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Ecologia de Fungos

Professor: Roger Fagner Ribeiro Melo


Resumo da Aula "Fungos mutualistas"

Mutualismo

• Padrão de interação interespecífica onde ocorre “benefício” mútuo, ou seja, ambos


participantes da interação são por ela favorecidos;
• Há mutualistas obrigatórios, facultativos, somente em alguma fase do ciclo de vida e alguns
ocasionais;
• Mutualismos são produtos de co-evolução, sendo essa muito antiga ou relativamente recente
na história evolutiva dos seres vivos.
• O termo mutualismo implica que o resultado da interação seja um benefício mútuo (+, +),
independente se é obrigatório, facultativo, frequente, raro, evolutivamente ajustado ou
ocasional. Simbiose é qualquer interação (harmônica ou desarmônica) onde haja
obrigatoriedade que os organismos vivam juntos. Um parasita obrigatório e seus hospedeiro,
por exemplo, são simbiontes.

Fungos liquenizados

• Líquens são associações simbióticas mutualísticas entre um fungo (micobionte) e algas de uma
ou mais espécies (fotobionte), que desenvolveram estrutura e funcionamento peculiares em
relação aos demais fungos de vida livre;
• O corpo do fungo diferencia-se para formar um talo, no qual as algas, unicelulares, protegidas
contra perda de água, herbivoria e radiação ultravioleta, provém o fungo com produtos da
fotossíntese.
• Cerca de 99% dos liquens pertencem ao Filo Ascomycota. Cerca de 1% pertencem a
Basidiomycota;
• Cerca de 50% de todos os ascomicetos são liquenizados;
• Líquens são polifiléticos, ou seja, a liquenização ocorreu independentemente mais de uma vez
na evolução;

Características gerais dos fotobiontes


• Fotobiontes são os parceiros fotossintetizantes da associação liquênica;
• Podem ser fotobiontes de liquens as algas verdes (90%) e as cianobactérias (10%);
• Fotobiontes pode ocorrer em vida livre, ou seja, sem a associação liquênica, enquanto
micobiontes são fungos que se especializaram nessa associação e precisam do parceiro para
crescimento e reprodução;
• Os fotobiontes são aprisionados pelo talo do micobionte, e suas células são perfuradas por
haustórios (hifas modificadas) para absorção dos produtos da fotossíntese;

Liquens - Micobiontes
• Fungos superiores, com hifas regularmente septadas, capazes de fusionarem suas hifas para
“aprisionar” as algas, formando os talo liquênico;
• Ascomycota (ascoliquens) e Basidiomycota (basidioliquens).
• Ambos formam estruturas de reprodução sexuada
típicos de seus grupos (ascos ou basídios).

O Talo liquênico

Córtex
• O córtex (superior e inferior) corresponde à camada
mais externa do talo;Não há atividade biológica. É de
natureza pseudoparenquimatosa, ou seja, um
pletênquima onde as hifas se encontram
completamente fusionadas;

Camada fotobiôntica
• Camada logo abaixo do córtex (superior), contendo as
algas f otobiontes. É onde ocorre a fotossíntese;
• As algas são mantidas próximas ao córtex para
maximizar a utilização da radiação solar;

Medula
• Camada mais interna do talo liquenico, usualmente sem
contato com o exterior. Há atividade biológica na
medula. As hifas encontram-se livres, frouxamente
próximas ou com natureza prosenquimatosa, ou seja,
um pletênquima onde as hifas não se encontram
completamente fusionadas, mantendo sua
individualidade.
• A parte superior da camada possui hifas com haustórios,
hifas modificadas para o parasitismo, penetrando na
célula das algas para absorção dos fotossintatos.
Tipos de talos
• De acorco com a organização micelial, estrutura do talo e ecologia, diferentes tipos de talo
podem ser reconhecidos;
• Embora existam muitas espécies de liquens, alguns tipos de talos seguem padrões suficientes
para que possa ser feita essa classificação;
• O tipo de talo não está, necessariamente, associado ao grupo taxonômico do fotobionte ou do
micobionte .

Talo crostoso: talo totalmente aderido ao substrato, ou seja, não apresentam córtex inferior;

Talo folioso: Talo com estrutura laminar dorsiventral. Não se prendem ao substrato por sua medula.
Na maioria dos casos, possuem um córtex inferior. Podem ter bordos lobados ou laciniados.

Talo fruticoso: Talo com estrutura cilíndrica, usualmente ramificado, com anatomia apresentando
simetria radial. Pode ser arbustivo, quando ereto, ou penduloso, quando pendente;
Propágulos liquênicos

Sorédios
Fragmentos contendo hifas do fungo e células d das
algas. São liberados de aberturas no córtex
superior do talo liquênico. Sorálios são regiões
decorticadas do talo,, onde ocorre a produção de
sorédios em alguns liquens, pelo crescimento das
hifas da medula, que empurram para fora e se
quebram, formando os fragmentos de hifas
aderidas às algas.

Reprodução sexuada: Ascomas


• São os corpos de frutificação dos
ascomicetos (e dos ascoliquens);
Reprodução sexuada: Basidiomas
• São os corpos de frutificação dos
basidiomicetos (e dos basidioliquens);
• A liquenização não foi um evento isolado, onde um ancestral liquenizado deu origem a várias
linhagens (não ocorreu irradiação adaptativa).
• Os liquens formam um grupo polifilético, ou seja, a liquenização ocorreu independentemente
várias vezes na evolução de Ascomycota, por convergência evolutiva.
• Isso demonstra o enorme sucesso evolutivo dessa interação, que se fixou, por Seleção Natural,
pelo menos três vezes no filo.

Fungos micorrízicos

• Designação genérica de fungos com algum grau de associação com raízes de vegetais.
Normalmente, o termo é usado para designar Fungos micorrízicos arbusculares, simbiontes
mutualistas obrigatórios do Subfilo Glomeromycotina (Filo Mucoromycota);

Vantagens da interação:
• As hifas auxiliam a absorção de água e sais minerais do solo (principalmente fósforo e
nitrogênio) já que aumentam a superficie de absorção ou rizosfera. Deste modo as plantas
podem absorver mais água e adaptar-se a climas mais secos,
• Os fungos recebem das plantas carboidratos e aminoácidos essenciais ao seu desenvolvimento,
estabelecendo benefício mútuo;
Importância ecológica do micélio
Micélio micorrízico – rede de hifas que tanto coloniza quanto interconecta raízes da mesma ou de
diferentes plantas, e desempenham diversas funções, como:

• prevenção contra perda de nutrientes;


• ciclagem interna de nutrientes (raiz morta-serrapilheira);
• alimento para outros organismos;
• auxílio na dispersão de bactérias.

Tipos de micorrizas:
• Endomicorrizas (micorrizas arbusculares)
• Ectomicorrizas
• Ectendomicorrizas
• Ericoide (Família Ericaceae)
• Monotróide (Ordem Ericales)
• Orquidoide (Família Orquidaceae)

Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) ou Endomicorrizas


• Fungos do Subfilo Glomeromycotina (Filo Mucoromycota);
• Biotróficos obrigatórios, ou seja, não existem glomeromicetos de vida livre;
• Mais de 80% das espécies vegetais formam essa associação;
• Os FMA colonizam as células do córtex inter e intracelularmente formando arbúsculos e outras
estruturas;
• Colonizam representantes de briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas;
• Não há evidências de especificidade hospedeira e não ocorre alterações macroscópicas nas
raízes colonizadas pelos FMA;
• Formam esporos assexuados denominados glomerosporos. Não há registro de reprodução
sexuada nos FMA.
• Invaginam a membrana plasmática das células, formando ramificações similares a pequenas
árvores, e por isso denominadas arbúsculos.

Ectomicorrizas

• Formada por representantes dos filos Ascomycota e Basidiomycota;


• Os fungos ectomicorrízicos penetram intercelularmente no córtex das raízes formando a
estrutura anatômica característica - rede de Hartig, substituindo a lamela média e também
ocorrendo a formação do manto fúngico ao redor das raízes;
• Contribuem para que ocorra modificações morfológicas intensas das raízes;
• Típica de árvores de clima temperado como coníferas;
• As micorrizas arbusculares e as ectomicorrizas são os tipos mais frequentes nos ecossistemas;
Ectendomicorrizas
• Possuem características de endomicorrizas mas também mostram extensa penetração
intracelular. Ectendomicorrizas são restritas principalmente a pinheiros. Representados por
Pezizales (Ascomycota). A análise dos genomas nucleares e mitocondriais dos fungos confirmou
que a maioria pertencia ao gênero Wilcoxina e a maioria das cepas pode ser atribuída a dois
taxa - Wilcoxina mikaloe e W. rehmii;

Micorrizas ericoides
• Associações entre fungos e raízes de plantas da família Ericaceae;
• A simbiose representa uma importante adaptação aos solos ácidos e pobres em nutrientes nas
áreas onde Ericaceae tipicamente ocorrem, incluindo florestas boreais, pântanos e charcos.
• Normalmente o fungo é da espécie Rhizoscyphus ericae (Leotiomycetes, Ascomycota), e forma
“molas fúngicas” nas células do hospedeiro;

Micorrizas monotropoides
• Os fungos que colonizam plantas aclorofiladas da família Monotropaceae (agora incluída em
Ericaceae) nunca penetram as paredes celulares da planta. Esta característica era
suficientemente distinta para justificar a criação de uma nova classe de micorrizas: as micorrizas
monotropoides;
• Esses fungos, basidiomicetos boletoides, formam associações ectomicorrízicas com árvores e
também associações monotrópoides. Os carboidratos passam de conífera para Monotropa
através de seu parceiro comum de micorrizas.
Micorrizas orquidoides
A maioria das sementes de orquídeas não germina a menos que tenham sido infectadas por um fungo.
Os fungos micorrízicos em orquídeas são os fungos rizoctonioides (basidiomicetos). O embrião
emerge e produz alguns pêlos radiculares, que as hifas rapidamente colonizam. Um embrião de
orquídeas consiste em apenas algumas centenas de células e os fungos se espalham rapidamente
de célula para célula. Dentro das células, as hifas formam bobinas chamadas pelotões, o que
aumenta consideravelmente a área de superfície interfacial entre orquídeas e fungos. Cada pelotão
intracelular tem uma vida curta, que dura apenas alguns dias antes de degenerar e digerido pela
célula de orquídea.

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