Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
27135
NEUROCIÊNCIA E PSICANÁLISE: APROXIMAÇÃO PERTINENTE?
RESUMO
INTRODUÇÃO: O presente trabalho visa a propor algumas aproximações entre a
neurociência e a psicanálise, de formar a articular comparativamente e
complementarmente conceitos de ambas as disciplinas. METODOLOGIA: Trata-se
de um estudo narativo, tecido a partir de uma revisão bibliográfica de material
acadêmico a partir de pesquisas nas bases de dado “Scielo” e “Pepsic” e da
ferramenta de busca google scholar.RESULTADOS E DISCUSSÃO: Se constatou
que significativa parte do conteúdo encontrado nos veículos de pesquisa consultados
data de mais de 10 anos atrás, o que pode comprometer a fidedignidade dos dados
obtidos. Contudo, alguns resultados e aproximações entre a psicanaálise e a
neurociência puderam ser desenvolvidos, como, por exemplo, a comporação do
cérebro trino com a 2ª tópica freudiana. CONCLUSÕES: Pode-se constatar que o
tema buscado possui um fértil campo para pesquisas, desde que com fundamentado
ceticismo, liberdade para se debater e atitudade aberta para inovações.
ABSTRACT
INTRODUCTION: The present work aims to propose some approximations between
neuroscience and psychoanalysis, to form a comparatively and complementary
articulating concept of both disciplines. METHODOLOGY: This is a narrative study,
woven from a bibliographic review of academic material based on searches in the
“Scielo” and “Pepsic” databases and the Google academic search tool. RESULTS
AND DISCUSSION: It was found that A significant part of the content found in research
vehicles consulted with data from more than 10 years ago, which may compromise the
reliability of the data obtained. However, some results and approximations between
psychoanalysis and neuroscience could be developed, such as, for example, the
composition of the triune brain with the 2nd Freudian topic. CONCLUSIONS: It can be
seen that the topic sought has a fertile field for research, as long as it is based on
skepticism, freedom to debate and an open attitude towards innovations.
andre.volmer@fisma.edu.br
1
Keywords: Psychoanalysis; Neuroscience, Interdisciplinarity, Neuropsychoanalysis,
Epistemology.
1. INTRODUÇÃO
Nesse caminho, se pretende retomar aquilo que, por assim dizer, se recalcou
no início da história da psicanálise, isto é, a sua relação com o sistema nervoso
humano. Assim, há a possibilidade de se traçar, ao menos em parte, um envoltório
biológico (através da neurociência) que de suporte para a psicologia freudiana. Em
outras palavras, o problema de pesquisa a ser desenvolvido neste texto é acerca da
possibilidade de “desenhar” uma estrutura biológica para a superestrutura psicológica
montada por Freud. O que vai ao encontro da convicção que o próprio psicanalista
tinha (LYRA; CHENIAUX0, 2014).
2
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa trata-se de uma revisão qualitativa e exploratória de
bibliografia de cunho narrativo, que se caracteriza por uma abordagem, por assim
dizer, “mais livre” e “menos sistemática” de escrita (GIL, 2019), de forma a possibilitar,
nota-se, maior criatividade para o trabalho, o que se percebe necessário dada a
temática escolhida para esse, pois devido à constatação de que é escasso o conteúdo
produzido dentro do escopo sobre o qual se almeja escrever, torna-se, vê-se,
improdutivo uma revisão de cunho sistemático ou integrativo. Dessa forma, a coleta
de dados se deu por meio de consulta a livros físicos e digitais e busca através da
ferramenta de pesquisa google scholar e de plataformas de pesquisa especializadas:
a base de dados PepSic e a Scielo, acerca dos marcadores “Neurociência” e
“psicanálise”, aplicados ao operador booleano “and”. Ademais, também se buscou por
“neuropsicanálise” no google scholar.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ressalta-se, como já anteriormente assinalado, que o conteúdo encontrado
sobre a temática de pesquisa aqui desenvolvida foi relativamente escasso, sobretudo
ao se considerar os últimos 10 anos, período usualmente tido como critério de inclusão
por pesquisadores, pela razão de se primar pela maior atualidade possível do
conteúdo revisado em pesquisas, devido ao caráter evolutivo da ciência. Isto é, nesse
tipo de conhecimento, dada a refutabilidade de seu conteúdo, o que é verdadeiro hoje
pode ser falseado e não mais ser verdadeiro amanhã. Portanto, faz-se mister priorizar
as publicações mais recentes, que são menos passíveis a já terem sido sobrepujadas.
3
Campos e Victor Manoel Andrade (CAUS; BATISTA, 2021). O trabalho aqui redigido,
notadamente, se classifica como pertencente ao segundo grupo acima descrito.
4
Nessa linha, é interessante citar uma pesquisa que compara grupos de pacientes com
depressão submetidos somente ao tratamento psicanalítico com grupos submetidos
apenas ao tratamento farmacológico. Os primeiros tiveram maior ativação subcortical,
enquanto os últimos tiveram maior ativação cortical, o que opera como um indício de
que o inconsciente atua, em grande medida, na região subcortical (MONTAGNA;
SOUSSUMI, 2009).
5
recalcados que já estiveram na cs e conteúdos que nunca foram cs, a consciência,
por seu turno, abarca a noção de eu, em certa medida a percepção, etc. e o pré-cs,
por fim, é constituído por aspectos não imediatamente na cs mas facilmente
acessíveis a ela, como lembranças, por exemplo. É possível remontar nesse ponto, à
concepção de Freud de que o ics não é composto apenas de conteúdos recalcados,
mas é mais amplo do que isso. Nesse aspecto, essa noção é central para se observar
que tal amplitude pode encerrar em si os processos descritos como componentes do
ics cognitivo. Assim, o ics não ligado ao recalque poderia estar implicado nos
processos de memória implícita. Tal assunção pode ser ilustrada a partir do caso de
Henry Molaison, famoso na literatura científica sobre memória, e dotado de uma grave
amnésia anterógrada, não sendo capaz de recordar um novo fato por mais de 15
minutos após aprende-lo desde que perdeu seu hipocampo para uma imprudente
cirurgia neurológica em sua juventude, contudo, com a capacidade de reconhecer seu
próprio rosto no espelho, evocar afetividade quando ouvia o nome de sua cuidadora,
lembrar do rosto de algumas pessoas famosas,etc. Com isso, pode-se apontar para a
importância das memórias emocionais do paciente no tocante a essas lembranças.
Assim, é possível presumir que o ics cognitivo não conflita com o psicodinâmico, mas
o complementa. Ademais, observa-se que alguns dos processos descritos como
pertencentes ao ics cognitivo poderiam se situar na instância pré-cs em uma acepção
freudiana (BOCCHI; VIANA, 2012).
4. CONCLUSÃO
Em suma, alguns conceitos e processos descritos tanto nas neurociências
quanto na psicanálise podem ser enfocados como idênticos ou assaz semelhantes,
assim como, complementares. Nesse sentido, observa-se que apesar da aparência
promissora de tais aproximações deve-se manter uma postura cética ao se analisa-
las, isto é, não enxerga-las como demonstrações cabais da concretude dos
postulados psicanalíticos nem como esforços inúteis de um saber moribundo para se
fazer ciência.
Desse modo, percebe-se que para que se avance em tal empreendimento
interdisciplinar é necessário que se faça mais pesquisas sobre a temática, assim
como, que neurocientistas e psicanalistas dotados de abertura para o novo e o diverso
6
possam debater, discordar e concordar. Pois, em última análise, é possível assumir
que ciência de qualidade se faz com liberdade.
REFERÊNCIAS
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas,
2010. 184 p. Como elaborar projetos de pesquisa, v. 4, 2019.
7
WINOGRAD, Monah; SOLLERO-DE-CAMPOS, Flávia; LANDEIRA-
FERNANDEZ, Jesus. Resenha: um diálogo entre a psicanálise e a
neurociência. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, p. 121-122, 2005.