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ÍNDICE

CAMADA LIMITE ................................................................................................................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO À CAMADA LIMIT E ..................................................................................................................................... 3
1.1 EQUAÇÕES DE CAMADA LIMITE ............................................................................................................................ 3
1.2 PARÂMETROS INTEGRAIS ........................................................................................................................................ 4
1.3 SOLUÇÃO DE BLASIUS PARA A CAMADA LIMITE LAMINA R ........................................................................... 5
1.4 EQUAÇÃO DE VON KÁRMÁN .......................................................................................................................................... 6
2 EFEITO DO GRADIENTE DE PRE SSÃO NA DI REÇÃO DO ESCOAMENTO ................................................................... 6
2.1 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS ................................................................................................................................... 6
2.2 GRADIENTE DE PRESSÃO NÃO NULO NA DI REÇÃO DO ESCOAMENTO ....................................................... 7
2.3 SEPARAÇÃO................................................................................................................................................................. 8
2.4 EFEITO NO CRESCIMENTO DA C AMADA LIMITE ............................................................................................... 9
3 EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITE COM GRADIENTE DE PRESSÃO NÃO NULO ......................................................................... 10
3.1 ESCOAMENTOS SEMELHANTES DE CAMADA LIMITE LAMINAR.................................................................................... 10
3.2 MÉTODO DE THWAITES................................................................................................................................................ 10
3.3 TRANSIÇÃO E TURBULÊNCIA NA CAMADA LIMITE ....................................................................................................... 12
4 CAMADA LIMITE TURBU LENTA ....................................................................................................................................... 16
4.1 TENSÕES DE CORTE ................................................................................................................................................ 16
4.2 ESTRUTURA DO P ERFIL DE VEL OCIDADE MÉDIA PERTO DA PA REDE ........................................................ 16
4.3 CAMADA LIMITE TURBU LENTA SOBRE U MA PLACA PLANA LISA ............................................................... 19
4.4 CAMADA LIMITE TURBU LENTA SOBRE U MA PLACA PLANA RU GOSA ....................................................... 21
4.5 MÉTODO DE HEAD .................................................................................................................................................. 22
5 ESCOAMENTO EM TORNO DE CORPOS .................................................................................................................................... 22
5.1 FORÇA DE RESISTÊNCIA AEROD INÂMICA ......................................................................................................... 22
5.2 ESCOAMENTO EM TORNO DE U M CILINDRO ................................................................................................... 23
5.3 ESCOAMENTO EM TORNO DE U MA ESFERA .................................................................................................... 26
5.4 ESCOAMENTO EM TORNO DE C ORPOS COM ARESTAS VIVAS .................................................................... 27
5.5 COEFICIENTE DE DRAG NO ESC OAMENTO EM T ORNO DE C ORP OS NÃO -FUSELADOS ......................... 28
5.6 ESCOAMENTO EM TORNO DE U M PERFIL ALAR ............................................................................................. 30
TURBULÊNCIA ..................................................................................................................................................................................... 34
1 DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE ESCOAMENTOS TURBULENTOS................................................................................................... 34
1.1 CARATERÍSTICAS GERAIS DE ESCOAMENTOS TURBU LENTOS ..................................................................... 34
1.2 TENSÕES DE REYNOL DS ......................................................................................................................................... 35
1.3 CASCATA DE ENERGIA DE RICH ARDSON-KOL MOGOROV ............................................................................. 36
2 AS ESCALAS DA TURBULÊNCIA ................................................................................................................................................. 38
2.1 MICROESCALA DE KOLMOGOROV (TURBILHÕES PEQUENOS ) .................................................................... 38
2.2 MICROESCALA DE TAYLOR (TU RBILHÕES INTERMÉDIOS) ............................................................................ 38
2.3 ESCALA INTEGRAL (TU RBILH ÕES GRANDES ) ................................................................................................... 39
3 VISCOSIDADE TURBULENTA ..................................................................................................................................................... 39
3.1 HIPÓTESE DE BOUSSINESQ ................................................................................................................................... 39
3.2 MODELO DO COMPRI MENTO D E MISTURA ...................................................................................................... 40
4 SOLUÇÕES DE SEMELHANÇA DE CAMADAS DE CORTE LIVRES TURBULENTAS ......................................................................... 41
4.1 JATOS TURBULENTOS ................................................................................................................................................... 41
4.2 ESTEIRAS TURBULENTAS .............................................................................................................................................. 45
5 TRANSPORTE TURBULENTO DE UM ESCALAR PASSIVO ........................................................................................................... 46
5.1 EQUAÇÕES BÁSICAS ............................................................................................................................................... 46
5.2 DIFUSIVIDADE DO CAMPO ESC ALAR .................................................................................................................. 47
5.3 DISPERSÃO DE UM CAMPO ESCALAR ................................................................................................................ 48

1
6 MODELAÇÃO DE ESCOAMENTOS TURBULENTOS .................................................................................................................... 50
6.1 MÉTODO DIRETO.......................................................................................................................................................... 51
6.2 MODELO DE K-𝜀 ........................................................................................................................................................... 51
6.3 MODELO DAS GRANDES ESCALAS (LES)........................................................................................................................ 51
TURBOMÁQUINAS ............................................................................................................................................................................ 53
1 CLASSIFICAÇÃO DAS MÁQUINAS DE FLUIDO............................................................................................................................ 53
1.1 MÁQUINAS VOLUMÉTRICAS (OU DE DESLOCAMENTO POSITIVO) ............................................................................... 53
1.2 TURBOMÁQUINAS........................................................................................................................................................ 53
2 TROCAS DE ENERGIA ................................................................................................................................................................ 53
2.1 TURBOMÁQUINAS MOTRIZES E MOVIDAS ................................................................................................................... 53
2.2 FUNCIONAMENTO DE UMA BOMBA ............................................................................................................................ 54
2.3 MÁQUINAS EM SÉRIE E EM PARALELO ......................................................................................................................... 55
3 ANÁLISE DIMENSIONAL............................................................................................................................................................ 55
3.1 PONTOS DINAMICAMENTE SEMELHANTES .................................................................................................................. 56
3.2 VELOCIDADE ESPECÍFICA .............................................................................................................................................. 57
3.3 ANÁLISE DIMENSIONAL EM ESCOAMENTO COMPRESSÍVEL ........................................................................................ 58
4 CAVITAÇÃO .............................................................................................................................................................................. 59
4.1 ALTURA DE ASPIRAÇÃO DISPONÍVEL ............................................................................................................................ 59
4.2 OCORRÊNCIA DE CAVITAÇÃO ....................................................................................................................................... 60
5 ESCOAMENTO NO INTERIOR DAS TURBOMÁQUINAS .............................................................................................................. 61
5.1 ESCOAMENTO NUM ROTOR ......................................................................................................................................... 61
5.2 TURBOMÁQUINAS RADIAIS .......................................................................................................................................... 63
5.3 TURBOMÁQUINAS AXIAIS ............................................................................................................................................ 68
6 GOLPE DE ARÍETE ..................................................................................................................................................................... 70
6.1 VELOCIDADE DE UMA ONDA DE PRESSÃO ................................................................................................................... 70
6.2 FECHO INSTANTÂNEO DA VÁLVULA ............................................................................................................................. 70
6.3 FECHO PARCIAL DA VÁLVULA ....................................................................................................................................... 72
6.4 FECHO LENTO DA VÁLVULA.......................................................................................................................................... 72
ESCOAMENTO DE UM FLUIDO PERFEITO .......................................................................................................................................... 74
1 NOÇÕES DE ESCOAMENTO DE UM FLUIDO PERFEITO ............................................................................................................. 74
1.1 EQUAÇÕES BÁSICAS ..................................................................................................................................................... 74
1.2 CARATERÍSTICAS DO ESCOAMENTO POTENCIAL ............................................................................................ 74
1.3 TEOREMA DE KELVIN ............................................................................................................................................. 75
1.4 POTENCIAL COMPLEXO ......................................................................................................................................... 75
2 SINGULARIDADES ..................................................................................................................................................................... 75
3 ANÁLISE DE ESCOAMENTOS DE FLUIDOS PERFEITOS ............................................................................................................... 76
3.1 MÉTODO DE RANKINE ............................................................................................................................................ 76
3.2 MÉTODO DAS IMAGENS ........................................................................................................................................ 76
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................................................... 78

2
CAMADA LIMITE
1 INTRODUÇÃO À CAMADA LIMITE

Supondo um escoamento numa placa plana lisa, a camada limite é a região do escoamento mais próxima
da placa em que as tensões de corte não são desprezáveis, e em que a velocidade das partículas de fluido
varia desde a velocidade da parede (que é zero, pela condição de não escorregamento) até à velocidade
do escoamento exterior à camada limite, 𝑈𝑒 . Como se vê na figura, as tensões de corte tendem a
uniformizar o campo de velocidades e causam a desaceleração do fluido próximo da parede.

Figura 1: Perfil de velocidades na camada limite. No seu exterior, a velocidade e a pressão são 𝑈𝑒 e 𝑝𝑒 .

A espessura da camada limite, 𝛿, é a linha vermelha na figura. Esta é tipicamente muito fina, e é tanto
mais delgada quanto maior for o número de Reynolds (quanto mais turbulento for o escoamento).

1.1 EQUAÇÕES DE CAMADA L IMITE

Pegando nas equações de Navier-Stokes bidimensionais para um regime estacionário e assumindo que
𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕2 𝑢 𝜕2 𝑢
𝑣 ≪ 𝑢, ≪ , ≪ e ≪ , pode-se desprezar todos os termos a negrito:
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2

𝜕𝑢 𝜕𝑣
+ =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Equação 1: Equação de continuidade.

𝝏𝒗 𝝏𝒗 1 𝜕𝑝 𝝏𝟐 𝒗 𝝏𝟐 𝒗 𝜕𝑝
𝒖 +𝒗 =− + 𝜈 ( 𝟐 + 𝟐) ⇒ ≈0
𝝏𝒙 𝝏𝒚 𝜌 𝜕𝑦 𝝏𝒙 𝝏𝒚 𝜕𝑦

Equação 2: Equação de quantidade de movimento ao longo de 𝑦.

𝜕𝑢 𝜕𝑢 1 𝜕𝑝 𝝏𝟐 𝒖 𝜕 2 𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 1 𝑑𝑝 𝜕2𝑢
𝑢 +𝑣 =− + 𝜈 ( 𝟐 + 2) ⇒ 𝑢 +𝑣 =− +𝜈 2
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝜕𝑥 𝝏𝒙 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝑑𝑥 𝜕𝑦

Equação 3: Equação de quantidade de movimento ao longo de 𝑥.

𝜕𝑝
Verifica-se que, como ≈ 0, a pressão apenas varia em 𝑥: 𝑝(𝑦) = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡. Como o valor da pressão em
𝜕𝑦
𝑦 = 𝛿 é o da pressão exterior à camada, 𝑝𝑒 , conclui-se que 𝑝(𝑦) = 𝑝𝑒 . Ou seja, a pressão no interior da
camada limite é “imposta” pelo exterior. Fisicamente, isto explica-se por as trajetórias serem retilíneas e,
portanto, não haver força centrífuga nem forças de pressão a equilibrar o escoamento em 𝑦.

Note-se que:

3
1
• Apenas a pressão estática, 𝑝, se mantém constante em 𝑦; a pressão total 𝑝𝑇 = 𝑝 + 𝜌𝑢2 , tem
2
de variar, visto que 𝑢 também varia bastante em 𝑦;
• A pressão na direção do escoamento, 𝑝(𝑥), varia grandemente, conforme se estudará à frente.

Existem ainda diversas grandezas muito relevantes no âmbito da camada limite, nomeadamente:
𝜕𝑢
• Tensão de corte na parede: 𝜏𝑤 = 𝜇 ( )
𝜕𝑦 𝑦=0
𝜏
• Coeficiente de resistência de atrito: 𝑐𝑓 = 1 𝑤 2
𝜌𝑈
2
1 𝐿
• Tensão de corte média na parede: ̅̅̅̅
𝜏𝑚 = ∫0 𝜏𝑤 (𝑥) 𝑑𝑥
𝐿
𝐿
• Força de resistência aerodinâmica (“Drag”): 𝐷(𝐿) = 𝑏 ∫0 𝜏𝑤 (𝑥)𝑑𝑥
𝐷
• Coeficiente de resistência aerodinâmica: 𝐶𝐷 = 1
𝜌𝑏𝐿𝑈 2
2
𝑢𝐿
• Número de Reynolds para um comprimento característico 𝐿: 𝑅𝑒𝐿 =
𝜈

1.2 PARÂMETROS INTEGRAIS

1.2.1 ESPESSURA DE DESLOCA MENTO

Figura 2

A espessura de deslocamento representa o défice de caudal em relação ao escoamento de fluido perfeito


e o deslocamento das linhas de corrente do escoamento exterior em relação à parede e calcula-se como:
𝛿
𝑢(𝑦)
𝛿 ∗ = ∫ (1 − ) 𝑑𝑦 = 𝛿 − ℎ
0 𝑈𝑒

Equação 4

𝛿
• O caudal escoado dentro da camada limite será: ∫0 𝑢(𝑦) 𝑑𝑦 = 𝑈𝑒 (𝛿 − 𝛿 ∗ )
𝛿 𝛿
• O défice de caudal é dado diretamente por: 𝑄̇𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 − 𝑄̇𝑟𝑒𝑎𝑙 = ∫0 𝑈𝑒 𝑑𝑦 − ∫0 𝑢(𝑦) 𝑑𝑦 = 𝑈𝑒 𝛿 ∗

1.2.2 ESPESSURA DE QUANTID ADE DE MOVIMENTO


A espessura de quantidade de movimento numa determinada secção da camada limite (estação)
contabiliza o défice de quantidade de movimento causado pelos efeitos viscosos. Define-se por:

4
𝛿
𝑢(𝑦) 𝑢(𝑦)
𝜃=∫ (1 − ) 𝑑𝑦
0 𝑈𝑒 𝑈𝑒

Equação 5

• A partir deste parâmetro, pode-se obter uma outra definição de força de resistência
aerodinâmica numa determinada estação: 𝐷(𝑥) = −𝜌𝑏𝑈𝑒2 𝜃(𝑥)
𝛿 𝛿
• Mais ainda, tem-se que: 𝑀̇𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 − 𝑀̇𝑟𝑒𝑎𝑙 = ∫0 𝑢(𝑦)𝑈𝑒 𝑑𝑦 − ∫0 𝑢2 (𝑦) 𝑑𝑦 = 𝑈𝑒2 𝜃

1.2.3 FATOR DE FORMA


O fator de forma, 𝐻, representa a forma do perfil de velocidades:

𝛿∗
𝐻=
𝜃

Equação 6

Observações sobre o valor do fator de forma:

𝛿 ∗ /𝛿
• 𝐻 pode-se escrever como , em que tanto o numerador como o denominador são escalares
𝜃/𝛿
que dependem apenas da forma adimensional do perfil de velocidade;
• Quanto maior for o seu valor, mais próximo se está de um ponto de separação (este conceito
será abordado mais à frente);
• Em geral, 𝐻 > 1, como se verá na Tabela 2.
1.3 SOLUÇÃO DE BLASIUS PARA A CAMADA LIMITE LAMINAR

Para começar a analisar a camada limite, considere-se o caso de um escoamento laminar sujeito a um
gradiente de pressão nulo, 𝑑𝑝/𝑑𝑥 = 0.

𝑈
Fazendo a mudança de variável de 𝜂 = 𝑦√ 𝑒, conclui-se que o
𝜈𝑥
𝑢(𝑥,𝑦)
perfil de velocidades é dado por = 𝑓′(𝜂). Usando esta
𝑈𝑒
relação nas equações de camada limite, obtém-se a equação
1
diferencial 𝑓 ′′′ + 𝑓𝑓 ′′ = 0, que produz a tabela apresentada.
2

Como se costuma escolher a espessura da camada limite 𝛿


𝑢
como o ponto em que = 0.99, e na tabela isso ocorre para
𝑈𝑒
𝜂 = 5, obtém-se que a solução de Blasius para camada limite 1
Tabela 1: Resultados de 𝑓 ′′′ + 𝑓𝑓 ′′ = 0.
2
laminar é:

𝛿 5
=
𝑥 𝑅𝑒𝑥1/2

Equação 7: Solução de Blasius para a camada limite laminar e um gradiente de pressão nulo.

Para obter vários dos parâmetros integrais, começa-se por reescrever a expressão da velocidade: 𝑢 =
𝜕𝑢 𝑈𝑒
𝑈𝑒 𝑓′(𝜂), o que permite calcular a tensão de corte local na parede: 𝜏𝑤 (𝑥) = 𝜇 ( ) = 𝜇𝑈𝑒 √ 𝑓 ′′ (0) =
𝜕𝑦 𝑦=0 𝜈𝑥

𝑈𝑒
0,3321𝜇𝑈𝑒 √ (da tabela anterior, 𝑓 ′′ (0) = 0,3321). A partir daqui, calcula-se:
𝜈𝑥

5
• O coeficiente de resistência de atrito pela definição combinada com a expressão para a tensão
𝜏𝑤 0,664
de corte na parede: 𝑐𝑓 = 1 = 1/2 ;
𝜌𝑈 2 𝑅𝑒𝑥
2
1 𝐿 0.664𝜌𝑈 2
• A tensão de corte média na parede: ̅̅̅̅
𝜏𝑚 = ∫0 𝜏𝑤 (𝑥) 𝑑𝑥 = 1/2 ;
𝐿 𝑅𝑒𝐿
𝐿 1/2
• A força de resistência aerodinâmica (“Drag”), 𝐷(𝐿) = 𝑏 ∫0 𝜏𝑤 (𝑥)𝑑𝑥 = 0.664𝑏𝑈𝜇𝑅𝑒𝐿 , que
𝐷 1.328
permite chegar ao coeficiente de resistência aerodinâmica: 𝐶𝐷 = 1 = 1/2 .
𝜌𝑏𝐿𝑈 2 𝑅𝑒𝐿
2

1.4 EQUAÇÃO DE VON KÁRMÁN

A equação de von Kármán permite obter, depois da integração nos dois lados, a variação da espessura de
quantidade de movimento com a coordenada longitudinal, ou seja, 𝜃(𝑥):

𝑑𝜃 (𝐻 + 2) 𝑑𝑈𝑒 𝑐𝑓
+𝜃 =
𝑑𝑥 𝑈𝑒 𝑑𝑥 2

Equação 8: Equação de von Kármán.

Esta equação é válida para qualquer gradiente de pressão 𝑑𝑝/𝑑𝑥 , assim como para regime laminar ou
turbulento.

Casos particulares de aplicação:

𝜃
• Se se conhecer a relação e se pretender descobrir 𝛿(𝑥), pode-se reescrever o primeiro membro
𝛿
𝑑𝜃 𝑑𝜃 𝑑𝛿 𝜃 𝑑𝛿
da equação como = =( ) e integrar, mas desta vez na coordenada 𝛿 (em vez de 𝜃).
𝑑𝑥 𝑑𝛿 𝑑𝑥 𝛿 𝑑𝑥
𝑑𝑝 𝑑𝑈𝑒
• Em gradientes de pressão nulo, a equação de Bernoulli dita que =0⇒ = 0, pelo que a
𝑑𝑥 𝑑𝑥
𝑑𝜃 𝑐𝑓
equação de von Kármán fica apenas = .
𝑑𝑥 2

A partir da equação de Von Kármán para gradientes de pressão nulo, pode-se obter fórmulas para os
parâmetros integrais, sabendo qual o perfil de velocidades considerado. Em seguida, apresentam-se
alguns exemplos disso:

𝛿 𝛿∗ 𝜃 𝐻 𝑐𝑓 𝐶𝐷
𝑥 𝑥 𝑥
PERFIL LINEAR 3.464 1.732 0.578 3,00 0.578 1.16
𝑓(𝜂) = 𝜂 1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥 1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝐿
PERFIL 3ª ORDEM 4,64 1,74 0,646 2,70 0,646 1,29
3 1 1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝑥
1/2 1/2
𝑅𝑒𝑥
𝑓(𝜂) = 𝜂 − 𝜂 3
2 2
PERFIL 4ª ORDEM 5.84 1.752 0.687 2,55 0.686 1.37
𝑓(𝜂) = 2𝜂 + 2𝜂 3 + 𝜂 4 1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝑥
1/2
𝑅𝑒𝐿
BLASIUS 5 1.721 0.664 2,59 0.664 1.33
1/2 1/2 1/2 1/2 1/2
𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝐿
Tabela 2: Equações válidas para um gradiente de pressão nulo numa camada limite laminar; o perfil de velocidades
𝑢 𝑦
é dado por = 𝑓(𝜂), com 𝜂 = .
𝑈𝑒 𝛿

2 EFEITO DO GRADIENTE DE PRESSÃO NA DIREÇÃO DO ESCOAMENTO

2.1 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

2.1.1 EQUAÇÃO DE BERNOULLI

6
Para aplicar a equação de Bernoulli ao caso em questão, é importante ter em conta três aspetos:
• A equação de Bernoulli não pode ser aplicada dentro da camada limite, o que faz com que se
tome como referência o escoamento exterior, estacionário e incompressível, de fluido perfeito
com velocidade 𝑈𝑒 e pressão 𝑝𝑒 , e se faça, mais tarde, um paralelo entre os dois casos;
• O termo da pressão hidrostática (ou gravítico) desaparece pois não contribui para o movimento
ao longo de uma trajetória retilínea;
• A equação passa a igualar-se a uma constante visto que, ao longo da mesma trajetória, a pressão
total (de um escoamento de fluido perfeito sem tensões de corte) mantém-se.
1 1
𝑝𝑇 = 𝑝 + 𝜌𝑈2 + 𝜌𝑔𝑧 ⇒ 𝑝𝑒 + 𝜌𝑈2𝑒 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡
2 2
1
Equação 9: 𝑝𝑇 representa a pressão total, 𝑝 a pressão estática, 𝜌𝑈 2 a pressão dinâmica e 𝜌𝑔𝑧 a pressão hidrostática.
2
Em pormenor, 𝑈 representa a velocidade, 𝜌 a densidade e 𝑧 a altura/profundidade do elemento de fluido estudado.

2.1.2 TENSÕES VISCOSAS


Importa dizer que, dado 𝜇 ser muito pequeno para a maioria dos fluidos, para haver tensões de corte
significativas (e, portanto, gradientes de velocidade 𝜕𝑢/𝜕𝑦 elevados), têm de haver grandes variações de
𝑢 em pequenas variações distâncias 𝑦, o que só acontece junto à placa/parede. Assim, as tensões de corte
são desprezáveis longe da parede e é por esta razão que se estuda 𝜏𝑤 e não apenas 𝜏. Definem-se por:
𝜕𝑢
𝜏𝑤 = 𝜇
𝜕𝑦
Equação 10: 𝜏𝑤 representa as tensões de corte viscosas superficiais na parede (wall), 𝜇 a viscosidade dinâmica, 𝑢 a
velocidade e 𝑦 a direção normal à placa (e, portanto, ao escoamento).

2.1.3 EQUAÇÃO DE NAVIER -STOKES


Como visto atrás, da equação de Navier-Stokes em 𝑥 obtém-se:

𝜕𝑢 𝜕𝑢 1 𝑑𝑝𝑒 𝜕2𝑢
𝑢 +𝑣 =− +𝜈 2
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝑑𝑥 𝜕𝑦
Equação 11: 𝑢 e 𝑥 representam, respetivamente, a velocidade e a posição na direção do escoamento e 𝑣 e 𝑦
representam o mesmo, mas na direção normal ao escoamento; 𝜌 é a densidade do fluido; 𝑝𝑒 é a pressão estática
exterior, que é “imposta” ao escoamento e 𝜈 é a viscosidade cinemática.

2.2 GRADIENTE DE PRESSÃO NÃO NULO NA DIREÇÃO DO ESCOAMENTO

Derivando a equação de Bernoulli em ordem a 𝑥, a das tensões viscosas em ordem a 𝑦 e escrevendo a de


Navier-Stokes na parede (𝑦 = 0), em que 𝑢 = 𝑣 = 0, tem-se:

BERNOULLI TENSÕES VISCOSAS NAVIER -STOKES


2
1 𝑑𝑝𝑒 𝑑𝑈𝑒 𝜕𝜏𝑤 𝜕 𝑢 2 𝜕 𝑢 1 𝑑𝑝𝑒
− = 𝑈𝑒 =𝜇 2 ( 2) =−
𝜌 𝑑𝑥 𝑑𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝑦=0 𝜇 𝑑𝑥
Tabela 3: Não esquecer que 𝜈 = 𝜇/𝜌.

Como foi mencionado acima, a equação de Bernoulli não se aplica diretamente ao escoamento dentro da
camada limite. No entanto, a relação entre a pressão e a velocidade no interior da camada limite é
semelhante à do escoamento exterior (Equação 9), pelo que se pode construir a seguinte tabela:

Tipo de gradiente de Variação da Segunda derivada da Tensões de corte na


pressão velocidade velocidade na parede parede
𝑑𝑝 𝜕𝑢(𝑦) 𝜕2𝑢 𝜕𝑢
FAVORÁVEL <0 >0 ( 2) <0 𝜏𝑤 = 𝜇 ( ) >0
𝑑𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑦=0 𝜕𝑦 𝑦=0

7
𝑑𝑝 𝜕𝑢(𝑦) 𝜕2𝑢 𝜕𝑢
NULO =0 =0 ( ) =0 𝜏𝑤 = 𝜇 ( ) >0
𝑑𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝑦=0 𝜕𝑦 𝑦=0
𝜕𝑢
𝜏𝑤 = 𝜇 ( ) > 0,
𝑑𝑝 𝜕𝑢(𝑦) 𝜕2𝑢 𝜕𝑦 𝑦=0
ADVERSO >0 <0 ( 2) >0
𝑑𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑦=0 que passa a < 0 se
houver separação
Tabela 4: Note-se que o gradiente de pressão nulo corresponde ao estudado anteriormente na hipótese de Blasius.
Estes resultados são estudados com maior detalhe na secção seguinte.

Para o caso do fim da camada (𝑦 = 𝛿), conclui-se que, independentemente do gradiente de pressão, a
𝜕2 𝑢
segunda derivada da velocidade é sempre negativa: 𝑦 = 𝛿 ⇒ ( ) < 0. Ou seja, o fim da camada
𝜕𝑦 2 𝑦=𝛿

limite é menos afetado pelo gradiente de pressão do que a zona junto à placa.

2.3 SEPARAÇÃO

2.3.1 SEPARAÇÃO NUM ESCOAMENTO SOBRE UMA PLACA PLANA LISA


𝑑𝑢 1 𝑑𝑝𝑒
Escrevendo a equação de Bernoulli (derivada em ordem a 𝑥) na forma =− , é fácil inferir que,
𝑑𝑥 𝜌𝑢 𝑑𝑥
em gradiente de pressão adverso, quanto menores forem as velocidades locais, mais desacelerado será o
escoamento. Se o gradiente de pressão for suficientemente elevado e atuar durante tempo suficiente, a
certa altura o escoamento é desacelerado ao ponto de passar a fluir no sentido contrário. Diz-se, então,
que ocorreu a separação da camada limite.

Figura 3: Influência do gradiente de pressão no escoamento na camada limite.

1. Gradiente de pressão favorável, variação positiva da velocidade;


2. Gradiente de pressão nulo, variação nula da velocidade, aparecimento de ponto de inflexão (PI)
em 𝑦 = 0;
3. Gradiente de pressão adverso, variação negativa da velocidade, PI desloca-se para cima;
4. Gradiente de pressão adverso, variação negativa da velocidade, PI continua a deslocar-se para
cima, aparecimento de ponto de separação (S) em 𝑦 = 0;
5. Gradiente de pressão adverso, variação negativa da velocidade, PI desloca-se ainda mais para
cima e a velocidade perto da parede passa a fluir no sentido contrário ao do escoamento
exterior.

Analogamente, quando há reversão do escoamento também se altera o sentido das tensões na parede.

8
Figura 4: Efeito de um gradiente de pressão adverso nas tensões de corte.

A linha de separação, representada na figura, está ligada ao conceito de espessura do deslocamento, 𝛿 ∗ .


Na presença de separação, esta vai “crescendo” para garantir que se mantêm os caudais dos elementos
de fluido que se encontram entre a linha e a parede.

Do ponto de vista da porção do escoamento acima da linha de separação, é como se a parede sólida se
tivesse deslocado até essa linha, que passa, portanto, a representar uma parede fictícia.

2.3.2 SEPARAÇÃO EM ESCOAMENTOS INTERIORES


Em escoamentos interiores também pode haver separação do escoamento, como, por exemplo, no caso
de um difusor, em que o fluido transita de uma conduta com uma dada secção para outra com maior
secção.

Figura 5: Escoamento e separação num difusor.

Como se pode ver na figura, a conclusão a tirar é que, se a área aumenta, a velocidade tem de diminuir,
(para que o caudal se mantenha), o que significa que a pressão aumenta, de acordo com o que foi visto
na secção 2.2. Portanto, quanto maior for a diferença de áreas, “mais adverso” será o gradiente de
pressão e poderá ocorrer separação ao longo das paredes do difusor.

2.4 EFEITO NO CRESCIMENTO DA CAMADA LIMITE

Lembrando que, para 𝑑𝑝𝑒 /𝑑𝑥 > 0 se verifica 𝑑𝑈𝑒 /𝑑𝑥 < 0, a partir da equação da continuidade obtém-
𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝑦 𝜕𝑢
se que: + = 0 ⇒ 𝑣 = − ∫0 𝑑𝑦, sendo 𝑣 a velocidade na direção normal à placa. Portanto, conclui-
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥
se que para 𝑣 > 0, o gradiente de pressão adverso faz aumentar a espessura da camada limite.

9
3 EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITE COM GRADIENTE DE PRESSÃO NÃO NULO

3.1 ESCOAMENTOS SEMELHANTES DE CAMADA LIMITE LAMINAR

Nas circunstâncias em que a forma dos perfis não evolui em 𝑥 – ou seja, perfis a diferentes 𝑥 têm as
mesmas coordenadas adimensionais 𝑢/𝑈𝑒 vs. 𝜂, pelo que 𝐻 = constante – diz-se que os perfis são
semelhantes ou que o escoamento se processa em condições de semelhança. O número de variáveis
independentes reduz-se de duas, 𝑥 e 𝑦, a uma, 𝜂, de forma a que as equações da camada limite deixam
de ter derivadas parciais e passam a ser diferenciais ordinárias.

𝑈 1/2
Usando a variável de semelhança de Falkner-Skan, 𝜂 = ( 𝑒) 𝑦 na equação da camada limite segundo
𝜈𝑥
𝑥, obtêm-se as condições para a existência de condições de semelhança:

𝑚+1 𝑥 𝑑𝑈𝑒
• 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑓(𝜂): 𝑓 ′′′ + 𝑓𝑓 ′′ + 𝑚(1 − 𝑓 ′2 ) = 0, com 𝑚 =
2 𝑈𝑒 𝑑𝑥
• Condição fronteira na parede ser independente de 𝑥 de forma a que 𝑓𝑤 = 0
• 𝑚 independente de 𝑥, de forma a que o campo de velocidades exterior será 𝑈𝑒 (𝑥) = 𝐶𝑥 𝑚

Este tipo de campo de velocidades ocorre para um escoamento simétrico em torno de uma cunha com
𝛽
um ângulo de abertura 𝜋𝛽. Por relações geométricas simples, vê-se que isto corresponde a ter 𝑚 = .
2−𝛽

• 𝛽 = 0 ⇒ 𝑚 = 0 corresponde a um escoamento com gradiente de pressão nulo ao longo de uma


placa plana. Ora, essa situação é a da análise de Blasius, que é um caso particular dos
escoamentos com perfil de velocidades semelhantes. Basta ver que, para 𝑚 = 0 a equação de
1
semelhança se reduz a 𝑓 ′′′ + 𝑓𝑓 ′′ = 0, a mesma equação apresentada na secção 1.3.
2
• 𝛽 = 1 ⇒ 𝑚 = 1 corresponde ao escoamento em torno de uma placa plana normal ao
escoamento de aproximação, em que a linha de corresponde de simetria encontra a placa num
ponto de estagnação – escoamento de ponto de estagnação.
• 𝑚 = −0,0904 corresponde a um perfil de velocidades num ponto de separação, 𝜏𝑤 = 0.

𝑢
Figura 6: À esquerda, a cunha considerada; ao centro, um gráfico da evolução de = 𝑓′(𝜂) vs.𝜂, para diferentes
𝑈𝑒
valores de 𝑚; à direita, o escoamento em torno de uma placa plana com um ponto de estagnação.

3.2 MÉTODO DE THWAITES

O método de Thwaites é um método numérico para calcular a evolução dos parâmetros integrais de uma
camada limite laminar da equação de Von Kármán (𝛿 ∗ , 𝜃, 𝐻 e 𝑐𝑓 ), num qualquer gradiente de pressão.
Este pode ser apresentado de forma sequencial:

0,45𝜈 𝑥
1. Obter 𝜃(𝑥) a partir de 𝑈𝑒 (𝑥) pela equação: 𝜃 2 = ∫𝑥 𝑈𝑒5 𝑑𝑥 + (𝜃 2 𝑈𝑒6 )𝑥=𝑥0
𝑈𝑒6 0

• (𝜃 2 𝑈𝑒6 )𝑥=𝑥0 anula-se no escoamento em placa plana, onde 𝜃(𝑥0 = 0) = 0

10
• (𝜃 2 𝑈𝑒6 )𝑥=𝑥0 também se anula em escoamento de ponto de estagnação, onde 𝑈𝑒 (𝑥0 = 0) = 0
𝜃 2 𝑑𝑈𝑒
2. Sabendo 𝜃(𝑥) e 𝑈𝑒 (𝑥), calcular o parâmetro 𝜆 =
𝜈 𝑑𝑥
• 𝜆 > 0 significa que há um gradiente de pressão favorável
• 𝜆 < 0 significa que há um gradiente de pressão adverso
• 𝜆 = −0,09 significa que há um ponto de separação
3. Obter 𝑙 e 𝐻 a partir de 𝜆, usando as seguintes relações:
𝑙 = 0,22 + 1,57𝜆 − 1,8𝜆2
• Para 0 ≤ 𝜆 ≤ 0,25: {
𝐻 = 2,61 + 3,75𝜆 + 5,24𝜆2
0,018𝜆
𝑙 = 0,22 + 1,402𝜆 +
𝜆+0,107
• Para −0,09 ≤ 𝜆 ≤ 0: { 0,0731
𝐻= + 2,088
𝜆+0,14
4. Conhecidos θ e 𝐻, determinar 𝛿 ∗ a partir da definição do fator de forma: 𝛿 ∗ = 𝜃𝐻

Figura 7: Resultados do método de Thwaites para evolução dos parâmetros integrais de camadas limites laminares
em diferentes gradientes constantes da velocidade exterior.

Com base na Figura 7, observam-se os seguintes efeitos de gradientes de pressão:

• Um escoamento em gradiente nulo processa-se em condições de semelhança (𝐻 = 2,6).


• Comparativamente à situação de referência de gradiente nulo, 𝐻 e 𝑐𝑓 evoluem em sentidos
contrários por ação do efeito invíscido de um gradiente de pressão: em gradiente
favorável/adverso, 𝐻 diminui/aumenta e 𝑐𝑓 aumenta/diminui – aumentam/diminuem
comparativamente à situação de referência, não necessariamente em valor absoluto.
• É muito rápida a evolução de uma camada limite em direção a um ponto de separação, como
bem patente nos gráficos de 𝐻 e de 𝛿 ∗ (𝐻 = 3,55 no ponto de separação).
• Para um escoamento (semelhante) de ponto de estagnação é 𝐻, 𝛿, 𝛿 ∗ , 𝜃 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒; no caso
testado verifica-se que, depois de algumas oscilações iniciais, 𝐻 e 𝛿 ∗ tendem, respetivamente,
para os valores constantes 2,36 e 1,45 mm.
• Nos gráficos de 𝛿 ∗ e 𝐻 pode-se observar que a forma do perfil de velocidades é influenciada pelo
gradiente de pressão. Assim, escrevendo 𝛿 ∗ como 𝛿 ∗ = (𝛿 ∗ /𝛿)𝛿 imediatamente concluímos que
o andamento de 𝛿 ∗ é dependente tanto da evolução da forma do perfil de velocidades (através

11
do fator 𝛿 ∗ /𝛿), como, mais acentuadamente, da taxa de crescimento da camada limite (através
de 𝛿); o mesmo tipo de argumento se usa para interpretar a evolução de 𝜃.

3.3 TRANSIÇÃO E TURBULÊN CIA NA CAMADA LIMITE

A números de Reynolds elevados, escoamentos de fluido real são em geral turbulentos, processando-se
a transição de escoamento laminar a turbulento por amplificação de pequenas perturbações
naturalmente existentes.

Decompõe-se o campo instantâneo de velocidade e pressão (𝑢𝑖 , 𝑝), num campo médio não perturbado
(𝑢̅𝑖 , 𝑝̅) e num campo de perturbação (𝑢𝑖′ , 𝑝′): 𝑢𝑖 = 𝑢̅𝑖 + 𝑢𝑖′ e 𝑝 = 𝑝̅ + 𝑝′. Substitui-se esta decomposição
nas equações de Navier-Stokes e obtém-se:

𝜕𝑢𝑖 𝜕𝑢𝑖′
=0 =0
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖

𝜕𝑢𝑖 𝜕𝑢𝑖 1 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑢𝑖 𝜕𝑢𝑖′ 𝜕𝑢𝑖′ 𝜕𝑢̅𝑖 1 𝜕𝑝̅ 𝜕 2 𝑢𝑖′ 𝜕(𝑢𝑖′ 𝑢𝑗′ )
+ 𝑢𝑗 =− +𝜈 + 𝑢̅𝑖 + 𝑢𝑖′ =− +𝜈 −
{ 𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑖 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 { 𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação 12

3.3.1 FUNÇÃO CORRENTE


Admitindo que o escoamento é bidimensional, incompressível e laminar, com propriedades físicas
constantes, as perturbações são suficientemente pequenas para que os termos de segunda ordem (como
𝑢𝑖′ 𝑢𝑗′ ) sejam desprezáveis e o campo médio é quasi-paralelo (𝑢̅𝑖 = (𝑢̅, 0,0) e 𝑢̅ = 𝑢̅(𝑦)), pode-se chegar,
mediante alguns cálculos, a uma equação representa o transporte da perturbação turbulenta ao longo de
uma linha de corrente do escoamento médio:

𝜕 2 𝜕 2 𝜕𝜓 𝑑 2 𝑢̅
(∇ 𝜓) + 𝑢̅ (∇ 𝜓) − = 𝜈∇4 𝜓
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝑑𝑦 2

Equação 13

𝜓 representa a função corrente, dada na forma ondulatória por:

𝜓(𝑥, 𝑦, 𝑡) = 𝜑(𝑦) exp[𝑖(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡)] = 𝜑(𝑦) exp[𝑖𝑘(𝑥 − 𝑐𝑡)]

Equação 14: 𝜑(𝑦) é a amplitude complexa da função de corrente de perturbação; 𝜔 é a frequência angular; 𝑘 é o
número de onda; 𝑐 = 𝜔/𝑘 é a velocidade de propagação; 𝑥 é o comprimento na direção de propagação; 𝑡 é o tempo.

A evolução da propagação dependerá, então, de 𝑘 e 𝜔:

• Se 𝑘 for complexo, 𝑘 = 𝑘𝑟 + 𝑖𝑘𝑖 , ter-se-á |𝜓(𝑥)| ∝ exp(−𝑘𝑖 𝑥) e o problema será de


amplificação espacial;
• Se 𝜔 for complexo, 𝜔 = 𝜔𝑟 + 𝑖𝜔𝑖 , ter-se-á |𝜓(𝑡)| ∝ exp(−𝜔𝑖 𝑡) e o problema será de
amplificação temporal;
• Se 𝑘 e 𝜔 forem ambos reais, a perturbação propaga-se ao longo do escoamento médio paralelo
com amplitude constante 𝜑(𝑦);
• Se 𝑘 e 𝜔 forem ambos complexos, a amplitude da perturbação variará tanto no espaço como no
tempo.

Admitindo como escalas de velocidade, comprimento e tempo, respetivamente, 𝑢0 , 𝑙 e 𝑙/𝑢0 , a equação


anterior pode ser escrita em termos das variáveis adimensionais 𝑐̅ = 𝑐/𝑢0, 𝑢̅ = 𝑢/𝑢0, 𝑘̅ = 𝑘𝑙, 𝑅𝑒 =
𝑢0 𝑙/𝜈. Derivando em ordem a 𝑦̅ = 𝑦/𝑙:

12
𝑖
(𝑢̅ − 𝑐̅)(𝜑 ′′ − 𝑘̅ 2 𝜑) − 𝑢̅𝜑 = − (𝜑 𝑖𝑣 − 2𝑘̅ 2 𝜑 ′′ + 𝑘̅ 4 𝜑)
̅
𝑘𝑅𝑒

Equação 15: Equação de Orr-Sommerfeld.

No limite, 𝑘̅𝑅𝑒 → ∞ (estabilidade invíscida) e esta equação degenera em:

(𝑢̅ − 𝑐̅)(𝜑 ′′ − 𝑘̅ 2 𝜑) − 𝑢̅ 𝜑 = 0

Equação 16: Equação de Rayleigh.

3.3.2 DIAGRAMAS DE ESTABILIDADE


O problema de determinação das maiores taxas de amplificação das perturbações, isto é, dos maiores 𝑘𝑖
ou 𝜔𝑖 , com todos os outros parâmetros constantes, traduz-se num problema de valores próprios e de
funções próprias. Para uma situação de amplificação espacial (𝜔𝑖 = 0) e com 𝑅𝑒 e 𝑘𝑖 dados, a solução da
equação de Orr-Sommerfeld fornece uma função própria 𝜑(𝑦) e um valor próprio 𝑐 = 𝑐𝑟 + 𝑖𝑐𝑖 . Os valores
próprios são geralmente representados num diagrama 𝑘̅ vs. 𝑅𝑒 em que cada ponto corresponde a um par
𝑐𝑟 , 𝑐𝑖 ; o lugar geométrico dos pontos 𝑐𝑖 = 0 (curva de estabilidade neutra) separa as regiões amortecidas
estáveis, nas quais as perturbações são amortecidas (𝑐𝑖 > 0), das instáveis, onde estas são amplificadas
(𝑐𝑖 < 0).

Figura 8: À esquerda, curvas típicas de estabilidade neutra, produzidas pelo método das pequenas perturbações, para
escoamentos com perfis de velocidade média exibindo ou não ponto de inflexão (PI); à direita, estão curvas para
diferentes gradientes de pressão; o domínio interior às curvas corresponde à região de instabilidade.

Por análise dos gráficos, verifica-se que:

• Perfis de velocidade com PI são mais instáveis do que perfis sem PI.
• Para perfis sem PI, os ramos superior e inferior da curva tendem assintoticamente para 𝑘̅ = 0
quando 𝑅𝑒 → ∞. Para perfis com PI, o ramo superior tende para um valor de 𝑘̅ diferente de zero,
pelo que, mesmo na situação limite 𝑅𝑒 → ∞, entendida como correspondendo a escoamento de
fluido perfeito, existe uma gama não nula de comprimentos de onda de perturbações que podem
ser amplificadas. O primeiro tipo de instabilidade designa-se por viscoso, visto só ocorrer para
𝑅𝑒 < ∞, e o segundo por invíscido, por se poder verificar mesmo no limite 𝑅𝑒 → ∞. Camadas
de corte livres (jatos, esteiras, camadas de mistura) e camadas limite em gradientes de pressão
adversos apresentam perfis de velocidade com PI, pelo que verificam instabilidade invíscida;
camadas limite em gradiente de pressão nulo e favoráveis têm características de instabilidade
viscosa. Observa-se que a viscosidade, que se esperava amortizadora, pode ser
desestabilizadora.

13
• A baixos números de Reynolds, os efeitos dissipativos são de tal modo pronunciados que todas
as perturbações são amortecidas e o escoamento se mantém em regime laminar.
• A Reynolds elevados, existe uma gama restrita de comprimentos de onde de perturbações que
podem ser amplificadas: tratar-se-á, naturalmente, de perturbações com escalas de
comprimento e tempo próximas das correspondentes escalas locais caraterísticas da camada de
corte como em todo. A estes Reynolds elevados, uma perturbação de muito pequeno
comprimento de onde a que corresponda um valor 𝑘̅ elevado residindo na região estável acima
da curva de estabilidade neutra – ponto A na figura –, não terá capacidade para despoletar o
processo de transição pois que, dada a inércia do sistema fluido, este não “tem tempo” para
acompanhar a perturbação, entrando em sintonia e sendo por ela excitado e, por conseguinte,
a ela não reage; inversamente, para uma perturbação de grande comprimento de onda, a que
corresponda um valor 𝑘̅ residindo abaixo da curva de estabilidade neutra – ponto B na figura –,
o escoamento, apesar da sua inércia, “tem tempo” para a acompanhar, a ela respondendo mais
como se de uma flutuação do campo médio se tratasse. Só numa gama intermédia tem o
escoamento capacidade para entrar em uníssono com a perturbação, amplificando-a, como num
fenómeno de ressonância.
• Ao número de Reynolds que define a fronteira entre a situação de baixos 𝑅𝑒, em que todas as
perturbações são amortecidas, e a de elevados 𝑅𝑒, em que algumas delas podem ser
amplificadas, dá-se o nome de Reynolds crítico, 𝑅𝑒𝑐 .
• Camadas de corte para as quais os perfis de velocidade apresentem um PI são altamente
instáveis; comparando esta situação com a de instabilidade viscosa verifica-se que não só o valor
de 𝑅𝑒𝑐 é muito menor como ainda que, para qualquer Reynolds superior ao crítico, a gama de
comprimentos de onda de perturbações suscetíveis de serem amplificadas é muito maior. Em
escoamentos de camada limite, gradientes de pressão adversos tendem assim a ampliar o
domínio de instabilidade e, inversamente, gradientes favoráveis produzem uma ação
estabilizante.

3.3.3 ETAPAS DA TRANSIÇÃO

14
Figura 9

Então, a transição para a turbulência processa-se pelas seguintes etapas, apresentadas na figura:

1. Regime laminar.
2. O tipo mais instável de perturbações assume a forma de uma onda progressiva bidimensional,
que constitui a instabilidade primária em escoamentos de camada limite, chamada onda de
Tollmien-Schlichting.
3. Esta onda progressiva é distorcida por perturbações secundárias, dando origem a uma forma
sinuosa tridimensional e produzindo alterações também tridimensionais no perfil de
velocidades.
4. Indução não linear dos processos de bombagem de fluido vertical e de aparecimento das cristas
das instabilidades.
5. A distorção da perturbação original torna-se cada vez mais acentuada, por ação dos turbilhões,
produzindo localmente bolsas de elevadas tensões de corte, aleatoriamente distribuídas no
espaço e no tempo, que “explodem” para dar origem a erupções turbulentas, altamente
tridimensionais.
6. As erupções turbulentas expandem-se com grande ângulo de abertura até se juntarem para dar
origem a um regime completamente turbulento.

O método das pequenas perturbações só é capaz de produzir informação relativa ao 𝑅𝑒𝑐 . O número de
Reynolds a partir do qual o escoamento turbulento já está estabelecido designa-se por Reynolds de
transição, 𝑅𝑒𝑡 :

• Dado que uma certa distância é percorrida durante o processo de transição, desde que este se
inicia até que se termina, 𝑅𝑒𝑡 > 𝑅𝑒𝑐 .
• O escoamento é considerado turbulento se 𝑅𝑒𝑥 > 𝑅𝑒𝑡

15
• Para camadas limite em gradiente de pressão nulo, tipicamente verifica-se que 5,5 × 105 ≤
𝑅𝑒𝑡 ≤ 3 × 106 .

3.3.4 INSTABILIDADE DE KEL VIN-HELMHOLTZ


Suponhamos um escoamento de camada de mistura em que, a um qualquer nível no interior da camada,
se desenvolve uma ligeira ondulação (Figura 10 a)). Associada à variação da seção reta de um tubo de
corrente delimitado por essa linha de corrente instantânea, instala-se uma sobrepressão do lado côncavo
e uma sucção do lado convexo (Figura 10 b)). Não tendo o fluido capacidade para suportar o diferencial
de pressões na direção radial, isto vai provocar um aumento da amplitude da oscilação inicial e conduzir,
ultimamente, a uma configuração de turbilhões transversais como mesmo sentido (Figura 10 c)). É a
chamada instabilidade de Kelvin-Helmholtz.

Figura 10 a), b) e c): Evolução da instabilidade de Kelvin-Helmholtz.

4 CAMADA LIMITE TURBULENTA

4.1 TENSÕES DE CORTE

Embora isso vá ser aprofundado adiante, para


a compreensão deste capítulo importa saber
que há tensões de corte de origem laminar
̅
𝜕𝑢
(𝜏𝑙𝑎𝑚 = 𝜇 ), e de origem turbulenta (𝜏𝑡𝑢𝑟𝑏 =
𝜕𝑦
̅̅̅̅̅), sendo a tensão de corte média a
−𝜌𝑢′𝑣′
soma destas duas componentes: 𝜏̅ = 𝜏𝑙𝑎𝑚 +
𝜏𝑡𝑢𝑟𝑏 . Verifica-se que as tensões de corte
laminares predominam quando os efeitos Figura 11: Perfil das tensões e velocidade em função da
viscosos são fortes. distância à parede.

4.2 ESTRUTURA DO PERFIL DE VELOCIDADE MÉDIA PERTO DA PAREDE

O comportamento de escoamentos turbulentos é controlado pelos turbilhões de grandes dimensões. Por


outro lado, só é “fácil” estudar a camada limite turbulenta em regiões onde os turbilhões sejam pequenos,
pois turbilhões pequenos “desfazem-se” rapidamente (isto é, têm curta existência), não tendo tempo
para transportar informação de outras zonas do escoamento – o chamado efeito de história. O intermédio
são os grandes turbilhões de dimensões pequenas quando comparadas com uma escala global de
comprimentos característica de camada de corte, para os quais se pode desprezar a transferência de
informação e afirmar que produção local = dissipação local. Assumindo que existem, observa-se que:

• Estes turbilhões específicos só poderão existir perto de uma parede que condicione a sua
dimensão, pelo que se chama camada de parede a esta região em equilíbrio local;
• Regiões em condições de equilíbrio local só existem em escoamentos de camada limite e nunca
em camadas de corte livres, onde não há qualquer barreira física capaz de constranger a
dimensão dos turbilhões contendo energia;

16
• Uma camada limite turbulenta pode ser dividida numa uma camada interior, em equilíbrio local,
e uma camada exterior, onde os efeitos de história são importantes.

Figura 12: Perfil de velocidades duma camada limite turbulenta nas coordenadas semi-logarítmicas da lei da parede.

4.2.1 CAMADA INTERIOR


Na camada interior definem-se as seguintes grandezas:

VELOCIDADE DE ATRITO COMPRIMENTO VELOCIDADE NÚMERO DE R EYNOLDS


CARATERÍSTICO ADIMENSIONALIZADA LOCAL
𝜈 𝑢 𝑦 𝑦𝑢𝜏
𝑢𝜏 = √𝜏𝑤 /𝜌 𝐿= +
𝑢 = +
𝑦 = =
𝑢𝜏 𝑢𝜏 𝐿 𝜈
Tabela 5

Subcamada Linear (y + < 5)

Na vizinhança imediata da parede a dimensão máxima dos grandes turbilhões é de tal modo pequena que
a contribuição turbulenta para a tensão de corte total se torna desprezável comparada com a laminar:
𝑑𝑈
𝜏 𝑇 ≈ 𝜏𝑤 ≈ 𝜇 . No entanto, há contribuição turbulenta para as tensões normais.
𝑑𝑦

Nesta subcamada verifica-se também:

𝑢 𝑢𝜏 𝑦
𝑢+ = 𝑦 + ⟺ =
𝑢𝜏 𝜈

Equação 17

Camada Tampão (5 < y + < 30 − 50)

Nesta camada coexistem tensões de corte de nível laminar e turbulento. A subcamada linear e a camada
tampão constituem a designada subcamada viscosa, em que as tensões de nível viscoso são significativas.
y
Camada de Parede (y + > 30 − 50 e < 0,10 − 0,20)
δ

Aumentando a distância à parede, a Reynolds elevados, o efeito da viscosidade deixa de ser significativo.
̅̅̅̅̅.
Por isso, para este intervalo de 𝑦 + , as tensões de corte são quase só de origem turbulenta: 𝜏𝑤 ≈ −𝜌𝑢′𝑣′

17
Nesta camada verifica-se uma equação muito útil, chamada lei da parede:

1
𝑢+ = ln(𝑦 + ) + 𝐶
𝐾

Equação 18

Os valores das constantes 𝐾 e 𝐶 dependem do escoamento. Para um escoamento de camada limite sobre
uma placa plana, 𝐾 = 0,41 e 𝐶 = 5,2.

4.2.2 CAMADA EXTERIOR


A análise da camada exterior de uma camada limite turbulenta é mais difícil porque esta é controlada por
turbilhões de grandes dimensões que, por durarem muito tempo, têm capacidade para transportar
informação a grandes distâncias, sendo assim responsáveis pelo efeito de história. Pode-se considerar um
valor de 20 − 30𝛿 para a distância ao longo da qual esses efeitos locais têm capacidade para se repercutir.

Enquanto em regime laminar o escoamento fica caracterizado por uma escala de comprimentos e uma
de velocidade, em regime turbulento são necessárias duas escalas de comprimento e duas de velocidade:
um par característico da camada de parede, e o outro representativo do escoamento como um todo. O
défice de velocidade no escoamento exterior, comparativamente à velocidade no interior da camada
limite, é da forma 𝑈 − 𝑢 = 𝑔(𝑦, 𝛿, 𝜏𝑤 , 𝜌). A análise dimensional conduz a:

𝑈𝑒 − 𝑢 𝑦
= 𝐺𝛽 ( )
𝑢𝜏 𝛿

Equação 19

𝛽 é designado por parâmetro de história e:

• Exprime a influência relativa do efeito invíscido do gradiente de pressão e o efeito da tensão de


corte superficial aplicada na parede;
• Um escoamento é designado auto-preservado quando 𝛽 é constante, o que equivale a dizer que
a relação entre o transporte e a produção de grandezas físicas é constante (independente de 𝑥).

4.2.3 LEI DE EXPOENTE 1/7


Na camada limite, alternativa, pode-se ainda usar uma fórmula muito simplista para o perfil de
velocidades, mas que tem bons resultados práticos, sobretudo para baixos números de Reynolds:
1
𝑢 𝑦 𝑛
=( )
𝑈𝑒 𝛿

Equação 20

O valor da constante 𝑛 depende das caraterísticas do escoamento:

• 𝑛 = 7: gradiente de pressão nulo e Reynolds relativamente baixos;


• 𝑛 = 7 − 10: Reynolds mais elevados ou gradientes de pressão favoráveis, ao qual está associado
um perfil com menores défices;
• 𝑛 = 3 − 7: Reynolds mais baixos ou gradientes de pressão adversos ou superfícies rugosas, que
induzem maiores défices de velocidade.

Esta fórmula é algo grosseira, tanto que não verifica as relações da camada sublinear nem a lei logarítmica.
Como tal, não pode ser integrada pela equação de von Kármán para obter o coeficiente de fricção.

18
Com base no perfil de velocidades dado pela equação anterior, pode-se recorrer às definições dos
parâmetros integrais para obter expressões para os seus valores na camada limite turbulenta, à
semelhança do que se fez no caso laminar com a solução de Blasius. Então, as relações de camada limite
num gradiente de pressão nulo (𝑑𝑝/𝑑𝑥 = 0) sobre uma camada limite hidrodinamicamente lisa são:

LAMINAR TURBULENTO
𝛿 −1/2
5𝑅𝑒𝑥 0,37𝑅𝑒𝑥
−1/5

𝑥
𝛿∗ 1.721𝑅𝑒𝑥
−1/2
0,046𝑅𝑒𝑥
−1/5

𝑥
𝜃 0.664𝑅𝑒𝑥
−1/2
0,036𝑅𝑒𝑥
−1/5

𝑥
𝑐𝑓 −1/2 −1/5
0.687𝑅𝑒𝑥 0,0576𝑅𝑒𝑥
𝐶𝐷 −1/2 −1/5
1.33𝑅𝑒𝐿 0,072𝑅𝑒𝐿
𝐻 2,591 1,286
𝜃 𝑎𝐿 = 0,133 7
𝑎𝑇 =
𝛿 72
𝛿∗ 0,3442 0,1262
𝛿
Tabela 6: O perfil de velocidades adotado para obter as relações do regime laminar é o dado pela solução de Blasius,
enquanto para o regime turbulento se usou a Equação 20.

A partir da tabela, nota-se que a influência do Reynolds nas propriedades do escoamento vai diminuindo
1 1
à medida que este fica mais turbulento, porque o 𝑅𝑒𝑥 passa de ter um expoente − para − . Isto justifica
2 5
porque é que, mais à frente, se dirá que para um escoamento de turbulência completamente
desenvolvida, a influência do número de Reynolds é desprezável.

4.3 CAMADA LIMITE TURBULENTA SOBRE UMA PLACA PLANA LISA

4.3.1 TENSÕES DE CORTE


Há uma fórmula empírica alternativa para o perfil de velocidades, mais simples do que a lei da parede e
válida para placas lisas e 𝑅𝑒𝐿 ≈ 107 :

𝑢 1
= 8,7(𝑦 + )7
𝑢𝜏

Equação 21

𝑑𝜃 𝐶𝑓
Recorrendo à equação de Von-Kármán para 𝑑𝑝/𝑑𝑥 = 0 e à definição de 𝑐𝑓 , vem que = ⟺ 𝜏𝑤 =
𝑑𝑥 2
𝑑𝜃
𝜌𝑈𝑒 2 , donde, usando a fórmula empírica anterior, se conclui que a tensão de corte na parede será:
𝑑𝑥

1
𝜈 4
𝜏𝑤 = 0,0227𝜌𝑈𝑒 2 ( )
𝑈𝑒 𝛿

Equação 22

4.3.2 TRANSIÇÃO LAMINAR -TURBULÊNCIA

19
Figura 13

Em relação ao estudo da transição, consideram-se duas simplificações possíveis.

Caso 1: Zona Laminar Desprezável

𝐿
Se > 10, pode-se admitir que a camada limite turbulenta começa no início da placa (𝑥0 = 𝛿0 = 0) e:
𝑥𝑐

4 1 1 1
𝑥 5 𝜈 5 𝑎 5 𝑎 5
𝛿(𝑥) = 0,058 ( ) ( ) 𝜏𝑤 = 0,0463 ( ) 𝜌𝑈𝑒 2 𝐶𝐷 = 0,116 ( )
𝑎 𝑈𝑒 𝑅𝑒𝑥 𝑅𝑒𝐿
Equação 23 a), b) e c).

Caso 2: Zona de Transição Desprezável

Admitindo que a zona de transição é desprezável, então 𝜃0 ≈ 𝜃𝑐 ⟹ 𝑥0 ≈ 𝑥𝑐 , de onde se conclui que:

𝑎𝐿
𝛿0 ≈ 𝛿 = 1,368𝛿𝑐
𝑎𝑇 𝑐

Equação 24: 𝑎𝐿 = 0,133 e 𝑎 𝑇 = 7/72.

Verifica-se ainda que:

1
5 𝑈𝑒 4
𝑥𝑣 = 𝑥𝑐 − 35,1𝑎 𝑇 𝛿0 4 ( )
𝜈

Equação 25

A força de resistência da placa é a soma das componentes laminar e turbulenta, 𝐷 = 𝐷𝐿 + 𝐷𝑇 , com:

1
𝐷𝐿 = 𝜌𝑈𝑒 2 𝑥𝑐 (𝐶𝐷 )𝐵𝑙𝑎𝑠𝑖𝑢𝑠
2

Equação 26

1 1
1 𝑎 5 𝑎 5
𝐷𝑇 = 𝜌𝑈𝑒 2 [[(𝐿 − 𝑥𝑣 ) ∗ 0,116 ∗ ( ) ] − [(𝑥𝑐 − 𝑥𝑣 ) ∗ 0,116 ∗ ( ) ]]
2 𝑅𝑒𝐿−𝑥𝑣 𝑅𝑒𝑥𝑐 −𝑥𝑣

Equação 27

Pode-se obter 𝑥𝑐 , necessário para estes cálculos, a partir do valor do Reynolds crítico, 𝑅𝑒𝑐 , que
normalmente é 5,5 ∗ 105 :

𝜈𝑅𝑒𝑐
𝑥𝑐 =
𝑈𝑒

Equação 28

20
A partir daqui, obtém-se 𝛿𝑐 usando a solução de Blasius:

5
𝛿𝑐 = 1/2
𝑥𝑐
𝑅𝑒𝑐

Equação 29

Se 𝑥0 é o ponto onde 𝛿 = 𝛿0, (em geral escolhe-se 𝑥0 coincidente com o início da camada limite
turbulenta), então a espessura da camada limite turbulenta numa dada abcissa 𝑥 será:

5 1 4/5
𝑥 − 𝑥0 𝜈 4
𝛿(𝑥) = [𝛿04 + 0,0284 ( )( ) ]
𝑎 𝑈𝑒

Equação 30

4.4 CAMADA LIMITE TURBULENTA SOBRE UMA PLACA PLANA RUGOSA

Se a superfície for rugosa a distribuição de velocidades será naturalmente afetada pela dimensão,
uniformidade, geometria e densidade da distribuição de rugosidades.

Um acréscimo de rugosidade produz maiores défices de velocidade.

4.4.1 ZONAS NA CAMADA LIMITE


Define-se o número de Reynolds da rugosidade como:

𝑢𝜏 𝜀
𝑅𝑒𝜀 =
𝜈

Equação 31

Reε < 5

Rugosidades completamente imersas na subcamada linear não afetam o escoamento, pelo que este se
comporta como se desenvolvesse ao longo de uma superfície lisa – diz-se que esta é uma superfície
hidrodinamicamente lisa.

5 < Reε < 70

Nesta gama intermédia, as características do escoamento são dependentes tanto da viscosidade


molecular como da rugosidade equivalente, isto é, 𝑈 = 𝑈(𝑢𝜏 , 𝑦, 𝜈, 𝜀).

Reε > 70

O regime é completamente rugoso, tanto que o escoamento se processa independentemente da


viscosidade. O campo de velocidades passará a vir definido em termos de 𝑢𝜏 , 𝑦 e 𝜀. A análise dimensional
𝑢 1 𝑦
conduz a: = ln ( ) + 𝐵 , onde 𝐾 = 0,41 e 𝐵 = 8,5.
𝑢𝜏 𝐾 𝜀

𝑥 𝑙
Em regime completamente rugoso, o 𝑐𝑓 e 𝐶𝐷 são independentes do Reynolds e, nas gamas > 102 e <
𝜀 𝜀
106 , são dados por:

2,5 −2,5
𝑥 𝑙
𝑐𝑓 = (2,87 + 1,58𝑙𝑜𝑔 ( )) 𝐶𝐷 = (1,89 + 1,62𝑙𝑜𝑔 ( ))
𝜀 𝜀
Equação 32 a) e b)

21
4.4.2 TURBILHÕES PERTO DA PAREDE
Num escoamento junto a uma parede muito rugosa, tal como
característico de um qualquer corpo não-fuselado, instala-se uma
sobrepressão na face frontal da rugosidade e uma sucção na base, pelo
que é de prever que a resistência de natureza invíscida associada a este
diferencial de pressões prevaleça largamente sobre uma resistência de
nível viscoso. Também a camada limite se separa a montante da
rugosidade, dando origem a uma região de recirculação que pode ser
simulada por um turbilhão. Este deverá assumir uma forma de ferradura,
contornando a rugosidade e prolongando-se para jusante. Figura 14: Turbilhões em ferradura.

4.5 MÉTODO DE HEAD

O cálculo da evolução dos parâmetros integrais de uma camada limite turbulenta num qualquer gradiente
de pressão pode ser feito através do método de Head, que se apresenta de forma sequencial:

𝑑 𝑑
• Define-se velocidade de arrastamento, 𝑉𝐸 , como 𝑉𝐸 = (𝑈𝑒 (𝛿 − 𝛿 ∗ )) = (𝑈𝑒 𝜃𝐻1 ), em que
𝑑𝑥 𝑑𝑥
𝛿−𝛿 ∗
𝐻1 = .
𝜃
𝑉𝐸
• A partir de dados experimentais, concluiu-se que = 0,0306(𝐻1 − 3)−0,6169 e 𝐻1 =
𝑈𝑒
0,8234(𝐻 − 1,1)−1,287 + 3,3, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐻 ≤ 1,6
{
1,5501(𝐻 − 0,6778)−3,064 + 3,3, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐻 ≥ 1,6
• Há ainda a lei empírica de Ludwieg-Tillmann: 𝐶𝑓 = 0,246 ∗ 10−0,678𝐻 ∗ 𝑅𝑒𝜃 −0,678
• Com estas fórmulas, é possível conhecer as 3 incógnitas 𝜃, 𝐻 e 𝐶𝑓 na equação de Von Kármán:
𝑑𝜃 (𝐻+2) 𝑑𝑈 𝐶𝑓
+𝜃 = .
𝑑𝑥 𝑈 𝑑𝑥 2

Verifica-se experimentalmente que, dependendo da história do escoamento, na separação 𝐻 apresenta


valores na gama 1,8 − 2,4.

5 ESCOAMENTO EM TORNO DE CORPOS

5.1 FORÇA DE RESISTÊNCIA AERODINÂMICA

A força de resistência aerodinâmica (drag) é dada por:

𝐷 = 𝐷𝑝 + 𝐷𝑓

Equação 33

Estas componentes representam diferentes coisas:

• 𝐷𝑝 é a resistência de forma gerada pelo campo de pressões do escoamento em torno do corpo;


• 𝐷𝑓 é a resistência viscosa, resultante das tensões de corte que se verificam entre o escoamento
e a superfície do próprio corpo.
Note-se duas coisas em relação a esta força:

• O efeito de cada componente no


equilíbrio de forças depende das
condições do escoamento;
• A sua direção e sentido são iguais às da
velocidade (exterior) do escoamento,
𝑈𝑒 . Figura 15

22
5.2 ESCOAMENTO EM TORNO DE UM CILINDRO

No caso do escoamento em torno de um cilindro, a ocorrência da separação e as suas características são


função do número de Reynolds.

5.2.1 𝑅𝑒 ≤ 41 – ESCOAMENTO (PRATICAMENTE) ESTACIONÁRIO


Para um baixo número de Reynolds as forças viscosas predominam e o escoamento não é muito caótico.

Re < 5

Para números de Reynolds da ordem de grandeza de 1, as forças de inércia são desprezáveis e o campo
de pressões é determinado pelas tensões viscosas. A resistência aerodinâmica é principalmente resultado
do atrito (tensões de corte). Esta aproximação a escoamento invíscido chama-se creeping flow.

Figura 16: Escoamento em torno de um cilindro com 𝑅𝑒~1.

5 < Re < 41 – Escoamento Laminar

A partir de 𝑅𝑒 ≈ 5 − 6 ocorre a separação, que neste estágio é estacionária e se manifesta na forma de


duas bolhas simétricas a jusante do cilindro. A diferença de pressão nas diferentes partes desta esteira
provoca resistência aerodinâmica de forma (de pressão).

Figura 17: Escoamento em torno de um cilindro a baixos 𝑅𝑒.

5.2.2 𝑅𝑒 ≥ 41 – ESCOAMENTO NÃO ES TACIONÁRIO


Com o aumento do número de Reynolds, vemos a formação da Estrada de Von Kármán devido à libertação
das concentrações de vorticidade.

23
Figura 18: Formação progressiva da estrada de Von Kármán em função de 𝑅𝑒.

À medida que a esteira vai aumentando (com 𝑅𝑒), vai ficando mais suscetível a perturbações pequenas,
provocando o desencontrar das duas camadas de corte (a "de cima" e a "de baixo" do cilindro) no final da
esteira. Uma começa então a "sobrepor-se" à outra, e a que fica junto ao cilindro corta o fornecimento
de vorticidade da que fica "de fora". A camada "de dentro" começa então a crescer livremente
(concentração de vorticidade), até que aparece uma nova camada do outro lado para "se entrepor" e
cortar o fornecimento de vorticidade à camada aumentada, libertando-a.

Figura 19: Crescimento (à esquerda) e libertação (à direita) da concentração de vorticidade.

Este ciclo repete-se com a libertação alternada de


vórtices de um e outro lado do cilindro, e pode ser
modelado através da Estrada de Von Kármán (a
consideração de uma distribuição retilínea, dupla,
de vórtices pontuais de intensidade simétrica,
desfasados de meio comprimento de onda). Figura 20: Geometria do modelo da estrada de Von Kármán.

41 < Re < 2000 – Escoamento Laminar

A libertação alternada de vórtices resulta em forças oscilantes a atuar no cilindro: a força de Drag
mantém-se sempre a jusante do corpo, mas a força de Lift está no flanco onde estiver a concentração de
vorticidade. Esta oscilação de forças pode provocar a vibração do corpo, o que muitas vezes é indesejado.

Figura 21: À esquerda, libertação de vórtices alternados a 𝑅𝑒 = 140. À direita, um diagrama das forças oscilantes em
atuação no corpo não-fuselado.

2000 < Re < 10000 – Escoamento Laminar

24
Em seguimento do estágio anterior, vê-se o crescimento da esteira, no final da qual se dá a libertação de
vórtices. À volta dela (na separação), o campo de pressões é aproximadamente uniforme, mas dentro
dela vemos uma turbulência caracterizada por baixas velocidades e uma pressão ligeiramente inferior à
ambiente. A separação é inicialmente laminar, mas torna-se turbulenta quando o escoamento se afasta
do corpo não-fuselado.

Figura 22: Escoamento em 𝑅𝑒 = 2000, com separação maioritariamente laminar e esteira turbulenta.

Re ≫ 10000 – Escoamento Turbulento

Quando o número de Reynolds atinge um valor extremamente elevado (por aumento da velocidade ou
por redução da viscosidade) o escoamento torna-se turbulento, diminuindo o tamanho da esteira e os
efeitos das forças de Drag (arrasto).

Figura 23: À esquerda está um escoamento em torno de um cilindro a 𝑅𝑒 = 10000; note-se que este é praticamente
estacionário na vizinhança do corpo não-fuselado. Do outro lado, apresenta-se uma representação esquemática de
um escoamento em torno de um cilindro no qual ocorreu transição para regime turbulento.

5.2.3 SEPARAÇÃO LAMINAR E SEPARAÇÃO TURBULENTA


Localização da Separação

Figura 24: Posição do início da separação em escoamento laminar com 𝑅𝑒 elevado (à esquerda) e em escoamento
turbulento (à direita).

25
• Enquanto a separação é laminar, à medida que 𝑅𝑒 aumenta, o ângulo entre o escoamento
exterior e a posição da separação () vai diminuindo, aumentando o tamanho da esteira; isto
verifica-se quando não ocorre a transição para regime turbulento antes do ponto de separação.
• Quando ocorre transição para turbulento ainda na superfície do corpo, o ângulo  aumenta
drasticamente e observamos uma bruta redução do tamanho da esteira, bem como do valor do
Coeficiente de Drag (redução da resistência aerodinâmica). Isto acontece porque em regime
turbulento o escoamento consegue "suportar" melhor um gradiente adverso de pressão, isto é,
tem menos tendência a entrar em separação e por essa razão ela acontece mais a jusante que
em regime laminar.
Forças de Pressão e de atrito na Dicotomia Laminar/Turbulento

No escoamento laminar, as tensões de forma são dominantes em todos os aspetos, mas após a transição
para o regime turbulento dá-se um aumento da força de atrito, sendo então esta a maior componente na
força de resistência aerodinâmica que atua no cilindro.

COEFICIENTE DE PRESSÃO COEFICIENTE DE DRAG


𝑝 − 𝑝∞ 𝐷
𝐶𝑝 = 𝐶𝐷 =
𝜌𝑈 2 𝜌𝐴𝑈𝑒 2
( 𝑒) ( )
2 2
𝐶𝑝 em função do Ângulo entre o Escoamento e 𝐶𝐷 em função de 𝑅𝑒 para uma esfera (a azul) e um
o ponto de início da Separação (): disco (a vermelho):

Tabela 7

5.3 ESCOAMENTO EM TORNO DE UMA ESFERA

No caso da esfera, os fenómenos são muito semelhantes aos do cilindro.

5.3.1 𝑅𝑒 ≈ 15000 – ESCOAMENTO LAMINA R


A camada limite separa antes do equador e permanece laminar até 𝑑/2 depois da separação.

Figura 25: Escoamento laminar em torno de uma esfera com 𝑅𝑒 = 15000.

26
5.3.2 𝑅𝑒 ≈ 30000 – ESCOAMENTO TURBUL ENTO
A camada limite passa a turbulenta e separa-se (muito) após o equador, sendo a esteira muito menor,
bem como a própria separação. A resistência é então muito menor neste caso do que no anterior.

Figura 26: Escoamento turbulento em torno de uma esfera com 𝑅𝑒 = 30000.

5.3.3 ESCOAMENTO EM TORNO DE UMA BOLA DE GOLFE


No caso de uma bola de golfe, quer-se reduzir ao máximo a resistência aerodinâmica, e por essa razão a
sua superfície é como é. Aumentando a rugosidade relativa da superfície do corpo, obtém-se uma redução
drástica do arrasto para um número de Reynolds mais baixo. Isto ocorre porque a aumentada rugosidade
"força" a transição para o regime turbulento, "empurrando" a separação mais para jusante, efetivamente
reduzindo o Drag derivado da pressão.

Figura 27: Diagrama e gráfico relativos à comparação bola polida-bola de golfe.

Note-se no gráfico como a transição para regime turbulento (representado pela drástica redução do
arrasto) ocorre na bola de golfe para um 𝑅𝑒 consideravelmente mais baixo que nos outros exemplos de
rugosidade relativa.

5.4 ESCOAMENTO EM TORNO DE CORPOS COM ARESTAS VIVAS

Quando um escoamento encontra uma aresta, ocorre inevitavelmente separação, independentemente


do número de Reynolds. Numa aresta com um ângulo menor que 180 graus, a pressão é menor no ponto
da aresta do que no resto do escoamento; numa aresta com um ângulo maior que 180 graus a pressão é
menor imediatamente a seguir ao ponto da aresta. Estas diferenças de pressão dão origem à separação.
O Coeficiente de Drag é maioritariamente independente de 𝑅𝑒.

27
Figura 28: Formação de separação perto de arestas vivas e exemplos em corpos mais complexos.

5.5 COEFICIENTE DE DRAG NO ESCOAMENTO EM TOR NO DE CORPOS NÃO -FUSELADOS

5.5.1 COEFICIENTE DE DRAG EM CORPOS 2D

Figura 29: Coeficiente de Drag em função de 𝑅𝑒.

28
Figura 30: Coeficiente de Drag em função da geometria do corpo.

5.5.2 COEFICIENTE DE DRAG EM CORPOS 3D

Figura 31: Coeficiente de Drag em função de 𝑅𝑒.

29
Figura 32: Coeficiente de Drag em função da geometria do corpo.

5.6 ESCOAMENTO EM TORNO DE UM PERFIL ALAR

Para maximizar a sustentação (Lift) e minimizar a resistência


(Drag), utilizam-se os perfis alares, com dimensões:

• 𝑐 é a corda que une o bordo de ataque ao bordo de


fuga;
• 𝑡 é a espessura máxima, medida na perpendicular
Figura 33: Perfil alar.
à corda c;
• ℎ é curvatura máxima (desvio máximo da linha central em relação à corda).
ÂNGULO DE ATAQUE  ("AO A") ÂNGULO 
Ângulo entre a direção do escoamento (exterior) 2ℎ
𝛽 = 𝑡𝑎𝑛−1 ( )
e a corda (c) do perfil alar 𝑐

Tabela 8: Ângulos relevantes num perfil alar.

5.6.1 COEFICIENTES DE DRAG E LIFT

30
Os coeficientes referentes às forças
aplicadas pelo escoamento no corpo, 𝐶𝐷
e 𝐶𝐿 , são afetados pelo número de
Reynolds e pela forma do próprio corpo.
Olha-se agora para a otimização da
geometria do corpo de modo a produzir
o equilíbrio de forças e momentos
desejado, na forma dos perfis alares.

Definindo um referencial relativo ao


escoamento exterior, em que a direção Figura 34: Equilíbrio de forças e momentos aplicados pelo
escoamento no corpo (fuselado).
deste é a componente 𝑥 e a direção
perpendicular ao mesmo é a componente 𝑦, pode-se decompor a resultante das forças atuantes no corpo
pelo escoamento, 𝐹⃗ , como 𝐹⃗ = 𝐹⃗𝑥 + 𝐹⃗𝑦 = 𝐷
⃗⃗ + 𝐿⃗⃗.

De um modo geral (considerando a aplicação mais óbvia, a aeronáutica) o referencial 𝑥𝑦 que definimos é
o mesmo no qual a força gravítica (𝑃) tem a direção 𝑦, sendo que é esta que vai "equilibrar" com a força
sustentação (𝐿): 𝐿⃗⃗ + 𝑃⃗⃗ = 0 ⟺ 𝐿 − 𝑃 = 0 ⟺ 𝐿 = 𝑃; da mesma forma, a força de resistência
⃗⃗ + 𝐷
aerodinâmica (𝐷) vai "equilibrar" com a propulsão do corpo (𝑁): 𝑁 ⃗⃗ = 0 ⟺ 𝑁 − 𝐷 = 0 ⟺ 𝑁 = 𝐷.
Compreende-se então que o nosso objetivo seja estudar a geometria que minimize a resistência
aerodinâmica e que maximize a sustentação.

𝐷 𝐿 𝑡
𝐶𝐷 = 𝐶𝐿 = = 2𝜋 (1 + 0.77𝑐) 𝑠𝑒𝑛(𝛼 + 𝛽)
𝜌𝐴𝑈 2 𝜌𝐴𝑈 2
( ) ( )
2 2

Tabela 9: Uma fórmula básica para o Coeficiente de Lift em função dos ângulos  e  e dos comprimentos c e t.

5.6.2 ÂNGULO DE ATAQUE


Efeito do Ângulo de Ataque no Campo de Pressão

É intuitivo que o gradiente de pressão adverso seja sempre moderado quando o ângulo de ataque é nulo,
e que seja elevado quando há um ângulo :

Figura 35: Gradiente de pressão num perfil alar com ângulo de ataque nulo (esquerda) e num com ângulo de ataque
não nulo (direita).

Note-se como o gradiente de pressão adverso é muito mais elevado perto da parte do perfil onde a
espessura é máxima.

Efeito do Ângulo de Ataque na Separação

Generalizando, no caso de ângulo de ataque nulo, tem-se uma baixa curvatura das linhas de corrente e,
como já se viu, um gradiente de pressão adverso moderado. Tal como no caso dos corpos não-fuselados,
a viscosidade é dominante, sendo então a resistência pequena. Nestas condições não há ocorrência da
separação.

31
Havendo um ângulo de ataque, a curvatura das linhas de corrente aumenta, o gradiente de pressão
adverso é elevado e como tal a resistência de forma, dominante, é também elevada. Observamos então
a separação nestas condições.

Figura 36: À esquerda, escoamento em torno de um corpo fuselado; situação de  = 0. À direita, escoamento em
torno de um corpo fuselado; situação de 𝛼 ≠ 0.

Em suma, o efeito do ângulo de ataque na separação evolui da seguinte forma:

Figura 37: Descrição detalhada da separação em quatro situações de ângulo de ataque e 𝑅𝑒 diferentes.

Efeito do Ângulo de Ataque nos Coeficientes de Drag e Lift

Figura 38: À esquerda, 𝐶𝐿 em função do ângulo de ataque  e para diferentes valores de 𝑅𝑒; à direita, a razão entre
os dois coeficientes 𝐶𝐿 /𝐶𝐷 .

Note-se no gráfico de 𝐶𝐿 que, para os diferentes números de Reynolds, há um crescimento proporcional


inicial (com aproximadamente 𝐶𝐿 = 0.1𝑅𝑒), e em certo ponto atinge-se um valor máximo de sustentação,

32
observando-se então uma descida até 𝐶𝐿 ≈ 0.8 − 1; esta ondulação é muitíssimo mais acentuada para os
Reynolds de ordem 106 do que para os de 105 .

Obviamente quer-se maximizar 𝐶𝐿 /𝐶𝐷 , para aumentar a sustentação e diminuir o drag. No gráfico desta
grandeza, observa-se uma curvatura muito semelhante às de maior 𝑅𝑒 do gráfico anterior (mas com uma
queda menos abrupta). Note-se, no entanto, que os valores do número de Reynolds neste gráfico são
todos menores que o menor valor de 𝑅𝑒 do gráfico anterior.

Entrada em Perda

Há uma estagnação da sustentação quando se chega a um determinado ângulo de ataque, ao mesmo


tempo que a resistência aerodinâmica começa a aumentar – entrada em perda. O objetivo de projeto do
engenheiro aeronáutico é evitá-lo ao máximo.

Figura 39: Projeto de minimização da resistência aerodinâmica, à esquerda, e projeto de maximização da razão
Sustentação/Resistência, à direita.

Utilização de um Flap

Por fim introduz-se o conceito de flap: superfície articulada montada no bordo de fuga da asa para
maximizar o Lift a uma determinada velocidade e ângulo de ataque.

Consoante o ângulo do flap, obtêm-se valores diferentes dos coeficientes pertinentes. O ângulo standard
de um flap é 60.

Dos gráficos abaixo, nota-se que, para números de Reynolds crescentes, o coeficiente de lift aumenta e o
coeficiente de drag diminui.

Figura 40: Coeficientes de Lift e Drag em função do ângulo de ataque, a diferentes ângulos de flap.

33
TURBULÊNCIA
1 DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE ESCOAMENTOS TURBULENTOS

1.1 CARATERÍSTICAS GERAIS DE ESCOAMENTOS TURBULENTOS

1.1.1 NÚMERO DE REYNOLDS E LEVADO


Escoamentos turbulentos são caracterizados por números de Reynolds elevados. Ora, como 𝑅𝑒 ≡
𝐹𝑖𝑛é𝑟𝑐𝑖𝑎 /𝐹𝑣𝑖𝑠𝑐𝑜𝑠𝑎𝑠 , isto significa que num escoamento turbulento as forças viscosas têm reduzida
importância, em comparação com os efeitos inerciais.

1.1.2 ELEVADA MISTURA DE Q UANTIDADES ATIVAS E PASSIVAS


As taxas de difusão de quantidade de movimento, calor, salinidade e concentração de poluentes em
escoamentos turbulentos são várias ordens de grandeza maiores do que em regimes laminares, facto que
tem importantes aplicações em engenharia.

1.1.3 EXISTÊNCIA DE TURBIL HÕES


Embora os escoamentos turbulentos sejam extraordinariamente complexos, existem neles estruturas
conhecidas como turbilhões (ou vórtices), que são governados aproximadamente por mecanismos
relativamente simples, e que permitem explicar muitos dos efeitos da turbulência.

Os escoamentos turbulentos são caraterizados por possuírem


uma grande gama de escalas de velocidade, comprimento ou
tempo:

• Comprimentos de onda mais elevados (baixas


frequências) estão associados ao movimento dos
maiores turbilhões que existem no campo do
escoamento e a grandes contribuições para a energia
cinética turbulenta;
• Comprimentos de onda mais pequenos (elevadas
frequências) estão associados a turbilhões de menor
dimensão, com pouca energia.
Figura 41
Os grandes turbilhões governam 80-90% do transporte de
massa, quantidade de movimento, energia, calor, etc.

1.1.4 IRREGULARIDADE ESPACIOTEMPORAL


Ao contrário dos regimes laminares, na turbulência há
flutuações intensas de variáveis como a velocidade e a
pressão. Por isso, estas podem-se expressar em função das
suas partes médias e das flutuações em relação a essa média:

𝑢𝑖 = 𝑢̅𝑖 + 𝑢𝑖′ 𝑝 = 𝑝̅ + 𝑝′ Figura 42: Flutuações da velocidade em


torno de um valor médio.
Equação 34: Decomposição de Reynolds.

A relação entre as duas partes da velocidade define a intensidade da turbulência:

34
𝑢′
𝐼𝑢 =
𝑢̅

Equação 35

TÚNEIS AERODINÂMICOS ESCOAMENTOS PARIETAIS ESCOAMENTOS TURBULENTOS


(CAMADAS LIMITES TURBULENTAS ) LIVRES ( ESTEIRAS E JATOS )
𝐼𝑢 ≈ 1% 𝐼𝑢 ≈ 10% 𝐼𝑢 ≈ 30%
Tabela 10: Valores típicos de 𝐼𝑢 . Note-se que as flutuações de velocidade são inibidas pela presença de paredes
(condição de não escorregamento: ̅̅̅̅
𝑢′2 ≈ ̅̅̅̅
𝑣 ′2 ≈ ̅̅̅̅̅
𝑤 ′2 ≈ 0), daí o baixo valor para os escoamentos parietais.

A partir da decomposição de Reynolds, tiram-se algumas conclusões sobre os grandes turbilhões:

• A sua velocidade característica, 𝑢0 , é da ordem de grandeza da velocidade do escoamento médio,


𝑈: 𝑢0 ~ 𝑈;
• A sua dimensão característica, 𝑙0 , é da ordem de grandeza da maior escala de comprimento
existente no escoamento, 𝐿: 𝑙0 ~ 𝐿;
• O seu número de Reynolds, 𝑅𝑒0 , é da ordem de grandeza do Reynolds do escoamento, 𝑅𝑒𝐿 :
𝑢0 𝑙0 𝑈𝐿
𝑅𝑒0 = ~ = 𝑅𝑒𝐿 ;
𝜈 𝜈

1.2 TENSÕES DE REYNOLDS

Tendo isto em conta, passa-se das equações de Navier-Stokes para as equações de Reynolds:

𝜕𝑢𝑖 𝜕𝑢̅𝑖
=0 =0
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
→ ̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢𝑖 1 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑢𝑖 𝜕𝑢̅𝑖 1 𝜕𝑝̅ 𝜕 2 𝑢̅𝑖 𝜕(−𝒖 ′ 𝒖′ )
𝒊 𝒋
𝑢𝑗 =− +𝜈 𝑢̅𝑗 =− +𝜈 +
{ 𝜕𝑥𝑖 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥 𝑗 { 𝜕𝑥 𝑖 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥 𝑗 𝜕𝑥 𝑗

Equação 36: Equações de Reynolds.

𝑅
O termo a negrito é designado por tensor das tensões de Reynolds, 𝜏𝑖𝑗 ̅̅̅̅̅̅
= −𝜌𝑢 ′ ′
𝑖 𝑢𝑗 , que:

• Podem ser vistas como tensões aparentes causadas pelas flutuações de velocidade;
• Representam fluxos de quantidade de movimento adicional, causados pelas flutuações de
velocidade do escoamento turbulento, entre o campo turbulento e o campo médio;
• Relacionam as diferentes componentes da velocidade flutuante num mesmo ponto;
• São responsáveis pelas elevadas taxas de transporte e mistura de quantidades ativas e passivas
que têm lugar em escoamentos turbulentos.

Figura 43: Perfis das tensões de Reynolds.

35
1.3 CASCATA DE ENERGIA DE RICHARDSON -KOLMOGOROV

Define-se a energia cinética turbulenta (por unidade de massa de fluido) como sendo a energia cinética
do campo de flutuações de velocidade:

1 ′ 2 1 ̅̅̅̅2 ̅̅̅̅2 ̅̅̅̅̅2


𝑘 = ̅̅̅̅
𝑢 = (𝑢′ + 𝑣′ + 𝑤′ )
2 𝑖 2

Equação 37

A equação de transporte de energia cinética turbulenta é:

̅̅̅̅̅̅̅̅̅2
𝜕 1 ′2 𝜕𝑢̅𝑖 𝜕 1 ̅̅̅̅̅̅̅̅ 1 ′ ′ 𝜕 1 ̅̅̅̅ 𝜕𝑢𝑖′
𝑢̅𝑗 ̅̅̅̅̅̅
( 𝑢𝑖 ) = −𝑢 ′ 𝑢′
𝑖 𝑗 + (− 𝑢 ′ 2 𝑢 ′ 2 − ̅̅̅̅̅
𝑝 𝑢 + 𝜈 ( 𝑢 ′ 2 )) − 𝜈 ( )
𝜕𝑥𝑗 2 ⏟ 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥 ⏟𝑗 2 𝑖 𝑗 𝜌 𝑖
𝜕𝑥𝑗 2 𝑖 ⏟ 𝜕𝑥𝑗
𝑃 𝑇 𝜀

Equação 38

A partir desta equação pode-se estudar a evolução da energia cinética num escoamento turbulento, num
processo constituído por 3 grandes etapas sequenciais – produção, transferência e dissipação, às quais
correspondem os 3 termos do lado direito –, a que se chama cascata de energia.

Figura 44

1.3.1 PRODUÇÃO (TERMO P)


O termo P é em geral positivo e, por isso, representa uma fonte de energia cinética turbulenta: os grandes
̅̅̅𝑖
𝜕𝑢
turbilhões retiram energia cinética do campo médio através do gradiente de velocidade média ; são
𝜕𝑥𝑗

estes gradientes que “alimentam” a turbulência.

1.3.2 TRANFERÊNCIA (TERMO T)


O termo T da equação não produz ou dissipa turbulência, apenas a redistribui pelo escoamento, dos
maiores turbilhões para turbilhões sucessivamente mais pequenos, através de um processo invíscido e
isotrópico. Esta transferência é independente da viscosidade porque, uma vez que se trata de um
escoamento turbulento, o número de Reynolds dos maiores turbilhões é muito elevado (normalmente,
até é da ordem de grandeza do Reynolds do escoamento).

36
1.3.3 DISSIPAÇÃO (TERMO 𝜀)
Quando a dimensão e velocidade dos turbilhões da cascata de energia se torna muito pequena, o
Reynolds baixa e a viscosidade faz-se sentir, convertendo a energia cinética em calor; logo, chama-se a
este termo 𝜀 taxa de dissipação de energia cinética. Desta definição vem que:

𝑑𝑘
• Na ausência de fontes de energia cinética, a energia cinética 𝑘 decairá segundo = −𝜀.
𝑑𝑡
• Num estado de turbulência em equilíbrio, a ordem de grandeza da energia cinética turbulenta
produzida, transferida e dissipada tem de ser a mesma: 𝑃 ~ 𝑇 ~ 𝜀.
Os escoamentos turbulentos têm lugar a elevados números de Reynolds, onde a viscosidade 𝜈 é baixa, de
̅̅̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢′
2
forma que a taxa de dissipação só será apreciável se existirem elevados gradientes de velocidade ( 𝑖 ) .
𝜕𝑥𝑗

Conclui-se que só há elevadas taxas de dissipação em regiões de elevadas frequências: a dissipação viscosa
está associada aos mais pequenos turbilhões do escoamento, que ficam com muito pouca energia
cinética; esta energia está associada aos grandes turbilhões.

No geral, a dissipação de energia resulta do trabalho das forças viscosas a deformar os elementos de
fluido.

Importa agora obter uma estimativa da taxa de dissipação. Para isso, considere-se um turbilhão de
dimensão 𝑙 e velocidade 𝑢(𝑙) no campo de escoamento:

• Energia cinética associada a este turbilhão ~ 𝑢2 (𝑙)


• Fragmenta-se em turbilhões mais pequenos numa escala de tempo 𝜏(𝑙) ~ 𝑙/𝑢(𝑙)
• Taxa de transferência de energia entre turbilhões 𝑇(𝑙) ~ 𝑢2 (𝑙)/𝜏(𝑙) ~ 𝑢3 (𝑙)/𝑙
• Para uma situação de turbulência em equilíbrio 𝑇(𝑙) ~ 𝑇(𝑙0 ) ~ 𝑢03 /𝑙0 ~ 𝜀
Então, a lei da taxa de dissipação (para turbulência em equilíbrio) é:

𝑢03
𝜀~
𝑙0

Equação 39

• Esta lei diz-nos que a taxa de dissipação viscosa é independente da viscosidade, pois é totalmente
“imposta” pelas características e dinâmica dos maiores turbilhões do escoamento, 𝑢0 e 𝑙0 .
• Se a taxa de transferência de energia é imposta pelos grandes turbilhões, os pequenos turbilhões
̅̅̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢′
2
têm de se ajustar para criar gradientes de velocidade ( 𝑖 ) tão intensos quanto necessário – não
𝜕𝑥𝑗

𝑢03
̅̅̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢′
2
esquecer que 𝜀 ~ ~ 𝜈 ( 𝑖 ) –, de modo a gerar uma taxa de dissipação viscosa que equilibre
𝑙0 𝜕𝑥𝑗
𝑑𝑘
a taxa de transferência de energia cinética imposta pelos grandes turbilhões, pois = −𝜀.
𝑑𝑡
• Do mesmo modo, se considerarmos um dado escoamento no qual a velocidade e comprimento
característicos dos grandes turbilhões são fixos, baixar a viscosidade (o que aumentaria o número
de Reynolds) causará uma intensificação dos gradientes de velocidade do campo.
• A intensificação dos gradientes de velocidade acarreta uma diminuição da dimensão
característica dos mais pequenos turbilhões existentes no escoamento.
• Para um número de Reynolds suficientemente alto, o coeficiente de fricção e o coeficiente de
resistência aerodinâmica são constantes (ver figura abaixo).

37
Figura 45: Para Reynolds elevados, o coeficiente de fricção (esquerda) e o de resistência (direita) ficam constantes.

2 AS ESCALAS DA TURBUL ÊNCIA

2.1 MICROESCALA DE KOLMO GOROV (TURBILHÕES PEQUENOS)

Para turbilhões pequenos, o número de Reynolds diminui e os efeitos viscosos tornam-se dominantes.
Tendo isto em atenção, a microescala de Kolmogorov carateriza as suas escalas:

COMPRIMENTO VELOCIDADE TEMPO


𝜈3 1/4 𝑢𝜂 ~ (𝜀𝜈)1/4 𝜈 1/2
𝜂~ ( ) 𝜏𝜂 ~ ( )
𝜀 𝜀
Tabela 11

Também há relações para a razão entre as escalas dos menores e maiores turbilhões, baseadas no número
𝑢0 𝑙0
de Reynolds dos maiores turbilhões, 𝑅𝑒0 = :
𝜈

COMPRIMENTOS VELOCIDADES TEMPOS


𝜂 −3/4 𝑢𝜂 −1/4 𝜏𝜂 −1/2
~ 𝑅𝑒0 ~ 𝑅𝑒0 ~ 𝑅𝑒0
𝑙0 𝑢0 𝜏0
Tabela 12

Estas relações mostram que à medida que o número de Reynolds aumenta, as menores escalas tornam-
se cada vez mais pequenas, visto que as maiores escalas são essencialmente impostas por condições
fronteira e, por isso, permanecem constantes.

2.2 MICROESCALA DE TAYLO R (TURBILHÕES INTERMÉDIOS)

A escala de Taylor é definida através de parâmetros que caracterizam as grandes e as pequenas escalas
do escoamento. É, por conseguinte, uma escala intermédia entre a dimensão dos maiores e a dos mais
pequenos turbilhões no escoamento (𝜂 ≪ 𝜆 ≪ 𝑙0 ).

Para um campo turbulento isotrópico onde ̅̅̅̅


𝑢′2 ≈ ̅̅̅̅
𝑣 ′2 ≈ ̅̅̅̅̅
𝑤 ′2 , a escala de Taylor pode-se escrever como:

̅̅̅̅
𝑢′2
𝜆 ~ √15𝜈
𝜀

Equação 40

38
Com isto, pode-se definir um número de Reynolds baseado na escala de Taylor:

𝑢′ 𝜆
𝑅𝑒𝜆 =
𝜈

Equação 41

Uma vez que este número de Reynolds é definido com uma escala de comprimento calculada a partir da
cascata de energia, 𝜆, pode-se comparar as características de escoamentos turbulentos completamente
diferentes em termos de geometria, algo que não seria possível usando os Reynolds clássicos, definidos a
partir das dimensões características geométricas.

Este número de Reynolds alternativo tem outra utilidade, pois se 𝑅𝑒𝜆 > 90 − 100:

• O escoamento é turbulento completamente desenvolvido;


• A lei da taxa de dissipação é válida.
Há, ainda, algumas relações com as grandezas características dos outros turbilhões:

−1/4
𝜂 𝑅𝑒0
• Relação com os pequenos comprimentos: ~
𝜆 √15
𝜆 −1/2
• Relação com os grandes comprimentos: ~ √15𝑅𝑒0
𝑙0
40 1/2
• Relação entre os números de Reynolds: 𝑅𝑒𝜆 ~ ( 𝑅𝑒0 )
3

2.3 ESCALA INTEGRAL (TUR BILHÕES GRANDES)

Sendo 𝑟 a distância entre dois pontos de medição e 𝑢’ é a flutuação de velocidade nessa mesma direção,
define-se uma função de correlação:

〈𝑢′ (𝑥)𝑢′(𝑥 + 𝑟)〉


𝑓(𝑟) =
〈𝑢′ (𝑥)2 〉

Equação 42: O operador 〈 〉 representa o valor médio da função no seu interior.

Esta função é a medida de como um afastamento 𝑟 em relação a um dado ponto 𝑥 afeta as flutuações de
velocidade. A partir dela, define-se a escala integral de comprimento:

𝑙0 ~ ∫ 𝑓(𝑟)𝑑𝑟
0

Equação 43

Note-se que a escala integral é a que está associada aos maiores turbilhões do escoamento, pelo que o
seu comprimento máximo nunca será maior do que a largura característica do escoamento.

3 VISCOSIDADE TURBULENTA

A ideia por trás do conceito de viscosidade turbulenta consiste em assumir que os efeitos das flutuações
de velocidade e as suas consequências no transporte de quantidade de movimento, energia cinética e
escalares passivos, podem ser representados por uma viscosidade adicional, causada por essa agitação
turbulenta.

3.1 HIPÓTESE DE BOUSSINE SQ

Para um fluido newtoniano, as tensões de origem viscosa podem ser modeladas por:

39
𝜕𝑢̅
𝜏𝑥𝑦 = 𝜌𝜈
𝜕𝑦

Equação 44: 𝜈 é a viscosidade cinemática.

Como as tensões de Reynolds podem ser vistas como “tensões turbulentas” causadas pela agitação
intrínseca do campo turbulento, podemos definir uma viscosidade turbulenta, 𝜈𝑇 , por analogia com a
viscosidade cinemática – hipótese de Boussinesq. Daqui, resulta que:

𝜕𝑢̅
𝑅
𝜏𝑖𝑗 ̅̅̅̅̅̅
= −𝜌𝑢 ′ ′
𝑖 𝑢𝑗 = 𝜌𝜈𝑇
𝜕𝑦

Equação 45

As tensões de corte totais, constituídas pela soma da componente laminar com a turbulenta, são:

𝑅
𝜕𝑢̅
𝜏 = 𝜏𝑥𝑦 + 𝜏𝑖𝑗 = 𝜌(𝜈 + 𝜈𝑇 )
𝜕𝑦

Equação 46

Com isto, a equação de Reynolds obtida anteriormente muda:

𝜕𝑢̅𝑖 1 𝜕𝑝̅ 𝜕 2 𝑢̅𝑖 ̅̅̅̅̅̅


𝜕(−𝑢 ′ ′
𝑖 𝑢𝑗 ) 𝜕𝑢̅𝑖 1 𝜕𝑝̅ 𝜕 2 𝑢̅𝑖
𝑢̅𝑗 =− +𝜈 + → 𝑢̅𝑗 =− + (𝜈 + 𝜈𝑇 )
𝜕𝑥𝑖 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑖 𝜌 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação 47

Comparação entre a viscosidade cinemática e a turbulenta:

• A viscosidade turbulenta será tanto maior quanto maior forem os níveis de agitação turbulenta
pelo que se observa que é uma propriedade do escoamento e não do fluido, ao contrário da
cinemática.
• A viscosidade turbulenta é muito mais alta do que a cinemática, o que explica os níveis muito
mais elevados de mistura e transporte existentes em regime turbulento quando comparados
com os observados em regime laminar.
3.2 MODELO DO COMPRIMENTO DE MISTURA

Se 𝑙𝑚 for o comprimento de mistura, este modelo propõe que se pode calcular a viscosidade turbulenta
a partir de:

2
𝜕𝑢̅
𝜈𝑇 = 𝑙𝑚 | |
𝜕𝑦

Equação 48

3.2.1 CAMADA DE CORTE LIVRE


Neste caso, a equação para o comprimento de mistura é:

𝑙𝑚 = 𝑐𝛿(𝑥)

Equação 49

CAMADA DE MISTURA JATO PLANO JATO REDONDO ESTEIRA PLANA


𝑐 0,07 0,09 0,075 0,16
Tabela 13: Valores típicos da constante 𝑐, para diferentes escoamentos.

40
3.2.2 CAMADA LIMITE
Para esta situação, a equação a utilizar é muito simples:

𝑙𝑚 = 0,4𝑦

Equação 50

4 SOLUÇÕES DE SEMELHANÇA DE CAMADAS DE CORTE LIVRES TURBULENTAS

As camadas de corte livres turbulentas consistem em escoamentos com gradiente de velocidade média e
longe do efeito de fronteiras (por exemplo para paredes sólidas: jatos, esteiras e camadas de mistura).
Estes escoamentos apresentam duas regiões distintas: uma região de escoamento turbulento e uma
região de escoamento irrotacional (não turbulento).

4.1 JATOS TURBULENTOS


JATOS PLANOS JATOS AXISSIMÉTRICOS
Um jato é uma porção de fluido que é projetado num dado meio, a partir de um orifício.
Estes jatos possuem uma origem virtual, 𝑥0 , que corresponde ao ponto fictício a partir do qual
o jato se começaria a desenvolver logo em condições de semelhança.
DEFINIÇÃO

Figura 46: Escoamento de um jato plano. Figura 47: Escoamento de um jato axissimétrico.
• O escoamento parte de um orifício • O escoamento parte de um orifício
retangular com altura 𝐻. circular de diâmetro 𝑑.
• 𝑥0 é a origem virtual do jato. • 𝑥0 é a origem virtual do jato.
• A velocidade média axial é dada por: • A velocidade média axial é dada por:
𝑢0
̅̅̅(𝑥) = 𝑢̅(𝑥, 𝑦 = 0). 𝑢0
̅̅̅(𝑥) = ̅̅̅(𝑥,
𝑢𝑥 𝑟 = 0).
O ponto de partida para analisar as camadas de corte livres turbulentas são as equações de
E QUAÇÕES DE REYNOLDS

Reynolds, para o caso bidimensional incompressível:


𝜕𝑢̅ 𝜕𝑣̅
+ =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑢̅ 𝜕𝑢̅ 1 𝜕𝑝̅ 𝜕 2 𝑢̅ 𝜕 2 𝑢̅ 𝜕𝑢̅̅̅̅
′2 ̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢 ′𝑣′
𝑢̅ + 𝑣̅ =− + 𝜈 ( 2 + 2) − −
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑣̅ 𝜕𝑣̅ 1 𝜕𝑝̅ 2
𝜕 𝑣̅ 𝜕 𝑣̅ 2 ̅̅̅̅̅
𝜕𝑢′𝑣′ 𝜕𝑣´ ̅̅̅̅2
𝑢̅ + 𝑣̅ =− + 𝜈 ( 2 + 2) − −
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦

41
Mediante alguns pressupostos, as equações Neste caso, como o jato é axissimétrico,
simplificam-se bastante: aplicam-se as equações de Reynolds em
• Tal como na camada limite, a Reynolds coordenadas cilíndricas. Novamente, há
altos as camadas de corte livres são finas: algumas simplificações a fazer:
𝛿(𝑥) ≪ 𝐿. Por conseguinte, a variação • Para Reynolds elevados, os jatos
espacial ao longo da direção normal é axissimétricos comportam-se como
muito maior do que na direção camadas de corte delgadas: 𝛿(𝑥) ≪ 𝐿,
𝜕 𝜕 𝜕 𝜕
longitudinal, ≪ , e, usando a ≫ e ̅̅̅(𝑥,
𝑢𝑥 𝑟) ≫ ̅̅̅(𝑥,
𝑢𝑟 𝑟);
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑟 𝜕𝑥
equação da continuidade, conclui-se que • As tensões de corte de origem viscosa
𝑢̅(𝑥, 𝑦) ≫ 𝑣̅ (𝑥, 𝑦); são desprezáveis comparadas com as
• Despreza-se as tensões viscosas por tensões de Reynolds e os gradientes na
serem muito inferiores às tensões de direção axial muito menores do que os
Reynolds (para Reynolds elevados), e gradientes na direção radial;
considera-se que os gradientes normais • Estes jatos são axissimétricos e
𝜕
destas tensões são muito maiores do que irrotacionais: ̅̅̅(𝑥,𝑢𝜃 𝑟) = 0 e = 0.
𝜕𝜃
os longitudinais. 𝜕𝑢̅̅̅𝑥 1 𝜕(𝑟𝑢 ̅̅̅)
𝑟
𝜕𝑢̅ 𝜕𝑣̅ + =0
+ =0 𝜕𝑥 𝑟 𝜕𝑟
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑢̅̅̅𝑥 𝜕𝑢 ̅̅̅𝑥 1 𝜕𝑝̅ 1 𝜕(𝑟𝑢 ̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑥 ′𝑢𝑟 ′)
𝜕𝑢̅ 𝜕𝑢̅ 1 𝜕𝑝̅ 𝜕𝑢 ̅̅̅̅̅̅
′𝑣′ 𝑢𝑥
̅̅̅ + ̅̅̅
𝑢𝑟 =− −
𝑢̅ + 𝑣̅ =− − 𝜕𝑥 𝜕𝑟 𝜌 𝜕𝑥 𝑟 𝜕𝑟
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜌 𝜕𝑥 𝜕𝑦 1 𝜕𝑝̅ 1 𝜕(𝑟𝑢 ̅̅̅̅
′2 ) ̅̅̅̅
𝑢 ′2
𝑟
1 𝜕𝑝̅ 𝜕𝑣 ̅̅̅̅
′2 0=− − − 𝜃
0=− − 𝜌 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟
𝜌 𝜕𝑦 𝜕𝑦
Como na periferia duma camada de corte livre turbulenta é difícil medir bem a velocidade,
MEIA ESPESSURA DO

não se usa a habitual definição de espessura de camada limite (cota onde a velocidade é 99%
da velocidade exterior). Em vez disso, define-se a meia espessura do jato, 𝛿(𝑥): distância
J ATO

desde o eixo central até à cota na qual a velocidade é metade da velocidade nesse eixo.
1 1
𝑢
̅̅̅(𝑥) = 𝑢̅(𝑥, 𝑦 = 𝛿(𝑥)) 𝑢
̅̅̅(𝑥) =𝑢 ̅̅̅(𝑥, 𝑟 = 𝛿(𝑥))
2 0 2 0 𝑥

1 𝜕𝑝̅ ̅̅̅̅̅
𝜕𝑣 ′2
Recupere-se agora a equação 0 = − − . Integrando, na direção normal, de uma cota
𝜌 𝜕𝑦 𝜕𝑦
GRADIENTE DE PRESSÃO

genérica 𝑦 até ao infinito (onde o meio está em repouso), e derivando em ordem a 𝑥, obtém-
LONGITUDINAL

1 𝜕𝑝̅ ̅̅̅̅̅
𝜕𝑣 ′2 ̅̅̅̅̅
𝜕𝑣 ′2
se =− . Como os gradientes longitudinais são desprezáveis ( ≈ 0), conclui-se que
𝜌 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑝̅
o gradiente da pressão média na direção longitudinal é nulo: ≈ 0. Consequentemente, a
𝜕𝑥
pressão é constante em todo o escoamento, na direção 𝑥.
̅̅̅̅̅
′2 ̅̅̅̅̅
′2
1 𝜕𝑝̅ 1 𝜕(𝑟𝑢𝑟 ) 𝑢𝜃
Chega-se à mesma conclusão para o caso axissimétrico, por 0 = − − − .
𝜌 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟
Como não há forças exteriores impostas ao escoamento do jato, o fluxo de quantidade de
FLUXOQUANTIDADE

movimento é constante na direção axial, ou seja, não depende do valor da coordenada


MOVIMENTO

longitudinal 𝑥.
Não esquecer que, pela segunda lei de Newton, 𝐹 = 𝑀̇.
+∞ ∞
𝑀̇ = 𝜌 ∫ 𝑢̅2 (𝑦)𝑑𝑦 𝑀̇ = 2𝜋𝜌 ∫ 𝑢
̅̅̅𝑥 2 (𝑟)𝑟 𝑑𝑟
−∞ 0
𝑑𝑄
O caudal aumenta na direção longitudinal ( > 0), pois as interações entre os campos de
𝑑𝑥
pressão e velocidade causam tensões de corte na vizinhança da interface entre escoamento
CAUDAL

turbulento e irrotacional, que levam o escoamento a acelerar nessa vizinhança, resultando em


arrastamento turbulento.
Note-se que o fluxo de massa é dado por 𝑚̇ = 𝜌𝑄.

42
+∞ ∞
𝑄=∫ 𝑢̅(𝑦) 𝑑𝑦 𝑄 = 2𝜋 ∫ ̅̅̅(𝑟)𝑟
𝑢𝑥 𝑑𝑟
−∞ 0
As tensões de Reynolds são nulas no eixo e no infinito, onde o escoamento é irrotacional.
TENSÕES DE REYNOLDS

Figura 48: Perfis de tensões de Reynolds


normalizadas pela velocidade na linha central. Figura 49: Tensões de Reynolds normalizadas.
A forma do perfil de velocidade longitudinal média num jato varia com 𝑥, mas medidas
experimentais mostraram que a sua forma adimensional é independente da coordenada
𝑥 𝑥
longitudinal, para distâncias suficientemente grandes ( > 20 − 30, para jatos planos, e >
𝐻 𝑑
20 para jatos circulares). Embora inicialmente os jatos sejam diferentes nos seus detalhes,
PERFIS DE VELOCIDADE

para números de Reynolds suficientemente elevados estas diferenças desaparecem e a forma


do perfil de velocidade média deixa de depender de 𝑥 e do Reynolds – os jatos dizem-se auto-
preservados. Nestas circunstâncias, pode-se integrar a equação de Reynolds na direção
longitudinal para obter os perfis de velocidade média adimensional, 𝑓(𝜂), nos quais a variável
de distância, 𝜂, é independente de 𝑥 e do Reynolds.
Neste processo, usa-se o conceito de viscosidade turbulenta, descrito anteriormente, e que se
supõe ser constante em toda a camada de corte. A semelhança dos perfis de velocidade média
e das tensões de Reynolds, implicam semelhança da viscosidade turbulenta: 𝜈𝑇 =
𝑢0
̅̅̅(𝑥)𝛿(𝑥)𝜈̂ 𝑇 (𝜂), com 𝜈̂ 𝑇 = 0,028.

43
𝑦 𝑟
Definindo a variável adimensional 𝜂 = ,o Definindo a variável adimensional 𝜂 = ,o
𝛿(𝑥) 𝛿(𝑥)
perfil de velocidades é: perfil de velocidades é:
̅(𝑥,𝑦)
𝑢 2 2 ̅(𝑥,𝑦)
𝑢 1
𝑓(𝜂) = = sinh2 (𝛼𝜂) = ( ) , 𝑓(𝜂) = ̅̅̅̅(𝑥)
= (1+𝑎𝜂2)2, com 𝑎 ≈ 0,414
̅̅̅̅(𝑥)
𝑢0 𝑒 𝛼𝜂 +𝑒 −𝛼𝜂 𝑢0

com 𝛼 ≈ 0,88 Este perfil verifica algumas relações que serão


Este perfil verifica algumas relações que úteis na dedução dos fluxos:

serão úteis na dedução dos fluxos: • ∫0 𝜂𝑓(𝜂) 𝑑𝜂 = 1,2077
+∞ 2 ∞
• ∫−∞ 𝑓(𝜂)𝑑𝜂 = 𝛼 = 2,2727 • ∫0 𝜂 𝑓 2 (𝜂) 𝑑𝜂 = 0,402576
+∞ Da integração das equações de Reynolds,
• ∫−∞ 𝑓 2 (𝜂)𝑑𝜂 = 1,1515
Da integração das equações de Reynolds, chega-se ainda a outras fórmulas:
chega-se ainda a outras fórmulas: • 𝛿(𝑥) = 𝑆(𝑥 − 𝑥0 ), o que
• 𝛿(𝑥) = 𝑆(𝑥 − 𝑥0 ), o que corresponde a dizer que 𝛿(𝑥)~𝑥
corresponde a dizer que 𝛿(𝑥)~𝑥 • Estimativa da origem virtual: 𝑥0 =
𝑑
𝐻 (relação geométrica)
• Estimativa da origem virtual: 𝑥0 = 4𝑆
4𝑆
̅̅̅̅(𝑥)
𝑢0 𝐵∗𝑑 −1
(relação geométrica) • = , ou seja, ̅̅̅(𝑥)~𝑥
𝑢0
𝑢𝑗 𝑥−𝑥0
1


̅̅̅̅(𝑥)
𝑢0 𝑥 𝑥 2
= [𝐾 ( ) + ( 0 )] , ou seja, Experimentalmente, verifica-se que 𝑆 ≈
𝑢𝐽 𝐻 𝐻
1
0,094 e 𝐵 ≈ 5,9.

̅̅̅(𝑥)~𝑥
𝑢 0 2 Tendo estes perfis de velocidade, pode-se
Experimentalmente, verifica-se que 𝑆 ≈ 0,10 deduzir equações para os fluxos:

e 𝐾 ≈ 0,18. • 𝑀̇ = 2𝜋𝜌 ∫ ̅̅̅ 𝑢𝑥 2 (𝑟) 𝑟 𝑑𝑟 =
0
Tendo estes perfis de velocidade, pode-se ̅̅̅0 2 (𝑥)𝛿 2 (𝑥)
0,402576 ∗ 2𝜋𝜌𝑢
deduzir equações para os fluxos: ∞
+∞
• 𝑚̇ = 2𝜋𝜌 ∫0 ̅̅̅(𝑟)
𝑢𝑥 𝑟 𝑑𝑟 =
• 𝑀̇ = 𝜌 ∫ 𝑢̅2 (𝑦)𝑑𝑦 = 1,1515 ∗
−∞ 1,2077 ∗ 2𝜋𝜌𝑢
̅̅̅(𝑥)𝛿 2 (𝑥)
0
̅̅̅0 2 (𝑥)𝛿(𝑥)
𝜌𝑢
+∞
• 𝑚̇ = 𝜌 ∫−∞ 𝑢̅(𝑦) 𝑑𝑦 = 2,2727 ∗
𝜌𝑢
̅̅̅(𝑥)𝛿(𝑥)
0

Figura 50 a) e b): Comparação do perfil teórico da


velocidade média longitudinal (linha) com
medidas experimentais (pontos); Perfil de
velocidade média normal.
Figura 51: Perfil de velocidade média axial
• Como se vê na figura a), o perfil é
adimensionalizada.
parecido à solução numérica, exceto na Tal como no jato plano, existe um pequeno
periferia (𝜉 → ∞); este desvio acontece desvio quando 𝜉 → ∞, que é explicado
por se considerou a viscosidade novamente pela suposição feita acerca da
constante nessa zona, o que não é exato viscosidade turbulenta ser constante na
porque a intermitência entre regiões de periferia do jato (na realidade não o é).
escoamento turbulento e irrotacional se
traduz numa viscosidade efetiva mais
baixa nessa zona.
• Na figura b) observa-se que a velocidade
transversal no infinito não é nula, e que
há uma mudança de sentido nessa
direção, explicada pelo crescimento do

44
jato e expansão das linhas de corrente do
campo médio na zona central do jato.

Tabela 14: Comparação entre jatos turbulentos planos e axissimétricos.

4.2 ESTEIRAS TURBULENTAS


ESTEIRAS PLANAS ESTEIRAS AXISSIMÉTRICAS
Uma esteira turbulenta é o escoamento perturbado que se desenvolve a jusante de um corpo.
Uma esteira plana é a que se desenvolve a Uma esteira axissimétrica é a que se forma a
jusante de um corpo de geometria 2D, como jusante de um corpo redondo, como uma
um cilindro. esfera ou um disco.
DEFINIÇÃO

Figura 52: Esteira plana causada por um cilindro. Figura 53: Esteira axissimétrica causada por um
disco.
A velocidade de referência é o défice de velocidade (causado pelo corpo que gera a esteira),
𝑢𝑠
̅̅̅(𝑥), que representa a diferença entre a velocidade do escoamento de aproximação, ̅̅̅,
𝑢𝑐 e a
DÉFICE DE VELOCIDADE

velocidade na linha central da esteira.


Durante o desenvolvimento do escoamento ao longo da direção longitudinal, o défice de
̅𝑢̅̅𝑠̅(𝑥)
velocidade diminui: ̅̅̅̅
→ 0.
𝑢𝑐
Medidas experimentais indicam que as soluções de auto-preservação apresentadas adiante
̅𝑢̅̅𝑠̅(𝑥)
se observam apenas para pequenos défices de velocidade ̅̅̅̅
< 0,1.
𝑢 𝑐
𝑢𝑠
̅̅̅(𝑥) = ̅̅̅
𝑢𝑐 − 𝑢̅(𝑥, 𝑦 = 0) 𝑢𝑠
̅̅̅(𝑥) = ̅̅̅
𝑢𝑐 − 𝑢̅(𝑥, 𝑟 = 0)
O comprimento de referência é a espessura da camada de corte, 𝛿(𝑥): distância transversal à
DÉFICE QUANTIDA COMPRIMENTO
DE M OVIMENTO DE R EFERÊNCIA

qual o défice de velocidade é metade do défice máximo.


A espessura da camada de corte aumenta com 𝑥.
1 1
𝑢̅(𝑥, 𝑦 = 𝛿(𝑥)) = ̅̅̅
𝑢𝑐 − ̅̅̅(𝑥)
𝑢 𝑢̅(𝑥, 𝑟 = 𝛿(𝑥)) = ̅̅̅𝑢𝑐 − ̅̅̅(𝑥)
𝑢
2 𝑠 2 𝑠
O défice de quantidade de movimento é constante, independente da coordenada longitudinal
𝑥.
Esta quantidade é igual à força de resistência aerodinâmica do corpo.
+∞ 2
𝐷~𝜌𝑢̅̅̅𝑐 ̅̅̅(𝑥)𝛿
𝑢𝑠 (𝑥)
𝐷 = 𝜌 ∫ 𝑢̅(𝑢 ̅̅̅𝑐 − 𝑢̅)𝑑𝑦
−∞
A solução de auto-preservação obtém-se como anteriormente, tomando a viscosidade
VELOCIDADE
PERFIS DE

turbulenta constante dentro da camada de corte, 𝜈𝑇 = 𝜈̂ 𝑇 (𝜂)𝑢̅𝑠 (𝑥)𝛿(𝑥).


Os perfis de velocidade média têm a mesma forma nos dois casos, dada por:
̅̅̅̅−𝑢
𝑢𝑐 ̅ 𝑆
𝑓(𝜂) = ̅𝑢̅̅𝑠̅
= exp(−𝛼𝜂 2 ), com 𝛼 = 𝑙𝑛2 ≈ 0,693 e também 𝛼 = ̂𝑇
2𝜈

45
𝑦 𝑟
Para esteiras planas, 𝜂 = . Para esteiras axissimétricas, 𝜂 =
𝛿(𝑥) 𝛿(𝑥)
O défice de velocidade e o comprimento de O défice de velocidade e o comprimento de
referência verificam estas relações: referência verificam estas relações:
1 2
− −
• ̅̅̅(𝑥)~𝑥
𝑢 𝑠 2 • ̅̅̅(𝑥)~𝑥
𝑢 𝑠 3
1 1
• 𝛿(𝑥)~𝑥 2 • 𝛿(𝑥)~𝑥 3
Com base nestas relações, verifica-se que o
escoamento relaminariza longe da origem
𝑥
( ≫ 1), pois o Reynolds diminui na direção
𝑑
̅𝑢̅̅𝑠̅(𝑥)𝛿(𝑥)
axial: 𝑅𝑒 = ~𝑥 −1 .
𝜈

Figura 54: Forma do perfil de défice de velocidade


numa esteira plana turbulenta.
Figura 55 a) e b): Perfil de défice de velocidade,
comparado com medidas experimentais; Perfil das
tensões de Reynolds normais, comparados com
medidas experimentais.
Define-se 𝑆, um parâmetro de crescimento da esteira que depende da geometria do corpo
que origina a esteira plana.
PARÂMETROS DE TURBULÊNCIA

Outra particularidade do escoamento em esteiras turbulentas é a elevada intensidade da


turbulência.
Em particular, obtém-se os seguintes valores A intensidade de turbulência em esteiras
para os seguintes corpos: axissimétricas é ainda mais elevada do que
• 𝑆𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 = 0,073 em esteiras planas:
• 𝑆𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 = 0,083 • Para uma esfera, 𝑆𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = 0,51 e
• 𝑆𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 𝑎𝑙𝑎𝑟 = 0,103 intensidades da ordem de ≈ 0,84.
Especificamente temos intensidades de • Para um disco, 𝑆𝑑𝑖𝑠𝑐𝑜 = 0,71 − 0,80
turbulência da ordem de 0,32 para uma placa e intensidades da ordem de ≈
e 0,41 para um perfil alar. 0,94 − 1,1.
Tabela 15: Comparação entre esteiras turbulentos planos e axissimétricos.

5 TRANSPORTE TURBULENTO DE UM ESCALAR PASSIVO

5.1 EQUAÇÕES BÁSICAS

Um escalar passivo é aquele que é transportado sem modificar a dinâmica do escoamento, como, por
exemplo, petróleo derramado no oceano. O transporte de um campo escalar 𝜃 é dado por:

𝜕𝜃 𝜕𝜃 𝜕2𝜃
+ 𝑢𝑗 =𝛾
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação 51: 𝑢𝑗 é a velocidade e 𝛾 a difusividade molecular do campo escalar considerado.

A título ilustrativo, considere-se o caso da temperatura, 𝑇, que pode ser considerada um escalar passivo
se variar pouco em relação à temperatura ambiente do escoamento, de forma a não alterar a sua
densidade e, por conseguinte, o escoamento em si. Então, a equação anterior fica:

46
𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕2𝑇 𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕2𝑇 𝜕2𝑇 𝜕2𝑇
+ 𝑢𝑗 =𝑘 ⇔ +𝑢 +𝑣 +𝑤 = 𝑘 (𝑢 2 + 2 + 2 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Equação 52: 𝑘 é a difusividade térmica.

Consoante o termo predominante, esta equação assume diferentes formas:

• Se a velocidade é muito pequena, a temperatura é apenas transportada por difusão molecular


𝜕𝑇 𝜕2 𝑇 𝜕𝑇
(condução de calor): ≈𝑘 ⇔ ≈ 𝑘∇2 𝑇
𝜕𝑡 ⏟
𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑡
∇2 T
𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝐷𝑇
• Se a difusividade térmica é muito baixa, não há difusão de calor: + 𝑢𝑗 ≈0⇔ ≈0

𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝐷𝑡
𝐷𝑇
𝐷𝑡

𝐷𝑇
Note-se que 𝛻 2 𝑇 é o laplaciano de 𝑇 e a sua derivada material.
𝐷𝑡

O regime do processo de difusão de calor é então determinado pela importância relativa de 𝑘 e 𝑢, medida
através dos seguintes parâmetros:

NÚMERO DE PECLET NÚMERO DE PRANDTL NÚMERO DE SCHMIDT


𝑢𝑑 𝜈 𝜈
𝑃𝑒 = 𝑃𝑟 = 𝑆𝑐 =
𝑘 𝑘 𝛾
Tabela 16

5.2 DIFUSIVIDADE DO CAMP O ESCALAR

Fazendo uma decomposição da temperatura semelhante à que se fez para a velocidade, obtém-se:

𝑇(𝑥⃗, 𝑡) = 𝑇̅ (𝑥⃗) + 𝑇 ′ (𝑥⃗, 𝑡) 1 Γ 𝑇̅′ = 0


𝑇̅(𝑥⃗) = ∫ 𝑇(𝑥⃗, 𝑡) 𝑑𝑡
Γ 0
Tabela 17

Fazendo a média da equação de transporte, num regime estacionário (𝜕𝑇/𝜕𝑡 = 0), fica-se com:

𝜕𝑇̅ 𝜕 2 𝑇̅ ̅̅̅̅̅̅
𝜕𝑢 ′ ′
𝑗𝑇 𝜕𝑇̅ 𝜕 𝜕𝑇̅
𝑢̅𝑗 =𝑘 − ⇔ 𝑢̅𝑗 = (𝑘 − ̅̅̅̅̅̅
𝑢𝑗′ 𝑇 ′ )
𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação 53

O produto ̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅


𝑢𝑗′ 𝑇 ′ é o fluxo de temperatura (𝑢 ′ ′
𝑗 𝜃 representaria o fluxo de um escalar genérico). Este termo
representa o efeito das flutuações de velocidade e temperatura no campo médio de temperatura e pode
ser modelado usando o conceito de difusividade turbulenta, 𝑘 𝑇 , semelhante ao de viscosidade turbulenta:

𝜕𝑇̅ 𝜕𝑇̅ 𝜕 𝜕𝑇̅


̅̅̅̅̅̅
𝑢𝑗′ 𝑇 ′ = −𝑘 𝑇 ⇒ 𝑢̅𝑗 = ((𝑘 + 𝑘 𝑇 ) )
𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação 54

Através da analogia de Reynolds, pode-se dizer que a difusividade turbulenta representa os efeitos da
“difusão turbulenta” do campo escalar, analogamente à viscosidade turbulenta, 𝜈𝑇 . Esta semelhança
pode ser aprofundada a partir de dois novos coeficientes:

• Para um qualquer campo escalar com difusividade 𝛾𝑇 , define-se o número de Schmidt


𝜈𝑇
turbulento: 𝑆𝑐𝑇 = . Uma vez que o transporte de escalares é – tal como o transporte de
𝛾𝑇

47
quantidade de movimento – governado pelos maiores turbilhões, em geral verifica-se que 𝑆𝑐𝑇 ≈
1 ⇒ 𝜈 𝑇 ≈ 𝛾𝑇 .
• Para o caso específico da temperatura, aqui em estudo, a difusividade é 𝑘 𝑇 e o número de
𝜈𝑇
Schmidt passa a ser chamado número de Prandtl turbulento: 𝑃𝑟𝑇 = . Analogamente, 𝑃𝑟𝑇 ≈
𝑘𝑇
1 ⇒ 𝜈𝑇 ≈ 𝑘 𝑇 .
Observa-se que em inúmeros escoamentos turbulentos esta analogia tem toda a justificação uma vez que
o transporte turbulento de quantidades escalares pelo escoamento (calor, concentração de combustível,
partículas) é sobretudo conseguido devido a existência de velocidades locais elevadas em certas zonas do
escoamento, que conseguem transportar rapidamente (transporte convectivo) grandes quantidades de
fluidos através do domínio do escoamento.

Aplicando o modelo de comprimento de mistura à difusividade turbulenta:

2 1/2 21/2 𝜕𝑇̅


𝑘 𝑇 = 𝑢′ 𝑙𝑚 = (𝑢̅′ ) 𝑙𝑚 ⇒ ̅̅̅̅̅̅
𝑢𝑗′ 𝑇 ′ = − (𝑢̅′ ) 𝑙𝑚
𝜕𝑦

Equação 55: As expressões para 𝑙𝑚 podem ser consultadas atrás, na secção do modelo de comprimento da mistura.

Para tornar geral o estudo do transporte de um campo escalar passivo Θ(𝑥⃗, 𝑡), define-se a variável
adimensional 𝜃(𝑥⃗, 𝑡) a partir do valor máximo do campo:

Θ(𝑥⃗, 𝑡)
𝜃(𝑥⃗, 𝑡) =
Θ𝑚𝑎𝑥

Equação 56: Como resultado da definição, 0 < 𝜃(𝑥⃗, 𝑡) < 1.

5.3 DISPERSÃO DE UM CAMP O ESCALAR

5.3.1 ETAPAS FUNDAMENTAIS


Tal como para a velocidade, pode-se contabilizar a “energia” das flutuações do campo escalar através da
sua variância, ̅̅̅̅
𝜃 ′ 2:

̅̅̅̅
𝐷 (𝜃 ′ 2 /2) ̅̅̅̅
𝜕 (𝜃 ′ 2 /2)
𝜕𝜃̅ 𝜕 ̅̅̅̅̅̅̅ 𝜕𝜃 ′ 𝜕𝜃 ′
̅̅̅̅̅̅
= −(𝑢 ′𝜃′)
𝑗 − [𝑢𝑗
′𝜃′2 − 𝛾 ] +𝛾 ( )
𝐷𝑡 ⏟ 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 ⏟ 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

𝑃𝜃 𝜀𝜃
Γ𝜃

Equação 57

Esta equação explicita os fatores envolvidos na dispersão de um campo escalar:

1. Os maiores turbilhões do campo turbulento estiram o campo escalar criando assim gradientes
locais de escalar extremamente elevados (termo 𝑃𝜃 ).
2. A difusão molecular causada pelas pequenas escalas faz-se sentir nas zonas onde o gradiente do
campo escalar é mais intenso, promovendo a mistura de escalar no campo (termo
𝛤𝜃 ). O processo de mistura de um escalar é, pois, um processo no qual estão envolvidas
simultaneamente os grandes e os pequenos turbilhões do campo turbulento.
3. Estas flutuações do campo escalar tendem a ser dissipadas através de um mecanismo de
dissipação molecular (termo 𝜀𝜃 ).

48
Figura 56

5.3.2 DISPERSÃO NO SEIO DE UM ESCOAMENTO TURBUL ENTO HOMOGÉNEO


Um escoamento turbulento homogéneo carateriza-se por ter a energia das flutuações de velocidade
igualmente distribuída por todas as componentes: ̅̅̅̅
𝑢′2 ≈ ̅̅̅̅
𝑣 ′2 ≈ ̅̅̅̅̅
𝑤 ′2 .

Analisa-se agora a libertação momentânea de um contaminante num escoamento deste tipo.

Mancha Maior do que os Maiores Turbilhões

Se a dimensão da mancha, 𝑅(𝑡), é muito maior do que a dos maiores turbilhões, 𝑅(𝑡) ≫ 𝑙0 , então o
crescimento da mancha é dominado pelo movimento dos maiores turbilhões existentes no escoamento
e pode ser modelado com a difusividade turbulenta e o modelo do comprimento da mistura (𝛾𝑇 = 𝑢′ 𝑙𝑚 ):

𝜕𝜃̅
= 𝛾𝑇 ∇2 𝜃̅
𝜕𝑡

Equação 58

̅
∆𝜃 ̅
Δ𝜃
Substituindo na equação anterior ordens de grandeza associadas a cada termo, tem-se = 𝛾𝑇 (Δ𝑥)2 ⇔
∆𝑡
1 1
= 𝑢′ 𝑙𝑚 , de onde se conclui que:
𝑡 𝑅 2 (𝑡)

𝑅(𝑡) ~ 𝑡 1/2

Equação 59

Escrevendo a equação de difusão de contaminante em coordenadas cilíndricas, obtém-se:

2D – CÍRCULO 3D – ESFERA
2𝜋 ∞ 𝜋 2𝜋 ∞

𝐼0 = ∫ ∫ 𝜃̅ (𝑟, 𝑡)𝑟𝑑𝑟𝑑𝜑 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 𝐼0 = ∫ ∫ ∫ 𝜃̅ (𝑟, 𝜙, 𝑡)𝑟𝑑𝑟𝑑𝜑𝑑𝜙 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡


𝑟 0 0 𝑟 0
𝐼0 −𝑟 2 𝐼0 −𝑟 2
𝜃̅(𝑟, 𝑡) = exp ( ) 𝜃̅ (𝑟, 𝑡) = exp ( )
4𝜋𝛾𝑇 𝑡 4𝛾𝑇 𝑡 (4𝜋𝛾𝑇 𝑡)3/2 4𝛾𝑇 𝑡
Tabela 18: Equações a usar para obter o perfil médio de concentração, para a geometria considerada.

Mancha Menor do que os Maiores Turbilhões

Se a dimensão da mancha 𝑅(𝑡) é menor que a dos maiores turbilhões, 𝑅(𝑡) ≪ 𝑙0 :

49
• Turbilhões de dimensões muito menor do que
𝑅 não conseguem fazer aumentar o raio médio
da mancha, apenas conseguindo aumentar a
complexidade geométrica e a irregularidade da
fronteira da mancha.

• Turbilhões muito maiores do que a dimensão


média da mancha apenas conseguem
transportar a mancha no seio do fluido sem
aumentar a sua dimensão média.

Figura 57
• Os turbilhões que aumentam a dimensão do
raio médio da mancha são os que têm uma dimensão característica comparável à dimensão da
mancha, pois impõem um gradiente de velocidade que tende a afastar dois pontos em extremos
opostos da periferia da mancha, ou seja, a taxa de crescimento da mancha é igual à taxa à qual
𝑑𝑅
estas duas partículas se separam: ~ 𝑢(𝑅).
𝑑𝑡

[𝑢(𝑅)]3
Usando a lei da taxa da dissipação para este caso, 𝜀 ~ , e integrando a equação anterior, tem-se
𝑅
2 3
𝑅 ~ 𝜀𝑡 . Então, pode-se afirmar que a evolução da área da mancha é dada por:

𝑅2 (𝑡) = 𝑔𝜀𝑡 3

Equação 60: Lei de Richardson.

𝑔 é uma constante com valores entre 0,06 e 1, consoante as características da turbulência.

5.3.3 DISPERSÃO NUMA CAMADA DE CORTE LIVRE TURBULENTA


A equação de transporte do escalar passivo numa camada de corte delgada de um escoamento plano é:

𝜕𝜃̅ 𝜕𝜃̅ ̅̅̅̅̅


𝜕 2 𝜃̅ 𝜕𝜃′𝑣′
𝑢̅ + 𝑣̅ =𝛾 2−
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦

Equação 61

A partir daqui, verifica-se que as leis de evolução e forma dos perfis para o campo de velocidade e o
escalar são semelhantes:

VELOCIDADES ESCALAR
+∞ +∞
∫ 𝜌𝑢̅2 𝑑𝑦 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 ∫ 𝜌𝑢̅𝜃̅𝑑𝑦 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡
−∞ −∞
̅̅̅(𝑥)
𝑢 0 ~ 𝑥 −1/2 ̅̅̅
𝜃0 (𝑥) ~ 𝑥 −1/2
𝑢̅(𝑥, 𝑦) 𝜃(𝑥, 𝑦)
= 𝑓(𝜂) = ℎ(𝜉)
𝑢0 𝑦)
̅̅̅(𝑥, ̅̅̅
𝜃0 (𝑥, 𝑦)
𝑓(𝜂) = exp(−𝜂 2 ln 2) ℎ(𝜉) = exp(−𝜉 2 𝑆𝑐𝑇 ln 2)
Tabela 19

6 MODELAÇÃO DE ESCOAMENTOS TURBULENTOS

Neste capítulo irão ser abordados métodos numéricos para resolver problemas de escoamentos
turbulentos. Não irão ser abordados em grande detalhe, mas o mais importante é ter uma noção dos três
seguintes métodos: o método direto, o modelo de 𝑘 − 𝜀 e o modelo das grandes escalas.

50
6.1 MÉTODO DIRETO

O método direto consiste em simular as equações de Navier-Stokes em todas as escalas (desde os maiores
turbilhões do escoamento até aos turbilhões da ordem da microescala de Kolmogorov). No fundo, neste
método não existe propriamente simulação, as equações são resolvidas analiticamente, o que faz com
que haja um grande número de pontos na malha a considerar. Para se ter uma noção, numa malha
tridimensional de dimensões 𝑁𝑥 × 𝑁𝑦 × 𝑁𝑧 , o número de pontos necessário para se poder aplicar o
método direto e resolver o escoamento em todas as escalas é da ordem de 𝑅𝑒 9/4 .

É ainda relevante referir que o método direto, quando for viável de se aplicar (quando houver um
computador que consiga resolver, ou no caso de o escoamento ser relativamente simples) é o método
mais preciso de todos.

6.2 MODELO DE K-𝜀

Este método consiste em simular as equações de Reynolds (RANS) fechadas com um modelo da
viscosidade turbulenta. Por sua vez, a viscosidade turbulenta é fechada com o modelo de 𝑘 − 𝜀.

O transporte de energia cinética turbulenta é dado por:

𝐷𝑘 𝜕𝑢̅𝑖 𝜕 𝜇 𝑇 𝜕𝑘
̅̅̅̅̅̅
= (−𝑢 ′ ′
𝑖 𝑢𝑗 )+( ( )) − 𝜀
𝐷𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜎𝑘 𝜕𝑥𝑗

Equação 62

Neste modelo, na equação anterior, o termo de produção (primeiro termo do lado direito) é exato. No
entanto, o termo de dissipação (segundo termo) é modelado. O último termo (o termo de dissipação) sai
da equação de transporte modeladora da dissipação (sendo 𝑐1𝜀 𝑒 𝑐2𝜀 constantes):

𝐷𝜀 𝜀 𝜕 𝜇 𝑇 𝜕𝜀
= (𝑐1𝜀 𝑃 − 𝑐2𝜀 𝜀) + ( )
𝐷𝑡 𝑘 𝜕𝑥𝑗 𝜎𝜀 𝜕𝑥𝑗

Equação 63

Por fim, e um dos pontos fulcrais, a viscosidade turbulenta 𝜇 𝑇 neste modelo é dada por:

𝑘2
𝜇 𝑇 = 0.09
𝜀

Equação 64

A solução obtida através deste modelo são velocidades médias (também se podem posteriormente obter
as tensões de Reynolds através da hipótese de Boussinesq).

No entanto, este modelo tem algumas limitações, entre as quais: não permitir o acesso a informação não
estacionária (uma vez que a solução são velocidades médias), o efeito de memória não é incluído, os
grandes turbilhões são modelados da mesma maneira em todos os escoamentos (o que não é realista),
as limitações da hipótese de Boussinesq (esta solução origina tensões de Reynolds nulas onde diferentes
de zero na realidade) e erros apreciáveis nos resultados (podem chegar aos 30%).

6.3 MODELO DAS GRANDES ESCALAS (LES)

Neste modelo de simulação de escoamentos turbulentos, é simulada a dinâmica dos grandes turbilhões,
sendo que o efeito dissipativo dos pequenos turbilhões é modelado. Tendo isto em conta, neste método,

51
o tamanho de cada elemento da malha deve próximo da ordem de grandeza dos grandes turbilhões (ou
seja, muito maior que os pequenos turbilhões, como ilustrado na imagem ao lado).

Figura 58: Relação entre o tamanho da malha e o tamanho dos turbilhões.

Após diversas operações matemáticas de filtragem de frequências, etc. surgem dois tensores: o tensor
das tensões sub-malha (τ), e o tensor de fluxos de temperatura sub-malha (q), dados por:

• 𝜏𝑖𝑗 = ̅̅̅̅̅
𝑢𝑖 𝑢𝑗 − 𝑢̅𝑖 𝑢̅𝑗
• 𝑞𝑗 = 𝑇𝑢𝑗 − 𝑇̅ 𝑢̅𝑗
̅̅̅̅̅

O modelo usado na simulação das grandes escalas para “fechar” (resolver) estas quantidades é o modelo
de Smagorinsky. Este modelo pressupõe o equilíbrio entre as pequenas e as grandes escalas, e supõe que
a viscosidade turbulenta é uma função do tempo:

𝜈𝑇 = 𝜈𝑇 (𝑥, 𝑡)

Equação 65

52
TURBOMÁQUINAS
1 CLASSIFICAÇÃO DAS MÁQUINAS DE FLUIDO

1.1 MÁQUINAS VOLUMÉTRICAS (OU DE DESLOCAMENTO POSITIVO)

Máquinas volumétricas trocam energia com o fluido através do deslocamento de volumes constantes no
seu interior por cada ciclo, como, por exemplo, a câmara de combustão de um carro.

O caudal que as atravessa, 𝑄, depende do rendimento volumétrico, 𝜂𝑣 , da variação de pressão, ∆𝑝, da


frequência do movimento, 𝑁, e do volume deslocado em cada movimento, 𝑉: 𝑄 = 𝜂𝑣 (∆𝑝)𝑁𝑉.

1.2 TURBOMÁQUINAS

Turbomáquinas são máquinas nas quais se realiza transferência de energia por um fluido em escoamento
contínuo e um rotor, pela ação dinâmica dum conjunto de pás que giram solidariamente com o rotor.

Máquina Definição Exemplos


Turbomáquinas Extrai-se energia ao fluido e fornece-se energia Turbinas
motrizes ao exterior por intermédio dum veio rotativo hidráulicas/vapor/gás
Turbomáquinas Fornece-se energia ao fluido, à custa de Bombas, ventiladores e
FUNÇÃO

movidas energia recebida do exterior por intermédio compressores


dum veio em rotação
Hélices Destinam-se a criar uma força de propulsão -
propulsores
Máquinas Escoamento é incompressível pois o fluido é Bombas, turbinas
hidráulicas um líquido hidráulicas, ventiladores,
FLUIDO

hélices marítimas
Máquinas Escoamento é compressível pois o fluido é um Turbinas gás/vapor,
térmicas gás compressor, hélices de
avião
Turbomáquinas Escoamento é tangente às pás Turbinas Pelton
tangenciais
Turbomáquinas Escoamento não tem velocidade radial Turbinas Kaplan
MOVIMENTO

axiais significativa no rotor


Turbomáquinas Escoamento tem velocidade radial no rotor Bomba radial
radiais
Turbomáquinas Caso intermédio entre turbomáquinas axiais e Turbinas Francis
mistas radiais
Tabela 20: As turbomáquinas podem ser classificadas pela sua função, fluido circulante e direção de movimento.

2 TROCAS DE ENERGIA

2.1 TURBOMÁQUINAS MOTRIZES E MOVIDAS

Tanto as turbomáquinas motrizes como as movidas têm:

• Um veio com uma velocidade angular de rotação 𝑁 e binário 𝐿;


• Um rotor de diâmetro 𝐷;
• Um caudal volumétrico 𝑄 = 𝐴1 𝑉1 = 𝐴2 𝑉2 e um caudal mássico
Figura 59: Índice 1 – entrada;
𝜔 = 𝜌1 𝑄1 = 𝜌2 𝑄2 a atravessá-las. índice 2 – saída.

53
TURBOMÁQUINAS MOTRIZES TURBOMÁQUINAS MOVIDAS
Altura de queda: Altura de elevação:
𝑝1 − 𝑝2 𝑉12 − 𝑉22 𝑝2 − 𝑝1 𝑉22 − 𝑉12
𝐻= + + (𝑧1 − 𝑧2 ) 𝐻= + + (𝑧2 − 𝑧1 )
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
Energia realmente fornecida ao rotor/unidade de Energia realmente fornecida pelo rotor/unidade
massa de fluido: de massa do fluido:
𝑃 𝑉12 − 𝑉22 𝑃 𝑉22 − 𝑉12
𝐸𝑟 = = ℎ1 − ℎ2 + + 𝑔(𝑧1 − 𝑧2 ) 𝐸𝑟 = = ℎ2 − ℎ1 + + 𝑔(𝑧2 − 𝑧1 )
𝜔 2 𝜔 2
Energia fornecida por uma turbina ideal/unidade Energia ideal a fornecer pelo rotor/unidade de
de massa de fluido: massa de fluido:
𝑉12 − 𝑉22 𝑉22 − 𝑉12
𝐸𝑠 = ℎ1 − ℎ2𝑠 + + 𝑔(𝑧1 − 𝑧2 ) 𝐸𝑠 = ℎ2𝑠 − ℎ1 + + 𝑔(𝑧2 − 𝑧1 )
2 2
𝑝1 − 𝑝2 𝑉12 − 𝑉22 𝑝2 − 𝑝1 𝑉22 − 𝑉22
= + + 𝑔(𝑧1 − 𝑧2 ) = 𝑔𝐻 = + + 𝑔(𝑧2 − 𝑧1 ) = 𝑔𝐻
𝜌 2 𝜌 2
Energia perdida por aumento de Energia perdida por aumento de
entropia/unidade de massa de fluido: entropia/unidade de massa de fluido:
𝐸𝑝 = 𝐸𝑠 − 𝐸𝑟 = ℎ2 − ℎ2𝑠 ≈ 𝑇(𝑠2 − 𝑠1 ) 𝐸𝑝 = 𝐸𝑟 − 𝐸𝑠 = ℎ2 − ℎ2𝑠 ≈ 𝑇(𝑠2 − 𝑠1 )
Rendimento interno: Rendimento interno:
𝐸𝑟 𝐸𝑟 𝐸𝑠 𝑔𝐻
𝜂= = 𝜂= =
𝐸𝑠 𝑔𝐻 𝐸𝑟 𝐸𝑟
Potência fornecida ao exterior pelo veio: Potência fornecida pelo exterior ao veio:
𝑃 = 𝐿𝑁 = 𝜌𝑔𝑄𝐻𝜂 = 𝜌𝑄𝐸𝑟 𝜌𝑔𝑄𝐻
𝑃 = 𝐿𝑁 = = 𝜌𝑄𝐸𝑟
𝜂
Tabela 21: Equações para escoamento incompressível e adiabático.

Em geral, desprezam-se as perdas mecânicas (atritos nas chumaceiras, etc.)


e as volumétricas (caudal que não passa nas pás), por serem muito
pequenas quando comparadas com as perdas internas (resultantes do
aumento da entropia, conforme se vê na figura). Se se quiser tê-las em
conta, basta substituir 𝜂 pelo rendimento total 𝜂 𝑇 = 𝜂𝜂𝑚 𝜂𝑣 nas equações
anteriores, em que 𝜂𝑚 e 𝜂𝑣 são o rendimento mecânico e volumétrico,
respetivamente.
Figura 60

2.2 FUNCIONAMENTO DE UMA BOMBA

2.2.1 CURVA DE INSTALAÇÃO


Aplica-se a equação de Bernoulli entre as duas superfícies livres:

𝑝𝐵 − 𝑝𝐴 𝑙 1
𝐻𝑖𝑛𝑠𝑡 = +⏟
𝑧𝐵 − 𝑧𝐴 + 𝑓 [( ) 2
] 𝑄2 ⇔ 𝐻𝑖𝑛𝑠𝑡 = 𝐹(𝑄)
⏟ 𝜌𝑔 ⏟ 𝑑 𝑒𝑞 2𝑔𝐴
𝐺
𝑃 ℎ𝑓

Equação 66: Curva de instalação. Figura 61

54
Cada um dos termos representa diferentes coisas:

• 𝐻𝑖𝑛𝑠𝑡 = 𝐹(𝑄) é a curva da instalação, que dá a altura 𝐻 que a


bomba tem de fazer o fluido atingir, numa dada instalação
com um caudal 𝑄;
• 𝑃 e 𝐺 são a energia mecânica acumulada sob a forma de
pressão e de potencial gravítico, respetivamente;
• ℎ𝑓 é a energia mecânica dissipada (ou perda de carga) na
instalação, em resultado do atrito ao longo da conduta.
Figura 62

2.2.2 CURVA DE FUNCIONAMENTO


De forma análoga, pode-se obter curvas de funcionamento da bomba 𝐻𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = 𝐺(𝑄), para uma dada
velocidade angular 𝑁, que reflete a altura 𝐻 que a bomba é capaz de elevar um caudal 𝑄.

O ponto de funcionamento é o ponto onde a curva da bomba interseta a curva da instalação. Só nele é
que o sistema pode funcionar.

Figura 63

2.3 MÁQUINAS EM SÉRIE E EM PARALELO


MÁQUINAS EM SÉRIE MÁQUINAS EM PARALELO

Caudal: 𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑄𝐴 = 𝑄𝐵 Caudal: 𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑄𝐴 + 𝑄𝐵


Altura: 𝐻𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐻𝐴 + 𝐻𝐵 Altura: 𝐻𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐻𝐴 = 𝐻𝐵
𝑃𝑠 𝐻𝐴 +𝐻𝐵 𝑃𝑠 𝑄𝐴 +𝑄𝐵
Rendimento: 𝜂 = = 𝐻𝐴 𝐻𝐵 Rendimento: 𝜂 = = 𝑄𝐴 𝑄𝐵
𝑃𝑟 + 𝑃𝑟 +
𝜂𝐴 𝜂𝐵 𝜂𝐴 𝜂𝐵

Tabela 22: Comparação entre máquinas ligadas em série e em paralelo.

3 ANÁLISE DIMENSIONAL

A partir do teorema de Buckingham, pode-se escrever a relação que rege o funcionamento de


turbomáquinas na forma 𝑌 = 𝑓(𝑋, 𝑅𝑒, 𝛼, 𝛽, 𝛾, … ), sendo:

• 𝑌 um grupo adimensional;

55
𝑄
• 𝑋= a variável adimensional a que se chama coeficiente de caudal;
𝑁𝐷3
• 𝑅𝑒 o número de Reynolds;
• 𝛼, 𝛽, 𝛾, … os infinitos parâmetros que caraterizam a geometria de uma máquina.

Para turbomáquinas geometricamente semelhantes (𝛼, 𝛽, 𝛾, … sempre iguais) e escoamentos


completamente turbulentos (influência do Reynolds desprezável), a expressão reduz-se a 𝑌 = 𝑓(𝑋).

BINÁRIO FORÇA POTÊNCIA ALTURA RENDIMENTO AVANÇO


𝐿 𝐹 𝑃 𝑔𝐻 𝜂 𝑉𝑎𝑣
𝜌𝑁 2 𝐷5 𝜌𝑁 2 𝐷4 𝜌𝑁 3 𝐷5 𝑁 2 𝐷2 𝑁𝐷
𝑄
Tabela 23: Alguns grupos adimensionais comuns 𝑌, todos eles função de .
𝑁𝐷3

3.1 PONTOS DINAMICAMENTE SEMELHANTES

3.1.1 MÁQUINAS GEOMETRICAMENTE SEMELHANTES


Imaginando máquinas geometricamente semelhantes que estão em pontos de funcionamento (1 e 2) que
geram o mesmo coeficiente de caudal, a partir da tabela anterior verifica-se que:

𝑔𝐻 𝑔𝐻
𝑄 𝑄 ( 2 2) = ( 2 2)
( 3) = ( 3) ⇒ { 𝑁 𝐷 1 𝑁 𝐷 2
𝑁𝐷 1 𝑁𝐷 2 𝜂1 = 𝜂2

Equação 67

Devido a estas igualdades, chama-se a 1 e 2 pontos dinamicamente semelhantes. Estes têm os mesmos
grupos adimensionais e a mesma proporção de grandezas dinâmicas e cinemáticas.

Para a mesma família de máquinas, as curvas de funcionamento adimensionais para diferentes


velocidades 𝑁 ficam sobrepostas, simplificando o seu estudo (ver figura).

Figura 64: As várias curvas reduzem-se a uma única.

O facto de os grupos adimensionais se manterem constantes para máquinas geometricamente


semelhantes é bastante útil quando se estudam protótipos (modelos reduzidos, à escala) de máquinas
que se pretende construir.

3.1.2 MESMA MÁQUINA

56
Admita-se que os pontos 𝑃1 e 𝑃2 , representados na imagem, são dinamicamente semelhantes, ou seja,
𝑄 𝑄 𝑔𝐻 𝑔𝐻
verificam as relações ( ) =( ) e( ) =( ) ; sabendo isto e que, numa mesma máquina,
𝑁𝐷3 1 𝑁𝐷3 2 𝑁2 𝐷2 1 𝑁2 𝐷2 2
o diâmetro do rotor é constante (𝐷1 = 𝐷2 ), conclui-se que:

𝑄1 𝑁1 𝐻1 1/2
= =( )
𝑄2 𝑁2 𝐻2

Equação 68

Assim, obtém-se uma expressão para parábolas que passam em pontos dinamicamente semelhantes, a
diferentes rotações:

𝑄1 𝐻1 1/2 𝐻2
= ( ) ⇔ 𝐻1 = 2 𝑄12 ⇔ 𝐻 = 𝑘𝑄2
𝑄2 𝐻2 𝑄2

Equação 69

Se o ponto 2 é o de rendimento máximo à rotação original 𝑁, por observação da figura ao lado conclui-se
que este não coincide com o ponto de funcionamento. Então, o que se pode fazer é reduzir a velocidade
de rotação – que passa de 𝑁 a 𝑁 ′ –, de forma a que a nova curva da bomba iguale a da instalação original,
no ponto 3. Ora, note-se que, sendo 2 e 3 atravessados pela mesma parábola 𝐻 = 𝑘𝑄2 (na figura, a
tracejado), este ponto 3 é dinamicamente semelhante a 2, pelo que também será o ponto de rendimento
máximo à velocidade 𝑁 ′ :

𝑄3
𝑁′ = 𝑁
𝑄2

Equação 70

Figura 65 a) e b): À esquerda, curvas de funcionamento 𝐻 = 𝐺(𝑄) de uma mesma bomba, a diferentes velocidades,
e as parábolas 𝐻 = 𝑘𝑄 2 ; à direita, as curvas da instalação e da bomba.

3.2 VELOCIDADE ESPECÍFICA

Para diferentes velocidades 𝑁, considere-se as variáveis adimensionais nos pontos de rendimento


𝑄 𝑔𝐻
máximo 𝜂𝑚𝑎𝑥 : 𝜙𝜂 = ( ) e 𝜓𝜂 = ( ) . A partir destas variáveis, definem-se:
𝑁𝐷3 𝜂𝑚𝑎𝑥 𝑁2 𝐷2 𝜂𝑚𝑎𝑥

VELOCIDADE ESPECÍFICA DIÂMETRO ESPECÍFICO


1/2 1/2 1/4
𝜙𝜂 𝑁𝑄 𝜓𝜂 𝐷(𝑔𝐻)1/4
Ω= =[ ] Δ= =[ ]
3/4
𝜓𝜂 (𝑔𝐻)3/4 𝜂 1/2
𝜙𝜂 𝑄1/2 𝜂
𝑚𝑎𝑥 𝑚𝑎𝑥

57
Equação 71 a) e b)

Observações sobre estas variáveis:

• De todas as variáveis adimensionais, a que mais frequentemente é utilizada para caraterizar um


tipo de turbomáquina é a velocidade específica.
• Máquinas com a mesma velocidade específica e/ou diâmetro específico têm aproximadamente
a mesma geometria.
• O diagrama de Cordier relaciona, empiricamente, a velocidade específica com o diâmetro
específico.

Figura 66: Gráfico que relaciona o valor da velocidade específica com o tipo de turbomáquina.

Figura 67: Diagrama de Cordier.

3.3 ANÁLISE DIMENSIONAL EM ESCOAMENTO COMPRE SSÍVEL

Nestes escoamentos, é necessário alterar as relações adimensionais anteriores. Para um gás perfeito:

• Dado que a densidade 𝜌 não é constante, substitui-se 𝜌 por 𝜌01 ;


• Como o caudal volumétrico 𝑄 não é constante, é substituído pelo caudal mássico 𝜔 = 𝜌01 𝑄.

58
Os efeitos da compressibilidade dependem do:

• Coeficiente 𝛾 = 𝑐𝑝 /𝑐𝑣 ;
• Número de Mach, que é determinado a partir da velocidade do som, 𝑐01 , que se trata como uma
variável dependente da temperatura de estagnação: 𝑐01 = √𝛾𝑅𝑇01 .

𝐿 𝑃 Δ𝑇0 𝑝02 𝜔 𝑁𝐷 𝜌01 𝑁𝐷2


A partir do teorema de Buckingham, obtém-se: , 𝜂, , , = 𝐹( , , , 𝛾).
𝜌01 𝑁2 𝐷5 𝜌01 𝑁3 𝐷5 𝑇01 𝑝01 𝜌01 𝑁𝐷3 𝑐01 𝜇
Reordenando e retirando variáveis comuns, pode-se reescrever esta relação como:

𝐿 𝑃 Δ𝑇0 𝑝02 𝜔√𝑅𝑇01 𝑁𝐷 𝜌01 𝑁𝐷2


2 5
, 𝜂, 3 5
, , =𝐹 , , ,𝛾
𝜌01 𝑁 𝐷 𝜌01 𝑁 𝐷 𝑇01 𝑝01 ⏟𝑝01 𝐷 2 √ ⏟𝑅𝑇01 ⏟ 𝜇
( 𝐸 𝑃 𝑅𝑒 )

Equação 72: Índice 0 – grandeza é medida nas condições de estagnação; índice 1 – grandeza é medida à entrada da
máquina; índice 2 – grandeza é medida à saída da máquina.

Cada um dos termos representa diferentes coisas:

• 𝐸 é o número de Mach baseado na velocidade do escoamento.


• 𝑃 é o número de Mach baseado na velocidade periférica do rotor.
• 𝑅𝑒 é o número de Reynolds.

Na prática, ignora-se 𝑅𝑒 para escoamentos completamente desenvolvidos e, para uma mesma máquina
e mesmo gás, suprime-se 𝐷, 𝑅 e 𝛾:

𝐿 𝑃 Δ𝑇0 𝑝02 𝜔√𝑇01 𝑁


, 𝜂, , , = 𝐹( , )
𝜌01 𝑁 2 𝐷5 𝜌01 𝑁 3 𝐷5 𝑇01 𝑝01 𝑝01 √𝑇01

Equação 73: Note-se que os argumentos da função não são adimensionais.

4 CAVITAÇÃO

Nas turbomáquinas que trabalham com líquidos (turbinas hidráulicas e bombas) pode ocorrer cavitação:

1) Nas zonas onde a velocidade é mais alta, a pressão é mais baixa (pela equação de Bernoulli);
2) Reduções de pressão resultam em reduções da temperatura de vaporização dos líquidos;
3) Ocorre a vaporização do líquido e formam-se bolhas de vapor que são arrastadas pelo
escoamento e que o irão condicionar;
4) Ocorre uma condensação quase instantânea desse vapor.

Este fenómeno provoca perda de altura de elevação, caudal e rendimento, assim como desgaste das peças
nas zonas onde as bolhas de vapor condensam.

4.1 ALTURA DE ASPIRAÇÃO DISPONÍVEL

Para estudar a cavitação nas turbomáquinas, importa escrever a equação de Bernoulli e obter as
expressões para uma grandeza útil nesta análise, a altura de aspiração disponível.

BOMBAS TURBINAS

59
Aplicação da equação de Bernoulli: Aplicação da equação de Bernoulli:
𝑝1 𝑉12 𝑝𝑎𝑡𝑚 𝑝1 𝑉12 𝑝𝑎𝑡𝑚
+ + 𝑒𝑠 = − 𝑍𝑎𝑠𝑝 + + 𝑒𝑠 = + 𝑍𝑑𝑖𝑓𝑓
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔
Definição da altura de aspiração disponível: Definição da altura de aspiração disponível:
𝑝1 𝑉12 𝑝𝑣 𝑝𝑎𝑡𝑚 𝑝𝑣 𝑝1 𝑉12 𝑝𝑣 𝑝𝑎𝑡𝑚 𝑝𝑣
𝐻𝑠 = + − = − 𝑒𝑠 − 𝑍𝑎𝑠𝑝 − 𝐻𝑠 = + − = − 𝑒𝑠 + 𝑍𝑑𝑖𝑓𝑓 −
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔
Tabela 24

4.2 OCORRÊNCIA DE CAVITA ÇÃO

4.2.1 ALTURA DE ASPIRAÇÃO CRÍTICA


Para não ocorrer cavitação, a pressão mínima na bomba, 𝑝1 − Δ𝑝′ , tem de ser maior do que a pressão à
qual o líquido se vaporiza: 𝑝1 − Δ𝑝′ > 𝑝𝑣 , sendo Δ𝑝′ a diferença de pressão entre as faces das pás.

Figura 68: A pressão é mais alta na parte dianteira das pás (I), onde há compressão.

𝑝1 − Δ𝑝′ > 𝑝𝑣 é equivalente a 𝐻𝑠 > 𝐻𝑠𝑖 , em que 𝐻𝑠𝑖 é a altura de aspiração crítica:

Δ𝑝′ 𝑉12
𝐻𝑠𝑖 = +
𝜌𝑔 2𝑔

Equação 74

Observações sobre a altura de aspiração crítica:

• 𝐻𝑠 só depende da instalação e 𝐻𝑠𝑖 só depende da turbomáquina;

60
• 𝐻𝑠𝑖 , por ser uma altura, também verifica a constância de grupos adimensionais para máquinas
𝑔𝐻𝑠𝑖 𝑔𝐻𝑠𝑖
geometricamente semelhantes, ( ) =( ) ;
𝑁2 𝐷2 1 𝑁2 𝐷2 2
• A pressão de vaporização, 𝑝𝑣 , aumenta com a subida de temperatura, o que corresponde a
facilitar a ocorrência de cavitação.

4.2.2 COEFICIENTE DE THOMA


Define-se o coeficiente de Thoma como:

𝐻𝑠
𝜎=
𝐻

Equação 75

• Este coeficiente só depende da instalação.


𝐻𝑠𝑖 𝑄
• O coeficiente de Thoma crítico é 𝜎𝑖 = = 𝐹( ), para uma família de turbomáquinas
𝐻 𝑁𝐷3
geometricamente semelhantes e um Reynolds de influência desprezável.
• Não há cavitação se 𝜎 > 𝜎𝑖 .

4.2.3 VELOCIDADE ESPECÍFICA DE ASPIRAÇÃO


Define-se a velocidade específica de aspiração como:

𝑁√𝑄
𝑆=
(𝑔𝐻𝑠 )3/4

Equação 76

𝑁√𝑄 𝑄
• A velocidade específica de aspiração crítica é 𝑆𝑖 = (𝑔𝐻 3/4 = 𝐻( ), para uma família de
𝑠𝑖 ) 𝑁𝐷3
turbomáquinas geometricamente semelhantes e um Reynolds de influência desprezável.
• Não há cavitação se 𝑆 > 𝑆𝑖 .
• Valores típicos: para bombas, (𝑆𝑖 )𝜂𝑚𝑎𝑥 ≈ 3; para turbinas, (𝑆𝑖 )𝜂𝑚𝑎𝑥 ≈ 4.

Para terminar, note-se que:

• É indiferente utilizar 𝑆𝑖 ou 𝜎 para saber se há cavitação.


• Uma família de máquinas geometricamente semelhantes tem os mesmos (𝑆𝑖 )𝜂𝑚𝑎𝑥 e (𝜎𝑖 )𝜂𝑚𝑎𝑥 .

5 ESCOAMENTO NO INTERIOR DAS TURBOMÁQUINAS

5.1 ESCOAMENTO NUM ROTOR

O momento em relação ao eixo de rotação de todas as forças que se Figura 69


exercem sobre o fluido que ocupa o volume de controlo retratado é 𝑇𝑎 =
𝑑
∫ 𝑟𝑉𝑡 𝜌𝑑𝑉𝑜𝑙
𝑑𝑡 𝑉𝑜𝑙
+ ∫𝑆 𝑟2 𝑉2𝑡 𝑑𝜔2 − ∫𝑆 𝑟1 𝑉1𝑡 𝑑𝜔1 . Para uma velocidade de
2 1
rotação do rotor 𝑁 e caudal mássico 𝜔 constantes: 𝑇𝑎 = ∫𝑆 𝑟2 𝑉2𝑡 𝑑𝜔2 −
2

∫𝑆 𝑟1 𝑉1𝑡 𝑑𝜔1 . Como o momento das forças sobre o volume de controlo (a


1
tracejado vermelho, na figura) e o causado pelo peso do fluido é
aproximadamente 0, então o único momento que resta é o exercido pelo

61
fluido sobre o rotor (par ação-reação de 𝑇𝑎 ), 𝐿: 𝑇𝑎 = −𝐿. Para o caso dum escoamento unidimensional:

𝐿 = 𝜔[𝑟1 𝑉1𝑡 − 𝑟2 𝑉2𝑡 ]

Equação 77: Equação de Euler, válida para escoamento unidimensional compressível ou não, com ou sem atrito.

5.1.1 TRIÂNGULO DE VELOCIDADES


O escoamento no rotor pode ser estudado num
referencial ligado ao próprio rotor, em que o escoamento
se pode (em geral) considerar permanente. A velocidade
medida nesse referencial é denominada velocidade
⃗⃗⃗⃗, e relaciona-se com a absoluta, 𝑉
relativa, 𝑊 ⃗⃗, através do Figura 70: Os vetores de velocidade formam este
diagrama, a que se chama triângulo de
⃗⃗, e do raio que define velocidades.
vetor velocidade angular do rotor, 𝑁
a posição da partícula, 𝑟⃗:

⃗⃗ = 𝑊
𝑉 ⃗⃗⃗⃗ + 𝑁
⃗⃗ × 𝑟⃗

⃗⃗
𝑈

Equação 78

O termo 𝑈 ⃗⃗ representa a velocidade que a partícula teria se rodasse solidariamente com o rotor e chama-
se velocidade de transporte. Mais ainda, tem direção tangencial, pelo que 𝑈𝑡 = ‖𝑈 ⃗⃗‖ = 𝑈 = 𝑁𝑟.

5.1.2 APLICAÇÕES DA EQUAÇÃ O DE EULER


TURBINAS BOMBAS , VENTILADORES E COMPRESSORES
𝐿 = 𝜔[𝑟1 𝑉1𝑡 − 𝑟2 𝑉2𝑡 ] 𝐿 = 𝜔[𝑟2 𝑉2𝑡 − 𝑟1 𝑉1𝑡 ]
𝑃 𝑃
𝐸𝑟 = = 𝑁[𝑟1 𝑉1𝑡 − 𝑟2 𝑉2𝑡 ] = 𝑈1 𝑉1𝑡 − 𝑈2 𝑉2𝑡 𝐸𝑟 = = 𝑁[𝑟2 𝑉2𝑡 − 𝑟1 𝑉1𝑡 ] = 𝑈2 𝑉2𝑡 − 𝑈1 𝑉1𝑡
𝜔 𝜔
𝑉12 − 𝑉22 𝑉22 − 𝑉12
= ℎ1 − ℎ2 + + 𝑔(𝑧1 − 𝑧2 ) = ℎ2 − ℎ1 + + 𝑔(𝑧2 − 𝑧1 )
2 2
Tabela 25: Para evitar trabalhar com quantidades negativas, troca-se os sinais das equações das turbinas ao passar
para o caso das turbomáquinas movidas (bombas, ventiladores e compressores).

Para qualquer um dos tipos de máquina, verifica-se a equação de Bernoulli para escoamento relativo (1D):
𝑉12 − 2𝑈1 𝑉1𝑡 2
𝑉2𝑡 − 2𝑈1 𝑉2𝑡 𝑊12 − 𝑈12 𝑊22 − 𝑈22
ℎ1 + + 𝑔𝑧1 = ℎ2 + + 𝑔𝑧2 ⇔ ℎ1 + + 𝑔𝑧1 = ℎ2 + + 𝑔𝑧2
2 2 2 2
Equação 79: Equação válida para escoamento compressível ou não, com ou sem atrito.

Para um escoamento incompressível, 𝑑ℎ = 𝑇𝑑𝑠 + 𝑑𝑝/𝜌 e a equação anterior fica:


𝑝1 𝑊12 − 𝑈12 𝑝2 𝑊22 − 𝑈22 2
+ + 𝑔𝑧1 = + + 𝑔𝑧2 + ∫ 𝑇𝑑𝑠
𝜌 2 𝜌 2 ⏟
1
𝐸𝑝
Equação 80

Observações sobre estas equações:

2
• 𝐸𝑝 = ∫1 𝑇𝑑𝑠 representa a perda por aumento de entropia.
• O termo adicional −𝑈 2 /2 representa uma energia potencial fictícia associada à força centrífuga.
• Como para as bombas, ventiladores e compressores, a entalpia e pressão aumentam, então 𝑈22 −
𝑈12 > 0 e o escoamento é centrífugo (no sentido da coordenada radial crescente).
• Inversamente, para turbinas 𝑈22 − 𝑈12 < 0 e o escoamento é centrípeto.

62
5.2 TURBOMÁQUINAS RADIAI S

O estudo das turbomáquinas radiais faz-se essencialmente ao longo dos canais


formados pelas pás do rotor.

Define-se as velocidades de transporte à entrada e saída:

𝑁𝐷1 𝑁𝐷2
𝑈1 = 𝑈2 =
2 2

Equação 81 a) e b): os índices 1 e 2 designam as condições à entrada e saída do rotor (mais


precisamente à entrada e saída dos canais formados pelas pás do rotor).
Figura 71
Admite-se que o escoamento à entrada do rotor não tem rotação, 𝑉1𝑡 = 0, e que à saída 𝑉2𝑎 = 0. Obtém-
se ainda equações para as velocidades radiais:

𝑄1 𝜔/𝜌1 𝑄2 𝜔/𝜌2
𝑉1𝑟 = = 𝑉2𝑟 = =
𝐴1 𝜋𝐷1 𝑏1 𝐴2 𝜋𝐷2 𝑏2

Equação 82 a) e b): Note-se que para bombas e ventiladores (mas não compressores): 𝜌1 = 𝜌2 = 𝜌.

5.2.1 ÂNGULO DE ENTRADA DO ROTOR


Nestes escoamentos, define-se, para dados pontos ao longo da circunferência interior do rotor:

• ⃗⃗⃗⃗1 do fluido e a tangente à circunferência;


𝛽1 , o ângulo entre a velocidade relativa 𝑊

• 𝛽1 , o ângulo entre a abertura da pá e a tangente.

Figura 72

Para ângulos 𝛽1 ≠ 𝛽1′ , o fluido não “acompanha” a forma da pá e há separação da camada limite.

Como 𝛽1 é o ângulo entre 𝑊1 e 𝑈1 :

𝑉1 2𝜔
tan 𝛽1 = =
𝑈1 𝜋𝐷12 𝑏1 𝜌1 𝑁

Equação 83: Note-se que 𝑉1 = 𝑉1𝑟 , pois 𝑉1𝑡 = 0.

63
5.2.2 ÂNGULO DE SAÍDA DO R OTOR
Analogamente, pode-se definir, em relação às extremidades das pás:

• ⃗⃗⃗⃗2 do fluido e a tangente à extremidade;


𝛽2 , o ângulo entre a velocidade relativa 𝑊

• 𝛽2 , o ângulo entre a abertura da ponta da pá e a sua tangente.

Figura 73

5.2.3 EFEITO DE ESCORREGAMENTO


A diferença de ângulos 𝛽2′ − 𝛽2 está associada ao que
se chama efeito de escorregamento.

Num rotor com um número finito de pás, 𝑍, o


escoamento relativo médio é imperfeitamente
defletido (a linha a traço-ponto na figura está
compreendida entre o perfil da pá e a linha de
corrente relativa do escoamento sem deflexão),
sendo 𝛽2 < 𝛽2′ . Quanto maior for o número de pás do
rotor, melhor é o “guiamento” que as pás dão ao
escoamento relativo e menor é a diferença 𝛽2′ − 𝛽2 ;
consequentemente, menor é o escorregamento. Figura 74

Observando a figura, vê-se que na ausência de pás não há deflexão e tem-se 𝑉𝑡 = 0. Para essa situação,

• Um observador ligado ao rotor vê as linhas de corrente do escoamento relativo com forma duma
espiral (linha a traço interrompido);
• A velocidade absoluta 𝑉 ⃗⃗ é puramente radial;
• Quanto mais o perfil das pás se afastar dessa linha, (ou seja, quanto maior for 𝛽2 ) maior é a
deflexão do escoamento;
• A deflexão origina uma componente 𝑉2𝑡 com o sentido da velocidade de rotação 𝑁.

64
No fundo, o efeito das pás do rotor consiste essencialmente em modificar a quantidade de movimento
⃗⃗, ao alterar a direção do vetor velocidade 𝑉
angular do fluido 𝐻 ⃗⃗: 𝐻
⃗⃗ = 𝑟⃗ × 𝑚𝑉
⃗⃗.

Para um dado número de pás, maiores deflexões implicam maiores diferenças de pressão entre as duas
faces de cada pá, favorecendo mais a separação das camadas limites junto à face de menor pressão, com
as consequentes perdas (a situação é ainda agravada por o escoamento se efetuar no sentido da pressão
crescente). Por isso, rotores com elevada deflexão devem ter maior número de pás, de forma a evitar que
a carga dinâmica sobre cada pá (traduzida pela diferença de pressões entre as duas faces) seja excessiva
e minorar as perdas por separação.

Velocidades

Na figura está representado o


triângulo de velocidades médio à
saída do rotor, 𝑉⃗⃗2 = 𝑈
⃗⃗2 + 𝑊
⃗⃗⃗⃗2 , e
também o triângulo de
velocidades 𝑉 ⃗⃗2 = 𝑈
′ ⃗⃗2 + 𝑊
′ ⃗⃗⃗⃗2 que

se teria se o escoamento fosse


perfeitamente defletido pelas
pás, ou seja, se o número de pás
fosse muito grande Figura 75
(teoricamente infinito).

Destes triângulos, pode-se tirar a relação:


𝑉2𝑡 = 𝑈2 − 𝑉2𝑟 cot 𝛽2′

Equação 84

O efeito do escorregamento traduz-se numa redução da componente tangencial 𝑉2𝑡 em relação ao valor

𝑉2𝑡 , o que significa que a energia fornecida pelo rotor ao fluido é menor no caso real do que se a deflexão

fosse perfeita. Esta diferença, 𝑉2𝑡 − 𝑉2𝑡 = ∆𝑉2𝑡 , é denominada velocidade de escorregamento.


Note-se ainda, que 𝑊2𝑟 = 𝑉2𝑟 = 𝑉2𝑟 e 𝑊2𝑡 = 𝑈2 − 𝑉2𝑡 .

Fator de Escorregamento

Chama-se fator de escorregamento à relação:

𝑉2𝑡
𝜎= ′
𝑉2𝑡

Equação 85

Para o caso teórico dum número de pás infinitas (𝑍 → +∞), 𝜎 → 1. Como, na prática, há sempre
escorregamento, 𝜎 < 1.

Para além da definição anterior, pode-se calcular este fator de outra forma:

STODOLA (𝟐𝟎° < 𝜷′𝟐 < 𝟑𝟎°) STANITZ (𝜷′𝟐 ~ 𝟗𝟎°)


(𝜋 sin 𝛽2′ )/𝑍 1,98/𝑍
𝜎=1− 𝜎=1−
𝑉 𝑉
1 − 2𝑟 cot 𝛽2′ 1 − 2𝑟 cot 𝛽2′
𝑈2 𝑈2
𝑘
Tabela 26: Correlações de Stodola e Stanitz para 𝜎 (nos 𝛽2′ indicados). Ambas são da forma 𝜎 = 1 − 𝑉2𝑟 .
1− 𝑐𝑜𝑡 𝛽2′
𝑈2

65
A partir destas correlações, da equação de Euler e do triângulo de velocidades, obtém-se:

𝑄
Equação 86 a) e b): 𝑘 = (𝜋 𝑠𝑖𝑛 𝛽2′ )/𝑍 ou 𝑘 = 1,98/𝑍, consoante a correlação, e 𝛷 = é o coeficiente de caudal.
𝑁𝐷23
𝛹𝑟 (𝛷) gera uma reta da forma 𝑦 = 𝑚𝑥 + 𝑏, apresentada à direita.

5.2.4 PERDAS
Podem-se considerar dois tipos de perdas:

• Por separação da camada limite por incidência excessiva à


entrada das pás do rotor e à entrada das pás do estator;
• Por atrito ao longo dos canais do rotor e do estator.

Define-se um coeficiente de altura de elevação, Ψ, para avaliar a


eficiência energética: Figura 76

𝑔𝐻 𝐸𝑟 𝐸𝑝
Ψ= = 2 2− 2 2
2
𝑁 𝐷 2 ⏟ 𝐷
𝑁 ⏟
𝑁 𝐷
Ψ𝑟 Ψ𝑝

Equação 87

Haverá, pois, um valor de Φ (valor nominal Φη ) para o qual 𝛽1 = 𝛽1′ . Para valores de Φ muito diferentes
do nominal, ocorrerão perdas por separação da camada limite, na face de compressão da pá ou na de
aspiração, consoante Φ for superior ou inferior a Φη .

5.2.5 COMPRESSORES RADIAIS

Figura 77: Compressores radiais.

Efeitos de Compressibilidade

Dentro das turbomáquinas radiais, os compressores distinguem-se das restantes por terem efeitos de
compressibilidade apreciáveis; neles, a densidade já não é constante.

66
Figura 78

Assim, define-se abaixo a relação de compressão entre 𝑝0𝐵 e 𝑝0𝐴 (pressões de estagnação à entrada e à
saída da máquina), e o rendimento dessa compressão, para um gás perfeito:

𝛾 𝛾 𝛾 𝛾
𝑝0𝐵 𝑇0𝐵𝑠 𝛾−1 𝜂𝐸𝑟 𝛾−1 𝜂𝑈2 𝑉2𝑡 𝛾−1 𝜂(𝛾 − 1)𝑈2 𝑉2𝑡 𝛾−1
=( ) =( + 1) =( + 1) =( 2 + 1)
𝑝0𝐴 𝑇0𝐴 𝑐𝑝 𝑇0𝐴 𝑐𝑝 𝑇0𝐴 𝑐0𝐴

Equação 88: Os índices 1 e 2 designam as condições de entrada e saída do rotor.

𝐸𝑠 𝑐𝑝 (𝑇0𝐵𝑠 − 𝑇0𝐴 ) ℎ0𝐵𝑠 − ℎ0𝐴 𝑇0𝐵𝑠 − 𝑇0𝐴 𝜂𝐸𝑟


𝜂= = = = ⇒ 𝑇0𝐵𝑠 = + 𝑇0𝐴
𝐸𝑟 𝐸𝑟 ℎ0𝐵 − ℎ0𝐴 𝑇0𝐵 − 𝑇0𝐴 𝑐𝑝

Equação 89: Os índices A e B designam as condições de entrada e saída da máquina.

A Equação 88 mostra que, para se ter uma relação de compressão substancialmente superior à unidade,
a velocidade periférica do rotor deve ser da ordem de grandeza da velocidade do som: 𝑈2 ~𝑐0𝐴 .

Deixam-se, ainda, algumas relações úteis para tratar de escoamentos compressíveis:


1
𝜌 𝑇 𝛾−1
• =( )
𝜌0 𝑇0
𝑉2
• ℎ0 = ℎ +
2
• 𝑝 = 𝜌𝑅𝑇 ou 𝑝0 = 𝜌𝑅𝑇0
• Constantes das equações, para ar seco: 𝑅 = 287𝐽𝑘𝑔−1 𝐾 −1 , 𝛾 = 1,4 e 𝑐𝑝 = 1005𝐽𝑘𝑔−1 𝐾 −1

Escoamento à Entrada do Rotor

Para o escoamento junto à entrada das pás do rotor (𝑟 = 𝑟1 ), 𝛽1 = 𝛽1′ , o que resulta
no triângulo de velocidade apresentado ao lado. A partir dele, verifica-se que:

𝑉1
tan 𝛽1 =
𝑈1

Equação 90: Note-se que 𝑉1 = 𝑉1𝑟 , pois 𝑉1𝑡 = 0.


Figura 79
Escoamento à Saída do Rotor
𝑝0𝐵
Por razões estruturais, quer-se ter ∈ [3,5]; para isso, é conveniente que o ângulo de saída das pás do
𝑝0𝐴
rotor, 𝛽2′ , tenha um valor grande, sendo frequente adotar-se 𝛽2′ = 90°, que minimiza as tensões de flexão
nas pás devidas à força centrífuga.

67
Figura 80: A partir das decomposições da velocidade à esquerda, obtém-se o triângulo de velocidades.

A partir deste triângulo, obtém-se:


𝑈2 = 𝑉2𝑡 = 𝑉2𝑡 + 𝑉2𝑟 cot 𝛽2

Equação 91

5.3 TURBOMÁQUINAS AXIAIS

Figura 81

As turbomáquinas axiais são constituídas por dois conjuntos de pás: o estator, que tem pás estáticas, e o
rotor, que tem pás em rotação. Estes formam o que se chama “cascata de pás” (figura anterior, à direita).

Se 𝑟1 = 𝑟2 = 𝑟, então 𝑈1 = 𝑈2 = Ω𝑟 e a energia fornecida ao rotor será:

𝐸𝑟 = 𝑈2 𝑉2𝑡 − 𝑈1 𝑉1𝑡 = Ω𝑟(𝑉2𝑡 − 𝑉1𝑡 )

Equação 92: 𝛺 é a velocidade angular.

As velocidades nestes escoamentos relacionam-se por:

𝜔/𝜌1 𝑉1𝑡 𝜔/𝜌2 𝑈2 − 𝑉2𝑡


𝑉1𝑎 = = 𝑉2𝑎 = =
𝐴1 cot 𝛼1 𝐴2 cot 𝛽2

Equação 93 a) e b): O índice 𝑎 indica uma velocidade axial (ao longo do eixo).

Para este tipo de turbomáquina, desenvolveu-se a teoria do disco atuante. Esta consiste em admitir que
um rotor colocado no meio do escoamento pode ser representado por um disco estreito que absorve

68
energia. Por este disco ser muito fino, considera-se que a sua área de entrada, 𝐴𝑏 , é aproximadamente
igual à área de saída 𝐴𝑎 : 𝐴𝑏 ≈ 𝐴𝑎 ≈ 𝐴.

Figura 82: Escoamento incompressível a atravessar uma turbina. Há uma descontinuidade em a-b.

As etapas do escoamento serão:

1. O vento entra com uma velocidade 𝑉1 e uma pressão estática igual à do ambiente, 𝑝∞
𝜌𝑉12 𝜌𝑉 2
2. No trajeto 1-b, aplica-se a equação de Bernoulli (∆𝑧 = 0): 𝑝∞ + = 𝑝𝑏 +
2 2
3. Como 𝐴𝑏 ≈ 𝐴𝑎 e o sistema é estacionário, a velocidade com que o vento atravessa a turbina é
𝑉1 +𝑉2
constante 𝑉𝑎 = 𝑉𝑏 = 𝑉, sendo 𝑉 a média das velocidades em 1 e 2: 𝑉 =
2
𝜌𝑉 2 𝜌𝑉22
4. No trajeto a-2, a equação de Bernoulli é: 𝑝𝑎 + = 𝑝∞ +
2 2
5. Em 2, a velocidade é menor do que a de entrada (𝑉2 < 𝑉1 ), mas a sua pressão estática é igual à
do ambiente 𝑝∞
𝑑𝑣 𝑚
6. Calcula-se a força exercida pela turbina no fluido: ∑ 𝐹𝑥 = −𝐹𝑡 = 𝑚 = 𝑑𝑣 = 𝜔(𝑉2 − 𝑉1 ) ⇔
𝑑𝑡 𝑑𝑡
𝐹𝑡 = 𝜔(𝑉1 − 𝑉2 ) = 𝐴(𝑃𝑏 − 𝑃𝑎 )

A potência da turbina é dada por:

1
𝑃 = 𝐹𝑉 = 𝜔(𝑉2 − 𝑉1 )𝑉 = 𝜔(𝑉1 + 𝑉2 )(𝑉2 − 𝑉1 )
2

Equação 94

𝑉1 8 𝜔
Derivando, conclui-se que a potência máxima se verifica para 𝑉2 = e é igual a 𝑃𝑚𝑎𝑥 = ( ) 𝑉13 . O
3 27 𝑉
𝑃
coeficiente de potência é dado por 𝐶𝑝 = 1 , pelo que o (𝐶𝑝 )𝑚𝑎𝑥 será:
𝜌𝐴𝑉13
2

8 𝜔 1 16
(𝐶𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = ( ( ) 𝑉13 ) / ( 𝜌𝐴𝑉13 ) = = 0,593 = 59,3%
27 𝑉 2 27

Equação 95: 59,3% é o número de Betz.

Esta lei mostra que à medida que o ar flui através de uma área, e a velocidade diminui pela perda de
energia, o fluxo deve distribuir-se por uma área maior; portanto, a geometria limita qualquer turbina a
uma eficiência máxima de 59,3%.

69
Finalmente, note-se que apesar de se ter dado o exemplo do vento, a lei de Betz é aplicável a todos os
fluidos newtonianos.

6 GOLPE DE ARÍETE

O golpe de aríete é um pico de pressão, causado pela paragem ou pela alteração súbita do sentido de
escoamento do fluido em tubos e condutas, e que pode causar a sua fratura.

Em primeiro lugar, é conveniente referir a equação de Bernoulli em condutas com perdas por atrito, que
será usada implicitamente várias vezes ao longo deste capítulo:

𝑝1 𝑉12 𝑝2 𝑉22 𝑥 𝑉2
+ 𝑧1 + = + 𝑧2 + +𝑓
𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔 𝑑 2𝑔

Equação 96: Equação de Bernoulli aplicada entre dois pontos genéricos da conduta, 1 e 2.

6.1 VELOCIDADE DE UMA ON DA DE PRESSÃO

𝜕𝑝
A velocidade de uma onda de pressão (como, por exemplo, o som) num dado fluido, 𝑐 = √ , pode ser
𝜕𝜌
𝜕𝑝 𝜕𝑝
escrita de outra forma introduzindo a expansão volumétrica do fluido, 𝐸𝜈 = −𝜈 =𝜌 :
𝜕𝜈 𝜕𝜌

𝐸𝜈
𝑐=√
𝜌

Equação 97: Velocidade das ondas de pressão num fluido; no caso da água: 𝑐 = 1450 𝑚𝑠 −1 .

No entanto, no estudo do golpe de aríete as forças elásticas do fluido e da parede da conduta são
relevantes. Por isso, obtém-se uma nova equação para o caso dum fluido contido numa tubagem com
elasticidade apreciável:

1
𝑐𝑝 = 𝑐 √
𝑑 𝐸𝜈
1+
𝑒 𝐸

Equação 98: 𝑐 é a velocidade num tubo inelástico, dada pela equação anterior; 𝑒 é a espessura do tubo, 𝑑 o
diâmetro; 𝐸 corresponde ao módulo de Young do material do tubo.

6.2 FECHO INSTANTÂNEO DA VÁLVULA

Considere-se o escoamento numa conduta em regime estacionário, em que se procede ao fecho rápido
de uma válvula posicionada na sua extremidade direita:

Primeiro, cria-se uma frente de


compressão quando se fecha a
válvula instantaneamente

70
Posteriormente, ao fim do tempo 𝑡 =
𝐿
, existe um excesso de pressão no
𝑐
tubo

Na fronteira aberta, a onda reflete-


se, passando de compressão para
expansão

Posteriormente, ao fim do tempo 𝑡 =


2𝐿
, conhecido como frequência do
𝑐
golpe de aríete, não existe velocidade
no tubo

Na fronteira fechada (onde está a


válvula), a onda reflete-se, mantendo
a característica

3𝐿
Ao fim do tempo 𝑡 = , existe um
𝑐
défice de pressão no tubo

Na fronteira aberta (onde está a


válvula), a onda reflete-se, alterando
a característica

4𝐿
Por fim, fim do tempo 𝑡 = , volta-se
𝑐
à situação inicial (antes do fecho da
válvula)

Tabela 27

Depois de se aplicarem as equações de balanço de massa e de quantidade de movimento, obtém-se uma


aproximação da variação de pressão com fecho instantâneo (sobrepressão):

𝛥𝑝 = 𝜌𝑉𝑐

Equação 99

Na situação de fecho instantâneo da válvula, é ainda importante referir que se se considerar a perda de
carga na conduta e a dissipação do processo elástico no fluido a amplitude da onda vai diminuindo com a
reflexão da mesma, como esquematizado na figura abaixo.

71
Figura 83

Note-se que, independentemente do tipo de fecho da válvula, a onda provoca a paragem instantânea do
fluido.

6.3 FECHO PARCIAL DA VÁL VULA

Quando há apenas um fecho parcial da válvula, os acontecimentos são semelhantes, mas:

• Ainda há caudal 𝑞 ′ a sair pela válvula;


• A sobrepressão é dada por 𝛥𝑝 = 𝜌𝑐(𝑉 − 𝑉 ′ ).

Figura 84

6.4 FECHO LENTO DA VÁLVULA

O fecho da válvula considera-se lento quando


2𝐿
o tempo no qual a tarefa é executada é 𝑡 > .
𝑐

Neste caso, uma vez que, quando a válvula


fecha, a onda refletida já chegou à válvula,
existe uma redução da sobrepressão:

2𝐿/𝑐 2𝜌𝐿𝑉
𝛥𝑝′ = 𝛥𝑝 =
𝑡 𝑡
Figura 85: Note-se que, neste gráfico, o ponto de medição
Equação 100 está a montante da válvula.

Então, conclui-se que a sobrepressão é tanto mais pequena quanto maior for 𝑡/menor for 𝐿.

Com base na conclusão anterior, usam-se chaminés de equilíbrio: dispositivos que têm como objetivo
reduzir a sobrepressão reduzindo 𝐿, artificialmente, produzindo uma reflexão da onda de compressão
num ponto da conduta selecionado (ver figura).

72
Figura 86

Após a aplicação da equação de Bernoulli e de diversas simplificações, chega-se a:

−2
𝑙𝐴 𝑙 𝑙 𝐴𝑒 𝑙 𝐴𝑒
𝑉22 = 2𝑔 [𝑓 ( ) ] [1 − 𝑓 ( ) 𝑧] − 𝐶 exp (−𝑓 ( ) 𝑧 )
𝐴𝑒 𝑑 𝑒𝑞 𝑑 𝑒𝑞 𝑙𝐴 𝑑 𝑒𝑞 𝑙𝐴 3

Equação 101: 𝐴𝑒 é a área da secção da chaminé, 𝑙 o comprimento do tubo e 𝐶 uma constante a calcular.

Esta fórmula é bastante útil, pois exprime tudo em função da velocidade no ponto 2. Por exemplo, quando
se pretende descobrir a altura 𝑧𝑚𝑎𝑥 que se consegue atingir na chaminé, descobre-se primeiro a constante
𝐶, sabendo a altura 𝑧3 (através da equação de Bernoulli) e a velocidade 𝑉2 ; posteriormente, sabendo a
constante, aplica-se a mesma fórmula quando se fecha a válvula (ou seja, 𝑉2 = 0) e, finalmente, resolve-
se em ordem a 𝑧3 .

73
ESCOAMENTO DE UM FLUIDO PERFEITO
1 NOÇÕES DE ESCOAMENTO DE UM FLUIDO PERFEITO

Escoamentos de fluido perfeito são os escoamentos incompressíveis e em que as tensões de corte são
pouco relevantes (ou seja, a viscosidade é quase desprezável).

Os escoamentos a números de Reynolds elevados em torno de corpos fuselados, nomeadamente asas e


pás de turbomáquinas, são casos em que as simplificações anteriores fazem sentido, porque os efeitos
viscosos se confinam a camadas limite muito finas junto às paredes, sem interferirem praticamente com
o resto do escoamento.

1.1 EQUAÇÕES BÁSICAS

Em primeiro lugar, é importante definir os seguintes operadores para uma função genérica 𝐹:

GRADIENTE DIVERGÊNCIA ROTACIONAL LAPLACIANO (𝛥𝐹) DERIVADA


(𝑔𝑟𝑎𝑑 𝐹) (𝑑𝑖𝑣 𝐹) (𝑟𝑜𝑡 𝐹) 𝑑𝐹
MATERIAL ( )
𝑑𝑡
𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕2𝐹 𝜕2𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹
+ + − + + 𝐹𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑡 𝜕𝑥
𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕2𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹
− + 2 + 𝐹𝑦 + 𝐹𝑧
𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝐹 𝜕𝐹 𝜕𝐹
[ 𝜕𝑧 ] −
[ 𝜕𝑥 𝜕𝑦]
Tabela 28

Recupera-se também algumas relações importantes da mecânica dos fluidos:

EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE EQUAÇÃO DE NAVIER -STOKES EQUAÇÃO DE BERNOULLI


𝜕𝜌 𝜕𝜌 1 𝑝 𝑣2
⃗⃗) = 0
+ 𝑑𝑖𝑣 (𝜌. 𝑈 ⃗⃗ ∙ (𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑈
+𝑈 ⃗⃗) = − 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑝⃗ + 𝐹⃗ + + 𝑔𝑧 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜌 𝜌 2
Tabela 29

𝜕𝜌
Note-se que, para um escoamento incompressível, a densidade, 𝜌, não varia no tempo, logo = 0.
𝜕𝑡

1.2 CARATERÍSTICAS DO E SCOAMENTO POTENCIAL

A condição de incompressibilidade exprime-se na equação da continuidade e, para fluidos newtonianos


incompressíveis, a resultante das tensões de corte é nula quando o rotacional da velocidade é zero. Dados
dois campos contínuos e com derivadas contínuas, 𝜓⃗⃗ e 𝜑, um vetorial e outro escalar, respetivamente:

• Condição de incompressibilidade: 𝑔𝑟𝑎𝑑(𝑈 ⃗⃗) = 0 ⇒ 𝑈⃗⃗ = 𝑟𝑜𝑡(𝜓⃗⃗)


• Resultante das tensões de corte nula: 𝑟𝑜𝑡(𝑈⃗⃗) = 0 ⇒ 𝑈 ⃗⃗ = 𝑔𝑟𝑎𝑑(𝜑)

Em relação a estes campos:

• 𝜓⃗⃗ é a função corrente, que representa o caudal escoado entre uma parede rígida e uma linha de
corrente. Esta é constante ao longo de uma linha de corrente.
• O campo escalar 𝜑 designa-se por potencial da velocidade. Daí chamar-se escoamento potencial
a um fenómeno com as caraterísticas descritas: a sua velocidade é literalmente função de um
potencial.

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• É ainda importante referir que 𝛥𝜑 = 𝛥𝜓 = 0.

1.3 TEOREMA DE KELVIN

O teorema de Kelvin é referente à circulação da velocidade ao longo de um contorno fechado:

𝛤 = ∮ 𝑢 𝑑𝑟

Equação 102

Relativamente a este teorema, é importante referir que a circulação da velocidade a longo de um


contorno fechado (ou para qualquer escoamento incompressível) que se desloca com o fluido mantém-
se constante ao longo do tempo no caso de 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑟 = 0.

1.4 POTENCIAL COMPLEXO

Define-se o potencial complexo, 𝑤, como uma função de 𝜑 e de 𝜓, que se escreve da seguinte forma:

𝑤 = 𝜑(x, y) + 𝑖𝜓 (x, y)

Equação 103

É relevante referir que 𝑤 tem de ser analítica. Uma maneira simples de verificar isto, é averiguar se o
potencial 𝑤 se pode escrever na forma 𝑥 + 𝑖𝑦. Outra forma é verificar as condições de Cauchy-Riemann,
de onde também se tiram as componentes da velocidade:

COORDENADAS CARTESIANAS COORDENADAS CILÍNDRICAS


∂φ 𝜕𝜓 ∂φ 𝜕𝜓 ∂φ 1 𝜕𝜓 1 ∂φ 𝜕𝜓
𝑢= = 𝑣= =− 𝑣𝑟 = = 𝑣𝜃 = =−
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑟
Tabela 30

Observações:

𝑑𝑤
• A derivada 𝑑𝑤/𝑑𝑧 é o complexo conjugado do vetor velocidade: ̅ e 𝑑𝑤 = 𝑣𝑟 −
= 𝑢 − 𝑖𝑣 = 𝑈
𝑑𝑧 𝑑𝑧
𝑖𝑣𝜃 = 𝑈̅;
• A duas dimensões, as isolinhas de função de corrente são tangentes ao vetor velocidade e,
portanto, são linhas de corrente;
• As linhas equipotenciais são ortogonais às linhas de corrente;
• A diferença da função de corrente em dois pontos é igual ao caudal volúmico (por unidade de
largura) que se escoa entre esses dois pontos.

2 SINGULARIDADES

Há escoamentos que não são contínuos e/ou não possuem derivadas contínuas num ponto – fonte/poço,
dipolo e vórtice, por exemplo. Por isso, as condições caraterísticas do escoamento potencial não são
aplicáveis neles; mesmo assim, é possível obter soluções válidas em todo o escoamento, exceto nesses
pontos de singularidade.

FONTE /POÇO DIPOLO VÓRTICE

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DEFINIÇÃO

Sendo 𝑞 o caudal por unidade Um dipolo resulta da soma de Num vórtice, existe
de comprimento (m2/s), uma fonte em 𝑧 = 𝑎𝑒 𝑖𝛼 e um circulação da velocidade (𝑘 =
define-se uma singularidade poço de igual intensidade em 2𝜋𝑟|𝑉| = 𝛤).
como uma fonte quando 𝑞 > 𝑧 = 𝑎𝑒 𝑖(𝛼+𝜋) .
0, e poço quando 𝑞 < 0.
Os equipotenciais são linhas Os equipotenciais são Os equipotenciais são linhas
radiais, e as linhas de circunferências tangentes ao radiais, e as linhas de
corrente são circunferências ponto médio entre a fonte e corrente são circunferências
concêntricas centradas na o poço, divididas pelo eixo do concêntricas com circulação
LINHAS

origem (a branco, na figura). dipolo, e as linhas de 𝑘.


corrente são circunferências
tangentes ao eixo do dipolo,
que tocam nesse ponto
médio (a branco na figura).
𝑞 𝑒 𝑖𝛼 −𝑖𝑘
𝑤= ln(𝑧 − 𝑧1 ) 𝑤 = −𝜇 𝑤= ln(𝑧)
2𝜋 𝑧 2𝜋
COMPLEXO
POTENCIAL

• 𝑧1 é o centro da • µ é a intensidade do • 𝑘 é a circulação


singularidade no plano dipolo
• 𝛼 é o ângulo de
orientação do dipolo
Tabela 31: Alguns tipos de singularidades.

3 ANÁLISE DE ESCOAMENTOS DE FLUIDOS PERFEITOS

3.1 MÉTODO DE RANKINE

O método de Rankine consiste em afirmar que o potencial da soma é igual à soma dos potenciais num
determinado escoamento:

𝑊 = 𝑤1 + 𝑤2 + ⋯ + 𝑤𝑛

Equação 104

Um exemplo clássico da aplicação do método de Rankine é o de um escoamento com uma fonte em 𝑥 =


𝑞 𝑞
−𝑎 e um poço em 𝑥 = 𝑎: 𝑤 = ln(𝑧 + 𝑎) − ln(𝑧 − 𝑎).
2𝜋 2𝜋

Agora que já se sabe como obter expressões para o potencial complexo de uma sobreposição de
singularidades, também se pode descobrir os pontos de estagnação dos escoamentos, pois estes ocorrem
𝑑𝑤
quando = 0; então, pode-se dizer que as linhas de corrente de estagnação são função dessa derivada:
𝑑𝑧
𝑑𝑤
𝜓𝑒 = 𝜓 ( ).
𝑑𝑧

3.2 MÉTODO DAS IMAGENS

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O método das imagens consiste em sobrepor dois escoamentos com sinais contrários “frente a frente”. É
um método que permite obter “paredes sólidas” que resultam da zona de choque entre os dois
escoamentos (na figura apresentam-se duas fontes).

Figura 87

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REFERÊNCIAS
Brederode, V. d. (1997). Fundamentos de Aerodinâmica Incompressível. Edição do autor.

Falcão, A. F. (2003). Escoamento de um Fluido Perfeito. AEIST.

Falcão, A. F. (2004). Turbomáquinas. AEIST.

Silva, C. B. (2014). Introdução à Fenomenologia e Modelação da Turbulência. AEIST.

Silva, C. B. (2018). Slides das Aulas Teóricas. Fénix.

White, F. M. (2007). Fluid Mechanics. McGraw-Hill.

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