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DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTEMPORÂNEO
1º ANO / 1º Semestre
2020/2021
Mariana Marques
Índice
Parte I – A Constituição
1. Constituição: um texto?.....................……………………………………………………4
2. Constituição: um só texto? A Constituição instrumental……………………….4
3. Constituição: mais do que o(s) texto(s)?...................................................5
4. Constituição: menos do que o texto? A questão das normas só
formalmente constitucionais………………………………………………………………..5
Parte II – A Constituição República Portuguesa de 1976
A) Génese da CRP: o exercício do poder constituinte originário
1. A Constituição de 1976 como resposta constitucional da nova
República………………………………………………………………………………………12
2. A CPR no quadro do constitucionalismo português: continuidade e
ruturas………………………………………………………………………………………….15
3. A CRP e as matrizes constitucionais estrangeiras……………………………17
4. Os momentos constitucionais……………………………………………………….17
B) Caracterização da CRP
1. A estrutura da Constituição……………………………………………………………19
2. As características formais………………………………………………………………20
C) A evolução da Constituição de 1976: o exercício do poder constituinte
derivado
1. As revisões constitucionais……………………………………………………………21
2. Garantia da Constituição e revisão constitucional………………………….23
Parte III – Princípios Constitucionais estruturantes da República
Portuguesa
1. Princípio do Estado de Direito……………………………………………………..……..29
2. Princípio Democrático………………………………………………………………………..40
3. Princípio da Socialidade………………………………………………………………………47
Parte IV – Direitos fundamentais
1. Tipologia dos direitos fundamentais……………………………………………………55
2. Regime geral dos direitos fundamentais……………………………………………..59
3. Regime específico dos direitos, liberdades e garantias………………………..64
4. Proteção dos direitos fundamentais
a) Meios de defesa jurisdicionais……………………………………………………….70
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Parte I – A Constituição
Direito?
• A especificidade da experiência jurídica face a outras dimensões da
coexistencialidade
o O direito e as outras ordens sociais (v.g., a ordem religiosa, a ordem moral, a
ordem do trato social…)
• A relação como prius (primeiro/anteriormente)
o A natureza eminentemente social do homem
Constituição: um texto?
Constituição – estruturação do corpo político de uma comunidade, que surge da
fundação ou refundação do ordenamento estatal, ou seja, ou da criação do próprio
Estado e subsequente ordem jurídico-política, ou de uma vicissitude constitucional que
tenha como consequência a modificação de toda a ordem em causa. Conjunto de
regras jurídicas codificadas num texto ou em costumes, e que possuem
superioridade hierárquica em relação às outras regras jurídicas, visto serem
atravessadas por princípios aos quais é atribuído um valor específico superior.
Os usos da Constituição
• Todos os países têm uma constituição – sentido descritivo
• Nem todos os países têm um documento escrito chamado constituição –
constituição como documento
• Nem todos os países que têm um documento escrito chamado constituição
possuem…uma constituição! – sentido normativo
O Corpus Constitucional
O corpus da constituição, que se define como conjunto limitado de materiais
normativos que formam a constituição, constitui não um dado, mas sim um
problema. São candidatos positivos os materiais normativos que fazem parte da
constituição, candidatos negativos os materiais não reentrantes na constituição, e
candidatos neutrais aqueles que suscitam dúvidas quanto à sua integração na
constituição.
Constituição: um só texto? A Constituição instrumental
• O texto: a Constituição instrumental
Alguns autores consideram que o corpus constitucional é todo o texto
constitucional, ou seja, existe identificação entre constituição e
constitucional formal. Surge o conceito de constituição instrumental –
Direito e do estudo das leis) diz que uma lei tem maior interpretação do que aquilo
escrito e daí a constituição ter uma dimensão intrínseca e vai ser relevante à
interpretação do Estado.
- Elimina todas as
normas contra
Constituição mista – aquela em que o poder não está concentrado nas mãos de um
monarca, antes é partilhado por ele e por outros órgãos do governo (rei e Parlamento).
A “soberania do parlamento” exprimirá também a ideia de que o “poder supremo”
deveria exercer-se através da forma de lei do parlamento. Esta ideia estará na génese
de um princípio básico do constitucionalismo: the rule of law.
Modelo individualista: os momentos fractais da Revolução
A narrativa historicista explica como se chegou à British Constitution. Não fornece um
esquema interpretativo do constitucionalismo revolucionário continental cujo
paradigma é o constitucionalismo francês.
Como e porquê a formação de uma tradição constitucional francesa (ou portuguesa)
não tem os mesmos traços do evolucionismo britânico? Por outras palavras: como se
explica o aparecimento de categorias políticas novas, expressas em kampfparole
(“palavras de combate”) – estado, nação, poder constituinte, soberania nacional,
constituição escrita já resolvidas pelo constitucionalismo britânico?
• Em primeiro lugar, a sedimentação histórica de tipo inglês não rompera totalmente
com os esquemas tardo-medievais dos “direitos dos estamentos”.
A Revolução Francesa procurava edificar um nova ordem sobre os direitos naturais
dos indivíduos – eis o primeiro momento individualista – e não com base em
posições subjetivas dos indivíduos enquanto membros integradores de uma
qualquer ordem jurídica estamental.
Ancien régime – mostra a “rutura” com o “antigo regime” e a criação de um “novo
regime” significa uma nova ordem social e não apenas uma adaptação político-
social ou ajustamento prudencial da história.
• Em segundo lugar, o momento fractal do individualismo repercute-se na
legitimação/fundação do novo poder político. O governo limitado e moderado da
Inglaterra – a sua constituição mista – acabou por deixar na sombra (embora isso
tivesse sido discutido) uma questão fundamental da modernidade política: como
podem ser livres e iguais dar a si próprios uma lei fundamental? A ordem dos
homens é uma ordem artificial, “constitui-se”, “inventa-se” ou “reinventa-se” por
acordo entre os homens.
Surge precisamente uma das categorias mais “modernas” do constitucionalismo – a
categoria do poder constituinte – no sentido de um poder originário pertencente à
Nação, o único que, de forma autónoma e independente, poderia criar a lei superior,
isto é, a constituição.
“Nós, o povo” e os usos da história: a técnica americana da liberdade
Constitucionalismo americano: um povo (mas não uma “nação”) que reclamou o
direito de escrever uma lei básica e na qual ele fez diferentes usos da história.
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mais indivíduos manifestam vontade soberana que pode ser o início de um novo
núcleo social. Daí decorre, portanto, que a legitimidade da Constituição verifica-se
através da correspondência das suas normas aos valores e aspirações do povo, não se
contentando com a simples legalidade formal. É dessa correspondência com a vontade
geral, aliada à lisura da representação popular no procedimento constituinte que este
se legitima. A esta cadeia procedimental de legitimação democrática Canotilho atribui
a denominação de “Justiça da Constituição”.
• Poder constituinte originário: poder de criar uma Constituição
É o poder que se tem de constituir uma nova Constituição quando um novo Estado
é criado ou quando uma Constituição é trocada por outra, num Estado já existente,
seja essa substituição feita de forma democrática, revolucionária ou por um golpe
de estado. São características do poder constituinte originário:
o Inicial: não existe nenhum outro, antes ou acima dele;
o Incondicionado: não está submetido a nenhuma regra de forma ou de
conteúdo;
o Permanente: continua a existir mesmo após concluir a sua obra;
o Inalienável: a sua titularidade não é possível de transferência (a nação nunca
perde o direito de mudar a sua vontade).
• Poder constituinte derivado: poder de rever a Constituição
É o poder de modificar uma Constituição.
O poder constituinte derivado (também denominado reformador, secundário,
instituído, constituído, de segundo grau, de reforma) é um tipo de poder
constituinte que se ramifica em três espécies:
o Reformador: que abrange as prerrogativas de modificar, implementar ou
retirar dispositivos da Constituição;
o Decorrente: também obra do Poder Constituinte Originário. É o poder
investido aos Estados Membros para elaborar a sua própria constituição, sendo
assim possível a estes estabelecer a sua auto-organização;
o Revisor: que, como exemplo retirado de nossa própria Constituição, possibilita
a revisão de dispositivos constitucionais que necessitem de reformas.
Curiosidade: no Reino Unido não existe um documento, pois é um conjunto de
costumes, atos…
Constituição enquanto material global – protege os direitos humanos e garante os
direitos
O exercício do poder constituinte originário antes da CRP
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B) Caracterização da CRP
A estrutura da Constituição
A Constituição dos princípios jurídicos fundamentais, princípios fundantes (o princípio
da dignidade da pessoa humana e o princípio da vontade popular) e princípios
estruturantes (o princípio democrático, o princípio republicano, o princípio da
independência, o princípio da separação e interdependência dos poderes, o princípio
da legalidade democrática, o princípio da unidade do Estado) – artigos 1º a 11º.
• Parte I – a constituição de direitos e deveres fundamentais – artigos 12º a 79º
• Parte II – a constituição económica – artigos 80º a 107º (confronto com a
constituição económica europeia)
• Parte III – a constituição organizatória é formada pelas normas que identificam os
órgãos de soberania, como são instituídos e quais as suas competências – artigos
108º a 276º
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As revisões constitucionais
As tensões e contradições
O problema da coerência e unidade da Constituição da República de 1976 começou
cedo. Logo após a promulgação do texto constitucional, a doutrina assinalaria uma
tensão interna que percorria a Constituição. De um lado, existia uma constituição
liberal e democrática; do outro, haveria uma constituição dirigente e autoritária,
finalisticamente dirigida à “prossecução do socialismo”.
A observação das relações entre a constituição formal e a realidade constitucional
levaria mesmo alguns autores a radicalizar a oposição entre constitutio scripta e a
constituição viva, concretamente existentes, sugerindo-se até a tendencial
“inconstitucionalidade” do texto de 1976 pela sua manifesta oposição à constituição
real.
Daí uma nova tensão ou contradição entre o paradigma da constituição-processo
insinuado pelo esquema de organização política centrado na legitimidade democrática
e o paradigma da constituição-programa que converte a constituição num “caminho
de ferro económico e social” neutralizador de políticas públicas alternativas.
O antagonismo entre as “duas constituições” incorporadas no mesmo texto era de tal
modo insanável que já não poderia ser resolvido sem se romper com a constituição de
1976. Não bastava rever: era necessário um referendo-plebiscito democraticamente
superador do antagonismo congénito da Constituição de Abril. Tornou-se inevitável
um desenvolvimento constitucional tendente a “desideologizar” e a “desmilitarizar” o
texto constitucional e foi nesta vertente que surgiu a primeira revisão de 1982.
As revisões da CRP: o exercício do poder constituinte derivado
• 1º revisão (1982): a normalização política (libertação da entorse militar e criação
do Tribunal Constitucional)
o Reduzir a carga ideológica da Constituição;
o Qualificar constitucionalmente a República Portuguesa como um Estado de
Direito Democrático (n.º 2, do artigo 2º: "A expressão «Estado democrático»,
constante do mesmo artigo, é substituída pela expressão «Estado de direito
democrático».");
o Flexibilizar o sistema económico, através da diminuição da intervenção pública
e dando espaço à iniciativa privada, afirmando assim a economia mista, e da
diminuição da dimensão da planificação da economia, ainda que se mantenha
o controlo estatal. Contudo, mantém-se as nacionalizações e a reforma agrária;
o Redefinir as estruturas do poder político, sendo extinto o Conselho da
Revolução, que é substituído por dois novos órgãos: o Tribunal
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Da leitura de artigos 284 e seguintes conclui-se que a constituição é do tipo rígido, pois
exige para a sua modificação um processo agravado em relação ao processo de
formação das leis ordinárias.
As normas de revisão não são o fundamento da rigidez da constituição, mas os meios
de revelação da escolha feita pelo poder constituinte. Esta escolha de um processo
agravado de revisão, impedindo a livre modificação da lei fundamental pelo legislador
ordinário (constituição flexível), considera-se uma garantia da constituição. O processo
agravado da revisão é, por sua vez, um instrumento dessa garantia – a rigidez
constitucional é um limite absoluto ao poder de revisão, assegurando, desta forma, a
relativa estabilidade da constituição. Os limites do poder de revisão e o procedimento
especial de revisão pretendem assegurar precisamente esta rigidez relativa (a
superioridade da constituição e do poder constituinte).
Poder constituinte e poder de revisão
O Poder Constituinte é aquele capaz de editar uma Constituição, estabelecendo uma
organização jurídica fundamental, dando forma ao Estado, constituindo poderes e
criando normas de exercício de governo.
O poder de revisão constitucional é um poder constituinte, porque diz respeito a
normas constitucionais. Mas é poder constituinte derivado, não originário, porque não
consiste em fazer nova Constituição, introduzindo princípios fundamentais em vez de
outros princípios fundamentais.
A revisão não poderá violar os “limites definidores da identidade substancial imposta
pelo tipo de democracia constitucional que carateriza o ordenamento sem causa”. Esta
perspetiva revela-se importante, como adiante veremos, nas questões de rutura da
constituição e no problema da chamada revisão do duplo grau.
OS LIMITES DA REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO
Limites formais
Os processos específicos de modificação da constituição baseiam-se essencialmente
nas várias formas de participação popular, na escolha do órgão a quem é atribuído o
poder de revisão, na exigência de um iter processual mais complexo do que o processo
legislativo normal, e no exercício temporal do poder de revisão.
Limites quanto ao titular do poder de revisão
• O órgão de revisão é o órgão legislativo ordinário
Neste caso, a revisão ou modificação da constituição é feita pelo mesmo órgão que
desempenha funções legislativas normais, mas segundo um processo
particularmente agravado.
• O órgão de revisão é o órgão legislativo, mas a revisão exige a participação direta
do povo
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Princípio Democrático
CARACTERIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
O princípio democrático visa responder ao problema da legitimação do poder político
e, ao ser consagrado constitucionalmente, constitui uma ordenação normativa para
uma dada realidade histórica contingente.
A fórmula mais conhecida, e que traduz a essência dos movimentos históricos
democráticos, é a fórmula de Lincoln – “governo do povo, pelo povo e para o
povo”. A esta formulação positiva opõe-‐‐se a formulação negativa de Popper –
“a democracia nunca foi a soberania do povo, não o pode ser, não o deve ser”.
Tipos de democracia:
• Democracia direta – primeiro tipo de democracia, que surgiu com os gregos e na
qual os cidadãos fazem eles próprios as leis.
• Democracia participativa – surgiu na pós-‐‐modernidade e consiste no
exercício da democracia pelos cidadãos através de instituições cívicas.
• Democracia representativa – delegação de poder em representantes, por parte
dos cidadãos.
• Democracia semidirecta – partilha algumas características com a democracia
representativa, apesar dos cidadãos desempenharem um papel directo em certos
aspetos da tomada de decisão.
A Constituição de 76 foi fundada no princípio da democracia representativa, sendo
os principais instrumentos de democracia:
• Sufrágio
• Partidos políticos
Contudo, as sucessivas revisões constitucionais foram assimilando os outros tipos de
democracia:
• Direta – plenário dos cidadãos (art. 245.º/2)
• Semidirecta – referendo
• Participativa – ver arts. 2.º, 109.º e 151.º
CONCRETIZAÇÃO CONSTITUCIONAL DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
O princípio da soberania popular
O princípio da soberania popular transporta várias dimensões históricas:
• Necessidade de legitimação do domínio político;
• Povo enquanto legitimação do poder político;
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• Desvantagens:
o Escassa personalização da escolha do eleitor;
o Dificuldade de obtenção de maiorias parlamentares, muitas vezes colmatada
com coligações
II – Sistema eleitoral na Constituição
O sistema eleitoral proporcional na Constituição
Os princípios fundamentais do sistema eleitoral constituem direito constitucional
formal, sendo o sistema eleitoral proporcional um dos limites materiais de revisão
(art. 288.º/h). Nas eleições para a Assembleia da República, a Constituição optou
concretamente por uma das fórmulas de proporcionalidade, o método de Hondt (art.
149.º/1). Nos outros casos de eleições colegiais, consagra-‐‐se o sistema
proporcional mas há liberdade de escolha quanto à escolha da fórmula de
proporcionalidade (art. 113.º/5, 231.º/2 e 239.º/2).
À procura da personalização do sistema
Uma das críticas dirigidas ao sistema proporcional é a impessoalidade da escolha dos
representantes, bem como a hipertrofia do monopólio partidário. Assim, a Revisão
Constitucional de 1997 procurou responder a estas críticas através da flexibilização
do sistema eleitoral – fórmulas de escrutínio e sistemas de pessoalização:
• Fórmulas de escrutínio – no escrutínio uninominal (círculos uninominais), há
apenas um mandato a preencher; enquanto que, no escrutínio plurinominal
(círculos plurinominais), há vários mandatos a preencher, existindo por isso uma
lista. Na Revisão Constitucional de 97, admitiu-‐‐se a coexistência de círculos
uninominais e plurinominais, sem perturbar o sistema de representação
proporcional.
• Sistemas de pessoalização do voto – através do sistema de panachage
(possibilidade de escolha dos nomes dentre os propostos), do voto preferencial
(possibilidade de modificação da ordem dos candidatos), e do sistema de duplo
voto (sistema alemão, que conjuga as vantagens da representação proporcional
com as do escrutínio uninominal).
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E SISTEMA PARTIDÁRIO
Conceção constitucional
O pluralismo partidário, ou seja, a possibilidade de existência de vários partidos, é
um elemento essencial do princípio democrático, estando consagrado na
Constituição.
Este princípio resulta de vários artigos da Constituição:
• Art. 2.º - consagra o princípio do Estado de Direito, aludindo ao pluripartidarismo.
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desigualdades. Assim, o facto de sermos um Estado social de Direito significa que não
está na livre disponibilidade do Estado a garantia dos direitos económicos, sociais e
culturais dos seus cidadãos.
«DECISÃO SOCIALISTA» E «ABERTURA» ECONÓMICA, SOCIAL E
CULTURAL
A realização da democracia económica, social e cultural é uma consequência política e
lógico-material do princípio democrático.
Neste integra-se o princípio da socialidade, isto é, a busca da supremacia dos valores
coletivos sobre os interesses individuais, afastando assim o individualismo presente no
Código Civil de 1916. Traz um caráter social aos institutos civis como no contrato e na
propriedade. (artigo 2º/CRP).
A abertura económico-social operada pelas leis de revisão
Na 1º, 2º e 4º revisão eliminaram a opção abstrata-ideológica da «decisão socialista»
e das suas refrações escatológicas e económicas.
Para isso temos o princípio da democracia económica, social e cultural onde tem a
mesma dignidade constitucional do princípio do estado do direito. Este tem duas
dimensões: 1 – uma dimensão teleológica, pois a democracia económica, social e
cultural é um objetivo a realizar no contexto de um processo público aberto e por isso
ela apresenta-se como fim do Estado (art.9). 2 – Uma dimensão impositivo-
constitucional, pois muitas das suas concretizações assentam no cumprimento de fins
e tarefas por parte de órgãos de entidades públicas.
SIGNIFICADO JURÍDICO-CONSTITUCIONAIS DO PRINCÍPIO DA
DEMOCRACIA ECONÓMICA E SOCIAL
Imposição constitucional e discricionariedade legislativa
O princípio da democracia económica e social contém uma imposição obrigatória
dirigida aos órgãos de direção política (legislativo, executivo) no sentido de
desenvolverem uma atividade económica e social conformadora das estruturas
socioeconómicas, de forma a evoluir-se para uma sociedade democrática. Este
princípio é um mandato constitucional juridicamente vinculativo que limita a
discricionariedade legislativa.
O direito como instrumento de conformação social
O princípio da democracia económica e social constitui uma autorização constitucional
no sentido do legislador democrático e outros órgãos. Este princípio impõe tarefas ao
Estado e justifica que elas sejam tarefas de conformação, transformação e
modernização das estruturas económicas e sociais, de forma a promover a igualdade
real entre os portugueses (arts. 9º/d e 81º/a e b).
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Os direitos sociais são direitos criados para possibilitar que os cidadãos tenham as
necessidades básicas para uma vida digna garantidas. Os direitos sociais são ligados à
cidadania por que não basta que sejam previstos na lei, é preciso que sejam colocados
em prática pelo Estado para que os cidadãos possam desfrutar de bem-estar social.
No cap. II, referente aos direitos económicos, sociais e culturais, encontra-se um amplo
“catálogo de direitos sociais”. Em primeiro lugar, são direitos de todos os portugueses,
e de todas as pessoas residentes em Portugal (arts. 63-67). Em segundo lugar,
pressupõe um tratamento preferencial para as pessoas que, em virtude de condições
económicas, físicas ou sociais, não podem desfrutar destes direitos (arts 63º/4, 64/2,
65/3, 67/e, 68-72). Um terceiro sentido se poderá ainda apontar à dimensão da
democracia económica e social no campo dos direitos sociais.
b) O princípio de democracia social
como princípio objetivo, pode derivar-se ainda de outras disposições constitucionais.
Do conjunto de princípios referentes à organização económica (dignidade social,
artº13; 9º/d; 81º/a, b e d) deduz-se que a transformação das estruturas económicas
visa também uma igualdade social. Neste sentido, o princípio de democracia social não
se reduz a um esquema de segurança, previdência e assistência social, antes abrange
um conjunto de tarefas conformadoras, tendentes a assegurar uma verdadeira
“dignidade social” ao cidadão e uma igualdade real entre os portugueses (art. 9º/d).
A constituição cultural
O princípio da democracia económica e social tem manifestas incidências na chamada
constituição cultural.
Verifica-se que o princípio da democracia económica e social não se limita,
unilateralmente, a uma simples dimensão económica. A criação dos pressupostos
concretos do direito à cultura e ensino (pressupostos materiais da igualdade de
oportunidades) é condição ineliminável de uma real liberdade de formação de
desenvolvimento na personalidade (art. 73º/2) e instrumento indispensável da própria
emancipação (progresso social e participação democrática). Igualdade de
oportunidades, participação, individualização e emancipação, são componentes do
direito à educação e à cultura, e dimensões concretas implícitas no princípio da
democracia cultural.
Por último, as instituições democráticas do ensino e da cultura transformam-se, no
quadro constitucional de mecanismos de direção, conformadores de novas estruturas
sociais: art. 73º/2; art. 74º/3-f)
Note-se que a revisão de 1989 favoreceu no artigo 76 na redação originária de 1976 e
na redação de 1982 e a revisão de 1997 que eliminou os restos da compreensão
classista do ensino.
O princípio da igualdade
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o Estado, mas sim entre indivíduos. O “outro” pode constituir uma condição de
desenvolvimento, mas também uma ameaça. Assim, alguns direitos impõem um
dever ao Estado no sentido de este proteger perante terceiros os titulares de
direitos fundamentais, assegurando uma coexistência pacífica. É exemplo o direito
à vida (art. 24.º), apesar de nele também podermos encontrar uma dimensão
prestacional.
Função de não discriminação
A partir do princípio da igualdade e dos direitos específicos de igualdade
constitucionalmente consagrados, deduz-‐se a função de não discriminação dos
direitos fundamentais. Trata-‐se, aqui, de assegurar que o Estado trata os seus
cidadãos como fundamentalmente iguais. Inclui também a função de criar
discriminações positivas, como a criação de cotas para a participação das mulheres
na política.
Regime geral dos direitos fundamentais
Âmbito da titularidade de direitos fundamentais
Três notas:
• Existe um regime geral de direitos fundamentais. Este regime é comum aos
direitos, liberdades e garantias e aos direitos económicos, sociais e culturais.
• Existe uma mais-‐valia para os direitos, liberdades e garantias que são próprios
destes. Tem uma natureza análoga. – Um regime específico.
O regime geral dos direitos fundamentais compreende 3 princípios:
• Princípio da universalidade;
• Princípio da igualdade;
• Princípio do acesso ao direito e da garantia jurisdicional efetiva (remissão).
O princípio da universalidade
O primeiro princípio geral dos direitos (e deveres) fundamentais consiste na sua
universalidade – ou seja, todas as pessoas, pelo simples facto de o serem, são
titulares de direitos fundamentais.
• Princípio da universalidade em sentido restrito
Este princípio está consagrado, no seu sentido restrito, no art. 12.º/1, que
afirma que “todos os cidadãos” são titulares dos direitos. Contudo, este artigo
não confirma a universalidade da titularidade dos direitos fundamentais.
• Princípio da universalidade e equiparação entre portugueses e estrangeiros
como regra
Este artigo deve ser tomado em conjunto com o art. 12.º/1 na compreensão
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• Proibição do arbítrio;
• Proibição de discriminação;
• Obrigação de diferenciação.
Princípio da proibição do arbítrio
A proibição do arbítrio constitui um limite externo da liberdade de conformação
ou de decisão dos poderes públicos, como princípio negativo de controlo. Assim,
existirá observância de igualdade quando indivíduos ou situações iguais não são
arbitrariamente tratados como desiguais, e assim este princípio tem de andar
sempre ligado a um fundamento material ou critério material objetivo. Este
critério costuma ser sintetizado em 3 notas:
• Fundamento sério;
• Sentido legítimo;
• Estabelecimento de uma diferenciação jurídica com fundamento razoável.
Contudo, a vinculação do legislador ao princípio da igualdade não elimina a sua
liberdade de conformação legislativa, pois a ele pertence, dentro dos limites
constitucionais, definir ou qualificar as situações que poderão funcionar como
elementos de referência a um tratamento igual ou desigual.
Princípio da proibição da discriminação
O princípio da proibição da discriminação, consagrado no art. 13.º/2 , não
significa uma exigência de igualdade absoluta em todas as situações, nem proíbe
diferenciações de tratamento.
Consagra um conjunto de fatores discriminatórios ilegítimos, que correspondem
aos mais frequentes e historicamente mais significativos. Contudo, esta lista não
tem um carácter exaustivo, sendo puramente enunciativo.
Assim, exige-se que as medidas de diferenciação sejam materialmente
fundadas sob o ponto de vista da segurança jurídica, da proporcionalidade e
da justiça, não se baseando num motivo constitucionalmente impróprio.
Princípio da obrigação de diferenciação
A obrigação de diferenciação vem compensar a desigualdade de oportunidades,
confirmando a função social do princípio de igualdade, ou seja, o dever de
atenuação das desigualdades fácticas (sociais, culturais e sociais) pelos poderes
públicos, através de discriminações positivas.
Diferenciação e discriminação não são conceitos equivalentes pois, numa
situação de diferenciação, não existe necessariamente discriminação. A
discriminação negativa é uma diferenciação ilegítima, enquanto que
discriminação positiva já é um tipo de diferenciação legítima.
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• Due process of law pressupõe que o equivale ao processo justo definido por lei
para se dizer o direito no momento jurisdicional de aplicação de sanções
criminais particularmente graves. Pressupõe que o processo legalmente
previsto para aplicação de penas seja ele próprio um “processo devido”
obedecendo aos trâmites procedimentais formalmente estabelecidos na
constituição ou plasmados em regras regimentais das assembleias legislativas.
O que é um processo justo?
Sobretudo na doutrina americana reconduzem-se fundamentalmente a duas
conceções material e substantiva. A teoria processual, que poderíamos designar
também por teoria do processo devido por qualificação legal, limita-se a dizer
que uma pessoa “privada” dos seus direitos fundamentais da vida, liberdade e
propriedade tem direito a exigir que essa privação seja feita segundo um
processo especificado na lei. Consequentemente, o acento tónico deve colocar-
se na observância ou não do processo criado por lei para aplicação de medidas
privativas da vida, liberdade ou propriedade.
A teoria substantiva pretende justificar a ideia material de um processo justo,
pois uma pessoa tem direito não apenas a um processo legal, mas sobretudo a
um processo legal, justo e adequado, quando se trate de legitimar o sacrifício da
vida, liberdade e propriedade dos particulares.
O processo devido começa por ser um processo justo logo no momento da
criação normativo-legislativa. Os objetivos da exigência do processo devido não
poderiam ser conseguidos se o legislador pudesse livre e voluntariamente
converter qualquer processo um processo equitativo.
O problema nuclear da exigência de um due process não estaria tanto – ou pelo
menos não estaria exclusivamente- no procedimento legal mediante o qual
alguém é declarado culpado e castigado por haver violado a lei, mas sim no facto
de a lei poder ela própria transportar a “injustiça” privando uma pessoa de
direitos fundamentais. Os juízes, baseados em princípios constitucionais de
justiça, poderiam e deveriam analisar os requisitos intrínsecos da lei. Mais um
passo era dado para a evolução do processo devido. Este passará a ser
considerado como proteção alargada de direitos fundamentais quer nas
dimensões processuais quer nas dimensões substantivas.
O parâmetro de controlo será, com o ponto de vista intrínseco, o catálogo dos
direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados e os direitos de
natureza análoga constantes de leis ou de convenções internacionais (art.16º).
O direito à tutela jurisdicional
Natureza do direito à proteção judicial
Pela própria arqueologia do due process verifica-se que este se concebia
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possibilidade de, em tempo útil, obter uma sentença executória com força de aso
julgado.
Direito à execução das decisões dos tribunais
Proteção jurídica eficaz pressupõe o direito à execução das sentenças dos
tribunais através dos tribunais, devendo o Estado fornecer todos os meios
jurídicos e materiais necessários e adequados para dar cumprimento às
sentenças do juiz.
No caso de existir uma sentença vinculativa reconhecedora de um direito, a
execução da decisão do tribunal não é apenas uma dimensão da legalidade
democrática, mas também um direito subjetivo público do particular, ao qual
devem ser reconhecidos meios compensatórios, medidas compulsórias ou ações
de queixa.
Dimensões garantísticas e dimensões prestacionais
A garantia do acesso aos tribunais perspetivou-se, até agora, em termos
essencialmente defensivo ou garantístico: defesa dos direitos através dos
tribunais. Todavia, a garantia do acesso aos tribunais pressupõe também
dimensões de natureza prestacional na medida em que o Estado deve criar
órgãos judiciários e processos adequados e assegurar prestações, tendes a evitar
a denegação da justiça por insuficiência de meios económicos (art.20º). o acesso
à justiça é um acesso materialmente informado pelo princípio da igualdade de
oportunidades.
Ler caso 6. Pág. 501
Direito de acesso à justiça administrativa
Garantia do recurso contencioso
• Proteção jurídica individual
O artigo 268º/4 garante aos particulares tutela jurisdicional efetiva dos seus
direitos ou interesses legalmente protegidos (art.268º/4).
O facto de se tratar de uma imposição legiferante não significa que o juiz não
possa aplicar diretamente este preceito interpretando o direito ordinário em
conformidade com a constituição. Isso terá desde logo relevância prática: (1)
na desaplicação por institucionalidade de normas erguidas como
impedimento legal a uma proteção adequada de direitos e interesses
legalmente protegidos dos particulares; (2) na formatação judicial
constitucionalmente adequada de instrumentos processuais já existentes.
• Garantia institucional
Além da sua natureza de direito análogo dos direitos, liberdades e garantias
de tutela jurisdicional configura-se também como garantia institucional. Isto
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podendo ter gerado prejuízos sérios aos cidadãos; (3) algumas leis, gerais e
abstratas, podem vir a impor encargos apenas a alguns particulares, violando
quer o direito de propriedade quer o principio da igualdade.
Tendo em conta o que se caba de dizer, impõe-se, no plano jurídico-
constitucional: (1) reconhecimento de responsabilidade do estado por atos
legislativos ilícitos enquadrável no âmbito normativo do art.22º; (2) dever de
indemnizar por atos legislativos lícitos impositivos de sacrifícios especiais nos
cidadãos, de que se pode ver refração no art.62º/2. A possível exigência de um
regime legal da responsabilidade por facto das leis significa não que o legislador
possa afastar os deveres de ressarcibilidade e indemnizabilidade que incumbem
ao estado mas que deve concretizar e conformar esse regime através da lei.
Direito de ação popular (art. 52º/3)
Através do direito de ação popular consagrado no artigo 52º/3, a constituição
deu guarida a um reforço das ações populares tradicionais e à introdução de
ações populares ou coletivas destinadas à defesa de interesses difusos. Estas
ações podem e devem hoje estender-se à defesa dos bens protegidos e
individualizados no art.52º/3. Há apenas que atender algumas dimensões do
princípio da especialidade a fim de se recortar com rigor quais os fins
prosseguidos por essas mesmas pessoas coletivas.
Nas ações coletivas, qualquer cidadão, individualmente ou associado, mesmo
não invocando o interesse público, pode intentar uma ação em defesa de um
interesse do público em geral ou de categorias ou classes com grande número de
pessoas – interesses difusos – e dos seus próprios direitos subjetivos.
A lei reguladora do direito de ação popular distingue entre direito procedimental
de participação popular e direito de ação popular (art.1º). o primeiro visa garantir
aos cidadãos, associações ou fundações defensoras da saúde publica … (art.4º).
O direito de ação popular abrange dois tipos de ações: a ação procedimental
administrativa e a ação popular civil (art.12º). A ação procedimental pode
consistir numa ação judicial administrativa destinada à defesa dos interesses já
referidos ou num recurso contencioso contra atos administrativos ilegais lesivos
dos mesmos interesses (art. 12º/1). A ação popular civil (art.12º/2) segue as
formas de ação do CC, isto é, pode revestir as formas de ação preventiva,
condenatória ou inibitória.
b) Meios de defesa não jurisdicionais
Direito de resistência
O direito de resistência é a ultima ratio do cidadão ofendido seus direitos,
liberdades e garantias, por atos do poder público ou por ações de entidades
privadas.
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Pela redação do artigo 21º deduz-se que não está aqui em causa o direito de
resistência coletivo. Discutível será o problema de saber se, quer nas vestes de
um direita resistência individual quer nas vestes de um direito coletivo, cabe no
âmbito normativo dos artigos 21º e 7º/3 da CRP o direito à desobediência civil.
Abrange seguramente o direito de desobediência a ordens conducentes à prática
de um crime (art. 271º/3).
Direito de petição
É reconhecido a individuo ou grupo de indivíduos de se distinguir a quaisquer
autoridades públicas apresentando petições, representações, reclamações ou
queixas destinadas à defesa dos seus direitos, da constituição, das leis ou do
interesse geral (art. 52º)
• Em relação aos órgãos de soberania (artigo 52º)
É um direito que tanto se pode dirigir à defesa dos direitos pessoais como à
defesa da constituição, das leis do interesse geral. Pode exercer-se individual
ou coletivamente perante quaisquer órgãos de soberania ou autoridade.
• Em relação ao Provedor de Justiça (artigo 23º)
Os poderes de apreciação do provedor relativo às queixas apresentadas pelos
cidadãos exercem-se de acordo com o procedimento regulado na lei. A atividade
administrativa sujeita ao poder de apreciação e recomendação do provedor
abrange inequivocamente e administração militar e todos os estatutos especiais
de poder.
De relevante significado jurídico-constitucional é a possibilidade de os cidadãos
poderem solicitar ao provedor a dinamização do pedido de declaração de
inconstitucionalidade por ação (art. 281º/2/d) e por omissão (artigo 283º).
O direito de petição ao provedor não se limita aos direitos, liberdades e garantias;
a sua intervenção pode ser solicitada pelos cidadãos quando está em causa a
concretização de direitos económicos, sociais e culturais. Em aberto fica a
possibilidade de o provedor poder intervir em casos de violação de direitos,
liberdades e garantias no âmbito de relações jurídicas privadas, designadamente
nos casos de efeitos diretamente previstos na CRP e traduzidos em relação
especiais de poderes privados quanto ao exercício da liberdade interna de
imprensa nos termos do art. 38º/2, recomendações quanto ao exercício do
direito de retificação nos termos (art. 37º/4).
Direito a um procedimento justo
A interconexão dinâmica entre direitos fundamentais e procedimento foi
salientada quando se analisou o problema da conformação destes direitos.
Mais modernamente, o procedimento justo tende a densificar-se como
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direitos fundamentais por parte dos órgãos políticos da comunidade. Mas o direito
comunitário é também um direito jurisdicional.
Positivação de direitos a nível comunitário
Direitos, liberdades e garantias
Independentemente da positivação comunitária de direitos fundamentais
resultante de reenvio para as constituições nacionais, documentos internacionais
e convenção europeia de direitos do homem, o direito comunitário tem
sedimentado alguns direitos de forma tendencialmente.
Direitos económicos, sociais e culturais
A carta comunitária dos direitos sociais fundamentais dos trabalhadores (feita em
Estrasburgo em 9 de dezembro de 1989) na qual se reafirmam importantes
direitos económicos, sociais e culturais dos trabalhadores.
A constitucionalização do princípio da melhor tutela europeia
O artigo 52º/3 da carta de direitos fundamentais da UE estabelece um importante
e inovador princípio em sede direitos fundamentais – o princípio da melhor tutela.
Este princípio básico da interpretação em sede direitos fundamentais: nenhuma
disposição da carta deve ser interpretada no sentido de reduzir o nível da proteção
dos direitos fundamentais assegurado pela convenção europeia dos direitos do
homem e pelas constituições de estados-membros (art.53º). No entanto, se a carta
de direitos fundamentais garantir uma proteção mais extensa ou mais ampla ela
terá preferência de aplicação relativamente às normas correspondentes da
convenção europeia e das constituições dos estados-membros.
O PROBLEMA METÓDICO DA APLICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS
RELAÇÕES JURÍDICAS PRIVADAS
Enunciado do problema
Quando, no art.18º/1 da CRP, se estabelece que os preceitos consagradores de
direitos, liberdades e garantias «vinculam…entidades privadas». O problema
pode enunciar-se da seguinte forma: as normas constitucionais consagradoras
de direitos. Liberdades e garantias (e direitos análogos) devem ou não ser
obrigatoriamente observadas e cumpridas pelas pessoas privadas (individuais ou
coletivas) quando estabelecem relações jurídicas com outros sujeitos jurídicos
privados? Esta questão é conhecida por “efeitos horizontais” ou a expressão
“eficácia dos direitos, liberdades e garantias na ordem jurídica privada”.
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• Actos administrativos
• Decisões judiciais
• Actos de natureza política
• Normas e actos de natureza privada
Sanções do controlo
Se o controlo da constitucionalidade dos atos normativos é um dos meios de defesa e
garantia da força normativa da constituição, justifica-se que, para ele ser efetivo e
eficaz, as violações das normas e princípios constitucionais captadas em sede de
fiscalização judicial sejam acompanhadas de sanções adequadas.
A INCONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO CONSTITUCIONAL
VIGENTE
Os vícios geradores de inconstitucionalidade
• Vícios formais – ocorre quando a forma constitucionalmente prescrita para a
emanação de determinado ato não foi cumprida.
• Vícios procedimentais – normalmente englobados na categoria dos vícios formais,
ocorrem quando a tramitação processual constitucionalmente prevista para a
emanação de um determinado ato não é cumprida.
• Vícios materiais – ocorre quando o conteúdo de certas disposições ou preceitos
viola os princípios e normas da Constituição. Enquanto que os vícios formais e
procedimentais são vícios que afetam o ato na sua totalidade, os vícios materiais
respeitam a determinados preceitos e não se estendem a todo o diploma.
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Decisões judiciais que apliquem normas constantes de ato legislativo com uma
convenção internacional ou em desconformidade com o anteriormente decidido
pelo TC (70º/1/i LTC)
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