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Curso de Bacharelado em Medicina Veterinária

Disciplina de Farmacologia Veterinária


Professor Juliano S Gueretz
2020
Aluna: Samantha Gomes de Oliveira 4º Semestre

Xilazina
INTRODUÇÃO

A xilazina foi o primeiro agonista α2 a ser utilizado clinicamente na medicina


veterinária e consagra-se como o composto mais usado para imobilizar animais,
exercendo efeito sedativo, analgésico e relaxante muscular. É classificada
farmacologicamente como agente sedativo da classe dos agonistas alfa-2
adrenérgicos. Os fármacos pertencentes a esta classe, ativam os receptores alfa-2
adrenérgicos, presentes tanto no sistema nervoso central como no periférico,
ocasionando uma diminuição na liberação da noradrenalina e consequente
diminuição da atividade simpática do sistema nervoso central, levando a sedação.

DESENVOLVIMENTO

O cloridrato de xilazina é considerado o primeiro e principal α2-agonista utilizado na


Medicina Veterinária em diferentes espécies. Sua fórmula química é cloridrato de
2(2,6- dimetilfenilamino)-4H-5,6-diidro-1,3-tiazina e sua taxa de especificidade nos
receptores α1 e α2 é na proporção de 160:1. Os primeiros relatos mostraram a
eficácia da xilazina em suprimir a hipertonicidade muscular induzida pela cetamina
em cães e gatos, sendo assim, foi classificada farmacologicamente como analgésica,
sedativa e relaxante muscular esquelética. A xilazina age no sistema nervoso central
promovendo a estimulação e ativação dos receptores α2- adrenérgicos, inibindo
assim, a descarga simpática e a liberação de noradrenalina através da inibição da
entrada de íons cálcio na membrana dos neurônios. A xilazina ainda possui potente
atividade antinociceptiva e analgésica e além de atividade α2 possui efeitos
α1-adrenérgicos, em consequência mostra efeitos farmacológicos qualitativamente
similares aos de outras substâncias presentes no mesmo grupo como a clonidina.

FARMACOCINÉTICA

A xilazina é absorvida, metabolizada e eliminada rapidamente. A xilazina pode ser


inalada ou administrada por via intravenosa, intramuscular, subcutânea ou oral, como
monoterapia ou em conjunto com outros anestésicos, como cetamina, barbitúricos,
hidrato de cloral e halotano, a fim de atingir os efeitos anestésicos desejados. A via
de administração mais comum é a venosa. O medicamento é usado como anestésico
veterinário e a dose recomendada varia entre as espécies

Após administração intravenosa e intramuscular, as concentrações plasmáticas de


xilazina são atingidas em cerca de cinco e 15 minutos, respectivamente, e a meia
vida de eliminação é de cerca de 35 minutos tanto por via intramuscular quanto
intravenosa e o efeito sedativo pode continuar por 1 a 2 horas e durar até 4
horas.Uma vez que a xilazina obtém acesso ao sistema vascular, ela é distribuída no
sangue, permitindo que ela perfuse os órgãos-alvo, incluindo coração, pulmões,
fígado e rim. Em casos não fatais, as concentrações plasmáticas no sangue variam
de 0,03 a 4,6 mg/L. xilazina difunde-se extensivamente e penetra na barreira
hematoencefálica, conforme o esperado devido à natureza lipofílica não carregada
do composto.

A xilazina é metabolizada pelas enzimas do citocromo P450 do fígado. Quando atinge


o fígado, a xilazina é metabolizada e segue para os rins para ser excretada na
urina.Cerca de 70% da dose é excretada pela urina. Assim, a urina pode ser usada
na detecção da administração de xilazina, pois nela estão contidos muitos
metabólitos desta. Dentro de algumas horas, a xilazina diminui para níveis
indetectáveis. Outros fatores também podem afetar significativamente a
farmacocinética da xilazina, incluindo sexo, nutrição, e doenças genéticas.

FARMACODINÂMICA
A xilazina é um potente agonista α2 adrenérgico. Quando são administrados xilazina
e outros agonistas dos receptores adrenérgicos α2, eles se distribuem pelo corpo em
30 a 40 minutos. Devido à natureza altamente lipofílica da xilazina, a xilazina estimula
diretamente os receptores α2 centrais, bem como os α-adrenoceptores periféricos
em uma variedade de tecidos. Como agonista, a xilazina leva a uma diminuição da
neurotransmissão de noradrenalina e dopamina no sistema nervoso central, através
da inibição do influxo de íons cálcio na membrana neuronal. Isso é feito imitando a
noradrenalina na ligação aos autoreceptores pré-sinápticos da superfície, o que leva
à inibição da retroalimentação da noradrenalina. A xilazina tem afinidades variadas
para os receptores colinérgicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, adrenérgicos α1,
histaminérgicos H2 e receptores opioides. Sua estrutura química se assemelha muito
com as fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos (TCAs) e clonidin

USO CLÍNICO
A Xilazina exerce atividades analgésica, anestésica e sedante, mas caracteriza-se
por sua acentuada ação miorrelaxante a nível central, sendo usada em grande
escala para a contenção farmacológica em animais.

Essa substância desempenha um papel importante na prática veterinária, sendo


utilizada nas chamadas “contenções químicas” dos animais, pois facilitam vários
procedimentos clínicos, o diagnóstico, o manejo de animais e a pré-anestesia neste
sentido, a xilazina tem se destacado como medicamento amplamente utilizado com
essa finalidade em grandes variedades de espécies animais, tanto domésticos como
selvagens.

Caninos e felinos: A via de administração pode ser intramuscular e endovenosa,na


dosagem de até 4 mg/kg, para executar suturas, extrações dentárias, limpeza de
tártaros, retirada de pontos, coleta de sangue e urina, exames radiológicos, raspados
de pele, limpeza de feridas cirúrgicas, limpeza de ouvidos e outras intervenções mais
dolorosas. Nesta dosagem, produz sedação que mantém por 1 a 2 horas e analgesia
de 15 a 30 minutos.

Equinos: A via de administração pode ser intramuscular e endovenosa, na dosagem


de até 1,6 mg/kg para pesagem, radiografia, transporte, tratamento de cascos para
facilitar palpação retal e tranquilizar as éguas; e intervenções cirúrgicas rápidas.

Bovinos: A via de administração pode ser intramuscular e endovenosa. - Dose de


até 0,05 mg/kg permite nítida sedação para executar extração de agrantes, facilitar a
realização de anestesias locais, rumenotomia, laparotomia, cesariana, redução do
prolapso de útero, facilitação de embriotomia, mudanças de pensos e tratamento
intramamário. - Dose de até 0,1 mg/kg permite forte sedação para executar exames
na cavidade bucal, abertura de abscessos, suturas superficiais de feridas e
desobstrução do canal dos tetos, tratamento de cascos, colocação de argolas nas
narinas e lavagens do prepúcio.

Dose até 0,2 mg/kg permite sedação muito intensa, analgesia e relaxamento
muscular para amputação de chifres e cascos, operação cesariana em decúbito,
eliminação das contrações pós-parto, sutura dos tetos, castrações, punções,
colocação de gesso e marcação cutânea a ferro. É recomendável jejum de algumas
horas a partir dessas dosagem.

dose até 0,3 mg/kg permite sedação muito intensa a ponto do animal não se
conservar em pé para intervenções.

CONTRAINDICAÇÕES
Em animais idosos, gestantes, desidratados, produtores de alimentos e com
obstrução urinária, a dose deve ser reduzida e só usado quando não houver opção
mais segura. O cloridrato de xilazina deve ser injetado lentamente para não ocorrer
efeitos indesejáveis, convém ter sempre à mão material para qualquer emergência.
O efeito sedativo pode ser reduzido por ruídos, intranquilidade, manipulação do
animal, etc.

O uso da xilazina é contraindicado em animais que possuem alterações cardíacas,


disfunções respiratórias graves, hipotensão arterial, choque, disfunção renal, pois o
fármaco é excretado pelo rim; hepatopatia, devido à degradação primária do fármaco
depender do fígado funcional; e em animais com epilepsia, pois provavelmente o
fármaco pode desencadear convulsões nos animais suscetíveis

A droga é contraindicada em animais durante o último mês de prenhez, por precipitar


um parto precoce ou aborto, e em bovinos desidratados. Não aplicar em animais
destinados ao consumo humano

EFEITOS COLATERAIS
Aumento da diurese, hiperglicemia, hipoinsulinemia, alteração da motilidade
gastrointestinal, aumento da resistência vascular e do consumo de oxigênio do trato
gastrointestinal, salivação, piloereção, transpiração, prolapso peniano e tremores
musculares leves.

A diminuição da frequência cardíaca afeta diretamente o fluxo aórtico, podendo levar


à estenose aórtica. A bradicardia causada pela administração de xilazina pode ser
evitada pela administração de atropina ou glicopirrolato. As arritmias associadas à
xilazina incluem outros sintomas, como bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular e
arritmia sinusal.

A administração de xilazina pode levar a diabetes mellitus e hiperglicemia. Outros


efeitos colaterais possíveis que podem ocorrer são: arreflexia, astenia, ataxia, visão
turva, desorientação, tontura, sonolência, disartria, dismetria, desmaio, hiporreflexia,
fala arrastada, sonolência, coma, apnéia, taquicardia, miose e boca seca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em estudo feito por Monteiro et al. (2008) concluiu-se que mesmo utilizando doses
mais baixas de xilazina não houve menor incidência de vômito indicando que esse
efeito possa ser provocado com doses baixas. Outros efeitos da xilazina são o refluxo
gástrico que pode ocorrer pelo relaxamento do esfíncter gastroesofágico, a midríase
decorrente da inibição central do influxo parassimpático à íris ou da ativação direta
dos receptores α2 localizados na íris, ou ambos e redução da pressão intraocular.

Um estudo demonstra que a xilazina, via intravenosa, em bovinos, ao mesmo


tempo que promove uma sedação mais intensa e prolongada que a detomidina,
induz a uma maior quantidade de efeitos indesejáveis, como salivação, decúbito,
redução das frequências cardíaca, respiratória, pressão arterial média, motilidade
ruminal e temperatura, sendo estas alterações, da mesma forma, mais
prolongadas. Estes resultados se contrapõem à literatura, que salienta o fato de
que, embora a detomidina seja um fármaco mais seletivo aos receptores
adrenérgicos do tipo α2 do que a xilazina, as diferenças farmacodinâmicas, em
doses equipotentes, são mínimas, exceto pela duração da ação dos fármacos
(England e Clarke, 1996; Bueno et al., 1999; Riviere e Papich, 2009).

REFERÊNCIAS

● SPINOSA, Helenice de Souza; GÓRNIAK, Silvana Lima; BERNARDI, Maria


Martha. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. [S.l: s.n.], 2011.

● Spinosa, Helenice de souza; Spinosa, Flávio roberto Nunes. Sobre os efeitos


farmacológicos da xilazina

● Efeitos sedativos da detomidina e xilazina em gatos - 2017

● MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária: Farmacologia e Técnicas. 5ª ed.


Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008 p.592

● MUIR III W.W.; HUBBELL J. A. Manual de Anestesia Veterinária. 3ª ed. Editora


Artmed, Porto Alegre. 2001 p.432.

● WALLER, S. B. et al. Efeitos colaterais de anestésicos em neonatos de cães e


gatos nascidos de cesariana. Acta Veterinaria Brasilica, v.8, n.1, p.1-9, 2014

● Sobre os efeitos farmacológicos da xilazina

● Site: Vetsmart.

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