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Planejamento e controle de manutenção preventiva no laboratório de

usinagem do IFRS

Autor(es): André Fernando Ebersol Menna, Júlia Mello Gonçalves e Yasmin de


Souza Usandizaga

IFRS - Campus Rio Grande

Mecanismo de formação do cavaco

Introdução

A formação do cavaco influencia em diversos fatores ligados a usinagem,


como:

• Desgaste da ferramenta;

• Esforços de corte;

• Calor gerado na usinagem;

• Penetração do fluido de corte;

Desta forma estão envolvidos com o processo de formação do cavaco


aspectos econômicos, qualidade da peça usinada, segurança do operador,
utilização adequada da máquina ferramenta, etc.

O corte dos metais envolve o cisalhamento concentrado ao longo de um plano


chamado de plano de cisalhamento (zona primária de cisalhamento).

A Figura 1 ilustra o processo de formação do cavaco.

Figura 1 - " Formação do cavaco”


Formação do cavaco (adaptado de google imagens)

O ângulo entre o plano de cisalhamento e a direção de corte é chamado de


ângulo de cisalhamento. Quanto maior a deformação do cavaco, menor é o
ângulo de cisalhamento e maiores os esforços de corte. Esta influência é
marcante na usinagem de materiais dúcteis, muito suscetíveis a deformação.

Em geral a formação do cavaco, nas condições normais, com ferramenta de


metal duro ou aço rápido, se processa a altíssima velocidade de formação,
seguida de ruptura de material da peça.

O processo de formação do cavaco divide-se em quatro momentos:

1º - Recalque inicial: Durante a usinagem, devido a penetração da ferramenta


na peça, uma pequena porção de material ainda solidária a peça é recalcada
contra a superfície da ferramenta.

2º - Deformação e ruptura: O material recalcado sofre uma deformação


plástica, que aumenta progressivamente, até que as tensões de cisalhamento
se tornem suficientemente grandes, de modo a se iniciar um deslizamento
entre a porção de material recalcado e a peça.
3º - Deslizamento das lamelas: Continuando a penetração da ferramenta em
relação a peça, ocorre uma ruptura parcial ou completa na região de
cisalhamento, dependendo da ductilidade do material e das condições de
usinagem. Para os materiais altamente deformáveis, a ruptura ocorre nas
imediações da aresta cortante e o cavaco originado é denominado cavaco
contínuo. Para os materiais frágeis, se originam o cavaco de cisalhamento e o
de ruptura.

4º - Saída do cavaco: Prosseguindo devido ao movimento relativo entre a


ferramenta e a peça, inicia-se um escoamento do cavaco sobre a superfície de
saída da ferramenta. Enquanto isto ocorre, uma nova porção anterior de
material está se formando e cisalhando. Esta nova porção de material também
irá escoar sobre a superfície de saída da ferramenta, repetindo o fenômeno.

Desta forma, o fenômeno de formação do cavaco, nas condições normais e


trabalho, é periódico, uma vez que se tem, ciclicamente, as fases de recalque,
ruptura, deslizamento e saída do cavaco para cada lamela de material a ser
removido.

A Figura 2 ilustra as etapas de formação do cavaco.

Figura 2 - " Etapas de formação do cavaco”

Formação do cavaco em condições normais de usinagem (adaptado de KRONEMBERG 1966)

Tipos de cavacos

Os cavacos são classificados quanto ao tipo em:

• Cavacos contínuos: apresenta formação contínua, devido a ductilidade


do material e a elevada velocidade de corte. Pelo fato da força de corte
variar pouco devido a formação continua do cavaco, o acabamento
superficial da peça é de boa qualidade;

• Cavacos de cisalhamento: o material ao ser fissurado no local


solicitado ocorre à ruptura total ou parcial do cavaco. A soldagem dos
diversos pedaços de cavaco se deve a alta pressão e temperatura
desenvolvida na região. O que difere um cavaco contínuo de um cavaco
cisalhado é que este último apresenta um serrilhado nas bordas;

• Cavacos de ruptura: Este cavaco é produzido em materiais frágeis


como os ferros fundidos. O rompimento do cavaco ocorre devido a
presença da grafita, produzindo uma descontinuidade na micro
estrutura. Nos ferros fundidos o cavaco rompe em forma de concha
produzindo um acabamento superficial inferior.

Formas do cavaco

Quanto a sua forma, os cavacos podem ter a seguinte classificação: em fita,


helicoidal, espiral, em lascas ou pedaços.

A Figura 3 ilustra as formas do cavaco.

Figura 3 - " Formas do cavaco”


Formas do cavaco (adaptado apostila de Métodos e processos, ETFPEL)

O material da peça é o que mais influencia a forma dos cavacos. Cavacos


contínuos, parcialmente contínuos e cisalhamento podem ser produzidos em
qualquer uma das formas acima, dependendo dos parâmetros de corte e do
uso de quebra cavacos. Cavacos do tipo ruptura, entretanto, só podem ser
classificados, quanto às formas, de lascas ou em pedaços.

A norma ISO 3685 classificou mais detalhadamente a forma dos cavacos. A


Figura 4, ilustra as formas do cavaco de acordo com a norma ISO 3685.

Figura 4 - " Formas do cavaco / ISO 3685”


Formas do cavaco / ISO 3685 (adaptado apostila de Métodos e processos, ETFPEL)

No que se refere aos parâmetros de corte, em geral um aumento na


velocidade de corte, uma redução no avanço, ou um aumento no ângulo
de saída tendem a mudar as formas da direita para a esquerda, isto é, produzir
cavacos em fitas (contínuos, quanto ao tipo). O avanço é o parâmetro mais
influente, seguido da profundidade de corte, a afetar a forma do cavaco.

As formas de cavacos longos é que causam os maiores transtornos quanto à


segurança de produtividade, exigindo, portanto, mais cuidado e especial
atenção o seu controle. Apesar dos parâmetros de corte, na maioria das vezes,
poderem ser escolhido para evitar ou reduzir a formação de cavacos contínuos,
o método mais efetivo para produzir cavacos curtos é a utilização de quebra
cavacos.

Pode-se provocar a mudança da forma de cavaco sob diferentes maneiras:

• Alterando-se as condições de usinagem;

• Dando-se uma forma especial à superfície de saída da ferramenta;

• Colocando-se elementos adicionais na superfície de saída (quebra


cavacos).
O aumento da capacidade de quebrar cavacos, para materiais não
demasiadamente tenazes, pode ser obtido através do aumento de formação do
cavaco no plano de cisalhamento, isto é, através das seguintes alterações:

• Diminuição do ângulo de saída da ferramenta ou emprego de ângulos


com valores negativos;

• A mudança das condições de usinagem, com o fim específico de se


obter uma forma adequada de cavaco, deve ser sempre que possível
evitada, pois estas são fixadas, levando em consideração requisitos
técnicos e econômicos do processo.

Os ângulos negativos de saída e de inclinação, quando exagerados, aumentam


os esforços de corte, podendo ocasionar vibrações indesejáveis na ferramenta
ou mesmo impossibilitar o corte, no caso da máquina-ferramenta não possuir
potência suficiente.

Desta forma o meio mais adequado para se obter a quebra do cavaco é a


utilização de elementos que são colocados na superfície de saída da
ferramenta, denominados quebra cavacos.

Os quebras cavacos podem ser soldados na superfície de saída da ferramenta


ou postiços. Atualmente as ferramentas de metal duro já possuem quebra
cavacos moldados na superfície de saída da ferramenta.

Figura 5 ilustra os tipos comuns de quebra cavaco.

Figura 5 - " Tipos comuns de quebra cavaco.”


Tipos comuns de quebra cavaco (adaptado de SENAI / FIEMG). Disponível em
<https://slideplayer.com.br/slide/46266/>

Controle do cavaco

Nas operações de usinagem que utilizam corte contínuo em materiais dúcteis,


como o torneamento de aços de baixo carbono, por exemplo, pode ser
imperativo para a produtividade da empresa.

Esse problema se agrava com o uso de ferramentas mais resistentes ao


desgaste que permitem o uso de altas velocidades de corte em máquinas CNC.

A produção de cavacos longos pode causar os seguintes problemas:

• Ocupam grande volume, o que dificulta o manuseio nos processos


subsequentes de manuseio e descarte;

• Podem aderir a peça, partes da máquina, ou ferramenta, criando


situações de perigo ao operador;

• Podem prejudicar o acabamento superficial ao aderir a peça, ou mesmo


quebrar a aresta de corte.

• Aumentam a força de usinagem, a temperatura e, em geral, diminuem a


vida útil das ferramentas.

• Prejudicam o acesso do fluido de corte a área de formação do cavaco.

Para a quebra do cavaco podem ser utilizados quebra cavacos postiços ou


integrais, pois ambos causam uma curvatura mais acentuada no cavaco
ocasionando a quebra por flexão. Também pode ser utilizada variação da
velocidade de avanço aproximando a mesma de zero (possível em máquinas
com CNC), outro método bastante eficiente é a injeção de fluido de corte em
alta pressão na superfície de saída em sentido contrário a saída do cavaco.

Também afetam a quebra do cavaco a geometria da ferramenta, por meio dos


ângulos de saída, inclinação e posição. E ainda fatores como velocidade de
corte, profundidade de usinagem e rigidez da máquina ferramenta. Quanto
menor for o ângulo de saída, maior será o ângulo de curvatura do cavaco.
Quanto ao ângulo de posição, além de afetar a direção de saída do cavaco,
afeta também a espessura. O ângulo de inclinação tem influência direta na
direção e saída do cavaco. Se for negativo, direciona o cavaco contra a peça,
se for positivo ocorre o contrário.

Aresta postiça de corte

A aresta postiça de corte (APC) ou gume postiço pode se formar quando se


usina a baixa velocidade de corte, na interface cavaco ferramenta. Há
evidências que a APC é contínua com o material da peça e do cavaco, ao invés
de ser um corpo separado de material encruado.

A Figura 6 ilustra a aresta postiça de corte (APC) ou gume postiço.

Figura 6 - " Aresta postiça de corte”

Aresta postiça de corte (adaptado apostila de Métodos e processos, ETFPEL)

Este fenômeno ocorre geralmente durante o corte, sob altas tensões de


compressão, as ligações são fortes o suficiente para evitar o escorregamento
do material na superfície de saída da ferramenta.

Assista o vídeo abaixo para observar a formação da aresta postiça de corte.


● Clique no link abaixo para assistir o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=6QZ98Klssr4

Temperatura de corte
A maior parte da potência consumida na usinagem dos metais é convertida em
calor próximo à aresta de corte e muitos dos problemas técnicos e econômicos
são causados direta ou indiretamente por conta deste aquecimento. O custo da
usinagem depende da quantidade de remoção de metal e pode ser produzido
aumentando se a velocidade de corte e ou velocidade de avanço, porém
existem limites para essas velocidades, acima das quais a vida da ferramenta é
drasticamente diminuída.

Os trabalhos provenientes da deformação da raiz do cavaco, durante a


usinagem; do atrito entre o cavaco e a ferramenta, e do atrito entre a peça e a
ferramenta são transformados em calor.

A temperatura da ferramenta de corte se elevará, de acordo com o calor


específico e a condutibilidade dos corpos em contato, além das dimensões das
seções onde escoa o calor.

As principais fontes de calor no processo de formação do cavaco são:

1º - Deformação plástica do cavaco na região de cisalhamento;

2º - Atrito do cavaco com a superfície de saída da ferramenta;

3º - Atrito da peça com a superfície de incidência (Sup. principal de folga) da


ferramenta.

A quantidade de calor gerado é dissipada através do cavaco, da peça, da


ferramenta e do meio ambiente. O material da peça influência nas
porcentagens de calor dissipado por cada meio.

A Figura 7 ilustra a geração de calor e a distribuição de temperaturas.

Figura 7 - "Geração de calor e a distribuição de temperaturas”


Geração de calor e a distribuição de temperaturas (adaptado Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo)

A quantidade de calor gerado na usinagem, aumenta com a velocidade de


corte, avanço e profundidade de usinagem. Esse aumento da geração de calor
e, consequentemente, da temperatura acelera e é acelerado pelo desgaste da
ferramenta, o qual aumenta o coeficiente de atrito e a força de corte. A
temperatura da zona de corte também é influenciada pelo comprimento de
contato entre o cavaco e a ferramenta e pelos esforços de corte. Por outro
lado, para aumentar a produtividade do processo, deve-se aumentar a
velocidade, o avanço e a profundidade de usinagem. Portanto, deve-se tentar
todos os meios para diminuir a temperatura gerada, ou para se conviver com
ela sem grandes danos, sem perda de produtividade do processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERRARESI, D.. Fundamentos da Usinagem dos Metais. Editora Blucher.

MACHADO, A. R.,ABRÃO, A. M., COELHO R. T., DA SILVA, M. B. Teoria da Usinagem dos


Materiais. Editora Blucher.

STOETERAU, R. L, 2003, “Fabricação por Remoção de Material. Processo de Usinagem”, 180


pgs;

TELECURSO 2000; Processos de Fabricação, Vol. I, II, III e IV. Globo editora; 1998; RJ,
Brasil.
______________. Geometria da aresta cortante da ferramenta. Disponível em:
<https://prezi.com/ac-ij81aoknj/geometria-da-aresta-cortante-da-ferramenta/?frame=d068f2ef2e
f799ff1e1e96357b0e6c2bcea1a749>. Acesso em: 13 out. 2020.

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