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2.0

best OF perioline
VOLUME
2022

perioline
year book
OF
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
Sérgio Kahn
Cirúrgico
Coordenadores:

Cirúrgico
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
• COLABORADORES •
Sérgio Kahn

Adilson dos Santos Torreão Mabelle de Freitas Monteiro


Alexandre Chaer Cruvinel Marcelo Pereira Nunes
Amanda Alves de Oliveira Maria das Graças Cruz Najar
André Vilela Maristela Maia Lobo
Armando Lopes Pereira Mateus do Vale Voigt

year book
Carina de Morais Luis Pereira Max Pinto da Costa da Rocha
Fábio Alves Silva Michel Reis Messora
Geraldo Lúcio de Magalhães Silva Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues
José Alfredo Mendonça Renata Cimões
Julio Cesar Joly Ricardo Junior Denardi
Laís Mori Robert Carvalho da Silva
Leonardo Bocabella Roberto Carlos Mourão Pinho
Ludmila Alice da Cunha Costa Sarah Camilo Duarte
Luís Fernando Naldi Sérgio Antonucci Amaral
Luiz Gustavo Nascimento de Melo Sérgio Luís Scombatti de Souza
Vanessa Frazão Cury Gonçalves 2.0
VOLUME
Perioline Cirúrgico 2.0

Paulo Fernando Mesquita de Carvalho


Sérgio Kahn

SOBRAPE
SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PERIODONTOLOGIA

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Título: Perioline Cirúrgico 2.0
Autores: Paulo Fernando Mesquita de Carvalho e Sérgio Kahn
Produção editorial: Rafael Rodrigues
Revisão de textos: Rafael Rodrigues
Diagramação: Luis Felipe May dos Santos
Capa: Paulo R. R. Salomão

© 2022 Santos Publicações Ltda.

Todos os direitos reservados a Santos Publicações Ltda. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida, armazenada ou transmitida por quaisquer que sejam os meios – mecânico, fotocópia,
eletrônico ou outros –, sem a prévia permissão do Editor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Carvalho, Paulo Fernando Mesquita de
Perioline cirúrgico 2.0 / Paulo Fernando Mesquita de Carvalho, Sérgio Kahn. -- São Paulo, SP: Santos
Publicações, 2022.
ISBN 978-65-86699-95-1
1. Odontologia 2. Periodontia I. Kahn, Sérgio. II. Título.
CDD-617.632
21-79868 NLM-WU 240
Índices para catálogo sistemático:
1. Periodontia 617.632
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Rua Apeninos, 664 – Paraíso | CEP 01533-000 – São Paulo


Tel.: (11) 5574-1200 | www.santospub.com.br

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Autores

Paulo Fernando Mesquita de Carvalho


Mestre e Doutor em Periodontia pela FOP/Unicamp. Coordenador dos Mes-
trados em Implantodontia e Periodontia da SLMandic. Coordenador do Insti-
tuto ImplantePerio.

Sérgio Kahn
Especialista e Mestre em Periodontia pela UERJ. Doutor em Odontologia pela
UFRJ. Pós-doutor em Periodontia pela UFRJ. Autor dos livros “Sorriso Gengi-
val: Uma Visão Multidisciplinar” e “Recobrimento Radicular: Desafiando Con-
ceitos”. Presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE).

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Colaboradores
Adilson dos Santos Torreão
Cirurgião-dentista. Especialista em Periodontia pela UFRN. Mestre em Im-
plantodontia pela SL Mandic.

Alexandre Chaer Cruvinel


Especialista em Prótese pela SL Mandic. Técnico em Prótese Dentária.

Amanda Alves de Oliveira


Mestre em Clínica Odontológica pela UFG. Especialista em Prótese pela EAP-
-Goiás.

André Vilela
Doutor em Periodontia. Mestre em Periodontia. Especialista em Periodontia e
Implantodontia. Autor do livro View - A Nova Era da Periodontia.

Armando Lopes Pereira


Especialista em Periodontia pela FOB-USP. Mestre e Doutor em Implantodon-
tia pela UFSC. Professor Adjunto de Periodontia da UFPA.

Carina de Morais Luis Pereira


Formada em Psicologia pela PUC-GO e em Gestão de Recursos Humanos pela
Faculdade Cambury. Atua junto à área odontológica desde 2009.

Fábio Alves Silva


Graduado em Odontologia pela UFPA. Especialista em Prótese Dentária pela UFPA.
Mestre em Odontologia pela UFPA. Professor de Prótese Dentária da ESAMAZ.

Geraldo Lúcio de Magalhães Silva


Especialista em Periodontia. Especialista em Implantodontia. Mestre em Pe-
riodontia.

José Alfredo Mendonça


Mestrado e Doutorado Acadêmicos em Periodontia pela USP. Doutorado em
Implantodontia pela SLM/UNICAMP.

Julio Cesar Joly


Mestre em Periodontia pela SLMandic. Coordenador do Instituto ImplantePerio.

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vi Perioline Cirúrgico 2.0

Laís Mori
Implantodontista pela ABO, seção Goiás. Cirurgiã-dentista pela UFG.

Leonardo Bocabella
Técnico em Prótese Dentária. Ceramista Especializado em Técnicas Manuais.

Ludmila Alice da Cunha Costa


Cirurgiã-dentista pela Universidade Paulista. Especialização em Dentística Res-
tauradora pela ABO-GO.

Luís Fernando Naldi


Doutor em Periodontia pela USP-Bauru. Professor Titular em Periodontia da FO-
-UFG. Coordenador do Curso de Plástica Periodontal desde 2005.

Luiz Gustavo Nascimento de Melo


Mestre e Doutor em Periodontia pela UNESP. Especialista em Implantodontia
pelo HRAC-USP. Especialista em Periodontia pela UNESP. Especialista em Reabi-
litação Oral pela Instituto Lenza.

Mabelle de Freitas Monteiro


Graduada em Odontologia pela FOP-UNICAMP. Especialista em Periodontia
pela FOP-UNICAMP. Mestre em Clínica Odontológica - área de concentração
Periodontia - pela FOP-UNICAMP. Doutorado em Clínica Odontológica - área
de concentração Periodontia - pela FOP/UNICAMP. Pós-doutora em Perio-
dontia pela FOP/UNICAMP.

Marcelo Pereira Nunes


Mestre em Implantodontia. Doutorando em Odontologia pela UFPE. Diretor do
Grupo Proimperio.

Maria das Graças Cruz Najar


Especialista em Periodontia pela ABO-GO e em Implantodontia pela SLM-SP.
Mestre em Laser pela USP-IPEN, SP. Doutora em Implantodontia pela SLM-
-Campinas SP.

Maristela Maia Lobo


Doutora em Clínica Odontológica - área de Dentística - pela FOP-UNICAMP.
Mestre em Odontologia - área de Cariologia - pela FOP-UNICAMP. Especialista
em Periodontia pela EAP-APCD. Professora dos cursos de Pós-graduação em
Odontologia Estética e Especialização em Implantodontia do SENAC-SP. Profes-
sora de cursos de Imersão em Perio-implantodontia Plástica e Visagismo Orofa-
cial. Coordenadora da Especialização e do Mestrado em Harmonização na Facul-
dade São Leopoldo Mandic-SP. Editora Chefe da Revista Face (VM COM).

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Colaboradores vii

Mateus do Vale Voigt


Cirurgião-dentista com experiência profissional em Clínica Odontológica, com
ênfase em Odontologia Estética. DSD Instructor.

Max Pinto da Costa da Rocha


Especialista em Prótese Dentária pela FOB-USP. Mestre em Reabilitação Oral
pela FOB-USP. Doutor em Dentística pela FO-USP. Professor Associado de Pró-
tese da UFPa.

Michel Reis Messora


Mestrado e Doutorado em Periodontia pela Faculdade de Odontologia de Araçatu-
ba – Universidade Estadual Paulista. Livre Docência em Periodontia pela Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Professor Associa-
do I da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.

Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues


Especialista em Periodontia pelo Coesp. Doutora em Odontologia pela Unicsul.
Professora Adjunta IV da Universidade Federal de Campina Grande-PB. Profes-
sora do curso de Pós-graduação em Periodontia da FIP-CG. Professora Assisten-
te dos cursos de Imersão em Perio-Implantodontia Plástica – Maristela Lobo.

Renata Cimões
Professora Associada da UFPE. Pós-Doutorado em Periodontia pelo Eastman
Dental Institute, London-UK. Doutora em Odontologia.

Ricardo Junior Denardi


Mestrado em Implantodontia pelo Instituto Latino Americano de Pesquisa e En-
sino Odontológico. Doutorando em Periodontia pela Faculdade de Odontologia
de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.

Robert Carvalho da Silva


Mestre e Doutor em Periodontia pela FOP-Unicamp. Coordenador do Instituto
ImplantePerio.

Roberto Carlos Mourão Pinho


Pós-Doutor e Doutor em Odontologia pela UFPE. Professor da Faculdade de
Odontologia da UNIFACOL-PE/Escola Pernambucana de Odontologia, Recife-PE.

Sarah Camilo Duarte


Graduação em Odontologia pela Universidade Paulista.

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viii Perioline Cirúrgico 2.0

Sérgio Antonucci Amaral


Especialista em Periodontia pela PUC-MG. Mestre em Periodontia pela UFMG.
Doutor em Periodontia pela UFMG.

Sérgio Luís Scombatti de Souza


Doutorado em Periodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universida-
de de São Paulo. Livre Docência em Periodontia pela Faculdade de Odontologia
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Professor Associado III da Faculda-
de de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

Vanessa Frazão Cury Gonçalves


Especialista em Periodontia e Implantodontia pela FO-UFMG. Mestrado em Pe-
riodontia pela FO-UFMG. Doutorado em Bioquímica Molecular pelo ICB-UFMG.

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Prefácio

Quando recebi o convite da SOBRAPE em nome do Presidente Prof. Sérgio


Kahn para coordenar o Perioline II, me senti extremamente honrado e ao mes-
mo tempo apreensivo.
Escrever um livro pode parecer uma ação muito simples para algumas pes-
soas, mas o trabalho, o tempo dedicado e a responsabilidade dos envolvidos
em um projeto dessa magnitude é, sem dúvida, digno de profissionais que
amam e vivem intensamente a profissão. Dessa forma, procurei me amparar
e convidar colegas que apresentassem essas características descritas acima, a
fim de proporcionar ao leitor um conteúdo que expressasse essa paixão e ao
mesmo tempo trouxesse informações clínicas relevantes ao nosso dia a dia.
Ao pensar nas possibilidades de conteúdo que desse seguimento ao Perio-
line I, buscamos abordar temas que representassem o momento atual da Pe-
riodontia, tal como a integração com as demais especialidades (Ortodontia/
Odontologia restauradora/Implantodontia/Endodontia). Acreditamos que o
entendimento dos conceitos e a sinergia das partes envolvidas no tratamento
é de fundamental importância para que a biologia e a função sejam respeita-
das e a estética alcançada, proporcionando um resultado de excelência para
os nossos pacientes.
Além disso, entendemos que nesse momento é impraticável separarmos a
Periodontia da Implantodontia, já que os conceitos básicos, as técnicas cirúrgicas
plásticas e regenerativas, bem como a terapia de suporte são fortemente alicer-
çados na Periodontia. Seguindo essa lógica, procuramos distribuir os capítulos
desse livro amparados no conceito da “Perio-Implantodontia”.
Para finalizar, eu gostaria de agradecer em nome da SOBRAPE aos autores
e coautores desse livro pelo comprometimento e lhes desejar uma boa leitura.

Prof. Paulo Fernando Mesquita de Carvalho

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Apresentação

2020: O ano que não aconteceu e a SOBRAPE

O mundo foi assolado por uma pandemia, mais precisamente em março de


2020. Incertezas nos campos pessoal e profissional. Sonhos, trabalhos, proje-
tos, realizações e agora? A Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRA-
PE), nesse contexto, também foi pega de surpresa. Havíamos planejado even-
tos regionais presenciais, culminando em um grande evento presencial
denominado Perioline que seria realizado em São Paulo, em comemoração
aos 50 anos de existência de nossa sociedade. Todos os eventos presenciais
começaram a ser cancelados, inclusive nosso Congresso Brasileiro de Perio-
dontologia, evento tradicional, sempre realizado a cada 2 anos, dessa vez na
linda cidade de Salvador. E a pergunta principal era: E agora? O que fazer?
Criatividade e inovação, além de agregar as mais diversas correntes e li-
deranças da Periodontologia Brasileira em prol de um benefício e objetivo co-
mum: a sobrevivência da entidade e a educação continuada. Assim, aprovei-
tando a paralisação das clínicas, dos consultórios e demais serviços não
essenciais, realizamos diversas lives, webinars, Curso Perio Raiz, Hands On
online, Perioprev e o Perioline 1, que foi um sucesso e no qual tivemos a opor-
tunidade de lançar a primeira edição do livro.
Já estamos em 2021, um novo cenário. Com expectativas, sonhos, projetos
e realizações. Confirmamos nosso grande congresso para abril de 2021, e
como não podemos parar, devemos investir sempre na educação continuada
em benefício dos nossos sócios e da Periodontia Brasileira. Assim nasce o Pe-
rioline 2, evento totalmente online e com a nova edição do livro, contando
com a participação de 10 grandes profissionais da Odontologia brasileira e
coordenado, dessa vez, pelo Professor Paulo Fernando Mesquita, que não
mediu esforços para a realização desse projeto.
Espero que gostem do evento e da nova edição do livro. Já estamos pen-
sando nos próximos.

Prof. Dr. Sérgio Kahn


Presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia.

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Agradecimentos

... Continuar a Navegar

Sim, continuar sempre e já podemos visualizar um horizonte mais azul e cal-


mo em que estaremos aumentando nossa velocidade de cruzeiro com todos
juntos. A nossa equipe “SOBRAPE Team” – Um orgulho imenso e uma certeza
de que os mares mais revoltos já fazem parte das lembranças do passado.
Parabéns SOBRAPE! O próximo congresso será um marco, com a garra de
toda essa equipe.

Prof. Dr. Sérgio Kahn


Presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia

SOBRAPE
SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PERIODONTOLOGIA

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Sumário

Capítulo 1
Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular
Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas . . . . . . . . . . . . 3
Maristela Maia Lobo
Mabelle de Freitas Monteiro
Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues

Capítulo 2
O Uso de Substitutos de Tecidos Moles para
Recobrimento Radicular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Renata Cimões
Marcelo Pereira Nunes
Roberto Carlos Mourão Pinho

Capítulo 3
Enxerto Gengival Livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Vanessa Frazão Cury Gonçalves
Maria das Graças Cruz Najar
Geraldo Lúcio de Magalhães Silva
Sérgio Antonucci Amaral
José Alfredo Mendonça

Capítulo 4
Tratamento de Recessões Múltiplas Mandibulares ���������77
Luiz Gustavo Nascimento de Melo
Ludmila Alice da Cunha Costa
Amanda Alves de Oliveira
Sarah Camilo Duarte
Alexandre Chaer Cruvinel

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xvi Perioline Cirúrgico 2.0

Capítulo 5
Uso do Cimento Ósseo no Tratamento do Sorriso
Gengival . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Luís Fernando Naldi
Laís Mori
Carina de Morais Luis Pereira

Capítulo 6
Reconstrução Alveolar Minimamente Invasiva – RAMI �������111
Robert Carvalho da Silva
Julio Cesar Joly
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho

Capítulo 7
Implante Imediato em Área Estética – Bases para
o Sucesso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Armando Lopes Pereira
Fábio Alves Silva
Max Pinto da Costa da Rocha

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Sumário xvii

Capítulo 8
O Uso de Substitutos Mucosos para Aumento
de Volume Tecidual Peri-implantar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Sérgio Luís Scombatti de Souza
Michel Reis Messora
Ricardo Junior Denardi

Capítulo 9
Manejo Protético dos Tecidos Moles
Peri-implantares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Adilson dos Santos Torreão
Mateus do Vale Voigt
Leonardo Bocabella

Capítulo 10
Terapia Regenerativa Precoce . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
André Vilela

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CAPÍTULO 1

Considerações Clínicas para


o Recobrimento Radicular
Associado às Lesões
Cervicais Não Cariosas
Maristela Maia Lobo
Mabelle de Freitas Monteiro
Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues

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4 Perioline Cirúrgico 2.0

Introdução
As Lesões Cervicais Não Cariosas (LCNC) representam a perda de estrutura
dental na região cervical próxima à junção cemento-esmalte não associada à
doença cárie e à presença de biofilme bacteriano. É considerado um problema
odontológico comum, atingindo uma prevalência de 69% na América do Sul,1
que pode afetar a qualidade de vida da população ao causar problemas como
hipersensibilidade dentinária e problemas estéticos. A associação entre as
LCNCs e as recessões gengivais é frequente, sendo visualizada em mais de
50% das recessões gengivais e podendo, inclusive, afetar a previsibilidade de
recobrimento radicular completo das recessões gengivais.2 Esta associação
exige do cirurgião-dentista uma postura essencialmente multidisciplinar, tan-
to para o diagnóstico, quanto para o manejo terapêutico dessas condições clí-
nicas altamente prevalentes (Fig. 1.1). A perda de substância dental ao nível
cervical e a migração apical da margem gengival com consequente exposição
da raiz desafiam o clínico a estudar as diversas etiologias relacionadas ao pro-
blema, frequentemente associadas a diversos tipos de trauma mecânico, à
exposição de ácidos endógenos e exógenos, à inflamação dos tecidos perio-
dontais e à predisposição fenotípica do indivíduo.3
Gerenciar os fatores etiológicos é fundamental antes de reconstruir os te-
cidos perdidos para que se tenha longevidade nos resultados de quaisquer te-
rapias. E quando tais fatores etiológicos são controlados, é importante devol-
ver as estruturas perdidas de acordo com a previsibilidade de cada caso.

Figura 1.1 - As recessões da margem gengival frequentemente estão associadas às lesões cervicais não ca-
riosas, demandando conhecimento multidisciplinar para o gerenciamento dos fatores etiológicos e para
a reconstrução das substâncias dentais e periodontais perdidas.

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
5

Quando Restaurar e Quando Recobrir?


Essa pergunta é recorrente e comum à grande maioria dos clínicos. É impor-
tante salientar a importância do respeito ao domínio de cada especialidade,
ou seja, no manejo das LCNCs associadas às recessões gengivais, a dentística
restauradora tem papel fundamental na reconstrução dos tecidos coronários
e a periodontia tem papel igualmente fundamental no reposicionamento da
margem gengival. Desta maneira, o ideal é que o componente coronário da
LCNC seja restaurado, enquanto o componente radicular da lesão deve ser
reconstruído com tecidos moles, através de recobrimento radicular, visando o
correto restabelecimento da margem gengival na posição adequada.
Porém, neste tópico há um detalhe interessante que deve ser observado: nos
casos onde existe a necessidade restauradora, é necessário que o operador execu-
te ou gerencie a execução dos dois procedimentos. Isso ocorre uma vez que o su-
cesso do recobrimento radicular pode ser otimizado pela confecção de um perfil
de emergência adequado e pela posição ápico-coronal ideal da restauração a ser
definida pela previsibilidade do recobrimento e pela futura posição da margem
gengival. Este conceito pode gerar a quebra de “paradigmas” com relação ao en-
caminhamento do paciente para ser atendido por diferentes especialistas para a
execução desses procedimentos. Em caso de um “descompasso” entre o trabalho
do dentista restaurador e do periodontista, pode ocorrer a necessidade do retra-
balho restaurador para adequar a restauração à posição da futura margem gengi-
val atingida após recobrimento radicular. O ideal é que se realize a restauração da
LCNC e, em seguida, o recobrimento da recessão associada (Fig. 1.2).

Figura 1.2 - Quando restaurar e quando recobrir? Essa é uma pergunta frequente entre os clínicos, que
exige o correto diagnóstico tanto da etiologia como das estruturas teciduais perdidas, bem como exi-
ge o conhecimento e a abordagem multidisciplinares.

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6 Perioline Cirúrgico 2.0

Três situações que envolvem recessões e/ou LCNC são comumente obser-
vadas e sua identificação é dependente do momento em que o paciente é
diagnosticado e dos fatores etiológicos envolvidos:
1. Lesões cervicais não cariosas sem acometimento periodontal, nas quais
existem perda de esmalte cervical e exposição de dentina coronária, sem
recessão da margem e sem exposição de dentina radicular (Fig. 1.3). Geral-
mente são lesões bastante sensíveis e incômodas.
2. Recessões gengivais sem perda de substância coronária, com junção ce-
mento-esmalte (JCE) presente e dentina radicular exposta (Fig. 1.4).
3. Defeitos combinados que envolvem perdas dentais (cervicais) e periodon-
tais, com ausência de JCE e presença de ângulo cavo-superficial (Fig. 1.5).

Essas três situações clínicas podem acometer um mesmo paciente, ou até


mesmo uma única hemiarcada de um paciente (Fig. 1.6), e demandam abor-
dagens terapêuticas distintas. Defeitos restritos à estrutura coronária deman-
dam apenas restaurações; recessões gengivais sem comprometimento de es-
trutura coronária demandam apenas recobrimento radicular (dependendo da
previsibilidade do recobrimento); defeitos combinados demandam a associa-
ção perio-dentística, sendo a melhor sequência terapêutica a restauração se-
guida do recobrimento radicular. Dessa forma, a restauração pode ser facil-
mente realizada com controle da umidade e sem interferência em tecido mole

Figura 1.3 - Em alguns casos, pode haver perda de esmalte cervical, com consequente exposição da
dentina coronária, sem qualquer migração apical da margem gengival. Nesta situação clínica, somen-
te a restauração coronária se faz necessária no manejo terapêutico de reconstrução tecidual.

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
7

enquanto o posicionamento adequado do retalho é facilitado pela reconstru-


ção do perfil emergência dental e por um substrato estável, liso e convexo
para assentamento do retalho cirúrgico.4

Figura 1.4 - Em outros casos, a perda tecidual pode ser predominantemente periodontal e radicular,
com preservação da estrutura coronária e JCE visível. Em tais casos, a depender da previsibilidade do
recobrimento radicular, a indicação terapêutica de reconstrução é estritamente periodontal.

Figura 1.5 - Quando o defeito é combinado, o paciente apresenta perdas teciduais coronárias, radicula-
res e periodontais, demandando a real integração da dentística restauradora e da periodontia.

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8 Perioline Cirúrgico 2.0

A B

Figura 1.6 - (A-C) Em um mesmo paciente, os três tipos de lesão podem acontecer em uma mesma
hemiarcada, desafiando o clínico a agir sob perspectivas terapêuticas diferentes dentro da mesma
abordagem.

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
9

A Anatomia das Recessões e LCNCs


Fazer o correto diagnóstico da área a ser trabalhada é fundamental para o pla-
nejamento e para a resolução do caso clínico, uma vez que as características do
sítio ditarão as possibilidades de tratamento e sua previsibilidade. Atualmente,
a melhor maneira de determinar a previsibilidade de recobrimento redicular é
identificar fatores associados ao posicionamento dental, às características ana-
tômicas da recessão e a sua associação com os defeitos cervicais da estrutura
dental. Durante muitos anos, a classificação das recessões gengivais descrita
por Milller predominou na periodontia.5 Entretanto, em 2011, uma nova classifi-
cação foi proposta6 e posteriormente incorporada na classificação das doenças
e condições periodontais de 2018,3 visando otimizar o diagnóstico, a caracteri-
zação das recessões e as abordagens terapêuticas (Fig. 1.7). Nessa nova classifi-
cação, as recessões foram dividadas em RT1, RT2 e RT3, sendo a perda interpro-
ximal preponderante na caracterização da recessão e na determinação da
previsibilidade de recobrimento radicular (Fig. 1.7).
Quanto mais características clínicas e imaginológicas acerca da condição
periodontal e dos defeitos cervicais (LCNCs) associados às recessões gengi-
vais são obtidas, mais fácil se torna a eleição da técnica assertiva a cada caso.
Assim, uma avaliação detalhada de cada sítio a ser operado precisa ser reali-
zada, visando identificar o tipo da recessão, o tamanho da recessão, espessu-
ra tecidual, a presença de tecido queratinizado e aspectos relacionados ao
dente3 (Fig. 1.8). Com relação ao dente, dois fatores fundamentais devem ser
avaliados com relação à LCNC: a presença (A) ou ausência (B) da JCE e presen-
ça (+) ou ausência (-) de uma concavidade cervical ou degrau (presença de
defeito > 0,5mm medido com sonda periodontal) na superfície dental7. Desta
forma, as LCNCs podem ser classificadas como A- (JCE presente e ausência de
concavidade cervical), A+ (JCE presente com presença de degrau cervical), B-
(ausência de JCE e de concavidade cervical) e B+ (JCE ausente e concavidade
presente; Fig. 1.9).
Quando as LCNCs estão presentes, existem três perguntas básicas que o
clínico deve fazer a si mesmo sobre o caso (Fig. 1.10): (1) Existe perda de estru-
tura coronária? (2) Existe recessão associada? (3) A recessão gengival presen-
te é passível de ser completamente recoberta? Respostas afirmativas para
uma ou mais dessas questões demandam atitudes terapêuticas distintas.
Quando existe perda de estrutura coronária associada às LCNCs, é necessário
reconstruir a anatomia dental perdida reconstruindo a junção cemento esmal-
te. A presença de recessão gengival associada implica na necessidade do reco-
brimento radicular, e a maioria das técnicas envolve o avanço coronal do reta-
lho (ACR) associado ou não à enxertia de tecido conjuntivo (ETC) ou substitutos
(SB; Fig. 1.10).

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10 Perioline Cirúrgico 2.0

A1 A2

B1 B2

C1 C2

Figura 1.7 - Segundo a classificação de Cairo,6 podemos identificar 3 tipos de recessões com diferentes
previsibilidades de recobrimento. (A) RT1: recessão gengival com ausência de perda de inserção in-
terproximal, apresentando até 100% de previsibilidade de recobrimento radicular. (B) RT2: recessão
gengival com perda proximal, sendo que a quantidade de perda de inserção proximal (medida da JCE
proximal exposta até o fundo do sulco/bolsa proximal) é menor ou igual à perda vestibular (medida da
JCE vestibular até o fundo do sulco/bolsa vestibular). Nestas recessões, a previsibilidade do recobri-
mento pode atingir até 80%. (C) RT3: recessão gengival com perda proximal, sendo que a quantidade
de perda de inserção proximal (medida da JCE proximal exposta até o fundo do sulco/bolsa) é maior
do que a perda vestibular (medida da JCE vestibular até o fundo do sulco/bolsa). Estas recessões apre-
sentam baixa previsibilidade de recobrimento, embora não esteja contraindicado o procedimento.

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
11

Fx Tec
#35 h REC ESP. GENG JCE DEGRAU
QUERAT

HÍGIDO

RT1 3 mm 1 mm 3 mm A –

RT2

RT3

Figura 1.8 - As recessões gengivais devem ser caracterizadas da maneira mais comple-
ta possível, envolvendo aspectos gengivais e dentais. Variáveis periodontais impor-
tantes, como tipo de recessão gengival, altura da recessão, espessura de gengiva e
tamanho da faixa de tecido queratinizado, e variáveis dentais, como a presença (A)
ou ausência (B) de JCE ou a presença (+) ou ausência (-) de degrau devem ser avalia-
das individualmente para cada dente, de forma a permitir a correta indicação tera-
pêutica. Esquema adaptado de Cortellini & Bissada, 2018.3

A - (46%) A + (14%) B - (15%) B + (24%)


Figura 1.9 - As LCNCs podem ser classificadas como A- (JCE presente e ausência de
concavidade cervical), A+ (JCE presente com presença de degrau cervical), B- (au-
sência de JCE e ausência de concavidade cervical) e B+ (JCE ausente e concavidade
presente), e sua prevalência está descrita em porcentagem ao lado de cada subtipo.
Ilustração adaptada de Pini-Prato et al., 2010.7

Uma árvore de decisões recentemente proposta por Stefanini e colabora-


dores propõe a avaliação destas características anatômicas do sítio para dire-
cionar a melhor abordagem terapêutica para cada situação e otimizar os re-
sultados estéticos. Para recessões que envolvem LCNC, a primeira abordagem
seria a restauração com resina composta até a posição de máxima cobertura
radicular. Posteriormente, avalia-se a presença de perda interproximal de te-
cido ósseo e mole, o posicionamento dental, o tamanho da faixa de tecido
queratinizado presente e a espessura tecidual para definir sobre o tipo de re-
talho a ser utilizado e a utilização ou não de enxertos.8

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12 Perioline Cirúrgico 2.0

Perdeu Precisa
Resina
estrutura restaurar
composta
coronária? até a JCEe

LCNC

Tem recessão Precisa


ACR +
gengival recobrir a
ETC/SB
associada? raiz

Figura 1.10 - Quando existe perda de estrutura coronária associada à LCNCs, é neces-
sário reconstruir a anatomia dental perdida, geralmente até a junção cemento-es-
malte estimada (JCEe), que coincidirá com a linha de expectativa de recobrimento,9
ou 1,0 mm apical a essa linha.10 ACR = avanço coronal do retalho; ETC = enxerto de
tecido conjuntivo; JCEe = junção cemento-esmalte estimada; LCNC = lesão cervical
não cariosa; SB = substitutos.

Procedimento Restaurador
Realizar o procedimento restaurador conjuntamente ao tratamento perio-
dontal reconstrutivo é indicado quando a estrutura da coroa dental é perdida
ou em casos nos quais o recobrimento radicular apresenta previsibilidade re-
duzida (por exemplo, devido à perda de inserção interproximal, perda da pon-
ta da papila, dentes rotacionados, mal posicionados ou extruídos).4 Desta for-
ma, torna-se possível atingir um resultado satisfatório no tratamento de
lesões combinadas (LCNC + recessão gengival), melhorando parâmetros esté-
ticos e de hipersensitividade dentinária, mesmo quando a previsibilidade de
recobrimento radicular não atinge a JCE.10
Idealmente, a restauração deve ser realizada antes do procedimento cirúr-
gico, de forma a facilitar a execução da restauração em um ambiente com
controle de umidade e possibilitando acabamento e polimento sem a interfe-
rência do tecido gengival. Outra vantagem importante é que a recontrução do
perfil de emergência pela restauração facilita o assentamento do retalho em
uma superfície mais estável, lisa e convexa, favorecendo a estabilidade primá-
ria fundamental para o sucesso do recobrimento radicular.4 Esta situação já foi
demonstrada em estudos clínicos comparando o recobrimento radicular asso-
ciado ao enxerto de tecido conjuntivo combinado ou não à restauração da
LCNC para o tratamento de lesões combinadas.10,11 Nestes estudos observou-
-se que restaurar a LCNC em associação com o tratamento cirúrgico, apesar
de não alterar os parâmetros clínicos de ganho periodontal comparado com o

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
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tratamento cirúrgico sozinho, melhora o contorno da margem gengival, crian-


do um contorno curvo e mais natural na gengiva quando comparado à mar-
gem gengival mais reta nos casos em que não há a recontrução da junção ce-
mento-esmalte.10,11
Diferentes materiais foram sugeridos para o protocolo restaurador das
lesões cervicais não cariosas, como cimento ionômero de vidro, ionômero
de vidro modificados por resina e resinas compostas. Com relação a ganhos
clínicos, estes diferentes materiais apresentaram ganhos semelhantes para
os parâmetros periodontais, como percentual de cobertura radicular, reco-
brimento completo e ganhos de inserção, e não promoveram reações teci-
duais clinicamente perceptíveis.12,13 Entretanto, o acompanhamento longi-
tudinal de casos restaurados com ionômero de vidro modificados por resina
demonstrou degradação do padrão estético em função da alteração de cor
com 1 ano, tornando-se ainda pior com 2 anos de acompanhamento14. Por
outro lado, resultados satisfatórios do ponto de vista restaurador foram ob-
tidos com 1 ano de acompanhamento de LCNCs tratadas com restauração
em resina composta e enxerto de tecido conjuntivo.15 Neste sentido, com o
intuito de facilitar o manejo clínico e otimizar os resultados estéticos, a resi-
na é o material mais indicado para a restauração de LCNCs associadas a re-
cessões gengivais.
Outro aspecto importante do ponto de vista restaurador é até onde res-
taurar as LCNCs. Estudos iniciais relacionados ao tratamento de lesões com-
binadas propuseram a restauração de todo o componente radicular e coro-
nário das LCNCs.16-18 Apesar de não provocar reações teciduais importantes,
como inflamação gengival, edema e redução dos ganhos clínicos longitudi-
nalmente, a restauração das LCNCs colocadas subgengivalmente provoca
reações a nível histológico no periodonto. Estudos em cães demonstraram
que em restaurações adesivas colocadas subgengivalmente, a cicatrização
acontece pela formação de um epitélio juncional longo sobre o material res-
taurador, impedindo uma possível regeneração periodontal na zona mais
apical do defeito.19,20 Este efeito pode ser observado clinicamente pela maior
profundidade de sondagem observada em casos com LCNC completamente
restauradas com resina e posteriormente recobertos em comparação com
casos em que apenas o recobrimento radicular foi realizado.11
Desta forma, o ideal é que as margens das restaurações das LCNC sejam
posicionadas próximas à margem gengival e da região da junção cemento-es-
malte, sendo restrita a região coronária do dente para reduzir as reações teci-
duais, como sugerido por outros autores.4,21,22 Estes procedimentos têm como
vantagem adicional uma maior facilidade de realização de uma nova restaura-
ção após o recobrimento radicular em caso de falha, soltura da restauração ou
problemas estéticos associados a elas.

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14 Perioline Cirúrgico 2.0

A principal referência para determinar o componente coronário de um


dente é a JCE. Entretanto, em alguns casos, como comentado anteriormente,
a JCE pode ter sido perdida devido ao desgaste cervical. Nestes casos, a JCE
pode ser estimada (eJCE) utilizando dente adjacente ou contralateral, por
exemplo, servindo de referência para a reconstrução.9
Entretanto, existem casos nos quais o recobrimento radicular completo
não é atingível devido às características do sítio a ser trabalhado9, e nestes
casos, a JCE passa a não ser a melhor referência para avaliar a previsibilidade
de um recobrimento radicular e a resolução do caso clínico. Em tais condições
clínicas, a linha de máxima cobertura radicular (MCR)9,23 pode ser utilizada
como um parâmetro importante na delimitação da margem restauradora das
LCNCs (Fig. 1.11). Entende-se como MCR a região onde se prevê o limite má-
ximo no qual a margem gengival pode alcançar após o recobrimento radicu-
lar. Assim, pode-se atingir resultados satisfatórios do tratamento mesmo em
casos com reduzida previsibilidade de recobrimento radicular.
Zucchelli e colaboradores4 propuseram uma árvore de decisão para o tra-
tamento combinado de recessões e LCNC baseado na MCR descrevendo 5
tipos de recessões e seus tratamentos propostos. Caso a MCR esteja locali-
zada coronal ou ao nível do início da LCNC (casos em que usualmente não há
grandes perdas de estrutura dental coronária), apenas ACR (avanço coronal
do retalho), com ou sem enxerto, respectivamente, pode ser realizado. Caso
a MCR esteja localizada na extenção da LCNC (dente com tecido coronal
perdido ou com probabilidade de recobrimento radicular reduzida), a mar-
gem restauradora deve ser posicionada na altura da MCR com posterior
ACR. Para recessões nas quais a MCR se localiza na porção mais apical da
LCNC, toda a lesão deve ser restaurada e ACR deve ser realizado posterior-

A B C D

Figura 1.11 - (A-D) O método para determinar a MCR se baseia em calcular a altura da papila anatômica,
que é a distância do ponto de contato até a projeção conectando a linha do ângulo mesial da recessão.
Esta altura é posteriormente utilizada a partir da ponta da papila para identificar o ângulo da margem
gengival e a MCR. Ilustração adaptada de Zuchelli et al., 2006.9

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Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas
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mente. Desta maneira, a MCR passa a ser considerada para delimitação do


tratamento restaurador e cirúrgico.
Apesar de apresentar resultados bastante satisfatórios, o tratamento ci-
rúrgico nem sempre atinge como resultado final o recobrimento radicular
completo, e uma recessão residual pode permanecer presente. Assim, proble-
mas estéticos e persistência de hipersensibilidade dentinária podem ocorrer
quando a MCR ou JCE são utilizadas como referência e a cobertura radicular
completa não é atingida. Para contrapor estes problemas, Santamaria e cola-
boradores propuseram uma modificação do protocolo restaurador anterior-
mente descrito, sugerindo que a recessão fosse realizada 1 mm apical à JCE ou
MCR, e demonstraram resultados satisfatórios do ponto de vista estético e de
redução da hipersensibilidade dentinária.10

A Escolha da Técnica de
Recobrimento
Após o procedimento restaurador, é necessário realizar o tratamento cirúr-
gico para recobrimento da recessão. Devido à limitada evidência a respeito
do melhor tratamento cirúrgico associado à LCNC, a árvore de decisões se
baseará em recessões de uma maneira geral. Diversas técnicas cirúrgicas já
foram descritas na literatura, modificando tanto o desenho do retalho quan-
to propondo a adição de enxertos autógenos ou substitutos teciduais,24 e a
decisão pela técnica vai depender da característica e da quantidade de re-
cessões presentes.8,25
A técnica considerada padrão ouro para recobrimento radicular e com
maior nível de evidência é o ACR,26 permitindo um maior avanço coronal do
retalho e sendo recomendada para recessões unitárias ou múltiplas. Para
recessões unitárias, a técnica com retalho trapezoidal composto de duas in-
cisões horizontais e duas incisões oblíquas divergentes, proposta por De
Sanctis & Zucchelli,27 pode ser utilizada. Para recessões múltiplas, o retalho
com avanço coronal modificado, proposto por Zuchelli,28 demonstra-se a
opção com melhores resultados clínicos por otimizar os resultados estéticos
ao criar incisões oblíquas para a confecção de uma papila cirúrgica e evitar
incisões relaxantes.29
Outras opções de retalhos importantes são as técnicas de envelope30 aplica-
das para as recessões unitárias e a técnica de túnel modificada (TUN),31 que pre-
conizam a formação de um túnel sob o tecido gengival, sem a realização de in-
cisões relaxantes e otimizando a estética. Além disso, configuram-se
importantes opções em casos de recessões menores, nas quais um extenso
avanço coronal do retalho (ACR) não é necessário, e em região onde existe uma

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perda de tecido mole proximal, na qual certo grau de tracionamento coronal da


papila pode ser alcançado com suturas. Para uma maior previsibilidade de reco-
brimento radicular total, recomenda-se o avanço coronal do retalho pelo menos
1 mm além da JCE ou da MCR independente da técnica utilizada.32
Além do tipo de retalho a ser utilizado, outra decisão importante é sobre o
uso de enxertos associados aos retalhos. O enxerto de tecido conjuntivo (ETC)
associado ao ACR é o padrão ouro para o recobrimento radicular.26 Entretan-
to, resultados comparáveis são obtidos pelo TUN + ETC comparado ao ACR +
ETC.24 Associar o ETC ao retalho melhora os ganhos clínicos obtidos, aumen-
tando o recobrimento radicular completo, o percentual de recobrimento radi-
cular, o ganho de tecido queratinizado, que aumentam a estabilidade do sítio
operado em um longo prazo.25 Tal benefício provavelmente se dá pelo preen-
chimento biológico da região de deiscência sob a margen gengival cirúrgica,
aumentando a estabilidade do retalho durante o reparo, reduzindo a contra-
ção ao longo do tempo e assim melhorando os resultados.25 Apesar dos bene-
fícios apresentados, a remoção do enxerto, usualmente realizada do palato,
apresenta a desvantagem de um segundo leito cirúrgico e do aumento da
morbidade cirúrgica.
Para a técnica de recobrimento radicular, o enxerto deve ser 3 mm mais
largo do que a área de deiscência a ser recoberta e uma largura de aproxi-
madamente 1 mm é desejada. Enxertos maiores e mais espessos não au-
mentam os ganhos clínicos alcançados pelo recobrimento radicular, ao
mesmo tempo que podem reduzir os ganhos estéticos (por causar altera-
ções de forma, volume gengival e perdas da naturalidade) e aumentar a
morbidade do procedimento.33
Com relação ao uso ou não de enxerto no tratamento de recessões asso-
ciadas a LCNC parcialmente restauradas com resina, estudo comparando o
uso de ACR + ETC ao ACR sozinho demonstrou que o ETC promoveu melhores
resultados de ganho de tecido queratinizado e espessura, embora não tenham
sido observadas diferenças no recobrimento radicular completo e na redução
da recessão. Interessantemente, o estudo também demonstrou um efeito da
espessura tecidual previamente ao recobrimento sobre os resultados obtidos.
Foi identificado que para recessões com espessura tecidual ≤ 0,84mm adicio-
nar o ETC melhora o percentual de recobrimento. Entretanto, em fenótipos
mais espessos (> 0,84mm), o ACR sozinho foi associado com melhores per-
centuais de recobrimento e melhor avaliação estética.34
Outro adendo com relação ao uso do ETC ocorre em relação à altura de
tecido queratinizado (TQ), como proposto por Stefanini e colaboradores.8 Se-
gundo os autores, em sítios com altura de TQ ≤ 1mm, o uso de ETC é indicado
para dar estabilidade ao retalho e melhorar os resultados clínicos. Para sítios
com mais de 2 mm de TQ, o uso de ETC não seria necessário, pois a presença

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