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EDUCACIONAIS PARA A
EDUCAÇÃO BÁSICA
FICHA CATALOGRÁFICA
Neste terceiro Módulo de nossa disciplina, iremos abordar a formação inicial e continuada de
docentes e a prática educacional em nosso país. De início, iremos estudar os processos históricos
que deram origem à regulamentação e às formas de funcionamento da profissão docente,
buscando relacionar as mudanças que ocorreram (e ainda ocorrem) aos diferentes contextos
históricos e sociais. Em seguida, iremos nos debruçar sobre as características da prática docente
na contemporaneidade, as características dos cursos superiores e seus atributos e requisitos para
a formação de professores(as).
No segundo tópico também teremos dois objetivos estabelecidos: iniciaremos com reflexões
acerca da relação entre teoria e prática dentro do processo de ensino e aprendizagem, abordando
questões da Didática e de aspectos metodológicos educacionais.
Por fim, iremos falar sobre a importância e os desafios da formação continuada de docentes, que
deve ocorrer durante nossa prática e ser fonte de novos conhecimentos e perspectivas para que a
nossa atuação não se estabeleça em uma zona de conforto, sem a proposição de novos desafios.
UNIDADE 3
Objetivos
• Objetivo 1 – Compreender as características da formação de docentes no Brasil;
• Objetivo 2 – Refletir acerca das relações entre teoria e prática na educação básica;
• Objetivo 3 – Entender a importância da educação básica em nossa sociedade.
3
Teorias Educacionais e a escola Básica
Com isso, é importante termos em mente que nossa disciplina não prevê um apanhado de todas as
contribuições de teóricos(as) da educação que já existiram, pois isso seria incabível em nosso
tempo e espaço aqui destinados. A partir dessa perspectiva, vamos refletir de forma mais direta
sobre as teorias que mais influenciaram – e ainda influenciam – a educação brasileira.
Podemos ter em mente que as discussões acerca de teorias educacionais em nosso país se
iniciaram ainda durante a década de 1920 e adentraram todo o século XX até os dias atuais. Antes
desse período havia na educação tentativas de se estruturar o ensino, mas não ocorriam discussões
ou reformas em âmbito nacional estadual ou municipal e vigoravam métodos tradicionais, como os
instaurados pelos jesuítas, durante o período colonial e o método Lancaster, que foi referência da
organização escolar durante o Império do Brasil.
Durante a Primeira República (1889-1930) e com o advento o primeiro governo de Getúlio Vargas
(1930-1945) muitos debates acaloraram o âmbito educacional, existiram movimentos como o
Entusiasmo e o Otimismo pela Educação (1920), além do Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932). Em meio a essas mudanças, houve a influência do pensamento libertário auto
gestionário trazido por anarquistas e socialistas europeus e o surgimento do ensino técnico no país,
voltado ao atendimento dos interesses da crescente industrialização.
O professor José Carlos Libâneo (2006) propõe a divisão das teorias educacionais existentes no
Brasil em dois grandes grupos: liberais e progressistas. As liberais são divididas em tradicional,
renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista. As tendências progressistas são
classificadas em libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos (ou histórico-crítica) Para o
autor, enquanto as tendências liberais são criadas para atender aos interesses capitalistas e os
sujeitos devem ser preparados para se adaptar aos padrões e valores sociais, as progressivas
buscam estabelecer vínculos entre a educação e a transformação social, a partir de relações entre
o aprendizado escolar e ações dos(as) estudantes e seus cotidianos. Nesse sentido, é importante
destacar que o termo “liberal” não remete necessariamente a um conceito de liberdade,
principalmente quando olhamos para os modelos tradicional e tecnicista da aprendizagem escolar.
Veja as principais características de cada uma delas nas tabelas a seguir:
TENDÊNCIAS LIBERAIS
Tendência Características Alguns teóricos
Tradicional Transmissão de conhecimentos Padres da Companhia de Jesus
Professores detentores do saber Johan Friedrich Herbart
Conteúdos sem crítica ou Johan Heinrich Pestalozzi
questionamento
Alunos não são vistos em suas
individualidades
Aluno: receptor passivos dos
conteúdos
TENDÊNCIAS PROGRESSISTAS
Tendência Características Alguns teóricos
Libertária Autogestão escolar Silvio Gallo
Assembleias coletivas João Penteado
Ausência de hierarquia
Currículo construído de
forma coletiva
Libertadora Estudante é o centro do Paulo Freire
processo de ensino
Saberes dos estudantes
são importantes
Relação horizontal entre
professores(as) e
alunos(as)
Formação para a
autonomia e o exercício
da democracia
Crítico-social dos Currículo é visto como Demerval Saviano
conteúdos (Histórico- um conjunto de José Carlos Libâneo
crítica) experiências
Conteúdos devem estar
associados a cotidiano
dos estudantes
Educação escolar vista
como possibilidade de
transformação das
realidades locais
Conceitos inspirados no
marxismo e em classes
sociais
Sendo assim, seria muito ingênuo pensarmos que o profissional do ensino colocando em prática
todos os métodos, ou ações, previstas em determinada teoria. Teria seus problemas resolvidos e
poucas vezes o dia a dia na sala de aula teria momento de imprevistos. Ao contrário, não existe
uma teoria que deva ser vista como “fórmula mágica” da educação, por meio da qual as práticas
devem ser todas determinadas, ou seja, o cotidiano exige muitas estratégias e a construção de
teorias baseadas em estudos e na prática, pois cada sala de aula é única, ou melhor, cada estudante
é um ser individual.
Nesse caso, podemos nos remeter a Paulo Freire (2015), quando o autor compara a prática
pedagógica com os atos de cozinhar e de velejar: no primeiro caso, mesmo tendo uma receita dita
completa, só saberemos realmente fazer um bom prato colocando a receita em prática, medindo o
tempo, altura da chama, possibilidades, riscos e assim, vamos criando novas teorias junto àquela
prática. No segundo exemplo, para aprender a velejar é preciso estar no mar com o barco, sentir os
ventos, o motor, as correntes, enfim, a prática junto à teoria. Conforme afirma Paulo Freire “a
reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a
primeira pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo” (FREIRE, 2015, p. 24). Muitas vezes, a busca
de teorias acaba se tornando quase nula na prática de docentes, seja por conta do acúmulo de aulas
para dar conta de uma renda minimamente satisfatória, ou por diversas outras questões.
Contudo, sempre temos nossa prática envolvida em alguma ideia teórica, pois se ambas se
constroem no cotidiano, quando estamos dando uma aula, ou propondo um momento com a turma,
nossa prática é composta e, ao mesmo tempo, compõe uma teoria. Conforme apontado por
Pimenta et. al:
Sobre essas questões, pensemos na importância das teorias críticas dos currículos, que propõem
a existência de um processo de ensino e aprendizagem pautado em justiça social, por isso, não
temos que considerar a concepção prática da educação como um processo tecnicista, um “passo
a passo” de como ser docente, avaliar a aprendizagem e sua prática, ao contrário, a crítica deve ser
constante e não deve representar a busca de modelos ideais, estagnados no tempo.
No que diz respeito às possibilidades de percepção das relações entre teoria e prática durante a
formação de docentes, a importância dos estágios é indiscutível, seja apenas como observação, ou
estágio remunerado, atuando como assistente de turma. A vivência com o cotidiano escolar e as
possibilidades de propor experiências com estudantes ainda durante a graduação torna a prática
posterior mais segura, questão que veremos no último tópico, no qual abordaremos a formação
continuada de professores (as).
2. Formação docente no Brasil contemporâneo
Atualmente temos em nosso país uma estrutura já concretizada dos processos de formação de
docentes que atuam na educação básica, sejam como pedagogos(as), ou como licenciados(as) em
alguma área do conhecimento, ou disciplina escolar. Contudo, a formação de professores(as) no
Brasil possui uma longa trajetória e sua regulamentação aos moldes como ocorre atualmente pode
ser considerada recente, pois a própria estruturação do ensino em nosso país ainda busca soluções
para diversos problemas crônicos, entre eles o analfabetismo, a evasão e a formação qualificada
de docentes.
Art. 19. O curso de pedagogia será de três anos e terá a seguinte seriação de
disciplinas:
Primeira série
1. Complementos de matemática. 2. História da filosofia. 3. Sociologia. 4.
Fundamentos biológicos da educação. 5. Psicologia educacional.
Segunda série
Terceira série
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961, publicada após 13 anos tramitando pelo
Congresso Nacional que estabelecia “A formação de professores para o ensino médio será feita
nas faculdades de filosofia, ciências e letras, e a de professores de disciplinas específicas de ensino
médio técnico em cursos especiais de educação técnica" - (art. 59).
No ano de 1996, foi publicada a Lei Nº 9.394, que dispõe sobre as Diretrizes e Bases da
Educação que vigora em nosso país até os dias atuais, que prevê a formação em Pedagogia
e cursos normais de nível médio, para atuar na gestão escolar e na docência com turmas
da Educação Infantil e dos cinco ´primeiros anos do Ensino Fundamental e a conclusão de
outras licenciaturas, para lecionar nos demais níveis da Educação Básica. O documento
sofreu diversas atualizações com o passar dos anos e prevê a valorização dos profissionais
do ensino e a existência de planos de carreira de acordo com os diferentes sistemas de
ensino, além da formação continuada de professores e professoras.
A inclusão de profissionais com notório saber para o ensino na Educação Básica foi feita em 2017,
quando ocorreram uma série de mudanças no âmbito educacional brasileiro, inclusive com a
publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e das Diretrizes Nacionais da Educação
Básica, prendo muitas mudanças no currículo e na formação de estudantes do Ensino Médio, a
partir da possibilidade de novos itinerários formativos, organizados em diferentes arranjos
curriculares.
No que diz respeito à formação docente para atuação na educação básica, a LDB (1996) destaca:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
Contudo, sabemos que em nosso país nem sempre as Leis são colocadas em prática e a profissão
docente ainda não possui o reconhecimento e a valorização adequados, ao contrário, muitas vezes
professores e professoras são submetidos a más condições de trabalho e sobre diversos tipos de
violência.
Conforme vimos anteriormente, a formação de docentes no Brasil está prevista na Lei 9.394/1996,
que dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação e regulamenta a prática docente no país,
contudo, é fundamental nos aprofundarmos nas características da formação de professores e
professoras nas Instituições de ensino Superior (IES), tanto públicas quanto privadas.
Conforme vimos nos módulos anteriores, nas últimas décadas o Brasil tem vivenciado um processo
de privatização do Ensino Superior, isso se deve às políticas neoliberais observadas, mais
intensamente, a partir da década de 1990. Mesmo com a LDB apontando para a preferência de
cursos na modalidade presencial na formação de docentes, as políticas neoliberais de privatização
do ensino levaram ao aumento da oferta do ensino em reder privadas e grandes conglomerados
que, muitas vezes, vêm na educação a distância a possibilidade de oferta de cursos com menores
custos. Além disso, muitas pessoas têm buscado formações complementares em cursos de
licenciaturas para ampliarem seu leque de atuação e em muitos casos optam pela formação a
distância.
O gráfico abaixo, produzido pelo Senso – INEP- 2019 mostra que no tocante à formação de
docentes para a educação básica no Brasil, o curso de Pedagogia corresponde a quase metade das
matrículas, com 48% de estudantes.
(15 maiores cursos de graduação em licenciatura em número de matrículas – Brasil 2019. Fonte:
Senso/INEP)
https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2020/Apresentacao_Censo_
da_Educacao_Superior_2019.pdf
Alterar a organização curricular dos cursos implica, a nosso ver, a revisão das
tradições que caracterizam a formação de profissionais, marcada pelo
desconhecimento da práxis educativa exercida na sociedade e sem conexão com a
realidade das escolas públicas, que, entendemos, deveria ser o ponto de partida e
de chegada dos cursos de formação dos professores. Esse seria um dos principais
critérios para um curso ser inovador (PIMENTA et. al, 2019, p. 38).
Para que ocorra a inovação de fato, é necessário que as pesquisas sejam incentivadas na formação
dos docentes, mas pesquisas que tragam mudanças para o cotidiano escolar e que seja um
componente importante nos currículos, não apenas um breve momentos, ou seja, uma disciplina,
ou se desenvolva apenas na realização dos Trabalhos de conclusão de Curso.
Muitas vezes, o(a) docente já possui uma licenciatura e busca uma instituição de ensino para
realizar um curso complementar, tanto para ampliar sua área de conhecimentos, como para
aumentar as possibilidades de atuação, ou atingir determinada pontuação para progressão na
carreira.
A formação continuada pode ocorrer de diversas formas: com a realização de outros cursos de
licenciatura, cursos de pós-graduação lato sensu (especialização e aprimoramento); cursos de
extensão; cursos stricto sensu (mestrado e doutorado); seminários, simpósios; oficinas; grupos de
estudos, entre outros.
Pensar a formação continuada de docentes ainda propõe reflexões acerca de uma questão central,
que se trata da insegurança no início da prática educacional: você lembra como foram seus
primeiros anos como docente? Consegue se lembrar dos primeiros dias? Você tomaria decisões e
proporia práticas distintas se pudesse voltar no tempo? O que você considera mais importante
compartilhar com outros(as) docentes sobre as suas experiências?
Umas das propostas que ajudam nas questões da formação e pode estar presente durante a
formação e toda a prática docente é o estudo de casos de ensino da educação, no qual são
relatados casos reais, ou elaborados a partir de fatos que ocorreram. Os casos de ensino da
educação devem ser compostos por problemas cotidianos e as formas como docentes lideram
com essas questões, podendo envolver temáticas dos mais diversos segmentos do universo
educacional.
VAMOS PRATICAR?
Você conhece mapas mentais? Já elaborou algum mapa mental? Faça uma pesquisa sobre
a elaboração de mapas mentais e, em seguida, elabore o seu mapa mental, tendo como
tema central algum dos tópicos que vimos nesse módulo. Em seguida, compartilhe seu
mapa mental com a turma e discutam sobre cada um dos mapas mentais.
Conclusão
A partir de nossas discussões, que fizemos em nosso terceiro Módulo, já temos referências
fundamentais para pensar sobre a nossa prática educacional e a importância da Educação Básica
para o nosso país. Ser professor(a) em um país com tantos desafios, sejam eles sociais, culturais,
econômicos ou emocionais, nos insere em realidades bastante diversas e instigantes, a partir das
quais temos que compor nossas práticas, construindo simultaneamente as teorias que vão servir
como bases de reflexão e mudanças de postura.
É preciso compreender que somos seres em constante transformação e, junto a nossa formação
enquanto seres humanos, também é importante que busquemos referências educacionais para
compor as práticas que propomos para as turmas.
Referências
BRASIL. Censo da Educação Superior – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP), Ministério da Educação (MEC), 2019.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 51ª ed. – Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2015.
HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar.
Políticas, Estrutura e Organização. – 10. ed. – São Paulo: Cortez, 2012.
PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire. São Paulo:
Editora Contexto, 2018.
PIMENTA et. al. Cursos de Pedagogia. Inovações na formação de professores polivalentes. São
Paulo: Cortez, 2019.
PISCHETOLA, Magda. Cultura digital, tecnologias da informação e comunicação e práticas
pedagógicas. . In: Didática: tecendo/reinventando saberes e práticas. Vera Maria Candau (org). –
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2018, pp. 186-201.
ROSA, Geraldo Antonio da.; GROSH, Maria Selma.; LORENZINI, Vanir Peixer. Reflexões sobre
educação na contemporaneidade: certezas, (in)certezas e desafios. Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação, Araraquara, v. 12, n. 2, p.1037- 1055, 2017. Disponível em: E-ISSN: 1982-
5587.