Você está na página 1de 8

Nº 1.0024.14.

151983-5/001
EMENTA: JUÍZO DE RETRATAÇÃO - PROCESSUAL CIVIL -
CONTRIBUIÇÃO PARA CUSTEIO DO SISTEMA DE SAÚDE -
ARTIGO 85, § 4º, DA LC ESTADUAL Nº 64/2002 - RESP Nº
1.348.679/MG (TEMA 588) - TESE FIRMADA - SERVIÇOS DE
ASSISTÊNCIA MÉDICA - MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DO
SERVIDOR EM ADERIR AO SERVIÇO – DESVINCULAÇÃO -
SERVIDOR/PENSIONISTA – NÃO USUFRUTO DOS SERVIÇOS –
NÃO COMPROVAÇÃO - FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO –
INDEMONSTRADO - RESTITUIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE.
- O Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do
REsp nº 1.348.679/MG (Tema n. 588), submetido à sistemática
dos recursos repetitivos, firmou tese jurídica no sentido de que
a efetiva utilização ou a manifestação de vontade do servidor
em aderir aos serviços de assistência médica, hospitalar,
odontológica, social e farmacêutica, indicados no artigo 85 da
Lei Complementar Estadual nº 64/2002, após 14/04/2010, obsta
o direito de repetição dos valores descontados a título de
contribuição para o custeio da assistência à saúde.
- Quando indemonstrada a desvinculação do
servidor/pensionista ou que não tenha usufruído dos serviços
respectivos, após o referido marco temporal, a improcedência
do pedido de restituição dos valores descontados é medida
que se impõe.
AP CÍVEL/REEX NECESSÁRIO Nº 1.0024.14.151983-5/001 -
COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): INSTITUTO
PREVIDENCIA SERVIDORES ESTADO MINAS GERAIS, ESTADO
DE MINAS GERAIS E OUTRO(A)(S) - APTE(S) ADESIV:
ANDERSON LUIZ CHAVES - APELADO(A)(S): INSTITUTO
PREVIDENCIA SERVIDORES ESTADO MINAS GERAIS, ESTADO
DE MINAS GERAIS E OUTRO(A)(S), ANDERSON LUIZ CHAVES

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos etc.
Trata-se de JUÍZO DE RETRATAÇÃO de acórdão em que se
discute o pedido de restituição dos valores descontados a título de
contribuição previdenciária destinada ao custeio do serviço de
assistência à saúde prestado pela autarquia previdenciária estadual,
em razão da tese jurídica firmada pelo STJ, por ocasião do
julgamento do RESp. nº 1.348.679/MG (Tema n° 588).

Fl. 1/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
Impende registrar, de plano, que o juízo de retratação
dispensa a submissão da questão à turma julgadora, quando a
decisão – monocrática - mostrar-se consentânea com o disposto na
alínea ‘b’ dos incisos IV e V do art. 932 do CPC, ‘in verbis’:
‘Art. 932. Incumbe ao relator:
(...)
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
(...)
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
(...)
V - depois de facultada a apresentação de
contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a:
(...)
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;”

Também o art. 89, incisos XXIV e XXV, alínea ‘b’, do


RITJMG, prevê o seguinte:
Art. 89. Compete ao relator, além de outras
atribuições previstas na legislação processual:
(...)
XXIV - dar provimento a recurso cível, depois de
facultada a apresentação de contrarrazões, se a
decisão recorrida for contrária a:
(...)
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
(...)
XXV - negar provimento a recurso cível que for
contrário a:
(...)
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;

Igualmente, cabível impugnação da decisão monocrática


pelos meios processuais próprios, que ensejará a devolução integral
da matéria controvertida ao Colegiado, convalidando o rito a que
alude o inciso II do art. 1.030 do CPC.

Fl. 2/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
Discute-se a possibilidade de restituição dos valores alusivos
à contribuição para o custeio do serviço de assistência à saúde,
prestado pela autarquia previdenciária estadual, nos moldes do art.
85, §2º, da LCE n. 64/02.
A fundamentação assimilada no acórdão recorrido,
realmente, está a discrepar da tese jurídica firmada no precedente
paradigmático do STJ no Tema n. 588, ‘in verbis’:
“Constatado que o STF não declarou a
inconstitucionalidade de tributo (ADI 3.106/MG), e
sim fixou a natureza da relação jurídica como não
tributária (não compulsória), afasta-se a imposição
irrestrita da repetição de indébito amparada pelos
arts. 165 a 168 do CTN.
Observadas as características da boa-fé, da
voluntariedade e o aspecto sinalagmático dos
contratos, a manifestação de vontade do servidor
em aderir ao serviço ofertado pelo Estado ou o
usufruto da respectiva prestação de saúde geram,
em regra, automático direito à contraprestação
pecuniária, assim como à repetição de indébito das
cobranças nos períodos em que não haja
manifestação de vontade do servidor.
Considerando a modulação dos efeitos da
declaração de inconstitucionalidade exarada pelo
STF, até 14.4.2010 a cobrança pelos serviços de
saúde é legítima pelo IPSEMG com base na lei
estadual, devendo o entendimento aqui exarado
incidir a partir do citado marco temporal, quando a
manifestação de vontade ou o usufruto dos
serviços pelo servidor será requisito para a
cobrança.
De modo geral, a constatação da formação da
relação jurídico-contratual entre o servidor e o
Estado de Minas Gerais é tarefa das instâncias
ordinárias, já que necessário interpretar a
legislação estadual (Súmula 280/STF) e analisar o
contexto fático-probatório dos autos (Súmula
7/STJ).”

O STF, por ocasião do julgamento da ADI nº 3.106, declarou


a inconstitucionalidade do caráter compulsório da cobrança da
contribuição destinada ao custeio dos serviços de assistência à
saúde ante sua natureza contratual, reconhecendo sejam prestados,

Fl. 3/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
facultativamente, pelo IPSEMG, mediante pagamento de
contribuição pelos servidores que se dispuserem a deles usufruir
(ADI nº 3.106, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado
em 14.04.2010, publicado em 24.9.2010, DJe - 179 EMENT VOL-
02416-01 PP-00159 REVJMG, v. 61, n. 193, 2010, p. 345-364).
Ao apreciar os Embargos Declaratórios interpostos pelo
Estado de Minas Gerais na ADI nº 3.106, o STF os acolheu
parcialmente para conferir efeitos prospectivos à declaração de
inconstitucionalidade, ‘in verbis’:
“O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto
do Relator, acolheu parcialmente os embargos de
declaração para que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade sejam conferidos apenas a
partir da data da conclusão do julgamento do
mérito desta ação direta, ou seja, 14 de abril de
2010. Ausente, neste julgamento, o Ministro Marco
Aurélio. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo
Lewandowski. Plenário, 20.05.2015.

Ou seja, a Suprema Corte conferiu efeitos ex nunc à


declaração de inconstitucionalidade da cobrança compulsória da
contribuição a que alude o §2º do art. 85 da LCE n. 64/04 e
reconheceu que os pagamentos realizados até o citado marco
temporal (14/04/2010) serviram para custeio da prestação do
serviço de saúde conferido e colocado à disposição dos
servidores/pensionistas estaduais.
Registre-se, por oportuno, não ter sido alterada essa decisão
quando do julgamento dos segundos Embargos de Declaração
opostos pelo Governador do Estado de Minas Gerais, com o trânsito
em julgado do acórdão da ADI nº 3.106 em 22 de maio de 2019.
Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do
julgamento do REsp nº 1.348.679/MG (Tema n. 588), transitado em
julgado em 23/08/2017 e sob o rito dos recursos repetitivos
representativos de controvérsia, convalidou o reconhecimento de
que a relação firmada entre Estado e servidor/pensionista seria

Fl. 4/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
contratual, de natureza sinalagmática e facultativa, e afastou a
imposição irrestrita de repetição de indébito, amparada pelos artigos
165 a 168, do Código Tributário Nacional, estabelecendo ser devida
a restituição dos valores pagos a título de contribuição ao custeio do
serviço de assistência à saúde, após o período de 14/04/2010,
desde que o servidor não tenha aderido voluntariamente ao serviço
de saúde, de forma expressa ou tácita, nem constatada sua
manifestação de vontade de permanecer conveniado ou de usufruir
dos serviços, ‘in verbis’:
“ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO. RECURSO
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.ART.
543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO
CPC/2015) E RESOLUÇÃO STJ 8/2008.
CONTRIBUIÇÃO PARA CUSTEIO DE SERVIÇO
DE SAÚDE AOS SERVIDORES PÚBLICOS.
INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS.
COMPULSORIEDADE AFASTADA PELO STF NA
ADI 3.106/MG. ALTERAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO POR INCONSTITUCIONALIDADE DO
TRIBUTO AFASTADA. INTERPRETAÇÃO DO
JULGAMENTO DA ADI. FORMAÇÃO DE
RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL ENTRE
SERVIDOR E IPSEMG. POSSIBILIDADE.
CONSTATAÇÃO DOS REQUISITOS.
NECESSIDADE DE EXAME DE LEGISLAÇÃO
ESTADUAL. VEDAÇÃO. SÚMULA 280/STF.
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DO SERVIDOR.
AVERIGUAÇÃO. ATRIBUIÇÃO DAS INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS. REVISÃO EM EXAME DE
RECURSO ESPECIAL VEDADO PELA SÚMULA
7/STJ. IDENTIFICAÇÃO DA CONTROVÉRSIA E
POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL DO STJ 1. Trata-
se de Recurso Especial de servidor público do
Estado de Minas Gerais com intuito de obter a
devolução dos valores pagos a título de
contraprestação pelos serviços de saúde (custeio
da assistência médica, hospitalar, odontológica e
farmacêutica) instituída pela Lei Complementar
Estadual 64/2002, sob o fundamento de que a
denominada contribuição teria sido declarada
inconstitucional pelo STF na ADI 3.106/MG.
(...)

Fl. 5/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA
AO REGIME DO ART. 543-C DO CPC/1973
(ATUAL 1036 E SEGUINTES DO CPC/2015) 14.
Constatado que o STF não declarou a
inconstitucionalidade de tributo (ADI 3.106/MG), e
sim fixou a natureza da relação jurídica como não
tributária (não compulsória), afasta-se a imposição
irrestrita da repetição de indébito amparada pelos
arts. 165 a 168 do CTN. 15. Observadas as
características da boa-fé, da voluntariedade e o
aspecto sinalagmático dos contratos, a
manifestação de vontade do servidor em aderir ao
serviço ofertado pelo Estado ou o usufruto da
respectiva prestação de saúde geram, em regra,
automático direito à contraprestação pecuniária,
assim como à repetição de indébito das cobranças
nos períodos em que não haja manifestação de
vontade do servidor.
16. Considerando a modulação dos efeitos da
declaração de inconstitucionalidade exarada
pelo STF, até 14.4.2010 a cobrança pelos
serviços de saúde é legítima pelo IPSEMG com
base na lei estadual, devendo o entendimento
aqui exarado incidir a partir do citado marco
temporal, quando a manifestação de vontade ou
o usufruto dos serviços pelo servidor será
requisito para a cobrança.
17. De modo geral, a constatação da formação
da relação jurídico-contratual entre o servidor e
o Estado de Minas Gerais é tarefa das
instâncias ordinárias, já que necessário
interpretar a legislação estadual (Súmula
280/STF) e analisar o contexto fático-probatório
dos autos (Súmula 7/STJ).
CASO CONCRETO 18. Na hipótese, o recorrente
restringe sua pretensão recursal na defesa da
tese de inconstitucionalidade do tributo para
fundamentar a repetição de indébito,
independentemente da utilização dos serviços
de saúde, o que, de acordo com as razões
acima, está prejudicado frente à decisão do STF
em controle concentrado de
constitucionalidade.
19. Aliado a isso, o Tribunal a quo constatou,
pela prova dos autos e pela inicial, que o ora
recorrente manifestou a intenção de usufruir
dos serviços de saúde, o que, pelas conclusões
acima, autoriza a cobrança da contraprestação
respectiva.

Fl. 6/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
20. Recurso Especial não provido. Acórdão
submetido ao regime dos arts. 1.036 e seguintes
do CPC/2015 e da Resolução STJ 8/2008.” (STJ -
REsp 1348679/MG, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
23/11/2016, DJe 29/05/2017 - destacamos)

Do cotejo desse julgado, vê-se que o STJ reconhecera que a


relação jurídica em foco não possui feição tributária, mas natureza
contratual, com características de boa fé, voluntariedade e
sinalagmatismo, bem assim que a manifestação de vontade do
servidor “em aderir ao serviço ofertado pelo Estado ou o usufruto da
respectiva prestação de saúde geram, em regra, automático direito
à contraprestação pecuniária”, exsurge a legitimidade da cobrança,
mesmo após o marco temporal de 14/04/2010, fixado pelo STF na
modulação dos efeitos da ADI n. 3.106.
Volvendo ao caso concreto, o conjunto probatório constante
dos autos não cumpriu com a finalidade de comprovar a
desvinculação do servidor público/pensionista do serviço de
assistência à saúde ou que não tenha usufruído dos serviços
respectivos, após 14/04/2010, pressupostos necessários para a
restituição dos valores descontados a tal título.
Logo, observada a autoridade e eficácia vinculante da tese
jurídica firmada no precedente paradigmático (Tema n. 588/STJ),
nos termos do art. 927, III, do CPC, e por indemonstrados os fatos
constitutivos do direito aduzido pelo(a)(s) requerente(s), nos termos
do art. 373, I, do CPC, a improcedência do pedido inicial é medida
que se impõe.
Pelo exposto, EM JUÍZO DE RETRATAÇÃO, REFORMO o
acórdão recorrido para JULGAR IMPROCEDENTE o pedido inicial.
INVERTO a condenação ao pagamento dos consectários
sucumbenciais, ressalvada a gratuidade da justiça, caso deferida.
Custas, ‘ex lege’.
P.I.

Fl. 7/8
Nº 1.0024.14.151983-5/001
Belo Horizonte, 03 de outubro de 2023.

DESEMBARGADOR CARLOS LEVENHAGEN


Relator

Fl. 8/8

Você também pode gostar