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A visão do todo e de todos

No velho paradigma, a física era a referência. “Toda a filosofia é uma árvore. As raízes
são a metafísica, o tronco é a física e os ramos as outras ciências”, dizia Descartes. Dela
partiam as demais ciências. Hoje, a física não deixou de ser um referencial, mas passou a
ser mais um, compartilhando sua vitalidade com outras ciências como a biologia e a
química. Não é à toa que os pioneiros do pensamento sistêmico foram os biólogos.

Descartes formalizou o método do pensamento analítico, também conhecido como


método cartesiano e mecanicista, pelo qual a compreensão do todo se dá pelo
conhecimento das partes. Uma das etapas do método era dividir o problema em partes
menores, para então estudar uma a uma isoladamente. Atualmente, esse pensamento tem
a forte concorrência do pensamento sistêmico, tendo no biólogo Ludwig von Bertalanffy
um de seus precursores. Pelo pensamento sistêmico o objeto, para ser compreendido,
é analisado no contexto do todo mais amplo, onde se estabelece a natureza de suas
relações. Enquanto na visão analítica as partes determinam o todo, na visão sistêmica o
todo é que determina o comportamento das partes, ou seja, o todo é mais do que a
soma de suas partes, é uma rede de relações.

O que temos na natureza são redes dentro de redes, formando a teia da vida, como
denomina Capra. O que causa espanto para alguns, pois a ciência não pode fornecer uma
compreensão completa e definitiva, já que está impossibilitada de experimentar todas as
conexões que envolvem um fenômeno, além do que, as mesmas estão em constante
transformação. Independentemente de quantas conexões levamos em conta numa
descrição científica, alguma sempre ficará de fora. O velho paradigma da crença
cartesiana na certeza, a partir da dúvida, dá lugar à descoberta de que há conhecimento
aproximado, na medida em que a ciência não pode fornecer uma compreensão completa
e definitiva.

Trazendo a visão sistêmica, do todo e de todos, para dentro das organizações, na


prática, não teremos mais uma ação (tarefa) executada isoladamente. Ela pertencerá
a um projeto (plano de ação) e está interligada a outras tarefas do mesmo projeto.
O projeto, por sua vez, não será desenvolvido isoladamente por um determinado setor.
Necessariamente, estará vinculado a um objetivo estratégico e será acompanhado por
pessoas de outros setores. Pessoas que também poderão fazer parte do projeto, mesmo
sendo de outro setor. Além do vínculo com o objetivo estratégico, outros vínculos são
estabelecidos. Um deles é com o diagnóstico estratégico (SWOT), que é uma das
primeiras etapas da construção de um planejamento estratégico. Exemplo: o projeto de
implantação do marketing digital ficará vinculado ao objetivo de expandir as vendas em
“x” % e, ao mesmo tempo, a uma oportunidade identificada no SWOT, que é o aumento
das vendas pela Internet. Por falar em SWOT, esse, por sua vez, poderá estar vinculado a
um Model Business Canvas e aos objetivos de um mapa estratégico (BSC ou OKR). O
SWOT, vinculado a um objetivo, ajuda estimar o cenário que se apresenta para o objetivo
ser alcançado.

Dentro da mesma dinâmica de interconexões, num modelo de gestão sistêmica, cada


área da organização deve ter seus indicadores (KPIs) e suas metas, também
vinculadas a um objetivo estratégico. Quando uma meta não é atingida, ou tem uma
tendência negativa, uma ação de melhoria (FCA – Fato, Causa e Ação), com data e
responsável pela execução, pode ser vinculada a ela no intuito de planejar
antecipadamente uma reversão. Pessoas conectadas a ações, conectadas a projetos e
processos, que, por sua vez, estão conectados a objetivos e SWOT, formam uma rede de
relações, onde todos se integram ao todo, produzindo o que muito se ouve falar, o
pertencimento. Este sentimento de pertencimento gera inclusão, comprometimento e
alinhamento, valores essenciais para a conquista de resultados e significados. Numa
perspectiva filosófica, diríamos que seria a manifestação do princípio da coerência, de
integração do uno e do múltiplo, da identidade e da diferença, de um com o outro.

O “todo” da visão do todo, representado pela conexão entre tarefas, projetos, processos
e objetivos, rompe as fronteiras da organização interna. Inclui também o que, numa
visão não sistêmica, seria definido como fora, ou seja, o meio ambiente e a sociedade. Os
objetivos estratégicos numa visão sistêmica devem contemplar este fora. Cada
organização tem um papel na sociedade e uma responsabilidade com o planeta, a partir
do desenvolvimento de uma consciência ecológica. Os tempos atuais exigem
transparência e os agentes do mercado não perdoam aquele que não se preocupa com as
questões sociais e ambientais.

O “todos” da visão de todos se concretiza quando as pessoas estão cientes do que fazer,
porque fazer, como fazer, para que os objetivos da organização sejam alcançados.
Objetivos que representam o desejo de todos não só do investidor ou do gestor.
Incrementa-se a comunicação e a consciência da alteridade, do trabalho colaborativo, da
troca e da relação mais próxima entre gestores e colaboradores. O todos abarca ainda a
dimensão dos clientes e dos fornecedores. Uma relação que precisa ser continuamente
monitorada e alimentada para o sucesso do negócio.

Se a visão sistêmica passa a ser o novo paradigma da gestão, não podemos deixar de
fora a importância do uso da tecnologia. De um sistema (software) para ajudar na
montagem do novo modelo de gestão e sua governança. O Scopi foi desenvolvido com
este propósito, promover a visão do todo e de todos, fazer a teoria funcionar na
prática, integrando num só lugar modelo de negócio, mapa de empatia, análise de
cenários, gestão de riscos, objetivos estratégicos, indicadores, metas, projetos, processos
e tarefas. Tudo isso para que gestores, colaboradores, clientes e fornecedores, sintam-se
integrados e tenham uma vida mais organizada e uma visão mais ampliada. Muito mais
para se prepararem para o futuro do que para controlá-lo.

Autoria: Marcos Kayser – Cofundador da Scopi

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