparar a mala, sem esquecer do anel que
tinha comprado para Ekaterina. Ele tomou
café da manhã, alegremente, fez a barba,
tomou banho e se perfumou.

Porém, mais tarde, quando o carro pegou a


estrada que ele conhecia muito bem, o loiro
franziu o cenho e olhou para o pai, confuso.

— O aeroporto não é por aqui…

— E desde quando precisamos de aeroporto


para irmos à fazenda? — Carolina perguntou,
do banco da frente. A boca de Bernardo se
abriu, chocado.

Algo quente tocou a mão do rapaz, que olhou


para o lado e viu o irmão o olhando, com um
sorriso carinhoso. Às vezes, Bernardo não
precisava nem ouvir a voz de Artur para se
sentir acolhido. Sendo assim, ele apertou a
mão do mais novo e a viagem continuou sem
mais conversas.

Ao chegarem lá, Bástian já os esperava, ao


lado de Raul. Carolina pediu que ele não fosse
para a Capítal, antes, pois havia o risco de
segurança.

Assim que Bernardo saiu do carro, foi


abraçado pelo padrinho.

— Ah, meu querido! — Bástian sorriu para o


afilhado — Venha, é hora de sacudir essa
tristeza!
Bernardo apertou os lábios em um sorriso
nada bonito. Ele queria ser simpático, mas era
difícil.

Todos entraram e Bernardo não prestava


atenção a nada. Ele se sentou no sofá e
suspirou, apoiando a cabeça no encosto, de
olhos fechados.

Ninguém tentou inserir Bernardo em


conversas, preferindo deixá-lo respirar um
pouco de ar. No fim, ele acabou adormecendo
e Máximo o levou para o andar de cima.

Já estava anoitecendo quando Bernardo


acordou. Ele esfregou os olhos e se sentou.
Nesse movimento, a mão dele encostou no
celular, que acendeu a tela. Havia mensagens
e, para a surpresa dele, PYOTR aparecia no
display.

O edredom foi arrancado de cima de


Bernardo, que olhou em volta, desnorteado.
Máximo o olhava ao pé da cama.

— Vamos. Faça as malas.

Os olhos verdes do rapaz expressaram


esperança.

— Ela veio…?

— Ninguém veio. Nós vamos.


Bernardo se levantou de uma vez e começou
a preparar a mala, sem esquecer do anel que
tinha comprado para Ekaterina. Ele tomou
café da manhã, alegremente, fez a barba,
tomou banho e se perfumou.

Porém, mais tarde, quando o carro pegou a


estrada que ele conhecia muito bem, o loiro
franziu o cenho e olhou para o pai, confuso.

— O aeroporto não é por aqui…

— E desde quando precisamos de aeroporto


para irmos à fazenda? — Carolina perguntou,
do banco da frente. A boca de Bernardo se
abriu, chocado.
Algo quente tocou a mão do rapaz, que olhou
para o lado e viu o irmão o olhando, com um
sorriso carinhoso. Às vezes, Bernardo não
precisava nem ouvir a voz de Artur para se
sentir acolhido. Sendo assim, ele apertou a
mão do mais novo e a viagem continuou sem
mais conversas.

Ao chegarem lá, Bástian já os esperava, ao


lado de Raul. Carolina pediu que ele não fosse
para a Capítal, antes, pois havia o risco de
segurança.

Assim que Bernardo saiu do carro, foi


abraçado pelo padrinho.
— Ah, meu querido! — Bástian sorriu para o
afilhado — Venha, é hora de sacudir essa
tristeza!

Bernardo apertou os lábios em um sorriso


nada bonito. Ele queria ser simpático, mas era
difícil.

Todos entraram e Bernardo não prestava


atenção a nada. Ele se sentou no sofá e
suspirou, apoiando a cabeça no encosto, de
olhos fechados.

Ninguém tentou inserir Bernardo em


conversas, preferindo deixá-lo respirar um
pouco de ar. No fim, ele acabou adormecendo
e Máximo o levou para o andar de cima.
Já estava anoitecendo quando Bernardo
acordou. Ele esfregou os olhos e se sentou.
Nesse movimento, a mão dele encostou no
celular, que acendeu a tela. Havia mensagens
e, para a surpresa dele, PYOTR aparecia no
display.
Rapidamente, o loiro pegou o aparelho.

PYOTR: Bunda-mole.

Bernardo soltou uma risada de descrença.

— É sério essa porra?

BERNARDO: Veio zombar de mim?


O loiro pensou que o rapaz demoraria a
responder, porém, a mensagem foi quase
instantânea.

PYOTR: Vai ficar aí choramingando enquanto


um babaca qualquer tá tentando ganhar a sua
mina?

BERNARDO: A “minha mina” não me quer… E


ele já ganhou. Vão casar.

PYOTR: Na moral, você é muito bebezão!


Compra uma porra de passagem e vem pra cá,
mosca-morta!

BERNARDO: Ekaterina NÃO ME QUER! E


como diabos eu vou aparecer aí? Não é como
se qualquer um pudesse pôr os pés em
Moscow.

PYOTR: Eu não sou um zero à esquerda,


cunhado.

BERNARDO: Não vou impor a minha


presença. Se ela decidiu casar, o que quer que
eu faça? Enfie uma bala na cabeça do noivo
dela e a arraste pro altar?

PYOTR: Luchshe, chem stoyat' i plakat', kak


neudachnik! (Melhor do que ficar aí, chorando
como um perdedor!)
BERNARDO: O pior perdedor é aquele que
não admite a derrota. Tenho que ir. Nos
falamos depois.

Bernardo ficou off. Pyotr olhou para o


aparelho e balançou a cabeça.

— Pelo menos aprendeu alguma merda de


russo! — Ele guardou o aparelho na jaqueta e
desceu. Konstantin passou a noite ali, como
forma de demonstrar confiança nos Sigayev.

Assim que o loiro viu Pyotr, lhe acenou,


sorrindo.
— Palhaço ridículo! — Pyotr murmurou,
antes de chegar perto do futuro cunhado —
Nem a pau!

— Cunhadinho! — Konstantin levantou o


braço, como se fosse passá-lo pelo ombro de
Pyotr.
— Se encostar em mim, juro que devolvo só a
sua pele pro idiota do seu pai.

Konstantin levantou as sobrancelhas.

— A simpatia é de família — Ele disse — E a


beleza também.

Pyotr parou de andar e encarou Konstantin.


— Se tá tentando flertar comigo, tá perdendo
seu tempo. Além de não curtir macho, não
gosto de “gente comprometida” — Pyotr
cruzou os braços — E se isso aí tem algo a ver
com a minha mãe, vou apenas apreciar o
banquete que o papai vai fazer.

— “O papai”. Aaah, tão bonitinho! —


Konstantin suspirou — Eu jamais faltaria ao
respeito com a Don. Sou palhaço e ridículo,
mas não burro.

Konstantin piscou para Pyotr e se afastou,


indo atrás de Ekaterina. Ela estava treinando
sozinha, novamente e, quando viu o noivo
entrando, socou com mais força.
— Tanto ódio no coração.

— Cala a boca — Ela socou mais.

— Assim você parte o meu coração, lindeza —


Konstantin levou a mão ao peito — Você fica
linda até mesmo toda suada. Nossos filhos vão
ser de outro mundo.

Ekaterina deu um passo para o lado e encarou


Konstantin, de cara feia.

— Só se for em outro mundo, mesmo! Não se


faça de engraçadinho, Tchekhov! — Ela tirou
as luvas e se encaminhou para o vestiário.
Konstantin a segurou por trás e, por mais que
Ekaterina tentasse se soltar, não conseguiu,
sentindo o rosto na parede.

— Princesa, não abuse do meu humor,


docinho — Ele aproximou o rosto do dela,
mantendo o tronco distante. Konstantin não
encoxaria uma mulher desse jeito — Seja
boazinha e brinque conforme as regras.
Lembre-se do que está em jogo.

Ele a soltou, afastando-se rápido. Ekaterina o


olhava com raiva.

— Se voltar a dormir aqui, Tchekhov, é


melhor manter os olhos bem abertos!
— Já disse para me chamar de Krutov, Rina,
meu amor — Ele endireitou a roupa, o sorriso
não alcançando os olhos — Você e eu vamos
jantar fora, hoje. Nada de calça, eu quero um
belo vestido.

— Nos seus sonhos!

— Nos meus sonhos, você é seis meses mais


velha — Ele estalou o pescoço, sem tirar os
olhos de Ekaterina — Uma pena que esteja
apaixonadinha por aquele frouxo. Mas, ainda
temos tempo.
— Eu não sou cega, Tchekhov. Digamos que…
Ambos temos uma quedinha por loiros fofos.

Ela sorriu maliciosa e virou de costas, se


afastando.
— Ekaterina, Ekaterina… — Konstantin sorriu
de lado — Você não tem ideia dos meus
gostos… Quem sabe vai descobrir.

O celular dele vibrou e era o pai. Konstantin


inspirou fundo, preparando-se mentalmente.

— Oi — Ele atendeu.

— Só porque está noivo acha que pode me


responder desse jeito? — Zinon perguntou,
debochado — Já fodeu a Sigayeva?

— Ela é menor de idade.


— Eu perguntei algo? Ela já deve estar
cansada de ter dado pro mexicano! E você,
cheio de pudores!

— Prefiro conquistar o coração, a apenas a


boceta — Konstantin sorriu amargo — O
senhor, mais do que ninguém, sabe como
essas coisas funcionam.

— Você é um atrevido de merda!

— Vai me bater? Vai me torturar? De novo? —


O semblante de Konstantin em nada lembrava
o rapaz brincalhão que ele apresentava a
todos — A aliança se desfaz e nós perdemos
tudo. É o que quer?
Zinon inspirou fundo. O filho conseguia tirá-lo
do sério, pela mera existência.

— Case com essa garotinha, faça um filho


nela! Herdaremos absolutamente tudo!

— O senhor se esquece que ela não é a única


herdeira. Eu vou desligar, pois o pior é alguém
escutar o nosso afetuoso papo entre pai e
filho, Zinon.

Konstantin desligou, pois sabia que o Don


ficaria com ódio.

“Ele não perde por esperar!”.


CAPITULO 62

Após o jantar, que Bernardo quase não tocou


na comida, Juan se aproximou dele.

— Você tá triste — O rapaz disse e Bernardo o


olhou, concordando com a cabeça.

— Triste é pouco. já se apaixonou, Juan?

O moreno sacudiu a cabeça, negativamente.

— Não. Mas você, sim. Onde ela está?

Bernardo soltou uma risada triste.


— Com o noivo dela, talvez.

Juan coçou a cabeça.

— É a Ekaterina, não é? Eu vi vocês…

— Viu?

— Sim! — Juan se sentou ao lado de Bernardo


— Ela gosta de você.

Bernardo deu um tapinha no ombro de Juan,


quase sem tocá-lo. Ele sabia quanto o outro
não era muito de contato físico.
— Isso não é o suficiente, Juan — Bernardo
suspirou e Juan franziu a testa.

— Por quê?

— As coisas são complicadas, às vezes. Eu


gosto dela, e pensei que ela gostasse de mim.
Mas… Pelo visto, eu me enganei.

— Por quê?

O loiro olhou para Juan. Se fosse outra pessoa,


ele já teria perdido a paciência, mas a
serenidade do rapaz o acalmava, de certa
forma.
— Eu vou te contar por alto e você me diz o
que pensa. Que tal?

— Hmm! — Juan fez e se empertigou todo.

— Ekaterina é russa, você sabe… Bom, ela não


é bem uma moça indefesa…

— Ela atira. E é boa com facas.

Bernardo levantou as sobrancelhas.

— É… Não pode sair falando isso por aí, Juan


— Bernardo olhou em volta.
— Eu sei. Não falo. Hatsu me disse pra ficar
quietinho. Mesmo quando ele não estivesse
por aqui, como agora.

Hatsu havia saído em missão. Osvaldo acabou


aceitando-o na La Cicuta, mas apenas como
afiliado secreto. E, naquele momento, o
japonês teve que voltar à Terra Natal dele.

— Maria está triste, como você.

— Maria? Ela e Hatsu…?

Juan estreitou os olhos para Bernardo.


— Isso é fofoca. Meus pais disseram que é
muito feio fofocar.

Bernardo estalou a língua.

— É… É feio. Então, não quer mais saber


sobre a minha trágica história de amor?

— Você está contando. Não é uma fofoca.

— Às vezes você é esperto demais, Juan. Sabia


disso?

— Sim — Juan respondeu sem rodeios, o que


fez Bernardo sorrir.
Após relatar tudo o que podia, Bernardo
olhava para Juan, derrotado.

— O que significa ser frouxo?

— Não ter atitude, ser passivo demais. Não


fazer o que tem que ser feito — Bernardo
respondeu.

— Mm… Então o Pyotr está certo. Você é


frouxo.

Bernardo olhava para Juan, chocado.


— Juan… Como assim? De que lado você está?

— Você me pediu para ouvir e dizer o que eu


pensava — Juan olhou para cima, como se
pensasse e então, se voltou para Bernardo —
Primeiro, você foi frouxo quando parou de
falar com a Ekaterina. Agora, por não ir atrás
dela.

Bernardo se levantou, passando a mão pelo


rosto.

— Você não entende!

Juan deu de ombros.


— Pra mim, parece óbvio. Te acusaram pelo
que não fez, os russos em guerra… Ela aceita
casar e, no mesmo dia, você é liberado.

— Falta de provas…

— Não, tinha o seu DNA. É prova o suficiente


para que ficasse na cadeia, sem direito a
fiança. Ainda mais com a gravação de você a
agredindo. Ou quase — Juan franziu o cenho e
se levantou, sorrindo — Hora de dormir. Boa
noite!

Juan se virou e se foi, sem esperar uma


resposta de Bernardo.
Ao olhar no relógio, Bernardo sabia que era
tarde demais e Pyotr devia estar dormindo.
Mas, mesmo assim, ele mandou uma
mensagem.

“Ele vai ver pela manhã”. E mandou várias.

PYOTR: Puta que o pariu! Dá pra ser mais


inconveniente que isso? Eu tô tentando ter
um momento aqui com a minha garota,
caralho!

BERNARDO: Ah! Que garota?

PYOTR: Eu devia mandar você à merda!


Pyotr havia saído escondido e estava no
quarto da moça, na cama dela, por cima da
loira, quando o celular começou a vibrar na
mesinha de cabeceira, incessantemente.
“Eu vou ao banheiro” , Lisa tinha dito e se
levantado, pegando a blusa dela e correndo.

Pyotr resolveu ligar.


— O que caralhos você quer, afinal? Alguém
morreu ? — Ele perguntou, entredentes.

— Me conta direito quem é esse filho da puta


que tá com a MINHA mulher!

Apesar de estar com raiva, Pyotr não pode


deixar de sorrir.
— Ah, olha só. O songamonga tá reagindo!
— Pyotr se sentou na beirada da cama e deu
uma olhadela para a porta do banheiro —
Quer ganhar minha irmã de novo, molenga?
Tenho uma missão pra você.

Bernardo ouviu atentamente a tudo o que


Pyotr lhe dizia.

— Calma aí que eu vou anotar.

Lisa ouviu que Pyotr estava no telefone e se


demorou no banheiro, indo tomar outro
banho.

“Se ELE souber que eu não fiquei escutando,


vai arrancar a minha pele,” ela suspirou,
debaixo d’água. “Mas o que os olhos não veem,
o coração não sente!”.
E ela esperou que assim fosse. Espionar Pyotr
a fazia se sentir suja e completamente desleal,
mesmo que ela não contasse nada.

“É melhor não saber. Se me torturarem… Não


terei o que falar”. Lisa não se deu conta de que
estava chorando, até Pyotr ouvir os gemidos,
ao se aproximar da porta.

— Amor? — Ele a chamou, sem resposta.


Pyotr não queria entrar e pegá-la pelada.
Bom, ele queria, mas e se isso a desagradasse?

“Puta merda, fui encoleirado!”, ele fez bico e


balançou a cabeça.
— Lisa! — Ele falou mais alto, mas não o
suficiente para ser um grito. Por mais que os
pais dela não estivessem em casa, Pyotr não
queria chamar atenção de nenhum vizinho
fuxiqueiro.

— E-eu já vou! — Ela respondeu, lavando o


rosto e saindo do boxe, enxugando-se. Então,
Lisa mordeu o lábio. Se eles não tivessem sido
interrompidos, ela teria deixado as coisas
esquentarem.

Inspirando fundo, ela resolveu que talvez nem


houvesse outra oportunidade. A qualquer
momento, Pyotr poderia descobrir a “missão”
dela e a odiaria, sem dúvidas.
— Você tá… Caralho… — Pyotr soltou
baixinho a última palavra, ao ver Lisa só de
toalha — Por favor, me diz que não é só pra
ver…

Lisa respondeu deixando a toalha cair no chão


e Pyotr segurou a respiração. ele deu um
passo incerto, antes de puxá-la pela cintura e
atacar-lhe os lábios. Lisa enfiou a mão nos
cabelos de Pyotr, puxando-os de leve e
arrancando um gemido do rapaz.

— Tem certeza? — Ele perguntou e ela sorriu,


beijando-o, olhando-o nos olhos.

— Nunca tive mais certeza na vida.


CAPITULO 63

Aquela foi a primeira vez que Pyotr havia


“feito amor”. Ele sorriu, olhando para o teto,
enquanto Lisa dormia no peito dele. Uma mão
acariciava as costas da loira, e a outra, estava
atrás da cabeça.

“Eu preciso casar com ela”, Pyotr pensou. Ele


não era um desses loucos apaixonados,
porém, como já haviam lhe dito: no dia em
que se apaixonar, vai ser de uma vez.

Não tinha motivo para esperar nada, exceto a


maioridade. Ainda que fosse possível
conseguir uma autorização antes dos dezoito,
Pyotr sabia que Jannochka não permitiria.
“Preciso falar com a minha mãe… Lisa precisa
morar conosco”, ele franziu a testa. Naquele
momento ele se deu conta do perigo absurdo
que a moça estava correndo. Dormir na casa
dela era o sinal final de que eles estavam de
romance, e não apenas uma simples amizade.
“Merda!”.

Antes que o dia raiasse, Pyotr precisava sair


dali. Ele deixou um recado, com a melhor
caligrafia que ele podia fazer.
“Amor, eu precisei ir. Nossa noite foi perfeita,
como você.

Te amo,

P. L. S.”
Depois de dar um beijo nos cabelos de Lisa,
Pyotr saiu dali, torcendo para não ser pego.
Até o caminho para o quarto, ele não
encontrou com ninguém, o que o fez respirar
aliviado.

Ele acabou dormindo muito pouco, pois houve


uma reunião com os outros membros e tanto
ele quanto Ekaterina estavam sendo treinados
para ser Don, já que não se sabia quem
assumiria.

— Presta atenção! — Ekaterina brigou com o


gêmeo, cutucando-o, quando houve um breve
intervalo.

— Oi?
Ela balançou a cabeça.

— Acorda, Pyotr! A mamãe olhou pra você,


várias vezes! — Ele piscou, como se não
compreendesse o que a irmã falava —
Caramba… eu sei que tá apaixonado, mas não
é hora pra ficar aéreo!

Ele sorriu, bobo, olhando para o nada, uma


mão apoiando o rosto.

— Apaixonado…
— Quase dá pra ver os corações nos seus
olhos. Acorda! — Ela o beliscou com força,
arrancando um palavrão baixo do rapaz, que a
olhou feio — Deixa mesmo os outros saberem,
seu idiota!
Pyotr fez careta.

— Pelo menos não noivei com um babaca


ridículo.

— Vai ver que é porque convivi com um a vida


inteira! Me acostumei!

— Ha, ha… Acha que o papai vai deixar falar


assim dele?

— Falar o quê, de mim? — Santiago


perguntou, os braços cruzados sobre o peito.
Pyotr e Ekaterina se endireitaram na cadeira.
O mais velho colocou uma mão em cada um,
apertando-lhes os ombros — Jannochka está
de péssimo humor, crianças.

— O senhor tá deixando a desejar? — Pyotr


brincou e Santiago fechou os dedos ainda
mais, arrancando uma careta de dor do filho.

— Lembre-se que eu não preciso de você para


ter netos e dar continuidade na linhagem —
Santiago sorria, olhando para frente — Quer
experimentar a vida de um eunuco, Pyotr?

— N-não.

Mais força no ombro do rapaz.


— Não entendi…

— Senhor… Não, senhor!

Santiago acenou com a cabeça e inspirou


fundo, enquanto Pyotr rolava o ombro.

— Você anda atrevido demais, Pyotr. Vamos


nos ver depois daqui, no ring.

Quando Santiago se afastou, Pyotr fungou


baixo.

— Ele vai te quebrar.


— Não dava pra perder a piada.

— Você não nega que é primo do Miguel…

— É o sangue Herrera! — Pyotr riu.

— Ri, mesmo. Vou assistir de camarote a


surra que vai levar, Herrera .

— Eu sou seu irmão querido. Como pode não


torcer por mim? Irmã ingrata!
— Você é meu único irmão, Pyotr.

A reunião voltou e Pyotr estava mais


desperto.
O celular dele vibrou e ele deu uma olhada,
assim que estava saindo da sala.

BERNARDO: O sistema é meio fodido, mas eu


acho que dá pra quebrar a barreira.

PYOTR: Tô gostando de ver, loiro. Quando


vem pra cá?

BERNARDO: Quando você me autorizar


pousar em Moscow, cunhado.

PYOTR: Em breve, loirinho. Enquanto isso,


vou te mandar a foto do delinquente que tá se
aproveitando da sua ausência.
Pyotr tinha pego a foto das câmeras de
segurança. Konstantin podia ser muita coisa,
mas feio definitivamente não lhe cabia. Além
disso, não importava o ângulo, o homem
parecia sempre estar fazendo pose, como se
fosse modelo.

“Desgraçado!”, Pyotr riu e clicou em ENVIAR.

PYOTR: Espero que sirva de inspiração,


cunhadinho.

— Tá com cara de quem apronta — Ekaterina


falou, passando reto. Pyotr sorriu.
— Você vai me agradecer, irmã! — Ele disse
baixinho e foi cuidar dos afazeres dele.

Bernardo saiu do quarto, bem banhado e foi


direto para o estábulo.

— Filho? — Máximo perguntou, surpreso, de


uma forma boa — Como se sente?

— Melhor eu só quando aquela russa tiver


meu anel no dedo dela!

Máximo sorriu abertamente!

— Finalmente! — O mais velho abraçou o


filho.
— Sim, já não era sem tempo. Quer dar uma
cavalgada, pai? Faz tempo que não venho
aqui.

— Sua mãe está me esperando. Temos


algumas coisas para fazer — Máximo apertou
os lábios — Eu vou ligar pra ela…

— Não — Bernardo colocou a mão em cima


da do pai — Eu preciso pensar. Quando o
senhor voltar, só me avisar.

Depois que Máximo saiu, Bernardo montou no


cavalo que era dele e saiu do estábulo,
sentindo o vento no rosto e a sensação de
liberdade tomou conta dele. Bernardo
repassou os conhecimentos que possuía,
pensando em como iria derrubar as paredes
de proteção do sistema que Pyotr havia lhe
pedido para romper.

“Eles estão esperando que eu tente… Duvido


que a tia Jannochka já não tenha tentado. Se
ela não conseguiu, é porque é mais difícil do
que parece”, ele suspirou. “Mas nada é
impossível! Eu só preciso manter uma
conexão, uma brecha!” .

Enquanto perdido em pensamentos, Bernardo


deixou que o cavalo cavalgasse por onde bem
entendesse, até que chegaram a um riacho.

O loiro desceu e jogou água no rosto,


refrescando-se. Enquanto a capital estava
numa época excelente, com temperaturas
agradáveis, ali no interior o Sol parecia fritar
os miolos.

— Veja só o que temos aqui! — Uma voz


masculina soou atrás de Bernardo.
CAPITULO 64

— Quem é o senhor? — Bernardo perguntou,


já de pé. Ele olhou o outro, moreno claro,
olhos escuros, mais ou menos da idade de
Máximo.

O homem colocou as mãos no bolso, com um


sorriso de lado.

— Seu pai não falou sobre mim? Eu fico


realmente ofendido — Ele deu um passo na
direção de Bernardo, que não se moveu,
apenas franziu de leve a testa — Eu quase fui
o seu pai.

Bernardo lembrou da conversa recente que


teve com o pai e, ainda que não tivesse visto
fotos, ele sabia quem era aquela pessoa.
— Domenico Alvarez…

Domenico abriu um sorriso.

— Você não é burro, como o seu pai.

— Não se atreva…

Domenico levantou as mãos na frente do


corpo.

— Calminha, garoto — Ele disse — Não sou


inimigo. Por sinal, como vai a sua mãe?
Bernardo levantou o punho, os lábios
cerrados.
— Por que não vai perguntar ao meu pai? Ele
quebra você em dois!

— Não duvido. Ele sempre foi um


brutamontes — Domenico olhou Bernardo de
cima a baixo — Você já é meio frangote.

— Vai falar o que quer ou é apenas um socão


nessa sua cara? — Bernardo estava sem
paciência — Eu tenho mais o que fazer do que
perder tempo com você!

— Pois não é o que parece, afinal, estava aqui


tranquilamente passeando pelas minhas
terras , não é mesmo? Eu vim passear e acabei
avistando um intruso. Estava apenas
checando — Ele sorriu falsamente para o loiro
— Além disso, eu já apanhei o suficiente nessa
vida. Vim apenas te dar um conselho: cuidado
com a carbonara.

— Carbo… --- Os olhos de Bernardo brilharam


--- Você quer dizer cala...

— Shh! — Domenico olhou para os lados,


depois de interromper Bernardo. Este
compreendeu.

— Posso saber o motivo de tão boa ação? —


Digamos que… Uma forma de compensação.
Eu não quero problemas, quero apenas paz.
Para mim e para a minha família. E não
esqueça, Castillo. Carbonara! Se precisar, eu te
envio a receita.
Domenico piscou para o rapaz, antes de subir
no próprio cavalo e sair dali.

Sem mais, Bernardo montou no próprio


animal e disparou para o casarão da La
Preciosa.

— Pai? — Ele bateu com pressa, no escritório.

— Entra! — Máximo tinha chegado há pouco


de uma das escolas, com Carolina e, ao ver o
rosto do filho, sabia que tinha algo — O que
foi, agora?

— Encontrei com o tal Domenico! —


Bernardo contou sobre o encontro — Acho
que ele sabe de alguma coisa.
— Vou ligar pro Osvaldo. Meu Deus, os anos
passam e eu continuo indo pro homem, como
um filho enchendo o saco do pai.

— O tio Osvaldo é demais — Bernardo falou.


Ele sempre achou o homem um super-herói.

— Ele é. Quando crescer, quero ser igual a ele.


Mas não da máfia.

Os dois riram.

Após falar com Osvaldo, este disse a Máximo


para não entrar em contato com Domenico,
pois ele com certeza estava sendo
monitorado.
— Deixa que eu mesmo faço isso. E repassarei
o que conseguir.

— Obrigado, Osvaldo.

— Somos família — Osvaldo respondeu — Eu


tenho que ir. Não fiquem zanzando por aí, ok?
Meus homens vão fazer a ronda.

— Posso estar sendo idiota, mas… Domenico


mencionou ter família e..

Osvaldo suspirou do outro lado da linha.


— Ele casou com uma moça há pouco tempo e
eles têm um bebê. Pode deixar que eu vou
ficar de olho.
— Achei que ele fosse gay… — Máximo
comentou, pensativo.

— Prefiro não me inteirar desses pormenores,


mas que a menina é dele, é — Osvaldo
pareceu falar com alguém — Vou agora.
Cuidem-se. Até.

E a linha ficou muda.


— Eu vou pro computador. Preciso verificar
uma coisa — Bernardo disse, como se tivesse
se lembrado de algo importante.

— Certo. Qualquer coisa eu te chamo.

Bernardo saiu dali correndo e se sentou na


frente da máquina.
— Carbonara… Receita… — Ele procurou na
internet mais sobre a tal receita e, no fim, se
viu lendo à respeito da Maçonaria, da
Sociedade Secreta Carbonária e, claro, chegou
a uma máfia que raramente era mencionada,
por ser pequena: a máfia apuliana, a Sacra
Corona Unita, no sul da Itália — Eles têm
contato com o Leste Europeu. Rússia… Puta
merda!

Após ir novamente para as barreiras


cibernéticas, Bernardo estalou os dedos. O
loiro pegou o celular e ligou para Pyotr, que
desligou. Bernardo insistiu mais duas vezes.

— Pelo amor, Bernardo! Minha mãe parecia


que ia comer o meu fígado por causa das suas
ligações!
— A máfia apuliana, Pyotr! Eu preciso falar
com a sua mãe!

Jannochka estava em mais uma reunião e,


quando Pyotr voltou à sala, ele fez sinal para
que ela o acompanhasse.

— Um momento — Ela pediu e seguiu o filho


para o lado de fora — É bom você ter…

— Sacra Corona Unita — Pyotr despejou —


Bernardo andou pesquisando, mãe.
Temos negócios com eles?

Ela franziu o cenho.


— Não. O negócio deles é mais voltado para
cigarros. Apesar das drogas e armas, são
muito irrelevantes. Eles atuam mais com
outros países aqui do Leste Europeu.

— Carbonária. A sociedade secreta — Pyotr


olhou em volta e engoliu em seco — Eu sou
péssimo em História, mas eles eram
revolucionários, não? Por que raios estariam
se metendo com a ‘Ndrangheta?

Jannochka inspirou fundo.

— A ‘Ndrangheta veio da Cosa Nostra… — Ela


entrou na sala de reunião, finalizando o
encontro e chamando Santiago para fora —
Entre em contato com o Volpicelli!
No escritório, ela discou o número de
Bernardo, que atendeu prontamente.

— Tia…
— Pensei que eu fosse sua Parkhan, garoto —
Jannochka o interrompeu e Bernardo sorriu
do outro lado — Agora, comece a soltar a
língua.

— A ligação tá segura?

— Que ofensa…

— Perdão — Bernardo suspirou — Bom,


vamos lá. Eu não consegui quebrar a barreira,
ainda, mas tenho uma ideia de quem está
fodendo com a gente.
“A gente”. Jannochka sorriu. Bernardo estava
de fato se sentindo um deles.

— Bem-vindo de volta, garoto.


CAPITULO 65

Ekaterina e Pyotr ouviam atentamente o que


Jannochka dizia.

— Por isso, vocês dois vão ficar em casa. Nada


de se esgueirar pela noite — Ela não olhou
para o filho, mas ele sabia bem que aquelas
palavras eram dirigidas a ele — Estamos em
um momento crucial e eu não quero arriscar
mais do que o necessário.

Pyotr nada comentou, até que fossem


liberados.

— Mãe, posso falar com a senhora?


— Claro — Ela disse, e fez sinal para que ele
fechasse a porta. Santiago já não estava mais
ali.

— Não vou ficar de rodeios. Eu gosto de uma


garota e quero pedir proteção a ela.

Jannochka encarou o filho por alguns


momentos, sem nada dizer. Então, respirou
fundo.

— A garota que está te fazendo me


desobedecer?

Pyotr balançou a cabeça.


— Ela não me faz desobedecer a senhora. Eu
vou porque quero.

— Pelo menos tem colhões para admitir.

Pyotr limpou a garganta.

— Eu a amo, mãe. Não é uma paixonite, não é


um romance bobo e passageiro. Tenho planos
de me casar com ela.

Jannochka acenou com a cabeça, lentamente.

— Pyotr, eu não vou ficar aqui mentindo pra


você. Sei quem é a moça e a investiguei, coisa
que você não fez — Ela levantou a mão,
interrompendo Pyotr, que queria falar — Ela
não é confiável.

Ele franziu a testa.

— Lisa é inofensiva.

— É, mesmo? — Jannochka estalou a língua


— Vamos lá, me diga o que sabe dela.

— A senhora não investigou?

— Não seja abusado! — Jannochka deu um


tapa na mesa, com a mão espalmada —
Obedeça. É muito atrevimento me pedir algo e
ainda me desrespeitar!
Ele abaixou a cabeça, as mãos na frente do
corpo.
— Perdão — Pyotr respirou fundo — Lisa é
uma garota de classe média, vizinha de
Kazimir. Foi assim que a conheci — Ele
passou a língua pelos lábios — Ela é sensível,
carinhosa, não sabe que eu sou da máfia,
ainda. Mas vou contar!

Jannochka não se aguentou e gargalhou.

— Você acha, mesmo, que ela não sabe? — a


Don se levantou — Fico em dúvida se você é
realmente iludido ou burro, Pyotr.
— Claro que ela não sabe — Ele engoliu as
palavras que subiram na garganta dele, ou
acabaria levando um tiro de verdade da mãe
— Lisa não tem ideia do perigo. Ela pensa
apenas que a minha família é mais…
Tradicional. Por isso eu não posso ficar tanto
com ela e…

— Se a sua família é tradicional e,


aparentemente, tirana, com dinheiro para
queimar à vontade, me responda, Pyotr: por
que diabos não tem ninguém te seguindo?
Tentando afastá-los?

Pyotr engoliu em seco.

— De verdade, você acredita que ela é


ignorante ao que você é? Ao que você
pertence? — Jannochka sorriu cruelmente —
A questão é: qual o objetivo dela?
— Lisa nunca mencionou nada que me fizesse
duvidar da sinceridade dela — Os olhos do
rapaz queriam se encher de água, pois as
palavras da mãe faziam sentido, porém, não
combinavam em nada com a imagem de Lisa.

— Isso só mostra que ela é suspeita. Qualquer


garota normal já teria questionado, Pyotr! Um
garoto de dezessete anos, dirigindo! E não
qualquer carro, mas máquinas caras e raras!
Andando por aí com a porra de uma arma! —
Jannochka aproximou o rosto do de Pyotr —
Vocês foram parados pela polícia, que eu sei.
O policial olhou a sua identidade, e te deixou
ir. Fácil assim. E ela não perguntou nada? Lisa,
a pobre doce inocente Lisa!

Ao terminar de falar, o rosto de Jannochka


estava vermelho, tendo ela aumentado
bastante o tom de voz. Pyotr não mudou
muito a expressão, mas as lágrimas desceram.
Aquilo partia o coração de Jannochka, a mãe,
mas enraiveciam a Don da Tambovskaya.

— Fique em casa, e eu a protegerei. Me


desobedeça, e eu a mato com as minhas
próprias mãos e ainda faço você assistir.

Pyotr deu um passo à frente.

— Não se atreveria!

Jannochka sorriu de lado, tranquila.


— Testa. Já falei isso: eu te amo, mas não vou
colocar a vida de gente que está levando as
coisas à sério, em risco, por um capricho seu.
Por desobediência — Ela se recostou na mesa,
braços cruzados — É assim que pretende
assumir o meu posto?

— E quem disse que eu quero a porra desse


posto? — Pyotr esbravejou e tirou a arma da
cintura — Eu largo isso aqui tudo por ela.

Jannochka sorriu de leve, soltando uma leve


baforada de desdém.

— Muito bem. Ekaterina assumirá. Não há


motivo para disputas, então. Se ela não quiser,
qualquer outro, menos você — Ela ficou mais
séria — Se quer ir embora… Vá. Mas vá com
dignidade e deixe absolutamente tudo pra
trás.
Pyotr tremeu os lábios, com raiva.

— Ótimo.

— No momento em que sair daqui, Pyotr, eu


não poderei mais protegê-lo. Nem eu e nem a
Organização — Ela voltou para a poltrona
dela, sem pressa — Espero que valha a pena..

— Você só pensa no poder — Ele colocou a


arma em cima da mesa dela e deu alguns
passos para trás, os olhos cheios de lágrimas,
não de tristeza, mas de fúria.

Ele deu as costas e se encaminhou para a


saída.
— Achei que a essa altura do campeonato
você compreenderia que o poder é o que nos
protege.

Pyotr parou com a mão na maçaneta, sem se


virar.

— Não esse poder.

Ele saiu, batendo a porta com força.

— Poder é poder, garoto — Jannochka sorriu


amarga, observando as câmeras. Ela viu o
filho fazendo uma mala e, depois, indo para
um dos carros.
Jannochka pegou o celular e avisou a todos
que Pyotr Larion não estava mais sob a
proteção dos Sigayev.

— Ele acabou de sair com um dos carros,


Parkhan.

— Não precisa avisar as autoridades sobre o


roubo. Apenas deixe claro que ele não é mais
parte da Tambovskaya.

— Sim, senhora.

Não demorou até Santiago entrar no


escritório, furioso, sem nem bater.
— Que porra é essa, Janniochka?! — Ele
caminhou furioso até a esposa — O meu
filho…

— Ele não quer fazer parte — Ela o


interrompeu — Pyotr quer viver um grande
amor, longe da máfia. Eu apenas permiti.

Santiago bufou algumas vezes e soltou um


rosnado.

— Você o deixou à mercê dos nossos


inimigos!

Jannochka se levantou, a aura dela emanando


perigo.
— Eu não vou proteger um civil que quer se
distanciar de nós. Se Pyotr quer se escafeder
no mundo com aquela garota, ou seja lá com
quem, que vá! O que ele não pode é
permanecer aqui e colocar os pescoços de
todos na reta! — Jannochka apontou para a
porta — Não falo apenas de você e de mim.
Nem só dos outros membros. Mas de
Ekaterina!

— Ele não a…

— Já o fez! Ekaterina seguiu um homem


suspeito, que se matou para que ela não o
capturasse. Um homem que estava seguindo
Pyotr! Ele e aquela garotinha! Você me pediu
para que eu fosse mais paciente, para que não
mandasse matar aquela garota. E pra quê? Pra
que Pyotr se evadisse das responsabilidades
dele!

— Ele só está confuso…

— Santiago, a nossa filha aceitou casar com


um Vermelho. Ela também ama alguém, mas
pensou no bem de todos! Incluindo o Pyotr. E
ele é tão egoísta que não vê isso. Se ele é
incapaz de pensar nos outros, não serve para
fazer parte de uma Organização como a nossa.

Santiago inspirou algumas vezes, o coração


apertado. Jannochka o olhava, com lágrimas
nos olhos, e isso o quebrou. Aquela mulher
chorou poucas vezes desde que estava com
ele. As últimas haviam sido quando os gêmeos
nasceram e quando o pai dela morreu.
Ele a abraçou e a acalentou, enquanto
Jannochka chorava no ombro dele.

Quando Pyotr chegou à casa de Lisa, ela se


assustou em vê-lo aquela hora do dia.

— O que faz aqui?

— Não está feliz em me ver? — Ele perguntou


e Lisa o abraçou.

— Claro que estou! — A loira beijou-lhe os


lábios — Mas e a sua família? Você não vem
aqui, de dia.
— Arruma as suas coisas. Vamos meter o pé
— Ele tirou um envelope com dinheiro do
casaco e o colocou em cima da mesinha de
entrada — Avise os seus pais para sumirem
— Pyotr olhou em volta e franziu a testa —
Por sinal, sua mãe não está?

Lisa mordeu o lábio, tentando disfarçar o


nervosismo.

— Ela saiu… Foi ao mercado — Ela segurou a


mão de Pyotr — Por que quer fugir?

— A única coisa me segurando aqui é você —


Ele a encarou, como se quisesse alcançar a
alma dela.
Lisa acenou com a cabeça.

— Pyotr, eu tenho… Eu tenho que te dizer


uma coisa.
CAPITULO 66

— Você me conta no caminho. Vem, vou te


ajudar a arrumar… Eu também tenho que te
dizer algo.

— Pyotr, é sério! — Lisa estava quase


chorando e inspirou fundo — Senta e me
ouve. Depois, me diz se quer mesmo fugir
comigo.

Pyotr sentiu um frio subindo pela espinha


dele e as palavras da mãe ecoaram na mente
do rapaz. Ele se sentou no sofá.

— Muito bem…
Lisa se colocou na frente dele, andou de um
lado para o outro, antes de respirar fundo
pela última vez e o encarar.

— Antes de tudo, eu quero que saiba que eu te


amo — A voz embargada da loira apenas
adicionou mais pânico em Pyotr, que mesmo
emocionado com a declaração, não conseguia
deixar de sentir medo — Meu pai está morto.
Bom, meu pai de criação, mas quem me deu
amor e cuidou de mim e da minha mãe.

Pyotr apenas a observava. Lisa parecia estar


lutando contra algo, mas continuou a falar.

— Depois que ele morreu, as coisas ficaram


estranhas. Papai trabalhou muito. Não éramos
ricos, mas… Também não éramos pobres!
Apareceram dívidas que minha mãe,
claramente, não tinha como pagar. Perdemos
a casa, o carro. Até nossas roupas foram
levadas!

— Um dia, um homem nos visitou. Ele entrou,


com outros, vestidos de preto e cobrindo o
rosto. Ofereceram pagar as dívidas, mas havia
um preço. Para garantir que pagássemos,
minha mãe ficaria com eles, enquanto eu faria
o trabalho sujo.

Lisa passou a mão pelo rosto. Ela não olhava


mais para Pyotr. Na verdade, ele podia notar
como ela estava distante.

— Eu não sei quem são. Juro que não sei. Só o


que sei é que são pessoas poderosas e muito,
muito perigosas. Eu tinha que vigiar você,
depois, me aproximar e garantir que eles
tivessem acesso a você, aos Sigayev. Eu sei
que vocês também são perigosos. Mafiosos.

A respiração de Pyotr ficou presa no peito


dele. Porém, ele nada disse, permitindo que
Lisa continuasse.

— A peça de xadrez… Eu já sabia que você


gostava. Ela… Ela não era só uma escuta, como
um rastreador e… — Lisa mordeu o lábio —
Mapeou por onde você foi.

Pyotr se colocou de pé, passando a mão pelos


cabelos.
— Mas não conseguiu pegar muito da casa,
porque… Porque a sua casa tem umas coisas
que interferiram no sinal! Eu juro que não
quero o seu mal…

Lisa chorava e Pyotr estava de costas para ela.


— Você me fez perder a peça de propósito,
não é?

— Sim — Ela fungou.

— Sua mãe…

— Ainda viva. Ou ao menos, foi o que me


disseram, mas… Eles não deram um
tratamento V.I.P. a ela — Lisa voltou a chorar
e Pyotr se virou para encará-la — Perdão,
Pyotr. Eu queria não ter feito nada disso. Eu
queria poder te falar tudo antes! Só que você
quer ir embora e não posso… Não posso te
deixar fazer isso sem saber o que tá
acontecendo!

Pyotr então se deu conta de algo. Ele olhou em


volta, a respiração acelerada.

— Esquece as suas coisas — Ele segurou a


mão dela — A gente tem que sair daqui.
Agora!

Lisa piscou algumas vezes, quase sendo


arrastada por Pyotr.

— Você não me odeia?


— Nós dois vamos falar melhor depois,
Elisaveta. Se é que esse é o seu nome!

— Pyotr, não acho…

Ele se virou e, pela primeira vez, Lisa viu ali


um mafioso, e não o garoto espirituoso e
afetuoso.

— Você vem comigo! E vai me contar cada


detalhe de toda porra que se lembrar!

Ele quase a jogou dentro do carro, tremendo


de raiva, os pensamentos numa névoa louca.
Lisa choramingava, mas tentava abafar. A
última coisa que ela queria era piorar as
coisas.

— Quem é você?

Pyotr perguntou, olhando a estrada.

— M-meu nome…

— Fala!

— Elisa Romanovich. Meu pai… Ikovle


Romanovich. Minha mãe, Frosya. Pushkin
quando solteira.
Pyotr acenou com a cabeça.

— Cadê seu telefone?


— Pra quê..?

— Não vou pedir de novo!

Lisa, com as mãos trêmulas, retirou o


aparelho do bolso do casaco, colocando-o na
mão que Pyotr tinha estendido. Assim que ele
o pegou, abriu a janela do carro e o atirou
longe.
— A porra do seu celular tem rastreador, com
certeza — Ele inspirou fundo — O que mais
está escondendo de mim?

— Nada. Eu… Eu não sei nomes — Ela


escondeu o rosto nas mãos e então olhou para
frente — O sotaque… não eram russos!
Falavam nosso idioma de forma sofrida.

— Italianos?

— Talvez…

Pyotr tirou o celular dele do bolso da calça e


começou a digitar, enquanto olhava a rua. Um
som de alguém falando russo, com sotaque
italiano.
— Isso?

Ela concordou com a cabeça.

— É bem parecido! — Lisa inspirou fundo —


Você me odeia?

Pyotr guardou o celular.

— Deveria. Você mentiu pra mim. Colocou


toda a minha família em perigo! — Ele socou o
volante e sorriu de raiva — Só que você não
tem dever de lealdade, como eu. E veja só… Eu
os traí. Por… Nós!
A raiva de si mesmo o consumia. Ele tinha
desafiado a mãe, renegado a todos, mesmo
depois de Jannochka ter tentado abrir os
olhos dele.

“Enquanto isso, Ekaterina vai se casar com a


porra de um Vermelho, abdicando do
Bernardo…”. Ele queria bater em si mesmo.

— Perdão…

— Vamos fazer o seguinte: procurar a sua


mãe. Depois, você e ela vão sumir! Entendeu?

— Pyotr, eu te…
— Nem pense em repetir essa merda! — Ele
inspirou fundo — Se eu não amasse você,
Lisa… Porra!
Outro soco no volante e ele pegou o celular,
ligando para Bernardo.

— Oi! — Bernardo atendeu.

— Preciso que procure alguém.

— Eu? — Bernardo, que tinha acabado de se


exercitar, perguntou, subindo as escadas.

— Vai ajudar ou não?


— Que grosseria… Vou, claro. Quem?

Pyotr deu as informações que tinha.

— Consegue?

— Eu vou tentar… Mas eu preciso de uma


conexão com ela. Consegue ligar ou…

Pyotr amaldiçoou baixinho.

— Não.

— Droga… — A ligação estava em viva-voz.


— Eu sei o número de cabeça. Deles — Lisa
falou e Pyotr a olhou feio, pois ela não tinha
dito aquilo antes — Desculpa, não sabia que
era importante.

— Começa a falar — Pyotr ordenou e a garota


falou. Bernardo queria perguntar quem eram
“eles”, mas preferiu não fazê-lo. Pyotr parecia
alterado demais.

— Eu vou ver o que faço. Já volto! — O loiro


respondeu e finalizo a ligação.

Enquanto isso, Ekaterina estava terminando


de se arrumar. Ela iria jantar com Konstantin
e, por mais que tivesse a intenção de ligar
para Pyotr, sabia que teria que ser cautelosa.
Além disso, ela duvidava muito que a mãe
deixaria o rapaz ir embora sem proteção.

Konstantin a esperava na sala. Quando ela


desceu as escadas, ele sorriu.

— Desculpe a demora — Ekaterina falou, pois


eles estavam atrasados.

— Valeu a pena — O loiro respondeu.


Jannochka e Santiago não estavam ali, apenas
Yuri. Pelo menos em corpo.

Konstantin abriu a porta do carro e Ekaterina


entrou, atracando o cinto. Assim que o veículo
começou a andar, ela apenas encarou a rua
pela janela.
Em um determinado momento, Konstantin
iniciou uma ligação. Mesmo sem se virar,
Ekaterina estava atenta.
— Sim, por favor. Cancele a reserva. Eu decidi
levar a minha noiva a um lugar mais…
Reservado.

— Sim, senhor — Alguém falou do outro lado


da linha e Ekaterina franziu a testa.

— Obrigado — Konstantin finalizou a ligação


e continuou dirigindo.

— Pra onde está me levando? — Ekaterina


perguntou, tentando manter o tom amigável.
— Surpresa.

— Odeio surpresas — Ela falou e Konstantin


apenas sorriu.

— Lamento.

Ekaterina esperou e, como o loiro ao lado dela


nada disse, ela tirou a arma da perna, que
estava presa com uma cinta de couro, e a
apontou para a cabeça de Konstantin.

— Pra onde?
CAPITULO 67

— Eu estou dirigindo. Não é muito


aconselhável deixar o motorista nervoso,
linda. Eu quero apenas ter privacidade…

Ekaterina destravou a arma.

— Foda-se os seus conselhos e a sua


privacidade de merda. PRA ONDE?

Konstantin suspirou, sem parecer se abalar.

— Seu irmão é um idiota. Sabia disso?


A russa travou o maxilar e apertou a arma
ainda mais contra a têmpora de Konstantin.

— O sujo falando do mal lavado — Ela sorriu


falsamente — Última chance, loiro.

— Assim eu vou acabar me apaixonando de


verdade. Ai, ai… — Konstantin virou o carro e
entrou na estrada principal — Vamos
encontrar meu cunhadinho.

— Pyotr não é seu cunhado. E sabe que ele


nunca será.

— A esperança é a última que morre. Vai que


você cai de amores por mim? Eu também sou
loiro e sei ser fofo — Ele sorriu bonito e
piscou os olhos.

— Você é sem graça. E eu, sem paciência.

— Muito bem, vamos falar sério — Konstantin


se endireitou no banco, sem tirar os olhos da
estrada — Seu irmão debandou. Como eu sei,
coisas minhas. Depois eu explico melhor. Mas
o importante é que eu sei.

Ekaterina usou a outra mão para puxar com


força o cabelo do topo da cabeça de
Konstantin, que soltou um grito.

— Porra, Rina! Eu tô falando! — Ele fez uma


careta — Você me deixou de pau duro.
— Que nojo.

— Ainda caso com você, mulher. Enfim…


Vamos deixar as mãos longe um do outro, por
hora, mesmo que seja você me deixando com
tesão — Ele soltou uma gargalhada — Ele foi
ficar com a vadia dele. Eles fugiram e,
adivinha: estão sendo seguidos.

— Eu vou ligar pros…

— Uh-uh. Vocês estão grampeados, meu


amor. Seu irmão é burro demais —
Konstantin acelerou — Não sou um gênio,
mas menos idiota. Um italianinho de merda
está cuidando dos sistemas, a loirinha é otária
e “doce” demais, cai fácil numa lábia. Ou não
estaria com o seu irmão, sejamos francos.
— FALA LOGO! O próximo lugar que eu vou
atingir vai te fazer ficar “mole” pro resto da
vida! Você é um dos seres mais irritantes que
eu já tive o desprazer de conhecer!

— Quanto ódio no coração. E eu só ajudando.


Vai ver o otário sou eu mesmo. Continuando,
nós vamos salvar o dia. Por isso, princesa
deliciosa, é melhor se concentrar pra atirar
nos alvos que importam, não em mim.

— Se estiver mentindo…

Konstantin ficou sério e olhou no retrovisor.


— Não minto quando é sério, Ekaterina.
Estamos sendo seguidos, mas que se foda. Vê
o carro preto beeeem atrás da gente? — Ela
olhou pelo retrovisor lateral e concordou com
a cabeça — Atire na roda dele.

Ekaterina abaixou o vidro, pensou e, quando


colocou a arma para fora, atirou de uma vez,
sem errar os alvos. Primeiro, o pneu dianteiro
e, quando o carro virou, ao perder o controle,
ela atirou no traseiro.

— Menina obediente! — Konstantin virou o


carro sem aviso e eles saíram da estrada —
Certeza que não quer casar comigo?

— Dirige a merda desse carro!


— Tô apaixonado! — Ele tinha total controle
sobre o veículo, o que fez Ekaterina ver um
ponto positivo no homem — Creio que os
carros de vocês tem rastreador, não?

— Sim.

— Ótimo. Pega o meu telefone, procura por


RNNO e liga — A mão de Ekaterina foi para o
visor do carro, mas Konstantin negou com a
cabeça — Tá no meu bolso, o outro celular.

— Seu desgraçado… — Ela murmurou, mas


aproximou a mão do bolso dele. Konstantin se
virou um pouco, o que indicava que era o de
trás.
— Prefiro que peguem no meu pau por gosto.
Quem sabe depois dessa aventura, huh? — Ele
sorriu amarelo e Ekaterina revirou os olhos,
pegando o aparelho — Acho que ao menos um
beijinho… — ele fez bico.

— Estou tentada a enfiar uma coisa na sua


boca, Tchekhov! E acredite, você não vai
gostar nada!

Ele só sorriu. Irritar Ekaterina o deixava


contente. Konstantin adorava ser irritante e
inconveniente.

Assim que ele viu Ekaterina clicando em


LIGAR, Konstantin colocou a mão sobre a dela.
— Caladinha, paixão.
Um toque e o telefone foi atendido.
— Ouvindo, patrão.

— Manda a localização do Pyotr Sigayev.

Sem resposta vocal e, em segundos, Ekaterina


viu a tela ficando preta com um ponto
esverdeado, brilhando, além da bússola.

— Valeu. Qualquer coisa, eu aviso. Mas fica de


olho aqui.
— Entendido.

O barulho da ligação caindo foi ouvido.


— Fica de olho. Vai me dando as coordenadas.

— Não sei ler essa merda.

— Olha a bússola, meu amor.

— É sério?

— Parece não ser?

Ekaterina fez careta, querendo acertar o loiro,


mas Pyotr era mais importante. Ela se
concentrou para entender aquilo. Konstantin
deu algumas dicas e, logo, Ekaterina pegou o
jeito.

“Inteligente… Se acabássemos casando


mesmo, eu estaria satisfeito”, ele pensou,
sorrindo internamente.

Logo, o carro de Pyotr foi visto e, claro, como


Konstantin previu, já estava em perseguição.

— Mas que caralho! — Pyotr reclamou e Lisa


chorava — Pelo amor de Deus, para de
chorar… Você não tem uma arma?

— Claro que não!


Um outro carro apareceu, no barranco do lado
do passageiro. O automóvel era escuro. Um
tiro no carro que o perseguia, vindo dali e
Pyotr se perguntou se era um dos carros dos
Sigayev.

Isso o fez se sentir com uma esperança


diferente. Seria Jannochka ou Santiago?

— Segura aí! — Ele avisou e jogou o carro


para o lado, descendo um barranco. Lisa
chorava, com os olhos fechados.
Outro carro seguiu Pyotr, bem como o “carro
amigo”. Pelo que ele pode perceber, o outro
veículo perseguidor estava de faróis
apagados, antes. E, como aquela estrada não
tinha qualquer iluminação, Pyotr não pode vê-
lo.
— Quando eu falar, você vai abrir essa porta e
sair — Ele disse, calmamente para Lisa, que
sacudiu a cabeça negativamente, desesperada
— Lisa, eu volto pra pegar você. Vou
desacelerar, você pula e corre pro outro lado,
entendeu bem?

— Não posso…

— Confia em mim? — Ela tremeu os lábios e


acenou que sim — Então, faça como eu
mandei.

— Eu vou morrer.
— Não vou deixar — O tom de Pyotr foi doce,
mas determinado. Lisa sorriu. Ele desacelerou
e ela colocou a mão na maçaneta.

— Cuida da minha mãe, se ela ainda estiver


viva. Eu amo você, Pyotr.

Com isso, Lisa saiu do veículo e Pyotr se


sentiu vazio imediatamente. Apesar da raiva,
ele a queria. Mas uma sensação ruim tomou
conta dele.

“Presta atenção na estrada!”, ele disse a si


mesmo, vendo que os carros ainda o seguiam.
CAPITULO 68

A janela do motorista do carro esportivo


abaixou e uma arma apareceu ali. Pyotr viu
fios loiros e franziu o cenho. A mão toda
tatuada e ele não acreditou.

— Konstantin? — Ele se perguntou, e, com


essa distração, passou em cima de uma pedra.
Não estourou o pneu, mas sacudiu o carro,
que não era feito para aquilo — Merda!

No carro do herdeiro da Máfia Vermelha,


Konstantin atirava sem dó. Ele acertou três
tiros no mesmo lugar e Ekaterina se
impressionou.

— Você não é tão inútil!


— Você não viu nada, meu amor! Segura!

O carro acelerou mais ainda e foi de encontro


lateral com o carro maior.O vidro quebrou
com mais um tiro de Konstantin, que mirou
no passageiro e o acertou na cabeça, antes de
desacelerar e ficar logo atrás do veículo.

— Lá vem mais!

Outros carros apareceram.

— Você tem mais armas? — Ekaterina


perguntou. Ela sempre andava com pelo
menos duas reservas de munição, mas estava
ficando sem.
— Banco de trás. Eu vim preparado pra isso
— Ele sorriu presunçoso — Vou abrir o porta-
malas. Acaba com esses filhos da puta. Mas
primeiro, me dá munição.

Ekaterina recarregou a arma dele, foi para o


banco de trás, pegou mais armas e as colocou
perto de Konstantin, antes de se preparar e
gritar para ele abrir o porta-malas.

“Pyotr, eu vou te matar!”.

Ela o reconheceu como um dos carros da


família.

Ekaterina estava tendo dificuldades em


acertar os alvos, que se moviam rápido. Além
disso, o terreno, apesar de não ser mais uma
descida, era muito irregular e o carro de
Konstantin, um Aston Martin Valkyrie, muito
veloz, não tinha a estabilidade necessária para
estar ali.

— Podia ter vindo… Ai, caralho! — A cabeça


dela bateu no topo — Com um carro melhor!

— Levantaria suspeitas! — Konstantin


respondeu.

O carro de Pyotr apitou, indicando que logo


ele ficaria sem gasolina. Ele tinha pego o
primeiro carro que viu e pretendia parar para
abastecer, porém, a perseguição começou
antes.
— Ah, que porra! — Ele balançou a cabeça —
Eu tenho que achar onde parar!
“Se eu sair dessa, vou pedir perdão pra
mamãe, lamber o chão por onde ela passar”,
ele viu um dos carros pelo retrovisor, o que o
deixou nervoso. Aquele carro era um dos
favoritos de Jannochka.

Ele pegou a bolsa dele do banco do motorista


e se preparou. Usaria aquilo como peso para
acelerar, enquanto ele faria o mesmo que Lisa
e, depois, se esconderia. Sem uma arma, Pyotr
estava completamente indefeso.

A queda foi dolorosa, mas como era treinado,


Pyotr proteger a cabeça. De nada adiantaria
batê-la e perder a consciência. Ou levaria um
tiro, ou seria atropelado.
Ele se levantou o mais rápido possível, correu
para a mata e se colocou atrás de uma das
árvores. Enquanto isso, o carro dele bateu e
parou.

Konstantin apertou os lábios. Ele viu a porta


do carro abrindo, mas não tinha muita
certeza, já que a iluminação era muito ruim.

“Se esse idiota morrer, eu nem sei! A irmã é


tão esperta, e ele um otário!”

Não havia apenas um carro Sigayev, mas


Ekaterina conseguiu distinguir que eram de
soldados. Menos um… O carro de Jannochka.
Com os vidros escuros, não tinha como saber
quem estava dirigindo.
— Os carros começaram a parar… —
Konstantin avisou — Entra!

Um tiro atingiu Ekaterina na perna e


Konstantin xingou.

Assim que ele saiu, atirando, a puxou para


fora, escondendo-se. A noite encobriria o
rastro de sangue.

— Calminha.

— Vou matar esses filhos da puta!

— Não se eu os matar antes — Konstantin


não podia iluminar o ferimento, mas arrancou
um bom pedaço da própria camisa — Você
sabe onde é.

— Obrigada.

A vontade de fazer piada era grande, mas o


momento definitivamente não era apropriado.

— Fica aqui. Eu vou atrás do Pyotr.

Ekaterina segurou o braço de Konstantin.

— Cuidado.

— Eu volto pra você.


Ele se esgueirou para longe, sem o casaco. A
blusa preta por baixo era completamente
fosca. Konstantin só amaldiçoou ter os
cabelos claros.

“Cadê esse merdinha?”

Tiros ecoavam e Pyotr mal os ouvia, quase


surdo com o sangue bombeando nos próprios
ouvidos. Ele tinha apenas uma faca com ele,
portanto, só poderia se envolver em um
confronto físico, bem próximo.

“Eu vou estar fodido!”.

Konstantin não conhecia todos os homens da


Tambovskaya, o que dificultava em muito a
vida dele. Ao ver um se aproximando, ele ficou
bem parado e esperou a oportunidade,
agarrando-o por trás e abaixando a gola da
camisa. O pouco de que ele podia enxergar foi
o suficiente para discernir uma tatuagem, a
aranha. Os italianos tatuavam nas mãos os
símbolos de sua Organização.

— Estou do lado dos Sigayev — Ele soltou o


homem, que o reconheceu — E os outros?

O homem fez sinal com as mãos e Konstantin


olhou para lá, acenando com a cabeça que
havia compreendido.

Ekaterina não ficou parada, atirando. Ela


sentia uma urgência em achar o irmão.
Do carro da mãe, quem saiu de dentro foi
Maksim, o que a surpreendeu. O rapaz era
rápido e parecia outro, quando pronto para a
luta.

A munição estava quase no fim e ela sabia que


precisaria ou se esconder como uma covarde,
ou voltar ao carro.

“Merda!”, ela esperava os tiros para poder


enxergar algo com a claridade que eles
causavam, apesar de pouco. A Lua era
minguante, o que não ajudava muito.

Ela correu como podia, para o carro. A


adrenalina alta diminuia a sensação de dor,
porém, a perda de sangue era sentida na
percepção que ela tinha dos arredores dela.
Uma mão a segurou pelos cabelos e a dor da
faca nas costelas quase a deixou cega, mas
Ekaterina chutou a canela do agressor,
jogando então a cabeça para trás, quando ele
afrouxou o aperto dos fios dela, virando-se
por baixo do braço dele e o acertando na
virilha.

A tontura a pegou de jeito.

“Não posso morrer, ainda!”, ela pensou,


chegando ao carro e pegando o que precisava.

Dali, Ekaterina conseguiu ver o que ela


acreditava ser o irmão, em luta corporal com
alguém. Maksim não estava diferente. Ela foi
atrás de Pyotr.
Konstantin levou um tiro no ombro e
praguejou mentalmente. Ao ver Ekaterina, ele
arregalou os olhos e foi atrás dela.

“Eu disse pra ela ficar quietinha!”.

Os olhos deles já se acostumavam mais à


escuridão, permitindo que vissem melhor.

Pyotr a viu, mas antes que pudesse fazer algo,


enquanto se livrava do inimigo em cima dele,
mais um disparo e o barulho de corpo caindo.

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