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DOI: 10.55905/cuadv16n2-ed.esp.

055

Recebimento dos originais: 20/11/2023


Aceitação para publicação: 23/12/2023

Neurociência na infância: uma (re)perspectiva acerca das


sequelas cerebrais e dos respectivos transtornos psíquicos
decorrentes de traumas em infantes

Neuroscience in childhood: a (re)perspective on brain


sequelates and the respective psychic disorders resulting from
trauma in infants

Ana Clara Moraes Romão


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: ana.romao@uniatenas.edu.br

Ana Gabriella Freire da Silva


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: ana.freire@uniatenas.edu.br

Pedro Henrique Gonçalves Neto


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: pedrohenriqueneto@uniatenas.edu.br

Danielly Martins Nunes


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: danielly.nunes@uniatenas.edu.br

Anna Laura Ferreira Bernardes


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: anna.bernardes@uniatenas.edu.br

Isabella Victoria Silva Sousa


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: isabellavictoria.sousa@uniatenas.edu.br

Rayssa Ferreira Lopes


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: rayssa.lopes@uol.com.br

Ludimara Mori Borges


Instituição: Centro Universitário Atenas, Paracatu
E-mail: lupmori@hotmail.com

RESUMO
Objetivo: Levando-se em consideração a importância da neurociência, estudo
científico do sistema nervoso e suas funcionalidades, e sua dimensão na vida do
indivíduo, este artigo busca avaliar, por meio de uma revisão sistemática de
literatura, as sequelas cerebrais e os transtornos psíquicos advindos de traumas
durante a infância e instituir melhorias para esse público-vítima. Métodos: A parte

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metodológica é formada por: Scientific Electronic Library Online e PubMed
Central, e os critérios de inclusão foram a última década, o livre acesso do artigo
completo e publicações em português e em inglês. As palavras-chave utilizadas
voltaram-se para “neurociência na infância”, “transtornos do espectro
traumático”, “traumas na infância”, utilizando a técnica de triangulação de fontes
para analisar os dados. Resultados: A revisão bibliográfica vigente construiu uma
nova perspectiva sobre a temática, ao constatar uma relação clara entre
sequelas neurológicas e distúrbios psíquicos causados por vivência infantil
traumática. De fato, foram notadas transformações fisioanatômicas no Sistema
Nervoso Central, alterações nos ciclos neuro-hormonais, características
neurocomportamentais subsequentes, entre outros. Logo, tal análise torna-se
fundamental para o progresso científico, pois não só requisita um tratamento
atualizado para os infantes vitimados pelas problemáticas mencionadas, como
também analisa os processos cerebrais.

Palavras-chave: experiências adversas da infância, deficiências da


aprendizagem, neurociência cognitiva, transtornos neurocognitivos.

ABSTRACT
Objective: Taking into account the importance of neuroscience, the scientific
study of the nervous system and its functionalities, and its dimension in an
individual's life, this article seeks to evaluate, through a systematic literature
review, brain sequelae and psychic disorders arising from traumas during
childhood and institute improvements for this victim public. Methods: The
methodological part consists of: Scientific Electronic Library Online and PubMed
Central, and the inclusion criteria were the last decade, free access to the full
article and publications in Portuguese and English. The keywords used were
“childhood neuroscience”, “traumatic spectrum disorders”, “childhood trauma”,
using the source triangulation technique to analyze the data. Results: The current
bibliographic review built a new perspective on the subject, as it found a clear
relationship between neurological sequelae and psychic disorders caused by a
traumatic childhood experience. In fact, physioanatomical changes in the Central
Nervous System, changes in neurohormonal cycles, subsequent
neurobehavioral characteristics, among others, were noted. Therefore, such an
analysis becomes fundamental for scientific progress, as it not only requires an
up-to-date treatment for infants victimized by the aforementioned problems, but
also analyzes brain processes.

Keywords: adverse childhood experiences, learning disabilities, cognitive


neuroscience, neurocognitive disorders.

1 INTRODUÇÃO
A neurociência é uma área científica que estuda o sistema nervoso
humano sob a perspectiva dos seus aspectos comportamentais e cognitivos. A

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análise neurocientífica na infância possui uma abordagem mais específica, pois,
nessa fase, o sistema neurológico ainda se encontra em processo de
consolidação e pode sofrer influências do meio externo, uma vez que os fatores
extrínsecos, ambientais e sociais têm um papel importante na gênese dos
problemas emocionais da criança (HALPERN; RICARDO, 2004).
Dessa forma, para entender a interferência dos fatores alheios, é preciso
compreender as alterações neurobiológicas, as quais ocorrem como
consequência da exposição a situações traumáticas. Segundo Siegel e Bryson
(2015), o cérebro vive em constante modificação. Desde a infância até a terceira
idade, as experiências alteram a estrutura cerebral, porque cada evento inédito
estimula novos neurônios e novas conexões neurais, o que possibilita o
funcionamento integral e pleno do cérebro diante da conjuntura de experiências
vividas.
A reação frente à situação traumática varia de acordo com os aspectos
intrínsecos de cada criança, bem como a situação de vulnerabilidade e a
resiliência - pontos essenciais para propor medidas interventivas no cenário pós-
traumático. Segundo Pesce et al. (2006), a vulnerabilidade consiste na
predisposição individual para o surgimento e a evolução de psicopatologias ou
para resultados adversos no desenvolvimento, enquanto a resiliência se
relaciona à suscetibilidade para resistir aos fatores de risco e possibilitar um
desenvolvimento adequado.
Os fatores de risco associados à saúde mental infantil consistem em
variáveis específicas e subjetivas, as quais podem gerar interferências negativas
no desenvolvimento emocional. Vivências traumáticas na infância, como maus-
tratos físicos e emocionais por parte dos pais ou responsáveis, exposição a
múltiplos episódios de violência, abuso sexual ou perda dos pais, por separação
ou por falecimento, podem levar a prejuízos duradouros para o desenvolvimento
das crianças e dos adolescentes, com manifestações na vida adulta (HEIM;
NEMEROFF, 2001).
A identificação e o diagnóstico precoce de transtornos psíquicos são
importantes para evitar o agravamento do quadro e para auxiliar na melhora do

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prognóstico da criança, pois os cuidados de atenção primária contribuem para
promover a eficácia de tratamentos, os quais só são possíveis de serem
estabelecidos a partir de abordagens terapêuticas direcionadas para cada
indivíduo. Assim, a neurociência auxilia na construção de intervenções capazes
de promover melhores condições de vida para pacientes que apresentam
transtorno psicológico (CRONE, 2016).
O estudo bibliográfico realizado para compor este artigo, portanto, tem o
fito de compreender as alterações neurológicas associadas a traumas
experienciados na infância, visto a influência dos eventos traumáticos no
desenvolvimento de sequelas e transtornos psíquicos nesse público.
O presente projeto visa analisar a relação entre traumas na infância e o
desenvolvimento de sequelas cerebrais, com foco na compreensão
neurocientífica das alterações estruturais e funcionais do cérebro. Para tanto,
objetivou-se investigar as implicações dos traumas precoces para a saúde
mental, explorando as conexões entre alterações neurobiológicas e o surgimento
de transtornos psíquicos ao longo da vida, como ansiedade, depressão,
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), entre outros. Além disso, foram
utilizadas como suporte deste estudo abordagens terapêuticas e intervenções
baseadas em neurociência que intentam mitigar os efeitos desse cenário
traumático, buscando compreender como essas estratégias podem promover a
resiliência cerebral e emocional do indivíduo.

2 METODOLOGIA
O estudo sobre sequelas cerebrais e respectivos transtornos psíquicos
decorrentes de traumas na infância inicia-se por meio de revisão bibliográfica de
15 artigos científicos encontrados em: Scientific Electronic Library Online
(SciELO) e PubMed Central. Nesse ínterim, os artigos mais relevantes foram
filtrados do período de 2001 até 2022, e as palavras chaves buscadas foram:
“neurociência na infância”, “transtornos do espectro traumático”, “traumas na
infância”, “psicopatologia”, “transtornos de aprendizagem”, “epigenética do
trauma infantil” e “estresse de vida precoce”. Ademais, os critérios de inclusão

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foram os artigos que abordam a relação da neurociência com as sequelas
psíquicas decorrentes de traumas na infância, e os critérios de exclusão foram
os artigos com enfoque em neuropatologias já existentes em crianças que não
sofreram algum tipo de abuso na infância.

3 RESULTADOS
A revisão bibliográfica e a análise dos artigos selecionados permitiram a
construção de uma nova perspectiva acerca das sequelas cerebrais associadas
aos traumas experienciados na infância. Assim, o estudo do tema propiciou a
elaboração de resultados a partir de 15 artigos selecionados, dentre os quais
foram designados aqueles que sintetizam melhor a temática. Por isso, tem-se:

Quadro 1 – Resultados da revisão de literatura


Artigo Referência Ano Conclusões
Trauma infantil e sua FIGUEIREDO, 2013 Existem fatores de riscos para o surgimento
associação com Ângela de transtornos mentais na vida adulta, como
transtornos do humor Leggerini et al. maus-tratos, cuidados parentais insuficientes,
na vida adulta: uma abuso sexual e abandono. Cabe ao médico
revisão sistemática investigar diferentes fontes e relatos do
histórico infantil do paciente para precisão de
diagnóstico.
Relações entre abuso Jeane 2008 O abuso sexual na infância gera danos
sexual na infância, Lessinger cognitivos, emocionais e comportamentais.
transtorno de Borges, Débora Apesar de já ser comprovada a relação entre
estresse pós- Dalbosco abuso e trauma, é necessário aprofundar os
traumático e prejuízos Dell'Aglio estudos acerca das alterações no
cognitivos neurodesenvolvimento infantil após estresse
traumático.
Childhood Mariesa Cay, et 2022 O trauma na infância desencadeia alterações
maltreatment and its al. neurobiológicas as quais se relacionam com o
role in the surgimento de dores crônicas e
development of pain desenvolvimento de psicopatologias.
and psychopathology
Fonte: elaborada pelos autores, 2023

4 DISCUSSÃO
4.1 ALTERAÇÕES FISIOANATÔMICAS NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
(SNC) PÓS-MAUS-TRATOS NA INFÂNCIA
Consoante Cay (2022), as faculdades morfológicas do cerne de
processamento sensorial são, diretamente, afetadas em cenários de maus-tratos
na infância. A exemplo disso, tem-se modificações significativas no volume da

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substância cinzenta e na completude da substância branca no tocante ao curso
responsável por processar a audição e linguagem, as quais são inerentes a
casos de abuso verbal com infantes. Além disso, no que tange à violência na
faixa etária em pauta, o córtex occipital e o fascículo longitudinal inferior, que
conectam os sistemas visual-límbico, são prejudicados. Outrossim, crianças
maltratadas no âmago familiar manifestaram elevada atividade da amígdala
direita e da ínsula anterior bilateral, ao serem confrontadas com faces raivosas.
Por fim, opressões sofridas nas fases iniciais da vida suscitam patologias e
sintomas psiquiátricos, corroborando a influência de traumas infantis em
sequelas cerebrais e distúrbios psíquicos no público-alvo.
Ancorando-se em Bremner (2020), o hipocampo - estrutura cerebral
sensível ao estresse e essencial na memória declarativa - apresenta um volume
menor em pacientes com histórico de abuso na infância. A mesma circunstância
ocorre com a amígdala - relacionada à criptação de memórias de medo - visto
que, ao compará-la, mediante ressonância magnética, entre mulheres com e
sem casos de violência no intervalo etático infantil, notou-se menor volume desse
sistema naquelas que vivenciaram eventos agressivos quando crianças. Com
isso, há, também, modificações tanto no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA)
quanto no eixo pré-frontal-límbico. Assim sendo, episódios de trauma precoce
propiciam prejuízos nas redes cerebrais do SNC, o que intercepta o pleno
desenvolvimento cognitivo e comportamental da vítima, pelo advento de
transtornos neurológicos.

4.2 EVIDÊNCIAS NEURO-HORMONAIS DECORRENTES DE


CIRCUNSTÂNCIAS TRAUMÁTICAS EM INFANTES
Subsidiando-se nos estudos de Bremner e Wittbrodt (2020), ficam
evidentes, nos infantes que vivenciaram situações traumáticas, as modificações
no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o qual é ativado pelo estresse. Ao
ocorrer o estímulo de neurônios hipotalâmicos, é induzida a liberação do
hormônio coticotrófico (CRH) que libera o hormônio ACTH, os quais estimulam
a síntese e liberação de cortisol, o qual inibe a liberação de ACTH. No entanto,

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quando há muito estímulo, essa retroalimentação é desorganizada, e, assim,
acontece um estresse patológico. Nesse sentido, contatou-se que o estresse no
início da vida leva à sensibilização de longo prazo do eixo HPA, situação
perigosa no que tange ao bem-estar dos pacientes.
Sob outro ponto de vista, Thumfart (2022) relata as modificações
genéticas que afetam neurotransmissores, como a metilação do gene da
ocitocina, processo que pode ter um papel de destaque, pois estudos mostram
modulação nos fenótipos comportamentais de adultos que sofreram algum
trauma na infância, como a reação exacerbada a rostos ameaçadores nos
pacientes que desenvolveram fobia social e/ou ansiedade social.

4.3 O ADVENTO DE TRANSTORNOS NEUROLÓGICOS APÓS VIVÊNCIA


INFANTIL TRAUMÁTICA
Para Knapp (2003), o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)
pode ser evidenciado como um dos distúrbios potencializados após traumas no
período de desenvolvimento do indivíduo. Isso se dá porque a exposição a
vivências desconfortáveis é capaz de fazer o ser humano guardar recordações
detalhadas dos acontecimentos, as quais podem carregar influência emocional,
tornando o indivíduo vulnerável para desenvolver o TEPT. Além desse fator,
pode-se elencar o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) como uma
consequência apreensiva pós-trauma, o qual é marcado por acentuada
intensidade emocional, possuindo danos na autopercepção, nas relações
interpessoais e em pensamentos de solidão e, simultaneamente, apresentando
a impulsividade como um aspecto característico.
É importante ressaltar, ainda, que, conforme Paolucci (2001), as crianças
vítimas de abuso sexual possuem um percentual, consideravelmente, maior para
desenvolverem transtornos psicológicos. Nesse sentido, seus estudos apontam
que crianças que passaram por essas situações adquirem um índice 21% maior
para apresentarem depressão e suicídio, 20% para TEPT e 8% para reprodução
dos comportamentos violentos.

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4.4 AS CARACTERÍSTICAS NEUROCOMPORTAMENTAIS SUBSEQUENTES
INTRÍNSECAS AOS INDIVÍDUOS QUE SOFRERAM TRAUMAS NA INFÂNCIA
Segundo Cay (2022), infantes com históricos traumáticos têm duas vezes
mais chances de desenvolverem dor crônica na idade adulta, ao considerar o
sofrimento psicológico do envolvido, uma vez que há anormalidades da
substância branca localizadas no Corpo Caloso e nas vias corticolímbicas em
distúrbios dolorosos. Isso porque, em uma pesquisa envolvendo adultos com e
sem dor abdominal, a probabilidade de relato acerca de alguma tipologia de
abuso infantil foi 8,2 vezes mais naqueles com sensibilidade dolorosa, o que
corrobora o fato de o trauma propiciar aumento do processamento central da dor.
Ademais, enxaquecas crônicas e dor crônica comórbida, como fibromialgia,
síndrome do intestino irritável e artrite, foram relatadas nas pesquisas ao
enfatizar-se maus-tratos na infância.
Nessa via, Mariesa Cay et al. (2022) constatou hipo-responsividade
dentro do sistema dopaminérgico em indivíduos expostos a maus-tratos na
infância e sugere que se tenham efeitos duradouros até a idade adulta. Sob o
seu viés, alterações no sistema dopaminérgico mesocorticolímbico - que controla
os aspectos afetivos do processamento da dor - desempenham função
importante no desenvolvimento de transtornos de humor relacionados à
sensibilidade dolorosa.
Ainda conforme Cay (2022), os impactos prejudicais vivenciados na
infância proporcionam, sem dúvida, alterações neurobiológicas nos indivíduos,
as quais se relacionam, subsequentemente, desde ao desenvolvimento de dor
crônica até psicose, psicopatologia e ideação suicida.
Com base em um estudo de tecido hipocampal post-mortem de vítimas
de suicídio com histórico de abuso sexual, físico ou emocional infantil, bem como
relacionado a conjunturas negligentes nessa faixa etária, descobriu-se, sob a
óptica de Thumfart (2022), a hipermetilação do promotor NR3C1- receptor de
glicocorticoides, como o cortisol- em glóbulos brancos. Portanto, esse panorama
legitima a possível relação entre o impacto pós-situações traumáticas precoces
e condutas suicidas, uma vez que, na pessoa, há elevadas alterações acerca da

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homeostasia cerebral, como no que se refere ao eixo HPA relacionado ao
estresse.

4.5 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) COMO ABORDAGEM


INTEGRATIVA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL PÓS-TRAUMAS
INFANTIS
À luz dos estudos de Couto (2013), a Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) emerge como uma abordagem psicoterapêutica sólida e proeminente,
focada na interconexão entre pensamentos, emoções e comportamentos. Essa
psicoterapia, portanto, é eficaz na promoção da saúde mental e no tratamento
de diversos transtornos psicológicos, como a ansiedade, o estresse pós-
traumático e o episódio depressivo maior, por exemplo, que são muito
recorrentes após experiências negativas na infância. De forma geral, os frutos
profícuos da TCC relacionam-se ao restabelecimento do controle da atenção, a
reestruturação da memória em curto prazo e a ressignificação do pensamento
por meio do aprendizado. Para tanto, há alteração da atividade metabólica-
neuronal nas seguintes áreas cerebrais, mediante neuroplasticidade: giro do
cíngulo, hipocampo, amígdala, córtex pré-frontal, córtex frontal, córtex órbito-
frontal, eixo HPA, entre outros, oferecendo atividades estruturadas em
interromper ciclos de medo e preocupação. Como conclusão, o exercício
holístico da TCC visa restaurar o equilíbrio e a harmonia em todos os níveis do
indivíduo, promovendo a cura profunda e duradoura dos traumas precoces.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diligência do trabalho científico em pauta fez-se necessária pelo fato de
realizar uma (re)perspectiva, de forma sistemática, a respeito de sequelas
neurológicas e de consequentes transtornos psíquicos intrínsecos aos
indivíduos, os quais são derivados de traumas ocorridos no período infantil.
Desse modo, a neurociência torna-se uma importante aliada dos estudos
inerentes ao tema-foco.

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Portanto, por tratar-se de uma faixa etária propícia ao desdobramento de
adversidades futuras graves quando envolve situações traumáticas, é coerente
otimizar pesquisas científicas que intentem prevenir e explorar novos
tratamentos acerca desse contexto adverso, visto que ele intercepta o amplo
desenvolvimento pessoal e social do indivíduo.

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