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Revisão técnica:

Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora do Curso de Ciências Contábeis
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF)
das Faculdades São Judas Tadeu

P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica:
Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
330 p. il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-150-1

1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline.

CDU 657

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


A perícia contábil em
avaliação do patrimônio
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Demonstrar a perícia contábil diante da desapropriação de bens.


 Reconhecer a perícia na avaliação do patrimônio, considerando a
exclusão de sócio.
 Analisar a perícia contábil perante o impedimento de consumação
de alienação.

Introdução
Você sabe o que significa desapropriação de bens? O processo de desapro-
priação de bens representa uma ação administrativa por parte do poder
público. Este visa a adquirir o imóvel de uma pessoa ou uma empresa,
considerando o interesse público. Dessa forma, indeniza o proprietário
em troca do imóvel ou ponto em que se possui interesse.
Neste texto, você vai estudar a desapropriação de bens. Verá em qual
situação ela ocorre e também aprenderá sobre a perícia na avaliação
patrimonial quando da exclusão de sócios e no impedimento de con-
sumação de alienação.

A perícia contábil na desapropriação de bens


As desapropriações representam ações do poder público. São consideradas
utilidade pública e determinadas por lei. Elas resultam na indenização do
proprietário que cederá sua propriedade. A desapropriação de bens poderá
ocorrer tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.
Quando a desapropriação ocorre alcançando organizações que representam
pontos comerciais, acontecem desacordos no que se refere à avaliação. Isso
especialmente no fundo de comércio, em lucros cessantes, entre outros. Os
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desacordos poderão ocorrer com base no valor estipulado pela perícia. Isso
ocorre por se tratar de um ponto comercial que envolve clientela, patrimônio,
ou seja, se referindo a toda forma atrativa do negócio.

Na desapropriação de bens, qualquer tipo de bem poderá ser objeto do ato, ou seja,
da desapropriação. Também se devem levar em conta os estoques inativos, a perda
da produção, o prejuízo na qualidade dos produtos, a perda de mercados específicos
e o prejuízo no uso racional de imóveis tomados, por exemplo.

Os pontos mais críticos na perícia estão relacionados à possível perda que


o ponto empresarial vai sofrer como resultado da ação pública. Isso ocorre
pois o proprietário será indenizado de acordo com o valor estipulado pela
perícia. Porém, se o mesmo fosse vender o ponto, poderia fazê-lo pelo valor
que considerasse mais adequado.
O valor do imóvel algumas vezes é bem menor com relação ao valor do
comércio ou da empresa instalada. Desse modo, se instauram meios para que
a indenização do proprietário do imóvel ocorra de forma justa. Nesse sentido,
ocorre um exame pericial a fim de definir o valor mais correto.

As avaliações realizadas pelo poder público muitas vezes não são eficientes. Elas
podem cumprir interesses políticos algumas vezes incompatíveis com os do indivíduo
ou da organização.

A função do perito é de extrema importância. Uma organização em pleno


funcionamento e em expansão pode ser prejudicada ao abandonar seu ponto.
Nesse sentido, se destacam também os custos com a remoção, a produção que
é interrompida, entre outros. Isso pode ocorrer devido à ação judicial movida
em virtude de um desacordo entre as partes. Nesse caso, o perito deve avaliar
e definir a indenização que será paga ao proprietário do imóvel, considerando
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os agravantes que a empresa sofrerá. Nesse aspecto, se consideram os cálculos


de valor relativos à remuneração do capital. Isso em face da localização e
do período de reorganização. Vale destacar que o perito é contratado pelo
poder público que pretende realizar a desapropriação do bem. Sendo assim,
a contratação desse profissional visa a apurar o valor real do imóvel ou do
ponto comercial, assim como considerar, na indenização, todos os efeitos da
desapropriação ao proprietário.
Poderá ocorrer uma situação contrária. Nesse caso, o abandono do
ponto resulta em melhorias e maiores vantagens para a organização, como
a valorização.

A desapropriação poderá valorizar ou prejudicar o empresário. O perito possui a


capacidade e a experiência necessárias para avaliar a questão.

O perito deve analisar o valor da propriedade como uso empresarial, con-


forme previsto no Decreto-lei nº 3.365/41, artigo 15-A (BRASIL, 1941). Assim,
ele precisa verificar:

 A expansão dos lucros, comparando o investimento com a taxa de


retorno em moeda constante, nos últimos três anos ao menos;
 Os custos extras que podem resultar do deslocamento, como
transporte;
 Se existem dificuldades ou não com relação à obtenção de mão de obra;
 As dificuldades relativas à facilidade de atender aos clientes e seus
efeitos na venda e no lucro;
 O desembolso que promoveria a remoção;
 Existindo capital excedente, com a desapropriação, quanto seria o
rendimento, considerando já os gastos com remoção e a paralisação
da produção;
 Os resultados positivos para a empresa no caso de um imóvel com
custo reduzido, diminuindo assim a quantidade de investimentos no
imobilizado. Nesse caso, o imóvel seria avaliado com valor satisfatório
ao proprietário, considerando que o ponto comercial ou mesmo que o
próprio negócio não estivesse dando o retorno esperado;
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 O aumento ou a redução dos custos fixos, considerando a redução ou


o aumento da produção;
 Os gastos relativos à acomodação de pessoal;
 A redução de tributos que existiria sobre imóveis e outros encargos
municipais se a empresa mudasse de município, entre outros.

A perícia visa a tomar conhecimento sobre os reflexos da modificação,


que poderá ser para melhor ou para pior, do ponto de vista da organização. É
necessário efetuar os cálculos com base em balanços, demonstrações contábeis
e reavaliações.
Você pode considerar que o perito deverá apurar a posição negocial, assim
como observar alguns elementos:

 Reavaliação.
 Dados qualitativos do patrimônio.
 Produção fundamentada em unidades e não em preços.
 Análise da organização racional do trabalho no campo ocupado, pois
o mesmo pode estar prejudicado.
 Cálculos que apresentem possibilidades de expansão da empresa;
 Apuração dos custos reais de produção.
 Projeção de custos, considerando outra planta comercial ou industrial.
 Tempo do imobilizado, ou seja, a durabilidade e o tempo de uso.
 Força de trabalho no local e também fora dele.
 Estimativas de produção e qualidade de custos.
 Efeitos no capital de giro, com base no que se espera receber pelo imóvel
desapropriado, podendo ser para mais ou para menos.
 Diminuição de gastos financeiros ou elevação deles;
 Aumento ou diminuição da capacidade de estoques.
 Aumento ou diminuição de despesas de conservação e manutenção,
entre outros.

O processo de desapropriação pode ter êxito. Porém, seu sucesso depende


da atuação da perícia contábil. O trabalho do perito dependerá de cada situação,
considerando cada tipo de prejuízo sobre o qual se pretende reclamar.
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A desapropriação corresponde a um método administrativo em que o poder público


obtém a propriedade do indivíduo de forma compulsória, visando ao interesse público.
Alcança, dessa forma, a faculdade que possui o proprietário em dispor da coisa conforme
sua vontade, ou seja, abrir mão de um ponto comercial, por exemplo. A desapropriação
pode ocorrer para pessoas físicas e também para pessoas jurídicas.

A perícia contábil na avaliação patrimonial


A razão da apuração de haveres pode ocorrer em virtude de morte de um
dos sócios ou da dissolução da sociedade, por exemplo. Ou seja, pode haver
situações em que é necessário apurar os direitos de uma pessoa com relação
à parte patrimonial.
A perícia na avaliação patrimonial pode ser aplicada também na ocorrência
de saída ou expulsão de um sócio da sociedade. Ainda é possível que ocorra
quando um sócio possui outros direitos com origem na amortização de suas
quotas de capital de ações.
Conforme Sá (2009, p. 95), por meio da aplicação da perícia contábil é
possível tomar conhecimento sobre:

 Os créditos do sócio, em conta, devidamente atualizados.


 Os débitos do sócio, em conta, devidamente atualizados.
 O valor do patrimônio líquido real.
 As expectativas de lucros da sociedade quando ela vai continuar em
funcionamento.
 As expectativas de realização do ativo, quando a sociedade vai se
liquidar.

As questões abordadas são consideradas fundamentais ao que se propõe,


mesmo que não sejam únicas. Afinal, pode haver benefícios que tenham sido
assegurados ao sócio. Os exames realizados pelo perito abordam vários fatores
e devem considerar as circunstâncias de continuidade ou não da sociedade.
A apuração de haveres de sócio falecido envolve um inventário que poderá
possuir diversos sentidos. Em caso de falecimento ou perda da capacidade
de um dos sócios, é importante observar a Lei nº 3.365/41 (BRASIL, 1941),
artigo 21, conforme segue:
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Art. 21. A instância não se interrompe. No caso de falecimento do réu, ou


perda de sua capacidade civil, o juiz, logo que disso tenha conhecimento,
nomeará curador à lide, ate que se lhe habilite o interessado.
Parágrafo único. Os atos praticados da data do falecimento ou perda
da capacidade à investidura do curador à lide poderão ser ratificados ou
impugnados por ele, ou pelo representante do espólio, ou do incapaz.

Em síntese, é necessário verificar:

 Se a organização é individual.
 Se a organização é uma sociedade de pessoas.
 Se a organização era sociedade anônima ou sociedade de capital.

O inventário corresponde ao processo em que se realiza um levantamento de todos


os bens de um indivíduo após sua morte. Mediante esse processo, são analisados,
enumerados e divididos entre seus sucessores os bens que esse indivíduo possuía.

Na prática, no inventário é necessário verificar:

 O contrato social e as alterações realizadas para estabelecer que a parti-


cipação do sócio ocorra mediante subscrição ou ainda por integralização;
 As retiradas de pró-labore, isso se o sócio tinha esse direito. É necessário
verificar de quanto era, se era creditado ou pago. Além disso, é preciso
averiguar o caso de regularidade de retenções mediante obrigações do
fisco e previdenciárias;
 A estimativa do imobilizado diante do mercado, ou seja, referente à
valorização, à desvalorização, entre outros;
 A comparação de lucros passados com os constantes;
 As perspectivas de lucros, a valores constantes;
 O valor real do ativo imobilizado da organização;
 Se os balanços apresentam lucros e se foram pagos ou creditados;
 Se o sócio auferiu lucros de forma antecipada ou mediante retiradas;
 Se o sócio emprestou dinheiro para a entidade;
 Se os lucros foram acumulados;
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 Se houve correção de atualização com relação aos empréstimos;


 Se houve juros sobre os empréstimos;
 Se houve correção monetária do patrimônio líquido;
 Se a empresa realizou reservas para contingências;
 Se há subavaliação de estoques, ou seja, situação comum que visa a
reduzir lucros tributáveis;
 Se há a possibilidade de riscos sobre as contas a receber.

O perito deve monitorar, fazer um acompanhamento das contas de capi-


tal, de empréstimos, de lucros, dos atos e fatos que ocorreram no ativo e no
passivo da entidade.

Os exames não são tão simples como parecem. Os quesitos devem abranger a totali-
dade dos direitos, fundamentados na realidade. O exame é completo, absoluto. Busca
conhecer o valor da parcela relativa ao sócio falecido ou egresso.

A Lei nº 13.105/15 (BRASIL, 2015), em seus artigos 599 e 600, discorre


sobre a exclusão de sócio. Ela assegura a justa recuperação de seu capital.
A apuração de haveres acontece de modo que o perito precisa buscar provas
mediante as contas de capital e a conta do sócio.
Na possibilidade de saída de um sócio, se a sociedade estiver em ampla
prosperidade e o sócio estiver há muito tempo nela, a perícia poderá confirmar
que a presença do sócio não afeta negativamente os lucros nem a ampliação
patrimonial.
Por meio da perícia, o perito poderá demonstrar:

 Evolução das vendas, comparando-as com moeda constante.


 Percentual de lucros sobre vendas (expansão).
 Progresso do lucro em valores reais (deflacionados).
 Aumento real do ativo (em moeda constante por comparações de
exercícios).
 Crescimento do número de clientes.
 Abertura de filiais.
 Crescimento do número de pessoal.
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 Crescimento da renda real de pessoal por melhoria de salário dentro


da empresa (acima do mercado).
 Ampliação do número de funções administrativas e de produção,
etc.
 Análises dos balanços, que são relevantes para indicar a prosperidade e
a eficácia das funções da riqueza, em nada prejudicadas pela presença
de um sócio que se pretende expulsar.

A exclusão do sócio pode acontecer nas situações citadas na Lei nº 13.105/15


(BRASIL, 2015, art. 599-600). Também pode estar prevista em contrato social,
em situações em que o sócio seja diretor de uma indústria e alguns fatores
sejam comprovados. Por exemplo:

 Redução da qualidade da produção constatada mediante elevação do


índice de devolução de produtos ou de assistência técnica.
 Perdas que afetam a produtividade.
 Elevação exorbitante dos custos.
 Custo não eficaz e má qualidade.
 Abuso de despesas de preservação por omissão de cuidados com o
imobilizado técnico;
 Grandes riscos de regressão da vida útil sobre o imobilizado por aqui-
sição de equipamentos ultrapassados.
 Exagero de estoques de materiais.
 Escolha inapropriada de pessoal.

Se o sócio atuar como diretor financeiro, poderá ter de assumir algumas


responsabilidades. Estas podem estar previstas em contrato social. Por
exemplo:

 Pagamentos fora do período estipulado gerando encargos financeiros.


 Falta de percepção de recursos a custos reduzidos.
 Multas fiscais devido à falta de controle contábil.
 Pagamentos de taxas exageradas de juros, sem pesquisar a existência
de outras menores.
 Descuido no recebimento de contas a receber.
 Atrasos relevantes do registro contábil e inexistência de declaração
de balanços.
 Declarações fiscais irregulares ou fora do prazo.
 Ineficiência na comprovação dos pagamentos.
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A aplicação da perícia contábil em impedimento


de consumação de alienação
O impedimento de consumação de alienação corresponde à restrição da
execução da alienação. Ou seja, ocorre havendo limite relativo à dívida ou
endividamento. O impedimento de consumação de alienação pode ocorrer
tanto para pessoa física quanto para pessoa jurídica.
É possível solicitar a perícia para exigir impedimento de alienação de
bens. Isso ocorre a fim de que não se realizem as vendas em detrimento de
terceiros, principalmente em processos falimentares. Por meio da perícia, é
possível confirmar o fato e seus prejuízos pelo exame contábil realizado. As
alienações podem ser prejudiciais. Elas podem levar o indivíduo a contratar
empréstimos diante de situações de crises financeiras.

O embargo corresponde ao impedimento ou repressão de alienação de bens. O


embargante tem que afirmar seu direito de posse. Poderá demonstrá-lo mediante
a perícia contábil. Pode, em situações mais simples, fazer a comprovação com do-
cumentos ou testemunhas. Os embargos podem ainda atingir muitos bens. Nessa
situação, a perícia é necessária.

Cada bem patrimonial possui uma função. Da mesma forma, cada elemento
da riqueza possui sua expressão. A alienação ou cessão de um componente
da riqueza poderá ocasionar dano da sociedade, do patrimônio ou mesmo do
indivíduo que possua interesse vinculado.
Os embargos podem atingir todo tipo de bem, fazendo com que a perícia
seja indispensável. Eles também podem ser contestados. Por esse motivo,
a perícia necessita ser realizada de forma zelosa e cuidadosa. A perícia
precisa contemplar quesitos e respostas bem argumentadas que possuam
comprovação.
Você sabe que as pessoas jurídicas não se confundem com as físicas. Da
mesma forma, o embargo de terceiros possui sentido quando se buscam asse-
gurar os direitos que podem ser prejudicados a partir da venda do patrimônio.
No entanto, tal situação necessita ser comprovada. Além disso, a perícia é de
grande importância quando envolve a pessoa jurídica.
10 A perícia contábil em avaliação do patrimônio

É possível constatar todas as ocorrências mediante os exames periciais de


valores e também das funções que o bem possui como garantia ou utilização
apropriada.

BRASIL. Decreto-lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941. Brasília, DF, 1941. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3365compilado.htm>. Acesso
em: 31 ago. 2017.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 14
jul. 2017.
SÁ, A. L. de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

Leituras recomendadas
MÜLLER, A. N.; ANTONIK, L. R.; FERREIRA JUNIOR, V. Cálculos periciais: efeitos inflacio-
nários, números índices, indexadores e sistemas de amortização. Curitiba: Juruá, 2009.
ORNELAS, M. M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SOUSA, S. H. M.; GRANDE, C. G. Perícias na prática. Curitiba: Juruá, 2010.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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