Você está na página 1de 9

Introdução

Denomina-se aprendizagem o processo de aquisição de conhecimentos, habilidades,


valores e atitudes, possibilitado através do estudo, do ensino ou da experiência. Este
processo pode ser analisado sob diversas perspectivas, pelo que existem diferentes
teorias da aprendizagem. A psicologia condutivista, por exemplo, descreve a
aprendizagem de acordo com as alterações que se podem observar no
comportamento de um indivíduo.

O processo fundamental na aprendizagem é a imitação (a repetição de um processo


observado, que requer tempo, espaço, habilidades e outros recursos). Desta forma,
as crianças aprendem as tarefas básicas necessárias para subsistir.

Ainda, podemos definir a aprendizagem como um processo que envolve adquirir


novos pensamentos, atitudes e ações usando-se de adquirir e assimilar informações,
seja de forma consciente ou nem tão consciente assim, como no caso da
aprendizagem acelerada usando a hipnose, por exemplo.

Deste modo a aprendizagem pode ser analisada a partir de diferentes perspectivas,


fazendo com que existam diferentes teorias sobre a aprendizagem.

1. A aprendizagem pode ser delimitada de forma mais precisa pelos quatro


pressupostos seguintes:

● O facto da aprendizagem não se reduzir a conhecimentos factuais, isto é ,


todos os comportamentos dependem virtualmente da aprendizagem, que está
envolvida em toda e qualquer área do conhecimento e do comportamento.

● O facto da aprendizagem não ser sempre correta, ou seja , é possível adquirir


conhecimentos incorretos, adotar maus hábitos e responder
inadequadamente a situações.

● O facto da aprendizagem não ser necessariamente intencional e deliberada,


aliás, parte significativa do repertório aprendido foi adquirido, subtilmente ,
através do processo de socialização.
● O facto da aprendizagem não ser diretamente observável, mas apenas inferida
a partir do comportamento observável.Assim só se pode concluir algo sobre o
que foi aprendido a partir do desempenho dos indivíduos numa dada situação.

No entanto para que certos comportamentos, conhecimentos, habilidades e valores


sejam considerados aprendizagem, estes têm de ser estáveis, isto é, o que tentamos
aprender tem de ter uma mudança persistente e contínua e não uma mudança
momentânea. Tem também de afetar o comportamento ou os processos mentais, ou
seja, os processo emocionais, cognitivos e motivacionais manifestam-se nos
comportamentos que temos e altera a forma como pensamos.

2. A aprendizagem pode ser dividida em dois grupos:

● Aprendizagem simbólica que se caracteriza pela observação e imitação com


recurso a símbolos e representações.

● Aprendizagem não simbólica

Apesar da aprendizagem estar dividida em dois grupos, estes apresentam diversas


semelhanças em dois tipos de aprendizagem, a aprendizagem comportamental e a
aprendizagem cognitiva. A aprendizagem comportamental pode ser feita por
condicionamento clássico e condicionamento operante, e a aprendizagem cognitiva é
feita através de conhecimento, observação e imitação.

A aprendizagem comportamental corresponde a uma associação apreendida entre


dois estímulos (condicionamento clássico) utilizado para antecipar eventos, ou entre
um estímulo e um comportamento (condicionamento operante) utilizando a
associação entre o nosso comportamento e as suas consequências, repetindo-o ou
evitando-o consoante produza bons ou maus resultados.

A aprendizagem cognitiva é uma abordagem mais ativa de ensino, na qual as


respostas dos alunos não são julgadas apenas pela correção, como também pela
forma como o estudante chega à sua resposta. Essa forma de aprender é baseada em
um termo chamado “metacognição”, que é, basicamente, a ideia de pensar sobre o
próprio pensamento.

3. Aprendizagem comportamental
É uma forma de aprendizagem que está dividida em dois tipos de aprendizagem a
aprendizagem comportamental corresponde a uma associação apreendida entre dois
estímulos (condicionamento clássico) utilizado para antecipar eventos, ou entre um
estímulo e um comportamento (condicionamento operante) utilizando a associação
entre o nosso comportamento e as suas consequências, repetindo-o ou evitando-o
consoante produza bons ou maus resultados.

Esta forma de aprendizagem surge fortemente associada às teorias


comportamentalistas
( ou behaviorista ) e a respostas externas objetivamente observáveis. Em
contrapartida, os teóricos da aprendizagem por observação focam-se nos aspectos
mais internos e cognitivos da aprendizagem.

3.1 Condicionamento clássico

Condicionamento clássico foi uma teoria introduzida por Ivan Pavlov, um físico russo
conhecido pelos seus estudos sobre os atos reflexos e secreções digestivas. Na época
que Pavlov introduziu o condicionamento clássico ,estava concentrado noutra
pesquisa, no entanto notou que o cão que usava para a experiência começava a
salivar, não só quando dava a comida , mas também quando ouvia os seus passos. Foi
este episódio que influenciou Pavlov a estudar o conceito de aprendizagem.

Começou então um estudo com a intenção de entender esse conceito. Assim, cada
vez que dava de comer ao cão, o cão começava a salivar. Este processo foi avaliado
por Pavlov da seguinte maneira:

1. Estímulo incondicionado( comida ) conduzia a uma resposta incondicionada (


salivação )

Em seguida, Pavlov inseriu no estudo o som de uma campainha para ver se o cão
saltava, mas isso não aconteceu:

2. Estímulo neutro (campainha) → Sem resposta (sem salivação)

Em seguida, tocou a campainha e ofereceu comida, o que fez o cão salivar:

3. Estímulo incondicionado (comida) + estímulo neutro (campainha) conduzia a


uma resposta incondicionada (salivação)
Após a realização deste procedimento por algum tempo, Pavlov percebeu que o cão
salivava cada vez que a campainha tocava, mesmo se a comida não fosse
apresentada, ou seja:

4. Estímulo condicionado (campainha) →resposta condicionada (salivação)

Através desta experiência, Pavlov chegou à conclusão que estímulos neutros podem
ser transformados em estímulos condicionados, produzindo uma resposta
condicionada. Mesmo no dia-a-dia, o condicionamento clássico é visível em todos
nós, por exemplo se imaginarmos uma situação em que uma pessoa diz a outra “ -
precisamos de conversar”, ao ouvir estas palavras, sentimo-nos preocupados e
ansiosos, existem muitos outros casos em que o condicionamento clássico se aplica à
vida real, como a campainha da escola, alarmes contra incêndio, entre outros.

3.2 Condicionamento operante

Edward Thorndike foi um psicólogo americano que formulou a A lei do efeito, que foi
a primeira formalização de um princípio que está por detrás de toda a psicologia
comportamentalista, este sugeria que as respostas seguidas de perto pela satisfação
ficarão firmemente ligadas à situação e, portanto, mais propensas a voltar a ocorrer
quando a situação se repete. Por outro lado, se a situação é seguida por desconforto,
as ligações com a situação serão mais fracas, e o comportamento de resposta é
menos provável de ocorrer quando a situação é repetida.

Mais tarde Burrhus Skinner um psicólogo americano formulou uma análise mais
detalhada do condicionamento operante de maneira a distingui-lo do
condicionamento clássico, usando a famosa caixa de Skinner para as suas
experiências. Este condicionamento envolve o comportamento voluntário e
controlável, e não as respostas fisiológicas automáticas, como no caso do
condicionamento clássico. No condicionamento operante, a ação está associada a
consequências pelo organismo. As ações que são reforçadas tornam-se mais fortes
ou frequentes e as ações que são punidas começam a perder frequência.

Realizou ainda outras experiências uma delas sendo relativas ao reforço positivo e
negativo

● Reforço positivo :
É atribuída uma recompensa para premiar e estimular a repetição do
comportamento pretendido, isto é, por exemplo se colocarmos um rato numa gaiola
com uma alavanca caso o rato pressione a alavanca este era recompensado com
alimento funcionando como um reforço para o rato, uma vez que fazia produzir um
aumento da resposta através da atribuição de um recompensa.

● Reforço negativo :
Estímulo aversivo que, quando removido, reforça o comportamento que esteve na
origem da remoção, ou seja, à criação de uma associação que visa aumentar uma
resposta através da eliminação de um estímulo negativo, por exemplo , a gaiola onde
se encontra um determinado rato produzir um som alto ou eletrochoques até que
este pressione a alavanca.

Apesar de diferentes, Skinner , conclui que o condicionamento operante envolve os


mesmos princípios que o condicionamento clássico:

● Aquisição : Corresponde ao primeiro passo da aprendizagem, no âmbito do


qual a resposta aumenta porque está associada ao esforço.

● Generalização : Pela semelhança que apresenta como o estímulo original, um


outro estímulo gera a resposta condicionada.

● Discriminação : Apesar de semelhante ao estimulo original, um outro estimulo


não produz a respoat condicionada.

● Extinção : A resposta condicionada perde intensidade ou desaparece na


ausência de reforço.

Skinner mostrou que com a ajuda do trabalho de Thorndike a aprendizagem pode


envolver tanto punição como reforço, uma vez que o objetivo do reforço é aumentar
a frequência do comportamento e a punição tem como objetivo a extinção do
comportamento, ou seja, com o passar do tempo, a probabilidade de ele ocorrer
novamente diminui. Ambos os termos podem ser descritos em termos positivos e
negativos.
O reforço positivo oferece algo desejável para aumentar comportamentos, enquanto
que o reforço negativo remove algo indesejável para aumentar comportamentos. A
punição positiva ( ou aversiva ) envolve a ação de um estímulo aversivo, ou seja ,
oferece algo indesejável para reduzir comportamentos, enquanto a punição negativa
envolve a eliminação de um estímulo remove algo desejável para reduzir
comportamentos negativos.

Um exemplo destes termos numa situação do quotidiano é por exemplo, numa luta
entre dois irmãos , num cenário de luta pelo comando da televisão, nesta situação os
pais têm de decidir castigá-los com uma repreensão assertiva ( punição positiva ou
negativa ) ou retirar-lhes o acesso à televisão durante um período de tempo
( punição negativa ).

4. Aprendizagem cognitiva

Ainda que com algumas diferenças, tanto o condicionamento clássico como o


condicionamento operante procuraram explicar a aprendizagem com base nas
mudanças de comportamento. Mas nem todas as aprendizagens se traduzem em
respostas diretamente observáveis. Com base nesta ideia, outras teorias surgiram
para abordar os aspectos cognitivos da aprendizagem.

4.1 Teoria da Aprendizagem por insight

Na década de 1910, Wolfgang Köhler, um dos fundadores da Psicologia da Gestalt,


conduziu um conjunto de experiências sobre a resolução de problemas por
chimpanzés em Tenerife, Ilhas Canárias. Ao longo dos seis anos em que pesquisou na
ilha, Köhler escreveu Intelligenzprüfungen an Menschenaffen, livro onde estão
registadas dezenas de experiências nas quais os primatas eram expostos a
situações-problema que poderiam ser solucionadas com o uso de ferramentas
disponibilizadas no ambiente, ou seja , por compressão súbita.

Os estudos de Kohler incluíam dois tipos de situações experimentais:


● Experiências mais simples envolvendo elementos próximos uns dos outros:
por exemplo, uma situação em que o chimpanzé se encontra no interior de
uma jaula onde está também uma vara que foi colocada perto das grades e
próxima de uma banana que se encontra pendurada no exterior da jaula e fora
do seu alcance.

● Experiências de maior dificuldade envolvendo elementos distantes uns dos


outros: por exemplo, uma situação onde toda a disposição dos elementos é
semelhante - o chimpanzé está dentro da jaula e existe uma banana no seu
exterior fora do seu alcance -. no entanto, a vara foi colocada no interior da
jaula, mas longe das grades.

O comportamento do chimpanzé, no que respeita à resolução do problema,


mostrava-se distinto nas duas situações, foram estes comportamentos que levaram
Köhler a introduzir a ideia da reestruturação do campo perceptual.

Assim, quando se colocou a vara junto das grades da jaula, mais próxima da fruta, os
dois elementos foram percebidos como parte integrante da mesma
situação-problema. Foi então fácil para o chimpanzé utilizar a vara para puxar a fruta
para junto de si.

Na segunda situação, contudo, a distância existente entre os dois elementos do


problema - a banana fora da jaula e a vara colocada no interior da jaula - implicou
uma reestruturação do campo perceptual, isto é, a compreensão dos dois elementos
como parte integrante do mesmo problema. Para que ocorresse esta reestruturação,
seria necessário o insight ou compreensão súbita - a compreensão ou solução
imediata do problema -, uma forma de aprendizagem resultante de várias tentativas
que fornecem a assimilação das relações entre elementos.

4.2 Teoria da aprendizagem social

O papel dos processos mentais na aprendizagem foi valorizado por outros psicólogos,
para além de Köhler. Albert Bandura, cujo ponto de partida teórico é o
condicionamento operante, é um exemplo disso mesmo.

Reforço e punição são estratégias de aprendizagem, mas nem toda a aprendizagem


se alcança desta forma. Se os gatos estudados por Thorndike, por exemplo, tinham
de descobrir sozinhos como sair da caixa, na generalidade das aprendizagens
humanas não é isso que acontece, isto é, quando nascemos, temos à nossa
disposição um enorme conjunto de conhecimentos: não precisamos de redescobrir o
fogo ou de reinventar a roda, do mesmo modo que sabemos como devemos
agasalhar-nos quando refresca o tempo.

Apesar de reconhecer, à semelhança de Skinner, a influência dos esquemas de


reforço externo na aprendizagem, Bandura defende também a possibilidade de haver
mudança comportamental sem existência de reforço direto, através do que
denominou reforço vicariante. Este era uma forma de reforço indireto que ocorre
quando alguém observa um modelo que é recompensado ou punido, reforçando
dessa forma o seu próprio comportamento.

O reforço vicariante distingue-se do reforço direto, uma vez que o próprio sujeito
recebe uma recompensa a seguir ao comportamento desejado. Independentemente
de se tratar de um reforço direto ou vicariante, a conduta passa a fazer parte do
conjunto de respostas comportamentais do sujeito.

Mais tarde Bandura desenvolveu a teoria da aprendizagem social, a qual propõe que
uma boa parte do comportamento humano é adquirido por modelagem, isto é, por
observação e imitação.

Nesta teoria destacou quatro condições necessárias para que os comportamentos do


modelo tenham efeito sobre nós: atenção, retenção, reprodução e motivação.
Primeiro, há que prestar atenção ao modelo, depois, guardar o que se viu ou ouviu
para que se possa imitá-lo sem erro e, por fim, é importante que exista um bom
motivo para que o comportamento seja integrado no conjunto de respostas do
sujeito, por exemplo, a expectativa de uma recompensa. A este processo dá-se o
nome de modelagem.

A teoria proposta por Bandura apresenta o processo cognitivo como essencial para a
aprendizagem, já que o ser humano pode aprender uma extensa gama de
comportamentos, bastando para tal observar um modelo, avaliar as consequências
da sua conduta e decidir conscientemente realizar, ou não, um comportamento
semelhante ao observado.

Em 1961 Bandura realizou um estudo, que envolvia um boneco insuflável chamado


Bobo, Bandura iniciou uma importante discussão, que ainda hoje se mantém, sobre a
aprendizagem de comportamentos violentos. Provando que uma criança imita o
comportamento que observa num modelo adulto, a experiência com o boneco Bobo
mostrou o poder dos exemplos agressivos em contexto social. A experiência envolveu
72 crianças (36 rapazes e 36 raparigas), entre os 3 e os 6 anos, divididos em três
grupos, e dois modelos adultos.Deste modo esta experiência com o boneco Bobo
permite-nos perceber a importância dos modelos de aquisição e a adoção de
comportamentos através da observação e imitação.

Para concluir, enquanto que na aprendizagem comportamental o enfoque esteja


apenas nos eventos observáveis, na aprendizagem cognitiva são feitas inferências
sobre os processo mentais que não são diretamente observáveis. Assim no primeiro
caso,a aprendizagem resulta da associação entre estímulos e respostas, no segundo
caso, a aprendizagem decorre do processamento da informação.

Você também pode gostar