Você está na página 1de 19

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PERÍCIA DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL DE BENS E DIREITOS

ISRAEL DE BARROS SANTOS

GARANTINDO A IMPARCIALIDADE NA AVALIAÇÃO DE VEÍCULOS


AUTOMOTORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO: PAPEL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL E A REFERÊNCIA NA TABELA FIPE.

RIO BRANCO
2023
ISRAEL DE BARROS SANTOS

GARANTINDO A IMPARCIALIDADE NA AVALIAÇÃO DE VEÍCULOS


AUTOMOTORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO: PAPEL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL E A REFERÊNCIA NA TABELA FIPE

Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação


Lato Sensu em Perícias de Avaliação
Patrimonial de Bens e Direitos - Faculdade
UnYLeYa, 2023.

Orientação: Profª. Esp. Juliana Alberto Costa

Rio Branco
2023
3

ISRAEL DE BARROS SANTOS

GARANTINDO A IMPARCIALIDADE NA AVALIAÇÃO DE VEÍCULOS


AUTOMOTORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO: PAPEL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL E A REFERÊNCIA NA TABELA FIPE

Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação


Lato Sensu em Perícias de Avaliação
Patrimonial de Bens e Direitos - Faculdade
UnYLeYa, 2023.

Orientação: Profª. Esp. Juliana Alberto Costa

Rio Branco,______ de __________________ de ________________.

Avaliação/Nota: BANCA EXAMINADORA

___________________________________
Titulação e nome FACULDADE UnYLeYa

___________________________________
Titulação e nome FACULDADE UnYLeYa

___________________________________
Titulação e nome FACULDADE UnYLeYa
4

Rio Branco/AC
Setembro/2023

GARANTINDO A IMPARCIALIDADE NA AVALIAÇÃO DE VEÍCULOS


AUTOMOTORES NA JUSTIÇA DO TRABALHO: PAPEL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL E A REFERÊNCIA NA TABELA FIPE

RESUMO
O presente artigo tem o intuito de analisar o papel do Oficial de Justiça Avaliador Federal da
Justiça do Trabalho como garantidor da imparcialidade nas avaliações de veículos
automotores, os métodos que podem ser empregados e como a utilização da tabela FIPE como
referencial para o estabelecimento do valor final, proporciona uma ferramenta de grande
auxílio, inclusive ao trazer maior objetividade e transparência nesse processo. Além disso
serão vistos os critérios que devem ser atentados por este servidor público ao avaliar veículos
automotores a fim de trazerem maior efetividade ao processo judicial e transparência aos seus
atos, sugerindo metodologias que podem ser usadas durante as avaliações em processos
judiciais quando o bem for um veículo automotor.

Palavras-chave: Oficial de Justiça. Tabela FIPE. Imparcialidade. Avaliação.


5

ENSURING IMPARTIALITY IN THE EVALUATION OF MOTOR VEHICLES IN


LABOR COURT: THE ROLE OF THE FEDERAL COURT APPRAISER OFFICER
AND THE REFERENCE TO THE FIPE TABLE

ABSTRACT
The purpose of this article is to analyze the role of the Federal Labor Court Judicial Appraiser
Officer as a guarantor of impartiality in the evaluation of motor vehicles, the methods that can
be employed, and how the use of the FIPE table as a reference for determining the final value
provides a valuable tool, including greater objectivity and transparency in this process. In
addition, the criteria that should be considered by this public servant when assessing motor
vehicles will be examined in order to bring greater effectiveness to the judicial process and
transparency to their actions, suggesting methodologies that can be used during evaluations in
judicial proceedings when the asset is a motor vehicle.

Keywords: Court Officer. FIPE Table. Impartiality. Evaluation.


6

SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................ 07
2 A importância da imparcialidade nas avaliações de veículos automotores conduzidas
por Oficiais de Justiça................................................................................................. 09
3 Avaliação de Veículos Automotores por Oficiais de Justiça e a utilização da Tabela
FIPE como referência............................................................................................. 13
4 Diretrizes para Garantir a Imparcialidade na Avaliação de Veículos na Justiça do
Trabalho: Transparência, Padronização e o Papel da Tabela
FIPE.............................................................................................................................. 16
5 Conclusão............................................................................................................... 18
6. Referências.......................................................................................................... 19
7

1 INTRODUÇÃO

A execução trabalhista desempenha um papel fundamental na garantia dos direitos dos


trabalhadores, sendo o momento processual de dar cumprimento às decisões judiciais e com
isso a satisfação dos créditos trabalhistas reconhecidos pelo Juízo. E um dos aspectos cruciais
dessa fase é a constrição e a avaliação dos bens penhorados, que frequentemente inclui a
avaliação de veículos automotores e aqui entram motocicletas, carros de passeio,
caminhonetes, caminhões, ônibus, reboque e todos os demais veículos enquadrados nessa
categoria.

E a escolha da constrição e avaliação de veículos automotores não ocorre por acaso. A ordem
de preferência de penhora é estabelecida no artigo 835 do CPC que enumera os bens que
podem ser penhorados para garantir a execução de uma dívida, ocupando os bens trabalhados
a quarta posição na ordem preferencial e isso ocorre, entre outros motivos, por serem bens
com valor muitas vezes substancial, onde muitas vezes apenas um já é suficiente para
satisfazer o crédito processual trabalhista. Também pela força coercitiva que pode exercer ao
devedor, que ao se ver desprovido de seu meio de locomoção, busca uma composição da lide
e principalmente pela liquidez representada pela facilidade de venda em praça pública e
facilidade de transferência da propriedade ao adquirente.

Isso demonstra a importância que uma avaliação bem estruturada dos veículos automotores
pode ter sobre a efetividade que a fase de execução terá no deslinde da marcha processual. No
entanto, a imparcialidade na avaliação de tais bens pode ser um desafio significativo, devido à
influência de diversos fatores, como a subjetividade do avaliador e a diversidade de métodos
empregados.

A preocupação central deste artigo científico reside na necessidade de garantir uma avaliação
imparcial e precisa dos veículos automotores na Justiça do Trabalho. Como agentes públicos
encarregados dessa tarefa, os Oficiais de Justiça Avaliadores Federais desempenham um
papel fundamental na busca por essa imparcialidade. Além disso, a utilização da Tabela FIPE
como referência na avaliação de veículos tem sido amplamente empregada como um
mecanismo para padronização e aumento da precisão das avaliações.
8

A relevância desse tema não pode ser subestimada, considerando o impacto direto que
avaliações justas e imparciais têm sobre os resultados da execução trabalhista, ainda mais que
se está tratando sobre créditos em regra de caráter alimentar e um credor que muitas vezes
encontra-se desempregado e sem sequer ter recebido suas verbas trabalhistas do emprego
anterior, razão pela qual procurou essa Justiça Especializada.

A imparcialidade é um princípio fundamental no sistema jurídico e garantir que as avaliações


de veículos automotores sejam realizadas de maneira imparcial é essencial para a efetividade
do processo, repercutindo na lisura do processo, em seu tempo de tramitação e na efetividade
que ele terá não somente para a parte credora, mas também para o devedor, uma vez que a
avaliação incorreta pode ocorrer tanto para elevar como para diminuir o valor de um bem e
ambas as situações afetam negativamente a lide e as partes envolvidas.

O Oficial de Justiça Avaliador Federal é um agente público e desempenha um papel crucial na


execução, em especial nas avaliações dos mais diversos tipos de bens, incluindo veículos
automotores. É o agente judicial responsável por concretizar, dar forma e efetividade às
decisões judiciais até então apenas uma abstração no papel, sendo de sua responsabilidade
conduzir avaliações imparciais e justas a fim de garantir que os interesses das partes
envolvidas sejam adequadamente protegidos.

E é dentro desse contexto que a pesquisa aqui apresentada baseia-se em uma revisão da
literatura sobre o tema, diretrizes judiciais pertinentes e na análise da prática diária dos
Oficiais de Justiça na avaliação de veículos automotores, sendo objetivos específicos deste
artigo:

Avaliar a imparcialidade das avaliações de veículos automotores conduzidas pelos oficiais de


justiça avaliadores federais na Justiça do Trabalho, analisando possíveis tendências,
influências externas e práticas que possam afetar a imparcialidade do processo de avaliação.

Proceder a uma investigação detalhada da utilização da Tabela FIPE como referência na


avaliação de veículos automotores na Justiça do Trabalho. Isso inclui a compreensão das
diretrizes e critérios pelos quais a Tabela FIPE estabelece os valores dos veículos e como
9

essas referências são aplicadas pelos oficiais de justiça avaliadores e o que levar em
consideração no momento da sua aplicação prática.

Com base na análise dos dois objetivos anteriores irá se buscar por fim propor diretrizes e
recomendações que possam ser implementadas para garantir a imparcialidade efetiva na
avaliação de veículos automotores na Justiça do Trabalho. Incluindo sugestões para melhorar
a transparência, padronização de procedimentos e diretrizes claras para o uso da Tabela FIPE
como referência.

No decorrer deste artigo cada um desses objetivos será explorado proporcionando uma visão
abrangente das questões relacionadas à imparcialidade na avaliação de veículos automotores e
destacando a importância do papel desempenhado pelos Oficiais de Justiça Avaliadores
Federais e a utilização da Tabela FIPE na busca por uma execução trabalhista justa e efetiva.

2 A importância da imparcialidade nas avaliações de veículos automotores conduzidas


por Oficiais de Justiça Avaliadores Federais

A figura do Oficial de Justiça é uma parte intrínseca do sistema judiciário, sendo de grande
relevância histórica, remontando aos tempos coloniais, onde eram denominados de Meirinho.
Sua função evoluiu ao longo da história do país, adaptando-se às mudanças legais e às
necessidades do sistema judiciário brasileiro, em especial no Poder Judiciário da União, onde
o servidor responsável pelo ofício é o Analista Judiciário, área Judiciária, especialidade
Oficial de Justiça Avaliador Federal1.

Na Justiça Comum o Oficial de Justiça somente veio acumular a seu mister a função também
de avaliador do Juízo por meio da Lei n. 11.382/2006 2, que alterou dispositivos da Lei nº
5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, relativos ao processo de execução
e a outros assuntos, atividade que veio a ser mantida com a edição da Lei n. 13.105, de 16 de

1
Lei 11.416, de 15 de dezembro de 2016, artigo 4º, §1º, com a redação dada pela Lei n. 12.774, de 28 de
dezembro de 2012.
2 “ Art. 680. A avaliação será feita pelo oficial de justiça (art. 652), ressalvada a aceitação do valor estimado
pelo executado (art. 668, parágrafo único, inciso V); caso sejam necessários conhecimentos especializados, o
juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.”
10

março de 2015, que nos trouxe o Novo Código de Processo Civil 3, como verificamos nas
palavras do Jurista Nelson Nery Junior:

3. Avaliação pelo oficial de justiça. Foi introduzida na sistemática


processual civil pela reforma de 2005/2006 imposta ao CPC/1973.
Antes disso, era necessária a participação de um avaliador que tivesse
conhecimentos especializados relativamente ao bem a ser avaliado.
Atualmente, apenas quando o oficial de justiça nnão tiver condições
técnicas para proceder à avaliação é que deverá ser substituído pelo
avaliador na execução desse trabalho 4.

Entretanto, na Justiça do Trabalho o Oficial de Justiça já acumulava desde há década de


sessenta, com a redação dada por força da Lei n. 5.442, de 24 de maio de 1968, a função de
avaliador judicial, a qual vem prevista no artigo 721, caput e §3º da Consolidação das Leis
Trabalhistas 5.

É essencial compreender que as avaliações judiciais devem ser realizadas por profissionais
qualificados, mas também como todo ato dentro do processo judicial, deve ser pautada pelo

3 Art. 870. A avaliação será feita pelo oficial de justiça.


Parágrafo único. Se forem necessários conhecimentos especializados e o valor da execução o comportar, o juiz
nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.
4
JÚNIOR, Nelson; Nery, Rosa. Capítulo II. Dos Impedimentos e da Suspeição In: JÚNIOR Nelson;
NERY, Rosa. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo (SP): Editora Revista dos Tribunais,
2020. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/dourtrina/codigo-de-processo-civil-
comentado/1147565151. Cesso em: 3 de setembro de 2023)
5
Art. 721 - Incumbe aos Oficiais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliadores da Justiça do Trabalho a realização
dos atos decorrentes da execução dos julgados das Juntas de Conciliação e Julgamento e dos Tribunais Regionais
do Trabalho, que lhes forem cometidos pelos respectivos Presidentes.
(...)
§ 3º No caso de avaliação, terá o Oficial de Justiça Avaliador, para cumprimento da ato, o prazo previsto no art.
888.
11

princípio da imparcialidade, razões que levaram o legislador a atribuir ao Oficial de Justiça,


servidor público ligado intrinsicamente ao Juiz, também o papel de avaliar os bens que são
contristados por ordem judicial.

A imparcialidade é um princípio fundamental no sistema judiciário e diversos autores


brasileiros renomados abordaram essa questão em suas obras, não somente sobre a
importância da imparcialidade daquele que julga, mas de todo agente público responsável por
atuar no processo.

Já Nelson Nery Jr., em sua obra Código de Processo Civil Comentado 6, aborda a
imparcialidade como um princípio que requer que o juiz ou agente judicial atue de forma
equânime, sem favorecer nenhuma das partes envolvidas no processo. Ele destaca que a
imparcialidade é essencial para assegurar a justiça e a igualdade perante a lei.

Verifica-se, portanto, que a imparcialidade é uma característica fundamental no sistema


judicial que requer que os agentes judiciais atuem de forma neutra, justa e equânime,
garantindo que todas as partes sejam tratadas com igualdade perante a lei e assim preservando
a integridade do processo judicial.

Durante a avaliação de veículos automotores, especialmente dentro de um processo judicial,


onde há um litígio entre as partes envolvidas, cada qual entendendo ser o detentor da razão,
diversos fatores externos e práticas podem afetar o Avaliador, comprometendo a
imparcialidade e a precisão do processo de avaliação. Alguns desses fatores incluem:

Pressão Externa: Pode haver pressão das partes interessadas no processo, diretamente ou por
intermédio de seus advogados, bem como eventuais credores ou devedores, para que o
avaliador ajuste o valor da avaliação de acordo com seus interesses. Essa pressão pode afetar
a objetividade do avaliador.

6
JÚNIOR, Nelson; Nery, Rosa. Capítulo II. Dos Impedimentos e da Suspeição In: JÚNIOR
Nelson; NERY, Rosa. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo (SP): Editora Revista
dos Tribunais, 2020. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/dourtrina/codigo-de-processo-civil-
comentado/1147565151. Acesso em: 3 de setembro de 2023)
12

Interesses Financeiros: O avaliador pode ser influenciado por interesses financeiros pessoais,
como receber pagamentos adicionais ou benefícios, para ajustar o valor da avaliação em favor
de uma das partes.

Falta de Capacitação: Se o avaliador não tiver a formação adequada ou conhecimento


técnico suficiente para avaliar veículos, isso pode levar a avaliações imprecisas e
influenciadas também pela parte que está tendo seu bem avaliado para quitação de um débito,
pois esse poderá utilizar da falta de conhecimento técnico do avaliador para sugerir valores.

Falta de Padronização de Procedimentos: A ausência de procedimentos padronizados de


avaliação pode abrir espaço para práticas subjetivas ou arbitrárias por parte do avaliador.

Falha na Atualização de Referências: Se o avaliador não se basear em referências


atualizadas, como a Tabela FIPE, objeto desse estudo e que será mais detalhadamente vista
adiante, a avaliação não será precisa.

Falta de Transparência: A falta de transparência no processo de avaliação, incluindo a não


divulgação de critérios utilizados, pode levantar suspeitas sobre a imparcialidade do avaliador.

Assim, para garantir a imparcialidade e a precisão das avaliações de veículos automotores


dentro de um processo judicial, em especial no Processo Trabalhista, é fundamental
estabelecer procedimentos claros, adotar critérios técnicos e objetivos, e garantir que os
avaliadores sejam capacitados e independentes de influências externas. Além disso, a
utilização de referências confiáveis, como a Tabela FIPE, pode contribuir para a padronização
e transparência do processo de avaliação.

E é nesse contexto que se conclui pela acertada escolha do legislador em atribuir dentro do
processo judicial, primeiro na Justiça do Trabalho e mais recentemente na Justiça Comum, a
atribuição de avaliador ao Oficial de Justiça, visto que o mesmo está intrinsicamente
vinculado à lei e somente ao que essa autoriza, trazendo expressamente os casos em que o
próprio servidor deverá se afastar de determinado processo judicial por imparcialidade ou
13

suspeição e não permitindo que aufira rendimentos extras pela avaliação, além da sua
remuneração estabelecida em lei.

A história do Oficial de Justiça no Brasil é rica e sua função é vital para o funcionamento do
sistema judiciário. A imparcialidade e a competência desses profissionais na avaliação de
bens são elementos cruciais para garantir a justiça e a igualdade no âmbito judicial brasileiro.
Por essas razões, as avaliações judiciais devem ser confiadas a esses profissionais que, ao
longo dos séculos, têm desempenhado um papel fundamental na administração da justiça em
nosso país.

3 Avaliação de Veículos Automotores por Oficiais de Justiça e a utilização da Tabela


FIPE como referência

Como já abordado anteriormente, a avaliação de veículos automotores desempenha um papel


crucial dentro da marcha processual. Ela serve como base para determinar valores em disputas
judiciais.
No entanto, a complexidade dessa avaliação requer métodos e práticas para garantir precisão e
imparcialidade, a fim que o processo judicial possa ter efetividade e não se arraste no tempo.
Embora à primeira vista a avaliação de veículos possa parecer algo simples, na verdade ela é
permeada de detalhes que se não forem levados em consideração, trará como resultado uma
avaliação imprecisa, mesmo que se use algum referencial, pois cada veículo possui suas
características próprias de uso e manutenção, as quais devem ser usadas para se chegar ao
valor justo e correto do bem.
A lei não estabelece uma forma de como os Oficiais de Justiça devem proceder as avaliações
dos bens penhorados nos processos judiciais, incluindo aqui os veículos automotores, ficando
a critério do próprio avaliador a escolha da forma com que vai realizar seu laudo de avaliação
e apresenta-lo em Juízo.
Por ser uma tarefa complexa, a avaliação de veículos automotores requer atenção à vários
detalhes a fim de que se chegue ao seu valor de mercado para ser levado à hasta pública em
Juízo. Abaixo discutirei alguns critérios que são relevantes e devem ser considerados para
realizar uma avaliação em Juízo:
14

Marca e modelo: A marca e o modelo do veículo são fatores importantes, uma vez que
quanto mais conhecido e popular, maior a facilidade de venda, em especial em hasta pública
onde o arrematante pode adquirir o veículo abaixo do valor avaliado.
Ano de fabricação: A idade do veículo afeta seu estado geral e as características tecnológicas
disponíveis. E quanto ao ano é necessário também destacar no laudo de avaliação se o modelo
do veículo se refere ao ano de fabricação ou se o modelo já se refere ao próximo ano, pois as
indústrias já lançam o novo modelo de seus veículos no ano anterior de seu lançamento.
Quilometragem: A quilometragem percorrida é um dos fatores mais significativos na
avaliação de um veículo, sobretudo porque está ligada ao tempo de vida útil do motor.
Estado geral: Inclui a condição da carroceria, da pintura, dos pneus, da mecânica e do
interior, analisar qual o estado geral do veículo.
Histórico de manutenção: O histórico de manutenção é relevante, o que pode ser aferido nos
casos de veículos cujo proprietário ainda detenha o manual e anote as revisões realizadas.
Situação financeira: Aqui é importante verificar além de o veículo possuir toda a
documentação necessária para estar em circulação, como também se possui débitos com
impostos ou multas, cujos valores devem ser abatidos da avaliação.
Equipamentos e opcionais: A presença de equipamentos e opcionais, como ar-condicionado,
som, vidros e travas elétricos, entre outros, também influencia o valor do veículo.
Veja que acima tratou-se de alguns critérios que devem ser observados pelo Oficial de Justiça
Avaliador, quando da avaliação de veículos automotores. Mas para além dos critérios ou
melhor, observados esses critérios, existem opções de alguns métodos que podem ser
utilizados para se chegar à conclusão do laudo de avaliação, dentre os quais destaca-se:
Avaliação por comparação de mercado: Uma das abordagens mais comuns é a avaliação
por comparação de mercado, onde o avaliador considera os preços de veículos similares no
mercado para determinar o valor do veículo objeto da constrição judicial, normalmente
usando como paradigma anúncios em jornais, sites de negócios como OLX e consulta a lojas
revendedoras de veículos usados. Essa comparação leva em conta fatores como marca,
modelo, ano, quilometragem, condição e localização geográfica, pois a depender do Estado da
Federação, impostos são incluídos ou retirados do preço final do veículo.
Avaliação por especialistas: Em algumas situações avaliadores especializados, como
engenheiros automotivos, podem ser chamados para inspecionar o veículo. Eles avaliam
aspectos técnicos, como o estado do motor, da carroceria e da mecânica, para determinar seu
valor de mercado. Essa situação é mais utilizada em veículos que por sua característica
especial, que pode ser por ser um carro de colecionador ou com relevância histórica ou ainda
15

feito sob encomenda, necessitem de uma análise mais criteriosa por não estarem inseridos no
mercado comum de veículos.
Avaliação por tabela de referência: Outro método amplamente utilizado é a avaliação com
base em tabelas de referência, como a Tabela FIPE (Fundo de Preços de Veículos
Automotores).
Dentre os métodos efetivamente utilizados por Oficiais de Justiça Avaliadores Federais na
Justiça do Trabalho destaca-se a utilização da tabela FIPE. E para analisar sua efetividade é
importante entender um pouco mais sobre essa referência tão amplamente utilizada.

A FIPE foi criada em 1973 para auxiliar a Faculdade de Economia,


Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. O
órgão presta serviços ao governo e empresas privadas, e tem
no Preço Médio de Veículos, também chamada de Tabela FIPE 2022,
um de seus principais produtos.
O índice é baseado na coleta de preços de carros, motos e caminhões
usados, seminovos e novos no mercado nacional. Em posse dos
valores, pesquisadores descartam os preços muito altos, baixos ou
com alguma discrepância estatística. Os números restantes são usados
para criar uma média, e é esse o valor que vai constar para aquele
determinado veículo na tabela FIPE carros.
A tabela é atualizada mensalmente, e cada pesquisa pode ser refinada
com a versão, motorização e ano-modelo do automóvel em questão.
Motocicletas são contempladas pela tabela FIPE motos 7.

A Tabela FIPE é uma referência importante que os Oficiais de Justiça Avaliadores podem
utilizar no momento da avaliação de veículos automotores dentro do processo judicial, a fim
de terem um referencial para nortear a sua conclusão no laudo final a ser apresentado em
Juízo.

7 Sem autor: Tabela FPE: Entenda o que é e como Funciona. Quatro Rodas, 2023. Disponível
em: https://quatrorodas.abril.com.br/tabela-fipe. Acesso em 04 de setembro de 2023.
16

No entanto, em que pese pela alta demanda de mandados judiciais a serem cumpridos poder-
se-ia utilizar tão somente o preço paradigma informado na tabela FIPE, para um laudo que
retrate exatamente o preço daquele bem individual, sua aplicação requer cuidados e
considerações específicas, pois como se viu anteriormente, tal tabela de referência é uma
média e não leva em conta aspectos individuais do veículo objeto da avaliação.

E é exatamente a partir do valor de referência apresentado pela tabela FIPE, cujos valores são
mensalmente atualizados para cada marca, modelo e ano do veículo, inclusive motocicletas é
que o Oficial de Justiça Avaliador ao elaborar seu laudo de avaliação a ser apresentado em
Juízo irá individualizar o bem e tendo como base a tabela FIPE, descontar ou elevar o valor
final do bem avaliado, de acordo com critérios como estado da carroceria, documentação,
multas, quilometragem, entre outros que se viu anteriormente.

Ao utilizar a tabela FIPE os Oficiais de Justiça podem fornecer avaliações de veículos mais
objetivas e consistentes em processos judiciais, desde que atento aos critérios individuais do
veículo objeto da avaliação, contribuindo para a integridade do sistema legal e para a garantia
de que as partes envolvidas sejam tratadas com imparcialidade e justiça.

4 Diretrizes para Garantir a Imparcialidade na Avaliação de Veículos na Justiça do


Trabalho: Transparência, Padronização e o Papel da Tabela FIPE

Resta claro que a tabela FIPE apresenta uma forte aliada aos Oficiais de Justiça Avaliadores
como referência para a avaliação de veículos automotores, não de forma absoluta, mas
servindo de norte e somada aos critérios individuais do bem a ser avaliado, trazer uma maior
precisão ao preço final apresentado no lauto.

A utilização da FIPE como referência é também uma forma de garantir a imparcialidade na


avaliação de veículos automotores na Justiça do Trabalho e melhorar a transparência, uma vez
que sua formação é por um instituto autônomo que nenhum interesse possui no processo
judicial.
17

Mas para além do uso da tabela FIPE como referêcia, os Oficiais de Justiça Avaliadores
podem implementar algumas diretrizes para implementar uma maior efetividade, equidade e
transparência em seu mister como avaliador.

Talvez uma das ações mais importantes, é a formação contínua e especialização em avaliação
de bens, incluindo veículos automotores, desde o entendimento dos critérios da tabela FIPE e
as melhores práticas de avaliação, não somente no campo teórico mas também prático.

Além disso, necessário que as avaliações sejam realizadas dentro de critérios técnicos e
objetivos, deixando de lado considerações pessoais ou influências externas que possam vir a
levantar dúvidas quanto à imparcialidade do trabalho desenvolvido. Por isso a importância de
que cada avaliação seja documentada de forma completa e transparente, incluindo fotografias
dos veículos, registros de sua condição, quilometragem e todos os critérios que já foram aqui
discutidos e essa documentação deve ser anexada aos autos junto com sua avaliação para estar
disponível para todas as partes envolvidas na lide judicial.

A tabela FIPE deve ser usada, mas como referência, e devem os Oficiais de Justiça
Avaliadores levarem em consideração os aspectos individuais do veículo objeto da ordem
judicial de avaliação a fim de concluírem por atribuir àquele bem individual o mesmo preço
de referência da tabela FIPE ou elevarem ou descontarem o preço final de acordo com a
individualidade do veículo analisado.

Em casos especiais, como veículos raros, antigos ou personalizados, pode ser necessário que o
Oficial de Justiça se utilize do auxílio de profissional específico, como no caso de veículos
raros ou personalizados e nessas situações é importante para garantir a objetividade,
imparcialidade e transparência que o Oficial de Justiça não somente verifique se o técnico
especializado não tem algum interesse nos autos do processo ou vinculação como uma das
partes, como qualifique em seu laudo o profissional que o auxiliou, as razões desse auxílio e
no que ele influenciou no valor final do laudo de avaliação apresentado em Juízo pelo agente
público.
18

Os Oficiais de Justiça devem manter, sempre que for necessário, seja de forma pessoal ou
dentro dos autos do processo, uma comunicação clara e imparcial com todas as partes
envolvidas, explicando o processo de avaliação, critérios utilizados e resultados.

A implementação dessas diretrizes e recomendações contribui para a melhoria da


imparcialidade, transparência e qualidade das avaliações de veículos automotores feitas pelos
Oficiais de Justiça Avaliadores Federais na Justiça do Trabalho, assegurando que o processo
seja conduzido de maneira justa e confiável para todas as partes envolvidas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo foi explorada a atuação do Oficial de Justiça Avaliador Federal da
Justiça do Trabalho como avaliador de bens em Juízo, em especial na avaliação de veículos
automotores, destacando a importância que esses bens possuem em razão de sua liquidez,
facilidade de localização e como meio de coerção para forçar o devedor a realizar uma
composição em Juízo.

Ademais verificou-se a relevância que o Oficial de Justiça Avaliador Federal tem para a
realização de avaliações em Juízo, em especial por sua autonomia, independência e
imparcialidade frente à eventuais pressões externas e por estar vinculado diretamente à lei, a
qual estabelece claramente sua função e até mesmo os casos em que o mesmo deve vir a se
afastar da atuação nos autos por suspeita ou imparcialidade.

Ainda dedicou-se a tratar da relevância do uso da Tabela FIPE como referencial para
determinar os valores desses veículos contristados em processos judiciais e a importância de
se usar a FIPE como referencial por se tratar de índice elaborado por instituição independente
e atualizado mensalmente. Entretanto, verificou-se que a Tabela FIPE não é um fim nela
mesma, servindo como um excelente referencial, mas sendo necessário que o Oficial de
Justiça Avaliador Federal se utilize de critérios a fim de individualizar e avaliar a situação de
cada veículo objeto de avaliação, podendo em alguns casos manter o valor sugerido na tabela
FIPE, mas também diminuir ou elevar o valor do veículo avaliado daquele referencial.
19

Por fim, se apresentou alguns critérios que seriam de importante observação pelos Oficiais de
Justiça Avaliadores Federais no momento de avaliarem veículos automotores, a fim de
alcançarem um preço justo do bem que será levado à hasta pública e da necessidade de
documentarem com clareza suas práticas e dar acesso às partes para que de maneira técnica e
objetiva, traga transparência e demonstre sua imparcialidade na condução de seu ofício de
avaliador.

6 REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas.


6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

FREITAS, Marcelo Araújo de, JUNIOR, José Carlos Batista. Oficial de justiça: elementos
para capacitação profissional. 2ª ed. São Paulo: Triunfal, 2013.

JÚNIOR, Nelson; Nery, Rosa. Capítulo II. Dos Impedimentos e da Suspeição In: JÚNIOR
Nelson; NERY, Rosa. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo (SP): Editora Revista
dos Tribunais, 2020. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/dourtrina/codigo-de-
processo-civil-comentado/1147565151. Cesso em: 3 de setembro de 2023)

THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 54ª ed. Rio de
Janeiro:Forense, 2020, versão eletrônica.

Você também pode gostar