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2.0
best OF perioline
VOLUME
2022
perioline
year book
OF
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
Sérgio Kahn
Cirúrgico
Coordenadores:
Cirúrgico
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
• COLABORADORES •
Sérgio Kahn
year book
Carina de Morais Luis Pereira Max Pinto da Costa da Rocha
Fábio Alves Silva Michel Reis Messora
Geraldo Lúcio de Magalhães Silva Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues
José Alfredo Mendonça Renata Cimões
Julio Cesar Joly Ricardo Junior Denardi
Laís Mori Robert Carvalho da Silva
Leonardo Bocabella Roberto Carlos Mourão Pinho
Ludmila Alice da Cunha Costa Sarah Camilo Duarte
Luís Fernando Naldi Sérgio Antonucci Amaral
Luiz Gustavo Nascimento de Melo Sérgio Luís Scombatti de Souza
Vanessa Frazão Cury Gonçalves 2.0
VOLUME
Perioline Cirúrgico 2.0
SOBRAPE
SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PERIODONTOLOGIA
Todos os direitos reservados a Santos Publicações Ltda. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida, armazenada ou transmitida por quaisquer que sejam os meios – mecânico, fotocópia,
eletrônico ou outros –, sem a prévia permissão do Editor.
Sérgio Kahn
Especialista e Mestre em Periodontia pela UERJ. Doutor em Odontologia pela
UFRJ. Pós-doutor em Periodontia pela UFRJ. Autor dos livros “Sorriso Gengi-
val: Uma Visão Multidisciplinar” e “Recobrimento Radicular: Desafiando Con-
ceitos”. Presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE).
André Vilela
Doutor em Periodontia. Mestre em Periodontia. Especialista em Periodontia e
Implantodontia. Autor do livro View - A Nova Era da Periodontia.
Laís Mori
Implantodontista pela ABO, seção Goiás. Cirurgiã-dentista pela UFG.
Leonardo Bocabella
Técnico em Prótese Dentária. Ceramista Especializado em Técnicas Manuais.
Renata Cimões
Professora Associada da UFPE. Pós-Doutorado em Periodontia pelo Eastman
Dental Institute, London-UK. Doutora em Odontologia.
SOBRAPE
SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PERIODONTOLOGIA
Capítulo 1
Considerações Clínicas para o Recobrimento Radicular
Associado às Lesões Cervicais Não Cariosas . . . . . . . . . . . . 3
Maristela Maia Lobo
Mabelle de Freitas Monteiro
Rachel de Queiroz Ferreira Rodrigues
Capítulo 2
O Uso de Substitutos de Tecidos Moles para
Recobrimento Radicular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Renata Cimões
Marcelo Pereira Nunes
Roberto Carlos Mourão Pinho
Capítulo 3
Enxerto Gengival Livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Vanessa Frazão Cury Gonçalves
Maria das Graças Cruz Najar
Geraldo Lúcio de Magalhães Silva
Sérgio Antonucci Amaral
José Alfredo Mendonça
Capítulo 4
Tratamento de Recessões Múltiplas Mandibulares ���������77
Luiz Gustavo Nascimento de Melo
Ludmila Alice da Cunha Costa
Amanda Alves de Oliveira
Sarah Camilo Duarte
Alexandre Chaer Cruvinel
Capítulo 5
Uso do Cimento Ósseo no Tratamento do Sorriso
Gengival . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Luís Fernando Naldi
Laís Mori
Carina de Morais Luis Pereira
Capítulo 6
Reconstrução Alveolar Minimamente Invasiva – RAMI �������111
Robert Carvalho da Silva
Julio Cesar Joly
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
Capítulo 7
Implante Imediato em Área Estética – Bases para
o Sucesso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Armando Lopes Pereira
Fábio Alves Silva
Max Pinto da Costa da Rocha
Capítulo 8
O Uso de Substitutos Mucosos para Aumento
de Volume Tecidual Peri-implantar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Sérgio Luís Scombatti de Souza
Michel Reis Messora
Ricardo Junior Denardi
Capítulo 9
Manejo Protético dos Tecidos Moles
Peri-implantares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Adilson dos Santos Torreão
Mateus do Vale Voigt
Leonardo Bocabella
Capítulo 10
Terapia Regenerativa Precoce . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
André Vilela
Introdução
As Lesões Cervicais Não Cariosas (LCNC) representam a perda de estrutura
dental na região cervical próxima à junção cemento-esmalte não associada à
doença cárie e à presença de biofilme bacteriano. É considerado um problema
odontológico comum, atingindo uma prevalência de 69% na América do Sul,1
que pode afetar a qualidade de vida da população ao causar problemas como
hipersensibilidade dentinária e problemas estéticos. A associação entre as
LCNCs e as recessões gengivais é frequente, sendo visualizada em mais de
50% das recessões gengivais e podendo, inclusive, afetar a previsibilidade de
recobrimento radicular completo das recessões gengivais.2 Esta associação
exige do cirurgião-dentista uma postura essencialmente multidisciplinar, tan-
to para o diagnóstico, quanto para o manejo terapêutico dessas condições clí-
nicas altamente prevalentes (Fig. 1.1). A perda de substância dental ao nível
cervical e a migração apical da margem gengival com consequente exposição
da raiz desafiam o clínico a estudar as diversas etiologias relacionadas ao pro-
blema, frequentemente associadas a diversos tipos de trauma mecânico, à
exposição de ácidos endógenos e exógenos, à inflamação dos tecidos perio-
dontais e à predisposição fenotípica do indivíduo.3
Gerenciar os fatores etiológicos é fundamental antes de reconstruir os te-
cidos perdidos para que se tenha longevidade nos resultados de quaisquer te-
rapias. E quando tais fatores etiológicos são controlados, é importante devol-
ver as estruturas perdidas de acordo com a previsibilidade de cada caso.
Figura 1.1 - As recessões da margem gengival frequentemente estão associadas às lesões cervicais não ca-
riosas, demandando conhecimento multidisciplinar para o gerenciamento dos fatores etiológicos e para
a reconstrução das substâncias dentais e periodontais perdidas.
Figura 1.2 - Quando restaurar e quando recobrir? Essa é uma pergunta frequente entre os clínicos, que
exige o correto diagnóstico tanto da etiologia como das estruturas teciduais perdidas, bem como exi-
ge o conhecimento e a abordagem multidisciplinares.
Três situações que envolvem recessões e/ou LCNC são comumente obser-
vadas e sua identificação é dependente do momento em que o paciente é
diagnosticado e dos fatores etiológicos envolvidos:
1. Lesões cervicais não cariosas sem acometimento periodontal, nas quais
existem perda de esmalte cervical e exposição de dentina coronária, sem
recessão da margem e sem exposição de dentina radicular (Fig. 1.3). Geral-
mente são lesões bastante sensíveis e incômodas.
2. Recessões gengivais sem perda de substância coronária, com junção ce-
mento-esmalte (JCE) presente e dentina radicular exposta (Fig. 1.4).
3. Defeitos combinados que envolvem perdas dentais (cervicais) e periodon-
tais, com ausência de JCE e presença de ângulo cavo-superficial (Fig. 1.5).
Figura 1.3 - Em alguns casos, pode haver perda de esmalte cervical, com consequente exposição da
dentina coronária, sem qualquer migração apical da margem gengival. Nesta situação clínica, somen-
te a restauração coronária se faz necessária no manejo terapêutico de reconstrução tecidual.
Figura 1.4 - Em outros casos, a perda tecidual pode ser predominantemente periodontal e radicular,
com preservação da estrutura coronária e JCE visível. Em tais casos, a depender da previsibilidade do
recobrimento radicular, a indicação terapêutica de reconstrução é estritamente periodontal.
Figura 1.5 - Quando o defeito é combinado, o paciente apresenta perdas teciduais coronárias, radicula-
res e periodontais, demandando a real integração da dentística restauradora e da periodontia.
A B
Figura 1.6 - (A-C) Em um mesmo paciente, os três tipos de lesão podem acontecer em uma mesma
hemiarcada, desafiando o clínico a agir sob perspectivas terapêuticas diferentes dentro da mesma
abordagem.
A1 A2
B1 B2
C1 C2
Figura 1.7 - Segundo a classificação de Cairo,6 podemos identificar 3 tipos de recessões com diferentes
previsibilidades de recobrimento. (A) RT1: recessão gengival com ausência de perda de inserção in-
terproximal, apresentando até 100% de previsibilidade de recobrimento radicular. (B) RT2: recessão
gengival com perda proximal, sendo que a quantidade de perda de inserção proximal (medida da JCE
proximal exposta até o fundo do sulco/bolsa proximal) é menor ou igual à perda vestibular (medida da
JCE vestibular até o fundo do sulco/bolsa vestibular). Nestas recessões, a previsibilidade do recobri-
mento pode atingir até 80%. (C) RT3: recessão gengival com perda proximal, sendo que a quantidade
de perda de inserção proximal (medida da JCE proximal exposta até o fundo do sulco/bolsa) é maior
do que a perda vestibular (medida da JCE vestibular até o fundo do sulco/bolsa). Estas recessões apre-
sentam baixa previsibilidade de recobrimento, embora não esteja contraindicado o procedimento.
Fx Tec
#35 h REC ESP. GENG JCE DEGRAU
QUERAT
HÍGIDO
RT1 3 mm 1 mm 3 mm A –
RT2
RT3
Figura 1.8 - As recessões gengivais devem ser caracterizadas da maneira mais comple-
ta possível, envolvendo aspectos gengivais e dentais. Variáveis periodontais impor-
tantes, como tipo de recessão gengival, altura da recessão, espessura de gengiva e
tamanho da faixa de tecido queratinizado, e variáveis dentais, como a presença (A)
ou ausência (B) de JCE ou a presença (+) ou ausência (-) de degrau devem ser avalia-
das individualmente para cada dente, de forma a permitir a correta indicação tera-
pêutica. Esquema adaptado de Cortellini & Bissada, 2018.3
Perdeu Precisa
Resina
estrutura restaurar
composta
coronária? até a JCEe
LCNC
Figura 1.10 - Quando existe perda de estrutura coronária associada à LCNCs, é neces-
sário reconstruir a anatomia dental perdida, geralmente até a junção cemento-es-
malte estimada (JCEe), que coincidirá com a linha de expectativa de recobrimento,9
ou 1,0 mm apical a essa linha.10 ACR = avanço coronal do retalho; ETC = enxerto de
tecido conjuntivo; JCEe = junção cemento-esmalte estimada; LCNC = lesão cervical
não cariosa; SB = substitutos.
Procedimento Restaurador
Realizar o procedimento restaurador conjuntamente ao tratamento perio-
dontal reconstrutivo é indicado quando a estrutura da coroa dental é perdida
ou em casos nos quais o recobrimento radicular apresenta previsibilidade re-
duzida (por exemplo, devido à perda de inserção interproximal, perda da pon-
ta da papila, dentes rotacionados, mal posicionados ou extruídos).4 Desta for-
ma, torna-se possível atingir um resultado satisfatório no tratamento de
lesões combinadas (LCNC + recessão gengival), melhorando parâmetros esté-
ticos e de hipersensitividade dentinária, mesmo quando a previsibilidade de
recobrimento radicular não atinge a JCE.10
Idealmente, a restauração deve ser realizada antes do procedimento cirúr-
gico, de forma a facilitar a execução da restauração em um ambiente com
controle de umidade e possibilitando acabamento e polimento sem a interfe-
rência do tecido gengival. Outra vantagem importante é que a recontrução do
perfil de emergência pela restauração facilita o assentamento do retalho em
uma superfície mais estável, lisa e convexa, favorecendo a estabilidade primá-
ria fundamental para o sucesso do recobrimento radicular.4 Esta situação já foi
demonstrada em estudos clínicos comparando o recobrimento radicular asso-
ciado ao enxerto de tecido conjuntivo combinado ou não à restauração da
LCNC para o tratamento de lesões combinadas.10,11 Nestes estudos observou-
-se que restaurar a LCNC em associação com o tratamento cirúrgico, apesar
de não alterar os parâmetros clínicos de ganho periodontal comparado com o
A B C D
Figura 1.11 - (A-D) O método para determinar a MCR se baseia em calcular a altura da papila anatômica,
que é a distância do ponto de contato até a projeção conectando a linha do ângulo mesial da recessão.
Esta altura é posteriormente utilizada a partir da ponta da papila para identificar o ângulo da margem
gengival e a MCR. Ilustração adaptada de Zuchelli et al., 2006.9
A Escolha da Técnica de
Recobrimento
Após o procedimento restaurador, é necessário realizar o tratamento cirúr-
gico para recobrimento da recessão. Devido à limitada evidência a respeito
do melhor tratamento cirúrgico associado à LCNC, a árvore de decisões se
baseará em recessões de uma maneira geral. Diversas técnicas cirúrgicas já
foram descritas na literatura, modificando tanto o desenho do retalho quan-
to propondo a adição de enxertos autógenos ou substitutos teciduais,24 e a
decisão pela técnica vai depender da característica e da quantidade de re-
cessões presentes.8,25
A técnica considerada padrão ouro para recobrimento radicular e com
maior nível de evidência é o ACR,26 permitindo um maior avanço coronal do
retalho e sendo recomendada para recessões unitárias ou múltiplas. Para
recessões unitárias, a técnica com retalho trapezoidal composto de duas in-
cisões horizontais e duas incisões oblíquas divergentes, proposta por De
Sanctis & Zucchelli,27 pode ser utilizada. Para recessões múltiplas, o retalho
com avanço coronal modificado, proposto por Zuchelli,28 demonstra-se a
opção com melhores resultados clínicos por otimizar os resultados estéticos
ao criar incisões oblíquas para a confecção de uma papila cirúrgica e evitar
incisões relaxantes.29
Outras opções de retalhos importantes são as técnicas de envelope30 aplica-
das para as recessões unitárias e a técnica de túnel modificada (TUN),31 que pre-
conizam a formação de um túnel sob o tecido gengival, sem a realização de in-
cisões relaxantes e otimizando a estética. Além disso, configuram-se
importantes opções em casos de recessões menores, nas quais um extenso
avanço coronal do retalho (ACR) não é necessário, e em região onde existe uma