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FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA DA LÓGICA PROPOSICIONAL

LÓGICA PROPOSICIONAL DE FREGE


Frege (lógico e matemático do séc. XIX) criou uma nova linguagem para simbolizar a linguagem natural,
uma vez que esta, com as suas preocupações estéticas e poéticas, incentiva a polissemia e multiplicidade
vocabular, dificultando a análise da forma lógica dos raciocínios. Exemplo disto são os múltiplos termos que
utilizamos para expressar as ligações entre as proposições ou os indicadores de premissa e conclusão. Por
exemplo, para expressarmos a “conjunção” de duas proposições, podemos usar os termos “e”, “mas”,
“todavia”, “contudo”, “porém”, quando em linguagem simbólica a mesma conexão é representada por um
único símbolo “∧”.
Frege desenvolveu diferentes linguagens para simbolizar a linguagem natural, mas aquela que vamos
estudar é a linguagem da lógica proposicional, que toma a proposição como unidade mínima. Nesta
lógica, a proposição não é decomposta em sujeito e predicado e é substituída por uma letra/variável que a
representa.
Proposição Simples e Composta/complexa
Na lógica proposicional, a proposição é definida como uma asserção que possui um valor de verdade (V/F),
podendo esta ser simples ou complexa. Uma proposição é simples se não se pode decompor e complexa
se se pode decompor.
As proposições são orações simples com 1 verbo, por exemplo:
Aristóteles foi discípulo de Platão | ser discípulo de Platão
O Rui estuda | estudar
Conectivas proposicionais
Uma proposição composta é uma proposição formada a partir de duas ou mais proposições simples que
estão ligadas entre si por conectores proposicionais.
As ligações que podemos formar entre as proposições são de quatro tipos:
• conjugação (A e B)
• disjunção (A ou B)
• implicação (A implica B – Se A então B)
• equivalência (A implica B e vice versa – Se A então B e se B então A).
Para além destas quatro operações podemos ainda acrescentar a negação, que não liga proposições, mas
constitui uma modificação da proposição simples.

Proposições simples Proposições compostas


- Lisboa é a capital de Portugal - Lisboa não é a capital de Portugal
- Sócrates foi mestre de Platão - Sócrates foi mestre de Platão e Platão foi
- Platão foi mestre de Aristóteles mestre de Aristóteles
- o rio Tejo nasce em Espanha - o rio Tejo nasce em Espanha ou (o rio
- o rio Tejo nasce em Portugal Tejo) nasce em Portugal
- entrar na universidade - entrar na universidade implica ter média
- ter média (Mas ter média não implica entre na
universidade)

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Linguagem da lógica proposicional
A linguagem da lógica proposicional contem variáveis e símbolos que permitem formalizar a linguagem
natural em que são apresentados os raciocínios.
! variáveis proposicionais: letras de P a Z para substituir as proposições simples
! conectivas proposicionais: símbolos para substituir os termos que ligam as
proposições.
¬ não
∧ e
∨ ou
→ Se ... então
↔ Se e somente se

! valores de verdade: letras V e F para representar os valores verdadeiro e falso, respetivamente


! Indicadores de conclusão: ∴
! Parêntesis: chavetas para pontuar as proposições complexas

Método para a Formalização de proposições


Para formalizarmos a linguagem natural devemos analisar cuidadosamente a proposição, de forma a
identificar se é simples ou composta e, no caso de ser composta, a natureza da conectiva. Depois de
identificadas as proposições simples e as conectivas, apresenta-se o dicionário e procede-se à
formalização da proposição.
Formalização de proposições simples
Se a proposição é simples, procede-se automaticamente à sua formalização atribuindo-lhe uma letra do fim
do alfabeto (de P a Z). Exemplos:
Sócrates foi mestre de Platão formaliza-se atribuindo-lhe a letra P
Sócrates foi um grande filósofo formaliza-se atribuindo-lhe a letra Q
Sócrates deixou obra escrita formaliza-se atribuindo-lhe a letra R
Formalização de proposições compostas
Se a proposição é composta, temos que:
o 1º identificar as proposições simples
o 2º identificar as conectivas
o 3º proceder à formalização.
Exemplo: Sócrates foi mestre de Platão e um grande filósofo
Esta proposição é composta por duas proposições - Sócrates foi mestre de Platão ; Sócrates foi um
grande filósofo – ligadas pela conjunção “e”
Assim, a sua formalização será (assumindo o dicionário acima): P∧Q
Formalização de proposições condicionais
No caso das proposições condicionais, como a conectiva não é comutativa, torna-se importante a correta
identificação da proposição que é antecedente e da proposição que é consequente. Antecedente e
consequente não significam o mesmo, uma vez que o antecedente é a “condição suficiente” e o
consequente a “condição necessária”. O antecedente de uma implicação é sempre mais forte no sentido em

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que a sua ocorrência determina a ocorrência do consequente, enquanto o consequente, na medida em que
é dependente, é mais fraco. Assim, existem termos específicos na linguagem natural para expressar o
antecedente e o consequente da implicação.
Exemplo:
Antecedente – condição suficiente
Se o Benfica ganha, o Porto perde
Benfica ganha é antecedente – o indicador é “se”
Como o Benfica ganhou, o Porto perdeu
Benfica ganhou é antecedente – o indicador é “como”
O Porto perde, se o Benfica ganhar
Apesar de estar no fim da frase, Benfica ganha é antecedente – o indicador é “se”
Basta o Benfica ganhar para o Porto perder
Benfica ganhar é antecedente – o indicador é o “basta”
O Porto perde na condição do Benfica ganhar
Benfica ganhar é antecedente – o indicador é “na condição” que é sinónimo de “condição
suficiente”
No caso do Benfica ganhar, o Porto perde
Benfica ganhar é antecedente – o indicador é “no caso”
A condição suficiente para o Porto perder, é o Benfica ganhar
Benfica ganhar é antecedente – o indicador é o “condição suficiente”

Consequente – condição necessária


Se o Benfica ganha, o Porto perde
Porto perde é consequente – o indicador é a “vírgula” que substitui o “então”
Se o Benfica ganhar, é forçoso que o Porto perca
Porto perde é consequente – o indicador é a “forçoso”
O Porto perder, é condição necessária do Benfica ganhar
Porto perde é consequente – o indicador é “condição necessária”

Dominância - uso de Parêntesis


Numa proposição com mais do que uma conectiva torna-se necessário identificar a conectiva
principal/dominante. Para indicarmos qual das conectivas é a dominante, temos que usar parêntesis,
sendo que a conectiva dominante é a que fica fora do parêntesis.
Exemplo: “Se os injustiçados soubessem esquecer e os injustos reconhecessem os erros, este
mundo seria um lugar melhor.” Esta proposição é constituída por:
• 3 proposições simples - Os injustiçados esquecem | Os injustos reconhecem os erros |Este mundo
é um lugar melhor
• 2 conectivas: implicação e conjunção.
Pelo sentido percebemos que a proposição é condicional, tendo:
• antecedente a proposição conjuntiva “Os injustiçados esquecem e os injustos reconhecem os
erros”
• consequente a proposição simples “este mundo é um lugar melhor”.
Assim, formalizamos a proposição do seguinte modo:
Injustiçados esquecem (P) ∧ injustos reconhecem erros (Q) → mundo melhor (R)
(P∧Q)→R

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Tabela da dominância das conectivas
Para evitar o uso excessivo de parêntesis, Frege criou uma tabela que estabelece uma hierarquia entre as
conectivas de forma a sabermos se quando devemos usar os parêntesis. A dominância é a seguinte:
+ forte Equivalência
Implicação
Conjunção
Disjunção
- forte Negação

De acordo com esta tabela, sabemos que se temos uma proposição negativa e outra disjuntiva, e a
disjuntiva é a dominante, então não precisamos de colocar entre paêentesis a proposição negativa, mas se
a proposição dominante é negativa, então temos que colocar entre parêntesis a disjuntiva de forma a torná-
la mais fraca do que a negativa.
Exemplos:
Proposição disjuntiva é dominante: “Aristóteles é filosofo ou não escreveu o tratado de lógica”
Dicionário: P = Aristóteles é filosofo; Q = Aristóteles escreveu o tratado de lógica
Formalização: P∨¬Q
Proposição negativa é dominante:”Não é verdade que Aristóteles seja poeta ou campeão Olímpico.”
Dicionário: P = Aristóteles é poeta; Q = Aristóteles é campeão Olímpico
Formalização: ¬(P∨Q)

Outros exemplos:
(A) SE o desenvolvimento da lógica se deve a Aristóteles ou Platão, ENTÃO a lógica é uma disciplina
filosófica.
Neste caso, a proposição é condicional, sendo o antecedente da condicional uma proposição disjuntiva.
Como a implicação émais forte do que a disjunção, não é necessário colocar a proposição disjuntiva entre
parêntesis. Assim, a formalização correta da proposição:
Dicionário:
P = o desenvolvimento da lógica deve-se a Aristóteles
Q = o desenvolvimento da lógica deve-se a Platão,
R = a lógica é uma disciplina filosófica.
P∨Q→R
(B) A filosofia é importante OU se não é importante, então não deve ser obrigatória.
Neste caso, a proposição é disjuntiva, sendo o segundo disjunto uma proposição condicional. Como a
disjunção é mais fraca do que a implicação, torna-se necessário colocar a proposição condicional dentro de
parêntesis de forma a tornar a disjunção dominante. Assim, a formalização correta da proposição é:
Dicionário:
P = a filosofia é importante
Q = a filosofia é obrigatória
P∨(¬P→ ¬Q)

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Método para Formalização de Argumentos
Regras para formalizar argumentos:
1º - identificar premissas e conclusão recorrendo aos indicadores de premissa e conclusão
2º - colocar argumento na forma canónica
3º - simplificar as proposições de modo a facilitar a sua formalização
4º - proceder à sua formalização, apresentando o dicionário (NB: atenção à tradução das proposições
condicionais para não confundir o antecedente com o consequente)
Exemplo:
“Se os Estados forem solidários e puserem de lado eventuais animosidades e interesses
particulares, então as grandes questões que afetam todos os homens resolvem-se mais facilmente.
As questões que preocupam o mundo inteiro, são hoje em dia mais fáceis de resolver, porque se
tem verificado a tendência para os Estados se unirem, acabarem com as divergência e
desenvolverem vincados laços de solidariedade.”
1. Identificação de premissas e conclusão
Para formalizar corretamente o raciocínio, temos que identificar claramente as premissas e a conclusão.
Premissas e conclusão são introduzidas por termos, designados “indicadores”, que indicam se a
proposição é premissa ou conclusão. Os termos são os seguintes:

Indicadores de premissa indicadores de conclusao


Uma vez que Logo
Sabendo que Então
Dado que Segue-se
Se Portanto
Pois Assim
Porque ...
...

No raciocínio acima, identificamos a conclusão recorrendo:


• ao indicador de premissa “porque”
• ao “ponto final” que separa a primeira frase da segunda
Assim ficamos:
P1- Se os Estados forem solidários e puserem de lado eventuais animosidades e interesses
particulares, então as grandes questões que afetam todos os homens resolvem-se mais facilmente.
P2- Tem-se verificado a tendência para os Estados se unirem, acabarem com as divergência e
desenvolverem vincados laços de solidariedade
C - As questões que preocupam o mundo inteiro, são hoje em dia mais fáceis de resolver,

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2. Apresentação do raciocínio na forma canónica
Para apresentar na forma canónica temos que expor o raciocínio de acordo com as regras. Se o argumento
está na forma modus ponens, colocamos 1º a premissa condicional P→Q, depois a premissa que afirma o
antecedente e no fim a conclusão que afirma o consequente.
Assim ficamos:
Se os Estados forem solidários e puserem de lado eventuais animosidades e interesses particulares,
então as grandes questões que afetam todos os homens resolvem-se mais facilmente.
Tem-se verificado a tendência para os Estados se unirem, acabarem com as divergência e
desenvolverem vincados laços de solidariedade
LOGO, As questões que preocupam o mundo inteiro, são hoje em dia mais fáceis de resolver

3. Simplificação do raciocínio
Simplificar o raciocínio, é reduzir a diversidade à unidade; é suprimir a informação que se considera
desnecessária e que dificulta o reconhecimento imediato da estrutura lógica das proposições.
Assim, ficamos:
Se Estados forem solidários ..., então as grandes questões resolvem-se mais facilmente
Hoje os Estados são mais solidários ...
LOGO, hoje as grandes questões resolvem-se mais facilmente

4. Formalização do raciocínio
Dicionário
Para formalizar o raciocínio temos que construir um dicionário onde atribuímos uma letra proposicional a
cada verbo.
Assim, ficcamos:
P = estados são solidários
Q = grandes questões resolvem-se
Forma de apresentação do raciocínio
Existem três formas de apresentação do raciocínio:
1) proposições separadas
P→Q
P
∴Q

2) proposições separadas: P→Q, P ∴Q

3) numa expressão (P1 ∧ P2) → C

No caso de apresentarmos o raciocínio numa expressão e de uma das premissas ser condicional, como o
raciocínio se formaliza como uma proposição condicional, temos que recorrer aos parêntesis para indicar a
implicação principal. Neste caso, como a implicação entre premissas e conclusão é a principal, temos que
colocar entre parêntesis a premissa condicional.
Exemplo:
“Se o João tivesse positiva no último teste de matemática, então passava, e como teve, CONCLUI-SE

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que o João passou a matemática.”
Neste argumento temos duas implicações distintas:
- a implicação entre premissas e conclusão: ... conclui-se ...
- a implicação da premissa condicional Se o João tivesse positiva no último teste de matemática,
então passava
Como a implicação da premissa condicional é mais fraca, temos que a colocar entre parêntesis. Assim
ficamos:
(o João tem positiva no último teste de matemática → o João passa) ∧ o João teve positiva no
ultimo teste → João passou a matemática
Vejamos a formalização:
Dicionário:
P = o João passa a matemática; Q = O João tem positiva no ultimo teste
Formalização do raciocínio: (P→Q) ∧ P → Q

CALCULO PROPOSICIONAL E O MÉTODO DAS TABELAS DE VERDADE


Frege desenvolveu um método, designado cálculo proposicional, que permite determinar o valor de verdade
dos raciocínios e, desse modo, saber se são válidos ou não. Sendo um raciocínio uma proposição
condicional constituída por proposições ligadas entre si (P1 ∧ P2 → C) –, é possível determinar o valor da
condicional (raciocínio) sabendo o valor das premissas e conclusão e a tabela de verdade das conectivas
proposicionais. Vejamos primeiro em que consistem as tabelas de verdade:

Tabelas de Verdade das Conectivas Proposicionais (Operadores Lógicos)


As tabelas de verdade definem as condições de verdade das proposições com conectivas, ou seja, dizem-
nos qual o valor final de uma proposição que contem uma conectiva. Por exemplo, se sei que uma
proposição P é verdadeira e outra Q é falsa e quero saber o valor de P∧Q, a tabela diz-me que a proposição
é Falsa, uma vez que uma proposição conjunta só é verdadeira se as proposições que a compõem são
todas verdadeiras.
Vejamos então as tabelas:
NEGAÇÃO: ¬P é falsa se P é verdadeira e verdadeira se ¬P é falsa.
DISJUNÇÃO INCLUSIVA: P∨Q é falsa apenas quando os dois disjuntos são falsos.
Uma disjunção inclusiva expressa uma alternativa entre dois ou mais factos, não excluindo a possibilidade
de ocorrerem todos os factos em simultâneo. Por esta razão, ela só é falsa quando nenhum dos factos
ocorre.
DISJUNÇÃO EXCLUSIVA: P∨Q exclusiva é falsa quando os dois disjuntos são ou ambos falsos ou ambos
verdadeiros.
Uma disjunção exclusiva expressa a ocorrência de uma alternativa entre dois ou mais factos, excluindo a
hipótese de poderem ocorrer todos os factos em simultâneo. Assim, a disjunção só é verdadeira quando
um, e só um, dos factos ocorre e falsa no caso todos ocorrerem ou de nenhum ocorrer.
CONJUNÇÃO: P∧Q é verdadeira apenas quando os dois conjuntos são verdadeiros.
Uma conjunção expressa a presença conjunta de dois ou mais factos. Por essa razão, ela só é verdadeira
se todos os factos ocorrerem

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IMPLICAÇÃO: P→Q é falsa quando o antecedente é verdadeiro e o consequente falso.
Uma implicação expressa uma relação de causa e efeito entre dois factos (ou verdades), o que significa que
a ocorrência (verdade) da causa constringe a ocorrência (verdade) do efeito, mas isso não implica que a
ocorrência do efeito constrinja a ocorrência da causa. É por esta razão que a causa é condição suficiente e
o efeito não. Isto quer dizer que basta a causa ocorrer para que o efeito aconteça, mas se o efeito ocorrer,
não é forçoso que a causa tenha ocorrido, até porque o efeito pode ter outras causas. Assim, se tiver que
estabelecer uma relação de implicação entre os objectos “omeleta/ovos”, colocaria a “omeleta” como causa
e não os “ovos”, uma vez que da ocorrência da “omeleta” concluo forçosamente a presença de “ovos”,
enquanto da presença de “ovos”, não concluo forçosamente a ocorrência de “omeleta”.
EQUIVALÊNCIA: P↔Q é verdadeira apenas quando os dois termos da equivalência têm o mesmo valor de
verdade, ou seja, quando ambos são verdadeiros ou ambos são falsos.
Uma equivalência expressa uma relação de dupla implicação, o que significa que da ocorrência de um facto
concluo a ocorrência do outro e vice versa. Assim, dois factos são equivalentes se qualquer um deles é
condição suficiente do outro.

Avaliação dos raciocínios pelo método das tabelas de verdade


Para avaliarmos um raciocínio, de acordo com o método de Frege, procede-se da seguinte forma:
1º formaliza-se o raciocínio de forma a obter uma expressão lógica
2º avalia-se, pelo método das tabelas de verdade, o valor da expressão para todos os valores possíveis das
proposições simples que compõe o raciocínio
3º interpreta-se os valores: se entre os casos possíveis houver alguma circunstância em que de premissas
verdadeiras se extrai uma conclusão falsa, o raciocínio é inválido, caso isso não aconteça, o raciocínio é
válido.
Avaliemos o seguinte raciocínio:
Ou a Constança é kantiana ou a Constança é utilitarista.
Se a Constança é utilitarista, então não é kantiana.
A Constança é kantiana.
Logo não é utilitarista.

1º passo: Formalização do argumento


Dicionário
P = Constança é kantiana
Q = Constança é utilitarista
P∨Q
Q→ ¬P
P_______
∴ ¬Q

2º passo: construção e preenchimento da tabela de verdade:


P Q P∨Q Q→¬ P P ∴ ¬Q F F F V F V
V V V F V F
V F V V V V
F V V V F F

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3º passo: interpretação da tabela de verdade: verificamos que o único caso em que temos todas as
premissas verdadeiras é na 2ª linha e que neste caso a conclusão é verdadeira. Com estes dados
concluímos que o raciocínio é válido, uma vez que pela definição de validade, um raciocínio é válido quando
de premissas verdadeiras nunca se tira conclusão falsa.

FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA – REGRAS PARA A DEDUÇÃO


A formalização dos raciocínios revela que os raciocínios válidos obedecem a certas leis, isto é, obedecem a
padrões. Assim, não é só a natureza que é determinada por leis, mas o pensamento humano também está
condicionado por certas regras, e cabe aos lógicos encontrar essas leis/regras. Graças ao trabalho de
simplificação e simbolização dos argumentos, o lógico consegue “despir” os argumentos do seu conteúdo
particular, deixando a descoberto a sua forma universal.
Vejamos o seguinte exemplo:
(1) “Estás enganado quando dizes que Sócrates é sofista. Como sabes, Sócrates condenou
toda a vida a retórica e nenhum sofista faria isso.”
(2) “As ações morais não são universalizáveis, porque se fossem, todos estariam de acordo e
isso não acontece.”
Os raciocínio (1) e (2) possuem conteúdos completamente distintos, contudo a sua forma é idêntica.
Vejamos:
Forma do 1ª argumento:
Nenhum sofista condena a retórica
Sócrates condena a retórica
∴Sócrates não é sofista
P= ser sofista; Q= defender a retórica
P → Q
¬Q
∴¬P
Forma do 2ª argumento:
Se ação moral fosse universalizável, as pessoas estariam todas de acordo
As pessoas não estão todas de acordo
∴ As açoes morais não são universalizáveis
P= ação moral é universalizável; Q= pessoas estão de acordo
P → Q
¬Q
∴¬P
Como podemos ver, os argumentos têm a forma [(A→ B) ∧ ¬B ]→ ¬A.
Vejamos então as leis do raciocínio válido:
Modus Ponens:
Trata-se de um raciocínio que afirma a verdade do antecedente de uma proposição condicional e daí
conclui a verdade do consequente dessa proposição.
A →B
A
∴B

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A regra modus ponens pode encontrar-se sob as seguintes formas:
¬P → Q
¬P
∴Q

P → ¬Q
P
∴¬Q
¬P → ¬Q
¬P
∴¬Q
Os três casos acima apresentados são variantes da forma modus ponens, uma vez que em todos eles se
conclui a verdade do consequente duma proposição condicional, a partir da afirmação da verdade do
antecedente dessa mesma proposição. O facto do antecedente e/ou consequente estar(em) negado(s) não
altera a forma do raciocínio.

Modus tollens:
Trata-se de um raciocínio que afirma a falsidade do consequente de uma proposição condicional e daí
conclui a falsidade do antecedente dessa proposição.
A→B
¬B
∴¬A
A forma modus tollens pode encontrar-se sob as seguintes formas:
¬P → Q
¬Q
∴P (P = ¬¬P - logo, na conclusão, nega-se o antecedente)

P → ¬Q
Q (Q = ¬¬Q - logo, na premissa, nega-se o consequente)
∴¬P

¬P → ¬Q
Q (Q = ¬¬Q logo, está-se a negar o consequente)
∴P (P = ¬¬P logo, na conclusão, nega-se o antecedente)

Silogismo disjuntivo:
trata-se de um raciocínio que afirma a verdade de um dos termos de uma disjunção, a partir da afirmação
da falsidade de um dos outros termos da proposição disjunta.
A ∨B
¬A
∴B

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A forma do silogismo disjuntivo pode encontrar-se sob as seguintes formas:
¬P ∨Q
P
∴Q

P ∨¬Q
¬P
∴¬Q
¬P ∨¬Q
P
∴¬Q
Os três casos acima apresentados são variantes da forma do silogismo disjuntivo, uma vez que em todos
eles se conclui a verdade do segundo disjunto (Q), a partir da falsidade do primeiro (P).

Silogismo Hipotético
A→B
B→ C
∴A→C

OUTRAS REGRAS (regras de substituição)


Leis de De Morgan
¬ (A ∨ B) ≡ ¬ A ∧ ¬B
¬ (A ∧ B) ≡ ¬ A ∨ ¬B

Dupla Negação
A 𠪪 A

Contraposição
A→B≡¬B →A

FALÁCIAS FORMAIS
Existem várias falácias formais associadas à dedução, contudo as mais conhecidas são:
Afirmação do consequente:
Trata-se de um raciocínio que afirma a verdade do consequente de uma proposição condicional e conclui a
verdade do antecedente dessa mesma proposição. Neste caso, a conclusão não é contraditória com as
premissas, mas também não é uma consequência necessária, tornando o argumento contingente e inválido.
A→B
B
∴A
Tal como acontece no caso da regra modus ponens, também aqui existem variantes.

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Negação do Antecedente
A→B
¬A
∴¬B
Tal como acontece no caso da regra modus tollens, também aqui existem variantes.

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