1) Ao apresentar uma ótica diferente, ou melhor, uma perspectiva alternativa para o
debate “neo-neo”, Alexander Wendt, em seu conhecido artigo “ A ANARQUIA É O QUE OS ESTADOS FAZEM DELA: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA POLÍTICA DE PODER, 1992, emerge com uma teoria, denominada Construtivismo, no qual a mesma é evidenciada pela importância dada às ideias, normas e crenças, corroborada pela famosa frase que “a realidade é socialmente construída”, a partir dos anos 1980 nas novas abordagens nas Relações Internacionais. Segundo (WENDT , 19922), as normas sociais, a exemplo do respeito aos direitos humanos e a soberania estatal, podem influenciar na interações interestatais, modulando suas preferências, por conseguinte, o seu modo de agir e também em suas escolhas, logo as relações internacionais não são apenas determinadas pela relações de poder, como também como os atores se percebem e interpretam essa distribuição – de poder - no sistema internacional, logo o autor questiona a visão de que anarquia automaticamente leva à competição e autoajuda entre os Estados, sendo que o mesmo, sugere que com a internalização de normas e compartilhamento de identidades nos Estados, é possível a cooperação, sendo essa um caminho mais vantajoso no que tange a segurança internacional e a prosperidade entre as nações. A relação entre anarquia e autoajuda é contingente, pois de forma imperiosa, depende muito ideias e das normas que os atores adotam, sendo traço importante na construção de uma ordem cooperativa em um sistema declaradamente anárquico; é necessário, ressaltar, que é preciso que existam princípios compartilhados e que a cooperação mútua entre os Estados, podem trazer benefícios no longo prazo.
2) As ideias podem influir na política internacional – segundo a teoria construtivista –
porque são tidas como construções sociais compartilhadas, que moldam as ações dos atores no sistema internacional; as ideias podem também moldar a percepção dos interesses dos atores internacionais, logo o que é considerado um interesse nacional prioritário é influenciado pelas ideias dominantes em uma sociedade, por exemplo, uma ideia de segurança baseada em ameaças externas pode levar um Estado a adotar uma postura militarizada e a priorizar a defesa. As ideias são fundamentais para a criação e evolução de normas e instituições internacionais, como por exemplo: as convenções de direitos humanos ou o princípio da soberania estatal, que são construídas e difundidas por meio de ideias compartilhadas entre os atores, sendo que essas normas influenciam o comportamento dos Estados e podem levar a mudanças nas práticas internacionais; as mesmas tem um papel importante na socialização dos atores internacionais e no processo de aprendizado, ora pois, as ideias compartilhadas em uma determinada comunidade internacional moldam as expectativas e os comportamentos dos atores que a integram, que podem internalizar as normas e as práticas dominantes; logo as ideias tem um poder transformador na política internacional porque podem desafiar as normas e estruturas existentes, questionando as relações de poder e viabilizando a criação de novas formas de organização política, como por exemplo, os movimentos sociais que defendem ideias de direitos humanos, tem o potencial de impulsionar mudanças políticas. Segundo (WENDT,1992) a função das ideias na política mundial tende a ser tratada como commodities que são sustentadas por indivíduos e que intervêm entre a distribuição do poder e os resultados; demonstrando que as ideias sim tem um papel fundamental de influenciar na política internacional e em sua mudança.
3) As Mães da Praça de Maio, um movimento de defesa dos direitos humanos na
Argentina, utilizaram-se de estratégias que podem ser relacionadas às abordagens construtivistas de acordo com as autoras Margaret Keck e Kathryn Sikkink, através principalmente do ativismo internacional. Essas autoras exploram como as normas e redes de "advocacy" podem influenciar em mudanças políticas e sociais; como exemplo, elas comentam “channels between domestic groups and their governments are hampered or severed where such channels are ineffective for resolving a conflict, setting into motion the ‘boomerang’ pattern of influence characteristic of these networks”(KECK & SIKKINK, 1999, p. 93), logo essa estratégia chamada de “Boomerang” induziu à certos pontos positivos para a luta dessas mães, muito em virtude do governo – no caso, uma ditadura, à época - não conseguir dar vazão às demandas socais locais e portanto, as mesmas foram forçadas a pedir ajuda internacional, sendo essa pressão vindo de fora, fora possível assim atingir o ideal inicial, no caso, tentar o esclarecimento do desaparecimento de seus filhos. Outra estratégia indicada pelas autoras é o “Framing” ou “Enquadramento”, destacando os lenços brancos na cabeça dessas mãe, que fazia alusão às fraldas de seus filhos desparecidos, além do efeito “Bola de Neve”, ou seja, o processo em que as normas e as práticas se espalharam por meio de uma cascata de influência, através de meios de comunicação, influenciando outros movimentos, principalmente, no âmbito dos direitos humanos.