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Livro: The Psychology of Safety

Autor: E. Scott Geller

Sensação, Percepção e Percepção de Risco

É muito importante entender que a percepção de risco varia de individuo para


individuo. Nós não podemos melhorar significativamente a segurança de uma
empresa enquanto as pessoas não aumentarem a sua própria percepção de risco nas
diversas situações, e não reduzir a sua tolerância às situações de risco.
Este capitulo tem como objetivo explorar os conceitos de sensação e
percepção seletiva, bem como esses fenômenos influenciam o gerenciamento dos
riscos quando o foco está voltado ao comportamento humano.
Serão discutidos muitos fatores que impactam na maneira como o trabalhador
reage aos perigos no local de trabalho, seja com alarme, com apatia ou alguma coisa
entre os dois. Juntos, estes fatores moldam as percepções pessoais de risco e ilustram
porque o trabalho de melhorar a segurança é tão desafiador.

“O que nós vemos depende principalmente do que nós procuramos” – John


Lubbock

O “S” abreviado do BASID ID introduzido no Capítulo 4 se refere à sensação –


dimensão humana que influência nossos pensamentos, atitudes, emoções e
comportamento. Na escola nós aprendemos que existem cinco sentidos e que nós os
usamos diariamente para experienciar o mundo (nós vemos, escutamos, cheiramos,
tocamos e saboreamos). Mais tarde nós aprendemos que nossos sentidos não captam
todas as informações disponíveis que nos cercam. Ao invés disso, nós intencionalmente
ou não intencionalmente sintonizamos ou desintonizamos certos aspectos do nosso
ambiente, deste modo, algumas experiências em potencial não são percebidas.
Este é um processo complexo. Para experienciar a vida a partir de uma base
seletiva, nós começamos usando nossos cinco sentidos, mas a partir deles nós:
 Definimos ou decodificamos as informações recebidas.
 Interpretamos seus significados e relevância.
 Decidimos se a informação vale a pena ser lembrada ou respondida.
 Planejamos e executamos uma resposta (se assim for necessário).
Em qualquer parte desta cadeia de processamento de informação e tomada de
decisão, nós podemos (e realmente fazemos) impor nossas próprias opiniões, que ainda
são influenciadas pelas nossas experiências passadas, personalidade, intenções,
aspirações e expectativas. Você pode observar como todo dia nossas sensações são
dramaticamente influenciadas consciente ou inconscientemente, por numerosos fatores
pessoais, únicos à situação e ao individuo que está sentindo a situação. Psicólogos se
referem a tal sensação modificada pela pessoa de PERCEPÇÃO.
Também existe um termo chamado “percepção seletiva” que é comumente usado
para se referir as nossas sensações tendenciosas. Devido ao fato de todas as percepções
serem resultado de uma intencional ou não intencional distorção da sensação, adicionar o
termo “seletivo” para a percepção é desnecessário e na verdade até redundante. As
experiências que acontecem ao nosso redor passam por uma seleção natural feita pelos
nossos sentidos. Esse processo simplesmente é referido como percepção.

Exemplos de Sensações e Percepções Seletivas


Em 1994 a Professional Development Conference of the American Society of Safety
Engineers (ASSE) imprimiu as seguintes instruções em metade de um material de 40
paginas distribuídos para uma audiência de mais de 350 pessoas, no inicio da minha
apresentação de duas horas.

Você vai olhar o resumo de uma figura e responder algumas


questões sobre ela. A figura é um esboço inacabado de um
pôster de um casal em um baile a fantasia. Não se demore na
figura olhe o tempo para captá-la inteiramente. Depois você vai
responder sim ou não para uma serie de perguntas.
Figura 5.1 – Percepção Seletiva pode ser demonstrada com este desenho ambíguo. Por favor, leia as
instruções da pagina anterior e olhe para a figura por cinco segundos. Depois responda as cinco questões da
próxima página.

Depois dos participantes lerem as instruções, eu apresento a ilustração da figura 5.1


por aproximadamente cinco segundos. Se você quiser experenciar a tendenciosa
sensação visual (ou percepção), demonstrada na audiência da ASSE, leia as instruções
previamente dadas no livro e depois olhe para a figura 5.1 por aproximadamente cinco
segundos. Depois, responda as questões que eu perguntei para a audiência da ASSE.
Figura
1. Você viu um homem na figura?
2. Você viu uma mulher na figura?
3. Você viu um animal na figura? Se a resposta for sim, que tipo de animal você viu?
Que outros detalhes você notou na figura na rápida exposição da figura?
_____ Uma bolsa de mulher?
_____ Uma bengala de homem?
_____ Um chicote de treinador?
_____ Um peixe?
_____ Uma bola?
_____ Uma cortina?
_____ Um teste?
Praticamente toda a audiência levantou a mão para responder “sim” a primeira
questão, e eu suspeito que você também viu um homem na figura. Porém, apenas
metade da audiência admitiu ter visto a mulher no desenho, e muito disseram que haviam
visto um animal. Quando eu perguntei que tipo de animal, a resposta comum que eu
escutei pela sala foi “foca”. Isso fez com que eles rissem, e que as risadas aumentassem
ainda mais quando eu perguntei que mais foi rapidamente percebido na ilustração.
Muitas pessoas viram a bolsa de mulher e a bengala de homem, outras disseram que
viram o chicote de um treinador, um peixe e uma bola de praia. Alguns recordaram ter
visto uma cortina. O que você viu na figura?
O que está acontecendo aqui? Eu perguntei ao publico da ASSE. Por que nós temos
diversas reações a uma simples figura? Algumas pessoas especularam sobre os fatores
ambientais na sala de seminário, incluindo iluminação, orientação espacial e distância
visual da tela de apresentação. Outros pensaram nas diferenças individuais incluindo
gênero, idade, ocupação e experiências pessoais, mesmo da noite anterior, poderiam ser
responsáveis. Finalmente, alguém perguntou como as instruções escritas nos materiais
dados poderiam ter influenciado nas diferentes percepções. Isto foi, de fato, o caso.
Todo o material tinha exatamente a mesma instrução, exceto por algumas
palavras. Estava incluso, na metade dos materiais, todas as palavras descritas acima, o
resto tinha as palavras “cenas de um treinador” substituídos por “casal num baile”. Isto foi
suficiente para causar uma diferença marcante nas percepções. Talvez isso faça sentido
para você. Palavras essenciais, ou uma instrução criam expectativas para uma
experiência visual particular. Eu havia preparado minha audiência. A sua percepção da
figura 5.1 foi influenciada por essa preparação.

Influenciado pelo Contexto


Agora olhe para a figura 5.2.

(O gato sentou a porta)


Figura 5.2 – O contexto ou as circunstâncias que cercam um estimulo pode influenciar como os
percebemos.

Eu suspeito que você não encontrou dificuldade para ler a sentença “The cat sit by
the door” muito embora o símbolo para o H é exatamente igual ao símbolo para A. É uma
questão de contexto. O símbolo foi posicionado de tal forma que influenciou a sua
decodificação. Do mesmo modo o contexto ou o ambiente que cerca nosso campo visual
influência como nos vemos estímulos particulares.
O mesmo é verdade para nossos outros sentidos, audição, tato, paladar e olfato. É
como se nos experimentássemos uma comida que envolve a sensação de cheiro, tato e
paladar e que podem ser dramaticamente influenciadas pela atmosfera em que foi
servida. Essa é a regra básica de restaurantes de negócios. É claro que outros fatores
também influenciam as sensações, incluindo a fome e a experiência passada com uma
comida igual ou parecida.
Vamos dar uma olhada na Figura 5.3. Como você classificaria o homem do
desenho a esquerda.

(Serviço de Estacionamento)
Figura 5.3 – O contexto ambiental influencia a percepção pessoal do homem com uniforme.

O lugar e o contexto certamente influenciam sua decisão. A placa, a chave e


uniformes são dicas que o homem é provavelmente um porteiro. O contexto ambiental no
desenho a direita nos leva a uma percepção e classificação diferente para a mesma
pessoa. Aqui ele é um policial reforçando uma política de segurança.
Agora vamos aplicar a nossa discussão sobre percepção ao ambiente de trabalho.
Aqui as percepções das pessoas podem ser moldadas por equipamentos, serviços de
limpeza, cargos ou atribuições de trabalho. De fato, nosso cargo ou atribuições de
trabalho, pode influenciar nossa percepção, assim como afeta a percepção que temos dos
outros. Isto pode influenciar drasticamente como nos interagimos com os outros, se na
verdade escolhemos interagir ou não.
É importante reconhecer essa tendência contextual. Escolha alguém com quem
você se comunica no trabalho e pense como seu relacionamento seria diferente em um
outro contexto. Você ainda se sentiria superior ou inferior? Também como ilustrado na
Figura 5.4, o contexto de trabalho tem a característica de transformar indivíduos em
números, despersonalizando-os. Essa impressão pode certamente ser enganosa e talvez
tenha como conseqüência você não perceber o potencial de alguém.

(Cultura Total de Segurança)

Figura 5.4 – O contexto ambiental influencia a percepção e o comportamento.


Influenciado pelo Passado
Talvez todo leitor perceba que as nossas experiências passadas influenciam as
nossas percepções presentes. No capítulo três nós levamos em consideração mudanças
em métodos e percepções necessárias para atingir uma cultura de segurança total.
Quando eu dou workshop sobre mudanças de paradigmas, alguém inevitavelmente
expressa uma preocupação que tem a ver com resistências. Ele(a) continua tocando
velhos cassetes e não está aberto a novas idéias. É um refrão comum. As experiências
passadas estão influenciando as percepções do presente. Na verdade existe um longo
caminho de fatores entrelaçados aqui. Experiências passadas usam o filtro do processo
de avaliação pessoal, que é influenciado por fatores humanos, incluindo muitas
experiências passadas percebidas. A coleção cumulativa destas experiências
previamente percebidas influencia toda nova experiência e faz com que realmente seja
difícil “ensinar a um cachorro velho, novos truques”.
Alguns participantes chegam aos meus seminários e workshops com uma “mente
fechada” e uma atitude “tenho que estar aqui”. Outros começam geralmente com uma
“visão aberta” de “oportunidades para aprender”. Este é outro exemplo da percepção
pessoal – quanto alguns aprendem nesses seminários depende da percepção de como
vai ser.
Talvez você ira achar interessante copiar a Figura 5.5 e usá-la para uma
demonstração em grupo. Você pode mostrar como as impressões atuais são afetadas
pelas percepções anteriores, pedindo aos participantes que nomeiem o que eles vêem
quando você mostra cada desenho. Os desenhos devem ser descobertos em uma ordem
particular. Mostre cada um sucessivamente da esquerda para a direita. A última figura
provavelmente será identificada como um rosto de um homem mais velho.
Com a primeira fileira coberta, mostre sucessivamente os animais da segunda
fileira. Agora, a última figura provavelmente será identificada como um rato ou
camundongo. Mesmo depois de conhecer o propósito da demonstração, você pode ter a
visão de série da Figura 5.5 e ver como sua percepção do último desenho muda
dependendo de como você previamente olha para o rosto humano ou do animal.
Figura 5.5 – Experiência perceptual anterior influencia a percepção atual. Adaptado de Bugelski e Alimpay
(1961). Com permissão.

Agora eu gostaria que você lesse a sentença da Figura 5.6 com a intenção de
entender o que significa a sentença.
A sentença pode parecer sem sentido, mas trate a sentença como um memorando
que você tenha recebido de um colega ou supervisor. Alguns destes memorando parecem
sem sentido também. A sua experiência passada de ler memorandos, assim como o seu
humor no momento, pode influenciar como você percebe e reage ao memorando.

(Arquivos finalizados são resultados de anos de estudos científicos combinados com a experiência de
muitos anos)

Figura 5.6 – Experiências passadas podem nos ensinar a passar por cima de detalhes.

Depois de ler a sentença que está na Figura 5.6 volte, e rapidamente conte o
numero de letras “Fs” na frase. Anote sua resposta. Quando eu mostro aos participantes
do workshop esta sentença e faço a mesma pergunta, a maioria responde “três”. Alguns
gritam “seis” geralmente porque eles já tinham visto a apresentação antes. “Seis” é a
resposta correta, mas mesmo sabendo disso, algumas pessoas não conseguem
encontrar mais de três “Fs” na sentença. Por quê?
Quando eu fiz esse exercício pela primeira vez há muitos anos atrás, eu mostrei a
sentença as minhas duas filhas e as duas responderam imediatamente seis “Fs”. Karly
estava no jardim de infância e Krista estava na segunda série. Nenhuma das duas
conseguia entender as palavras.
Minha esposa teve a mesma dificuldade que eu tive, e conseguiu ver apenas três
“Fs”. Eu me lembro de olhar para a sentença e várias vezes tentar achar os seis “Fs”, mas
sem sucesso. Minha experiência passada com leitura veloz havia me condicionado a
simplesmente passar por cima de pequenas e não essenciais palavras como o “of”; eu
simplesmente não percebi os “Fs” nos três “Ofs”. Minha história havia influenciado a
minha percepção. Eu aposto que você teve uma experiência similar se você não tivesse
visto essa demonstração antes. E se você já há tivesse visto, então esta experiência
influenciou a sua percepção atual da Figura 5.6.
Finalmente, olhe para a mulher na Figura 5.7.

Figura 5.7 – Olhando este rosto por diferentes orientações (virando-se o livro de cabeça para baixo
proporcionará uma percepção diferente).

Note algo estranho, algo além do fato da figura estar de ponta cabeça. O rosto é
relativamente atraente, ou pelo menos normal. Agora vire o livro de ponta cabeça e olhe o
rosto da mulher na orientação normal. Sua percepção mudou? Por que você não notou
sua desajeitada (na verdade feia) boca quando a figura estava de ponta cabeça? Talvez
os dois contextos e a experiência anterior (ou aprendizagem) influenciaram sua
percepção inicial. Eu aposto que esta influência perceptual irá persistir mesmo depois de
você ter percebido a causa da distorção, e mesmo depois de olhar o rosto várias vezes
nas duas posições. A percepção pré-concebida pode ser difícil de ser corrigida. Não é
fácil lutar contra a natureza humana.

A Relevância para Conquistar a Cultura Total de Segurança.


A relevância desta discussão para a segurança do trabalho e saúde é obvia?
Talvez entendendo os fatores que nos levam a diversas percepções, podemos começar a
ser mais tolerantes com indivíduos que parecem não compartilhar com a nossa opinião ou
ponto de vista. Talvez os fatores pessoais discutidos aqui engrandeçam sua avaliação e
respeito pela diversidade, e de suporte para a necessidade básica de escutar
ativamente/refletiva. “Primeiro procure entender, depois ser entendido” é o décimo quinto
hábito das pessoas altamente eficazes (Covey, 1989).
Também é possível que esta discussão e exercício de percepção pessoal tenham
reduzido a tendência de você culpar os indivíduos pelos acidentes ou olhar para uma
única causa raiz de um incidente indesejável. Antes de reagirmos a um incidente ou
acidente com o nosso ponto de vista, recomendações ou planos de ação nós precisamos
perguntar para os outros sobre suas percepções.
Eu espero que eu não tenha reduzido seu otimismo na direção da conquista da
Cultura Total de Segurança. Talvez eu tenha alertado você a desafios não previamente
considerados. Se eu ainda não tiver convencido você a parar de alegar “Todos os
acidentes podem ser evitados” a próxima sessão deve fazer o trabalho.

Risco Percebido
As pessoas são geralmente pouco preocupadas e não impressionadas com os
riscos e perigos no trabalho. Por quê? Nossa experiência no trabalho nos conduz a
perceber relativamente baixos níveis de risco. Isso é estranho. Depois de tudo, é quase
provável que alguém ira eventualmente se machucar no trabalho quando você calcula o
número de horas homem que são expostos a vários perigos.
No Capitulo 4, eu discuti uma das maiores razões para baixa percepção de risco no
local de trabalho. E básico, de verdade – nós geralmente convivemos com
comportamentos de risco. Como os dias passam sem nos machucar, ou mesmo chegar
perto, nos começamos aceitar a crença comum “Isso não vai acontecer comigo”. Agora
vamos avançar na exploração do por que nós geralmente não nos impressionamos em
cuidar dos perigos no trabalho.

Risco Real e Risco Percebido


O risco real associado com um perigo particular ou comportamento é determinado
pela magnitude da perda se o acidente acontecer, e a probabilidade que a perda ou o
acidente realmente aconteça. Por exemplo, o risco de dirigir durante uma viagem pode
ser estimado calculando-se a probabilidade do veiculo bater na viagem, multiplicado pelo
valor da magnitude do dano da batida. Claro que o potencial do dano ou a taxa de
mortalidade vindo da batida do carro é influenciado por muitos outros fatores, incluindo o
tamanho do veiculo(s) envolvidos, a velocidade do veiculo(s), as condições da estrada e
se os ocupantes estavam usando o cinto de segurança.
Numa simples viagem, a chance do veiculo bater é mínima, entretanto, na vida
inteira do motorista a probabilidade é bem alta, variando de 0,30 a 0,50, dependendo de
fatores como localização geográfica, freqüência da viagem e duração e características do
motorista como idade, sexo, tempo de reação ou estado mental (Evans, 1991).
Obviamente, o risco de dirigir um automóvel é difícil de avaliar, embora tenha sido
estimado que 55% de todas as fatalidades e 65% de todos os danos poderiam ter sido
prevenidos se o cinto de três pontos tivesse sido usado. (Registro Federal, 1984).
Estimar o risco do acidente vindo do local de trabalho, com certos equipamentos é
ainda mais difícil de determinar porque as situações de trabalho variam tão drasticamente.
E mais, o risco pode ser eliminado completamente através do uso apropriado de roupas e
equipamentos que protegem. Apesar disso, muitas pessoas não valorizam o uso dos
equipamentos de proteção individual, assim como seguir os procedimentos de segurança
do processo. Sua percepção de risco é geralmente muito menor que o risco real. Esse
pensamento impregna a sociedade.
Batidas de automóvel são os líderes nacionais de causa de perda de produtividade,
maior do que AIDS, câncer e doenças cardíacas (Nacional Academy Press, 1989; Waller,
1986), mas quantos de nós não damos atenção ao ato de dirigir por julgá-lo obvio.
O risco de uma fatalidade vindo da direção de um carro ou do trabalho numa
fabrica é muito maior que vindo de uma contaminação ambiental de radiação, amianto ou
produtos químicos industriais. Apesar disso, olhe para os protestos de amianto nas
escolas e vizinhanças das plantas químicas.
Pesquisadores da comunicação de risco tem encontrado muitas características dos
perigos, irrelevantes para o risco real, que influenciam a percepção das pessoas. (Covell
et al, 1991). É importante considerar estas características porque o comportamento é
determinado mais pelo percebido do que pelo risco real.
A figura 5.8 mostra os fatores que influenciam nossa percepção de risco. Ela é
derivada da pesquisa de Sandman (1991) e seus colegas. Os fatores listados na
esquerda reduzem a percepção de risco e são tipicamente associados com o local de
trabalho. Os fatores opostos, na coluna da direita, foram encontrados para aumentar a
percepção de risco, e eles não são usualmente experienciados no local de trabalho.
Como conseqüência, nossa percepção de risco no trabalho não é tão alta como deveria
ser, então nós não trabalhamos tão defensivamente como deveríamos. Discutindo alguns
destes fatores, algumas estratégias serão mostradas para aumentar nossa própria
percepção de risco e dos outros em determinadas situações.
Baixo Risco Alto Risco
 Exposição é voluntária  Exposição é obrigatória
 Perigo é familiar  Perigo é pouco comum
 Perigo é esquecível  Perigo é importante
 Perigos cumulativos  Perigo é catastrófico
 Estatísticas coletivas  Estatísticas individuais
 Perigo é entendido  Perigo é desconhecido
 Perigo é controlável  Perigo é incontrolável
 Perigo não afeta ninguém  Perigo afeta pessoas vulneráveis
 Evitável  Apenas reduzível
 Consequencial  Inconseqüencial
Figura 5.8 A esquerda fatores que reduzem a percepção e geralmente são associados com o local de
trabalho. Adaptado de Sandman (1991). Com permissão.

O Poder da Escolha
Os perigos que nós escolhemos vivenciar (como dirigir, esquiar e trabalhar) são
visto como menores do que os que nos sentimos obrigados a agüentar (como cuidado
alimentar, poluição ambiental e terremotos). É claro que a percepção de escolha também
é algo subjetivo, variando drasticamente entre os indivíduos. Por exemplo, pessoas que
sentem que tem liberdade para deixar seu trabalho e se mudar quando quiserem,
provavelmente percebem menos riscos vindo de perto de uma planta nuclear ou falha
sísmica. Da mesma forma, empregados que têm maior liberdade de escolher os seus
lugares de trabalho, geralmente percebem menos riscos no ambiente de trabalho. No
próximo capitulo, eu discuto a relação entre a escolha percebida, stress e distress.

A Familiaridade Produz Complacência


Familiaridade é provavelmente uma determinante mais poderosa de risco
percebido do que escolha. Quanto mais conhecemos sobre os riscos, menos eles nos
ameaçam. Recorde o quanto atencioso você era quando aprendeu a dirigir, ou quando
você, pela primeira vez, conheceu um equipamento no seu lugar de trabalho? Não
demorou muito tempo para que você baixasse sua percepção de risco e mudasse seu
comportamento de acordo com isto. Quando dirigimos, por exemplo, a maioria de nós
rapidamente mudou de duas mãos no volante para uma mão enquanto ligamos o rádio e
mantemos uma conversa fazendo uma curva.
O Poder da Publicidade

É tão fácil não prestar atenção nos perigos familiares do local de trabalho.
Profissional de Segurança para responder a isto, constantemente lembram os
empregados dos riscos com mapas de riscos, memorandos, notícias, encontros de
segurança e placas de sinalização. Mesmo assim, esses esforços não conseguem
competir com o impacto de eventos incomuns, catastróficos e memoráveis divulgados
pela mídia e dramatizados na televisão e nos filmes. Publicidade de danos memoráveis,
como aquele sofrido por Jonh Wayne Bobitt anda Nancy Kerrigan em 1994, influenciam a
percepção equivocada de risco real.

Simpatia pelas Vítimas


Muitas pessoas sentem simpatia pelas vítimas das ocorrências publicadas,
visualizadas vividamente o acidente como se tivesse acontecido com eles. Personalizar
esses tipos de experiência aumenta a percepção de risco. No trabalho, alguns
empregados mostram muito mais atenção e interesse para perigos quando os acidentes
ou “quase acidentes” são discutidos por colegas de trabalho que os vivenciaram, do que
comparados com apresentações estatísticas. Uma pessoa normal não consegue se
identificar com os números das estatísticas, mas há poder nas histórias pessoais. Eu
tenho encontrado muitas pessoas ao longo dos anos que aceitam historias individuais ao
invés de estatísticas convincentes. “O policial disse ao tio Jack que ele poderia ter morrido
se ele não estivesse afivelado o cinto de segurança”, “Tia Martha tem 91 anos e ainda
fuma dois massos de cigarro por dia”.
Isso sugere que nós devemos mudar o foco dos encontros de segurança de
estatísticas para enfatizar o elemento humano na segurança. Conversas sobre segurança
e estratégias de intervenção deveriam preferencialmente centralizar-se mais na
experiência humana do que em números. Isto é mais fácil falar do que fazer. Encorajar as
vítimas de ir para frente com suas historias é com freqüência reprimido por muitos
gerentes em muitas companhias que parecem ter como valor achar culpados acima de
achar os fatos. Burocracia ao invés de uma metodologia sistemática para a investigação
de acidente. Coerção do que reconhecimento para influenciar comportamentos no
trabalho.

Perigos Compreendidos e Controláveis


Perigos que nós podemos explicar e controlar causam muito menos alarme do que
os perigos que não são compreendidos e, logo, percebido como incontroláveis. Isto
aponta problemas com a educação para segurança dos empregados e programas de
treinamento. Perigos do local de trabalho são explicados de uma maneira que cria a
impressão que podem ser controlados. De fato, profissionais da segurança
frequentemente declaram a visão ou meta de “zero acidentes” sugerindo controle total
sobre os fatores que causam acidentes. Isto na verdade abaixa a percepção de risco por
convencer as pessoas que as causas de acidentes ocupacionais são compreendidas e
controláveis.
Talvez isto seja melhor para os líderes da segurança do que admitir e publicar que
apenas dois dos três tipos de fatores que contribuem para os acidentes de trabalho
podem ser manejados efetivamente – fatores ambientais/equipamentos e
comportamentos no trabalho. Como eu já discuti em capítulos anteriores, o misterioso
interior, inobservável e subjetivo mundo das pessoas influencia drasticamente na
percepção de risco para acidente pessoal. Essas atitudes, expectativas, percepções e
características de personalidade não podem ser mensuradas, manejadas ou controladas
de forma confiável. Fatores humanos internos fazem ser impossíveis prevenir todos os
acidentes. Discutindo-se toda complexidade das pessoas e sua contribuição integral para
a maioria dos perigos no local de trabalho e acidentes, você pode aumentar tanto o valor
percebido de intervenções de segurança que estão acontecendo como a crença de uma
Cultura Total de Segurança que requer comprometimento e envolvimento total de todos.

Conseqüências Aceitáveis
É menos provável nos sentirmos ameaçados por expormos ou corrermos riscos em
uma situação quando ela tem suas recompensas. Se poucos benefícios são percebidos
por um comportamento de risco ou condição ambiental, raiva – ou o elevado risco
percebido – é provável que aja uma reação ao mesmo tempo com um esforço
coordenado para prevenir ou reduzir o risco.
Algumas pessoas, por exemplo, percebem armas, cigarros e álcool com tendo um
benefício limitado e, sendo assim, tenta restringir ou eliminar esse perigo social. A
disponibilidade e a exposição deste perigo irá continuar, de qualquer forma, enquanto um
número significativo de indivíduos perceba que os benefícios do risco compensam os
seus custos. Análises de custos e benefícios são subjetivas e variam extensamente como
uma característica da experiência individual. Por exemplo, as duas mulheres na Figura
5.9 obviamente percebem as conseqüências de fumar de forma bastante diferenciada.
Figura 5.9 - As conseqüências percebidas do comportamento de risco podem variar amplamente de pessoa
para pessoa.

Por outro lado, os benefícios do comportamento de risco no trabalho são


geralmente óbvios para todos. Por exemplo, é mais fresco e mais confortável trabalhar
sem o respirador. Também é conveniente e permitido o trabalhador ser mais produtivo. O
custo de não usar a máscara pode ser abstrato e adiado (se a exposição não ameaçar a
vida imediatamente). Estatísticas podem indicar a chance de desenvolver uma doença
pulmonar, a qual poderá não aparecer por décadas, ou mesmo nunca aparecer. Decisões
de correr risco são feitas diariamente pelos trabalhadores. Jogando com as
probabilidades e tendo ganhos a curto prazo. Práticas de trabalho arriscado são
frequentemente aceitos e não são percebido como tão perigos como realmente são.

Senso de Justiça
Muitas pessoas acreditam no senso de justiça e honestidade do mundo. (Lerner,
1975, 1977). Em outras palavras, muitas pessoas geralmente percebem o mundo como o
peixe maior ao invés do peixe menor, na Figura 5.10. “Quem planta colhe” “Existe uma
razão para tudo”. “As pessoas tem o que elas merecem”.
Figura 5.10 – Justiça é uma questão de perspectiva pessoal.

Quando as pessoas recebem benefícios, como produção aumentada em


conseqüência de um comportamento de risco, a indignação, a atenção pública ou o risco
percebido é relativamente baixo. Por outro lado, quando um perigo ou acidente parece
injusto, assim como uma criança que é molestada ou infectada por uma doença fatal,
atenções especiais são dadas. Essa atenção maior resulta em mais riscos percebidos.
Isto faz ser relativamente fácil obter contribuição ou assistência voluntária para
programas que tem como foco populações vulneráveis, como crianças com dificuldade de
aprendizagem. Sendo assim, é honesto e justo para o pequeno peixe da Figura 5.10
conseguir uma ajuda especial. A vítima do acidente de trabalho, entretanto, não se
percebe como fraco e sem defesas. Acidentes de trabalho são indiscriminadamente
distribuídos entre os empregados que aceitam os riscos, e eles merecem o que eles
tiveram. Esta é uma percepção ou atitude comum e abaixa a indignação que nós
sentimos quando alguém se acidenta no local de trabalho. E indignação mais baixa se
traduz em um risco percebido menor.

Compensação do Risco
A discussão sobre percepção de risco não poderia ser completa sem examinar
uma das concepções mais controversas no campo da segurança. Em anos recentes, têm
sido dadas diferentes classificações, incluindo risco homeostatico, risco ou perigo
compensatório, comportamento que se opõe ao risco ou compensação distorcida. Seja lá
qual for o nome a idéia básica é bem simples e direta. Supõe-se que as pessoas
ajustarão seus comportamentos para compensar as mudanças de risco percebidas. Se
um trabalho é feito de forma mais segura com um mecanismo de proteção da máquina ou
com o uso de equipamentos de proteção individual, os trabalhadores podem reduzir a
percepção de risco e, deste modo, trabalhar de forma mais despreocupada. Por exemplo,
se o individuo representando na Figura 5.11 esta se arriscando por iniciativa própria por
perceber segurança contra queda, nós podemos dar suporte a teoria de compensação do
risco. (Peltzman, 1975).
Figura 5.11 – Equipamento de Proteção Individual podem reduzir a percepção de risco.

A noção de se arriscar mais para compensar a baixa percepção de risco


certamente parece ser intuitiva. Eu aposto que todo o leitor já experimentou esse
fenômeno. Eu me lembro claramente de me arriscar mais depois de vestir o uniforme
padrão para jogar futebol da Escola de Futebol. Com o capacete o os protetores de
ombro, eu estava disposto a jogar meu corpo no caminho do outro jogador, ou saltar para
pegar um passe. Eu não desempenhei este comportamento até perceber segurança vindo
do equipamento de proteção individual. (EPI).
Hoje, eu experiencio compensação de risco de um tipo diferente na quadra de
tênis. Se eu fico a frente do meu oponente por alguns jogos, eu me arrisco mais. Eu
tentarei matar a bola ou ir para a rede para tentar um voleio. Quando eu estou atrás do
meu oponente por dois jogos ou mais, eu jogo de forma mais conservadora na linha de
fundo. Eu ajusto o nível de risco do meu jogo dependendo das circunstâncias – as
habilidade do meu oponente e a pontuação do jogo.
A compensação de risco parece ter aplicações universais. Como esse fenômeno
pode ser negado?
A Figura 5.12 representa uma situação no local de trabalho quase igual as minhas
experiências da adolescência no campo de futebol. Parecem serem limitados os dados
científicos sobre os cintos lombares que estão comercialmente disponíveis (Metzgar,
1995). Pode este ser, em partes, responsável pela compensação de risco? Se o uso de
cinto promove que os empregados ergam cargas mais pesadas, então o potencial de
proteção que vem deste equipamento pode ser compensado por uma tomada de risco
maior. O equipamento de proteção pode dar a falsa sensação de segurança e reduzir a
própria percepção de risco tornando-se mais vulnerável a se machucar. O resultado pode
ser levantamentos mais freqüentes e pesados e com grande possibilidade de se
machucar. Esta é a razão pela qual os fornecedores de cintos enfatizam a necessidade
de treinamento e educação para o uso dos cintos.

Figura 5.12 – Cinto pode dar a impressão falsa de segurança.

Obviamente, a noção de que o comportamento de um individuo pode compensar


os benefícios do uso dos EPIs é extremamente aversivo para o profissional da segurança.
Poderia isso significar que esforços para fazer ambientes seguros com inovações de
engenharia são inúteis a longo termo? Os cintos de segurança e air bags são
responsáveis por aumentar a velocidade dos veículos? Isto significa que as leis e políticas
para reforçar comportamento seguro podem na verdade provocar compensação de
comportamento de risco?
Alguns pesquisadores e estudiosos estão convencidos que o risco compensatório é
real e fundamental para prevenir acidentes (Adms, 1985a,b; Peltzaman, 1975; Wilde,
1994) outros argumentam que este fenômeno não existe. Lehman and Gage (1995)
proclamam, por exemplo, que “esta suposta teoria (risco compensatório) não tem nem
experimentação nem análise com bases científicas”, Dr. Leonard Evans do Laboratório de
Pesquisa da General Motors é citado dizendo: “there are no epicycles and there is no
phlogiston...(similarmente não existe risco homeostático...)”.

Pesquisas que dão suporte


Na verdade, existem evidências científicas que o risco compensatório ou risco
homeostático é real, assim como nossa intuição ou senso comum nos diz, mas a
compensação ou comportamento compensatório não nega os benéficos das intervenções.
Embora os jogadores de futebol aumentem os comportamentos de risco quando estão
vestidos, por exemplo, eles se machucam muito menos do que se eles estivessem sem
os EPIs. Isto é verdadeiro mesmo se a insuficiência de proteção reduzir seus
comportamentos de risco substancialmente. Mais importante, se as pessoas diminuem o
nível de risco que eles estão dispostos a aceitar (como promovido na Cultura Total de
Segurança), então o risco compensatório ou o risco homeostático são irrelevantes? Eu irei
explicar essa “boa noticia” mais tarde, mas antes vamos olhar mais perto as evidencias de
pesquisa que dão suporte ao fenômeno.
Comparações entre as pessoas. A noção produzida de risco compensatório
estreou entre os profissionais de segurança logo após a pesquisa teórica e de arquivos do
economista da Universidade de Chicago, Dr. Sam Peltzamam (1975). Peltzamam
comparou sistematicamente estatísticas de acidentes de carro antes (1947–1965) versos
depois (1966–1972) as instalações regulamentadas de inovações de engenharia em
veículos, incluindo cintos de segurança, colunas de direção que absorvem energia,
painéis com estofamento interno, pára-brisas resistentes ao choque e sistemas de
frenagem duplos. Assim como foi previsto pela teoria do risco compensatório, Peltzamam
descobriu que os padrões de segurança na fabricação de veículos não tinham reduzido à
freqüência de acidentes fatais por milhas dirigidas. Talvez a evidência mais convincente
do risco compensatório foi de que os carros equipados com os dispositivos de segurança
se envolveram em um número desproporcionalmente alto de colisões.
O artigo de Peltzamam foi criticado várias vezes, primeiro estatisticamente, mas
ele estimulou a continuação das investigações. Dr. John Admas do Colégio Universitário,
Londres, UK, por exemplo, comparou a proporção de fatalidade no trânsito entre países
com e sem leis de uso do cinto de segurança. Sua comparação anual (de 1970 a 1978)
mostrou redução dramática na taxa de fatalidades em colisões de veículos depois dos
paises introduzirem leis para o uso de cinto de segurança. Considerando este dado
sozinho poderíamos dar maior suporte para a legislação do uso do cinto de segurança.
Mas a queda nas taxas de fatalidades foi ainda maior em países sem leis para o uso do
cinto de segurança. (Adams, 1985b). Aparentemente o grande impacto no aumento do
uso do cinto de segurança em veículos não foi nem de perto tão benéfico como esperado
pelo laboratório de testes de colisão. Compensação de risco tem sido sugerida para
explicar essa discrepância.
Existem obviamente outras possibilidades de explicações para a grande variação
dos dados coletados e analisados por Peltzman (1975) e Adams (1985b) – mudanças na
economia, aperfeiçoamento na performance do veículo e a promoção pela mídia por um
estilo de vida particular, só para nomear alguns. A respeito do uso do cinto de segurança,
por exemplo, é geralmente acreditado que os motoristas que mais respeitam as normas
de segurança são os que primeiro colocam o cinto e estão de acordo, o que significa que
a maior diminuição de acidentes de colisão entre veículos não ocorrerá até que os 30%
remanescentes coloquem o cinto – aqueles que atualmente resistem às leis de uso do
cinto de segurança. (Campbell et al, 1987). Em outras palavras “aqueles segmentos de
motoristas que são menos prováveis de estar de acordo com as leis de direção segura
são precisamente aqueles grupos que estão predispostos aos maiores riscos de danos
sérios” (Waller, 1987). A pesquisa dá suporte a relação presumidamente direta entre
comportamento de risco e o não segmento das políticas de segurança. Indivíduos do sexo
masculino (Pressusser et al., 1985) com níveis elevados de álcool no sangue (Wagenaar,
1984) e pessoas que dirigem perigosamente muito próximos a outros carros (Evans et al.,
1982) são menos prováveis de estar de acordo com as leis de uso de cinto. Estas
descobertas podem certamente ter implicações na segurança ocupacional. Se os
trabalhadores que mais se arriscam são os menos prováveis de cumprir as regras e
políticas, o reforço tradicional de disciplina não será suficiente para atingir uma Cultura
Total de Segurança. É claro este é um tema primário neste livro. Mas vamos voltar à
questão do risco compensatório.
Estudos que compararam comportamentos de risco através de grandes grupos de
dados descobriram características variáveis entre pessoas que cumpriram com a política
de segurança versos aqueles que certamente não enfraqueceram o caso para o risco
compensatório. Os cientistas comportamentais chamam isto entre os grupos de pesquisas
e que isto pode apenas indiretamente testar a ocorrência de risco compensatório. Porque
a teoria do risco compensatório prediz que os indivíduos aumentam os seus
comportamentos de risco após perceber um aumento na segurança. A teoria pode apenas
ser testada comparando-se o mesmo grupo de indivíduos sobre diferentes condições. Os
pesquisadores da ciência comportamental chamam isto de modelo interno dos sujeitos.

Comparações entre os sujeitos internos. A maioria dos testes do modelo interno dos
sujeitos em relação à teoria da compensação de risco foram restringidos a investigações
simuladas no laboratório. (Wild et al., 1985). Essas observações de diferentes condições
de risco tomam muito tempo e são difícil de conseguir realização numa situação do
mundo real. Dr. Fredrick Streff e eu conduzimos um estudo como este em 1987. Nós
construímos um trilho oval feito de argila para carrinhos com uma circunferência de
aproximadamente 100 metros, equipado com carrinho de 5 cavalos de potência com freio
de segurança tipo bobina com peso.
Era dito para os sujeitos dirigirem o carrinho arredor dos trilhos “rapidamente, mas
com uma velocidade que seja confortável para você” (Streff and Geller, 1988). Os 56
sujeitos usaram ou não usara os cintos de seguranças na primeira das duas fases do
teste de direção. Depois da primeira fase, a condição de segurança foi trocada para
metade dos sujeitos. Ou seja, para aqueles sujeitos que estavam usando o cinto de
segurança na primeira parte, não usaram na segunda parte, ou o cinto de segurança foi
usado por aqueles que não o haviam usado na primeira parte. A velocidade e precisão de
cada sujeito no teste de direção foram sistematicamente mensuradas. Após a primeira e a
segunda fase (consistindo de 15 testes cada), os sujeitos completavam um breve
questionário para avaliava os riscos percebidos enquanto dirigiam o carrinho.
A comparação entre os sujeitos não mostrou nenhuma compensação de risco. Os
sujeitos que usaram o cinto de segurança em todos os testes não dirigiram mais rápido
que os sujeitos que não usaram o cinto de segurança em nenhum momento. A percepção
de risco não foi diferente nestes grupos de sujeitos também.
Por outro lado, as diferenças entre os sujeitos internos mostraram as mudanças
previstas na percepção de risco e compensação de risco significativo. Os sujeitos
relataram se sentirem mais seguros quando eles usavam o cinto de segurança e
consequentemente dirigiram o carrinho significativamente mais rápido do que os sujeitos
que usaram o cinto de segurança nas duas fases. Aqueles que retiram o cinto de
segurança relataram uma diminuição significativa na segurança percebida, mas esta
mudança na percepção do risco não se refletiu em velocidades menores comparando-se
com motorista que não usaram o cinto no carrinho.
O nosso estudo nestes carrinhos foi mais tarde complementado na Holanda
usando-se carro real em estradas reais. Evidência convincente foi descoberta. (Jansson,
1994). Especificamente, os não usuários de cinto de segurança que realmente não
gostam de usá-los, essas pessoas descritas coloram o cinto quando o experimentador
requisitou. Comparando-se com medições feitas quando não usavam o cinto de
segurança, estes motoristas dirigiam mais rápidos, seguiram outros veículos mais de
perto, mudaram de faixa, aumentaram a velocidade e frearam mais tarde quando se
aproximavam de um obstáculo.

Implicações da Compensação do Risco


Eu estou convencido pelas minhas experiências pessoais e lendo a literatura de
pesquisa que a compensação de risco é um fenômeno real. O que isso significa para a
prevenção de acidentes. Wilde (1994) diz que isso significa que a excelência em
segurança não pode ser alcançada através da coerção e de regras vindas de cima para
baixo. Algumas pessoas apenas seguem as regras quando estão sendo supervisionadas
e talvez assumam um risco maior quando eles podem levar a situação assim. Este
comportamento não é apenas previsto pela teoria da compensação de risco, mas também
pela teoria da psicologia reativa (Brehm, 1966) discutidas no capítulo 3 (veja a Figura 3.1).
De acordo com a teoria reativa algumas pessoas apresentam um sentimento de liberdade
ou conquista quando não cumprem as regras vindas de cima para baixo. Eles gostam de
ganhar do sistema. Skinner (1971) se referiu ao comportamento reativo como
contracontrole – que significa que algumas pessoas se esforçam para afirmar sua
liberdade e dignidade quando se sentem controladas.
Sendo os comportamentos perigosos, resultado da psicologia reativa ou
compensação de risco, nosso esforço para reduzir riscos é o mesmo. Como no titulo do
seu livro “Risco Alvo” indica, Wild defende que as intervenções em segurança precisam
diminuir o nível de risco que as pessoas estão dispostas a tolerar. Isto requer uma
mudança dos valores. Wilde (1994) afirma que “o aperfeiçoamento em segurança não
pode ser conseguido através de intervenções na forma de treinamentos, engenharia ou
coerção” (pagina 213). A extensão do arriscar-se, com respeito a segurança e saúde
numa dada sociedade, portanto, no final das contas depende dos valores que prevalecem
naquela sociedade e não no que está tecnologicamente disponível”.(Wild, 1994, página
223). Eu espero que seja óbvio que o posicionamento do Wilde está de acordo com o
tema deste texto. Quando as pessoas entendem e aceitam as mudanças de paradigma
necessária para uma Cultura Total de Segurança (veja Capítulo 3) elas estão no caminho
para reduzir sua tolerância para o risco. Depois disso, eles precisam acreditar na visão de
uma Cultura Total de Segurança e se engajar na missão de alcançá-la. Então, elas
precisam entender e aceitar os procedimentos que pode alcançar esta visão. Estes
métodos são explicados na Seção 3 deste texto. Através do processo continuo de
aplicação de procedimentos corretos, a força de trabalho se sentirá mais capaz para o
cuidado ativo da Cultura Total de Segurança. Finalmente, eles tratarão a segurança como
um valor e não como uma prioridade. Eu discutirei esta concepção de maneira mais
completa na Sessão 4.

Conclusão
Este capitulo, explorou o conceito de sensação e percepção seletiva e os
relacionou com a percepção de risco e controle de danos. Os exercícios visuais ilustraram
o impacto das experiências passadas e disparadores contextuais na percepção presente.
Isto nós permite apreciar a diversidade e perceber o valor de escutar ativamente durante
uma interação pessoal. Nós precisamos trabalhar com cuidado para entender a
percepção dos outros antes de precipitadamente tirar conclusões ou tentar mostrar nossa
influência.
É importante entender, de qualquer forma, que as pessoas frequentemente se
seguram com teimosia a uma noção preconcebida sobre alguém ou algo. Como ilustrado
na figura 5.13, esse preconceito é frequentemente causado por experiências anteriores e
podem afetar a percepção dramaticamente.

Parece um pára-brisas para mim, doutor.

Figura 5.13 – Todos nós temos comprometimento cognitivo prematuro.

Talvez você conheça esse fenômeno como preconceito, tomar partido por um lado,
história, discriminação, teimosia, ou apenas, preconceito. Eu gosto da forma como o
Langer (1989) rotula este tipo de burrice como comprometimento cognitivo prematuro. Eu
gosto do termo comprometimento cognitivo prematuro porque isso me trás a mente todos
os vários ingredientes do preconceito inflexível. Primeiro é prematuro, significando que é
realizado antes de um diagnóstico adequado, análise e consideração. Segundo é
cognitivo, significando que é um processo mental que influência nossas percepções,
atitude e comportamentos. Finalmente é um comprometimento. Não é apenas uma noção
rápida ou uma opinião temporária. É um posicionamento ou sentimento relativamente
permanente e sólido que afeta o tipo de informação que a pessoa procura, entende,
aprecia, acredita e usa.
Comprometimento cognitivo prematuro é a causa raiz de muitos, senão a maioria
dos conflitos interpessoais. É uma barreira que devemos conquistar para desenvolver o
trabalho em equipe interdependente necessário para uma Cultura Total de Segurança.
Ter em mente o comprometimento cognitivo prematuro não vai parar este preconceito
mais é um começo.
Nós devemos perceber que percepções de risco variam grandemente de individuo
para individuo e nós não temos como melhorar a segurança se as pessoas não
aumentarem suas percepções de risco de reduzirem suas tolerâncias ao mesmo.
Mudança na percepção e aceitação do risco acontecerá quando os indivíduos se
engajarem em conquistar uma Cultura Total de Segurança com os princípios e
procedimentos discutidos neste manual.
Muitos fatores que foram discutidos neste capítulo afetam a forma como os
empregados reagem aos perigos no local de trabalho, os quais podem se sentiram
alarmados, apático, ou algo entre. Considerados ao mesmo tempo estes fatores moldam
as percepções pessoais de risco e ilustram o porquê “os trabalhos de melhorar a
segurança é tão assustador”. Isto justifica mais recursos para programas de segurança e
saúde, assim como planos de intervenções para motivar o envolvimento contínuo do
empregado. Eu discuto sobre muitas metodologias de intervenção no capítulo 4.
Mas antes de discutir estratégias para resolver o problema precisamos entender
como o estress, distress e atribuições pessoais contribuem para o problema. E este tema
é o tópico para o próximo capítulo.

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