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ESTUDOS
uma ficção multiforme e trans-
disciplinar, iluminando a obra da integração às paisagens sul
e enriquecendo os acervos da baianas. Por outro lado, na
AMADIANOS:
crítica e da ensaística da litera- cidade de Salvador e regiões
tura brasileira. do Recôncavo configura-se a
civilização popular afro-baiana,
20 ANOS DE
Aleilton Fonseca com seu rico e multifacetado
universo religioso e cultural.
De fato, o romancista teve por
COORDENAÇÃO DO II WEBNÁRIO
Prof. Dr. Gildeci de Oliveira Leite (UNEB) Coordenação Geral
Prof. Dr. Adeítalo Pinho (UEFS)
Prof. Dr. Aleilton Fonseca (UEFS)
Prof. Ms. Filismina Fernandes Saraiva (UNEB)
Prof. Dr. Flávio Gonçalves (UESC)
Prof. Dr. Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB)
Prof.ª Dr. ª Rosana Patrício Ribeiro (UEFS)
Prof. Dr. Thiago Prado (UNEB)
“Os custos deste livro foram financiados pelo Edital 042/2021 PROAPEX/PROEX/
UNEB.”
“O II Webinário Estudos Amadianos: 20 anos de permanência” é, também,
um subprojeto do projeto “Xangô, a corte de orixás, inquices e vodus: experiências
poéticas e narrativas” aprovado pela Chamada Universal MCTIC/CNPq 2018 com o
nome “Xangô, conhecimento nagô na Bahia: uma experiência Afonjá”, tendo o nome
modificado com permissão do CNPq.
SIGNATÁRIOS/PARCERIAS/APOIOS
INSTITUIÇÃO OBSERVAÇÕES
Grupo de Pesquisa Crítica Literária e Identidade Cultural Coordenação
(CLIC) — Coordenação sediada na UNEB (Universidade Geral
do Estado da Bahia)
Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA) Signatário
Casa do Rio Vermelho Signatário
PPGELS (Programa de Pós-graduação em Ensino Lingua- Signatário
gem e Sociedade) - UNEB
MPEJA (Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Signatário
Adultos) - UNEB
Programa de Pós-graduação em Estudo de Linguagens Signatário
(PPGEL) – UNEB
PPGL (Programa de Pós Graduação em Letras) — UNEB Signatário
– Teixeira de Freitas
PROGEL (Programa de Pós-Graduação em Estudos Signatário
Literários) – UEFS (Universidade Estadual de Feira de
Santana)
PPGH (Programa de Pós-Graduação em História) — Signatário
UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz)
PPGL – UESC (Programa de Pós-Graduação em Letras Signatário
e Representações) — UESC (Universidade Estadual de
Santa Cruz)
Pós-Lit-Cult (Programa de Pós-graduação em Literatura e Signatário
Cultura) — UFBA (Universidade Federal da Bahia)
PPGEAFIN (Programa de Pós-graduação em Estudos Signatário
Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras) UNEB
CRELL (Grupo de Pesquisa Cultura Resistência Signatário
Etnia, Linguagem e Leitura)
EICon (Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares so- Signatário
bre Contemporaneidade)
GELC (Grupo de Pesquisa em Estudos Literários Signatário
Contemporâneos)
Academia de Letras da Bahia (ALB) Signatário
Academia de Letras de Itabuna (ALITA) Signatário
Academia de Letras de Ilhéus (ALI) Signatário
Academia de Letras de Aracaju Signatário
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) Signatário
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Signatário
Linguísticos (CiFEFiL)
Editora Companhia das Letras Apoio Cultural
PROEX (Pró-reitoria de Extensão) UNEB Apoio através do
Edital 042/2021
-UNEB
PIBID (Programa Institucional de Iniciação à Apoio Institucional
Docência) UNEB
Prefeitura Municipal de Seabra – Bahia Apoio Institucional
Prefeitura Municipal de Palmeiras – Bahia Apoio Institucional
Prefeitura Municipal de Salvador– Bahia (Apoio Institucional
através da Casa do
Rio Vermelho)
EDITUS (Editora da Universidade Estadual de Santa Apoio Institucional
Cruz)
Gildeci de Oliveira Leite
Filismina Fernandes Saraiva
Thiago Martins Caldas Prado
(Organizadores)
2021
Copyright © Autores. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, sejam quais
forem os meios empregados, a não ser com a permissão escrita do autor e da editora,
conforme a Lei no 9610, de 19 de fevereiro de 1998.
Conselho Editorial
Célia Marques Telles — Universidade Federal da Bahia
Dante Augusto Galeffi — Universidade Federal da Bahia
Edleise Mendes — Universidade Federal da Bahia
João Carlos Salles — Universidade Federal da Bahia
Sérgio Mattos — Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Rita Maria Bastos Vieira — Universidade do Estado da Bahia
APRESENTAÇÃO 13
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
TESTEMUNHOS E APRECIAÇÕES
Félix Ayoh’OMIDIRE2
1
Texto adaptado da conferência magna proferida na abertura do II Webinário
Internacional de Estudos Amadianos: 20 Anos de Permanência, organizado pela
Universidade do Estado da Bahia, e acontecido no Canal Universidade da Gente,
no YouTube, de 4 a 31 de agosto de 2021. Agradeço a minha filha, Ifedayo Imanuela
Ayoh’Omidire pela transcrição fiel, criteriosa e cuidadosa que fez da minha palestra
inteira, possibilitando a sua apresentação aqui no formato atual e atualizado.
2
Félix Ayoh`OMIDIRE é professor titular da diáspora yorubá, estudos literários
e culturais brasileiros e afro-latino-americanos, além de diretor do Instituto de
Estudos Culturais (Ile-Irúnmolè), na Obafemi Awolowo University, Ile-Ife, Nigéria
desde 2018, é também Professor Visitante do Programa de Pós-graduação em
Literatura e Cultura (PPGLitCulT), Instituto de Letras da Universidade Federal
da Bahia onde atua ainda, desde 2019 como Orientador Pedagógico do Curso
de Língua e Cultura Yorubá, oferecido pelo Núcleo Permanente de Pesquisas e
Extensão em Letras (NUPEL-UFBA). É autor de vários livros sobre a visão do
mundo yorubá-africana nas diásporas latino-americanas, tendo publicado entre
gramáticas e livros didáticos para o ensino de Yorubá como língua de herança
no Brasil, e obras teóricas sobre a epistemologia yorubá-africana e sua aplicação
nos campos de letras, literatura e cultura. Destaca-se entre outras sua obra maior
YoruBaianidade: Oralitura e matriz epistémica nagô na construção de uma identidade
afro-cultural nas Américas (Salvador: Editora Segundo Selo, 2020).
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II WEBINÁRIO ESTUDOS AMADIANOS: 20 ANOS DE PERMANÊNCIA
Protocolo de abertura
Como um bom yorubano, falando da yorubaianidade, eu não pos-
so começar sem fazer o ijuba, que é a nossa maneira cultural de pedir
agô a todos e a todas que é de direito, porque na nossa cultura a gente
respeita muito a quem é de direito, a gente não entra em casa alheia sem
pedir agô ao dono da casa, porque senão, como se diz na minha língua,
“ewuré tó wole ti kò kágò, o deran a muso, àgùntàn tó wole tí kò kágò,
o deran à mú borè...”3
Então, eu vou fazer meu agô, meu ìjúbà4 começando com Olórún
que é o senhor de todos e que tem o sopro da vida. Permitam então que
peça este primeiro agô à Olórun:
3
Lit. Quando uma cabra entra numa casa sem pedir licença, ela será amarrada sem
cerimônia, e um carneiro qualquer que entrar num recinto sagrado sem pedir agô,
ele será sacrificado no mesmo local para alimentar o axé do orixá a quem ele assim
desrespeitou.
4
Na cultura yorubana, ìjùbá é o nome que se dá ao ritual protocolar que cabe a
qualquer pessoa fazer de praxe quando for tomar e fazer uso de palavra em público.
O intuito desse ritual da oralidade yorubana é para pedir agô aos mais velhos e
a todos presentes para que a palavra não saia errada da boca de quem fala. Na
memória da oralidade nagô-yorubanas nas diásporas latino-americanas, esse ritual
deu origem às diversas expressões com a mesma finalidade: “motumbá” no Brasil,
e “moyugba” em Cuba.
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Bí adìyẹ́ ó bá mumi ajúbà Ọlọ́run, (Pois a galinha nunca bebe água sem re-
venciar a Olorum)
Rírò ni tènìyàn, ṣiṣe ni tỌlọ́run, (O homem propõe, Olorum dispõe)
adífá fun àdàbà sùsù, (Assim se chamava o Awo que jogo Ifá
para
èyí tó renú àká òǹyagbẹ̀ a pomba fecunda que ia colocar seus ovos
lọ rèé yé sí, no celeiro do agricultor)
o ñse Ọlọ́run ọba, ìbà rẹ, (A pomba pede agô a Olorum para garantir
proteção
Ọlọ́run ọba ìbà rẹ! a seus ovos)
Bádìyẹ́ ó mumi, a júbà Ọlọ̀run, (da mesma forma que faz a galinha
Ọlọ́run ọba, ìbà rẹ! cada vez que vai beber água)
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do dos mortos para namorar no mundo dos vivos sem sofrer nenhum
impedimento nem constrangimento.
A gente vê isso em personagens fortes que lembram grandes orixás
como Oyá, Iansã (eparrei!) na personagem de Tereza Batista, que era a
afrodite valentona nagô-yorubana do interior da grande Bahia, ou numa
Gabriela que era de cravo, canela e canjica, porque aquela Gabriela já
traz, ao pensar nela, aquela beleza da mulher africana que vai equilibrar
na cabeça a sua cabaça de comida, de água e tudo e, ao mesmo tempo
que equilibra aquilo tudo na cabeça, com as mãos livres, vai carregando
o saco de mantimento para a família, e o tempo todo com o seu filho
carinhosa e seguramente amarrado às costas com seu belíssimo pano
da costa, e assim vai ficar em toda sua liberdade filial para inventar e
descobrir o mundo desde este trono improvisado, que é as costas da pró-
pria mãe. Então, vê-se toda essa graça e beleza na Gabriela cravo, canela
e, acrescento eu, canjica, de Jorge Amado, que virou a grande, talvez a
primeira namoradinha do Brasil, exportada para o mundo todo porque
até hoje as gracinhas de Gabriela continuam encantando públicos tanto
televisivos, quanto literários no mundo inteiro.
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Então podemos ver nesse grande passeio das obras amadianas essa
presença da identidade, dos valores, da visão do mundo e da magia
nagô-yorubana, que ele amadurece de personagem em personagem, que
ele vai trazendo, não para meramente enfeitar o seu texto literário, mas
implicitamente fazer atuar, para trazer o protagonismo, a agência desse
segmento afro-mestiço da Bahia num diálogo intenso com a grande
sociedade brasileira pela dignidade humana, pelos valores éticos e étni-
cos, pelo fim dos estereótipos e do racismo, e para combater inclusive as
injustiças sociais, como nos textos de cunho marxista-comunista desse
inesquecível escritor do bairro do Rio Vermelho.
Para não ficar só nessa parte teórica eu vou tentar trazer elementos
reais dessas grandes leituras da yorubaianidade de Jorge Amado, que eu
tive o privilégio de ler, ano após ano, obra após obra, saída do grande
estábulo desse grande escritor. Todo mundo sabe que, quando a gente
escuta a música popular da Bahia, música de terreiro virada música de
carnaval da Bahia todo misturado que só se vê na Bahia, como ele mesmo
fala no subtítulo daquela obra mágica — O sumiço da Santa, história
de feitiçaria, que o próprio autor chama de “um romance baiano que
só podia acontecer na Bahia” porque para ela acontecer em outro lugar
qualquer, era praticamente inimaginável.
Quando a gente escuta músicas do carnaval baiano que nasceu na
verdade desse grande imaginário yorubaiano da baianidade-nagô, cantos
como “Oju oba ía lá e via, Oju obá ía!” ou músicas-mantras como “Ju-
biaba ba-ba-ba-babalawo! Jubiaba, Jubiaba, babalawo...! Jubiabá” a gente
já sabe que o que está sendo evocado ali é toda uma visão do mundo
sustentado pela fé do povo negro-mestiço da Bahia, que nasceu nos ter-
reiros de candomblé onde o Ojú obá, os olhos do rei xangô, aquele que
ocupa o cargo e posto de olhar e velar pelo bem-estar da comunidade de
terreiro, a gente já sabe o quanto isso enaltece os valores éticos, étnicos
e estéticos da Bahia.
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Após essa leitura deliciosa desse texto que demonstra o credo de Jorge
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ROTEIRO SENTIMENTAL DE UM LEITOR DE JORGE AMADO
Antonio Torres1
1
Escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras da
Bahia, da Academia Petropolitana de Letras e sócio correspondente lusófono da
Academia de Ciências de Lisboa.
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ROTEIRO SENTIMENTAL DE UM LEITOR DE JORGE AMADO
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ROTEIRO SENTIMENTAL DE UM LEITOR DE JORGE AMADO
E assim, numa rede de uma casa de roça, lá, em Sátiro Dias, a quinze
léguas de distância de Alagoinhas, entreguei-me à leitura de tudo o que
faltava ler de Jorge Amado, o que se tornaria assunto de conversa nas
minhas idas ao povoado, onde iria encontrar outro entusiasmado leitor
dele, o João Escrivão, homem de muitos saberes, que viera de longe.
Coincidentemente, naquele mesmo período regressara àquelas pa-
ragens uma lenda viva da nossa gente, que eu nunca tinha visto por lá.
Trata-se de um filho nativo que ali regressava coberto de glórias por ter
participado da Segunda Guerra Mundial. Reformado como tenente da
Marinha, ele vinha a ser meu parente, e próximo. Recordo-o a adentrar
a igreja, num domingo de missa, chamando a atenção de todos não só
pelo seu porte avantajado, mas, principalmente, por apresentar-se em
uniforme de gala, cheio de medalhas no peito. E por ali foi ficando a
bestar pelas bodegas, nas quais todos os bêbados lhe batiam continências
pelas suas proezas nos mares.
Esse personagem não entra aqui por acaso. Deu-se que ele acabou
sabendo que eu andava lendo Jorge Amado. Resultado: acusação. Con-
sequência: inquérito familiar. “Quer dizer que esses livros que você anda
lendo sem parar são de um comunista? E dos mais descarados, conforme
o Tenente garante, e jurando por essa luz que nos alumia?”
Com a boca cheia de autoridade, não necessariamente literária, o
glorificado Tenente havia garantido mais: que Jorge Amado, além de não
ter fé em Deus, como todos os comunistas, era um despudorado, capaz
de fazer corar até os mais safados dos adultos. E, com certeza, nunca
tinha sido visto numa missa. A religião dele era o candomblé, cruz credo!
Em resumo: eu estava indo por um mau caminho, seguindo um mau
exemplo. Só restou à minha mãe me botar contra a parede: aqueles livros
estavam mesmo me afastando da lei de Deus?
Naquele momento, o filho mais velho de Dona Durvalice e seu Irineu,
um fiel casal sertanejo acima de tudo católico, apostólico, romano, tinha
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nas mãos o “ABC de Castro Alves”, a mais amorosa das biografias que
alguém no mundo já havia sido capaz de escrever, pensava ele, embora
pouco ou nada entendesse do assunto. Credite-se tal arroubo ao fascí-
nio com que ele lia as histórias que Jorge Amado contava do poeta dos
escravos. Em defesa daquele que os fiéis da Santa Madre Igreja, fazendo
o sinal da cruz, chamavam de comunista, o que consideravam “farinha
do mesmo saco” dos crentes e dos africantes, achei que o melhor a fazer
era ler para a minha mãe algumas linhas do livro cuja leitura fora inter-
rompida pelo arrebatado sermão que um marinheiro que aproveitava o
seu ócio remunerado para combater à sombra, derrubando uma garrafa
de cerveja atrás da outra, lhe soprara aos ouvidos.
Voltei à página em que havia parado, e li um parágrafo para ela. Se
não me falha a memória, foi esse a seguir:
Amiga, mais forte, mais poderosa e mais bela que a voz
maviosa do poeta que canta em São Paulo é a voz que chora
nas senzalas do Recife. Porque não há nada mais belo do
que a voz do povo. E o gênio é aquele que a interpreta, que
lhe dá forma, o que vai na frente de todos os que clamam.
No Sul, cantavam, no Norte ele ia começar a clamar o seu
clamor, gritos e apóstrofes de vingança, ameaça e profecia,
seria o mais lindo canto do seu tempo.
Não precisei ir além de um parágrafo para ver nos olhos da minha
mãe que os poderes da escrita de Jorge Amado eram mais fortes do que
os da tropa de choque anticomunista que a cercava.
— É assim que ele escreve, mamãe. A senhora acha que alguma dessas
palavras que acabei de ler é contra as leis de Deus?
— O que acho é que ele escreve bonito como um corno — ela dis-
se, me contemplando com uma boa risada. E nunca mais fez qualquer
censura ao que eu estivesse lendo, seja de que autor fosse.
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Canta os meninos
na noite quieta;
arroio claro,
fonte serena!
OS MENINOS
Que tem teu divino
Coração em festa?
EU
Um dobrar de sinos,
perdido da névoa.
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DOIS ROMANCES DE JORGE AMADO: OS CAPITÃES DA AREIA E A DESCOBERTA DA AMÉRICA PELOS TURCOS
Cyro de Mattos1
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tiras do mundo, que devem ser substituídas pelas verdades que somam
e não tomam, porque assim lhe habitam na paixão interior, que não cala
quando se faz voz na sua leitura do mundo.
Seu romance alimenta-se dos traumas que ficam evidentes nas con-
tradições entre camadas sociais diferentes. Das aspirações e frustrações
que vicejam nos personagens ambientados em certas camadas em que
a vida faz do ódio e a vingança o seu termómetro para a sobrevivência.
Disso resulta que os ressentidos precisam muitas vezes de afeto, já que
estão à margem, no ambiente em que nascem e vivem, são assim carentes
de uma vida decente em que possam se sentir como gente. São vistos
como animais perigosos, devem ser evitados, na concepção dos que estão
engrenados no sistema, pois esses viventes infelizes habitam naquilo que
degrada, é imprestável para um ser humano quanto mais para uma criança.
Os movimentos do eixo que aciona a trama em si mesmos são marca-
dos pelo verismo. Os personagens no seu estar no mundo tentam superar
o sistema que os torna objeto e anula. E uma consciência crítica de
narrador onisciente já não pretende informar que o problema se vincula
à causalidade, mas torna evidente que esta deve ser ultrapassada para o
alcance das coisas que são postas no mundo para que sejam traduzidas
em zona de conforto, imbrincadas na própria essencialidade de bem-estar
com a vida.
Com extraordinário poder de captar as visualizações ambientais,
poetizar a vida com seus dramas, domínio fácil de uma narrativa que se
encaixa na percepção do leitor generalizado, é capaz de transformar o
regional com seus tipos e costumes em modelos de situações universais.
Jorge Amado mostra que na essência o ser humano é o mesmo onde quer
que viva. Assim, impelido por uma conduta que está em todos, forjada
na realidade exterior, de desequilíbrio e pendências, que fere sem cura,
direciona a sua disposição anímica de escritor popular em muitas passagens
para cantar a vida com o seu valor maior, a liberdade, ressaltar os seus
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DOIS ROMANCES DE JORGE AMADO: OS CAPITÃES DA AREIA E A DESCOBERTA DA AMÉRICA PELOS TURCOS
Se o quadro não fosse esse, até mesmo com o emprego de uma me-
todologia pedagógica mais humana, como se insinua hoje, não se pode
deixar de considerar que não se transforma uma criança, para que no
futuro seja um homem, se não se lhe dá afeto, não a prepara com a ferra-
menta digna de exercer uma profissão, com meios que a façam confiante
mais tarde, segura de si, para enfrentar a vida aqui fora.
O mundo é composto de ruins e bons, coisas uteis e inúteis. O sol ofe-
rece sua luz para todos, os pobres, os famintos, os favelados, os mendigos,
os abandonados, os loucos. Se o sistema oferecesse a esses desfavorecidos,
condições ideais para se erguerem na dureza da vida, não fizesse uso da
desigualdade, indiferença, preconceito, perseguições, violências, a vida
se movimentaria com a ocorrência de respostas decentes. Nas relações
sociais alcançaria a autoestima dos que para render precisam da ferra-
menta necessária ao trabalho, na sua função, ação e reflexão, cônscios
da liberdade preservada como o mais alto dos valores e o amor como o
sentimento mais forte.
Em Capitães da areia, temos o exemplo de que nem tudo está perdido
quando o Professor, o intelectual do bando, vai para o Rio de Janeiro
estudar pintura. Outras condições de vida são agora oferecidas, distan-
tes daquelas que o negavam quando andava como ladrão e fugindo da
polícia na cidade de mais de trezentas igrejas. Travavam seus pendores,
que soltos agora com ideias e emoções fizeram dele um pintor famoso.
2 — ROMANCINHO DE ITABUNA
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DOIS ROMANCES DE JORGE AMADO: OS CAPITÃES DA AREIA E A DESCOBERTA DA AMÉRICA PELOS TURCOS
visita à cidade de Itabuna para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram
fortuna e casamento ou ainda os esponsais de Adma.
Neste romance publicado em 1994, Jorge Amado volta a apresentar
as marcas inconfundíveis de sua arte: fluência na escrita, facilidade de
fabular e gozo pela vida. Recorre ao riso para contar a saga de sírios e
libaneses no Sul da Bahia quando tinha início o plantio das roças de
cacau e a construção de casas em vilarejos e pequenas cidades.
Para Jorge Amado, a Descoberta da América, como afirmavam com
orgulho os que descendiam dos descobridores, ou a Conquista como di-
ziam os que descendiam dos índios exterminados, dos negros escravizados,
não acontece quatrocentos e onze anos depois da epopeia das caravelas de
Colombo, mas no começo do século dezenove e com grande atraso. Foi
protagonizada pelos turcos, “[...] que não são turcos coisíssima nenhu-
ma, são árabes de boa cepa.” Deu-se então a Descoberta ou a Conquista
quando sírios e libaneses aportaram no eldorado do cacau, vindos das
montanhas do Oriente Médio em época até certo ponto recente.
Situações engraçadas predominam em A Descoberta da América pelos
turcos, romancinho armado com desventura e premonição de felicidade
em seus episódios extraídos da vida real.
Passagens com humor árabe acontecem na pequena cidade de Ita-
buna, agora aparecendo pela primeira vez com destaque no território
da civilização cacaueira baiana, definido como um dos filões ricos da
novelística amadiana. Com o seu comercinho novo, o burburinho na
estação do trem, igreja e capela. Hotel dos Lordes, cabarés, botequins,
pensões de prostituta, fuxicaria na política, desmando dos jagunços
armados, tropas carregadas de cacau nas ruas. A recente cidade de Itabu-
na como um burgo de penetração exibe-se sem retoques e ilusionismo,
marca sua presença num cenário divertido da vidinha movimentada
e turbulenta.
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O leitor desse livro de Jorge Amado vai conhecer situações urdidas por
negócios e mistérios de cama, com sua ironia e trama no tecido da vida.
Acompanhará o libanês Raduan Murad nas tentativas de encaminhar
Adma para Jamil Bichara e Adib. Este um garçom de botequim, lanzudo
feito um dromedário, esperto na cobrança e no troco, cujo defeito era
ser jovem para a solteirona. Nesse ambiente de pioneirismo e aventura,
sobressai de novo o relato povoado daqueles personagens pitorescos de
Jorge Amado, como Jamil Bichara, Raduan Murad, Ibrahim Jafet, Adib,
a sultana Sálua e a prostituta Glorinha Cu de Ouro.
Com uma estrutura simples, A Descoberta da América pelos turcos não
representa algo de novo no conjunto da obra amadiana, mas não deixa
de ser um fato marcante, dado que foi escrito por autor perto dos 82
anos, idade em que muitos já esgotaram suas compulsões e recolheram
suas habilidades usadas na arte da criação literária.
É fácil de ver que Jorge Amado incursiona por vários espaços da
região cacaueira para recriar o seu legado ficcional. Trata-se, portanto
de escritor grapiúna. Mas o que significa o termo grapiúna? De origem
tupi, a palavra na sua evolução semântica perdeu a vogal inicial “i” e
passou a significar os que nasceram ou vieram para o sul da Bahia naquele
período em que um sistema social com bases na lavra do cacau tomavam
os primeiros contornos de uma civilização, que se tornaria singular, ao
longo dos anos. Durante anos, o termo grapiúna significou os que nascem
na região cacaueira baiana ou os que ali estão radicados e se identificam
com a maneira de ser de um ambiente que possui caracteres próprios,
com a sua fala, tipos e costumes.
Prefiro ver Jorge Amado como um escritor grapiúna quando a ele nos
referimos como autor nascido no Sul da Bahia. Admirador dos ficcionistas
norte-americanos comprometidos com a realidade social do século vinte,
romancistas russos de inspiração proletária, poetas populares, o grapiúna
Jorge Amado enfatiza o regional mesclado com realismo franco, dosado
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DOIS ROMANCES DE JORGE AMADO: OS CAPITÃES DA AREIA E A DESCOBERTA DA AMÉRICA PELOS TURCOS
com uma prosa prazerosa que emana da terra com a sua gente, seus cos-
tumes, sua alma e sua história plantada na cultura nacional.
Em sua arte literária, que se apresenta na escrita de modo acessível
ao leitor de percepção comum, nascem juntos o escritor, que narra bem
como poucos o que viu, viveu, testemunhou, e o romancista fecundo, que
imaginou, sonhou, desejou a vida nem sempre como ela é. Se a narração
desenvolve-se através dos fatos objetivos acontecidos no plano exterior,
o conteúdo subjetivo também resulta da alma lírica arrebatada por sen-
timentos verdadeiros, valores essenciais transmitidos com humanidade
pela palavra solidária, que pertence ao seu tempo.
Assim é este romancista com sua mensagem de liberdade e espe-
rança na escrita irreverente, fascinante, sensual, que faz pensar e, a um
só tempo, rir. Esse grapiúna Jorge Amado, que nasceu numa fazenda de
cacau, no Sul da Bahia, para se tornar um dos mais criativos contadores
de histórias no mundo.
Faleceu aos 6 de agosto de 2001, em Salvador.
REFERÊNCIAS
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A RELIGIÃO DE JORGE AMADO, UMA NOVA APRECIAÇÃO
Ordep Serra1
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A RELIGIÃO DE JORGE AMADO, UMA NOVA APRECIAÇÃO
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A RELIGIÃO DE JORGE AMADO, UMA NOVA APRECIAÇÃO
figura em seu Tenda dos Milagres. Aí Jorge Amado tenta explicar-se pela
boca de seu personagem Pedro Arcanjo, um sábio materialista com alto
posto na hierarquia do candomblé — tal como o autor do romance, que
se consagrou ministro de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá, com o título
de Otum Obá Arolu.
O protagonista de Tenda dos Milagres renega a crença nos orixás
para afirmar-se ateu, adepto do materialismo dialético, e justifica com
dois argumentos um tanto simplórios o fato de manter, apesar disso, sua
ligação com terreiros, seu posto sacerdotal: alega, primeiro, que os orixás
são “bens do povo” e seu culto deve um dia ascender ao teatro, fazer-se
arte; em segundo lugar, protesta que se abandonasse a religião perseguida
pela polícia trairia o povo de santo, seu povo.
Nessa altura da novela, sente-se com clareza o desconforto do perso-
nagem e a fraqueza de sua argumentação, que soa pouco convincente para
o leitor. Mas também fica claro que Pedro Arcanjo vem a ser o porta-voz
de Jorge Amado. É o escritor que procura justificar-se. Sente-se o travo
da contradição que ele experimenta. Ele não a resolve. Como poderia?
Sua profissão de fé no materialismo histórico prevalece na resposta
que então formula. Mas ela segue entrando em choque com seu encan-
tamento por um mundo religioso de que tirou muita inspiração, que o
apaixonava e atraía com uma força irresistível.
É frequente e marcante a presença dos orixás na literatura amadiana.
Ele incorporou a seu fazer poético as imagens, os mitos, os cânticos e
transes de misteriosas divindades cujos templos amava visitar, de cujas
festas participou inúmeras vezes, de cujas saborosas comidas rituais se
nutriu com delícia. É fácil ver que ele glosou criativamente patakis e orikis,
enriquecendo a prosa que era seu tesouro, sua expressão mais viva em
face do mundo. Sim, muitas vezes Jorge Amado fez de sua imaginação
um vigoroso cavalo de santo. Sabe-se que ele costumava identificar-se
vaidosa e alegremente como filho de Oxóssi e tinha sincero orgulho de
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seu elevado posto de Obá de Xangô. O novelista que celebrou com deleite
as proezas de Exu não escondeu jamais sua simpatia pelo deus irrequieto.
Seu olhar amoroso para a Bahia de Todos os Santos fez dela um espelho
de Iemanjá. E bem se vê que ele sentiu a força divina dos eledás na arte
de seu amigo Carybé, na música do querido Dorival Caymmi, ambos
ligados efetivamente ao culto dos deuses negros. Tendo-se acostumado a
assinalar a presença do mistério na cidade amada, na carne e nos sonhos
de sua gente, como poderia o feiticeiro Jorge escapar-lhes? Como viveria
esse homem de rica imaginação num mundo desencantado? Bem melhor
que na figura ilustre de Pedro Arcanjo ele se sentiu, a meu ver, na pele de
outro personagem, o também materialista Edmilson Vaz, de O Sumiço
da Santa, que aceitava tranquilamente os prodígios de sua terra e pouco
se importava com a contradição.
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A REVISTA MERIDIANO E SEUS 80 ANOS
GILFRANCISCO1
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A REVISTA MERIDIANO E SEUS 80 ANOS
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80
A REVISTA MERIDIANO E SEUS 80 ANOS
***
Condena o sentimentalismo atrofiador de energias.
Desportos. Ar livre. Eugênia.
***
Condena as velhas superstições religiosas, que constituem
o ponto de apoio da ignorância.
Substituam-se as mesmas pelas verdades da ciência.
***
Condena os convencionalismos idiotas que impedem o
surto de todas as idéias novas.
Pensar e agir por conta própria.
***
Condena a tagarelice dos filósofos, a bisbilhotice dos
gramáticos, a literatice dos diletantes, o verbalismo dos
retóricos e as frioleiras dos ‘poetas do amor e da saudade’
Filosofia prática, intuitiva, racional. Literatura instrutiva,
sadia, edificante. Poesia simples, natural, sem artifícios.
***
Condena os ‘ismos’ importados do estrangeiro.
Escrever fora do julgo de estéticas desorientadas e incoe-
rentes.
***
Condena os regionalistas em geral, que querem reduzir
a nossa Literatura a uma fuzarca de violeiros e caipiras.
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Texto publicado no Jornal da Cidade. Aracaju, 24 de dezembro, 2009
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As duas obras que compõem o corpus deste estudo, Jubiabá e Tenda dos
milagres, trazem importantes trechos que confirmam a atenção dada por
Amado à temática da identidade negra e do candomblé especificamente.
Cabe observar que ambos os títulos carregam conotação religiosa, visto
que o primeiro leva o nome de um babalorixá, sacerdote do candomblé,
e o segundo inclui um termo associado ao campo do maravilhoso, inex-
plicável, divino.
Sobre Jubiabá, é importante esclarecer que o protagonista da obra é
Antonio Balduíno, mas é o sacerdote do candomblé que recebe a homenagem
pelo autor, quando a obra leva o seu nome. A importância do babalorixá
aparece em muitas páginas do romance, nas quais, de um lado, o povo
negro e que vive na periferia devota grande respeito e admiração por ele; e
de outro, o povo não negro e elitizado, que não reconhece sua autoridade,
trata-o com desdém e até mesmo como criminoso.
Amado traz, na obra, a sua atenção aos excluídos da sociedade dita
tradicional, que, ao não aceitarem a tentativa de apagamento, resistem e
buscam seu lugar naquele contexto. Como exemplo, pode-se constatar no
trecho a seguir, em que o autor detalha elementos da composição da festa
de São João, a participação do negro e pobre, além de outras minorias,
que despertam o preconceito dos demais, assumindo lugar de destaque:
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IDENTIDADE NEGRA E MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS EM JUBIABÁ E TENDA DOS MILAGRES, DE JORGE AMADO
REFERÊNCIAS
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JORGE AMADO, O COMPADRE DAS TRADIÇÕES NEGRORAIS
INTRODUÇÃO
Antes, agô¸ licença, Orixás, especialmente, Exu. Ele que detém o poder
sobre a linguagem, sobre a comunicação. Além disso, a partir das tradições
orais do candomblé, aprendemos: ele é, junto ao seu irmão Ogum, o Orixá
dos caminhos. Exu vai à frente abrindo e possibilitando escolhas a partir
das suas encruzilhadas, das intersecções da vida. Exu e Ogum são energias
sagradas negras, diaspóricas, que compõem a cultura popular brasileira,
ambos são Orixás lodê, da rua, do espaço aberto aos caminhos e possibili-
dades; eles versam e expandem o que Henrique Freitas (2011) ensina ser a
literatura-terreiro que constrói narrativas negras e escapa os muros do Axé.
O presente artigo advém da pesquisa de mestrado que costura e dia-
loga sobre a influência das tradições orais e cultura negra na literatura de
Jorge Amado. O objetivo é discutir acerca de elementos da cultura negra
na narrativa O Compadre de Ogum como dispositivos de influência das
escrita e vivência do autor no axé, especialmente, no terreiro Opô Afonjá,
onde ele teve o cargo de Obá de Xangô, isto é, ministro do Orixá Xangô.
O Compadre de Ogum versa acerca das dificuldades encontradas na
consolidação do batizado do menino Felício. Sua mãe Benedita mal o
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural, Universidade do
Estado da Bahia (Pós-Crítica/UNEB), linha de pesquisa Literatura, produção cultural
e modos de vida. Membro do Grupo de pesquisa NUTOPIA e bolsista Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). E-mail:alissonvital@gmail.com
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deixa nos braços de Massu, seu pai, logo inicia-se uma polêmica discussão,
pois o menino é branco e possui os olhos azuis, sendo seu pai e sua mãe
negros. Benedita somente informa que o menino ainda é pagão e some
para o estado de Alagoas com suspeitas de doença incurável, surgindo
sem demora conversas sobre sua morte. Então, começam os preparativos
para o batizado. A trama abre caminho e se desenrola com Ogum, Orixá
que tinha Massu como Ogã e filho, decidindo que ele mesmo, Ogum,
será o padrinho. Contudo, a falta de ebó corretamente para Exu cria
possibilidades inesperadas para que o batizado se concretize.
Os costumes do povo negro são aparatos enriquecedores das narrativas de
Jorge Amado. As experiências do nosso povo preto corroboram com muitas
de suas obras, senão de todas. É preciso considerar que a cultura popular
negra é um dos constituintes de seus enredos e a religiosidade do povo
negro da Bahia é um desses elementos culturais mais presentes na literatura
de Jorge Amado, isto é, o candomblé e suas aparamentas, que podem ser
desde as físicas até os modos encantatórios das poéticas negro-orais. Em
suas narrativas, é perceptível que os Orixás sempre são retratados como
personagens de grande significação, complexidade e importância para o
desenvolvimento do enredo, como é notório em O Compadre de Ogum.
Ao pensar na cultura negra e nas estradas encruzilhadas que ela foi
obrigada a se mover para manter-se re-existente na sociedade brasileira,
não há como fugir da expressão cultural que se tornou o grande signo do
povo diaspórico, o candomblé. É nas casas de axé que a ancestralidade
africana reside e resiste no Brasil.
A pesquisadora Vera Campos (2003) nos ensina que a escravidão
diluiu a identidade do povo preto, ela sinaliza também a importância
da feitura/iniciação no candomblé, visto que ela funciona como forma
de “reaver o ser africano” (CAMPOS, 2003, p. 15), exatamente porque
o candomblé mantém, à duras penas, princípios culturais/religiosos/
identidades da sociedade nagô através da oralidade.
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leitura da obra corrobora para perceber que é por meio das narrativas dos
povos de terreiros que o narrador corporifica performances de persona-
gens/contadores; oralizar é uma forma de mitificar suas vidas, é eternizar
pelo dizer. Juana Elbein Santos discorre que “[...] a expressão oral renasce
constantemente” (2004. p. 30), por essa razão a própria história de vida
das personagens negras pode ser observada nas obras amadianas como
uma construção mítica.
O trecho abaixo apresenta a influência de autonarrativas negrorais
na composição da trama em estudo. Repare:
A noite caía por inteiro, as estrelas eram inúmeras naquele
céu sem lâmpadas elétricas, eles não falavam no assunto
que ali os levara. Era como uma reunião social, amigos a
conversar. Doninha narrava coisas de sua infância distante,
recordava gente já desaparecida, Tibéria contava casos.
(AMADO, 2006, p. 27)
A Ialorixá Doninha narra suas histórias de vida que, além de nos
fazer perceber a contação como elemento que move a memória por meio
do corpo e do som da voz (MARTINS, 2003) performando através da
história de vida como ato educativo, também nos apresenta. O romancista
usa um momento de conversa que transita entre a oralidade sagrada e
humana, para relacionar a negroralidade dos Orixás com a dos humanos,
assim, por meio das tradições orais das religiões negro-brasileiras Jorge
Amado constrói os arranjos que estruturaram o enredo da narrativa, com
oralidade que perpassam entre encruzilhadas do sagrado e o profano,
espiritual e físico, Orun e Ayê — céu e terra.
O que também é notório em O Compadre de Ogum é a compreensão
do romancista sobre os fenômenos da História brasileira. Logicamente,
Jorge Amado não busca a explicação de um fato, tendo em vista que o
importante numa narrativa, de acordo com Alfredo Bosi (2003), é en-
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REFERÊNCIAS
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FEVEREIRO DE 22: MODERNISMO E REGIONALISMO NAS LITERATURAS DO BRASIL
Cid Seixas1
1
Professor Titular aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da UEFS.
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uma nova consciência crítica que daria seus frutos maduros dois anos
depois, com o chamado Romance de 30.
Enquanto a arte concebida pelos jovens do novo centro metropolitano
do país construía sua identidade a partir do alimento antropofágico di-
gerido na Europa, os jovens da “roça” tiravam da terra as raízes com que
se alimentavam. Mesmo em São Paulo, um intelectual como Monteiro
Lobato, umbilicalmente moderno quando visto no quadro de qualquer
literatura de recepção mundial, adotou, pioneiramente, postura similar à
que viria a caracterizar a literatura nordestina, sendo de pronto execrado
pela vaia juvenil e visto como um passadista. Tais fatos — que daqui a
pouco serão anciões centenários, quando a Semana de 22 completará
um século — exigem um reexame com olhos do hoje.
O espírito de corpo dos chamados modernistas conduzia um rolo
compressor capaz de esmagar, como uma camada de lama asfáltica,
todos aqueles que não demonstrassem uma aceitação incondicional do
pensamento considerado novo. Muitos conhecem o estigma imposto
pelos ‘vanguardistas’ ao ‘passadista botocudo’ Monteiro Lobato. Como
o furacão da botocúndia derrubou os cavaletes da exposição de Anita
Malfatti, diagnosticada por Lobato como paranoia ou mistificação, os
pontas-de-lança do modernismo conseguiram, por algum tempo e em
vários contextos, esvanecer o esplendente vendaval com que Lobato
enriqueceu a cultura brasileira, desenterrando os tesouros escondidos
no mato e nas ruas obscuras. As ideias do Jeca Tatu, ironicamente esbo-
çadas por Monteiro Lobato como proposta de construção da identidade
nacional, não foram percebidas num momento em que o Brasil buscava
uma fisionomia europeia.
É verdade que a partir de 1928 o modernismo brasileiro passou a
merecer este adjetivo (brasileiro), mas o fosso estava cavado e dividia
profundamente os territórios da arte. Convém lembrar que Oswald de
Andrade, passados os embates da chamada fase demolidora do moder-
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A BIOPOLÍTICA E AS EPIDEMIAS EM JORGE AMADO
Denise Dias1
Licia Soares de Souza2
Maysa Miranda3
INTRODUÇÃO
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A BIOPOLÍTICA E AS EPIDEMIAS EM JORGE AMADO
Mar Morto, 1936, é o quinto livro de Jorge Amado, que vinha com-
pondo, até então, narrativas relativas à conquista do interior do país,
notadamente na zona do cacau do sul do estado da Bahia. A condição
precária dos homens que enfrentam o mar, agora na região litorânea
da capital do estado, confere a Mar Morto uma dimensão lírica que o
distingue das narrativas realistas do território.
A obra de Jorge Amado põe em cena tipos de trama cuja similitude
estrutural permite um resumo comum. Os protagonistas enfrentam conflitos
significativos da realidade brasileira: a dificuldade das comunidades rurais
ou urbanas periféricas de se colocar no mesmo diapasão da idade industrial
que já modela a feição das cidades modernas. A dureza da vida rústica, as
misérias impostas pelas transformações climáticas, e as formas pelas quais
os mais abastados tiram proveito dos campônios ou dos marginalizados
urbanos são efetivamente temas problematizados no conjunto da obra.
O “mar”, nessa obra, está naturalmente associado ao mundo das
origens, constituindo assim um signo previamente carregado de investi-
mentos simbólicos e de questionamentos sobre o sentido sócio-histórico
das polarizações sedentarismo/ nomadismo que determinam a conquista
do território, que serviu de estrada marítima para os colonizadores. O
continente é representado como o domínio da instalação que funda as
identidades e atribui um sentido particular aos destinos. Daí uma ima-
ginação marina, ou mesmo aquática, identificada às ideias de mudança,
subversão ou liberdade que contribui para o crescimento da tensão do
ser americano dividido entre os apelos do alhures e a atração do aqui.
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A BIOPOLÍTICA E AS EPIDEMIAS EM JORGE AMADO
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que dizem que é perto das terras de Aiocá. Mas veio para a
Bahia ver as águas do rio Paraguaçu. E ficou morando no
cais, perto do Dique, numa pedra que é sagrada. (AMA-
DO, 1939, p. 67).
Os índices topográficos das novas terras da sereia Iemanjá servem
para dizer a história, relativizando o mito. Com efeito, Iemanjá instaura
a relação do maravilhoso, destinado a reterritorializar pelos elos sagrados
que unem os afrodescendentes em torno de uma formação cultural co-
mum. De todas as formas, exercendo poder, ela, como deusa, toma posse
do topos geográfico e do topos imaginário das comunidades desterradas
dos antigos escravos.
Iemanjá é dona dos mares, mas os cinco nomes que lhe atribuem
representam relações diferenciadas com segmentos dessa comunidade
reterritorializada, mas também interrogações sobre as dificuldades de
dominar as forças destrutoras das águas. Iemanjá, para todos, é a “senhora
dos oceanos”; para os canoeiros, ela é Dona Janaína; para os negros, seus
filhos mais diletos, e que a temem mais que todos, ela é Inaê ou Princesa
de Aiocá, quando há a necessidade de distinguir espacialmente os conti-
nentes; enfim, são as mulheres do cais, casadas ou da vida, que a chamam
de Dona Maria. Sua identidade é então repartida, à medida que cada nome
encaminha uma espécie distinta de relação com a comunidade, também
segmentada, e orienta seus novos destinos em novas direções. A vitalidade
orgânica que a deusa ganha no Novo Mundo é o melhor testemunho de
formação de terceiras culturas com natureza transcultural, onde se estabelece
uma dialética entre o uno e o diverso e onde o objeto fundador de uma
cultura passa pelo crivo de vários olhares, e vai ressurgindo modificado
em momentos e espaços distintos. E é graças a esse processo de hibridação
que a cultura fundadora assegura sua sobrevivência.
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2 — CAPITÃES DA AREIA
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para a delegacia e consegue pernoitar por lá, de modo que consegue pegar a
imagem e, ao retornar ao trapiche, é saudado com vivas e gritos de alegria.
Depois de uma desavença Ezequiel, um dos meninos, trai Pedro Bala,
entregando-o à polícia que o leva para o tão temido reformatório. Lá, Bala
sofre, passa fome, apanha muito e, por fim, vai para o trabalho forçado
nos canaviais do interior do estado, de onde consegue escapar. Mas, ao
sair, tem a surpresa de Dora ter sido internada no Orfanato, onde está
acamada pela contaminação com a bexiga negra. Então, Bala vai tentar
tirá-la de lá para curá-la com a ajuda dos orixás. É que Don’Aninha vai
fazer um “trabalho”, que não adianta, pois, ao amanhecer, ela está morta.
Durante a noite, Dora pede para se tornar mulher de Bala e o sexo aparece
mais uma vez como castigo, já que ela não resiste e morre. O saveiro de
Querido-de-Deus é o seu carro fúnebre, que se distingue pela falta de
dignidade dos enterros atuais, quando a família não pode se despedir dos
seus familiares. E Dora vai ter seu sono eterno nas águas de Yemanjá.
É possível considerar que, apesar de toda exclusão característica da
vida dos capitães, havia uma contrapartida já que eles dominavam as ruas
da cidade de Salvador, desfrutando do carinho do também excluído povo
de santo, dos mercadores e das prostitutas, além do Padre José que arrisca
sua vida em prol de ajudá-los. Contemporaneamente, na contramão das
atitudes negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, o povo brasileiro,
que sempre foi conhecido por sua acolhida e solidariedade, demonstrou
ainda mais uma enorme capacidade de compartilhar toda sorte de ajuda
e cuidados uns com os outros.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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HISTÓRIA E REVOLUÇÃO BRASILEIRA NO ROMANCE SEARA VERMELHA, DE JORGE AMADO
2018.
MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Tradução de Sebastião
Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018a.
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SOUZA, Licia S,; OLIVEIRA, Humberto Luiz (Orgs.),
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VIANNA, Adriana. As mães, seus mortos e nossas vidas. Revista
Cult, São Paulo, p. 36-39, 2018. [Dossiê “A violência como ordem”].
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HISTÓRIA E REVOLUÇÃO BRASILEIRA NO ROMANCE SEARA VERMELHA, DE JORGE AMADO
Edvaldo A. Bergamo1
INTRODUÇÃO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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HISTÓRIA E REVOLUÇÃO BRASILEIRA NO ROMANCE SEARA VERMELHA, DE JORGE AMADO
REFERÊNCIAS
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JORGE AMADO EM ITALIANO: A REPRESENTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NOS PARATEXTOS
Elena Manzato1
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JORGE AMADO EM ITALIANO: A REPRESENTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NOS PARATEXTOS
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JORGE AMADO EM ITALIANO: A REPRESENTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NOS PARATEXTOS
nas descrições dos objetos rituais — como, por exemplos, abebê, agogô,
ebiri, eruexim — que são descritos esteticamente e ligados às entidades.
À primeira vista, as descrições dos orixás também são mais aprofunda-
das, mencionando características e saudações. Contudo, um olhar mais
atento revela algumas questões problemáticas.
Em primeiro lugar, o uso em italiano da palavra negro em vez de nero,
não deveria estar presente nessa — e em nenhuma – publicação, já que
tem uma clara conotação negativa e depreciativa na língua de chegada.
A palavra aparece na descrição de “afoxé” — “cortejo carnavalesco dos
negri que cantam em nagô”7 — e de “batuque” — “percussão, e em ge-
ral as danças negre”8. No que se refere à aproximação à bruxaria, refiro
aqui a definição de “mandinga”: “Acontecimento sobrenatural, bruxaria,
sortilégio”9, e também destaco a definição de “macumba”, que mistura
sincretismo e bruxaria: “Cerimônia de sincretismo religioso, candomblé,
também sinônimo de bruxaria”10 .
Dentre as descrições dos orixás, três são merecedoras de menção:
aquelas de Exu, de Omolu e de Xangô. A descrição do mensageiro dos
orixás carrega evidentemente os muitos preconceitos a respeito dessa
entidade:
7
Deixei em itálico a palavra para sublinhar a conotação diferente que tem em
italiano, no texto original: “Corteo carnevalesco dei negri che cantano in nagô”.
Tradução da autora.
8
Ver nota antecedente. Em italiano no texto original: “Percussione, e in genere le
danze negre”. Tradução da autora.
9
Em italiano no texto original: “Avvenimento soprannaturale, stregoneria,
sortilegio”. Tradução da autora.
10
Em italiano no texto original: “Cerimonia di sincretismo religioso, candomblé,
anche sinonimo di stregoneria”. Tradução da autora.
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Em italiano no texto original: “Detto ‘il compare’, messaggero degli altri orixás,
facilmente irritabile e dal pessimo carattere, è il primo a cui si rende omaggio
facendogli il ‘despacho’, ossia offrendogli grano soffiato e farina con olio di palma
per convincerlo ad allontanarsi”. Tradução da autora.
12
Em italiano no texto original: “La sacerdotessa più importante del culto ibejis,
diavolessa che nasconde la coda”. Tradução da autora.
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JORGE AMADO EM ITALIANO: A REPRESENTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NOS PARATEXTOS
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REFERÊNCIAS
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AMADO AXÉ DE MAR MORTO
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AMADO AXÉ DE MAR MORTO
INTRODUÇÃO
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1 — DO MAR PARA DENTRO: A TRADIÇÃO, A VIGILÂNCIA, AS
LEIS De IEMANJÁ
187
rando e reproduzindo, incessantemente, os fatos históricos
da sua terra, às vezes em forma de versos musicalizados,
outras vezes simplesmente recitados. (Ayoh’OMIDIRE,
p. 55, 2020).
Tudo conhece o velho Francisco, domina o território, “[...] todas as
coroas, os viajantes, os canais, ele conhece as histórias daquelas águas,
daquelas festas de Janaína, daqueles naufrágios e temporais. Haverá história
que o velho Francisco não conheça? ” (AMADO, 2008a, p. 23). Haverá
alguma escrita, que não possa ser decifrada, preservada no imenso tabuleiro,
que é o mar com seus riscos e linguagem própria? Francisco teria sido o
escolhido de Iemanjá para contar suas histórias e as histórias de seu povo,
ele conhece o território e as vontades da rainha. Do que adiantaria levar a
todos para as suas terras em Aiocá e não ter uma testemunha para manter
viva a sua memória? O velho Francisco é, sem dúvida, aquele vigilante de
que fala Muniz Sodré (2002), um mais velho autorizado a ver Janaína, a
mais bela de todas, a grande sereia. Exu é também o grande vigilante! A
ancianidade de Francisco é medida não apenas por sua idade biológica,
mas também pelas autorizações concedidas por Janaína: o velho, ainda
na ativa como saveirista, viu a rainha e não fora levado ao fundo do mar.
Ver a rainha e ficar vivo para contar, foi uma espécie de consagração,
Francisco pode ser chamado de Oju Iyá, olho da mãe em bom Yorubá
baiano, assim como há o olho do rei Xangô, Oju Obá, do romance Tenda
dos Milagres (2008b). Contudo, em busca de melhor denominação, fui
apresentado pelo Prof. Dr. Félix Ayoh´Omidire ao termo “Omolóju Ye-
manjá”. “Omolóju significa o filho predileto, o favorito, aquele que curte
a intimidade do orixá” ( OMIDIRE, 2021). Indubitavelmente, Francisco,
apesar de não ser iniciado a Iemanjá ou tê-la como dona de sua cabeça, é
também filho da rainha do mar como todos os marítimos. Os aconteci-
mentos demonstraram ser ele senão o predileto e o favorito, com certeza
AMADO AXÉ DE MAR MORTO
um deles, mas o que mais “curte a intimidade do orixá”. Por isso, não
é exagerado dizer que Francisco é um ancestral vivo, podendo transitar,
simbolicamente, entre o mundo dos vivos e o mundo espiritual: Exu tem
essa permissão. Este trânsito inclui o reino de aiocá, fundo do mar e sua
vastidão, o reino do mar, nas informações de Nei Lopes (2004, p. 43),
parece derivar do yorubá “[...] Àyôká, nome-oriki feminino que significa
‘aquela que provoca alegria no seu redor’”.
Ainda a respeito do Velho Francisco, “[...] há até quem diga que uma
vez, na noite, em que salvou toda a tripulação de um barco de pesca,
viu o vulto de Iemanjá, que se mostrou a ele como prêmio” (AMADO,
2008a, p. 23). Exu respeitou o tabu, nada levou sobre sua cabeça, quando
em visita ao Deus supremo e fora tornado por Oludumare o decano dos
orixás, mesmo sendo o mais novo dentre eles. Francisco cumpriu todos os
tabus. Guma descumpriu as leis do cais e de Iemanjá, deixou-se seduzir
por Esmeralda, traiu o amigo Rufino, tornou-se faltoso. Esmeralda não
pagou sozinha com a vida, ferida com um remo, atirada aos tubarões
pela traição. Rufino a golpeou e depois entregou-se ao mar banhado
por sangue, irritando os tubarões. O feminicídio fora cobrado na casa
de Iemanjá, o mar. Na narrativa, o velho é quem ver em Lívia — já no
desfecho da obra — a própria Princesa de Aiocá.
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deve se casar. Um dia vem uma desgraça, tenta a gente, os filhos ficam
com fome” (AMADO, 2008a, p. 112-113). Francisco vira muitas mortes
no mar. Perdeu a esposa, morrera de felicidade, ao saber que o marido
estava vivo, após mais um infortúnio marítimo. Perdeu Frederico, seu
irmão e pai de Guma, quando aquele o salvou do afogamento. Francisco
sabia que dias felizes aos homens do mar eram breves. Aceitou o casa-
mento de Guma, aceitou Lívia, mais uma para sua família. Francisco,
o sábio que ler nas ondas do mar sagrado, lia o destino, era protegido
de Janaína. Todos os marítimos eram filhos de Janaína, esposos quando
chamados às águas profundas, o reino de Aiocá.
Guma morreu precocemente, mas seu filho com Lívia, o pequeno
Frederico — homônimo do avô paterno — teria um futuro garantido
por sua mãe — que se tornara saveirista — e por Rosa Palmeirão, avó
adotiva. Teria Francisco previsto tudo isso ou apenas Guma precipitou
seu fim por descumprir as leis do cais e de Iemanjá? Esmeralda, esposa de
Rufino, melhor amigo e vizinho de Guma, conseguira o pretexto ideal
para entrar na casa de Guma e praticamente forçá-lo à pratica sexual,
quando a esposa estaria sendo cuidada pela companheira de Rufino.
O sentimento de culpa e a certeza de ter traído o amigo, a esposa e as
rígidas leis regedoras dos saveiristas levaram Guma à intranquilidade.
Guma, pedira uma esposa à Iemanjá e como seu protegido recebeu a
mais bela de todas: Lívia.
Envolvido em contrabando, Guma foi instigado pelo poderoso F.
Murad, o árabe mais rico de Salvador, a voltar em meio à turbulência
marítima e naufrágio, a salvar seu filho.
— E meu filho? Meu Antônio? Ele foi com vocês, não foi?
— Foi.
— Vá salvar ele. Vá, lhe dou tudo que quiser.
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REFERÊNCIAS
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SALVADOR DA INFÂNCIA ABANDONADA: REPRESSÃO, VADIAGEM E SUBVERSÃO EM CAPITÃES DA AREIA
Boa parte da obra de Jorge Amado, sem dúvida, pode ser caracterizada
pelas articulações que o escritor estabelece entre cidade, cultura, política
e identidade. As cidades, seja Salvador ou as demais tematizadas pelo
escritor, são representadas como locus onde se imbricam repressão política
e cultura popular, cor de pele e luta de classes, liberdade e abandono,
solidariedade e indiferença. Ou seja, no universo romanesco amadiano
a cidade se faz perceptível como espaço culturalmente heterogêneo, no
qual o binômio exclusão social e luta por sobrevivência está presente
como linha mestra.
O romance Capitães da areia, dividido em três partes e mais um
prólogo, não narra apenas o drama de crianças órfãs, mas também uma
complexa rede de sociabilidades tecidas no cotidiano de uma cidade, cujos
verdadeiros “donos” é a imensa população de pobres que faz das ruas o
palco de uma luta. É um livro sobre uma saga coletiva onde as ruas de
Salvador e seus personagens vêm ganhar protagonismo.
No romance, percebe-se muito bem que a narrativa sobre a cidade
está atrelada ao modo como o texto expõe as vivências e a dinâmica
cultural da população pobre nas vielas sinuosas da “velha urbe”. Embora
apresente um espaço urbano hostil e segregante, o livro revela a relação
simbiótica entre a cidade e seus personagens. A cidade de Salvador, em
1
Mestre em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB -
Campus I), com bolsa integral da CAPES (2014). Advogado, graduado em Direito,
também pela Universidade do Estado da Bahia (2010), (UNEB - Campus I).
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SALVADOR DA INFÂNCIA ABANDONADA: REPRESSÃO, VADIAGEM E SUBVERSÃO EM CAPITÃES DA AREIA
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SALVADOR DA INFÂNCIA ABANDONADA: REPRESSÃO, VADIAGEM E SUBVERSÃO EM CAPITÃES DA AREIA
colonial, mas que era bastante áspera e rude em relação àqueles que a
tinham como único espaço de sobrevivência.
Pedro bala, enquanto sobe a ladeira da montanha, vai
pensando que não existe nada melhor no mundo que andar
assim, ao azar, nas ruas da Bahia. Algumas destas ruas são
asfaltadas, mas a grande, a imensa maioria é calçada de
pedras negras. [...] Pedro Bala continua seu caminho. O
professor vai com ele. [...] A cidade está alegre, cheia de
sol. “Os dias da Bahia parecem dias de festa”, pensa Pedro
Bala, que se sente invadido também pela alegria. Assovia
com força, bate risonhamente no ombro de Professor. E os
dois riem, e logo a risada se transforma em gargalhada. No
entanto, não têm mais que uns poucos níqueis no bolso,
vão vestidos de farrapos, não sabem o que comerão. Mas
estão cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas
ruas da cidade (p. 131).
Ressalvada a beleza estética da imagem criada por Jorge Amado na
passagem citada, o cenário urbano da cidade no início do século XX
também se compunha de abandono, repressão e ocupação das ruas pelos
desafortunados. Isto é, mendigos, homens e mulheres pobres, crianças
e adolescentes abandonados eram perseguidos e criminalizados pelas
diversas instituições judiciárias que, como braço do Estado, buscavam
garantir o controle social. Como destaca Andréa da Rocha Rodrigues,
em “A infância esquecida: Salvador 1900-1940”:
A prisão de menores foi tão comum em nossa sociedade
que, ainda em 1931, houve a necessidade do Sr. José Ma-
ria de Lima encaminhar ao juiz de menores uma ordem
de Habeas Corpus em favor de menores que se achavam
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REFERÊNCIAS
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O MANDONISMO MODIFICADO NO ROMANCE HISTÓRICO GABRIELA, CRAVO E CANELA, DE JORGE AMADO
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O MANDONISMO MODIFICADO NO ROMANCE HISTÓRICO GABRIELA, CRAVO E CANELA, DE JORGE AMADO
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“— Não vim aqui para pedir, vim aqui para contar”. E o primogênito
replica “— Orgulhoso, o rapazinho…” e segue a conversa: “— sozinho,
não te elegerás — previu Emílio. — Sozinho vou me eleger. E no terço
da oposição. Governo, só quero ser lá mesmo, em Ilhéus. Governo que
vou tomar, não vim aqui para solicitá-lo a vocês” (AMADO, 2012, p. 41).
Primeiramente, é importante observar que a figura de Mundinho
não é de alguém destituído de personalidade e autonomia, seja em
termos estético-literários, seja como representação de uma classe social
determinada que se coloca como sujeito “revolucionário”, alavancando o
progresso. O jovem Raimundo M. Falcão é um personagem que poderia
ser definido como um ser espirituoso, forte, decidido, de decisões firmes
e ações medidas, conforme demonstrado acima e também em outros
momentos do romance — o que, efetivamente, não poderia ser diferente,
dado o papel que ele cumpre na narrativa.
De todo modo, um leitor atento perceberá que existe uma característica
marcante em Gabriela, qual seja, a construção da narrativa sustentada
em dois planos: no primeiro, acompanhamos as histórias, as paixões e os
destinos individuais; já no segundo plano, observamos o desenvolvimen-
to das ações individuais culminar em decisões/ações coletivas. Em seu
estudo intitulado De Cacau a Gabriela: um percurso pastoral, José Paulo
Paes (1991) aborda este aspecto no romance de 1958, porém ele ressalta
que a coletividade se centra na luta política entre Ramiro e Mundinho
e que a individualidade se expressa no idílio amoroso de Gabriela e
Nacib — o que está correto. No entanto, considerando a expressividade
da figura de Mundinho Falcão na história (quase sempre ocupando o
centro das atenções) e observando certos traços sua personalidade — a
saber, manifestações despóticas, autoridade nas ordens dadas, ausência
de modéstia, astúcia e determinação em seus projetos —, veremos que
há um esforço em se construir uma individualidade que difere daquela
identificada por Paes. À primeira vista, Mundinho, assim como a própria
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O MANDONISMO MODIFICADO NO ROMANCE HISTÓRICO GABRIELA, CRAVO E CANELA, DE JORGE AMADO
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REFERÊNCIAS
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JORGE E A CULINÁRIA DE RITOS E SABERES: UMA PROSA ENTRE GASTRONOMIA E LITERATURA
INTRODUÇÃO
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JORGE E A CULINÁRIA DE RITOS E SABERES: UMA PROSA ENTRE GASTRONOMIA E LITERATURA
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CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
REFERÊNCIAS
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A REGIÃO CACAUEIRA NOS ESCRITOS DE JORGE AMADO
INTRODUÇÃO
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Cacau — 1933
Primeiro romance do ciclo do cacau. Mostra a vida sofrida dos tra-
balhadores das fazendas de cacau no Sul da Bahia na década de 1930.
Terras do Sem-Fim — 1943
Mostra a vida sofrida dos que venceram a mata, plantaram e colheram
os frutos dourados. Retrata a força e a violência dos coronéis na época
da conquista da terra.
São Jorge dos Ilhéus — 1944
Continuação do romance Terras do Sem-fim. É uma radiografia do
drama da economia cacaueira, a passagem das fazendas para as mãos
de exportadores, elementos exógenos, porém, organizados e dinâmicos.
Gabriela, Cravo e Canela — 1958
Romance de costumes, retrata a Ilhéus de 1920 com seus coronéis,
fazendeiros, assassinatos, amores, manobras políticas.
O Menino Grapiúna — 1981
Reminiscências de sua época de garoto nas fazendas de cacau.
Tocaia Grande: a face obscura — 1984
Neste romance o personagem principal é a cidade; conta a história
do lado obscuro de sua criação com seus personagens: trabalhadores,
jagunços, prostitutas e aventureiros em busca de um pedaço de chão.
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A REGIÃO CACAUEIRA NOS ESCRITOS DE JORGE AMADO
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REFERÊNCIAS
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A SAGA AMADIANA E O TURISMO: IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
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A SAGA AMADIANA E O TURISMO: IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
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A SAGA AMADIANA E O TURISMO: IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
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REFERÊNCIAS
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A SAGA AMADIANA E O TURISMO: IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
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A POLISSEMIA DO ESPAÇO MARÍTIMO EM MAR MORTO, DE JORGE AMADO
1 — PONTO DE PARTIDA
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A POLISSEMIA DO ESPAÇO MARÍTIMO EM MAR MORTO, DE JORGE AMADO
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A POLISSEMIA DO ESPAÇO MARÍTIMO EM MAR MORTO, DE JORGE AMADO
Aiocá onde se fala nagô e onde estão todos os que morreram no mar.”
(AMADO, 2001, p.72). Na obra de Jorge Amado, portanto, insurgem
representações de existências negras e seus modos de ressignificação
cultural e identitária como forma de resistência. Essas representações
são de grande importância, principalmente para inscrever, na literatura
brasileira, indivíduos que constituem a nação, mas, muita das vezes, dela
são excluídos.
Dessa forma, contemplamos as três visadas propostas em relação à
representação do espaço marítimo no romance amadiano. São muitos os
caminhos do mar e as possibilidades de mergulho a se realizar ao longo
de nossas leituras. Navegar nessas águas e em seus líquidos significados é
gesto necessário para vislumbrarmos horizontes possíveis de entendimento
sobre a poética do outro e de nós, viabilizados pela estética produzida
por um dos mais expressivos romancistas de nossas letras.
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II WEBINÁRIO ESTUDOS AMADIANOS: 20 ANOS DE PERMANÊNCIA
REFERÊNCIAS
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AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E
SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
Volker Jaeckel1
INTRODUÇÃO
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II WEBINÁRIO ESTUDOS AMADIANOS: 20 ANOS DE PERMANÊNCIA
O romance Tenda dos Milagres foi publicado em 1969, que seja talvez
a obra com mais enfoque na questão do Candomblé e livro predileto de
Jorge Amado, uma vez que aprofunda a questão da mestiçagem racial
e da mestiçagem cultural inerente ao povo baiano. Nele também está
sendo questionada duramente a ciência positivista e determinista, que
foi propagada desde o fim do século XIX e estava ainda presente no
pensamento brasileiro na segunda metade do século XX. O personagem
principal, Pedro Archanjo, autodidata e assíduo da “universidade da vida”
nas ruas do pelourinho, é reconhecido por “sábios” cientistas do exterior
como notório autor de obras reflexivas sobre a questão racial brasileira.
O texto mostra tanto a influência como a permanência da cultura
africana no Brasil e a sua contribuição para um convívio multirracial e
sincrético. O romance pode ser lido com um canto de amor à mestiçagem
e à Bahia, à cultura negra que vai da cozinha ao Candomblé, e serve
de aprofundamento para as temáticas da religiosidade (GERMANO,
2008, p. 43).
Tenda dos Milagres foi escrito por Jorge Amado entre março e julho
de 1969 e retoma temas que já se anunciavam em outras obras, espe-
cialmente em Jubiabá, romance protagonizado por Antônio Balduíno,
líder negro de origem pobre, assim como Pedro Archanjo, personagem
principal de Tenda dos Milagres.
2
Veja sobre este aspecto a análise em Jaeckel, 2010, p. 66-75.
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AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
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AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
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AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
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Bahia e do Brasil, uma vez que naquela época, em plena ditadura militar,
multiculturalismo e tolerância étnica não estavam em pauta da política
oficial. Ainda no próximo romance a ser analisado encontramos muita
resistência, preconceitos raciais e religiosos expressos pelas personagens
Adalgisa, Padre José Antonio Hernandez, e o juiz de menores, Liberato
Mendes Prado d’Ávila.
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AFRO-RELIGIOSIDADE, CANDOMBLÉ E SINCRETISMO EM DUAS OBRAS DE JORGE AMADO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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PRÓLOGO
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Vou lhes contar uma história de bichos, que saídos das mãos de
homens, artistas e artesãos, aportaram na casa da Rua Alagoinhas, 33,
vindos daqui e do fim do mundo. Na sala de visitas desta casa eles con-
viviam, sintonizados, representativos do espírito eclético e harmonioso
do seu dono: o escritor Jorge Amado. E ademais em uma demonstração
da potencialidade da imagem fotográfica de nos remeter ao passado, de
ser uma fonte de informação e criação de narrativas memorialísticas.
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Notícia divulgada no site da Rede Bahia. Disponível em: <http://g1.globo.com/
bahia/noticia/2012/04/morre-cao-de-estimacao-de-jorge-amado-e-zelia-gattai.
html>. Acesso em: 6 ago. 2016.
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Reza a lenda que Jorge Amado, convidado para uma matança do porco
na casa de José Franco, onde todos os preparativos e rituais estavam à
espera do ilustre convidado, ao chegar, não permite que a matança seja
executada por pena e dó do animal que seria sacrificado. O Porco, a
figura/objeto talvez simbolize e represente a esperança e o direito à vida
dos animais, bandeira levantada pelo escritor.
Vindos de longe e intercambiados com a moeda do afeto, esses ob-
jetos, cabra e porco e tantos outros que saiam das mãos de José Franco
e que ocupam os espaços da casa do escritor,4 chegavam à casa do Rio
Vermelho vindos de Lisboa, pelo Porto de Salvador, como podemos saber
através da declaração de Zélia Gattai (1999a, p. 227):
Tínhamos a tranquilidade de comprar o que bem quisésse-
mos, sem nos preocupar com o peso. Embarcaríamos tudo
no navio, em Lisboa, e desembarcaríamos tudo no porto de
Salvador, a bem dizer, na porta de casa, sem problemas. [...]
Voltamos sempre ao Sobreiro em nossas visitas a Portugal.
No entanto, o que nos atraia já não era tanto as cerâmicas
como o encontro com nosso amigo José Franco. Homem
de bem, grande artista, grande amigo.
Transitando e cultuando “mestres das artes” e “criadores da cultura
popular,” Jorge Amado (1992), ao cultivar a lei da boa vizinhança, as
cumplicidades e conivências, agrupava e fazia conviver, no mesmo espa-
ço, obras de artistas de origens as mais diversas, tal qual vivia a própria
vida, como a canta em prosa e verso: “Privei com alguns dos mestres
das artes, dos verdadeiros, no universo da ciência, das letras e das artes:
Picasso, Sartre, Frederic Joliot-Curie, meu privilégio foi tê-los conhecido.
4
No livro Rua Alagoinhas 33, Rio Vermelho, as obras do artesão José Franco
ocupam as páginas 146-149, numa demonstração do apreço e valor que lhe foi
dado pelo escritor Jorge Amado.
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E ASSIM ....
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LER O QUE NÃO EXISTE
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LER O QUE NÃO EXISTE
da santa, não fosse o fato de uma curiosidade sem fim ter se acendido:
Por quê? Por qual razão Jorge Amado abortaria uma narrativa tão lon-
gamente maturada? Evidentemente, esta é uma pergunta impossível de
ser respondida, a não ser com alguma liberdade e muitas inferências, o
que pode contrastar com o rigor de uma academia mais ortodoxa, regida
ainda pelo espírito da modernidade e, portanto, avessa ao caráter mais
aberto dos desdobramentos ensaísticos. Ainda que representasse um risco,
resolvi seguir o rastro ondulante de A guerra dos santos, pois algo de sua
composição interessava à tese: sua perspectiva única sobre o candomblé.
Acontece que um dos pontos principais do argumento que desenvolvo
na tese se refere ao fato de as comunidades-terreiro se constituírem como
heterotopias africano-brasileiras, o que significa dizer que elas engendram
um modo de vida outro em relação à norma estabelecida pela matriz
colonial de poder. Uma outra ética; uma outra organização social, uma
outra economia dos afetos, uma outra cosmovisão, um outro regime de
encontros com a diferença, uma outra dimensão de vida. De fato, ao
se investigar a presença do candomblé nos romances de Jorge Amado,
tem-se que ela se organiza em torno de cinco pilares:
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LER O QUE NÃO EXISTE
interioridade dos Ilê Axé, então reprodutores das mesmas relações situadas
da porteira para fora e sinalizadas de forma negativa.
Neste cenário atípico para a literatura amadiana, os Terreiros já não
seriam “lugares outros”, de onde emanariam vislumbres possíveis de uma
configuração social potencializadora dos corpos, mas a triste imagem da
desesperança de quem procura por alternativas e não as encontra.
Boris, o Vermelho e A guerra dos santos a rigor não existem. Nunca
foram escritos e publicados. No entanto, lê-los a partir dos restos sobrevi-
ventes do que seriam, dispersos aqui e ali sob alguma camada de poeira e
de silêncio, ajuda a dimensionar o invariável compromisso ético de Jorge
Amado em produzir aberturas e pensar saídas em relação ao erro absurdo
que nós temos sido (e ainda somos) como sociedade.
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INTRODUÇÃO
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A obra indicada para a turma foi Suor (1934) de Jorge Amado. Ela
foi escolhida de maneira coletiva (pelos professores de Língua Portu-
guesa, História, Geografia, Biologia, Espanhol, Artes, Educação Física e
Filosofia), levando em conta aspectos que perpassam as disciplinas, mas,
sobretudo, a denúncia da violência social, os preconceitos e as discrimi-
nações sofridas pelas minorias.
Na narrativa, cada capítulo apresenta uma personagem exercendo sua
profissão (seja de violinista, costureira, prostituta, lavadeira, sapateiro,
vendedor, motorista, pedreiro, professor, ator e etc). Todavia esses ofícios
não resultam em uma qualidade de vida, pelo contrário, configuram
condições subumanas que consomem todas essas famílias e não resultam
em mínimo de bem-estar para se ter uma vida de qualidade. São vinte
capítulos que ilustram os mais diversos dramas dessa população excluída,
contudo, a partir do décimo oitavo capítulo (68, ladeira do Pelourinho),
esses moradores, com narrativas tão diversas, porém similares, unem-se
contra a exploração.
O texto selecionado pretendia simbolizar a sociedade em que esses
discentes estavam inseridos, para que fosse possível fazer eles pensarem
fora do conforto dos lares deles e refletir sobre a dificuldade das mino-
rias. Além desse contexto mimético, todas as atividades desenvolvidas
buscaram unir esses alunos, pois ambos vivenciavam um contexto de
isolamento devido ao novo Coronavírus, semelhante a obra: da fragmen-
tação à união, essa conciliação foi possível por meio de tecnologias da
informação e do trabalho desenvolvido. De resto, esse trabalho, realizado
de forma remota e interdisciplinar, verificou como essa prática docente
coletiva contribui para a formação de alunos leitores.
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outras formas de reprodução que vão além do livro físico (vídeos, filmes,
produtos digitais, podcast, performances de dança etc).
Em suma, para dizer de forma sintética, a literatura, tal
como concebemos no paradigma do letramento literário, é
uma linguagem que se apresenta como um repertório de textos e
práticas de produção e interpretação, pelos quais simbolizamos
nas palavras e pelas palavras a nós e o mundo que vivemos.
(COSSON, 2020, p. 177, grifo do autor)
Para o letramento literário, a literatura proporciona uma troca de
saberes, uma transferência de sentidos que ocorre na relação entre o
leitor e os textos, assim o ledor é um ser ativo, visto que a leitura traz
para o texto as experiências, a cultura e as emoções dele. Essa prática de
leitura literária busca desenvolver a competência leitora dos discentes,
levando em conta que o aluno não é uma tábula rasa, ele já traz alguma
competência literária e essa deve ser ampliada por meio do letramento
literário.
Conforme Cosson, “[...] esse paradigma tem como conteúdo do ensino
da literatura a linguagem literária, compreendida como um repertório
de textos e práticas de ler e produzir obras literárias.” (COSSON, 2020,
p. 183), nesse momento, entra a importância de levar em conta a tríade
(texto, intertexto, contexto). Assim, o texto leva em conta o momento de
leitura, união entre a obra e o legente; o intertexto leva em consideração
a relação entre o texto indicado e outros textos existentes que se relacio-
nam, direta ou indiretamente, ao texto lido; o contexto relaciona o texto
ao seu momento de compreensão, o espaço-tempo que ele é entendido e
debatido. Acerca dos métodos utilizados no paradigma letramento lite-
rário, deve-se levar em conta principalmente essas estratégias de manejo
do texto e compartilhamento de sentido por parte do alunado, levando
em conta a tríade mencionada.
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possibilitando uma análise crítica do texto literário, por meio dos debates
em torno do seu conteúdo, as tensões sociais que perpassam o enredo e
as identidades das minorias sociais que são representadas.
Logo após o debate desenvolvido pelos professores, os alunos nova-
mente expressaram a sua opinião sobre a obra e também sobre o encontro
interdisciplinar. A maioria dos alunos demonstrou achar bastante pro-
dutivo e positivo esse tipo de aula, relataram acerca da necessidade de se
desenvolver mais momentos semelhantes ao ocorrido. Assim, observa-se,
nessa etapa, comentários avaliativos e autoavaliativos.
Por fim, o projeto desenvolveu a avaliação da leitura do texto literário,
ela se deu da seguinte forma: os professores elencaram coletivamente
alguns temas que perpassam a obra. Como se tratava de uma turma de
terceira série do ensino médio, foi definido, em conjunto, que os alunos
deveriam produzir um texto dissertativo-argumentativo, nos moldes do
ENEM, tentando relacionar a obra Suor (1934) de Jorge Amado a um
dos temas propostos, de forma clara e coesa, inserindo a narrativa em
questão às estratégias argumentativas que esse gênero propõe. Os temas
em questão foram: “Combate ao trabalho análogo à escravidão no Bra-
sil”, “Desafios para a garantia ao direito à saúde no Brasil”, “Meios para
superar a desigualdade social no Brasil”, “O acesso ao saneamento básico
no contexto social do Brasil”, “A questão do planejamento familiar no
Brasil do século XXI”. Posteriormente, ocorreu o momento de análise e
discussão dos textos desenvolvidos, debate sobre os temas não contem-
plados nas avaliações, além de ocorrer, novamente, uma avaliação da
prática interdisciplinar.
Apesar de ter sido desenvolvida a atividade de produção textual ao
final para concretizar o entendimento do texto e expor, ainda mais, a
experiência literária, deve-se enfatizar que a avaliação, quando se trata
de uma sequência que visa desenvolver o letramento literário, se dá de
forma processual. Dessa maneira, todas as etapas do processo são leva-
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3º EM
OBRA LITERÁRIA: Suor, autor Jorge Amado, 1934
DISCIPLINAS CONTEÚDOS RELACIONADOS
ARTE • Manifestações Tradicionais Europeias do Sé-
culo XIX
• Vanguardas Europeias na Primeira Metade do
Século XX
BIOLOGIA • Questões nutricionais e equilíbrio funcional
do corpo
• Higiene e doenças
EDUCAÇÃO • Exercícios Físicos x Atividades Físicas
FÍSICA
FILOSOFIA • Ética - Moral - Liberdade
• Direitos Humanos e Sociais
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REFERÊNCIAS
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IDENTIDADE DE “MÃO DUPLA” EM DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS: VISÕES CRÍTICAS
histórica da crítica Dona Flor e seus dois maridos and the historical
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Vera Rollemberg; Textos Eliane Azevedo et. al; Capa e ilust. Floriano
Teixeira. Salvador: FCJA / EDUFBA.
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