Parecer jurídico

Requerente: Cervejaria Borbalina

SANEAMENTO TRABALHISTA PREVENTIVO

Ementa: DIREITO DO TRABALHO. IMPLEMENTAÇÃO DE PONTO

ELETRÔNICO. HORAS EXTRAORDINÁRIAS. COMBATE AO ASSÉDIO NO
AMBIENTE DE TRABALHO. PREVENÇÃO DE ACIDENTES. USO DE EPIS.
TERCEIRIZADAS. MUDANÇA DE CONTRATOS. TRABALHO INTERMITENTE.

I – Relatório

Trata-se de um plano de negócios, assim solicitado, a fim de indicar riscos e

solucionar as demandas abordadas. A cervejaria Borbalina, atualmente utiliza cartão de
ponto manual para seus funcionários, o que tem acarretado inúmeras ações trabalhistas
com pleito de pagamento de horas extraordinárias. A empresa também é ré em inúmeras
ações trabalhistas relacionadas a assédio sexual e moral. A empresa busca reduzir a taxa
de acidentes de trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho.

A cervejaria conta com um quadro de 872 (oitocentos e setenta e dois)

empregados, cujo, os administradores da empresa pretendem dispensar 550 (quinhentos
e cinquenta) destes, e contratar uma terceirizada para que a mesma seja responsável pelo
fornecimento da prestação de serviços de segurança, limpeza, transporte e manutenção
da fábrica, e pretende também exigir da terceirizada a recontratação de 30 (trinta), dos
funcionários dispensados, com o salario 30% menor. Verifica-se também que a empresa
contra com 20 (vinte) sommelier, cuja função consiste na analise sensorial dos lotes
produzidos, de modo que os mesmos só exercem suas funções esporadicamente. Dessa
forma a empresa pretende proceder com alteração do contrato de trabalho, através de
aditivo ao contrato, passando os mesmos a exercerem o trabalho de forma intermitente.

Estudada a matéria, passo a opinar.

II – Fundamentação

a) Implementação de ponto eletrônico:

A empresa possui 872 empregados, onde 550 desses funcionários exercem a

função de segurança. Limpeza, transporte e manutenção da fábrica. Há um número
relativamente alto de ações onde o pleito é o pagamento de horas extraordinárias.

Verifica-se que o método utilizado pela empresa para comprovação do controle de

jornada se dá por meio manual, cujo facilmente podem ser adulterados, sendo assim a
nossa proposta será a adoção e instalação de ponto eletrônico, ao implementar o ponto
eletrônico, a empresa preserva a autenticidade dos registros e também auxilia no
combate as fraudes nas marcações de ponto manual, assim como é atualmente na
empresa.

A vantagem do uso do ponto eletrônico será de grande valia para redução do

impacto dos gastos com ações referentes a jornada extraordinária de trabalho, com a
facilidade de automatização e controle por meio do sistema de RH da empresa, será
fácil comprovar as folhas de ponto, horas extras e os registros de falta dos empregados.

O controle de ponto será efetuado como horário de entrada e de saída dos

empregados, devendo ser efetuado o registro obrigatoriamente diariamente,
comprovando de fato o comparecimento do empregado na empresa.

b) Ações de assédio moral e sexual:

A empresa é ré em inúmeras ações que dizem respeito de assédio moral e sexual

no ambiente de trabalho, sendo ações inadmissíveis a uma empresa. É de extrema
importância trabalhar com os funcionários acerca do tema e do peso que este tema
carrega demonstrando os danos que podem ser causadas as vitimas ate mesmo sendo
irreversíveis e também explicitar as sanções por tais atos.

Faz se necessário criar um setor especifico dentro do RH da própria empresa que

seja um meio de canal seguro entre vitima e empresa sem medo por parte da vitima de
sofrer mais por isso e também para que providenciais possam ser tomadas através do
conselho corporativo além de que antes da contratação de funcionários haja consulta a
antecedentes de violência domestica e derivados.

Dessa forma, ressaltamos que a empresa precisa e deve realizar atividades de

conscientização e uma campanha sobre o tema, e fiscalizar a atuação de seus
empregados, e se necessário promover o afastamento e denunciando aqueles com
condutas errôneas e ilícitas no ambiente de trabalho, e comunicar o RH sobre tais fatos.

c) O uso de EPIS e o combate às doenças profissionais:

É de extrema importância que a empresa adote ao uso regular de EPIS os devidos

materiais de segurança, garantindo assim a integridade física e o bom serviço aos
trabalhadores. E promover fiscalização durante o serviço se estão cumprindo com o uso
dos equipamentos, e em caso de descumprimento é cabível advertência ao empregado,
dessa forma reduziria a taxa de acidentes e previne outros futuros.

Uma solução prática e inclusiva para o combate as doenças profissionais seria a

adoção da ginastica laboral e outras atividades que usem o corpo e de forma coletiva,
promovendo a qualidade de vida do empregado em seu ambiente de trabalho, e
consequentemente aumentando a qualidade do trabalho. Promovendo também a
descontração e socialização entre os funcionários.

Ressaltar também a obrigação de instituir a CIPA (comissão de prevenção de

acidentes), conforme quadro I da norma regulamentadora n° 5, do ministério do
trabalho.

d) Contratação de terceirizada e recontratação de funcionários:

Diante do fato narrado pela empresa, nosso grupo de advogados informa que é
expressamente proibida a recontratação de empregado demitido para atuar na qualidade
de terceirizado, dentro de 18 meses contados de sua demissão.

E, será configurada FRAUDE qualquer contrato de trabalho que explore o

trabalhador e o exponha a condição de trabalho pior, com a redução de benefícios,
salário, entre outros. Portanto, a chamada interposição de empresas, quando a tomadora
de serviços contrata ex colaboradores, por meio de empresa intermediária (terceirizada),
para executar de modo pessoal e permanente as ocupações que desenvolviam enquanto
empregados, é ILEGAL.

Desse modo, o empregado que tiver sua mão-de-obra contratada nestes termos,
terá direito ao reconhecimento de vínculo empregatício diretamente com a tomadora,
assim como, a nulidade contratual com a empresa interposta e pagamento de todos os
benefícios.

Dessa forma não recomendamos a contratação de uma empresa terceirizada, e que

ela recontrate os funcionários, pois assim acarretaria mais demandas de ações judicias
trabalhistas para a cervejaria responder.

e) Alteração de contratos:

É possível a mudança no contrato de trabalho dos sommelier da cervejaria, assim

previsto na CLT onde, toda e qualquer alteração deve ser feita por escrito, por meio de
um aditivo ao contrato de trabalho, que complementará o contrato de trabalho original
do empregado. Trata-se de um procedimento que visa alterar, complementar ou corrigir
uma ou mais cláusulas de um contrato que já tenha sido celebrado e assinado
anteriormente. O aditivo ao contrato de trabalho deve ser assinado pelo empregador e
pelo empregado, e com concordância de ambas as partes, devendo o empregador
fornecer uma cópia assinada ao empregado.

Como os sommelier contratados pela cervejaria exercem suas funções de forma

esporádica, se encaixaria no trabalho intermitente, assim previsto no art.443, § 3° da
CLT:

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou

expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou
para prestação de trabalho intermitente.
[...]
§ 3o Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação
de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de
períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou
meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto
para os aeronautas, regidos por legislação própria.

III – Conclusão

Diante do exposto, entende-se que há a viabilização de implementação de meios

para atender às demandas da empresa quanto à efetuação do ponto eletrônico e seus
ajustes formais; da adequação de um setor responsável pela fiscalização, orientação e
suporte a funcionários a respeito do acometimento de assédio moral e sexual, sofrido ou
praticado nas dependências da organização; da adoção de medidas de cumprimento das
normas de uso de EPIs e de atividades laborais e da instituição do CIPA; e a alteração
do contrato de trabalho dos sommelier para um contrato de regime intermitente pela
possibilidade de adequação a este regime. Sendo, portanto, desfavorável à contratação
de terceirizada e a recontratação de funcionários por tal prática se configurar como
fraude trabalhista, embasando-se na doutrina e jurisprudência, motivo pelo qual este
parecer mostra-se favorável em parte às solicitações supracitadas pela requerente. É o
parecer.

Local, 05 de dezembro de 2023.

_______________________________________

Assinatura do parecerista