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1.

MERCADOS FINANCEIROS (LADO MONETÁRIO)


2. MODELO IS-LM (DERIVAÇÃO)

Macroeconomia I - 2023.2
Prof. Felipe Cruz
Mercados financeiros abrangem rede
intrincada de instituições: bancos, fundos
mútuos, fundos de investimento, fundos de
hedge etc.
Lado monetário-financeiro
● suas transações envolvem títulos, ações e
outros créditos financeiros como swaps e
opções.

● desempenham papel essencial na


economia, pois determinam o custo dos
fundos para empresas, famílias e
governo, afetando suas decisões de
gasto.

Como a taxa de juros dos títulos é determinada


e qual o papel do banco central?

Blanchard (2017)
Moeda e títulos: trade-off rendimento-liquidez
Blanchard (2017)

● simplificação: economia possui apenas 2 ● compra/venda de títulos implica algum


ativos (moeda e títulos). custo (e.g. taxa de corretagem). Manter
riqueza na forma de moeda pode ser
Papel-moeda conveniente, mas perde-se a renda de
Moeda juros.
(usada em transações,
mas não paga juros) ● manter toda a riqueza na forma de títulos
gera a necessidade frequente de
Depósitos à vista/ bancários convertê-los em moeda para liquidar
transações.

A proporção em que um indivíduo retém


Títulos
Suponha 1 tipo de título tanto moeda quanto títulos depende (i) de
(pagam juros, mas não são
que paga i (taxa de juros)
usados em transações) seu nível de transações, e (ii) das taxas de
juros dos títulos.
Demanda por moeda Blanchard (2017)

Depende do nível total de transações (proporcional ● para dada taxa de juros, um aumento da
à renda nominal $Y) e da taxa de juros (i). renda nominal aumenta a demanda por
moeda (desloca a curva para a direita).

taxa de juros (i)


● demanda por moeda aumenta em proporção à
renda nominal;
● demanda por moeda depende negativamente
do juros: aumento em i leva as pessoas a A B
conservarem mais de sua riqueza em títulos. i

Relação entre demanda por moeda e taxa de juros


para dado nível de renda nominal é representada
por uma curva negativamente inclinada.
Moeda (M)
Determinação da taxa de juros Blanchard (2017)

Suponha que a única moeda seja o papel-moeda ● oferta de moeda independe da taxa de juros
emitido pelo banco central: (perfeitamente inelástica).

taxa de juros (i)

Condição de equilíbrio nos mercados financeiros:

● taxa de juros deve ser tal que, dada sua renda


$Y, as pessoas estejam dispostas a ter um i*
montante de moeda igual à oferta de moeda
existente.
M Moeda (M)
Efeitos de $Y e M sobre i Blanchard (2017)

taxa de juros taxa de juros

Expansão monetária

B
A

A
B

M Moeda (M) Moeda (M)


Como o banco central afeta M? Blanchard (2017)

Balancete do banco central Operações no “mercado aberto” de títulos:

Ativos Passivos ● se deseja aumentar M, compra títulos e paga


por meio da criação de moeda;
Títulos Moeda (papel-moeda) ● se deseja diminuir M, vende títulos e retira de
circulação a moeda que recebe.

Operações de mercado aberto levam a mudanças


Efeitos de uma operação de
idênticas do ativo e do passivo no balancete do
mercado aberto expansionista
banco central.
Ativos Passivos
● se compra $ 1 milhão em títulos, seu
Mudança na Mudança no montante de títulos aumenta em $ 1 milhão,
carteira de títulos estoque de moeda assim como seu passivo (montante de moeda
+ $ 1 milhão + $ 1 milhão na economia) → operação expansionista.
Preço e rendimento dos títulos Blanchard (2017)

Mercado de títulos determina seus preços, e não Quanto maior for o preço do título, menor será a
as taxas de juros. Porém, ambos estão taxa de juros.
relacionados.
O preço de hoje do título de um ano que paga $
● título que promete pagar $ 100 daqui a um 100 daqui um ano é dado por:
ano. Se o seu preço hoje é $ PB, a taxa de
retorno ou de juros de sua posse durante
um ano é:
● quanto maior a taxa de juros, menor o preço
atual do título.

Quando os mercados de títulos fecham em alta:


● se $ PB = 99 ⇒ i = 1,01% a.a. preços dos títulos subiram e taxa de juros caíram.
● se $ PB = 90 ⇒ i = 11,11% a.a.
Operações no mercado aberto Blanchard (2017)

Oferta de moeda ou taxa de juros?


Operação de mercado aberto expansionista
● ao invés de escolher a oferta de moeda e
Ao comprar títulos em troca da moeda que criou, o banco deixar a taxa de juros ser determinada no
central aumenta a oferta de M. À medida que ele compra ponto em que a oferta iguala a demanda
títulos, a demanda por títulos cresce, aumentando seus por moeda, o banco central pode escolher
preços e, reciprocamente, a taxa de juros dos títulos cai. a taxa de juros e, então, ajustar a oferta de
moeda para atingi-la.
Operação de mercado aberto contracionista
● bancos centrais modernos buscam atingir
uma meta de taxa de juros.
Ao vender títulos em troca de moeda retida pelas
famílias, o banco central diminui a oferta de M. Isso leva ○ Brasil: taxa Selic (meta).
a uma diminuição nos preços dos títulos (demanda por
títulos cai) e, reciprocamente, a taxa de juros sobe.
Incluindo bancos e depósitos à vista Blanchard (2017)

Mesmo se considerarmos os depósitos à vista, o ● mantêm como reservas parte dos fundos que
banco central pode, ao mudar M, controlar a taxa recebem (dinheiro + conta mantida junto ao
de juros. banco central).

Intermediários financeiros recebem fundos de ○ raramente entradas e saídas de


pessoas e empresas e os usam para comprar dinheiro (movimentações de
ativos ou conceder empréstimos. correntistas) são equivalentes;
○ montante que o banco deve a outros
● ativo: ativos financeiros + empréstimos;
bancos pode ser maior ou menor do
● passivo: fundos recebidos.
que o montante que os outros bancos
Bancos são especiais porque seu passivo é lhe devem;
moeda: indivíduos podem pagar por transações ○ recolhimentos compulsórios que os
emitindo cheques até o montante de seu saldo obrigam a manter reservas em alguma
em conta. proporção de seus depósitos à vista.
Incluindo bancos e depósitos à vista Blanchard (2017)

Banco Central Base ● nem toda moeda do banco central emitida é


monetária mantida como papel-moeda pelo público,
Ativos Passivos
sendo parte mantida como reservas pelos
Moeda do Banco Central bancos.
Títulos
= reservas + papel-moeda
● a demanda por moeda do banco central é igual
Bancos comerciais à demanda por papel-moeda pelo público mais
a demanda por reservas pelos bancos.
Ativos Passivos
● a oferta de moeda do banco central está sob
Reservas controle direto deste último.
Empréstimos Depósitos à vista
Títulos ● a taxa de juros de equilíbrio é tal que a
demanda e a oferta de moeda do banco
Simplificação: bancos não fazem empréstimos, central sejam iguais.
retendo como ativos apenas títulos e reservas.
Demanda por moeda do banco central Blanchard (2017)

I. Demanda por moeda por parte das pessoas; ● pessoas querem manter mais depósitos à
vista quanto maior for seu nível de
● simplificação: pessoas retêm moeda
transações e menor a taxa de juros sobre os
apenas na forma de depósitos à vista.
títulos.
II. Demanda por reservas por parte dos bancos.
Quanto maior o montante de depósitos à vista,
Assim, a demanda por moeda do banco central maior o montante de reservas que os bancos
(high-powered money) é aquela por reservas pelos devem deter (precaução e fins regulatórios).
bancos que, por sua vez, depende da demanda por
● Se θ = montante de reservas que os bancos
depósitos à vista por parte das pessoas.
possuem por $ 1 de depósitos à vista (razão
Como demanda por depósitos = demanda por das reservas), sua demanda por reservas é:
moeda pelas pessoas, usamos a equação anterior:
Equilíbrio no mercado de moeda do banco central
Blanchard (2017)

Oferta de moeda do banco central (H), equivalente à Efeitos de variações na renda nominal e na oferta
oferta de reservas pelo banco central, está sob seu de moeda do banco central são os mesmos.
controle.
taxa de juros (i)
● banco central pode alterar H e i por meio de
operações de mercado aberto.

Condição de equilíbrio:

i*
Taxa de juros mais alta implica demanda mais baixa
por moeda do banco central à medida que diminui a
demanda por depósitos à vista (pessoas) e, assim, a
demanda por reservas (bancos). H Moeda do banco central (H)
Armadilha da liquidez Blanchard (2017)

taxa de juros Taxa de juros (nominal) não pode ir abaixo de zero


(restrição conhecida como limite inferior zero).

● quando i = 0, política monetária não pode reduzi-la


mais e torna-se ineficaz: armadilha da liquidez.

● quando as pessoas têm moeda suficiente para


realizar transações, ficam indiferentes quanto a
manter o restante de suas riquezas sob a forma de
A moeda ou títulos (ambos pagam i = 0). Bancos ficam
indiferentes quanto a manter reservas ou títulos.

● demanda por moeda torna-se horizontal: aumentos


adicionais em M não surtem efeito sobre i, apenas ↑
B C Moeda (M) depósitos à vista e reservas bancárias.
Exercício 1

1. Suponha que a renda anual de uma pessoa seja de d. Suponha que a taxa de juros seja de 5%.
$ 60.000 e que sua função de demanda por moeda seja Em termos percentuais, o que acontece
dada por: com sua demanda por moeda se a renda
anual é reduzida em 50%?

a. Qual é sua demanda por moeda quando a taxa e. Resuma o efeito da renda sobre a
de juros é de 5%? E de 10%? demanda por moeda. Em termos
percentuais, como ele depende da taxa
b. Explique o efeito da taxa de juros sobre a de juros?
demanda por moeda.

c. Suponha que a taxa de juros seja de 10%. Em


termos percentuais, o que acontece com sua
demanda por moeda se a renda anual é reduzida
em 50%?
Exercício 1

a. c.
i = 0,05 $Y = 30.000 e i = 0,1

A demanda por moeda diminuiu em 50%.

d.
i = 0,1 $Y = 30.000 e i = 0,05

A demanda por moeda diminuiu em 50%.

b. e.
Um aumento (redução) de 1% na renda nominal leva a
A demanda por moeda diminui quando a
um aumento (redução) de 1% na demanda por moeda.
taxa de juros aumenta.
Este resultado independe da taxa de juros.
Exercício 2

2. Considere um título que promete pagar R$ 100 em R$ = 85 ⇒


um ano.
R$ = 95 ⇒
a. Qual é a taxa de juros sobre o título se seu preço
hoje é de R$ 75? R$ 85? R$ 95?
b.
b. Qual é a relação entre o preço do título e a taxa Há uma relação inversa entre o preço do título e a
de juros? taxa de juros.

c. Se a taxa de juros é de 8%, qual é o preço do


c.
título hoje?

a.

R$ = 75 ⇒
Exercício 3

3. Suponha que a demanda por moeda seja dada por: a.

em que $Y é igual a $ 100. Suponha também que a


oferta de moeda é de $ 20.
b.
a. Qual é a taxa de juros de equilíbrio?
Banco central deseja aumentar i para 15%.
b. Se o banco central deseja aumentar a taxa de
juros de equilíbrio em 10 pontos percentuais de
seu valor no item (a), em que nível deve fixar a Logo, deverá reduzir a oferta de moeda em 50%
oferta de moeda? para alcançar o nível de $ 10.
Exercício 4

4. Suponha que a demanda por moeda seja dada por: a.

em que $Y é $ 100. b.

a. Se o banco central fixar uma meta de taxa de


juros de 5%, qual será a oferta de moeda que c.
ele deve criar? Operação de mercado aberto contracionista

b. Se o banco central quer aumentar i de 5% para Ativos Passivos


10%, qual é o novo nível da oferta de moeda Mudança na Mudança no
que ele deve definir? carteira de títulos estoque de moeda
-$5 -$5
c. Qual é o efeito no balanço patrimonial do
banco central do aumento da taxa de juros de Banco central vende títulos e contrai moeda,
5% para 10%? diminuindo ativo e passivo no mesmo montante.
Escolas macroeconômicas

Revolução
Keynesianos
vs. keynesiana
radicais/
(1936) fundamentalistas
Análises pós-keynesianos Crise da
pré-keynesianas macroeconomia?
(1936…)
(neo)clássicos (2008…)
(1870-1930)

Novos-keynesianos
(1980…)

Síntese neoclássica Novo consenso


Monetarismo
velhos keynesianos vs. macroeconômico
(1950…)
(1937-1970) Novos-clássicos (1990…)
(1970…)
John Hicks (1937)
Mr. Keynes and the “Classics”
Surpreendente reação dos neoclássicos à TG.

● artigo de Hicks publicado em 1937 (já


havia sido apresentado na Econometric
Society no ano anterior).
John Hicks (1904-1989) e a Tentativas de absorção e generalização nas 2
síntese neoclássica décadas após a II Guerra Mundial.

● origem da síntese neoclássica (núcleo


duro da economia ortodoxa).

● negação do caráter geral da teoria de


Keynes, transformada num caso particular
do modelo neoclássico.

Expoentes: John Hicks, William Baumol, James


Duesenberry, Franco Modigliani, James Meade,
Don Patinkin, Paul Samuelson, Robert Solow,
James Tobin, Lawrence Klein, Alvin Hansen.
Mr. Keynes and the “Classics” Hicks (1937)

Objetivo: apresentar elementos de convergência Em que:


e divergência entre as teorias clássica e
● M = qtdade de moeda;
keynesiana, ensejando construir modelo mais
● k = inverso da velocidade-renda de circulação
geral (síntese das teorias).
da moeda (constante marshalliana);
● interpretação popularizada como ● Y = renda total;
expressão do modelo de Keynes. ● I = investimento agregado;
● i = taxa de juros;
Equações do modelo clássico ● S = poupança agregada.

Tais equações representam o mercado monetário, o


mercado de bens e o de ativos.
Mr. Keynes and the “Classics” Hicks (1937)

“É esse sistema de equações que conduz à


Equações do modelo keynesiano estarrecedora conclusão de que um aumento nos
incentivos a investir, ou na propensão a consumir,
não terá a tendência de aumentar a taxa de juros,
mas apenas a de aumentar o número de empregos…
este [sistema] não é a Teoria Geral. Podemos
denominá-lo, se quisermos, de teoria especial do Sr.
Diferem das eq. clássicas de 2 maneiras: Keynes. A Teoria Geral é algo bem mais ortodoxo.”

● demanda por moeda depende da taxa de (Hicks, 1937, p. 152)


juros (preferência pela liquidez) → mais
importante; ● motivo transação também deve aparecer na
função de demanda por moeda.
● descarta-se qualquer influência da taxa de
juros sobre a poupança.
Modelo considera 3 mercados, mas sua
configuração decorre da interação entre
apenas 2 deles (aplicação da lei de Walras).
Mr. Keynes and the “Classics”
Hicks (1937)

Curva IS: “mostra a relação entre a renda e os juros que


Equações do modelo hicksiano
(equilíbrio geral) deve ser mantida a fim de que a poupança seja igual ao
investimento” (condição de equilíbrio no mercado de
bens).

● negativamente inclinada: aumento em i reduz I


e, consequentemente, Y.

Curva LL (LM): mostra a relação entre a renda e os


Equilíbrio geral: juros que deve ser mantida a fim de que a demanda e
a oferta de moeda sejam iguais (condição de
● 1ª eq. determina o equilíbrio no mercado
equilíbrio no mercado monetário).
monetário, gerando a taxa de juros;
● positivamente inclinada: aumento em Y eleva a
● 2 últimas eq. conformam o equilíbrio no
demanda por moeda e aumento em i a reduz.
mercado de bens, gerando o nível de renda.
Mr. Keynes and the “Classics” Hicks (1937)

Com a interação entre o mercado de bens e o Aumento da demanda agregada provocado por
monetário, a renda e os juros são determinados uma elevação no incentivo a investir desloca a
conjuntamente no ponto de interseção das 2 curva IS para a direita, proporcionando um produto
curvas, que representa o equilíbrio simultâneo. maior.

● esse aumento do produto é parcialmente


“A renda e a taxa de juros são determinadas limitado por uma subida do juros.
simultaneamente em P, ponto de interseção das
“Como é possível, segundo Keynes, que um aumento na
curvas LL e IS. Estas são determinadas
simultaneamente, assim como o preço e o rendimento indução a investir não aumentasse a taxa de juros?”
são determinados simultaneamente na moderna ● tal caso só teria validade para a parte em que
teoria de oferta e demanda. De fato, a inovação do a curva LL é horizontal (armadilha da
Sr. Keynes, neste sentido, encontra quase que um liquidez), quando o efeito de um aumento em
paralelo na inovação dos marginalistas.” (p. 153) I sobre Y seria “total”.
Mr. Keynes and the “Classics” Hicks (1937)

Se IS estiver à esquerda, não será possível


aumentar o emprego elevando M, pois a política
“Isso nos conduz àquilo que, sob muitos pontos de vista, é a
monetária não forçará mais para baixo i.
coisa mais importante no livro do Sr. Keynes… [a curva LL]
tenderá provavelmente a ser quase horizontal à esquerda e taxa de juros (i)
quase vertical à direita. O motivo é que existem: i) algum L
nível mínimo abaixo do qual a taxa de juros dificilmente
cairá; e ii) um máximo de nível renda possível de ser
financiado mediante uma dada quantia de moeda… se a
curva IS ficar bem à direita, P ficará sobre aquela parte da
curva que apresenta uma clara inclinação ascendente e a
teoria clássica servirá de boa aproximação… Mas se o L
ponto P ficar à esquerda da curva LL, a forma especial da
teoria do Sr. Keynes torna-se válida… a Teoria Geral do
Emprego é a Teoria Econômica da Depressão.” (p. 154-5)
Nível de renda (Y)
Uma perspectiva reducionista? Busato & Pinto (2008)

Interpretação neoclássica: maior avanço da TG foi Teoria keynesiana particular às seguintes


alertar para a possibilidade temporária de a situações:
economia operar com desemprego involuntário.
❖ armadilha da liquidez (elasticidade-juros
● rigidezes de preços/salários e outras da demanda por moeda tende para o
imperfeições podem levar a equilíbrio com infinito);
excesso de oferta de trabalho no curto prazo.
❖ elasticidade-juros da demanda por
● não há contradição entre teoria clássica e investimento nula, impedindo que o
keynesiana. investimento se iguale à poupança ao
nível de pleno emprego;
● desconsidera sua contribuição analítica da
demanda efetiva, preferência pela liquidez e ❖ rigidezes de preços e salários.
papel da incerteza em uma economia
monetária de produção.
Uma perspectiva reducionista? Busato & Pinto (2008)

Hicks eliminou teoria da preferência pela liquidez Keynes: PrL traz consigo a possibilidade dos
ao transformar a demanda por moeda em uma indivíduos, ante à incerteza com relação ao
função estável de Y e i. Para ele, Keynes teria curso futuro de i, demandarem moeda a fim de
negligenciado o motivo transação. se proteger ou especular, o que desestimula I.

● Keynes enfatizou o motivo especulação pq a Hicks: PrL válida apenas no caso de armadilha
moeda quando retirada de circulação não se da liquidez; retenção de moeda não se deve à
transforma em demanda efetiva. Por sua vez, incerteza, mas às baixas taxas de juros vigentes
o motivo transação não é um fator de nesses períodos que reduzem o custo de
desestabilização, pois gera gastos. retenção da moeda, tornando a PrL absoluta.

● Hicks considerou a moeda como uma Hicks subtraiu elemento essencial da TG:
mercadoria “normal”, não apresentando as efeitos das expectativas com relação ao curso
propriedades especiais destacadas na TG. dos eventos sobre a EMgK.
Uma perspectiva reducionista? Busato & Pinto (2008)

Temporalidade na TG
Modelo IS-LM: posições de equilíbrio alcançadas
Preferência
com todas as variáveis sendo determinadas conj.; Política monetária
pela liquidez
não há como descrevê-las a partir de mecanismos de
transmissão entre as variáveis.

● noção de tempo torna-se inútil.


Taxa de juros EMgK
“A síntese neoclássica, ao transpor a economia de
Keynes para um sistema de equilíbrio geral, violou um
princípio organizador fundamental e Keynes, ou seja, a Propensão a
Investimento
rejeição da noção de ajuste automático e simultâneo consumir
entre os mercados… em que todas as decisões
econômicas relevantes estão nas mãos dos capitalistas.”

(Lopes, 1992 apud Busato & Pinto, 2008). Demanda efetiva


Como o produto e a taxa de juros são
determinados no curto prazo?

● pressupostos básicos do modelo


keynesiano simples: demanda determina o

Modelo IS-LM: derivação ●


produto e nível de preços constante.
introdução do mercado de ativos e da taxa
de juros.
● determinação simultânea de Y e i que
equilibram o mercado de bens e de ativos.
Mercado Mercado de bens e
de ativos serviços Renda
Estrutura lógica: mercado de ativos (demanda e
Taxa de
juros oferta de moeda) determina i que, por sua vez,
Oferta e demanda Produto
de moeda Demanda agregada afeta a demanda agregada e o nível de produto
por meio de I. A renda também influi no mercado
de ativos por meio da demanda por moeda que
afeta i. Política monetária (oferta de moeda) e
Política Política
monetária fiscal fiscal (tributos e gastos do governo) são exógenas.

Lopes & Vasconcellos (2008)


Mercado de bens e a curva IS Lopes & Vasconcellos (2008)
Blanchard (2017)

Condição de equilíbrio do mercado de b/s no Modelo expandido:


modelo keynesiano simples (economia fechada):

● investimento definido endogenamente


Abandonamos a hipótese de que o investimento é conforme oscila a taxa de juros.
constante, que passa a depender de:
i
● nível de vendas (relação +);
A
i1
● taxa de juros (relação –): custo do empréstimo
(se empresa usa fundos de terceiros) ou custo
B
de oportunidade (se usa fundos próprios). i2

I1 I2 Investimento (I)
Mercado de bens e a curva IS DA

B
Para dado valor de i, a DA é uma função crescente do
produto: aumento em Y aumenta renda disponível, o
A
que aumenta consumo; também aumenta I.

● como relações C e I não são lineares, função de 45°

DA costuma ser uma curva (evidência empírica Y


sugere que é menos inclinada que a reta de 45º). i

Supondo uma queda em i, I é maior para qualquer nível


de produto, o que desloca a curva de DA para cima. Isso A
aumenta o produto de equilíbrio, o que eleva ainda
mais C e I por meio do efeito multiplicador. B

Curva IS mostra que uma taxa de juros mais baixa está IS


associada a um nível de produto de equilíbrio mais alto.
Y
Mercado de bens e a curva IS
Lopes & Vasconcellos (2008)

Curva IS é o locus dos pares de Y e i que equilibram o 2. propensão marginal a consumir ou multiplicador
mercado de b/s. de gastos.

● qualquer ponto sobre a curva representa o ● quanto maior c e k, maior o impacto sobre Y de
equilíbrio no mercado de produto: OA = DA. variações em I induzidas por mudanças em i, ou
seja, menor a inclinação da IS (mais horizontal).
Inclinação da IS depende de:
Posição da IS depende do volume de gastos
1. sensibilidade de I em relação à i;
autônomos: consumo e investimento autônomos e
● quanto maior a elasticidade-juros da demanda política fiscal.
por investimento, menor a inclinação da IS
● expansão (contração) nos gastos autônomos
(mais horizontal) → pequena variação em i
desloca IS para a direita (esquerda).
induzirá uma grande variação em I e, portanto,
● magnitude do deslocamento = k vezes a
na DA e em Y. Para uma baixa elasticidade, a
variação na despesa (para dado i, determinado
curva será mais vertical.
como no modelo keynesiano simples).
Mercados financeiros e a curva LM Lopes & Vasconcellos (2008)
Blanchard (2017)

2 tipos de ativos: moeda e títulos. Supondo um Se houver excesso de demanda por moeda, haverá
dado estoque de riqueza (W). excesso de oferta de títulos e vice-versa → basta
analisar o mercado monetário.

Abstraindo os detalhes do processo de oferta de


(demanda por moeda + demanda por títulos = riqueza)
moeda, o banco central controla M diretamente.
Oferta total de ativos:
Demanda por moeda é função direta da renda nominal
(motivo transação) e inversa da taxa de juros (motivo
especulação).
Quando a oferta de ativos iguala a demanda:
Reescrevendo a condição de equilíbrio (termos reais):

Se o mercado monetário estiver em equilíbrio,


o mesmo valerá para o mercado de títulos.
Elevações na renda devem ser
acompanhadas por aumentos nas taxas de

Mercados financeiros e a curva LM juros, de modo a compensar o impacto


expansivo sobre a demanda de moeda
decorrente do maior nível de renda.
Plotando os pares (Y, i) que equilibram o
mercado monetário, obtém-se a curva LM.
i i

LM

B B

A A

Y
Mercados financeiros e a curva LM
Lopes & Vasconcellos (2008)

Curva LM é o locus dos pares de Y e i que equilibram 2. sensibilidade da demanda por moeda à i.
o mercado monetário.
● quanto maior a elasticidade-juros da
● qualquer ponto sobre a curva representa o demanda de moeda, menor a inclinação da
equilíbrio no mercado monetário: . LM (mais horizontal) → pequena variação
em i exigirá grande variação em Y para
Inclinação da LM depende de:
compensá-la (ou qualquer mudança em Y
1. sensibilidade da demanda por moeda à Y; exigirá pequena variação em i).

● quanto maior a elasticidade-renda da Posição da LM depende da oferta real de moeda.


demanda de moeda, maior a inclinação da LM Como P é constante, ela é afetada basicamente
(mais vertical) → pequena variação em Y pela política monetária.
induzirá grande variação na demanda de
● expansões (contrações) na oferta de moeda
moeda, exigindo maior subida em i para
deslocam LM para direita (esquerda).
compensá-la.
E se o banco central define a taxa de juros?
Blanchard (2017)

Ao derivar a curva LM, é preciso definir a política


monetária: banco central escolhe M ou i como meta?
taxa de juros
● modo tradicional de derivar LM assume a
premissa de que o banco central escolhe M.
Porém, isso está em desacordo com a forma
como a política monetária é feita hoje.

● bancos centrais modernos escolhem uma LM


meta para a taxa de juros ( ) e ajustam a
oferta de moeda para alcançá-la.

○ isso resulta em uma “curva” LM muito


simples: uma linha horizontal ao valor
de i definido pela autoridade monetária. Y
Referências

BLANCHARD, O. Macroeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. Capítulos 4 e 5.

BUSATO, M. I.; PINTO, E. C. Uma perspectiva reducionista da revolução keynesiana: a síntese


neoclássica. Análise Econômica, Porto Alegre, v. 26, n. 50, p. 111-139, set. 2008.

HICKS, J. Mr. Keynes and the “Classics”: A Suggested Interpretation. Econometrica, v .5, issue 2, p.
147-159, Apr. 1937.

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Orgs.). Manual de Macroeconomia: Nível Básico e Nível


Intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Capítulo 5.

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