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Material Teórico
A Pastoral de Conjunto
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
A Pastoral de Conjunto
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar os elementos que suscitaram o surgimento de uma pastoral de conjunto;
• Destacar a importância da ação pastoral na comunidade eclesial;
• Conhecer alguns aspectos do planejamento pastoral na Igreja do Brasil.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE A Pastoral de Conjunto
Introdução
A ação pastoral, assim como qualquer outra ação humana, não está isenta da
influência de mudanças que acontecem na sociedade. Seja ela, próxima ou distante,
toda mudança impacta na maneira como vemos e como nos relacionamos com o
mundo, com as pessoas, com a natureza e como nossa ideia de Sagrado, de Divino.
O que veremos nesta Unidade é como a necessidade de articular ações e de
estabelecer metas promoveu profundas alterações nas organizações religiosas.
O desejo de envolver a comunidade eclesial provocou a necessidade de não só
conhecer, mas aprofundar os elementos mais importantes da ação pastoral e de
como essas ações podem influenciar as mudanças nas sociedades.
Muitos foram os protagonistas dessas reflexões e as contribuições de diferen-
tes fontes foram fundamentais para o que passou a ser conhecido como Pastoral
de Conjunto ou Pastoral Orgânica. Essas iniciativas terão início nos países euro-
peus, sobretudo naqueles de tradição protestantes, e mais tarde também países de
maioria cristã católica, como o caso do Brasil. Irão reconhecer a necessidade e a
urgência de repensar, organizar, planejar e desenvolver ações pastorais articuladas
nos vários níveis de Igreja, dedicando especial atenção ao contexto social, político
e econômico onde estão inseridas.
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Os Primeiros Passos
Os elementos que despertam a preocupação por uma ação pastoral realizada
em conjunto e de forma planejada e com planos de ação definidos surgem na Eu-
ropa no início do século XX. Portanto, estamos falando de uma prática bastante
recente das Igrejas.
Por sua vez, na França, foi o Movimento da Ação Católica* e seus movimentos
apostólicos que ajudaram a perceber os problemas e dificuldades da ação pastoral
tradicional. Esses movimentos apontavam para uma ação tradicional individualista,
invertebrada e distante da realidade do mundo, além de não responder as urgências
da evangelização. Um bom exemplo é o movimento da Juventude Operária Católica
(JOC), fundada pelo cardeal belga Monsenhor Josef-Léon Cardeal Cardijn, em 1924,
com o objetivo de evangelizar a classe operária, assim como outras iniciativas de
apostolado secular que foram surgindo. Destas iniciativas surgiam um novo tipo de
Igreja a ser implantado em zonas urbanas, industriais, operárias, turísticas etc.
de ampliar seus campos de atuação na sociedade. E, embora o Papa Pio XI seja considerado
seu fundador (pela dedicação e empenho em oficializar muitas das ações propostas pelo
movimento), a data de origem do movimento é anterior ao seu pontificado (de 06/02/1922
a 10/02/1939), como a data de 29/07/1867 indicada na Itália como data de fundação pelos
jovens Giovanni Acquaderni e Mario Fani.
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UNIDADE A Pastoral de Conjunto
A primeira etapa pode ser apontada como a ruptura entre vida e religião.
O isolamento da ação pastoral não é percebido apenas nos indivíduos, mas
nas sociedades. Em um processo que não cessará, a Europa, em particular,
vai se tornando menos cristã. As ações pastorais precisavam ampliar seus
horizontes de atuação e era necessário, senão urgente, implantar ações com
uma dimensão social, cuja preocupação ultrapassasse as paredes e muros das
Igrejas e alcançasse as pessoas no lugar onde estivessem.
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Essa constatação da necessidade de uma nova ação pastoral foi sentida pelo
Papa Pio XII, que no ano de 1955, durante um discurso, deixou explícita sua pre-
ocupação com o individualismo e com o isolamento e a desunião das ações pasto-
rais. A preocupação de Pio XII com as ações pastorais será objeto de um segundo
discurso realizado também em 1955, no qual ele convida a uma razoável coordena-
ção dos ministérios em um quadro suficientemente amplo.
E, por fim, a dimensão diocesana da ação pastoral ganha destaque, daí a ne-
cessidade de articular as atividades, direcionando os organismos e seus esforços
para setores da pastoral. O intercâmbio das iniciativas entre os bispos franceses dá
início, em 1959, a experiências da pastoral de conjunto. Em 1962, a Igreja francesa
cria as regiões apostólicas com o objetivo de coordenar as ações. Também, a Igreja
em países como Itália (cuja Conferência Episcopal Italiana – CEI será fundada em
1971) e Alemanha (a Conferência Episcopal Alemanha tem a primeira reunião de
bispo datada de 1848, mas cujo estabelecimento legal se dará por um Decreto,
somente em 1966) irá reconhecer os valores e importância da iniciativa de articula-
ção e trabalho conjunto da Igreja francesa, adotando medidas semelhantes em seus
respectivos países.
A ação pastoral no Brasil não ficou indiferente às mudanças pelas quais a socie-
dade e a Igreja estavam passando e também optou por uma ação que contemplava
a práxis e a reflexão inspirada por um mandato teológico pastoral.
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UNIDADE A Pastoral de Conjunto
Os Movimentos por um Mundo Melhor e Ação Católica tinham linhas de ação bem diferentes.
Explor
Enquanto o primeiro tinha caráter intereclesial, o segundo propunha uma ação transforma-
dora da sociedade. Pesquise e saiba mais sobre esses importantes momentos da articulação
da ação pastoral na Igreja do Brasil.
Figura 1 – Angelo Giuseppe Roncalli (25/11/1881 – 03/06/1963) foi um religioso da Ordem Franciscana Secular.
Enquanto era Patriarca de Veneza, foi eleito ao cargo máximo da hierarquia católica em 28/10/1958 e assumiu o
nome de João XXIII. Sua simplicidade e solicitude, além do cuidado para com os mais pobres, remetia à figura do
Bom Pastor e, por isso, recebeu a alcunha de o “Papa Bom”
Fonte: Wikimedia Commons
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Sua eleição ao pontificado se deu em um momento de crise em vários países lati-
nos. As convulsões político-sociais apontam para uma provável revolução comunis-
ta em Cuba, além dos regimes ditatoriais que se espalhavam pelo continente. Quin-
ze dias após sua eleição recebeu os delegados do encontro do Conselho Episcopal
Latino Americano (CELAM), em Roma, e fez um apelo para que, o mais rápido
possível, elaborasse um adequado plano de pastoral capaz de iluminar a mente dos
fiéis, reforçar a vida sacramental e fortalecê-los na fé; aproveitou a oportunidade
para solicitar aos governantes urgência nas reformas sociais e acrescentou que o
esforço na promoção humana é tarefa da Igreja toda – hierarquia e fiéis.
O CELAM é um organismo que reúne os Bispos dos países da América Latina e sua funda-
ção, em 1955 com sede em Bogotá, tem grande influência da experiência do trabalho de
Dom Hélder Câmara na criação da CNBB.
Plano de Emergência
A Igreja do Brasil atendeu aos apelos de João XXIII por uma pastoral de conjun-
to e pelo planejamento pastoral. Dentre as figuras que se destacam nesse primeiro
momento do planejamento no Brasil está o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom
Hélder Câmara (1909-1999), que, à época, era Secretário Geral da CNBB. Con-
victo não só da necessidade, mas também da urgência de articular e coordenar a
ação da Igreja no País em nível nacional, não poupou esforços a fim de mobilizar o
episcopado no sentido de responder aos apelos do Papa. Cabe acrescentar que as
iniciativas de D. Hélder aproximaram e comprometeram a Igreja às lutas na defesa
dos direitos humanos.
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UNIDADE A Pastoral de Conjunto
Um primeiro novo esquema era o que deixava cada vez mais claro que era
preciso acentuar a atuação da Igreja no campo socioeconômico, por meio de uma
ação planejada e coordenada; o outro esquema tratava justamente da renovação do
ministério sacerdotal. A ação pastoral é uma ação de Igreja, compreendida já na-
quele tempo a partir da eclesiologia que o Vaticano II irá consolidar: a Igreja como
“povo de Deus” com responsabilidades e papéis diferentes, porém com a mesma
dignidade de filhos/filhas de Deus e enquanto batizados participantes do tríplice
múnus: rei, profeta e sacerdote.
ções Doutrinais, Decretos e Declarações) e um deles foi dedicado à doutrina sobre a Igreja – a
Lumem Gentium.
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a ferramenta que faltava à CNBB no sentido de traçar diretrizes que apontassem
rumo e direção para os trabalhos da Igreja”, afirma Beozzo (1996, p. 41).
O ano de 1964 não foi marcado apenas por mudanças na Igreja e pelas manifes-
tações em diversos países do mundo. Enquanto a terceira sessão conciliar acontecia
em Roma, o Brasil era jogado numa ditadura civil-militar que perdurou até a década
de 1980.
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UNIDADE A Pastoral de Conjunto
Não era suficiente a elaboração de um plano para que a ação pastoral no Brasil
acompanhasse não só as mudanças da sociedade, mas se aproximasse do jeito de
ser Igreja proposto pelo Concílio. Era fundamental apontar quais seriam as opções
básicas do plano e da Igreja.
Sem essa clareza, as ações se tornam atividades sem rumo e os esforços e ações
acabam sendo desperdiçados ou perdidos. A dinâmica do processo é outro aspecto
a ser percebida, a renovação não é algo estático, mas em constante e permanente
movimento respondendo aos impulsos do Espírito Santo que vitaliza a Igreja pere-
grina, fazendo-a crescer e se renovar com constância.
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As linhas de ação da pastoral irão ampliar o campo de atuação do cristão.
Os horizontes dos cristãos se expandem para além dos muros da comunidade
eclesial e pousará os olhos sobre as mais variadas lutas dos povos do Brasil.
O plano definiu seis linhas de ação: unidade visível, evangelização, catequese,
liturgia, ecumenismo e promoção humana. Essa elaboração do plano pastoral de
conjunto permitiu equacionar teologia, pastoral e ciências humanas, e foram as
bases para ampliação da ação da Igreja em diferentes áreas.
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UNIDADE A Pastoral de Conjunto
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Eclesiologia
http://bit.ly/2PS2Pmq
Livros
Da Igreja da Cristandade à Igreja dos Pobres
BERNAL, S. CNBB. Da Igreja da Cristandade à Igreja dos Pobres. São Paulo: Edições
Loyola, 1989.
Vídeos
O Santo Rebelde
BAUER, E. (direção e roteiro) Dom Hélder Câmara. O Santo Rebelde (Documentário,
74 min.) Sinopse: O filme revisita os pensamentos de Dom Helder Câmara, Bispo
Católico perseguido pela ditadura militar na década de 60. Arcebispo Emérito de
Olinda e Recife, faleceu em 1999. Mostra sua luta pela promoção humana contra a
miséria e as injustiças sociais e sua luta pela paz mundial. Depoimentos de amigos,
estudiosos e o próprio Dom Helder em cenas inéditas no Brasil e na Europa.
https://youtu.be/Bv06s3UNgdY
Leitura
Revista de Cultura Teológica
SOUZA, N. de A. Ação Católica, militância leiga no Brasil: méritos e limites. In:
Revista de Cultura Teológica – V. 14 – N. 55- Abr/Jun - 2006.
http://bit.ly/2PUDxUG
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Referências
BEOZZO, J. O. A Igreja do Brasil. De João XXIII a João Paulo II – de Medellín a
Santo Domingo. 2. ed. Petrópolis: Vozes,1996.
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