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Universidade Federal Fluminense

Pedagogia 2023.1

Tópicos Especiais em Antropologia e Educação

Discente: Vivian Isis Turesso de Lara

Docente: Lygia Segala

A disciplina permitiu o enriquecimento do meu capital cultural para formação docente e

pessoal por meio de debates e discussões pertinentes.

Permitiu entender como a educação museal é atravessada por espaços de memórias, questões

políticas, sociais, geográficas, históricas, de versões oficiais e narrativas subterrâneas e

mediação, o contato interpessoal do profissional da educação museal e o visitante ou grupo,

para o compartilhamento do conhecimento do contexto exposto, em um museu fixo, clássico,

ou comunitário, ou, itinerante, de percurso…

Permitiu a análise de documentos oficiais e artigos relevantes para a área de educação museal

como a leitura crítica do PNEM (Política Nacional de Educação Museal) publicado em 2018

e que identifica experiências de educação museal no Brasil e internacionais, Eurocêntricas.

Acompanhado de um glossário do campo museal, explicitando conceitos importantes como,

mediação, ancianidade, raridade, autenticidade, antiguidade e outros...


A visita aos diferentes contextos museais permitiu o desenvolvimento de uma análise crítica

dos contextos experienciados e conhecidos, dos conteúdos e das histórias e narrativas

contadas pelos objetos ou por cada indivíduo representante das instituições.

Durante a disciplina pudemos conhecer diferentes museus distintos e diversificados, desde

espaços museais conservadores, coloniais/imperiais, eurocêntricos e elitistas. Clássicos,

artísticos, críticos mas que contam uma história oficial, burguesa.

Dentro do contexto museal tradicional, pudemos conhecer um pouco do Museu Nacional e do

Museu da República.

Conhecendo o museu de divulgação do conhecimento científico.

Assim como, espaços museais virtuais e comunitários.

Museus de percurso, comunitários e coletivos de resistência e luta. São histórias subterrâneas

e paralelas, dos oprimidos e silenciados pela história oficial elitista.

Dentre os museus apresentados destaco alguns que me marcaram positivamente para a minha

formação docente museal:


MUSEU COMUNITÁRIO ONLINE DE MARTINS DE SÁ, PARATY RJ

Diferentemente dos museus tradicionais e clássicos, os museus comunitários são espaços


construídos coletivamente pela população local de forma democrática.

Visando a garantia de direitos sociais roubados e o fortalecimento e resgate da identidade de


uma cultura, inspirando os mais jovens para a tradição caiçara.

Recebemos em sala a visita a ativista e Educadora (profa ?…) que construiu amizades de
anos com a comunidade caiçara tradicional local, através do trabalho de pesquisa coletiva e
intensa.
Possibilitando o resgate histórico daquele povo, com o andamento da pesquisa e da criação
do museu comunitário.

Através da idealização conjunta e de muita luta. Pela conservação da terra, memória, história,
práticas, jeitos, modos… Através de um MUSEU ONLINE, organizado e construídos pelos
jovens.

Estas relações foram estabelecidas com o tempo e confiança. Pois este povo caicara é
naturalmente tímido.

São diversos produtos artísticos, manuais, audiovisuais produzidos de atividades pedagógicas


e oficinas realizadas na comunidade…

Para a construção do museu, houve intenso trabalho em grupo pelo mapeamento da


localidade, trabalho de pesquisa de campo extenso, pela idealização e construção do conteúdo
e forma do museu. É uma ferramenta de luta, de registro e visibilidade para vencer uma
guerra contra a grilagem de terras, especulação imobiliária e injustiça social.

Ferramenta de reconhecimento, afirmação e ressignificação da identidade e costumes do povo


caiçara de Martins de sá.
VISITA A CASA DA DESCOBERTA

Localizada no Instituto de Física no campus da praia vermelha em Niterói, está a casa da

descoberta, um museu de ciências exatas e biológicas, como a física, matemática, química,

biologia… para exposição do conhecimento teórico de maneira direta, prática, visual e

participativa.

É um museu que estimula o pensamento e a interatividade.

Diferentemente de museus clássicos e conservadores que não permitem a troca de

conhecimentos em experiências práticas.

Que reproduzem visitas guiadas sob comandos de "não toquem em nada", "andem em filas e

em silêncio".

E às vezes SEM mediação.

Travando a comunicação, trocas dialógicas e desenvolvimento do pensamento crítico.

Para os visitantes a experiência museal nestas referidas condições, ultrapassadas, é altamente

empobrecida e vazia de SENTIDO.

Como por exemplo, a história do povo negro. A riquissima história cultural é apagada e

resumida ao período escravista.

Muitos indivíduos negros não se sentem representados, vistos com a dignidade que um

branco possui em uma sociedade racista.

O museu de ciências possibilitou maior interação com o mediador, que nos guiou de modo

instigante e interessante, envolvendo o público nas experimentações e sem constrangimentos.


VISITA AO MUSEU SANKOFA - ECOMUSEUS COMUNITÁRIO E ITINERANTE

DA ROCINHA

“As memórias da Rocinha estão nos becos, vielas, portas e janelas” FIRMINO

“As memórias da Rocinha são as pessoas e famílias” FIRMINO

“Falar do passado, para construir o presente e o futuro” FIRMINO

A história da comunidade da Rocinha, contada pelo guia turístico, morador da

comunidade e educador museal Firmino, se entrelaça com a história escravocrata e de

especulação imobiliária no Rio de Janeiro, no alto da Gávea. Os primeiros moradores eram

escravizados ou recém libertos, imigrantes cearenses, quilombolas… que trabalhavam em

fábricas têxteis ou fazendas. A gávea era um bairro negro e operário. Com o fim da

escravidão, os negros libertos não receberam nenhuma garantia, nenhuma política pública.

Foram expulsos pela especulação imobiliária e racismo ambiental e estrutural, da região da

lagoa para as periferias, os morros.

Assim foi nascendo a Rocinha, a partir do alto do morro (RUA 1), através de

loteamentos e roças de subsistência.

Em 1861, um homem negro, escravizado e letrado, inaugurou uma escola para

crianças negras e pobres da Rocinha. Buscando libertação e educação para seu povo.

No alto da Rocinha, no Laboriô, próximo de onde começamos nosso percurso à pé,

com auxilio de uma van para chegarmos até o alto alto morro. Onde há nascentes de água

límpida e potável, onde os mais antigos buscam água para beber. Entretanto, à medida que a

nascente percorre o morro, vai sendo poluída por falta de saneamento básico e coleta de lixo

regular.
Apesar da poluição presente, há um Parque Ecológico. Inaugurado em 2012, com uma

quadra pública de tênis, basquete, anfiteatro em atividade, banheiros com grafite

estampados… churrasqueiras e playground (estes, sem manutenção para uso). Nas

quadras havia jovens e crianças praticando esportes. Ainda há a presença de uma UPP e

policiamento no local.

Continuando a descida na Rocinha, encontramos a Garagem das Letras, uma

biblioteca comunitária em que a comunidade se organiza para manter. Um espaço lúdico e de

lazer com conhecimento, leitura e letramento para crianças, jovens e adultos. Conta com

serviços de assistência social, alfabetização de adultos, jogos de xadrez e eventos como a

sexta lúdica com contação de histórias e papo das meninas. Em frente, há a presença do

tráfico de drogas com armas pesadas.

Na comunidade há escolas públicas municipais como a Francisco de Paula Brito com

mil alunos e referência na história da Rocinha para os moradores. Produzindo eventos e livros

como o Varal de Lembranças, para manter a história da comunidade viva.

A Rocinha conta com uma biblioteca pública, grande e de 3 andares com diversos

serviços, como a Yoga na Laje e outros. Na rua 4, nos deparamos com uma praça para o

lazer, música e cultura da comunidade. Antes, era uma cadeia e que foi demolida.

Depois conhecemos a ASPA: Ação Social Padre Anchieta, de cunho religioso,

franciscano. Por fim, finalizamos nosso trajeto na passarela em frente a comunidade, que com

muita luta popular foi construída, após muitos atropelamentos e reconstruída como um

projeto de Oscar Niemeyer, garantindo um direito básico à segurança da população da

Rocinha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ocupar é resistência e como futura Educadora crítica nestes espaços de educação, para além

somente do espaço da escola. Compreendendo através das trocas que tivemos em sala nas

discussões e referências lidas. Percebendo quais os contextos e narrativas que estão sendo

contados, mostrados, oficiais e subterrâneas. Quais os elementos das contradições de

perspectivas e conceitos expostos.

É enriquecedor poder ter uma formação crítica inicial em um campo de importância social e

histórica, de potencial transformador no indivíduo e na sociedade.

REFERÊNCIAS

CUNHA, C. dos R. e. Alois Riegl e "O culto moderno dos monumentos" . Revista CPC, [S.
l.], n. 2, p. 6-16, 2006.

MARANDINO, M. Museus de Ciências como Espaços de Educação In: Museus: dos


Gabinetes de Curiosidades à Museologia Moderna. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p.
165-176.
I59 Instituto Brasileiro de Museus. Caderno da Política Nacional de Educação Museal.
Brasília, DF: IBRAM, 2018.

PNEM - POLITICA DE EDUCAÇÃO MUSEAL.

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,


vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-13.

RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos. Leya, 2019.

SOARES, Brulon et al. Definir los museos del siglo XXI: experiencias plurales; SEGALA,
Lygia. Museu experimental urbano e estratégias de reconhecimento social. ICOFOM, 2017.

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