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4 MONITORAMENTO

DA INSENSIBILIDADE
(INDICADORES)
Monitoramento da insensibilidade (indicadores)

Independentemente do tipo de in- ção e, assim, permanecer até a morte.


sensibilização, os animais devem ser Os sinais de recuperação devem ser
monitorados regularmente durante a observados quando os peixes estão na
operação. Todos os peixes devem estar área/mesa de sangria.
inconscientes na saída da insensibiliza-

Importante
O monitoramento regular dos resultados de bem-estar na planta de
abate, permite a detecção rápida de problemas, à implementação de
ações corretivas e a melhoria contínua. Algumas avaliações devem ser
registradas continuamente, outras em amostra representativa de um
mínimo de 50 peixes por lote, segundo as normas de abate humanitário
para salmão da organização Compassion in World Farming. A definição
de metas deve ser usada para todas as medidas, para impulsionar a
melhoria do sistema de abate.

Além de usarmos métodos aceitá- mais terrestres incluem: ausência de re-


veis pela perspectiva do bem-estar ani- flexo palpebral; ausência de reflexo cor-
mal, é essencial que todos os passos neal; ausência de vocalização; ausência
envolvidos em tais procedimentos sejam de resposta de ameaça; ausência de res-
de fácil monitoração e controle. Preci- posta à luz e olhar perdido. Entretanto,
samos nos assegurar, por meio de indi- uma vez que os peixes não têm pálpe-
cadores diversos, que o método utiliza- bras; não vocalizam, pelo menos não em
do realmente provocou rápida perda de frequência audível; possuem movimen-
consciên­cia, e que a morte foi alcançada tação ocular limitada e ausência contra-
antes do animal recobrar a consciência. ção/dilatação pupilar, esses indicadores
Se houver alguma dúvida sobre se um de animais terrestres são inviáveis de se
peixe está inconsciente, não hesite em utilizar.
repetir a insensibilização ou usar um mé- Em peixes, os comportamentos pos-
todo alternativo de repasse. síveis de serem observados em avali-
Os indicadores comportamentais ções de bem-estar estão representados
para avaliação de inconsciência em ani- na Figura 4.1.

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Monitoramento da insensibilidade (indicadores)

FIGURA 4.1 – Indicadores comportamentais de inconsciência em peixes

FONTE: elaborada por Leonardo José Gil Barcellos (UPF), baseado em Kestin et al. (2002).

A sequência mais factível de ob- posição normal; ausência de qualquer


servação desses sinais é a seguinte: resposta ao manejo, à picada e ao ele-
comportamento natatório  equilíbrio trochoque; olhos fixos e ausência de mo-
 resposta ao manejo  respiração  vimentos operculares. Obviamente, um
resposta à picada  resposta ao choque adequado protocolo de insensibilização
 RVO. deveria propiciar exatamente esse perfil
A observação desses indicadores de observação dos peixes. Com base no
gera escores que variam de 0 a 2, sen- exposto acima, fica nítida a importância
do o 0 a inconsciência completa, o 1 a de termos todos os pontos da cadeia de
consciência parcial e o 2 a completa insensibilização e o abate humanitário de
consciên­cia. fácil monitoramento.
O escore zero, de completa incons- De forma resumida, o uso desses
ciência corresponderia a: ausência de sinais para verificar consciência/incons-
nado, total incapacidade de retomar à ciência, é representado na Tabela 4.1:

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Monitoramento da insensibilidade (indicadores)

TABELA 4.1 – Indicadores de insensibilização bem-sucedida


Reflexo Consciente Inconsciente
Rolar os olhos Os olhos permanecem na posição Os olhos acompanham o
vertical enquanto o peixe é movimento da cabeça enquanto o
girado. peixe é girado.
Respiração Movimento regular do opérculo. Nenhum movimento ou
movimento aleatório do opérculo.
Natação Peixes constantemente nadando. Nenhum movimento ou tentativa
de nadar.
Equilíbrio O peixe se endireitará quando for Os peixes permanecerão de
girado. cabeça para baixo.
Beliscão Os peixes podem se afastar do Os peixes não se afastarão do
estímulo. estímulo.
Corrente elétrica Os peixes podem se afastar do Os peixes não vão nadar para
estímulo. longe do estímulo.
FONTE: adaptada do documento da Human Slaugther Association (HSA).

Existem outros métodos para avaliar todo de insensibilização e validação de


o estado de inconsciência, como o eletro- linha. Nessa linha, atualmente, na União
encefalograma (EEG), que pode ser usa- Europeia, para propor um novo método
do para a validação de linhas de abate. de insensibilização ou abate de peixes,
Assim, quando uma indústria instala um é obrigatória a comprovação por EEG da
equipamento, ela usa o EEG para che- real indução de inconsciência.
car se os parâmetros em uso estão de De fato, o EEG como análise confir-
fato provocando ondas epileptiformes e matória de insensibilização é essencial,
os sinais clínicos esperados. Depois de pois muitos autores verificaram discre-
validados, ela monitora apenas por es- pâncias entre as respostas eletrofisio-
ses parâmetros elétricos e pelos sinais lógicas e comportamentais, quando os
clínicos. De fato, a validação por meio de peixes recebem estímulos nocivos, tor-
estudo, usando o EEG, dado incontestá- nando difícil determinar a partir apenas
vel, sendo que deveria ser o procedimen- de análises do comportamento, quando
to correto para “aprovar” qualquer mé- um animal está certamente inconscien-

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Monitoramento da insensibilidade (indicadores)

te. Assim, fica claro que o EEG é muito do apenas indicadores visuais são usa-
mais confiável para mostrar a indução à dos, os peixes correm o risco de serem
inconsciência; e isso deve ser levado em julgados erroneamente como insensí-
consideração, quando apenas observa- veis, antes que a sensibilidade seja real-
ções comportamentais são usadas para mente perdida. Temperaturas mais frias
determinar se o peixe está consciente ou prolongam o tempo que leva para que os
inconsciente. Isso justifica plenamente indicadores visuais de consciência sejam
que a aprovação de um método de insen- perdidos e agravam o problema de deter-
sibilização, seja atrelada a apresentação minar quando um peixe perde a função
de estudos de EEG. cerebral e a sensibilidade. Assim, méto-
Confirmando, alguns autores rela- dos de insensibilização que dependem
tam que há uma fraca correlação entre da observação humana para determinar
a perda de reflexos oculares estimulados quando um peixe perde a sensibilidade,
pela luz, e a perda de indicadores visuais são riscos de bem-estar na aquicultura.
de consciência, o que sugere que, quan-

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